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CULTURA – Têm razão aqueles que dizem que uma boa definição, de cada partido, em relação às questões de política cultural, seria uma boa forma de ajudar muita gente a definir o seu voto. Considerada sempre como uma área menor onde não vale a pena investir nem tempo, nem dinheiro, a área das indústrias culturais e criativas é hoje encarada não só como relevante do ponto de vista económico, como importante para ajudar a decidir uma opção eleitoral. Se há coisa que, nalguns momentos, o actual Governo fez bem, foi, pela mão de Manuel Pinho, conseguir encontrar pontos de ligação entre o turismo e a cultura e desenvolver programas comuns – numa legislatura onde a Cultura foi genericamente mal tratada essa foi uma experiência a reter para o futuro, aliás quer em termos de Governo, quer em termos de autarquias. À oposição falta dar uma resposta nesta área. 

 


 


FINANÇAS – Teixeira dos Santos não foi uma figura muito simpática, cultivou alguma arrogância contra os contribuintes e, em termos políticos, não foi mais que um zeloso cumpridor de orientações. Enquanto a crise não apareceu lá foi conseguindo iludir as aparências, mas agora a falta de eficácia das suas políticas surgiu por completo. Já é impossível esconder que a despesa pública está a aumentar (pelas más razões), e tornou-se evidente que as medidas tomadas em época de crise não evitaram a brutal quebra de receitas do Estado, provocada pela enorme queda de actividade económica e do consumo. Com a despesa a subir e as receitas a cair Teixeira dos Santos vai fazer um triste fim de mandato, com resultados muito, muito fracos, que marcam o falhanço do PS na gestão das finanças públicas – uma das áreas onde Sócrates mais promessas fazia, recorde-se. 

 


 


LISBOA – Fiquei muito surpreendido por uma entrevista de Manuel Alegre onde ele, liricamente, se congratulava pelo acordo Roseta-Costa em Lisboa, dizendo estar muito satisfeito por ter sido conseguida a união da esquerda na capital. A sua megalomania habitual leva-o a considerar-se, a ele e aos seus apoiantes, como a esquerda que faltava ao PS, obviamente esquecendo que quer o Bloco, quer o PC concorrem contra a lista que ele apoia. Na realidade a lista de Costa é apenas uma lista onde se juntam as várias gerações do PS, o que como se sabe é muito diferente de ser uma lista de esquerda. Vai ser curioso ver o efectivo reflexo eleitoral de Roseta, agora que abdicou da sua independência em relação ao PS e ao resto da esquerda. 

 


 


SOCIALISTAS – Bernard-Henri Lévy deu uma curiosa entrevista sobre o estado do PS francês, mas que se aplica que nem uma luva aos partidos socialistas que por essa Europa fora seguiram a célebre terceira via de Blair, Sócrates incluído. A tese do filósofo francês é simples: o PS já não encarna a esperança, está numa situação semelhante à dos PC’s de finais dos anos 70, meados dos 80. Vai mais longe: a crise dos socialistas começou com o declínio comunista, porque os partidos socialistas sempre se posicionaram e construíram em demarcação aos partidos comunistas: quando estes se começaram a apagar perdeu-se o referencial e o PS desorientou-se e deixou-se infiltrar por ideologias reaccionárias – palavras de Lévy. 

 


 


LISTAS – A procissão das listas partidárias ainda vai no adro e já há muito burburinho – a coisa deve aumentar certamente nas próximas semanas. O principal problema tem a ver com a forma como as listas são constituídas, por jogos de influência e em resultado da relação de forças aparelhísticas dentro de cada partido. O resultado é que em muitos casos as listas são distantes do eleitorado e até dos simpatizantes de cada partido, o que é bem diferente de militantes encartados. Também esta situação contribui para a degradação do sistema político e para o alheamento da participação cívica nos processos eleitorais. Cada vez me convenço mais que devia existir um sistema próximo das primárias americanas, aplicado às legislativas, em que fora do estrito círculo das sedes bafientas dos partidos se pudessem escolher e indicar nomes para cada lista, distrito a distrito. 

 


 


PERGUNTA – O relatório do Tribunal de Contas sobre o negócio da Liscont não deveria levar a que fosse responsabilizado quem prejudicou da forma descrita o erário público? 

 


 


OUVIR – Originária do Mali, Rokia Traoré é uma das novas figuras de destaque no panorama da world music. Acompanhada pela sua guitarra, canta as suas próprias composições, acompanhada por um grupo de excelentes músicos africanos. «Tchamantché», o seu quarto disco, agrupa canções intensas, orgulhosamente africanas, envolventes e ritmadas, de tal maneira que ganhou o prémio de melhor artista na primeira edição dos prémios da revista britânica de world music «Songlines». CD Tama/Universal. 

 


 


LER – Óscar Wilde é um dos mais fascinantes escritores que conheço e, das suas obras,retiram-se algumas das mais iluminadas citações que podem ser utilizadas em várias ocasiões. Loureiro Neves compilou citações de Óscar Wilde e editou-as agora na «Casa das Letras» sob o título «A Sabedoria e o Humor de Oscar Wilde» - 140 deliciosas páginas que se juntam a outras edições de citações da mesma editora. 

 


 


PROVAR – O Castas & Pratos é um bom exemplo de um restaurante simpático, de boa comida e bom serviço, num velho edifício bem recuperado, um dos armazéns da estação de caminho de ferro da Régua. Por baixo fica um wine bar onde há uma boa escolha de vinhos da região a copo e também tapas diversas. No restaurante, numa noite luminosa, a escolha nas entradas foi laminado de presunto bísaro e crepes recheado com brunesa de legumes ; a seguir vieram um medalhão de vitela com risotto de cogumelos e uma espiral de polvo com batata grelhada recheada de grelos. A acompanhar vinhos a copo propostos pelo escanção. Para sobremesa um delicioso pudim de vinho do Porto. O restaurante, no primeiro andar, por cima do wine bar, é confortável, bom serviço e preço decente. Castas & Pratos, Rua José Vasques Osório, Estação da CP Peso da Régua, tel. 254 3232 90, www.castasepratos.com. 

 


 


BACK TO BASICS -   O progresso é a realização de utopias, Oscar Wilde 

 

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publicado às 16:54

IMPOSTOS – Há uns meses recebi a indicação de que o fisco tinha a intenção de me penhorar por uma pequena dívida atrasada; feito o pagamento, julguei que estaria tudo resolvido. Pois esta semana a Directora Financeira da empresa onde trabalho veio dizer-me, com um ar um pouco pesaroso, que tinha recebido uma notificação do fisco para me penhorar o salário por dívidas fiscais que, verifiquei depois, eram daquela verba que já estava paga – fui conferir, o número do processo era o mesmo, a quantia era a mesma, tinha o comprovativo do pagamento, no site das Finanças o Fisco assegura-me que eu não lhe devo nada – mas mesmo assim há alguém na máquina fiscal que me quer penhorar o ordenado por algo que já está pago. Como há-de uma pessoa gostar deste Estado malfeitor ou acreditar na eficiência dos serviços? 

 


 


ROSETA – Helena Roseta decidiu deixar de continuar independente, e voltou a estar numa lista do PS. Já é público que, mais do que questões de princípio, o que Helena Roseta pretendeu garantir foram questões de poder – lugares e posicionamento nas listas, competências eventualmente a assumir. É legítimo verificar que o eventual apoio dela a António Costa não foi desinteressado, movido por um desejo de eventualmente contribuir para o resultado eleitoral, mas apenas para garantir a sua sobrevivência política dando-lhe palco e notoriedade. A notoriedade está conseguida com o segundo lugar da lista – é uma vitória para Roseta e uma considerável derrota para Manuel Salgado, sinal de alguma desagregação entre o núcleo duro de António Costa. É sempre difícil avaliar num cenário de compromissos eleitorais como reagirá o eleitorado que anteriormente votou, na prática, contra os partidos, acreditando então na bondade da ideia da independência que agora se desmorona. Será curioso ver qual a mais valia real que Roseta traz a Costa – até porque quando a campanha começar há-de ser natural que se recorde como a experiência dela enquanto Presidente da Câmara de Cascais foi um enorme falhanço. Na realidade, em matéria autárquica, estes dois anos de Lisboa incluídos, o currículo de Helena Roseta está longe de ser uma mais valia. 

 


 


ASAE – Agora que a inconstitucionalidade da ASAE está cada vez mais a ser posta em causa conviria ver se o mesmo não se passa por exemplo em relação aos poderes atribuídos à EMEL, essa vergonha de Lisboa, da responsabilidade de vários executivos camarários. Além das dúvidas sobre a legalidade de actuação da EMEL, o seu relacionamento com os munícipes e a forma como responde a reclamações é um exemplo de más práticas e de prepotência. Pôr a EMEL na ordem devia ser uma prioridade para quem quer que ganhe as próximas eleições.


 


REPÚBLICA – Continuo sem perceber porque é que as comemorações do centenário da implantação da República são o pretexto para algumas das malfeitorias que se querem fazer em Lisboa, a começar pelo Terreiro do Paço. Por mais que me esforce não vejo porque se quer apressar tudo para celebrar um século de um regime que, em mais de metade do tempo, foi preenchido por ditaduras e autoritarismos diversos, e que, no geral, tem como cartão de visita o agravar da corrupção. 

 


 


LER – Já muita gente falou disto, mas o novo livro de José Eduardo Agualusa merece elogios – na forma, na história e no conteúdo. A proposta é uma aventura passada numa Luanda situada no futuro, num país onde os interesses do Estado se confundem com interesses particulares, no meio de arranha-céus desertificados, com estrelas pop pelo meio e tráficos diversos por pano de fundo. Em conversa, recente, Fernando Sobral dizia-me que o livro tinha pontos que fazia pensar um «Blade Runner» passado em Luanda, e tem razão na analogia. Mas a escrita compassada de Agualusa ultrapassa esse enquadramento e faz um retrato do que é Angola, falando no futuro mas fazendo-nos constantemente pensar no presente. Essa dualidade, entre os tempos da acção e a realidade da nossa percepção, é um dos encantos maiores de um livro que confirma o autor como um dos grandes escritores da língua portuguesa. (Edição Dom Quixote, 342 páginas). 

 


 


VER – Aqui há uns anos, quando dirigi o canal 2: na RTP, cheguei a seguir uma proposta de um documentário sobre o papel precursor dos portugueses na globalização. A proposta era de um historiador inglês e baseava-se em investigações e ensaios universitários, então recentes. Não havia orçamento, a produção não avançou. Não é por isso de estranhar que a ideia da exposição «Encompassing The Globe – Portugal e o Mundo nos séculos XVI e XVII» tenha partido de um norte-americano, Jay Levinson, que criou o conceito da exposição e a concretizou no Smithsonian, em Washington. Desenganem-se pois os que julgam que a exposição foi criada por iniciativa portuguesa – nada disso é verdade; mas é verdade que o facto de investigadores internacionais se preocuparem mais com a nossa história e património que nós próprios é uma prova de que, na realidade, tivemos um papel globalizante em determinada altura da História. Dito isto ainda bem que a exposição veio a Portugal, embora em versão mais reduzida que a original, ficando no Museu Nacional de Arte Antiga até 11 de Outubro. 

 


 


OUVIR – Nestas tardes de Verão, quando se chega a casa, enquanto o sol se põe, proponho que ouçam o novo disco dos Nouvelle Vague, «NV3», o terceiro álbum desta banda de origem francesa que foi buscar o seu nome ao universo do cinema francês dos anos 60. Filmes à parte os Nouvelle Vague têm no seu repertório temas marcantes como «This Is Not A Love Song» e uma série de versões de temas bem conhecidos dos Dead Kennedys, Billy Idol, Clash, Bauhaus ou Depeche Mode (com quem eram supostos ter partilhado o palco do Super Bock- Super Rock no Porto). No novo álbum surgem participações de Martin Gore dos Depeche Mode, de Ian McCulloch dos Echo And The Bunnymen e Terry Hall dos Specials. No disco, para além de vários originais, há versões envolventes de temas como «Master And Servant», «Road To Nowhere», «Parade» ou «Our Lips Are Sealed», entre outros. Em comparação com os anteriores o ambiente é, digamos, menos bossa nova e mais rock, por vezes com clara inspiração na «country» norte-americana. Não torçam o nariz, o disco vale a pena mesmo. 

 


 


BACK TO BASICS -   O objecto principal da política é criar a amizade entre membros da cidade - Aristóteles 

 

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publicado às 17:31

UMA PROMISCUIDADE REVELADORA

por falcao, em 14.07.09

(Publicado no diário «Meia Hora» de 14 de Julho)

 


António Costa escolheu estes últimos dias para dar o pontapé de saída na sua recandidatura à Câmara Municipal de Lisboa: assinou no Domingo um acordo com José Sá Fernandes, na sexta havia indicado apoiantes e mandatários, e na segunda-feira fez a apresentação formal da candidatura. São tudo actividades normais em processo eleitoral. Claramente António Costa escolheu estes quatro dias, de sexta a segunda, para marcar a agenda mediática e ganhar espaço nos «media».


No entanto António Costa não fez só isto e, de uma forma pouco elegante, no mesmo espaço de tempo, misturou por duas vezes a sua recandidatura privada e partidária com actividades da Câmara Municipal de Lisboa : sexta-feira, horas antes de José Saramago ter declarado o seu apoio a Costa, a Câmara Municipal de Lisboa, directamente pela mão do seu presidente, concedeu um subsídio de 30.000 € ao documentário "União Ibérica", sobre a relação entre Saramago e a mulher, Pilar del Rio; a seguir António Costa promoveu a publicação e distribuição, na edição de Domingo de um jornal diário, de um folheto de propaganda municipal, com 16 páginas, das quais as duas iniciais são preenchidas por um texto seu, com respectiva fotografia pessoal.


A política audiovisual de António Costa começou há poucos dias quando decidiu financiar mais um filme de João Botelho sobre Fernando Pessoa; logo a seguir surge este subsídio para um documentário sobre Saramago. O financiamento de produções audiovisuais pela autarquia surge assim de forma casuística -  mais valia que as verbas envolvidas fomentassem a criação de uma Film Commission para Lisboa. Mas, sobretudo, convinha que, nos dois últimos casos, o de Botelho e Saramago, a coisa não parecesse um estender de mão eleitoral.


O segundo caso é pior – toda a história da Carta Estratégica de Lisboa, por melhores intenções que os intervenientes tenham, serve objectivamente apenas para uma acção propagandística e de levantamento de ideias a apoios para o Programa Eleitoral de António Costa. Esta é uma daquelas iniciativas que faz sentido fazer-se logo no início de mandato, mas que em período já pré-eleitoral fica apenas como uma manobra de propaganda eticamente muito discutível.


Nestes dois temas nem falo da utilização de dinheiros públicos, sobretudo revolta-me a falta de ética política e a promiscuidade que a mistura e a coincidência entre actos partidários e actos institucionais revela. 

 

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publicado às 11:10

INVESTIGAÇÕES – Um dos problemas, graves, que existe na justiça portuguesa é a forma como investigações da Polícia Judiciária se tornam muito rapidamente armas de arremesso político ou social. Os anos recentes estão cheios de casos destes – em que as fontes que tornam públicas investigações partem de dentro da própria polícia, como forma de provocar julgamentos na praça pública, que muitas vezes nem chegam a tribunal. O histórico da Polícia Judiciária no sucesso de investigações complexas, na resolução de crimes ou no desmantelamento de redes criminosas é muito pequeno, quando comparado com a forma como em casos políticos se deixa manipular e como é utilizada como elemento central de campanhas de opinião pública. Algo vai muito mal no funcionamento da Polícia Judiciária - e a sua reforma é uma peça essencial para que a Justiça possa melhorar. 

 


 


DÚVIDA – Às vezes fico um bocado espantado sobre a forma de comportamento dos porta-vozes partidários. Eu acho que o natural seria que um porta-voz tentasse alargar o raio de comunicação do seu partido, que falasse para os eleitores que estão nas margens, para conseguir captar eleitorado, neutralizar quem antipatiza com esse partido e sobretudo conseguir dar bons argumentos para que os militantes e simpatizantes consigam eles próprios exercer influência nos círculos onde se movem. Mas em vez disso os porta-vozes, com raras excepções, falam para dentro, para o núcleo duro, reproduzem argumentos frequentemente de forma dogmática, e parecem mais obstinados em fornecer argumentos para confrontos do que em comunicar no sentido básico do termo – fazer chegar uma mensagem a quem à partida não estaria predisposto a ouvi-la. Olhem para o espectro partidário e analisem como actuam os porta-vozes – raros ultrapassam o nível de um propagandista, teimoso mas inábil, em início de carreira. 

 


 


 


 


RESUMO DA SEMANA – A Comissão de Inquérito da Assembleia da República ao caso BPN achou que o Banco de Portugal agiu bem na fiscalização daquele banco; Cristiano Ronaldo em Madrid foi o assunto central da semana nacional; já existem três manifestos sobre obras públicas, mais uma conferência de imprensa de Jorge Coelho; dizer um palavrão na Assembleia da República não tem consequências mas exprimi-lo gestualmente dá demissão – é aquilo a que se chama o poder da imagem. 

 


 


PERGUNTA INDISCRETA – Agora que Manuel Pinho se foi embora, quem é que vai tratar dos assuntos da Cultura no Governo? 

 


 


VER – Senti o cheiro das rotativas e a emoção de ver uma história publicada, o caos das redacções e o zig-zaguear do desenvolvimento de uma reportagem em «Ligações Perigosas», um filme de Kevin Macdonald sobre a investigação jornalística da morte da amante de um político que andava a investigar negócios pouco claros na área militar. O «thriller» é bem construído, o argumento é muito bom e a interpretação de Russell Crowe é superior. 

 


 


LER – Confesso-me um leitor devoto de policiais e confesso-me amigo do Fernando Sobral, que também escreve nas páginas deste jornal. Gosto de o ler diariamente no seu certeiro «Pulo do Gato» ou nas notas sobre a semana ou sobre livros que ele publica aqui neste «Weekend». Feitas estas declarações tenho a dizer que «L.Ville», o novo livro do Fernando Sobral, um policial, é uma história fascinante de um detective que, na cidade de Lisboa, se confronta com um caso de homicídio. Não vou contar a história – que é daquelas que não se consegue parar de ler – mas direi que é um retrato contemporâneo de locais, comportamentos e atitudes. Eu li-o de seguida, a imaginar sítios, a ouvir as canções que são citadas, a sentir cheiros e aromas. «L.Ville» é um dos melhores policiais que tenho lido ultimamente e que, ainda por cima, tem a particularidade de ter frases absolutamente  geniais, como esta: «Podemos ensinar tudo; mas devemos ficar sempre com o truque definitivo». (Edição Quetzal) 

 


 


OUVIR – Ao fim de duas décadas e de uma quinzena de discos ainda há lugar para surpresas numa banda que em 1988 ganhou fama e notoriedade com o disco «Daydream Nation», que se afirmou com uma sonoridade própria na Nova York dos anos 90? Estou a falar dos Sonic Youth, esse quarteto que fez fama com canções que reproduziam os ruídos, as sensações e a criatividade dessa cidade. Ironicamente intitulado «The Eternal», o novo disco dos Sonic Youth, uma nova explosão de energia, misturada com pequenas provocações que salpicam as canções. Os Sonic Youth, que há três anos não lançavam disco novo, não inventam aqui nada – mas aperfeiçoam o seu estilo, e surpreendem pela coerência, num tempo em que esta música podia ser mais difícil para atrair novos públicos. Destaque para a forma como Kim Gordon canta, e sobretudo para a última canção do disco, verdadeiramente impressionante, «Massage The History». CD Matador. 

 


 


PROVAR – As coisas mais simples e mais tradicionais são muitas vezes as melhores. De repente um regresso a um restaurante onde já não se ía há uns tempos faz recordar a importância da boa escolha de produtos, a boa confecção, o tempero cuidado, a atenção ao pormenor – por exemplo a qualidade da preparação das azeitonas e do pão que se servem – um dos «couverts» mais simples, que ou corre muito bem ou é para esquecer. Pois correu muito bem num regresso ao «Apuradinho», em Campolide, uma noite destas onde o objectivo era comer bem, com calma, sossegado. A escolha da noite recaiu numas lulas recheadas acompanhadas de puré de batata – aqui está um prato que pode ser um desastre, mas felizmente no «Apuradinho» é um sucesso – lulas perfeitas, tenras, recheio muito bom, um puré de batata natural muito bem condimentado. A terminar, cerejas magníficas, absolutamente excepcionais – num ano, aliás, que tem sido bom em matéria de cerejas. Resumo da noite: porque é que não vou mais vezes ao «Apuradinho» - aos seus pastéis de bacalhau levíssimos, ao estufado de pivetes (rabo de boi) ou ao cozido, sempre superior? «Apuradinho», Rua de Campolide 209 A, telefone 213 880 501. 

 


 


BACK TO BASICS -  A História é pouco mais do que uma sucessão de crimes e de infortúnios - Voltaire 

 

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publicado às 15:54

UMA CIDADE PERDULÁRIA

por falcao, em 07.07.09

 


(Publicado no diário Meia Hora de 7 de Julho)

 

Desde há 43 anos o festival de jazz de Montreux, na Suíça, é um marco incontornável do mês de Julho – nas quase duas semanas em que decorre atrai à cidade cerca de 200.000 visitantes. Ao longo dos anos o Festival abriu-se a outras músicas para além do jazz e teve, nomeadamente, uma enorme importância no reconhecimento de uma geração de músicos brasileiros na Europa. Montreux conseguiu, com o Festival, que uma cidade Suíça, antes conhecida apenas pelo seu lago e pelo casino, se tornasse numa das capitais da música do Verão Europeu – e a organização criou receitas com gravações, discos e programas de televisão. É uma operação exemplar.

Em tempos sonhei que Lisboa podia ter, se houvesse persistência e apoio, uma iniciativa que, com o tempo, fosse semelhante. Aquilo que eu defendia que se fizesse, e que ainda aconteceu curtos anos, era a criação de um Festival, em Lisboa, que fosse o pólo de divulgação e cruzamento da música de África com a Europeia e de outros continentes, e que, ao longo dos anos permitisse afirmar Lisboa como uma verdadeira plataforma multicultural. A estratégia era basear numa primeira fase a actividade no cruzamento com a música dos países lusófonos de África com a portuguesa, utilizando o palco da música (em Monsanto, na época reabilitado) e desenvolvendo complementarmente iniciativas no campo das artes plásticas, literatura e cinema, entre outras. Foi assim que nasceu o Afrika Festival.

Infelizmente a experiência demorou demasiado pouco tempo e a actual Câmara Municipal de Lisboa acabou com o palco da música e manteve apenas as actividades complementares, o que destruíu completamente a ideia existente. Resta sublinhar que nos anos em que o Afrika Festival se manteve, as citações sobre Lisboa na imprensa internacional ultrapassaram as de outros Festivais musicais cá realizados.

O caso infelizmente não é único : vale a pena dizer que o que aconteceu, a outro nível, com a extinção da Lisboa Photo teve exactamente os mesmos efeitos – só que Sérgio Mah, o Comissário da iniciativa, acabou por ver o seu talento reconhecido em Madrid, que o convidou para dirigir o Photo España.

Estas duas iniciativas – Afrika Festival e Lisboa Photo – podiam ser alicerces para a imagem de Lisboa, enquanto cidade aberta à modernidade e ao encontro entre culturas. Nem vou referir que, a médio prazo, o retorno do investimento, em capacidade de atracção turística, seria interessante. Mas registo que foi esta Câmara que acabou com estes projectos, que tinham público e notoriedade. É o que se chama uma política perdulária, a que nem as operações cosméticas de «cartas estratégicas» feitas por encomenda eleitoral chegam para dar qualquer sentido ou consistência. 

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publicado às 10:50

COSTA - A campanha eleitoral de António Costa já começou, com uns cartazes que dizem «Arrumámos, a Casa». O meu palpite é que eles devem ser dirigidos para quem vive fora de Lisboa e está de passagem na Capital – é que quem cá vive fica com os cabelos em pé com estes dois anos de Costa – ruas mais sujas, cidade mais esburacada, trânsito ainda mais caótico. Na verdade o mandato de Costa é feito de desarrumação, a cidade está pior e não há obra feita nem rasto de inovação. Até na relação com o Governo a Capital está a perder – vejam-se as tropelias feitas na zona ribeirinha. António Costa na Câmara pode servir bem os interesses do Governo, mas é seguro que tem feito muito pouco por Lisboa. 

 


 


ASAE - Depois de meses de acalmia a ASAE voltou a fazer das suas, desta feita em Serralves. O motivo foi a apreensão de jóias de novos desenhadores, que estavam expostas na loja do museu – as jóias, de prata não tinham o contraste de Lei e a apreensão terá sido feita por denúncia. Independentemente da questão do contraste, a verdade é que tudo isto se baseia numa Lei com décadas, em grande parte hoje em dia contrária ao Direito Comunitário, e que proíbe a venda de jóias ou peças de metais preciosos, mesmo contrastadas, fora de ourivesarias. É por isso que algumas lojas de grandes marcas internacionais não podem vender nas suas lojas peças contrastadas, de ouro ou prata, mesmo que inteiramente legais e é por isso que elas são seladas pela ASAE – que depois demora infindáveis meses a resolver o processo, criando grandes prejuízos. Mas como se sabe a missão da ASAE é criar dificuldades e prejuízos em diversas áreas da actividade económica – a novidade é que agora invadiu a esfera das artes e da criatividade (esta ida à Fundação do Porto foi a segunda num espaço de pouco tempo já que os diligentes agentes da ASAE andaram por lá no dia da Festa anual de Serralves a ver se se fumava ….). O exagero tira a razão – e a falta de bom senso é o grande pecado da ASAE. 

 


 


LER – A edição de Julho/Agosto da revista internacional «Monocle» devia ser lida por todos os candidatos autárquicos de grandes e médias cidades. É o número anual que faz o ponto de situação dos locais com melhor qualidade de vida, ordena as cidades com base nesse critério e tem uma série de artigos, opiniões e sugestões de especialistas de diversas áreas, do urbanismo ao comércio e indústria, passando pela música ou a animação de rua. No índex anual das 25 melhores cidades para viver Lisboa caíu para a última posição, o que não é estranho se percebermos como a cidade tem ficado mais caótica nestes últimos tempos. Ao longo das páginas descobrem-se evidências há muito esquecidas em Portugal – a importância do comércio de rua, de as cidades acolherem pequenas indústrias, artesanatos, de privilegiarem a recuperação em vez da nova construção, de dignificarem e aproveitarem os espaços ao ar livre. Todo um programa de bom senso. 

 


 


 


OUVIR – Bem Harper faz quarenta anos em Outubro próximo e este seu novo disco, «White Lies For Dark Times» é o seu trabalho mais maduro, surpreendente e conseguido – e absolutamente nada chato. Com uma enorme influência dos blues, apresentando em  estreia a banda texana Relentless 7 ao lado de Harper, a produção garante sólidas e frescas sonoridades. Na realidade este é um Ben Harper para quem gosta de rock, nalguns momentos com citações que parecem pescadas de Jimi Hendrix ou de Neil Young, um disco bem ritmado, a fugir a alguma monotonia demasiado presente em outros trabalhos recentes do cantor. Mas além das influências bluesy, aqui também se percebe como Ben Harper gosta de se inspirar na folk music ou no funk. Um discão. 

 


 


IR – O Estoril Jazz 2009 termina este fim de semana. Hoje, sexta dia 3, é a vez do quarteto do saxofonista David Murray; amanhã, sábado dia 4, a homenagem a Charly Mingus pelo septeto Mingus Dinasty; e  Domingo, dia 5, toca o quinteto do contrabaixista Christian McBride – sexta e sábado às 21h30, Domingo às 19h00, sempre no Centro de Congressos do Estoril, no Festival que regularmente proporciona alguns dos melhores concertos de jazz que por cá se podem ver ao longo do ano. 

 


 


DESCOBRIR – O Douro é certamente das regiões de Portugal onde vale a pena voltar sempre. Nos últimos anos as transformações, para melhor, são grandes – desde as grandes vinhas até aos museus locais, passando pela recuperação dos passeios de barco e, sobretudo por uma oferta de hotelaria e restauração que colocam a zona, em termos de qualidade, entre as melhores do país. Vem isto a propósito daquele que hoje em dia é certamente um dos melhores restaurantes de Portugal, quer em termos de espaço, quer de serviço, quer de qualidade e confecção da comida. Trata-se do DOC, situado precisamente no Douro, a meio caminho entre a Régua e o Pinhão, precisamente em Folgosa. Comecemos pelo local – construído em cima do rio, num edifício concebido para o efeito, com uma esplanada fabulosa, uma sala espaçosa, boas mesas, confortáveis cadeiras, um ecrã que mostra o que se passa dentro da cozinha. Depois, o serviço – eficaz, simpático, atento, bom conhecimento da carta, conselhos acertados e não especulativos sobre vinhos. Finalmente a comida – múltiplas escolhas, comida de inspiração regional com um toque de frescura, muito boa qualidade dos produtos, confecção absolutamente impecável, quer nos peixes, quer nas carnes. Destaques, nas entradas, para as chamuças de moura e de alheira, nos peixes para os milhos de moluscos com algas do mar e rodovalho e o cherne com ratatouille de legumes, e nas carnes para as propostas de porco bísaro, cordeiro e cabritinho. Há a possibilidade de Menu Degustação. A responsabilidade de tudo correr assim é do proprietário e Chefe, Rui Paula, que trabalhou alguns anos em Londres e que tem um belo livro editado, «Uma Cozinha no Douro». O preço é alto, mas aceitável para a qualidade. É uma pena que em Lisboa, numa cidade á beira de um rio, não exista um restaurante assim, quer em conforto, quer em qaulidade. Uma experiência absolutamente a reter. Podem antever o DOC em www.restaurantedoc.com , reservas (absolutamente indispensáveis) para o telefone 254 858 123 ou 919 314 395. 

 


 


PROVAR – Bebida do verão, a meio da tarde – um Nespresso Lungo em copo largo, com três pedras de gelo. Delicioso. 

 


 


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publicado às 10:48

A TÁCTICA DO VALE TUDO

por falcao, em 01.07.09

(Publicado no diário Meia Hora de dia 30 de Junho)


 

A seguir às eleições europeias todos os quadrantes políticos, a começar pelo do Governo, mostraram preocupações com o aumento da abstenção e todos garantiram que o combate ao abstencionismo era uma prioridade. Falou-se muito na necessidade de dignificar a acção política. Num repente, que lhe passou rápido, o Primeiro Ministro até deu sinal de querer mudar de estilo. Foi sol de pouca dura, escassos oito depois voltou aos seus comportamentos habituais.

O que aconteceu na semana passada foi mais um empurrão para os abstencionistas e para os votos brancos e nulos – a verdade é que o folhetim da PT-TVI foi um manual sobre a utilização da ilusão e da mentira em política, um manual de desprezo pelos accionistas de empresas privadas em nome de interesses partidários.

Nos últimos dias todos ficámos a saber pelos jornais que aquilo que um Primeiro Ministro diz no Parlamento não tem que ser verdade, que os bastidores estão cheios de arranjos e combinações, que a falsidade na política é uma forma de estar que até parece natural. Com o comportamento assumido na semana passada no caso da PT-TVI o Primeiro Ministro e o Governo deram um mau exemplo que deve ter levado muita gente a pensar que mais vale uma abstenção do que um voto numa mentira.

Ainda o assunto não tinha esfriado e logo uma fonte do PS anunciou que tinha havido uma reunião para garantir apoios de nomes de centro-direita a José Sócrates nas próximas eleições. Nem 24 horas eram corridas e soube-se que os nomes propagandeados foram não a uma iniciativa partidária, mas a um jantar privado em casa do Ministro da Economia, que convidou vários convivas para trocar impressões, e não para manifestarem apoios ou desapoios. Um dos convivas, António Carrapatoso, deu-se mesmo ao trabalho de emitir um comunicado a distanciar-se das notícias veiculadas - e imagino que alguns outros o não tenham feito porque estão em cargos de nomeação governamental. Seja como fôr, o que aqui está em causa é de novo o paradigma da mentira como forma de actuação política, pelos vistos um comportamento recorrente nos círculos próximos de Sócrates.

Se isto continuar assim as campanhas eleitorais que estão a começar e que vão durar até meados de Outubro – quatro meses – prometem ser um manual de más práticas. Está instalado no Governo o espírito do vale tudo, de não olhar a meios para atingir fins. Quando a coisa chega a este ponto o resultado não pode ser bom.

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publicado às 11:37

SE NÃO ESTRAGAREM, PODE SER NEGÓCIO

por falcao, em 01.07.09

 (Publicado no «i» de 26 de Junho

 


No futuro como vai ser a televisão? Um bom bocado diferente daquilo que hoje conhecemos, de certeza. O ecrã tradicional vai progressivamente ser deixado de lado, substituído pelo ecrã do computador ou de vários outros dispositivos (ainda) mais móveis que um laptop. A forma de organização da programação também vai mudar – progressivamente as pessoas vão ter tendência a verem os programas que querem à hora a que estiverem disponíveis, e não à hora a que as estações os colocam em grelha de programas. A própria publicidade terá que se adaptar a estas mudanças.


Num tempo já próximo a televisão digital terrestre vai proporcionar uma experiência bem diferente daquela que temos hoje; a distribuição de sinal de televisão por fibra óptima vai complementar a oferta com uma diversidade e possibilidades de interacção que ainda nem sequer estão bem estimadas; a futura geração de telemóveis e novas redes de comunicações móveis tornarão mais fácil e acessível ver conteúdos vídeos on-demand ou simples emissões regulares de operadores de televisão. No centro de tudo isto estão os operadores de redes de comunicações: com diferenças tecnológicas quase inexistentes, com diferenças de preço mínimas, o principal critério de escolha dos clientes vai passar pelos conteúdos disponibilizados – e aqui o desporto, nomeadamente o futebol, desempenhará um papel fundamental.


É por isso que, depois de assegurar a TDT e de ter lançado o MEO, a PT voltou à necessidade de ter conteúdos audiovisuais e direitos de emissão, de preferência exclusivos, para os seus clientes. E é por isso que ter uma posição numa estação líder, que ainda por cima tem uma «fábrica» de produção própria, pode fazer sentido. Em termos de actividade e de negócio, o racional é perfeito; o pior será se a estação líder deixar de o ser, se existir a tentação de colocar interesses políticos à frente de critérios empresariais e se as mudanças efectuadas diminuírem as audiências e a qualidade dos conteúdos.  

 

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publicado às 11:32

 


TELEVISÃO - Politiquices sócratinianas à parte, o regresso da PT à área dos conteúdos só faz sentido – cada vez se torna mais claro que a chave do sucesso na exploração de novas plataformas tecnológicas tem a ver com a capacidade de garantir conteúdos, alguns em exclusivo de preferência, para garantir tráfego e gerar receitas. Não é preciso ser vidente para saber que a introdução da televisão digital terrestre, a próxima geração de telemóveis e a proliferação da fibra óptica vão alterar a forma como todos nos relacionamos com programas de televisão e com conteúdos audiovisuais. Se juntarmos a isto a importante questão da exploração dos direitos de transmissão do futebol (cada vez mais determinantes na criação de receitas directas e indirectas em televisão) estamos perante um cenário em que a PT ou abdicava de crescer ou arriscava voltar a uma área onde, no início da década, recorde-se, Zeinal Bava deu cartas e mostrou uma grande capacidade de visão. Do cenário politiqueiro, incontornável, é certo, espera-se que a tentação do poder e de exercer controlo editorial não estraguem uma estação de televisão que tem sido gerida com as audiências e a rentabilidade sempre em primeiro plano. E que, por acaso também, tem sido a que mais ficção nacional tem produzido, dando cartas ao serviço público em várias áreas.

 

ELEIÇÕES - Quando escrevo esta coluna ainda não se sabe qual a decisão presidencial quanto à data das eleições legislativas. Mas, seja qual for o calendário, é certo que tudo indica que o resultado eleitoral irá obrigar a coligações e acordos; se não for possível chegar a um acordo estável, e a probabilidade é grande, aumenta o número dos que propõem um Governo de iniciativa presidencial. O recente manifesto dos 28 contra as grandes obras públicas mostra já como alguns sectores das elites se posicionam, a marcar terreno. Apelos complementares a uma revisão constitucional – ainda por cima necessária face ao total desajustamento do sistema eleitoral e político face à realidade actual, criam campo para que o Presidente utilize os seus poderes até ao máximo. Será curioso ver quem se irá colocar em bicos dos pés nos próximos compassos desta dança.

 

CULTURA - No seu acto de contrição público transmitido pela televisão, Sócrates reconheceu que tinha errado na Cultura e que esta é uma área que precisaria de mais dinheiro. Está na cara que este será um dos sectores onde o PS vai investir – é que, com relativamente pouco dinheiro, será possível captar uma corrente de opinião de esquerda e de centro esquerda sensível a estas questões, crucial para o PS nas próximas eleições. Resta a curiosidade de ver quem o PS irá utilizar para dar corpo a esta nova política na área da cultura, já que o actual Ministro sempre disse que não era preicos mais dinheiro.... No entretanto a pobreza da direita e do centro direita em relação às questões de política cultural continua, infelizmente, a ser confrangedora – enquanto o PS tratou o assunto com os pés a coisa não se notou tanto, agora que a conjuntura eleitoral obriga Sócrates a ter mais cuidado, a diferença vai ser mais patente – e prejudicial – a menos que entretanto alguém tenha o bom senso de romper com o monopólio político da esquerda na cultura.

 

ELOGIO - É altura de aqui reconhecer que o trabalho realizado no Museu Colecção Berardo, no CCB, por Jean-François Chougnet, o director que tem sabido organizar um programa de exposições temporárias que faz descobrir áreas pouco visíveis, que possibilita que Portugal descubra a obra pouco divulgada de portugueses como Pancho Guedes, ou que tenha possibilidade de ver obras pouco divulgadas, como a de Dan Flavin. Esta semana o Museu inaugurou uma mostra sobre Art Déco e outra sobre paisagens, ao mesmo tempo que ainda se pode ver uma importação da Photoespaña ou a curiosa «Arriscar o Real», a partir de obras da própria Colecção Berardo.

 

VER - Semana grande em Coimbra – o Centro de Artes Visuais ~(CAV) inaugura dia 27, sábado, três exposições: «Notas Sobre Um Problema de Método», de Pedro Calapez; «The Night Walker And Other Works» um projecto de Ra Di Martino; e uma exposição, «Paisagem», dedicada à obra do arquitecto Carrilho da Graça com fotografias de Augusto Brázio, Edgar Martins e Frederic Bellay.

 

IR – Este é o primeiro fim-de-semana do «Estoril Jazz», numa nova «casa», o Centro de Congressos do Estoril. Sexta-feira dia 26, 21h30, o destaque vai para o quinteto James Carter; Sábado à tarde uma curiosa experiência de jovens músicos portugueses que adaptaram para português standards norte-americanos no colectivo «Jazz em Miúdos, às 16h00; à noite, ainda sábado, a voz de Roseanna Vitro (um dos novos valores do jazz vocal), com um trio que inclui o pianista Kenny Werner; finalmente no Domingo às 19 e 21 horas, em duas sessões um concerto a solo do pianista Chick Corea, sem dúvida o ponto alto destes primeiros três dias – para a semana há mais.

 

REGISTO - Mayra Andrade é uma cabo-verdeana com uma voz extraordinária e uma grande presença em palco, mas infelizmente o seu disco «stória, stória» sofre de um mal que nos últimos tempos contribui para descaracterizar e tornar pouco interessantes as gravações de intérpretes de Cabo Verde: uma produção, arranjos e músicos abrasileirados tornam tudo numa massa sonora incaracterística e pobre Resta a riqueza da voz de Mayra, infelizmente também a adoptar uma pronúncia mais brasileira que africana. A ideia será a de assegurar uma maior capacidade de internacionalização – mas o resultado é pobre e grotesco em termos musicais. CD Sony.

 

LER – Em 1973 foi feita a primeira edição de «O Mundo É A Nossa Casa», com base num texto de Júlio Moreira e em desenhos, ilustrações e grafismo de Sena da Silva, Cristina Reis e Margarida d’Orey. O livro, dedicado sobretudo às crianças, teve várias edições mas há uns anos que se encontrava esgotado. Pela mão da Guimarães Editores foi agora reeditado, numa versão actualizada que nos permite descobrir uma das obras mais interessantes sobre a nossa sociedade e o nosso planeta que se pode oferecer aos mais novos.

 

LUGAR – A esplanada da nova cafetaria do Hotel Altis Belém tem bom serviço, boa cozinha, uma grande vista e boas propostas, leves e frescas, para estes dias mais quentes. Telef. 210 400 200

  

BACK TO BASICS -  Uma obra exposta num museu ouve mais opiniões ridículas do que qualquer outra coisa no mundo – Edmond de Goncourt

 

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publicado às 11:31

 


(Publicado no Diário Meia Hora de dia 23 de Junho)

 

Num destes dias passei pela primeira vez, desde que o trânsito ali reabriu, num taxi, frente ao Terreiro do Paço, a caminho do Cais do Sodré. Nem queria acreditar no que estava a ver – um misto de desolação com uns bocados de plástico pacóvios pelo meio. A coisa é indescritível - no meio das obras há uma instalação, que se situa visualmente a meio caminho entre carrinhos de choque das feiras e contentores para recolha de recicláveis, com uns arbustos de árvores raquíticos a saírem lá de dentro – numa referência ecológica bacoca. As peças, muito coloridas, estão dispersas em dois ou três sítios, sem lógica, sem dimensão para todo aquele espaço. Parecem apenas ridículas, na provocação gratuita, na ausência de sentido ou contextualização. Parece que esta intervenção terá custado 70 mil euros, pelo menos é o que leio na imprensa, a mesma onde também leio que esse o arco da Rua Augusta se degrada aceleradamente por falta de verbas para a sua recuperação.

Quando o táxi avança um bocadinho entra numa espécie de slalom entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré, com faixas estreitas, na Ribeira das Naus, num traçado incompreensível, que vai de certeza dar muitos problemas – a razão do desvario e da estreiteza das faixas é o alargamento desproporcional dos jardins existentes. O taxista que me conduzia abanava a cabeça em ar de reprovação, todas as pessoas com quem tenho falado não entendem o que ali se passa, nem o seu significado, tão pouco o objectivo.

 

Para além da verborreia demagógica contra o trânsito automóvel (duplamente demagógica porque o município cobra uma bela colecta em impostos aos automobilistas que vivem na cidade), o que está a ser feito na Ribeira das Naus e no Terreiro do Paço é um espelho do poder arbitrário, da falta de bom senso e, estou em crer, de uma grande dose de incompetência.

 

Uma zona nobre da cidade de Lisboa está entregue a pinderiquices, a projectos de intervenção que causam polémica generalizada, tudo feito por obra e graça de uma Sociedade Frente do Tejo, criada pelo Governo perante a passividade de António Costa, e que, muito curiosamente, vai poder contratar empreitadas e adquirir bens e serviços por ajuste directo, sem concurso público, até 5,120 milhões de euros, um valor cinco vezes superior ao limite máximo previsto no Código dos Contratos Públicos. Não há um cheiro a podridão em tudo isto?

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publicado às 11:21


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