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QUE FAZER? - O resultado das eleições legislativas foi, para muita gente, uma surpresa e, para bastante, um choque. Esta surpresa e choque, em vez de motivarem acção, parecem ser o combustível para a inacção - a velha fatalidade lusitana. Vamos por partes: criado em 2019, no último ano da primeira legislatura de António Costa, o Chega foi levado ao colo por ele, desejoso de abrir uma brecha no PSD, o partido rival. O PS apaparicou o Chega desde então, com a preciosa ajuda, no Parlamento, do pior Presidente da Assembleia da República que este regime já teve, Augusto Santos Silva, que não perdeu uma oportunidade para dar palco a André Ventura, vitimizando-o e dando esteróides ao seu eleitorado; depois, o resultado das eleições resulta da avaliação feita aos Governos do PS que se encheram de casos e escândalos, incapazes de promover reformas, atirando Portugal, com a geringonça e a solo, para a cauda dos indicadores económicos da União Europeia. Passemos agora ao presente: o mal dos principais partidos  é que os seus líderes pensam somente em ganhar poder, nem sabendo bem como o exercer a bem do país. Daí o facto de PS e PSD se comportarem na política como o Benfica e o Sporting no futebol: rivais que nunca se entenderão e cujas claques se guerreiam. E daqui saltemos para o futuro: a situação resultante das eleições, com a emergência de um terceiro partido com dimensão apreciável, exige respostas forçosamente diferentes face aos novos problemas. Subscrevo totalmente aquilo que António Barreto escreveu no “Público” no dia a seguir às eleições, sob o título  “Bloco central, evidentemente!”: “Só há duas soluções possíveis, sem os arranjos habituais da classe política portuguesa. Primeira: maioria de direita, com coligação ou aliança entre a AD e o Chega. Segunda: um bloco central entre o PSD e o PS. Todas as outras são receitas para o desastre. Apoia, mas não vota. Vota, mas não trata. Faz aliança, mas não quer papel. Quer papel sem compromisso. Deixa passar a moção, mas o orçamento não ou logo se vê. Faz exigências para o orçamento, mas abstêm-se. Não apresenta moção, mas vota contra. Nem uma coisa nem outra, não há nada como evidentemente.” 

 

SEMANADA - O número de acidentes rodoviários provocados por animais selvagens duplicou nos últimos quatro anos; nos últimos três anos abriram em Portugal 418 novos hotéis e há mais 60 prestes a inaugurar; no final do ano passado o INE contabilizava 1623 hotéis em Portugal; a baixa produtividade da economia fez de Portugal o quarto país que menos cresceu na UE depois da entrada do euro; a economia portuguesa está entre as 20 mais lentas do mundo; os portugueses têm o sexto rendimento mais baixo da UE; já fomos ultrapassados pela Croácia, Letónia e Lituânia e apenas estamos à frente da Grécia, Hungria, Roménia, Eslováquia e Bulgária; em 2023 chegaram ao aeroporto de Lisboa 33,6 milhões  passageiros, quase metade do total do país; nos últimos três anos foram registadas mais de 31 mil vítimas de violência doméstica um aumento de 22,9%; no ano lectivo 22/23 os crimes nas escolas aumentaram 9%; o preço do azeite subiu 69% em Portugal no espaço de um ano; os portugueses gastaram mais 15 mil milhões de euros em jogos online em 2023, mais 35% que no ano anterior; mais de um quinto dos jovens que participaram num estudo sobre literacia digital afirmou já ter partilhado nas redes sociais informações que não tinham lido na íntegra e que depois perceberam ser falsas; graças ao sistema eleitoral vigente os distritos do interior perderam nove deputados entre 1991 e 2024; 673.382 é o número de votos que foram “desperdiçados” nestas eleições legislativas, ou seja, que não foram convertidos em mandatos, cerca de 11% do total de votos válidos. 

 

O ARCO DA VELHA - O Estado esqueceu-se das comemorações dos 500 anos de Camões, mas esta semana descobri que aquilo de que o Estado se esqueceu não passou despercebido ao  El Corte Inglés que nos seus espaços culturais programou  três conferências, um curso e duas leituras de poesia. Bem mais que as entidades públicas fizeram.

 

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A OFICINA - Fundada em 1914 a Cooperativa dos Pedreiros tem uma longa história ligada à construção na cidade do Porto, desde monumentos até edificios emblemáticos, como a actual sede da autarquia ou a estação de S. Bento. Na década de 60 do século passado a Cooperativa dos Pedreiros construiu na Rua da Alegria 598 o edifício Miradouro que tem uma das melhores vistas da cidade. No piso térreo de parte do edifício estavam as antigas oficinas da Cooperativa dos Pedreiros e é nesse espaço que há uns anos Nuno Centeno instalou a sua galeria de arte contemporânea, mantendo a traça e os materiais originais. José Pedro Croft expõe agora pela primeira vez na Galeria Nuno Centeno, com uma mostra a que deu o nome de “Cooperativa dos Pedreiros” e que ali ficará até 20 de Junho. A exposição integra 20 trabalhos novos de Croft, coexistindo desenhos a guache e tinta da china, frequentemente sobre gravura, formando por vezes dípticos, ao lado de esculturas em ferro, vidro e espelhos. No fundo a exposição retoma os eixos principais do trabalho de Croft, a escultura, a gravura e o desenho e desenvolve-se como uma evocação da oficina onde nas paredes estão desenhos que criam uma relação com as peças escultóricas das várias salas. No texto que acompanha a exposição Luís Quintais sublinha que o trabalho de Croft evoca uma “arte da memória que pretende evidenciar os espaços onde expõe”, combinando “o rigor do minimalismo com uma certa intensidade expressiva”.

 

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ROTEIRO - Esta semana o destaque vai para a nova exposição de Paulo Brighenti, na Galeria Pedro Oliveira (Calçada de Monchique 3, Porto), que até 17 de Abril apresenta “Dobrar A Noite”, inspirada nem deambulações nocturnas em Maceira,  a aldeia onde o artista tem o seu atelier. Brighenti usa materiais como a cera de abelha, linho, cimento, cobre, pigmentos, aguarelas e tintas de óleo,  em torno de temas como resistência, ecologia ou a  permanência da memória (na imagem). Em Lisboa Ana Manso apresenta”Menstrum” na Galeria Pedro Cera, Rua do Patrocínio 67-E. A Galeria de Santa Maria Maior, em colaboração com a plataforma P’la Arte, apresenta a colectiva “Nós Que Acreditamos na Liberdade” que expõe trabalho de oito artistas surgidos após 25 de Abril de 1974: Fidel Évora, Francisco Gomes, Francisco Trêpa, Margarida Alfacinha, Maria Luz, Mariana Duarte Santos, Paulo Albuquerque e Thomas Mendonça. A exposição fica patente até 30 de Março, de segunda a sábado, entre as 15 e as 20h00 na Rua da Madalena 147.  Em Vila Franca de Xira, na Galeria Pedro Jaime Vasconcelos (Rua Miguel Bombarda 155), a artista plástica sérvia Marija Toskovic , que vive e trabalha em Lisboa, apresenta a exposição “O Outro Lado”. 

 

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MÚSICA QUE NÃO SE ESQUECE - J.P. Simões começou a incorporar nos concertos, desde há alguns anos,  versões suas de canções de José Mário Branco. Aliás, no seu disco de estreia a solo, “1970” já tinha incluído uma versão de um dos temas mais conhecidos de José Mário Branco, “Inquietação”. E agora, por desafio da editora Omnichord Records, seleccionou outros oito temas de referência da sua obra, entre os quais “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”, “Perfilados de Medo”, “Travessia do Deserto”, “Mariazinha” e “Sopram Ventos Adversos”. A direcção musical é de Nuno Ferreira, que efetuou um trabalho notável de recriação das canções para as actuações ao vivo e para este disco. Além de Nuno Ferreira, na guitarra e voz, JP Simões é acompanhado por  Pedro Pinto (contrabaixo), Ruca Rebordão (percussão) e Márcio Pinto (marimba e electrónica). Pela primeira vez JP Simões lança um disco onde é exclusivamente intérprete das canções de outra pessoa e considerou numa recente entrevista que este “é talvez o disco mais íntimo que alguma vez produzi”. J.P. Simões integrou os projectos Pop Dell’Arte, Belle Chase Hotel e Quinteto Tati,  tem já uma marcante carreira a solo, e além de músico e compositor é letrista, contista e dramaturgo. Este disco combina de forma sensível o enorme talento musical e poético de José Mário Branco, com a capacidade interpretativa de JP Simões, que verdadeiramente recriou os temas originais sem nunca os atraiçoar. O disco foi gravado entre Leiria e Sintra, está disponível nas plataformas digitais e tem edições limitadas em CD e vinil.

 

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POESIA PARA DIAS DIFÍCEIS - Atravessamos tempos difíceis no mundo, na Europa e também em Portugal. Seja pela guerra, pela economia ou pela incerteza quanto ao futuro, há uma tensão no ar que tem tendência a aumentar. Nestas alturas sabe bem ler e pensar, ler alguma coisa que nos ajude melhor a pôr os problemas em perspectiva e que nos ajude a aliviar a tensão. Por isso a minha recomendação de hoje é um livro publicado em Portugal há menos de um mês, “Tal como És: versos e reversos do Ryokan”. Trata-se de uma recolha da obra poética de Ryokan, um calígrafo e monge nipónico do século XIX. Esta edição foi traduzida a partir do japonês por Marta Moraes e constitui uma antologia que percorre a obra de Ryokan. “Tal como És” é uma colecção de poemas “ordenada numa espécie de narrativa ou história de vida, bebida algures no fazer da antropologia”, sublinha Marta Moraes numa introdução à obra que, juntamente com o posfácio, igualmente da sua autoria, ajuda a localizar tudo o que envolve Ryokan, a evolução da poesia japonesa e a importância da obra deste autor. A poesia de Ryokan é tocada por todas as formas tradicionais japonesas, revelando imagens fortíssimas que aliam um pendor contemplativo aos ensinamentos do budismo zen. Os mais de 400 poemas aqui compilados surgem alinhados em sete partes, de acordo com os momentos mais marcantes da vida do autor. Ryokan nasceu em 1758 e cedo renunciou ao mundo, seguindo os ensinamentos budistas da escola soto. Viveu o resto da sua vida como um eremita, e tornou-se conhecido nos dias de hoje pela sua dedicação às artes, naturalmente interligadas, da poesia e da caligrafia. Esta edição bilingue inclui cerca de 400 poemas, é ilustrada com algumas das caligrafias, está   pensada como uma narrativa da vida do monge e tem a chancela da Assírio & Alvim.

 

DIXIT - “Todos os votos do Chega são votos contra os outros partidos….Os partidos do contra só sabem ser do contra.Não servem para mais nada” - Miguel Esteves Cardoso

 

BACK TO BASICS - “Uma pessoa esperta resolve um problema; uma pessoa sábia evita-o” - Albert Einstein.

 

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SOBRE ELEIÇÕES E A LIBERDADE DE VOTO

por falcao, em 08.03.24

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A UTILIDADE DO VOTO - Nos últimos dias acentuou-se a caça ao chamado “voto útil”, aquela situação em que os grandes partidos comprovam que gostariam de ter um sistema político menos representativo, arredando partidos mais pequenos e condicionando o comportamento do eleitorado à escolha entre os dois maiores partidos. Mas, o voto útil é  uma distorção da democracia, uma limitação da liberdade de escolha. As eleições e todo o sistema democrático em que vivemos foram criados com base no pressuposto de que o voto significa a escolha no partido com o qual cada eleitor mais se identifica. Nas actuais eleições o Tribunal Constitucional aceitou a presença de 17 partidos e coligações, portanto o leque de escolha é amplo e essa diversidade é um direito conquistado há 50 anos. Querer celebrar 50 anos de liberdade política e depois querer limitar as opções de voto é uma manifesta hipocrisia. Luís Montenegro e Pedro Nuno dos Santos protagonizam, nestas eleições,  quem quer limitar o exercício da liberdade de voto. Pior, representam também os principais opositores à alteração do sistema eleitoral, impedindo que se ganhe uma maior representatividade que evidencie a escolha dos eleitores. Um estudo recente do politólogo Luís Humberto Teixeira indica que foram desperdiçados em todas as eleições legislativas, desde 1975, quase oito milhões e meio de votos válidos que não foram transformados em mandatos, afetando os partidos de menor dimensão. Muitos estudos indicam que a criação de um círculo nacional de compensação atenuaria em muito esta situação. Mas PS e PSD bloqueiam sistematicamente a sua criação, Na realidade os que agora querem condicionar as eleições com o apelo ao voto útil são os mesmos que não permitem que o sistema eleitoral seja alterado. Apelar ao voto útil é, em certa medida, cortar a liberdade de expressão e negar a liberdade de escolha. É uma boa altura para relembrar estas palavras de John Stuart Mill, no seu ensaio “Sobre a Liberdade”: "O mal particular em silenciar a expressão de uma opinião é que constitui um roubo à humanidade; à posteridade, bem como à geração actual; àqueles que discordam da opinião, mais ainda do que àqueles que a sustentam. Se a opinião for correcta, ficarão privados da oportunidade de trocar erro por verdade; se estiver errada, perdem uma impressão mais clara e viva da verdade, produzida pela sua confrontação com o erro – o que constitui um benefício quase igualmente grande." 

 

SEMANADA - A utilização dos medicamentos genéricos significou uma poupança de 580 milhões de euros aos consumidores; as renegociações dos empréstimos bancários à habitação dispararam 26% no ultimo ano; para conceder crédito à habitação alguns bancos exigem licenças eliminadas pelo programa Simplex; segundo o Bastonário da Ordem dos Médicos 20% dos clínicos que terminam o curso  não querem entrar no SNS;  a GNR registou 21 548 queixas por burla, o ano passado, o que dá 59 crimes do género por dia e um aumento de 20% dos casos face a 2022, com destaque para as burlas informáticas e nas comunicaçãoes e a fraude bancária; a Igreja Católica regista uma perda de cerca de 500 mil fiéis nas missas de domingo, cerca de 25 por cento  do total em relação a 2019; as receitas das paróquias, assentes em donativos, caíram nos últimos anos de 60 para 35 milhões de euros; no ano passado a Polícia Judiciária investigou 3223 novos crimes sexuais, uma média de 268 por mês, quase nove por dia e cerca de 70% dos crimes foram praticados contra crianças e jovens, com especial incidência na faixa etária dos 8 aos 13 anos; o mesmo estudo indica que a maioria dos agressores são do sexo masculino e as vítimas são, em grande maioria, do sexo feminino (cerca de 80%); de acordo com os dados da Autoridade Nacional de Comunicações ainda são realizadas por dia 7939 chamadas em cabines, perto de três milhões por ano no total das 10.586 cabines actualmente existentes; segundo os dados da Pordata, dos 16 govcernos saídos das eleições legislativas que ocorreram desde 1976 apenas seis governaram – três do PSD e três do PS – nos quatro anos de mandato; nas últimas duas décadas o PS governou 15 anos e viu cair três dos seus cinco governos.

 

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UM PENSAMENTO INTELIGENTE - “Gostaria de ver uns quantos pelotões de intelectuais que são também feministas a participar na guerra contra a misoginia à sua própria maneira, deixando que as implicações feministas se mostrem residuais ou implícitas nas respectivas obras, sem correr o risco de serem acusadas pelas irmãs de deserção. Não gosto de agendas partidárias. Dão azo a monotonia intelectual e a má prosa” .  Estas palavras, cada vez mais cheias de sentido, que se aplicam a tantas áreas artísticas também, são uma exemplar afirmação da qualidade de pensamento de Susan Sontag. Este pensamento está bem patente em “Sobre as Mulheres”, uma nova colectânea de ensaios de Sontag, organizada em 2023 pelo seu filho David Rieff. São sete ensaios, uma entrevista e uma troca de argumentos, em textos que abordam temas diversos. Publicados 20 anos depois da morte da autora, estes textos são prova da inteligência de Susan Sontag, tão evidente na forma como aborda temas relevantes ainda nos dias de hoje, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. «As mulheres deviam deixar que os rostos mostrem as vidas que viveram. As mulheres deviam dizer a verdade». O pensamento de Sontag revela também uma enorme solidez política e um repúdio genuíno por categorizações fáceis. Com tradução de Vasco Teles de Menezes e edição da Quetzal, “Sobre As Mulheres” é um livro fascinante.

 

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UMA VOZ TROPICAL - O novo disco da cantora cabo-verdiana Nancy Vieira chama-se “Gente” e, nas palavras da cantora, é inspirado pela multiculturalidade que se vive nas ruas de Lisboa, onde vive - o disco percorre os territórios do funaná, morna, samba, jazz e fado, sem nunca esquecer a influência da música de Cabo Verde. A produção de “Gente” é de Amélia Muge, José Martins e da própria Nancy Vieira,  o álbum foi gravado em Lisboa e conta com a colaboração de outros artistas como Mário Lúcio que assina quatro temas, os Acácia Maior, Paulo Flores (Angola), Remna Schwarz (Guiné-Bissau) e António Zambujo. O disco tem 14 temas e “Sol Di Nha Vida”, o primeiro a tocar na rádio, tem letra e música de Mário Lúcio, ex Ministro da Cultura de Cabo Verde e líder de Simenteira, uma referência da música cabo-verdiana. O lançamento de “Gente” está previsto para 15 de Março e o concerto de apresentação decorre hoje,  8 de Março, no Teatro S. Luiz , em Lisboa. Acácia Maior, Fogo Fogo, Remna, Mário Lúcio, Paulo Flores e Amélia Muge são alguns dos nomes que vão subir ao palco do S. Luíz com Nancy Vieira. Fotografia de Augusto Brázio.

 

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ARTE COMPROMETIDA  - “Existem Pedras Nos Olhos” é uma exposição que podia ter sido pensada para a envolvente actual do Dia Internacional da Mulher. O trabalho de Alice Geirinhas é um permanente manifesto político que usa diversos processos criativos para vincar a sua mensagem essencialmente feminista, focada em  assuntos da identidade, da sexualidade, da igualdade de género. A exposição apresenta obras datadas de diversos períodos e que utilizam vários media, do desenho à pintura, das artes gráficas à ilustração, do vídeo à instalação. O resultado é um manifesto caótico que nalguns momentos se pretende provocador, mas frequentemente se evidencia redutor e permanentemente tendencioso - uma resposta construída da mesma forma que o universo de exclusão que pretende abordar. Esta é daquelas exposições onde arte e propaganda se confundem, nem sempre da forma mais eficaz. A montagem escolhida das três dezenas de obras apresentadas assume o carácter propagandístico da exposição, funcionando como uma série de manifestos visuais onde o posicionamento identitário é o mais evidente ponto comum. No site da Biblioteca de Arte da Gulbenkian, Alice Geirinhas é apresentada como “uma artista visual que na sua investigação e criação artística – desenho e ilustração, instalação, vídeo e performance - explora temas feministas, questões de identidade, sexualidade e igualdade de género”. É exactamente isso que se vê na exposição “Existem Pedras Nos Olhos”, com curadoria de Ana Anacleto, que fica patente até 28 de Abril na Galeria Quadrum, Palácio dos Coruchéus, Rua Alberto de Oliveira 52, Lisboa. (fotografia José Frade).

 

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ROTEIRO -  O destaque deste dia vai para a exposição “As Mulheres de Maria Lamas”, no átrio da Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian, em Lisboa. A exposição (na foto) tem curadoria de Jorge Calado e apresenta pela primeira vez a obra fotográfica de Maria Lamas cuja face mais conhecida até agora era o livro “As Mulheres do Meu País”. A mostra apresenta uma seleção de 67 das suas fotografias, maioritariamente provas da época, de pequenas dimensões, entre 8 x 6 cm e 14 x 18 cm, mas também algumas ampliações. Estão igualmente expostas provas da época de outros fotógrafos incluídas na obra “Mulheres do Meu País. São ainda mostrados objetos pessoais de Maria Lamas, bem como o seu retrato pintado por Júlio Pomar em 1954  e o busto em gesso esculpido, em 1929, por Júlio de Sousa. A secção destinada à sua obra literária e jornalística inclui exemplares de primeiras edições de livros que produziu nas áreas de literatura infantil, poesia e ficção, assim como traduções, e artigos que escreveu enquanto jornalista. “As Mulheres de Maria Lamas” fica exposta até 28 de Maio. Mudando de assunto, a artista plástica Sara Mealha foi a convidada das Galerias Municipais/ EGEAC  para o seu espaço institucional na ARCO Madrid, que decorre até 10 de Março onde apresenta duas pinturas de grande formato com  composições plásticas e gráficas, numa montagem que pretende evocar o processo de execução no atelier. E a terminar, na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva está exposto até 2 de Junho um conjunto de desenhos de pequeno formato do espólio de Ofélia Marques, uma artista representativa da segunda geração do modernismo português. 

 

DIXIT- “As presentes eleições e respectiva campanha são as mais certeiras demonstrações deste caminho para a destruição dos partidos como centros de racionalidade”- António Barreto

 

BACK TO BASICS - “Nada é tão útil na política como uma memória curta” John Kenneth Galbraith

 

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OS TEMAS MARGINAIS - De acordo com sondagens recentes um quinto dos portugueses declara não saber ainda em quem votará nas eleições de 10 de Março. Os debates praticamente terminaram e um estudo publicado esta semana pela Universal Media indica que existe uma diminuição de audiência dos debates eleitorais face aos números registados nas legislativas de 2022, nomeadamente nos canais generalistas - RTP1, SIC e TVI, embora nos canais informativos do cabo haja um ligeiro aumento. Isto pode querer dizer que a grande massa de espectadores se interessou menos em ouvir os líderes partidários, mas que os maiores consumidores de informação lhes dedicaram maior atenção. A ver vamos  o que isto significa em termos de abstenção. Acredito que é em tempo de campanha que se pode ver a atenção que os políticos dão a temas correntes.  Fora da agenda dos grandes tópicos da propaganda, que são a saúde, a educação, a habitação, os pensionistas e os impostos, pouco se discutiu. A justiça, ausente durante o início dos debates, foi para lá empurrada pelo que aconteceu na Madeira e a segurança entrou na liça pelos protestos das forças policiais. Da posição de Portugal face à situação internacional, particularmente na Europa, não se fala (e seria curioso atendendo ao carinho que algumas das forças concorrentes dedicam à Rússia e a Putin), a Cultura, como já aqui escrevi, é tema desinteressante para os políticos salvo na altura de uns convívios e jantares com artistas. Mas há outro tema, que antes do início da campanha andou nas bocas do mundo, e que agora desapareceu - a situação de crise profunda na imprensa e na comunicação social. Todos se mostraram muito preocupados e agora o tema está desaparecido. Também ninguém fala  do serviço público audiovisual - a RTP está bem assim, que entendem os partidos que deve ser melhorado no funcionamento, papel e missão do serviço público?  Como deve ser revisto o contrato de concessão e a sua governança? Justifica-se um Conselho Geral Independente cuja actividade e competência é um mistério? Quais as obrigações que a RTP deve cumprir e qual o seu enquadramento na estratégia audiovisual da língua e cultura portuguesas? Pensar nestes assuntos é uma maçada para os políticos, não é?

 

SEMANADA - O Governo estima que há 300 mil registos de utentes nas listas dos médicos de família que correspondem a pessoas que já não residem em Portugal ou que já não deveriam estar registados; mais de 80% dos médicos dos hospitais privados mantêm um posto de trabalho no SNS, numa situação de duplo emprego; o actual ciclo de subida do desemprego é o maior dos últimos 8 anos; o valor médio, bruto, da hora de trabalho pago em Portugal é de 4,65 euros; segundo a Caritas, no período 2019-2023 não se registaram progressos significativos no combate à pobreza mais extrema em Portugal; os empréstimos ao consumo estão a subir há 12 meses; o preço do azeite subiu 69% num ano; nas legislativas de 2019 e 2022 cinco em cada dez portugueses não foram votar e Portugal está entre os países da UE onde menos se vota em eleições para formar Governo; a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima registou nos últimos cinco anos 6776 crimes sexuais contra crianças; em 2023 a mesma Associação registou 23.465 crimes de violência doméstica; o governo  transformou a Parque Escolar em Construção Pública para acelerar os projectos nesta área, mas mais de oito meses depois, a empresa ainda só lançou um concurso na área da habitação; o Estado ainda deixa fugir 713 milhões de euros de IVA por ano;  em 2022, as escolas do território continental eram frequentadas por 105.855 crianças e jovens de nacionalidade estrangeira, oriundos de mais de 200 países, menos de 10% do total de alunos inscritos.



O ARCO DA VELHA - O SNS gastou 37 milhões de euros com um medicamento originalmente destinado a diabéticos, mas que é também usado para perder peso.

 

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SERRALVES AUMENTADA - Desde a semana passada há um novo espaço para visitar em Serralves, a Ala Álvaro Siza, dedicada a acolher no futuro todas as exposições de obras da coleção, ou as dedicadas à arquitetura e aos vários arquivos depositados na Fundação de Serralves. Recordo que Álvaro Siza foi o arquitecto do Museu de Serralves, inaugurado há 25 anos. Para estreia do novo espaço foi criada a exposição “Anagramas Improváveis”, que reúne mais de 160 obras de 80 artistas, todas da colecção de Serralves,  e também a exposição C.A.S.A.- Colecção Álvaro Siza Arquivo, baseada em projectos de Álvaro Siza, contemplando diversas fases da sua carreira. Em “Anagramas Improváveis” cruzam-se obras de artistas de diferentes gerações e nacionalidades, com curadoria de Marta Almeida, Isabel Braga, Inês Grosso, Ricardo Nicolau, Joana Valsassina e Philippe Vergne. A exposição sublinha a ligação da Coleção de Serralves aos  movimentos artístico-literários dos anos 1960–70, recorda a exposição portuguesa Alternativa Zero (1977) e a exposição-manifesto que inaugurou o Museu de Serralves, Circa 1968 (1999), proporcionando diálogos entre obras produzidas em tempos e geografias muito distantes. A exposição apresenta também uma peça sonora de Luísa Cunha, criada especificamente para o novo edifício, e uma série de aquisições recentes de artistas jovens, ao lado de obras de artistas pertencentes a gerações mais antigas, como, entre outros, Joan Jonas, Lourdes Castro, Lothar Baumgarten, Cabrita, Julião Sarmento, Paula Rego, Lygia Pape, Ana Jotta ou Helena Almeida (na imagem a obra “Pintura Habitada, de 1975, fotografada por Filipe Braga). Para terminar a Fundação de Serralves anunciou entretanto que acolherá em depósito a importante colecção do galerista Mário Teixeira da Silva (Módulo - Centro Difusor de Arte), que morreu no ano passado.

 

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ROTEIRO DAS BOAS VISTAS - Na próxima semana uma considerável parte das galerias e colecionadores de arte rumará a Madrid para mais uma edição da ARCO, entre 6 e 10 de Março. Entretanto, na semana passada, Pedro Cabrita Reis inaugurou em Madrid, na Galeria Albarran - Bourdais (Barquillo 13, Madrid) a sua exposição “Museum”, para a qual o artista criou um conjunto de instalações no local, combinando escultura com pintura (na imagem). A Galeria editou um jornal da exposição que inclui uma conversa entre Pedro Cabrita Reis e Hans Ulrich Obrist. Voltando à ARCO, parabeńs à Fundação PLMJ, que recebe este ano da organização o prémio  atribuído pela ARCO Madrid à sua actividade enquanto promotor da colecção de arte, que tem curadoria de João Silvério e que esteve recentemente exposta em Lisboa, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional. Outras sugestões: em Lisboa, na Galeria da Boavista (Rua da Boavista 50) poderá ver “Babuíno Talismã”, uma exposição de imagens fotográficas de Daniela Ângelo que ficará patente até 31 de Março; no Centro Cultural de Cascais pode ver até 14 de abril de 2024, “QUID”, uma exposição de pinturas inéditas da artista portuguesa Isabel Sabino, que reúne cerca de 60 pinturas selecionadas pela artista e produzidas desde 2018.

 

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BLUES INESPERADOS - Quando penso em vibrafones vem-me logo à memória a forma como Lionel Hampton ou Gary Burton tocavam. Actualmente não é muito frequente ouvir o trabalho de vibrafonistas na nova geração de músicos de jazz. Há no entanto uma excepção, a de Joel Ross. No seu novo disco este músico norte-americano, que grava para a Blue Note, inspirou-se numa das mais tradicionais e marcantes  músicas da américa  e assim juntou vibrafone e blues, numa combinação perfeita. O disco chama-se “Nublues”, inclui dez temas ao longo de pouco mais de uma hora de boa música. Joel Rosso trabalhou neste disco com um quinteto que, além dele próprio, inclui o saxofonista Immanuel Wilkins, o pianista Jeremy Corren, o baixista Kanoa Mendenhall e o baterista Jeremy Dutton. A flautista Gabrielle Garo aparece em três faixas. Dos dez temas do disco sete são originais compostos por Ross e há três versões: “Equinox e “Central Park West” de John Coltrane e “Evidence” de Thelonius Monk. A maior parte dos solos é assegurada por Ross e Wilkins, mas Corren faz em “Ya Know?” um solo de piano que merece ser ouvido com atenção. Outros temas que merecem destaque são “Bach (God The Father in Eternity)” e “Mellowdee”, uma balada que é o ponto onde a inspiração dos blues é mais marcada. “Nublues” está disponível nas plataformas de streaming.

 

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UMA HISTÓRIA MISTERIOSA - July e September são as duas irmãs adolescentes que protagonizam uma história misteriosa e intrigante. Nascidas com dez meses de diferença, são como que gémeas e são elas as protagonistas de “Irmãs”, uma novela de Daisy Johnson editada originalmente em 2020. A história começa com a fuga das duas, levadas pela sua mãe, Sheela, de Oxford para Yorkshire, para uma casa perto do mar, emprestada pela irmã do pai das raparigas, que entretanto morreu e que abandonara a família quando elas eram muito pequenas. As três fogem de uma situação nunca claramente explicada, e a novela é uma espécie de viagem ao passado da família. A tragédia que envolve esse passado, e que é verdadeiramente o centro a partir do qual se desenvolve toda a história, vai sendo revelada aos poucos, de forma por vezes assustadora. A história é contada por July e é comentada pela mãe, Sheela. Ao longo do livro descobre-se a relação perturbantemente íntima entre as duas irmãs, que partilham o mesmo telemóvel e cujos corpos parecem ligados, mesmo nos momentos mais privados. Os momentos de grande tensão sucedem-se ao longo das páginas e a história acaba por dar uma reviravolta inesperada no final, que leva a querer rever o que até então escapara a quem estava a ler. Daisy Johnson é uma escritora britânica que em 2028 foi seleccionada para a shortlist do Man Booker Prize com a sua novela “Everything Under”. “Irmãs” foi considerado na lista dos melhores livros de 2020 pelo “New York Times” e é agora lançado em Portugal pela Euforia, uma chancela editorial dedicada a romances estrangeiros. A tradução é de Inês  Montenegro

 

DIXIT - “Se as contas externas são hoje mais positivas em Portugal, é porque voltámos a ser um país de emigrantes e porque estamos ainda mais dependentes do turismo para compensar o desempenho insuficiente dos restantes sectores exportadores no seu conjunto. Isto é bom para as estatísticas e para as condições actuais de financiamento externo, mas tem um problema: nenhum país pode aspirar a desenvolver-se com base apenas no turismo ou com uma saída em massa da população activa” - Ricardo Paes Mamede

 

BACK TO BASICS - “A dúvida não é agradável, mas a certeza é absurda” - Voltaire.

 

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Um dia destes ouvi uma entrevista com o ex-ministro Marçal Grilo onde se lhe perguntava, como ex-responsável da pasta da educação num governo do PS, o que achava ele daquilo que os programas dos partidos diziam sobre o assunto. Resposta, lapidar: “não li nenhum programa”. O jornalista ficou um pouco espantado e não desarmou, perguntando-lhe se tem seguido os debates na televisão. A resposta foi ainda mais lapidar: “não vejo debates”. Fiquei com aumentada admiração por Marçal Grilo, de quem já tinha boa impressão pelo trabalho efectuado no Governo.

É raro encontrar quem tenha estado envolvido na política assumir com tanta frontalidade que não segue o que acontece em época eleitoral - ele faz aliás questão de sublinhar que mantém as suas ideias e que continua a acompanhar o que se passa no país, só que deixou de lhe interessar seguir a propaganda dos partidos. E na realidade programas e debates são isso mesmo: pura propaganda, zero de estratégia sobre o país. Por causa desta desassombrada opinião fui ler meia dúzia de programas e assisti a dois debates. Percebi que tinha perdido tempo.

Constatei que os programas são um chorrilho de banalidades, muitas vezes a dizerem coisas muito semelhantes, maioritariamente com medidas vagas e imprecisas, frequentemente com contraste entre o que se propõe e aquilo que se sabe que fez quando esteve no poder ou perto dele. Prefiro vasculhar a minha memória e recordar-me do que cada partido fez na oposição ou no governo, que medidas implementou de facto, quais as que não quis concretizar e quais as que travou ou impediu, propostas por outros. Curiosamente o programa do PS parece ser o projecto de um mundo ideal e de um país perfeito e concordo com muito do que lá vem. O problema começa quando me recordo do que foi feito e do que não foi feito nestes últimos oito anos pelos governos de António Costa. E, se não fizeram antes, quando até tiveram maioria absoluta, porque hei-de acreditar que farão agora? Se defenderam um Estado abusador, como acreditar que o querem mudar? No caso da AD - melhor dizendo do PSD que o resto da coligação é apenas exploração de memórias passadas - trata-se de um exercício, por vezes triste, de fuga a compromissos sólidos, à excepção de áreas que cabem contadas pelos dedos de uma só mão.

Os programas dos partidos, sobretudo daqueles que têm aspiração a governar, são um rol de promessas que, como se sabe, é artigo muito susceptível de ser levado pelo vento. Um exercício mais interessante que ler os programas para estas legislativas antecipadas, seria ler os programas apresentados nas legislativas de 2022 e depois ver o que o partido então vencedor, o PS, cumpriu do prometido. E ver também o que os partidos da oposição fizeram na Assembleia da República em prol das suas ideias. Bem sei que interessa olhar para o futuro, mas pode ser útil ver o que deram as promessas feitas há dois anos. Vamos agora ao outro lado da questão, que são as conversas entre partidos na televisão, naquele modelo vigente em que grande parte das perguntas não são respondidas porque os candidatos preferem falar de outros assuntos. Na realidade estes debates não me seduzem - ninguém vai ali discutir ideias: uns vão contrariar o que os outros dizem e proclamar que são melhores. Acreditar no que dizem é apenas um acto de fé.

Há um enorme contraste com o que se passava há umas décadas, quando se discutiam diferenças e se falava de estratégias de crescimento do país. Esta geração de políticos não tem estadistas, tem apenas propagandistas em causa própria.  Veja-se este dado: mesmo o debate mais visto, o que opôs Luís Montenegro a Pedro Nuno dos Santos, transmitido em directo por três canais generalistas e três canais de cabo, num exercício de imposição pouco democrático, foi visto por cerca de 2,7 milhões de espectadores num universo de 9,3 milhões de eleitores. Apesar de terem açambarcado o espaço mediático apenas 30% das pessoas com direito a voto se sentiram interessados em seguir o que diziam os dois homens que têm por objectivo tomar o poder. É curto, muito curto. Mas serviu-me de alguma coisa ter visto este debate. Confirmei que não iria votar em nenhum daqueles partidos. E, mesmo com todos os incidentes que houve de permeio, continuo, este ano ainda, a votar na Iniciativa Liberal. O seu papel na Assembleia da República tem sido importante, têm exercido influência e conseguido impôr mudanças, fazendo diminuir abusos do Estado. Faço votos que tenham peso suficiente para conseguir mudar a Lei Eleitoral, para que os resultados de futuras eleições tomem em conta todos os votos. E permitam começar a fazer política de forma diferente.

(Publicado no semanário NOVO de 24 de Fevereiro)

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A PROPAGANDA CULTURAL - Bem sei que politicamente a Cultura é apenas uma flor na lapela que, em tempos eleitorais, os políticos gostam de usar para dizerem que se interessam por ela e, sobretudo, para terem uns quantos artistas a apoiá-los e a aparecerem em eventos de campanha. Já das campanhas eleitorais o tema está ausente, como temos visto. Por curiosidade fui ler diversos programas partidários na área da Cultura. O ponto comum de todos eles é a existência de frases bonitas mas vazias, ausência de medidas concretas, substituídas por  proclamações gerais de intenções. Mesmo quando descem a temas concretos, em nenhum caso dizem o que de facto pretendem fazer. A Lei do Mecenato é um bom exemplo. Aqueles que defendem a necessidade de incentivar o mecenato privado não exemplificam, com uma medida que seja, o que consideram prioritário na revisão dessa Lei - nem mesmo a simples identificação de medidas constantes da legislação de um um país onde as coisas funcionem bem. É um contraste com outras áreas onde as medidas são pormenorizadas. Tantas com contas detalhadas em vários temas e tantas promessas vagas noutras. À esquerda do PS, ou seja Bloco, PCP e Livre, o mecenato nem sequer é tema e a entrega do sector à dependência do Estado é total. Os programas do Bloco e PCP são pouco mais que cadernos reivindicativos sindicais sobre as condições de trabalho no sector.  O PS, que reivindica ser o campeão na área cultural, aponta no seu programa uma série de medidas interessantes, mas que foi incapaz de tomar nestes anos em que foi Governo. Em teoria sabe o que quer, mas não faz. Mais grave ainda, em todos os programas há como que um pudor em premiar a procura de públicos e em associar os apoios a conceder à capacidade de conseguir atrair novos públicos, de forma quantificada. Em nenhum caso se põe em causa a continuidade das rendas pagas a entidades, que se repetem anos após anos, independentemente dos resultados alcançados. A manutenção do status quo da subsídio-dependência é coisa que invade os programas de todos os partidos, em maior ou menor grau. E é um dos maiores problemas para conseguir uma estratégia cultural diferente. Os programas são pouco mais que promessas, e essas, leva-as o vento…

 

SEMANADA - Portugal é o país que está a envelhecer ao ritmo mais acelerado no conjunto dos 27 países da União Europeia; 25% das pessoas com mais de 75 anos vivem sozinhas; as exportações de azeite ultrapassaram pela primeira vez os mil milhões de euros; o Alojamento Local significa 40% das dormidas turísticas em Portugal, quase metade das dormidas em Lisboa e mais de 60% no Porto; as exportações portuguesas de calçado caíram 8,2% em 2023; nos últimos cinco anos houve 10 008 profissionais que se reformaram no SNS e, destes, 3226 são médicos; o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares diz que o pico das reformas está para chegar; o relatório de um organismo da União Europeia afirma que Portugal foi um dos países que nos últimos 25 anos mais aumentaram a taxa máxima de imposto sobre o rendimento, em contraciclo com a maioria do estados membros; nas últimas legislativas, em 2022, a percentagem de eleitores que apenas decidiram o voto no dia das eleições foi de 14%, ou seja mais de 750 mil pessoas; o cabaz alimentar de 63 bens essenciais monitorizados pela Deco atingiu na última semana mais 50 euros do que há dois anos; o valor da cesta de alimentos monitorizados semanalmente pela Associação de Defesa do Consumidor custa agora 236,60 euros, quando no mesmo período de 2022 se ficava pelos 185,66 euros, 27% acréscimo; 25% dos votos no Alentejo nas legislativas de 2022 foram para partidos eurocéticos; em janeiro as rendas de casa cresceram 6%, o maior audmento em 30 anos; o Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Chiado, tem a sua colecção de 4500 obras encaixotadas e armazenadas há vários anos; o peso das transferências do Orçamento de Estado para as universidades e politécnicos públicos diminuiu 8,5 pontos percentuais no espaço de uma década e meia; as reclamações de utilizadores sobre serviços de entregas ao domicílio subiram 62% em 2023 e a UBER Eats lidera as queixas; os jovens de 18 anos estão a consumir mais bebidas alcoólicas de forma diária e o aumento verifica-se em todas as regiões do país.

 

O ARCO DA VELHA - Em 2022 o Estado gastou 1,7 milhões de euros para a esterilização de 44 917 animais de companhia (cães e gatos), no âmbito do Programa de Incentivo Financeiro para o Bem-estar Animal. A comparticipação do Estado às diferentes entidades foi de 20 euros por gato e 40 por cão e de 46 por gata e 72 por cadela. 

 

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AS FIGURAS DE VIEIRA DA SILVA - Embora a pintura de Vieira da Silva seja  associada à abstracção, à representação do espaço e da perspectiva e ao uso das linhas e malhas geométricas, a artista teve também uma produção figurativa que é menos conhecida. Além da ilustração para livros infanto-juvenis, onde se sente a sua criatividade e experimentação, Maria Helena Vieira da Silva trabalhou também temas académicos, como a pintura de modelo, naturezas mortas, retratos e até espaços interiores. A nova exposição da Fundação Arpad-Szènes-Vieira da Silva (FASVS), “Aquém e Além da Abstracção, mostra este lado menos conhecido. A selecção  apresentada inclui obras dos primeiros anos da artista em Paris, de 1929 a 1936, algumas propostas para concursos de 1940 e uma série de retratos e ilustrações do período de exílio no Brasil, entre 1941 e 1946, durante a Segunda Guerra Mundial. Ao longo dos anos Vieira da Silva quis sempre manter consigo estas obras, até que em 1990 integraram a colecção do Museu da FASVS, como é o caso de “Elsa Dance”, a obra aqui reproduzida e patente nesta exposição, que tem curadoria de Isabel Carlos e pode ser vista até 2 de Junho (Praça das Amoreiras 56).  Na Casa-Atelier Vieira da Silva, bem próxima do Museu, está o trabalho que o artista plástico Xana fez inspirado na obra “Rua do Ouvidor”, pintada no Rio de Janeiro por Maria Helena Vieira da Silva em 1942, uma reinterpretação a que deu o título “Rua Projectada à Rua do Ouvidor”. 

 

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ROTEIRO DAS BOAS VISTAS - Patrícia Garrido apresenta na Galeria Diferença (Rua Filipe Neri 42), um conjunto de 34 desenhos que combinam uma base de aguarela, depois rodeada por linhas contínuas que no fundo limitam o seu espaço (na imagem), sob o título “Desenhos Fechados”.  Na Biblioteca de Marvila (Rua António Gedeão), destaque para “O Olhar Encantado”, que apresenta fotografias inéditas da rodagem do filme “As Ilhas Encantadas” realizadas por Augusto Cabrita e focadas em Amália Rodrigues, que protagonizou esse filme de  Carlos Vilardebó, realizado em 1965. “Liberdade - Portugal lugar de encontros” é o título da exposição comissariada por João Pinharanda e que reúne obras de artistas de diversas proveniências que têm em comum a língua portuguesa, entre os quais Abraão Vicente, Graça Pereira Coutinho, Ângela Ferreira, Oleandro Pires Garcia, Ana Marchand, Cristina Ataíde, Manuel Botelho, Francisco Vidal e Yonamine, entre outros. O núcleo principal está na UCCLA (Avenida da Índia 110), completado por um outro núcleo, mais pequeno, no Centro Cultural de Cabo Verde (Rua de S. Bento 640). Para finalizar, se for a Londres pode aproveitar para ver até 1 de Setembro, na Tate Modern, uma exposição sobre o trabalho multifacetado de Yoko Ono, “Music Of The Mind” e a exposição sobre a obra de Philip Guston termina dia 25 de Fevereiro. 

 

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MÚSICA FÍSICA - Há três décadas Vijay Iyer estava a fazer um doutoramento em física quando resolveu que o piano, que aprendera sozinho, seria o seu destino. Iyer já tinha estudado música clássica mas foi para o jazz que se virou, trazendo uma perspectiva inovadora que conjuga a precisão da física com o imaginário poético onde se inspira. Tem seguido esse caminho, explorando ainda diversos cruzamentos com outras artes. “Compassion”, o seu novo disco, é o resultado de um trio particularmente conseguido onde além de Iyer no piano, tocam a baixista Linda May Han Oh e o baterista Tyshawn Sorey. “Compassion” é um disco diferente, mais enérgico e menos contemplativo do que é hábito de Iyer - muito por força da forma como baixo e bateria estimulam o piano. “Overjoyed”, um tema de Stevie Wonder, aqui reinterpretado, é prova disso mesmo, assim como “Maelstrom” e “Tempest”. Já “Panegyric” e “Where I Am”, mostram o lado mais reflexivo e intimista. “Nonaah”, um original de Roscoe Mitchell, é um tributo à improvisação, assim como outra versão, “Free Spirits/Drummer’s Song” ( de John Stubblefield e Geri Allen). Edição ECM, disponível em streaming.

 

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UM ROMANCE À DISTÂNCIA - Uma canção é uma história, um conto. Sérgio Godinho canta histórias e também escreve romances. Não é caso inédito, mas se partirmos do princípio que uma canção deve ser um conto, então faz sentido pensar num romance escrito por alguém que fez da música o essencial da sua vida. Vejam só esta matéria prima de uma canção: “Era uma mulher e um homem, um homem e uma mulher, e vice-versa. Viviam em duas cidade separadas por mil seiscentos e onze quilómetros, e só se conheceram realmente no início da vida adulta” - é assim que começa “Vida e Morte Nas Cidades Geminadas”, o novo romance de Sérgio Godinho, que sucede a “Coração Mais que Perfeito” e “Estocolmo”. Este “Vida e Morte Nas Cidades Geminadas” conta a história de duas personagens: Amália, portuguesa, que canta fados e vive em Guimarães, e Cédric, francês, que trabalha na morgue de Compiègne,  no norte de França. Esta história de desencontros e coincidências decorre na atualidade mas atravessa várias gerações – e várias línguas. Amália e Cédric nasceram no mesmo dia e no mesmo ano, ela em Portugal, ele em França, partilham perplexidades e um amor cheio de coincidências e dificuldades. De tudo isto nasce uma ligação que ultrapassa as distâncias mas é posta em causa pelos quotidianos, desgastando-se e levantando interrogações, desencontros e, até, desencantos. Esta é a história que Sérgio Godinho nos conta - entre o nascer e o desfazer de um amor. Edição Quetzal.

 

DIXIT - “Estamos, de facto, perante um leilão eleitoral, em que cada partido tenta dar mais do que o outro. Lamentavelmente, cada partido está, nesta campanha, mais a olhar para o retrovisor do que para o pára-brisas” - António Saraiva

 

BACK TO BASICS - “É pois evidente que quanto mais o Estado intervém na vida espontânea da sociedade, mais risco há, se não positivamente mais certeza, de a estar prejudicando” - Fernando Pessoa




 

 

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A CAMPANHA - As eleições legislativas antecipadas de 10 de Março coincidem praticamente com o 50º aniversário do 25 de Abril de 1974 e, atendendo ao estado da nação, seria de esperar que a questão da Justiça, dos seus problemas e dos efeitos que o seu mau funcionamento tem na política, nos cidadãos e na economia, fizessem parte da campanha eleitoral - quanto mais não seja porque o Primeiro Ministro se demitiu no seguimento de uma investigação do Ministério Público e na Madeira aconteceu o que se sabe. Aliás se não fosse a decisão do juiz no caso da Madeira o assunto tinha passado mesmo ao lado de tudo.  No entanto o tema é importante: o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, propôs e procurou que se fizesse um pacto entre os principais partidos sobre a reforma da Justiça, mas nada aconteceu. Acontece que o tema da justiça não faz parte da campanha eleitoral nem da fábrica de soundbites que têm sido os debates televisivos. Mas também não ouvi falar, nesses debates, da guerra, e da crescente instabilidade da situação internacional, que tem óbvios efeitos em qualquer país e consequências a nível da política externa.  E, menos ainda, de qualquer assunto que tenha a ver com Cultura. Assim, três pilares essenciais da Liberdade e da Democracia - justiça, paz e cultura - estão definitivamente fora da campanha eleitoral. Em vez dos comícios sob a forma de debates preferia que houvesse um prestar de contas sobre o que foi prometido nas eleições anteriores, por quem esteve no Governo estes anos, e também um balanço do que a oposição fez. E não seria nada má ideia que a oposição tivesse um governo sombra, cujos elementos fossem porta-vozes sectoriais sobre as várias áreas da governação, incluindo aquelas de que menos se fala. Uns números para terminar: o debate entre Luís Montenegro e André Ventura teve  850 mil espectadores, na RTP1 - que a essa hora até esteve à frente da SIC e TVI. Mas, no mesmo canal, pouco tempo antes, Fernando Mendes com o seu "Preço Certo" registou uma audiência média de quase 900 mil espectadores, numa altura em que havia muito menos gente a ver televisão do que à hora dos debates. Será isto uma prova do desinteresse das pessoas pela política, do desencanto  com os partidos e da desconfiança face aos políticos?

 

SEMANADA - Segundo a Direcção Geral de Saúde em 2023 foram distribuídos cerca de 6.9 milhões de preservativos mais 33% que no ano anterior; segundo uma médica especialista em doenças sexualmente transmitidas os casos de sífilis e gonorreia estão a aumentar em Portugal; em Janeiro a inflação aumentou para 2,3%, uma variação de 0,9% em relação ao mês anterior; de acordo com dados da Comissão do Mercado de Valores Mobiliário há 265 fundos de investimento imobiliário em Portugal que em dezembro geriam activos de 2,5 mil milhões de euros, 63% acima do investimento contabilizado em dezembro de 2022; um estudo científico indica que um saco de papel produz três vezes mais emissões de gases com efeito de estufa do que um saco de plástico; em 2023 a DECO recebeu 360 mil reclamações e os sectores das telecomunicações, comércio e banca foram os que mais queixas registaram; um terço dos novos oficiais de justiça que em setembro passado foram contratados para reforçar os tribunais já se foram embora, queixando-se do baixo salário, que é de menos de 900 euros líquidos; o número de portugueses com dois empregos cresceu 7% no ano passado e o total já ultrapassa os 250 mil, dos quais 142 mil têm formação superior; a percentagem de alunos entre os 18 e os 24 anos que deixou de estudar sem concluir o 12º ano aumentou para 8% em 2023; no ano passado as cesarianas representaram 32% do total de nascimentos, o numero mais elevado de anos recentes; cerca de 66% das freguesias portuguesas não têm pontos de venda de imprensa; há 38 mil empresas exportadoras em Portugal, 23 mil são pequenas, médias e microempresas e apenas 3600 investem em investigação e desenvolvimento.

 

O ARCO DA VELHA - Em 2023 foram registadas mais de mil agressões a profissionais de saúde.

 

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MOSTRAR O QUE NÃO É EVIDENTE - Ricardo Angélico “um pintor menos conhecido do que devia”, como diz Alexandre Pomar, está até 9 de Março na Galeria Carlos Carvalho (Rua Joly Braga Santos, Lote F, R/C, Lisboa) com a exposição “Peças Para Uma Máquina do Tempo Perdido”. É um conjunto de pinturas, sobre tela, papel preparado e linho que têm em comum uma linguagem visual próxima do imaginário do fantástico, com um piscar de olhos à observação da natureza, misturada com evocações de banda desenhada, misturando figuras humanas e de animais, com formas e deformações monstruosas. Na imagem aqui reproduzida, “Homilia”, isso mesmo é bem patente. Mas noutros pontos da exposição, como nos dois momentos de “Audobom Remix” o trabalho de Angélico é inspirado pelo inventário que John James Audobom desenhou no século XIX dos pássaros da América. Angélico copiou as imagens de algumas dezenas dessas imagens de aves e pintou-as de forma perfeita a óleo, sobre linho, misturando-as, mais uma vez num desafio de fantasia, com imagens de várias origens, desde uma evocação da BD na figura de Woody Woodpecker, passando por uma borboleta e até à inclusão da NBA através de um jogador de basket que salta no meio dos pássaros ou de um popular pato amarelo saído dos cartoons norte-americanos. Duas outras obras, ambas de 2023, “Geoff na China” e “Perdidos e inchados”, ambas trabalhadas em técnica mista sobre papel preparado remetem-nos mais uma vez para um delírio de mistura de personagens e de explosão de cores. Deixo para o fim duas das obras mais marcantes, os estudos para Bonsai, ambos óleo sobre tela, mostrando o lado escondido dos bonsais, as suas raízes e caules - no fundo mostrar o que não é evidente, que parece ser o tema trabalhado por Ricardo Angélico.

 

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ROTEIRO DAS BOAS VISTAS - António Caldeira Pires, aka TóCalpi, um trabalho despretensioso, honesto e divertido como poucos na exposição “pufomance”, até 20 de fevereiro no espaço cultural das Mercês, rua Cecílio de Sousa 24, junto ao Príncipe Real(na imagem); em Bragança, até 30 de Junho, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais apresenta uma exposição da obra de Júlio Pomar, organizada pelo Atelier-Museu Júlio Pomar, de Lisboa; na Galeria No-No, (Rua de Santo António à Estrela 39A), “Catarse” mostra pintura  de Filipe Cortez, até 16 de Março; nas Carpintarias de São Lázaro (Rua de São Lázaro 72, Lisboa), Pedro Vaz mostra pintura, video e música em “Num Único Acorde”; na Galeria Fidelidade Arte (Largo do Chiado 8), a plataforma Ampersand organizou a exposição “Two Faces Have I”, na qual apresenta trabalhos de Jana Euler, Pati Hill e Sylvie Fanchon em torno de imagens dos filmes do realizador norte-americano Chris Langdon; na Galeria Belard (Rua Rodrigo da Fonseca 103B, Lisboa), Mafalda d’Oliveira Martins apresenta “Oblivion”, uma exposição em que a artista retratou, em desenho, cada uma das 233 pessoas que em 2021 morreram sós na cidade de Lisboa; na Galeria Foco (Rua Antero de Quental 55A), Manuel Tainha apresenta “Chest Against The Back”: no Instituto (Rua dos Clérigos 44, Porto), Walter Vinagre apresenta a exposição de fotografia “Morte Adivinhada”; até sábado ainda pode ver estas três exposições: na Zet Gallery, de Braga, “Cicatriz”, de Sandra Baía; na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa (Rua da Barroca 59), as fotografias de Diogo Simões sob o título “Terra Livre”; e na Galeria Monumental (Campo dos Mártires da Pátria 101) “Uncertain Smile”, de Miguel Navas, termina às 18h30 com um concerto de Rodrigo Amado e Hernâni Frutuoso.

 

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SAX E GUITARRA - Uma das boas surpresas musicais das últimas semanas é o álbum “The Room”, do saxofonista norte-americano Sam Gendel e do guitarrista brasileiro Fabiano do Nascimento. Escusa de pensar que esta formação de saxofone e guitarra é um remake do histórico disco de Stan Getz e João Gilberto porque não se trata de nada disso. “The Room” é território novo, um exemplo do que se pode fazer só com instrumentos acústicos, o saxofone soprano tocado de forma muito suave, quase um suspiro por vezes, e uma guitarra de sete cordas dedilhada de forma enérgica ao longo dos dez temas do disco. Desde a faixa inicial, “Foi Boto”, onde as harmonias da bossa nova são afloradas até ao extraordinário “Astral Flowers” , talvez o ponto alto do disco, o saxofone de Gendel, por vezes pouco mais que o som do sopro de uma flauta, enrola-se nas notas que saem das cordas da guitarra. Em “Capricho” a guitarra marca o ritmo e o saxofone desenha a melodia, em “Txera” há um jogo de desafio e uma estrada de cumplicidade entre os dois músicos. E “Até de Manhã” e “Daiana” são baladas envolventes. Disponível em streaming.

 

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UMA HISTÒRIA FAMILIAR - “Uma Família Judaica, de Varsóvia e Brody a Lisboa e Telavive”, de Esther Mucznik, conta  a história da sua família e faz o retrato do povo judeu através de três séculos de diáspora. A história dos Goldreich Mucznik, oriundos da Europa de Leste e que se dispersarem pelo mundo, reflete em boa medida a história do povo judeu, neste caso com Lisboa a ser um porto seguro.  Esther Mucznik sublinha: "Os judeus são errantes, não por defeito, mas pela sua história, e gostaria que este livro e as vidas que nele são retratadas contribuíssem para a percepção clara de que se pode ter uma origem e uma identidade religiosa diferentes daquelas onde nos estabelecemos e sermos cidadãos fiéis, leais e patriotas, não só legalmente mas de alma e coração” . Este é um livro intimista, uma história familiar mas, também, o retrato das mudanças surgidas ao longo das décadas que a autora leva de vida e que acompanhou, desde os seus tempos juvenis em Israel, até à forma como assistiu em Paris ao Maio de 68 ou ao 25 de Abril em Portugal. E o encanto do livro é exactamente essa forma intimista como está escrito, a maneira como cruza os grandes acontecimentos com a história da sua família e a sua própria. Esther Mucznik foi vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, fundadora e presidente da Associação Memória e Ensino do Holocausto – Memoshoá. Preside à Associação Hagadá, responsável pela instalação do Tikvá Museu Judaico em Lisboa e é membro da Comissão de Liberdade Religiosa. Edição Dom Quixote.

 

DIXIT - “Todos os partidos, sem excepção, deram um precioso contributo para o crescimento do Chega. No governo, os socialistas trouxeram causas para o Chega. Nos hospitais, nas escolas, nas fronteiras, nos transportes públicos, os democratas estão a alimentar o Chega à mão” - António Barreto.

 

BACK TO BASICS - "Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma razão." -  Eça de Queirós

 

 

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NA VERDADE, QUEM VÊ TV E COMO?

por falcao, em 09.02.24

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A TV QUE TEMOS - Na semana do arranque dos debates eleitorais proponho um passeio pelo país televisivo, com base nesta pergunta: como são vistos os vários canais nas diversas zonas do país? Em média, a norte, é a TVI a liderar, enquanto no centro e na região de Lisboa lidera a SIC, embora a TVI seja  frequentemente líder na zona da grande Lisboa. A sul a RTP1 lidera quase sempre. Sugiro agora outra pergunta: como se comporta o conjunto dos canais generalistas nas mesmas zonas? - a resposta vai permitir-nos perceber o peso conjunto dos canais de cabo e das plataformas de streaming nessas regiões. Em semanas recentes, na região norte, a RTP1, SIC e TVI, em conjunto, foram vistas por 44,6% dos espectadores;  na região Centro por 46,7% , na região de Lisboa surge o resultado mais baixo, com 34,5%, e na região sul alcançaram 44,3%. Estes números não são estáticos, os valores aqui indicados referem-se a uma recente semana de janeiro. Mas, por exemplo, na semana passada, em termos nacionais, o conjunto de canais de cabo e das plataformas de streaming alcançou um total de 58,2%, deixando apenas 41,8% para os canais generalistas. Isto dá uma ideia da evolução do consumo de televisão e da quebra progressiva dos generalistas (RTP1 e RTP2, SIC e TVI). Vamos agora ver a posição relativa dos canais, os generalistas e alguns do cabo, no mês de janeiro. A SIC liderou com 15% de share médio, a TVI ficou em segundo com 14,7%, a RTP1 com 11,5% e a RTP2 com 0,8%; no cabo liderou a CMTV com 5,7%, seguida da CNN com 2,2%, a Fox com 2,1%, Hollywood com 2% e SIC Notícias com 1,9%. Já agora a RTP3, que além do cabo é transmitida em TDT, obteve apenas 1,1%. A realidade dos números é bem diferente da percepção que algumas pessoas têm.

 

SEMANADA - O presidente do Sindicato Nacional da Polícia admitiu a possibilidade de as forças de segurança realizarem um boicote à realização das legislativas;  seis das nove ilhas dos Açores trocaram de partido vencedor face às eleições de 2020, dando a vitória da AD sobre o PS; na campanha para as legislativas, para além de entrevistas a líderes partidários, estão previstos três dezenas de debates em estações de televisão além de alguns outros em estações de rádio;  o primeiro debate, entre Rui Rocha e Pedro Nuno Santos, na SIC Notícias, foi visto por cerca de 210 mil pessoas, mais do dobro da audiência habitual da estação nesse horario; as eleições legislativas vão levar os partidos políticos a gastar 8,2 milhões de euros na campanha e dois terços dessa verba serão gastos por PS e PSD; uma sondagem recente indica que 64% dos eleitores do PSD rejeitam um acordo com o Chega; mais de um terço do movimento global da economia portuguesa já vem das pessoas com mais de 60 anos e há indicadores de que em breve esse valor ultrapassará os 50%; nalgumas áreas da economia mais de 40% dos trabalhadores são estrangeiros; segundo a Autoridade da Concorrência na última década 40 empresas já confessaram a sua participação em cartéis, acordos proibidos com outras sociedades com o objectivo de manipular os preços; segundo o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge entre 18 de dezembro e 21 de janeiro registaram-se 3290 mortes além do esperado; quase 250 menores entre os 12 e os 16 anos foram obrigados pelos tribunais a cumprir medidas de acompanhamento ou internamento e 30% dos crimes graves ocorreram dentro da escola.

 

O ARCO DA VELHA -  Desde 2010 foram registados em média 174 casos de ofensas sexuais em escolas por ano, ou seja um caso por cada dia de aulas do ano lectivo.

 

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MEMÓRIAS LISBOETAS - Luis Pavão, um dos mais relevantes fotógrafos portugueses e porventura o que melhor viu Lisboa, dedicou-se, nas últimas décadas do século passado, desde finais dos anos 70 até ao início dos anos 2000,  a recolher ensaios fotográficos, documentais, sobre locais e tradições, alguns em extinção,  num trabalho persistente e único nesta cidade. Além de fotógrafo, Luis Pavão tem mantido uma actividade de referência na conservação e restauro do património de imagem depositado no Arquivo Fotográfico Municipal, situado na Rua da Palma. Agora e em nome próprio,  Luis Pavão apresenta “Lisboa Frágil”, que ficará no Pavilhão Preto do Museu de Lisboa - Palácio Pimenta (Campo Grande) até 31 de Março. A exposição, que inclui cerca de uma centena de imagens, integra sete núcleos. O primeiro, “Tabernas de Lisboa” (na imagem) é de 1981 e recupera um trabalho na época editado em livro. “Lisboa à Noite” é de 1983 e “Lisboa Tal Como a Vimos” é de 1985.”Bailes e colectividades” é de 1988, “Ensaios das Marchas” é de 1992, “Na Pista do Fado” é de 1993 e “Vésperas do Terceiro Milénio” é de 2000. Todos estes núcleos integram provas originais de época e outras actuais, e são mostradas em diversas vitrinas elementos informativos adicionais, bibliográficos, recortes de imprensa  e outros que ajudam a ter uma leitura mais pormenorizada do trabalho de Luís Pavão. “Neste estudo da cidade o fotógrafo mostra-nos lugares que oscilam entre o passado e o presente, testemunhos que nos ajudam a compreender a Lisboa que vivemos hoje. Uma cidade entre o pós-Expo e o pós-pandemia, onde a perda de identidade chegou de mãos dadas com a gentrificação” - sublinha a curadora Luisa Covarsi.

 

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ROTEIRO DAS BOAS VISTAS - “Não Ria. O Humor É Um Assunto Muito Sério: 100 anos de Sam” é a exposição organizada pelo Museu Bordalo Pinheiro, no Campo Grande, para assinalar o centenário do nascimento do cartoonista que fica em exibição até 19 de Maio; até 28 de Abril, no Museu Soares dos Reis, Porto, obras de Teresa Gonçalves Lobo em diálogo com obras de Domingos Sequeira; na Galeria Bruno Múrias (Rua Capitão Leitão 16), a exposição “One Second Plan” apresenta pinturas de Teresa Murtas; na galeria Nuno Centeno (Rua da Alegria 598, Porto ) Maria Capelo apresenta a até 24 de Fevereiro a série de pinturas intitulada “Maio neste Inverno” (na imagem); na Fonseca Macedo-Arte Contemporânea (Rua Guilherme Poças Falcão 23, Ponta Delgada), Beatriz Brum apresenta até 16 de Março  um conjunto de desenhos sob o título “Luz-Própria, Tudo O Que Existe” ; até 8 de Março a Galeria da Casa A. Molder apresenta “Waiting Around To Die”, de Henrique Pavão; na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18B), Isa Toledo apresenta “Casa Commedia” até 8 de Março, um conjunto de peças com materiais diversos, cada uma assinalada de forma especial pela artista; e finalmente a Galeria 111 celebra os seus 60 anos de actividade com uma dupla exposição: no Centro de Arte Manuel de Brito (Campo Grande 113), até 3 de Agosto, podem ser vistas cerca de 120 obras do seu acervo, representativa de artistas que lá expuseram; e na Galeria 111 (Rua Dr. João Soares 5B), está até 13 de Abril uma mostra de desenhos de Lourdes Castro e Paula Rego.

 

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UM CATÁLOGO EXEMPLAR - Até 28 de Maio, na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian pode ser vista a exposição “As Mulheres de Maria Lamas” que, com curadoria de Jorge Calado, apresenta uma seleção de 67 das suas fotografias, maioritariamente provas vintage (da época), de pequenas dimensões, entre 8 x 6 cm e 14 x 18 cm, mas também algumas ampliações. Além destas, estão expostas provas da época de outros fotógrafos incluídas na obra “Mulheres do Meu País”, um livro de referência na fotografia portuguesa, há muito fora do mercado. Por ocasião desta exposição a Fundação Gulbenkian editou um catálogo que é ele próprio uma obra de referência, não só sobre a obra de Maria Lamas, mas também sobre a fotografia em Portugal, com textos de Jorge Calado, Alexandre Pomar, Raquel Henriques da Silva e Alice Vieira. Há dois textos que merecem particular destaque - um deles é  “Pistas Para Um Mapa - Fotógrafos e fotografias nos meados do século XX”, de Alexandre Pomar, um valioso contributo para entendermos a história da fotografia portuguesa na segunda metade do século XX; e outro é “A Tripla Missão de Maria Lamas-Para uma análise da sua obra fotográfica”, de Jorge Calado, um belíssimo ensaio sobre a obra de Maria Lamas. Raquel Henriques da Silva escreve sobre “Além da fotografia - A Obra Artística em As Mulheres do Meu País” e “Alice Vieira” fala da sua relação próxima, pessoal e familiar com Maria Lamas em “A Minha Prima Maria”. Jorge Calado assina também um outro texto “Inteligentemente Mulher”, que traça o percurso de vida e trabalho de Maria Lamas, situando-o no seu tempo. O catálogo inclui ainda as fotografias apresentadas na exposição, com informação sobre cada uma delas, assim como diversas ilustrações de época e reproduções de páginas da edição original do livro.

 

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RITMOS ARREBATADORES - Club Makumba é um quarteto composto pelo  guitarrista Tó Trips, o baterista João Doce, o contrabaixista Gonçalo Leonardo e o saxofonista Gonçalo Prazeres. São todos eles músicos notáveis e, em conjunto, conseguem uma harmonia rara. Se me permitem, no caso de Tó Trips ele está naquele grupo muito restrito de talentos musicais que se destacam por uma sonoridade própria que é seu som de marca e que o distingue de todos os outros guitarristas, marca que vem do tempo dos Lulu Blind nos anos 90 e, mais tarde, dos Dead Combo. Regresso ao Club Makumba, que lançou agora o seu segundo disco, “Sulitânia Beat”, mais uma explosão de ritmos, banda sonora capaz de alegrar qualquer dia. “Sulitânia Beat” traz 13 canções que desfilam ao longo de 45 minutos com algumas novidades - nomeadamente maior e merecido protagonismo ao saxofone de Gonçalo Prazeres, aliás audível logo no primeiro tema, “Janaina Calling”. Este é um disco que evoca sons de outros continentes, passeando-se livremente nas águas do mediterrânio e no calor do norte de África, como se constata em “Baía das Negras” e “Black Berbere”. Os sons tropicais são evocados em “Samba Catano”, o fascínio do oriente é trazido por “Golden Shangai” , os ritmos trepidantes em “Maragato” ou “Joça”, onde mais uma vez o saxofone ganha asas ou nos ares do deserto que encerram o disco em “Quibir”. Um grande disco, do melhor que a música portuguesa tem para mostrar actualmente. Disponível nas plataformas de streaming.

 

DIXIT - “A democracia portuguesa comemora os 50 anos do 25 de Abril, os 50 anos das eleições livres e os 50 anos da Constituição numa desordem institucional jamais vista. Festejam-se com quatro eleições, três dissoluções de parlamentos e assembleias legislativas, três governos demitidos” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “A questão não é o que queremos saber sobre as pessoas, é sim o que é que as pessoas estão dispostas a revelar sobre si próprias” - Mark Zuckerberg, que fundou o Facebook há 20 anos






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O ESTADO DAS SONDAGENS - A pouco mais de um mês das eleições legislativas recomendo a consulta regular de uma compilação de dados, feita pela Marktest, sob o título “Dossier Sondagens Eleitorais para as Legislativas” (https://www.marktest.com/wap/a/p/id~112.aspx) e que é actualizado regularmente desde 2009. O estudo já integra 553 sondagens, realizadas por 11 empresas (Aximage, CESOP-Universidade Católica, Consulmark2, Euroexpansão, Eurosondagem, ICS/ISCTE, Intercampus, Marktest, Metris, Multidados e Pitagórica). O referido dossier apresenta intenções de voto para os partidos analisados em cada sondagem, com a integração dos novos partidos e coligações que foram surgindo ao longo do tempo. Considerando os resultados das sondagens dos últimos 12 meses observa-se que é numa sondagem da CESOP-Universidade Católica, realizada em junho passado,  que o PSD regista a intenção de voto mais elevada com 35.1%, deixando o PS em segundo lugar com 32.1% e o Chega em terceiro, com 7.8%. Na última sondagem de 2023 (23 de dezembro, da Pitagórica), o PS alcançou uma intenção de voto de 34.1% deixando o PSD em segundo com 24.8%, seguido do Chega com 16.3%, o Bloco de esquerda com 6.3%, o Iniciativa Liberal com 4.1%, o PAN com 3.7%, o PCP-PEV com 2.7%, o Livre com 1.8% e o CDS-PP com 1.2% . Mas na primeira sondagem de 2024 (17 de janeiro, da Consulmark2), surge pela primeira vez a coligação AD, com 28.1%, ficando o PS em segundo na intenção de voto com 26.7%. Segue-se o Chega com 17.5%, o Bloco de Esquerda com 7.2%, o Iniciativa Liberal com 6.3%, o PCP-PEV com 3.3%, o Livre com 2.1% e o PAN com 1.2%. Quase um mês depois, na segunda sondagem do ano (da Intercampus, publicada a 23 de janeiro), a AD encontra-se em segundo lugar, com 24.3%, ficando o PS em primeiro com 30.9%. O Chega mantém-se como a terceira força política em termos de intenção de voto, com 19.4%, seguido do Bloco de Esquerda com 8.7% e do Iniciativa Liberal com 6.3%. O PCP-PEV registou 4.6%, o PAN 2.6% e o Livre 1.5%. Ainda está tudo muito confuso, a ver vamos como as coisas evoluem até 10 de Março.

 

SEMANADA - Em 2023 foram importados 106 mil carros usados e 44% deles tinham entre seis e dez anos de uso; no ano passado fecharam 16 lojas emblemáticas de Lisboa, o número mais alto dos últimos anos; as autodeclarações de doença, as chamadas “autobaixas” atingiram números mais altos nas semanas dos feriados de junho, agosto, Natal e fim de ano; todos os dias faltam em média 11 mil professores nas escolas portuguesas, o que dá um total de dois milhões de faltas por ano; o número de desempregados inscritos nos centros de emprego sobe há seis meses e já supera os 317 mil; segundo a associação  empresarial Business Roundtable de Portugal em duas décadas fomos ultrapassados no PIB per capita por todos os países de Leste e no plano dos salários, somos o antepenúltimo, apenas com Grécia e Hungria atrás de nós; em matéria de lentidão da justiça administrativa estamos no fundo da tabela e em média, precisamos de mais de dois anos para resolver um processo; Portugal desceu uma posição no Índice de Perceção da Corrupção (CPI) 2023, da organização Transparência Internacional e numa lista em que a Dinamarca e a Finlândia são os países com melhor classificação, Portugal fica atrás de outros países como a França, a Áustria, o Chile, Cabo Verde e Lituânia; o número de notas falsas de euro apreendidas em Portugal no ano passado aumentou 55% para um total de 16723; os partidos vão ter direito a uma subvenção estatal superior a 8 milhões de euros para as próximas legislativas.



O ARCO DA VELHA - Depois de um organismo do Ministério da Cultura ter autorizado em Novembro a venda no estrangeiro, por um particular, da obra “Descida da Cruz”, de Domingos Sequeira, o Governo anunciou agora que a pretende comprar. A obra está à venda numa galeria de Madrid por 1,2 milhões de euros.

 

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170 FOTOGRAFIAS -  Na Cordoaria Nacional estão desde a semana passada 170 fotografias de Eduardo Gageiro, feitas ao longo da sua longa carreira de repórter fotográfico, desde a década de 50 até agora. É uma exposição que mostra o seu olhar de repórter sobre Portugal e os portugueses, acompanhando o desenrolar da História ao longo destas décadas. Na exposição estão imagens feitas durante o antigo regime, mas também momentos decisivos do dia 25 de Abril de 1974 e os acontecimentos mais marcantes deste último meio século. Mas estão também dezenas de retratos de pessoas como a fadista Amália Rodrigues,  o escritor Luiz Pacheco, o pianista Artur Rubinstein, e diversas figuras da política portuguesa. O mundo do trabalho, na construção, nas fábricas ou na agricultura está também presente. E estão também vitrines com algumas das máquinas que usou, recortes de imprensa e memorabilia diversa. Trata-se da maior exposição realizada em Portugal da obra de Eduardo Gageiro,  demorou cerca de um ano a preparar e apresenta impressões novas, feitas a partir da digitalização dos negativos originais por André Cepeda, sempre em diálogo com Gageiro e com a equipa das Galerias Municipais, Sara Matos e Pedro Faro, que acompanharam todo o processo e também com a colaboração Sérgio B. Gomes. O nome da exposição, “Factum” , evoca precisamente o registo da memória do que aconteceu, o olhar sobre os momentos. A exposição está no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional até 5 de Maio e tem entrada gratuita.

 

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CINCO FOTOGRAFIAS - Quis o acaso que na mesma altura em que abriu a exposição de Eduardo Gageiro, surgisse uma outra forma de ver e trabalhar a fotografia, na exposição “Double Jeu”, de André Cepeda, que está exposta na Galeria Cristina Guerra até 9 de Março.  A exposição conta com 5 obras inéditas que são apresentadas em grande formato, de 2,40m por 3, com provas únicas, e também tiragens de dois exemplares das mesmas imagens, de 1,20mx1,50. Há  ainda uma instalação criada por Carrilho Da Graça e André Cepeda, que incorpora uma maquete imaginada pelo arquitecto, na qual estão as fotografias apresentadas na galeria, suspensa sobre uma outra fotografia de Cepeda que proporciona um suporte cenográfico à instalação. Nascido em 1976, André Cepeda é um dos mais interessantes fotógrafos da sua geração. Integrou a representação oficial portuguesa na Bienal de Veneza de 2018, tem exposto em Portugal e no estrangeiro e a sua obra faz parte de diversas colecções privadas e públicas. Nesta nova série, “Double Jeu”, com curadoria de Joerg Bader, Cepeda explora a dupla representação tanto pela sua forma como pelo seu conteúdo, convidando o espectador a fazer parte do espaço. Cada fotografia mostra duas realidades, por vezes similares, que se confrontam e complementam dentro de cada uma das imagens. André Cepeda utiliza a fotografia como suporte do que imaginou e procura mostrar em cada imagem uma reflexão pessoal, para além do registo da realidade. Os originais foram feitos em película de grande formato e os preços de venda situam-se entre os 10.600 euros das tiragens mais pequenas e os 20.000 euros das maiores. A Galeria Cristina Guerra Contemporary Art fica na Rua de Santo António à Estrela 33.

 

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DESAFIO - Mathieu Bordenave é um saxofonista francês que tem gravado para a ECM, normalmente em trio, com o pianista Florian Weber e o baixista Patrice Moret. Para o seu novo disco, gravado em Outubro passado e agora editado, também pela ECM, “The Blue Land”, chamou o baterista James Maddren. A elegância da forma de tocar de Maddren acrescentou um toque de subtileza ao trabalho do trio, que já se pautava por uma harmonia feita de contenção e pequenas explosões, desafio normalmente assumido pelo saxofone de Bordenave, por vezes com o piano de Weber. É isso que acontece aliás logo na primeira faixa do disco, que, chamando-se “La Porte Entrouverte” funciona de facto como uma antecâmara sonora para tudo o que vem a seguir. E é logo na faixa  que dá o título ao álbum, “The Blue Land”, que se começa a perceber a importância de se ter acrescentado a bateria de Maddren. Dos nove temas que compõem o disco, oito são da autoria de Bordenave e um é a versão de um tema de John Coltrane, “Compassion. E é precisamente em “Compassion” que os quatro músicos dão um exemplo de diálogo perfeito, sem procurar virtuosismos gratuitos, tomando reciprocamente espaço e protagonismo numa perfeita harmonia que se desenvolve pelas outras faixas deste álbum. É um disco feito de subtilezas, de ambientes que vão mudando, evitando a repetição, mas mantendo um fio condutor comum. São privilegiados os diálogos entre o saxofone e o piano mas há também espaço, como em “Three Four”, para que baixo e bateria ocupem o centro das atenções. “Three Peaks”, o tema que encerra o disco, é uma espécie de resumo da matéria dada e um olhar para o que pode vir. “The Blue Land” está disponível nas plataformas de streaming.

 

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OUTRO DYLAN - A coleção “Miniatura”, dos Livros do Brasil, apresenta pela primeira vez em Portugal uma série de contos de Dylan Thomas, originalmente publicados entre 1934 e 1952. Mais conhecido pela sua poesia do que pela prosa, Dylan Thomas encontrava no entanto especial prazer na escrita destes pequenos contos onde se cruzam bruxas, pêssegos, cachorros, quotidianos soltos entre a mitologia e o humor. Nalguns é possível localizar quase uma escrita jornalística, actividade que aliás Dylan Thomas exerceu. São descrições de episódios que saltitam entre pedaços de vidas que ele observa e descreve com elegância,  são histórias de amor ou de miséria, divertidas ou desoladoras, todas elas plenas de imagens reveladoras da sua ternura pelos seres que as habitam.“O Fim do Rio”, “A Escola das Bruxas”, “Os Pêssegos”, “Tal e Qual Cachorros”, “A Velha Garbo”, “Um Sábado de Calor”, “Móveis com Fartura” e “Os Seguidores” são apresentados nesta edição que recolhe as suas mais célebres narrativas curtas, com tradução de José Lima sob o título “Oito Contos”. A partir de 1934 Dylan  lançou vários livros de poesia, que culminaram na publicação dos seus “Collected Poems” em 1952. Ao longo da vida foi também escrevendo contos, sendo o seu livro mais célebre o autobiográfico “Retrato do Artista quando Jovem Cão”. Nascido no País de Gales, morreu precocemente em 1953, pouco depois de completar 39 anos.

 

DIXIT - “As duas forças políticas centrais- PS e PSD -deixaram de somar a maioria inquestionável do eleitorado” - Teresa de Sousa


BACK TO BASICS - “Nunca se alimenta um crocodilo na esperança vã de sermos os últimos a ser devorados por ele.” - Winston Churchill.







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Ao longo das últimas semanas a situação de crise nos mídia foi repetidamente notícia, devido às dificuldades sentidas por várias empresas, nomeadamente no sector da imprensa, e, também, da rádio. Para lá dos problemas de gestão recentes da Global Media, que são a face mais visível do problema, há outros indicadores. A internet veio alterar drasticamente o modelo de negócio do sector e, sobretudo, veio modificar de forma radical a forma de consumir informação. O jornal impresso tornou-se um objecto quase exótico, substituído pelos ecrãs dos smartphones, tablets ou computadores. Ninguém espera saber de manhã o que se passou na véspera - televisões, sites e redes sociais espalham em cima da hora o que aconteceu. O intervalo de tempo entre o facto e a sua percepção pelo público é cada vez mais pequeno. A guerra, os grandes desastres, as crises políticas, as investigações judiciais passaram a ser transmitidas em directo. Se isto melhorou a qualidade da informação ou não é outra conversa e, muitas vezes, constata-se que piorou, já que a falta de mediação - papel que os jornalistas devem desempenhar - desapareceu e o facto em bruto passou a ser a matéria prima da notícia.

Começo por falar do universo da televisão. Cerca de 84 % da população contacta diariamente com a televisão e em média os espectadores estão seis horas e meia por dia a olhar para o pequeno ecrã. Mas fazem-no de forma bastante diferente do que acontecia há uns anos. Há cerca de 20 anos os canais generalistas (RTP1 e 2, SIC e TVI) captavam a atenção de mais de 60% dos espectadores e a SIC, líder de mercado, tinha um share diário frequentemente na casa dos 25%. Hoje em dia tudo é diferente: em 2023 os canais generalistas foram vistos por 41% dos espectadores e o conjunto dos canais de cabo e das plataformas de streaming conseguiram 59%. E o resultado obtido por cada canal também é bem diferente. Vamos a comparações recentes: em 2022 a RTP1 tinha um share médio de 10,8% e em 2023 obteve 11,1%; a RTP2 em 22 teve 0,8% e em 23 subiu para 0,9%; a SIC em 22 alcançou 16,7% e em 23 ficou nos 14,9%; e a TVI que em 23 tinha tido 15,7% desceu para 14,4%. No cabo as coisas também mudaram. O CMTV subiu de 4,8% para 5,4%, a CNN que em 22 teve 3,1% desceu para 3% em 23, a SIC Notícias passou de 2,3 para 2,1% no mesmo período e a RTP3 também desceu de 1,3 para 1,1%. Mas a FOX  subiu de 1,9% em 22 para 2,1% em 23. Além disso, a generalidade dos subscritores de Pay TV têm à sua disposição uma centena de canais de filmes, séries, documentários, música e notícias. O resultado é que a atenção dos espectadores está cada vez mais fragmentada e a televisão deixou de ser aquele meio de comunicação que garantia uma cobertura larga da audiência com uma campanha em um ou dois dos canais principais. E isto leva-nos às alterações verificadas no investimento publicitário feito pelos anunciantes. Até há muito pouco tempo as estações de televisão generalistas captavam mais de 50% do total do investimento. Em 2023 captaram cerca de 35% enquanto o conjunto dos canais de cabo andou nos 13%. Juntos, generalistas e cabo, já não captam 50% do investimento dos anunciantes. Quem sobe então? O outdoor nas suas várias variáveis que já se aproxima dos 15%, o digital que continua a subir e já passa os 30%. A rádio desceu ligeiramente o seu share de mercado em 2023, os jornais caíram, mas as revistas, pela primeira vez em vários anos, registaram um ligeiro aumento. Em conjunto jornais e revistas, que no início do século estavam no segundo lugar da captação de investimento, agora têm 1,8% do mercado publicitário total, tendo atrás de si apenas a publicidade em salas de cinema. A razão da subida do outdoor e do digital tem a ver com a sua eficácia, por razões diferentes. O outdoor porque consegue uma cobertura larga, tocando de forma abrangente  quem anda nas ruas, e o digital porque permite alcançar de forma precisa públicos específicos.  Bastaram duas décadas para virar o universo dos mídia de pernas para o ar. E o resultado está agora à vista.

 

(Publicado no semanário NOVO de 27 de Janeiro)



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TV POLÍTICA - A campanha eleitoral oficial ainda não começou e já tivemos três fins de semana de comícios, maquilhados de Congressos e Convenções convenientemente agendados para captar tempo de antena. Primeiro foi o PS, depois veio o Chega e por fim a AD, já para não falar de iniciativas menores de outros partidos parlamentares - desde os queixumes à la Calimero de Rui Tavares sobre a falta de atenção que lhe é dada, até aos malabarismos oratórios de outro Rui, o Rocha,  da nova IL. A seguir, já no período de campanha,  vamos ter cerca de três dezenas e meia de debates em vários canais de televisão. E, claro, teremos todos os dias comentadores, analistas, oráculos de raças diversas que farão a análise de tudo o que se passou, nos mesmos canais, repetindo-se em círculo vicioso como se analisassem um jogo de futebol. É um país a falar para o umbigo, fechado no universo da política, cada vez mais distante das pessoas. Por curiosidade andei a seguir como tinha sido o comportamento das audiências das televisões nos canais de cabo que maior acompanhamento fizeram das reuniões do PS, Chega e AD, muitas vezes com transmissões quase integrais desses eventos. Olhando para os números verifica-se que nenhum deles conseguiu audiências significativas e, nalguns casos, até ficaram abaixo dos resultados da programação habitual que tinham nos mesmos horários em fins de semana anteriores. Num panorama de  queda progressiva de audiências dos canais generalistas (SIC, TVI e RTP1) será curioso ver como esta avalanche de debates e comentários impacta , ou não, nos valores da abstenção e na evolução das tendências de voto. Já agora, o programa de televisão mais visto da semana passada foi “O Preço Certo”, de Fernando Mendes. 

 

SEMANADA - Em 2023 passaram pelo terminal de cruzeiros de Lisboa 758.328 passageiros, mais 54% do que no ano anterior; o cabaz de alimentos estudado pela DECO sofreu um aumento de 28% em dois anos, superando em 16 pontos a soma dos aumentos das taxas de inflação no mesmo período; o número de casos de doenças sexualmente transmissíveis está acima dos valores pré pandemia, nomeadamente a sífilis que aumentou 125% em três anos; no ano passado foram concedidos mais de dois mil milhões de euros de empréstimos para compras de carros usados, o maior valor de sempre; a produção intensiva de fruta e hortícolas em Alcácer do Sal já ocupa três mil hectares e usa água de 130 furos, ameaçando os recursos hídricos da região; a venda de casas caíu 17% em 2023; em doze meses de liderança de Rui Rocha a Iniciativa Liberal perdeu mais de 40 membros por divergências ideológicas, acusações de nepotismo e de falta de democracia; só 0,7% dos alunos do 5º ano sabem identificar um mapa da Península Ibérica; a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica perdeu 122 mil alunos no espaço de uma década; o número de desempregados subiu em Dezembro para 317.659 pessoas; no ano passado a Ordem dos Enfermeiros recebeu 1689 pedidos para emigrar, mais 527 do que no ano anterior, um aumento de 45%; ao longo de 2023 inscreveram-se nos centros de emprego 562 mil pessoas, num aumento de 10% em relação ao ano anterior.

 

O ARCO DA VELHA - Nas eleições de há 50 anos houve 500 mil abstenções, há 20 anos um pouco mais de três milhões e, há dois anos, perto de cinco milhões e meio.

 

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A DERROTA DOS FRANCESES - Vale sempre a pena recordar a História, neste caso as invasões francesas. E aqui está um livro mesmo bom para ler nestes tempos em que assistimos a uma nova, e por vezes desagradável, invasão francesa em algumas das nossas cidades. "Mapa Cor de Sangue", do jornalista Rui Cardoso, é uma obra sobre as lutas e tragédias vividas em Portugal no tempo das Invasões Francesas e mostra o retrato sangrento de uma época. O livro faz uma pormenorizada descrição da forma como decorreram, do ponto de vista militar, as três invasões e ajuda a compreender os movimentos das tropas em confronto. Rui Cardoso, que já anteriormente escrevera sobre as invasões francesas, salienta que “massacres como os ocorridos em Leiria, Évora e tantos outros locais estão perfeitamente documentados e não podem ser esquecidos. Pelos critérios de hoje seriam considerados genocidas e violadores dos mais elementares direitos humanos”.  Os invasores franceses fizeram reféns, executaram sumariamente guerrilheiros , saquearam localidades e cometeram horrores por onde passaram. A coisa não ficou, felizmente, sem resposta, mesmo sabendo que quem ousou rebelar-se contra os franceses seria punido. Os habitantes de Vila Viçosa, Rio Maior, Alpedrinha e Régua são brutalmente castigados pelos soldados de Napoleão, mas nada se compara aos massacres cometidos pelos franceses em Leiria e Beja. Em São João da Madeira, a retaliação pela morte de um oficial francês leva à execução de um em cada cinco homens e rapazes da Arrifana. Há duzentos anos por três vezes os generais de Napoleão invadiram Portugal e por três vezes os franceses foram derrotados pelos portugueses, com o auxílio dos nossos aliados ingleses. Às vezes é bom recordar como resistimos e vencemos os invasores. “Mapa Cor de Sangue”, de Rui Cardoso, edição Oficina do Livro.

 

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OUTRO FADO - O Estado, esse polvo sufocante, tem falta de memória e esqueceu-se das comemorações dos 500 anos do nascimento de Camões. Mas a fadista Lina (Lina Cardoso Rodrigues) é um dos expoentes da nova geração desse género musical e não se esqueceu e revisitou a lírica camoniana, com recurso a composições tradicionais do Fado. Na tarefa foi ajudada por Amélia Muge e sem pruridos recorreu aos talentos de Justin Adams, um produtor que já trabalhou com Brian Eno e vários nomes da World Music. A seu lado, musicalmente, estiveram Pedro Viana (guitarra portuguesa), John Baggott (teclas) e Ianina Khmelik (violino). Ou seja, Lina ousou a heresia de navegar fora de águas conhecidas e lançou-se à aventura, tal como Camões. E foi muito bem sucedida no cruzamento da lírica camoniana com a estrutura dos fados tradicionais. Para “Fado Camões”, o seu quarto disco, Lina e Amélia Muge escolheram, entre as melodias tradicionais, as que mais se coadunam aos temas dos poemas. O início faz-se com “Desamor”  e logo aí se percebe que estamos num patamar pouco habitual - do ponto de vista musical mas também vocal. São 12 poemas de Camões onde a guitarra coexiste com teclados, caixas de ritmo, guitarra eléctrica ou violino até ao final com “Pois Meus Olhos Não Cansam de Chorar”. Lina, que cantou no Círculo Portuense de Ópera e estudou canto no Conservatório do Porto,  estreou-se como compositora neste álbum e musicou dois dos poemas. Canta com uma voz limpa e intensa, emotiva sem ser piegas. Um grande disco, disponível em streaming.

 

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O FASCÍNIO DO ORIENTE -  Albano da Silva Pereira foi o criador dos Encontros de Fotografia de Coimbra, é ele próprio um fotógrafo reconhecido, um eterno viajante e um coleccionador compulsivo. “Netsuke”, é  exposição que preparava há anos e que está agora patente no Pavilhão Branco, das Galerias Municipais de Lisboa, com curadoria de Sara Antónia Matos, até 31 de Março. É a exposição de uma vida, que junta a obra fotográfica de Albano da Silva Pereira, as suas incursões no cinema (foi assistente de Manoel de Oliveira) e a sua colecção de objetos e talismãs provenientes da cultura japonesa. Inclui também uma alusão às referências principais do cinema japonês, da escrita e da estampa japonesa. O nome da exposição, netsuke,  evoca uma pequena cavilha entalhada ou esculpida, criada no Japão no século XVII, para prender pequenas bolsas aos quimonos. A construção da exposição baseia-se em dois eixos, que se cruzam entre si: o coleccionador e o artista. Do primeiro resulta a colecção de objectos, raros e preciosos da cultura japonesa e do segundo provém um conjunto de imagens em fotografia e filme que decorrem das viagens do autor ao Japão. As fotografias incluem imagens das ruas de Kyoto, Tóquio ou Hiroshima, mas também de objectos e uma série feita no tradicional Imperial Hotel. A exposição começa e encerra com  auto-retratos do artista, feitos na sequência de um acidente de moto, série a que deu o nome “Still Alive”. Outro destaque vai para  a exposição “Uncertain Smile - Auto Retratos e Paisagem”, que recolhe pintura e desenho de Miguel Navas, que pode ser vista até 17 de Fevereiro na Galeria Monumental (Campo dos Mártires da Pátria 101). Além de cerca de uma dezena de pinturas que nos fazem percorrer o universo que Navas vai descobrindo, há uma parede repleta de desenhos, todos eles auto-retratos, que por vezes surpreendem e por vezes inquietam.

 

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UM EXEMPLO - Maria da Graça Dias Coelho Carmona e Costa, que desapareceu esta semana aos 91 anos, é um raro exemplo do que pode ser a actuação empenhada da sociedade civil em prol da cultura. Fundadora e Presidente da Fundação Victor e Graça Carmona e Costa, foi, apesar das limitações da Lei do Mecenato, uma mecenas activa e conhecedora que gostava de falar e estar com os artistas, que apoiou exposições, projectos, patrocinou catálogos e livros. Foi galerista, coleccionadora, amiga. O desenho era a sua paixão, mas foi sempre observadora informada e atenta da produção artística contemporânea nos seus vários géneros. Ajudou o início de carreiras, seguia de forma muito presente a produção dos artistas que acompanhou ao longo da vida, desde a Galeria Quadrum, onde trabalhou com Dulce d’Agro, depois na Giefarte, que criou, e mais tarde na Fundação e nas exposições que patrocinava em diversos locais. Ainda viu a sua coleção exposta, nomeadamente na Fundação a que presidia e no  MAAT, onde continua o seu “Álbum de Família “. Criou o BAC, Banco de Arte Contemporânea , que inicialmente financiou e que continua sem ter local condigno onde o espólio dos artistas possa ser preservado, estudado e mostrado em boas condições, como ela desejava. Infelizmente não o conseguiu ver a funcionar em pleno,  apesar de todo o esforço que fez. O sorriso da Maria da Graça a entrar numa nova exposição era único. É disso que me vou recordar.


DIXIT - “E tudo poderia ser tão diferente! Poderíamos ter, neste 10 de Março, uma verdadeira revolução dentro da democracia! Poderíamos ter 230 círculos eleitorais, cada um elegendo, por maioria absoluta, um só deputado. Este seria alguém já conhecido pela comunidade, ou que passaria a sê-lo depois da campanha e da eleição” - António Barreto, no Público.

 

BACK TO BASICS- “Toda a verdade passa por três fases: primeiro é apelidada de ridícula, depois é hostilizada e por fim é considerada uma evidência” - Arthur Schopenhauer



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