Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



VELHA ARMADILHA

por falcao, em 29.07.10


 




Com a devida vénia transcrevo o excelente artigo de Luciano Amaral no diário «Metro de Hoje» - onde explica como, no caso da Constituição, a direita portuguesa caíu numa velha armadilha:



«Uma semana bastou para acalmar o
fur
or causado pela proposta de revisão


constitucional do PSD. Mas talvez valha
a pena voltar a ela mais um bocadinho.
O PSD caiu, ou quis-nos fazer cair, na
velha armadilha da direita portuguesa:
atirar-se à Constituição. Cães de Pavlov há-os para
todos os gostos: assim como a esquerda ladra logo
a quem se propõe tocar na Constituição, a direita
não deixa de babar quando alguém diz que vai
mudar a Constituição. Mas atirar-se à Constituição
é a melhor maneira de mostrar atitude reformista
sem fazer grande coisa. As constituições têm muito
de valor histórico, cristalizando o momento da
redacção. A Constituição da Irlanda, por exemplo,
o país de sucesso com quem gostávamos de nos
comparar há uns anos, foi escrita “em Nome da
Santíssima Trindade, de Quem toda a autoridade
deriva”. E está cheia de “directivas sociais”, contra
a “exploração injusta” resultante da “livre competição”.
Isto para além de belos preceitos antiquados,
como o de que “a permanência da mulher no lar
contribui para o Bem Comum”. As constituições
ocidentais estão cheias de bizarrias históricas.
A Constituição da Noruega consagra a religião
Evangélica-Luterana como religião de Estado.
A da Dinamarca consagra a Igreja Luterana
Dinamarquesa como a igreja oficial. Embora ambos
os países sejam famosos pelos “Estados Sociais”,
as respectivas constituições são omissas a esse
respeito. A 21ª emenda à Constituição dos EUA proíbe
“o transporte e a importação de bebidas alcoólicas”.
Apesar de a nossa Constituição estabelecer que
estamos a “abrir caminho para uma sociedade socialista”,
somos dos países com menor proporção de
propriedade pública. E embora a Constituição seja
muito estrita na legislação laboral, temos um mercado
de trabalho bastante flexível (embora dual:
uns protegidos de tudo, outros pelo contrário). Atirar-
se à Constituição é fácil, porque nunca resulta
em nada. Difícil é mudar certos hábitos de governação
que conduziram ao ponto em que estamos.»


Luciano Amaral

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 11:42

AS LEIS E A JUSTIÇA

por falcao, em 27.07.10

(Publicado no jornal Metro de 27 de Julho)


 


A agenda política dos últimos dias tem sido dominada pela questão da eventual revisão da Constituição. A questão em si é um pouco bizantina porque, em bom rigor, não é necessário de facto mexer no texto constitucional para fazer uma série de coisas que se têm anunciado - as taxas moderadoras foram introduzidas no sector da saúde sem que a questão Constitucional se colocasse. Os exemplos são numerosos. As grandes reformas que são necessárias podem ser introduzidas amanhã – se existir vontade política para tal.


O que falta em Portugal não são Leis – o que falta é cumpri-las e fazê-las cumprir. A nossa legislação é numerosa, abundante e faz as delícias dos legisladores. Mas depois muita dela fica pelo caminho – ou porque não é regulamentada, ou porque fica esquecida, ou porque pura e simplesmente ignorar as leis é uma actividade tão frequente como elaborá-las.


Isto, é claro, revela o estado do país: a prioridade devia ser pôr o sistema a funcionar, o que quer dizer, de forma muito prosaica, pôr a justiça a funcionar. O nosso maior problema é que a justiça funciona muito mal e isso condiciona tudo. Os custos sociais e económicos do mau funcionamento da justiça são a factura mais pesada que temos pela frente.


Em vez de gastar energias a fazer novas leis, sugiro aos políticos que se concentrem em fazer funcionar o que existe - até porque seria um desafio curioso para eles: por uma vez mostrariam se são capazes de conseguirem fazer alguma coisa de concreto, por alguma vez teriam a oportunidade de fazer uma reforma visível, por uma vez nós, os eleitores, poderíamos ver se eles sabem de facto trabalhar e fazer ou se se limitam a falar. É que a situação do país deve-se muito ao facto de os políticos falarem muito mas concretizarem e fazerem muito pouco. Melhorem a justiça – ela está tão mal que não há-de ser muito difícil obter alguns resultados.


Falar da revisão Constitucional é um acto meramente simbólico. Tratar da reforma da justiça seria uma acção prática de enormes e rápidos efeitos.


 


 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:38

CONSTITUIÇÃO – O principal mérito do projecto de revisão constitucional que anda a ser preparado pelo PSD é o de ter colocado à discussão uma série de questões, algumas delicadas, não tendo medo de ser politicamente incorrecto e não fazendo o péssimo truque, habitual na política portuguesa, de só tomar as medidas polémicas ou falar da necessidade de fazer cortes ou reduções depois de eleições. Este é claramente um ponto a favor, como é também um ponto a favor a abertura da discussão sobre o que todos podemos esperar do Estado Social. Depois há questões, do ponto de vista da reforma do sistema político, em que não se entende bem a prioridade estabelecida, relativa às competências do Presidente da República. Fazia mais sentido, acho eu, debater questões como o funcionamento do sistema partidário, a reforma das eleições para tentar maior participação (por exemplo facilitando candidaturas independentes),  e uma abordagem séria das actualizações impostas pela evolução enorme de comunicação e das novas  possibilidades de participação desenvolvidas tecnologicamente nos últimos dez anos. Faz-me impressão que se encare como imutável o papel dos partidos e dos seus aparelhos e que se trave a abertura da política e da participação cívica a independentes – de que os partidos apenas têm uma visão utilitária em véspera de eleições. E, claro, não se entende como se fala da educação e da saúde e não se aborda de frente a questão da degradação cada vez maior do funcionamento da justiça. Mas regressemos à questão das obrigações do Estado em matéria social – o sistema inevitavelmente tem de ser revisto: não é suportável pagar ainda mais impostos em nome de um modelo que penaliza as gerações futuras e que no fundo se está a deteriorar. E não se pode falar de diminuir o Estado Social sem mostrar que ao mesmo tempo descerão os impostos – se não for assim, ninguém percebe. Não é por acaso que são os arautos da brigada do reumático, que nunca fizeram contas e que são muito responsáveis pelo estado das finanças públicas, que aparecem a gritar contra as mudanças nestas áreas. Mas é também certo que a forma como foram comunicadas as propostas do PSD – a conta-gotas, de forma desconexa, parcelar, e muitas vezes incompleta, deram azo a que a gritaria dos que nunca querem mudar nada se amplificasse. A última coisa que a reforma do Estado social precisa é que se alimente uma frente unida da velha esquerda e que se comprometa o apoio da zona central do eleitorado ás mudanças necessárias. E este ressuscitar da frente unida de esquerda poderia ser evitado se o assunto fosse bem comunicado e de forma dirigida ao alvo mais interessado na mudança – todos os que começam agora a sua actividade profissional. Espero sinceramente que a má comunicação não comprometa as boas propostas e que haja ainda o bom senso de repensar o que é mesmo importante na reforma do sistema político-partidário.


 


CRISE – O episódio da Ministra do Emprego a anunciar o que não lhe competia é apenas o sinal mais recente do desnorte e descoordenação do executivo. A realidade é esta: o Governo não está a gerir a crise, está apenas a aumentá-la e, assim sendo, mais valia pensar se em matéria de instabilidade não será mais grave manter as coisas como estão ou procurar soluções alternativas. O pretexto da estabilidade, como os números e os factos mais recentes mostram, serve apenas para deteriorar ainda mais a situação. O Governo ziguezagueia – uma coisa é o que Teixeira dos Santos diz em Bruxelas, outra é o que Ministros avulsos vão prometendo pelo país às diversas corporações de interesses. E a nova batalha pelo “Estado Social” ainda vai fazer degradar mais as coisas.


 


VER – Se por estes dias passarem por Coimbra entrem no centro da cidade, no Pátio da Inquisição, e vão descobrir o Centro de Artes Visuais, uma das consequências dos Encontros de Fotografia de Coimbra, criados e dinamizados por Albano da Silva Pereira desde os anos 80. Durante o verão podem lá descobrir a exposição «Imaginário da Paisagem», montada a partir de fotografias da colecção do BES, de nomes como Gérard Castello Lopes, Andreas Gursky, John Baldessari, Josef Koudelka ou Nuno Cera, entre outros.


 


LER – Cada crise, para além das dificuldades que provoca, é também uma fonte de oportunidades, desde novos padrões de consumo, até à criação de novas formas de trabalho frequentemente inovadoras, passando por novas infraestruturas e uma reorganização do território em função do desenvolvimento de novas actividades – este é o ponto de partida para o novo livro do norte-americano Richard Florida, «The Great Reset – How New Ways Of Living And Working Drive Post-Crash Prosperity». Editado há poucos meses este livro bem que podia ser lido por vários políticos da praça. Como Richard Florida diz, « paremos de tratar os sintomas, deixemos de confundir nostalgia com solução». Edição Harper, na Amazon.


 


OUVIR – Ao longo da sua carreira Laurie Anderson tem sido cáustica com a América, e este é assumidamente um disco político, um disco motivado pela crise do subprime e pelo colapso financeiro que se seguiu. Anderson continua com um sentido de humor apurado, que se vê logo na capa do CD, com ela mascarada, a evocar o Chaplin de «Tempos Modernos». Mas, ao mesmo tempo, Laurie Anderson continua também musicalmente a arriscar e a experimentar, sempre com o seu violino como base, recorrendo à manipulação de sons electrónicos mas também aos instrumentos primitivos de um grupo de músicos étnicos e ao talento de produtor de Lou Reed, que é casado com Anderson. Das 12 faixas há, na minha opinião, duas que se distinguem: «Only An Expert», uma composição que agarra o ouvinte do princípio ao fim, e o épico «Another Day In America», envolvente, em crescendo. «Homeland» inclui ainda o DVD «The Story Of The Lark», que aborda o processo criativo da artista e deste disco em particular. CD e DVD Nonesuch, via Amazon.


 


PETISCAR – A nova Frutalmeidas nas Avenidas Novas, em Lisboa, tem espaço amplo mas a mesma qualidade nas grandes tradições da casa que há umas quatro dezenas de anos nasceu na Avenida de Roma: os pastéis de massa tenra, as empadas de galinha, as tartes de maçã e os sumos naturais. Redescobri o prazer daqueles pastéis de massa tenra há poucos dias quando fui experimentar esta nova loja, que fica na Rua Pedro Nunes 25, esquina com a Latino Coelho.


 


ARCO DA VELHA – Apesar dos PEC’s, promessas e juras de contenção, a despesa do Estado nos primeiros seis meses do ano cresceu 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado – em números redondos mais mil milhões de euros. Em política, o que parece é: aumentam os impostos e aumenta a receita, mas a despesa não diminui, em vez disso cresce. Chama-se a isto cavar ainda mais a crise.


 


BACK TO BASICS – Ganho algum dinheiro a criticar as políticas do Governo, e depois dou-lhe boa parte do que ganho em impostos para ele continuar a fazer o mesmo – George Bernard Shaw


 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:36

QUAL CRISE? - UM GOVERNO EM CRISE

por falcao, em 20.07.10

(Publicado no diário Metro de 20 de Julho)


 


José Sócrates gosta de se iludir a si próprio e de iludir os outros: não se cansa de dizer alto e bom som que «o país precisa de tudo menos de uma crise política», mesmo quando ela está à sua frente. O grande problema é que os seus Ministros não acreditam no seu conselho e fazem tudo, mas mesmo tudo, para tornar a crise evidente.


Querem ver o que é sinal de crise? Enquanto o Ministro das Finanças se esforça para ver onde reduz a despesa, a Ministra da Cultura vem dizer que José Sócrates a deixa gastar sem fazer cortes; Mariano Gago, Ministro do Ensino Superior, garante que o Primeiro Ministro lhe prometeu não fazer passar as Universidades por apertos orçamentais; a Ministra do Trabalho anunciou por sua conta e risco que a Função Pública teria aumentos iguais à inflação; e o Ministro das Obras Públicas tornou-se o maior trapalhão do executivo, desdizendo-se a toda a hora sobre o romance das portagens e os grandes investimentos. Quando a coisa aperta todos eles se viram para o mesmo sítio – o Ministro das Finanças que se arranje para resolver o problema.


Nas últimas semanas tornou-se evidente que há duas políticas financeiras no Governo – a que o Ministro das Finanças explica a Bruxelas e aos mercados internacionais; e a que o Primeiro Ministro atribui aos seus Ministros, rateando promessas e mais promessas sem cuidar como as cumprir.


A realidade é que vivemos numa crise política que passa pelo facto de o Governo actual ter sido eleito com um programa que é o oposto daquele que está a colocar em prática. Os eleitores não votaram nestas políticas, votaram em promessas que foram já abandonada. José Sócrates foi eleito porque mentiu prometendo o que não podia cumprir, e fez isso porque está agarrado ao poder, que quer manter a todo o custo, mesmo chefiando um Governo cujos Ministros estão em roda livre e completamente desorientados. Na realidade este Governo deixou de ter legitimidade eleitoral. Ao PS resta convencer José Sócrates que o melhor será sair, precisamente em nome de resolver a crise política que se instalou.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 16:08

A BILHETEIRA – O novo Director Geral das Artes, soube-se por estes dias, vai também coordenar a rede dos cineteatros sem que se saiba exactamente o que isto quer dizer, já que estas salas estão na dependência das autarquias onde estão situadas. Mas neste sector existe, em geral, uma  questão que se prende com a forma como a bilheteira destas salas é maioritariamente encarada. Um dos grandes problemas que existe vem da grande percentagem de bilhetes oferecidos, que as salas do Ministério da Cultura e  das autarquias, disponibilizam em muitas das suas actividades. A medida, que em si pode parecer bondosa, acaba por ser perversa – contratam-se espectáculos sem ter em conta o seu potencial de cativar públicos e sem os fazer passar pelo teste da bilheteira de forma real e efectiva. Na realidade a oferta de bilhetes não incentiva a formação de públicos – arranjar um bilhete à borla, para tudo e mais alguma coisa, é um desporto nacional. A consequência deste vício na borla é que, muitas vezes, é insuficientemente valorizado o acto de ir a um espectáculo e pagar por isso, percebendo que assim se está a contribuir para os custos da produção e do trabalho de todos os envolvidos, de actores e criativos a técnicos. Era curioso fazer um estudo sério, nas salas geridas pelo Estado ou pelas autarquias, que comparasse a percentagem dos bilhetes vendidos com a percentagem dos bilhetes oferecidos. Em Lisboa o caso é particularmente grave – valia a pena que no Maria Matos, no S. Luis e, de uma forma geral, nos espaços geridos pela Câmara ou a sua empresa EGEAC, se fizesse um estudo sério sobre esta matéria. Uma coisa é subsidiar os bilhetes, tentar atrair novos públicos, promover o trabalho de artistas e grupos, outra coisa é programar sem olhar à capacidade de atracção e criação de públicos. Por detrás de tudo isto ainda existe uma outra questão: o investimento e o esforço de divulgação, promoção e publicidade dos espectáculos é muitas vezes insuficiente, precisamente porque o critério billheteira é subvalorizado – a sala acaba por se encher, muitas vezes, à pressa, com recurso a bilhetes oferecidos, e o marketing cultural, na generalidade dos casos, é incipiente e frequentemente mal feito. Na realidade, é bom recordá-lo, não há bilhetes gratuitos – somos todos nós, contribuintes, que os pagamos. E a programação de todas estas salas, que deve viver do equilíbrio entre novos artistas e a manutenção de companhias e grupos existentes, e que deve ser uma das componentes de uma política de financiamento do Estado – mais que os subsídios sem contrapartidas – acaba por ser desvalorizada e secundarizada. Avançar sem conhecer a realidade da bilheteira é sempre de eficácia duvidosa. Em todas as áreas.


 


TV – Só para fazer notar que este foi o primeiro campeonato do Mundo de futebol cujas imagens puderam ser seguidas no telemóvel e em sites pelo computador e cujos resultados, protestos pelos erros de arbitragem e comentários puderam ser vistos no twitter e no facebook. Também foi o primeiro que teve transmissões mais ou menos generalizadas em alta definição e algumas em 3D e foi, ainda, aquele com maiores provas técnicas dos erros da arbitragem, com maior número de estatísticas do jogo (posse de bola, remates, etc) em tempo real. Há quatro anos quase nenhuma destas opções existia, mas agora elas tornaram-se vulgares. Muito provavelmente daqui a quatro anos, em 2014, olharemos para o que experimentámos em 2010 como agora olhamos para as nossas recordações de 2006. A televisão está a mudar e o desporto é o prato forte da mudança na lista dos conteúdos, como aqui se escrevia há umas semanas.


 


LER – É engraçado como um livro sobre o medo de voar se tornou numa atracção mediática nos últimos dias – é sinal que o problema afecta muita gente e que causa angústias variadas nos mais diversos meios. O engraçado de «Voar Sem Medo» é que está escrito quase como se fosse as instruções de um jogo, nas suas várias etapas. Às vezes um pouco técnico demais, aqui e ali a dirigir-se em simultâneo ao público em geral e a especialistas (o que não é uma boa ideia), é justo reconhecer que as indicações, sugestões, dicas e truques diversos apontados neste livro serão certamente da maior utilidade para aqueles que se sentem desconfortáveis quando entram num avião – e existe até um teste, fácil e rápido, para avaliar o grau de à vontade e desconforto de cada um face à perspectiva de um voo. Cristina Albuquerque, psicóloga de formação, tem-se especializado na área do tratamento de aerofóbicos e há duas décadas que se interessa por este problema. Quer-me parecer que este bem pode ser um inesperado best-seller. «Voar Sem Medo», de Cristina Albuquerque, edição Gradiva.


 


OUVIR -  Pensei um bom bocado antes de escrever sobre este disco – à partida tem tudo o que me desagrada (uma junção de estrelas, uma colectânea de canções óbvias, um ar de campanha «num esforço para mostrar o poder e a beleza da colaboração a nível global como um caminho radioso para a paz», citação das notas de capa). Mas no fim decidi dizer-vos que vale a pena conhecer a mais recente aventura de Herbie Hancock, que já vai nos seus 70 anos. O disco chama-se «Imagine Project» e conta com numerosas colaborações, de Seal a Jeff Beck, passando por Pink, Los Lobos, The Chieftains e Dave Matthews, entre outros. A minha escolha vai para algumas versões brilhantes, de que destaco «Space Captain», uma canção popularizada por de Joe Cocker, «Don’t Give Up», de Peter Gabriel, «Tempo de Amor», de Baden Powell e Vinicius, «The Times They Are A Changin» de Bob Dylan e «Exodus» de Bob Marley.  «Imagine Project», de Herbie Hancock, CD Sony Music, na FNAC.


 


VER – Já aqui falei uma vez da revista portuguesa «The Scope», um dos mais interessantes e arriscados projectos editoriais surgidos nos últimos tempos. É certo que é uma revista de segmento, que é um objecto quase de luxo, muito bem impresso e editado. Tem distribuição internacional, publicidade internacional e direcção de Tiago Machado. A revista sai quatro vezes por ano, a par com as estações, e este número de Verão oferece motivos de interesse que vão de textos de Brad Mehldau sobre os seus heróis na música até uma entrevista com o arquitecto Rem Koolhaas ou uma viagem pelo mundo do vinho tinto da região de Burgundy, pelo autor do filme «Mondovino», Jonathan Nossiter E, depois, claro, como pano de fundo há a paixão pela fotografia e pela imagem que é o DNA desta revista.


 


PROVAR – Esplanada da semana: em dias quentes provar uma Conchanata, na geladaria do mesmo nome, na Avenida da Igreja 28 A. Fecha às segundas.


 


ARCO DA VELHA – A senhora Ministra da Cultura emitiu um comunicado onde manifestou a sua grande satisfação pela demissão de um director geral. Depois disse que a satisfação era devida a não ter que lhe pagar indemnização. A seguir anunciou que o buraco orçamental que abriu na Cultura será resolvido pelo Ministro das Finanças como ele achar melhor.


 


BACK TO BASICS – As circunstâncias nunca devem alterar os princípios – Oscar Wilde


 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:03

UMA MINISTRA INCAPAZ

por falcao, em 14.07.10

(Publicado no diário Metro de dia 13 de Julho)


 


A senhora Ministra da Cultura anunciou no final da semana passada que é incompetente para afastar dirigentes do seu Ministério, preferindo que eles se demitam. Isto parece-vos estranho? Eu também acho que é um pouco bizarro, mas a realidade é que a Ministra fez um comunicado onde está escrito, preto no branco: « A Ministra da Cultura confirma o pedido de demissão do Director-Geral das Artes. O Ministério da Cultura manifesta a sua grande satisfação por esta decisão, que vem permitir finalmente que a DGArtes se liberte de constrangimentos vários que têm vindo a dificultar a sua acção.»


 


Este comunicado mostra bem o estado a que se chegou na área da Cultura: uma Ministra incapaz de governar o seu próprio Ministério, que prefere deixar apodrecer uma situação a intervir, e que ao longo de meses vai deliberadamente agravando o funcionamento de um sector na esperança de que alguém se farte e resolva sair daquela casa – que foi exactamente o que acabou por acontecer.


 


Independentemente do fraco retrato que dá de si própria e da sua capacidade de decisão e de acção, o comunicado é mais grave – porque lança suspeitas, graves, sobre uma pessoa séria – Jorge Barreto Xavier, o citado Director Geral das Artes que se fartou e foi embora. E é exactamente o carácter rasca de todo o comunicado, que pode ser lido no site do Ministério da Cultura, que traça o melhor retrato do que é a actuação do Ministério da Cultura sob a gestão Gabriela Canavilhas – uma casa onde se diz hoje uma coisa e amanhã outra, apenas capaz de funcionar por impulsos externos, sem linha estratégica nem programa de acção.


 


O balanço do consulado Sócrates em matéria de Cultura é verdadeiramente desastroso – decisões de impulso, mal pensadas, falta do mínimo de coerência, inexistência de qualquer linha programática, cedência a gostos e modas, instabilidade no sector, negócios pouco claros na relação entre o Estado e grandes coleccionadores, obras faraónicas e polémicas, como o novo Museu dos Coches, desperdiçando o parco dinheiro que cronicamente existe na área da Cultura.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:22

CULTURA – Vai um grande burburinho na área dos agentes culturais – em boa medida graças à inabilidade política da Ministra, mas também em boa parte devido a erros e vícios acumulados no sector. Deixemos a inabilidade política de lado. O problema central da política cultural é que ela vive sem estratégia há muitos anos, basicamente desde que Carrilho foi para o Ministério com uma linha programática que se resumia a isto: subsidiar, subsidiar, subsidiar. Com os planos de recuperação de teatros, património e museus muito avançados quando chegou ao Governo, Carrilho concentrou-se em montar uma complexa teia de modelos de financiamento, para as mais diversas organizações e formas de expressão. Ao longo dos anos o efeito da estratégia clientelar criada por Carrilho entre 1995 e 2001 multiplicou-se. Não é de admirar que os agentes artísticos elogiem este seu consulado – ele limitou-se a aumentar o investimento do Estado em subsídios, dando uma falsa imagem de crescimento do investimento público na área da Cultura. Rui Vieira Nery, que foi seu Secretário de Estado, demitiu-se acusando-o de gestão danosa na Cultura e António Barreto, depois do conflito que manteve com o Ministro a propósito da Sociedade Porto 2001, escreveu um artigo que ficou célebre intitulado «Um Homem sem Qualidades». O modelo da criação de dependência aos subsídios foi exponenciado nessa época e o Estado assumiu então – e continuou a assumir depois – muito mais compromissos fixos em estruturas, de festivais a associações culturais, passando por grupos de teatro ou empresas de produção. O resultado é que o dinheiro claramente não chega para tudo. Não é certo que todo o dinheiro atribuído em subsídios seja um bom investimento e não é certo que ele seja eficazmente reprodutivo, do ponto de vista de resultado artístico e criativo – eu sei que os subsidiados não gostam de ouvir isto mas é uma facto que têm de encarar de frente. O que os Governos não fizeram foi encontrar formas de captar e incentivar o investimento privado nas artes, preferindo manter um modelo de benefícios fiscais duvidoso. E menos ainda fizeram na articulação com as autarquias, que replicaram elas próprias os piores exemplos da administração central - como está bem patente em Lisboa aliás. O resultado está à vista e, desta vez, quem trabalha no sector tem que puxar pela cabeça para construir e reivindicar um modelo sustentado, em vez de promover apenas mais protestos e a manutenção dos subsídios existentes. É simples: acabou-se o dinheiro fácil, o mundo mudou mesmo e não vai ser como dantes.


 


PT – Se o comportamento dos sucessivos Governos ao longo dos anos, em relação à Portugal Telecom, fosse menos político, se não tivesse havido todo o caso da forma como a PT andou a negociar a compra da TVI com o já assumido conhecimento – e aparente incentivo - de homens de confiança do PS, de membros do Governo e do próprio Primeiro-Ministro, talvez a utilização das acções especiais que o Estado detém na Portugal Telecom não tivesse provocado tanto burburinho. Mas a verdade é que o veto da golden share foi utilizado no culminar de um processo onde a existência de pressões políticas à margem dos accionistas se tornou patente. Também não deixa de ser curioso que esses mesmos accionistas não se tenham mostrado muito incomodados com o clima de interferência política baseado nas acções especiais, mas que se tenham agastado quando a sua utilização redundou num veto a um negócio de grande dimensão. Fica-me a sensação de que do lado de Sócrates não se dedicou tempo e atenção suficientes a juntar os seus confessos amigos Zapatero e Lula da Silva para, a três, e já que dizem ter tão boa relação e tanto em comum, se conseguir atingir uma acordo que não descambasse na situação actual.


 


EXTERIOR – É sabido que existe uma curiosa tradição de que as declarações importantes dos políticos portugueses sobre Portugal sejam feitas em entrevistas ou declarações a jornais estrangeiros. Presidentes da República e Primeiros Ministros tornaram-se useiros e vezeiros nesse método. Sócrates lembrou-se disso e fez uma jogada de comunicação brilhante quando decidiu explicar a posição do Governo sobre a utilização das acções especiais da PT precisamente numa entrevista ao «El Pais». Embora Marcelo Rebelo de Sousa tenha toda a razão sobre a falta de cuidado que houve na preparação e negociação do tema da compra da Vivo pelos espanhóis, a verdade é que uma vez usada a bomba atómica os conselheiros de Sócrates tudo fizeram para amortecer a explosão – primeiro com o artigo no «Público» e depois com a entrevista no «El Pais». Em termos de política de comunicação de crise foi uma belíssima jogada.


 


RTP – A série de dois artigos que Guilherme Costa, o Presidente da RTP, escreveu  no Público no início desta semana tem um sabor a balanço do trabalho feito. Pelo meio dos artigos percebia-se que o cenário de alguma forma de privatização anda no ar . Estes artigos vieram reforçar a convicção, expressa em círculos governamentais, de que seria melhor privatizar antes das próximas eleições – não só para moldar a privatização, mas também para poder haver ainda alguma palavra na escolha de quem possa vir a ficar com o sector ou sectores da RTP que forem privatizados. Quer-me parecer que ainda vamos assistir a algumas surpresas, nesta matéria, nesta legislatura.


 


OUVIR- Em 1957 Thelonius Monk e John Coltrane, durante alguns meses, tocavam juntos num dos históricos locais do jazz em Nova York, o Five Spot Café. Nessa altura foram a estúdio e gravaram uma série dos temas que tocavam em conjunto habitualmente.  Estas gravações  ficaram por editar até 1961, ano em que foi lançado «Thelonius Monk With John Coltrane», considerado um dos melhores discos de jazz de sempre. O piano de Monk e o saxofone tenor de Coltrane encontraram-se de forma explosiva, num entendimento musical perfeito. É essa gravação histórica que a Universal agora reeditou na sua belíssima série Original Jazz Classics Remastered. Fantástico para ouvir nestas noites quentes.


 


LER- António Pinto Ribeiro, programador, investigador, responsável pelos ciclos «Próximo Futuro» na Gulbenkian, tem uma já numerosa obra publicada, predominantemente de ensaios. O seu novo livro, algo inesperado, chama-se «É Março E É Natal Em Ouagandougou» e apresenta-se como um «livro de viagens». É mais exacto dizer que é um diário de viagens  sem organização cronológica, e que evoca outros livros de viagem e outras literaturas, quase como um guia de locais acompanhado de bibliografia para cada circunstância. É, acima de tudo, um livro sobre memórias de locais, impressões de momentos, às vezes quase instantâneos escritos em vez de fotografados. É um bom retrato de sensações – desde a paixão evidente por África à sensualidade de Buenos Aires. A última página é de Lisboa, numa passagem de ano, no Lux, a fazer lembrar o esplendor de Veneza no século XVI.


 


DESCOBRIR- A única forma possível de descobrir o que se passa na capa da edição 43 da revista «Egoísta», que tem por tema a «Liberdade», é colocar a revista dentro de um forno micro-ondas a 500 watts durante 10 segundos. Só aí aparece a imagem de capa – verdadeiramente esta é uma capa que precisa de ser descoberta. Se não tiver micro-ondas contente-se com o interior e não fica anda mal – gosto muito da história desenhada sobre a Mongólia de Rodrigo Prazeres Saias, do texto de Francisco José Viegas «O Navegador Que Morreu À Espera da Primavera», da «Metamorfose» de Rui Zink e das fotografias de João Carvalho Pina. A «Egoísta», cujo Director é Mário Assis Ferreira, deu uma bela festa esta semana para assinalar o seu décimo aniversário, com um concerto de Al Green no Casino Estoril - «Soul» tocada por grandes músicos.


 


PROVAR – Nestes dias de calor intenso fazem falta locais em Lisboa com boas saladas e sanduíches leves e frescas. Não é tempo de bifanas, menos ainda de tostas mistas, e as saladas de farrapos de frango com retalhos de alface salpicados com grãos de milho acabados de sair das latas também são muito pouco convincentes. Por isso mesmo venho aqui louvar a belíssima salada de peixe fria, sobre cama de feijão verde e bem rodeada de outros legumes, disponível na Bica do Sapato, apenas na renovada esplanada, agora bem protegida do vento e do sol. Esta salada é exactamente o modelo do que se pode fazer com bons ingredientes num dia de grande calor.


 


ARCO DA VELHA – Esta semana o país descobriu que em Alcochete o Sporting tinha um pomar de macieiras atacado por alguma praga de bichos – de tal forma que o respectivo presidente se reivindica especialista no tratamento de maçãs podres.


 


BACK TO BASICS – Razões fortes determinam acções fortes – William Shakespeare


 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 17:16

NO TAMARIZ

por falcao, em 09.07.10

(Publicado no diário Metro de dia 6 de Julho)


 


O espírito inventivo dos portugueses é extraordinário: logo que se soube dos distúrbios na praia do Tamariz houve logo quem se propusesse desenvolver um protector anti-cacetada com intensidade 40. A coisa terá a forma de um escudo que se pode também utilizar como guarda sol e como lança. Cada vez que começa a pancadaria usa-se o escudo para protecção e o cabo do dito como lança para repelir os mais afoitos.


A avaliar pelo estado do policiamento a nova invenção vai ter grande saída e não me espantava se ela começasse a aparecer de repente nas lojas chinesas da região, sempre tão rápidas a duplicar os produtos que têm grande procura do público.


Consta até que o Ministro Rui Pereira se vai colocar vestido de nadador salvador no meio da praia, acompanhado daquela comissária da PSP que faz de porta-voz da organização e que vai aparecer com o fato das miúdas da série marés vivas. Juntos vão fazer demonstrações de utilização do escudo protector. Está a decorrer uma reunião na presidência do Conselho de Ministros porque há alguns colegas de Rui Pereira que também querem participar na acção – supõe-se que querem também experimentar a sensação de uma luta corpo a corpo para se treinarem para as próximas reuniões do Conselho de Ministros, que se prevêem mais renhidas que o habitual, a propósito da elaboração do próximo Orçamento de Estado.


Quem já disse que não precisava do escudo para nada foi José Sócrates: optou por uma guarda pretoriana composta por Silva Pereira e Jorge Lacão, com apoio militarizado especial fornecido por Santos Silva, que para o efeito já escalou uma divisão de paraquedistas.


É de facto extraordinário como um incidente de fim de semana teve consequências tão vastas no Governo – sabemos de fonte segura que o caso perturbou vários membros do executivo quando estavam quase afundados dentro de água em diversas localidades do país, no meio de sessões de esclarecimento junto de bases do PS a propósito das SCUTs.


Sobre o assunto sabe-se que o líder parlamentar do PS, Francisco Assis, se limitou a perguntar - «querem que mande o Ricardo Rodrigues já para o Tamariz?».


 


 


 


 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 17:15

FUTEBOL – Agora que já não temos o espectro do resultado da selecção portuguesa,
falemos do Mundial como um negócio que alimenta outros negócios. Acima de qualquer
outra coisa, hoje em dia, uma prova como o Mundial de Futebol é um espectáculo que
fornece um conteúdo audiovisual precioso – aliás as grandes provas desportivas são
conteúdos audiovisuais de excelência. Existem algumas razões para isto. Em primeiro
lugar uma transmissão desportiva é o directo por excelência – vive do directo, do instante
em que acontece. Por mais graça que tenha ver resumos dos jogos, o interesse é saber
qual o resultado no exacto instante final de uma prova. Depois de se saber quem ganhou,
rever um jogo é um exercício de nostalgia, não é uma emoção. E, é pelo enorme peso
de emoção e de paixão que transporta, que uma grande prova desportiva é tão disputada
pelas televisões, e em breve por canais digitais e por aí fora.
Isto é verdade para o futebol, mas é também verdade, como nos Estados Unidos, para o
baseball ou para o basketball e - imagine-se – nalguns casos (os grandes torneios), até
para o golfe. Nos Estados Unidos há modalidades cujo desenrolar de jogo está quase
feito de forma perfeita para televisão – com pausas a tempos certos para emissão de
publicidade, com um ritmo que tem picos permanentes. O futebol ainda não é assim,
mas se analisarmos o que se tem passado neste Mundial percebe-se que algumas coisas
irão ter que mudar. Por exemplo não faz sentido que existam erros de arbitragem em
clara contradição com o que os espectadores vêem em casa nas repetições – sobretudo
quando há vastas regiões do mundo, na Ásia nomeadamente, onde o futebol começa a
ser popular. Os novos telespectadores – seja em idade, seja em adesão à modalidade –
terão dificuldade em perceber que podem ver um jogo em alta definição ou em 3D, mas
que os resultados do jogo podem ser falseados pela não utilização de meios técnicos pela
arbitragem. Não faz sentido que a FIFA esteja atenta às possibilidades de negócio das
novidades tecnológicas mas que continue a usar meios de arbitragem da primeira metade
do século XX.
A globalização do futebol tem efeitos curiosos. Basta ver como algumas grandes equipas
(Inglaterra, França, Itália e até Portugal) foram eliminadas nas primeiras fases do
Campeonato. Há uma série de países ainda em competição que seria impensável estarem
onde estão há uns anos atrás. Isto tem a ver com a globalização dos jogadores e o caso
da selecção portuguesa é bem elucidativo: muitos jogadores já não jogam em clubes
portugueses, muitos têm agendas próprias e o conceito de selecção nacional acaba por
ser um pouco forçado. Nem que seja do ponto de vista psicológico não deve ser fácil
a um português jogar contra a Espanha quando vive em Madrid e é pago por um clube
espanhol. Em contrapartida, países com poucas tradições no futebol e poucas grandes
estrelas internacionais, têm maior facilidade em montar equipas para as respectivas
selecções e em fazê-las jogar de forma mais coerente e eficaz.
O facto de o futebol ter alargado nos últimos 10 anos a sua capacidade de atracção de
públicos (como nos Estados Unidos e China), tem consequências directas numa série de
áreas que só podem existir porque a televisão leva o jogo a todo o lado: os patrocínios de
equipas e de jogadores, os patrocínios oficiais da própria FIFA, a publicidade a marcas
ligadas ao desporto, as próprias apostas online. O futebol deixou de ser um negócio
apenas da Europa e da América do Sul, passou a ser global, é um conteúdo cada vez
mais disputado e um veículo publicitário valioso. Tudo isto só funciona enquanto houver
emoção, disputa, resultados e vitórias claras. O futebol não é só um jogo: é espectáculo e
a sua gestão tem que ter isto em conta. Lá fora e, também, cá dentro de portas. Só que cá
dentro ainda há quem pense que o futebol deve ser encarado como uma negociata, em vez
de ser show business.



LER – Onde preferiria viver? Numa capital confortável ou numa cidade cosmopolita e
caótica? – a pergunta é o tema de capa da edição de Julho/Agosto da revista «Monocle»,
que inclui o relatório sobre a qualidade de vida nas 25 cidades que a revista coloca
entre as melhores. Lisboa aparece pelo segundo ano na 25ª posição, Madrid subiu para
a décima posição e Barcelona desceu duas posições para o 17º lugar. Um bom artigo
para qualquer autarca ler é a entrevista a Raymond Rybak, o mayor de Minneapolis, que
vai no seu terceiro mandato e é um exemplo de boas ideias e boas práticas. Outro artigo
muito interessante é sobre uma estação de rádio de Nova York, a Air, exclusivamente
dedicada ao mundo da cultura e do entretenimento. Finalmente assinale-se que a
produção de moda é fotografada no Porto, parte dela na casa de chá desenhada por Siza
Vieira e que existem belos portfolios fotográficos sobre Beirute, Istambul, Nápoles ,
Rio de Janeiro e Taipé – porquê? Porque não estão no top 25 mas porque têm tudo para
brevemente integrarem a lista.



VER – Há de tudo um pouco no novo ciclo de exposições inaugurado na semana passada
no edifício Transboavista (Rua da Boavista 84). O novo primeiro piso, a extensão da
Platafroma Revólver, continua a afirmar-se como um espaço cheio de potencialidades
e a colectiva «De Heróis Está o Inferno Cheio», ali exposta, é na minha opinião pessoal
a mostra mais interessante de entre o conjunto agora apresentado. Na Rock Gallery
está «Australia » de Joana da Conceição e na VPF Cream art gallery está «Nude» de Inês
Pais. No piso 3 a Plataforma Revólver apresenta a colectiva «If I Can’t Dance, I Don’t
Want to be part of your Revolution».



OUVIR – Um dos melhores discos que me foi dado ouvir nos últimos tempos é «The
Bamboos – 4». Este belíssimo exemplo de soul, bem pontuado por sinais de funk, vem
da Austrália e é arrebatador. O melhor de tudo é que é um disco muito bem tocado,
feito com calor e paixão – sente-se que os músicos se estão a divertir e a passar um bom
bocado com a música que fazem e isso é obviamente contagiante. A energia e alegria que
este registo de estúdio dos Bamboos transmite é de facto inusitado nos dias que correm.
E o facto de a execução e interpretação serem brilhantes claro que ajuda – assim como a
bela voz de Kylie Auldist. CD Tru Thoughts, na Amazon.



IR – Estou aqui para um alerta: façam uma marcação nas vossas agendas – na sexta feira
da semana que vem, dia 9, a grande e única Dee Dee Bridgewater actua no Estoril Jazz,
com o seu espectáculo de homengem a Billie Holiday. Outros pontos altos do Festival:
sábado dia 3 o quinteto do trompetista Wallace Roney, no Domingo dia 4 o Quarteto
de Charles Loyd e no Domingo 11 de Julho o quarteto da saxofonista e contrabaixista
Esperanza Spalding.



PROVAR – Existem bastantes restaurantes italianos em Lisboa, mas poucos como
o Bella Lisa, na Visconde de Valmor 65 A. O destaque vai para as massas frescas
(disponíveis ao jantar) e, em especial para o spaghetti com gambas e rúcula, para o
spaghetti vongole (com amêijoas) e para o tagliatelli com açafrão e gambas. Os risottos
– uma prova difícil para a generalidade dos restaurantes lisboetas – também sobrevivem
neste local. A salada caprese é uma entrada generosa que pode ser dividida, há um
belíssimo e fresco prosecco da casa que se recomenda. O restaurante tem zona de
fumadores, a sala é atraente e colorida q.b., o serviço é bom e vê-se que na cozinha
existe mão italiana. Ao almoço vale a pena ver as sugestões do dia, que também incluem
algumas especialidades pouco usuais como involtini de peixe. Reservas pelo tel. 217 979
026.



ARCO DA VELHA – Depois de afirmar querer cobrar portagens nas SCUTs o governo
apresentou um plano para isentar de portagens 46 concelhos – gostava de perceber que
percentagem isto representa nas receitas iniciais previstas.



BACK TO BASICS – «O homem que vê os dois lados de uma questão é um homem
que não vê absolutamente nada» - Oscar Wilde



www.twitter.com/mfalcao
mfalcao@gmail.com
www.aesquinadorio.blogs.sapo.pt

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:00


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2005
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2004
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D
  274. 2003
  275. J
  276. F
  277. M
  278. A
  279. M
  280. J
  281. J
  282. A
  283. S
  284. O
  285. N
  286. D