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DESABAFO - Não sei bem que vos diga. A OCDE olha para as previsões que a troika obrigou o Governo a assumir, comenta o assunto com desprezo e ouve-se um sibilino  “ni hablar”. Por todo o lado vejo anúncios de greves e constato que o novo lider da UGT se deixou cair na tentação de deixar de ter agenda e posição própria. Por estes dias decorre uma reunião de esquerdas cujo programa é evitar qualquer mudança - e dou comigo a concordar com um texto de Henrique Monteiro, no site do Expresso, onde ele elabora sobre o conservadorismo de uma esquerda que se preocupa mais com a própria defesa do que em olhar para os desprotegidos da sociedade. Um pouco à frente leio que os professores vão fazer greve no dia dos exames, e pergunto-me se não lhes ocorre que estão a desprezar os alunos. No Governo vou vendo que Passos Coelho vai metendo umas discretas farpas em Vitor Gaspar a propósito da CGD e do prazo de cumprimento da meta do défice, e sinto um ruidoso mar de silêncio da maioria do elenco do executivo, como se eles próprios tivessem já baixado os braços. Se olhar para a acção do Governo nestes meses vejo um rasto de destruição, mas muito poucos sinais de alguma coisa nova construída. Falo com pessoas de várias gerações que não encontram rumo, nem perspectiva, nem - e isto é o pior - vontade de ter confiança. Um amigo meu dizia-me há dias que a única luz ao fundo do túnel é a de uma locomotiva alemã que nos vai passar por cima. Começa a ser difícil não concordar com ele.


SEMANADA - No Porto e em Lisboa os respectivos Metros perdem dois milhões de passageiros por mês; em 2012 os transportes públicos perderam 45 milhões de passageiros; a polícia facturou este ano, até Maio, menos 1,3 milhões de euros em multas, comparado com o mesmo período do ano passado; em 2012 mais de metade dos contribuintes não pagaram IRS e apenas 26% das empresas pagaram IRC; um quinto dos contribuintes suporta mais de 70% das receitas do IRS; no presente ano lectivo 279 cursos superiores tiveram menos de 20 inscritos; o Museu do Brinquedo em Sintra, que conta com 60 mil peças, está em risco de fechar; a dívida pública portuguesa detida pelos bancos cresceu 250% entre 2009 e início de 2012; a TVI afirma ter perdido oito milhões de euros devido aos resultados, que contesta desde o início, do painel de audiências criado pela GFK em 2012; registos de compra de casa caíram 74% desde 2009 ; em Lisboa há 2000 pessoas que dormem na rua;  PS somou 20 mil novos militantes nos últimos dois anos; as instâncias europeias deram mais um ano a Portugal para atingir a meta do défice, mas deram mais dois anos à França, Espanha, Polónia e Eslovénia; François Hollande disse que não será a Comissão Europeia a ditar à França o que o país deve fazer; a OCDE considerou "improváveis" as metas orçamentais portuguesas para 2013 e 2014 acordadas com a troika.


ARCO DA VELHA - Em Vinhais uma professora foi acusada de morder um aluno de sete anos “para mostrar como dói”, depois de a criança ter mordido um colega.

VER - Na galeria João Esteves de Oliveira estão por estes dias dois autores, Jorge Nesbitt e Ângela Dias sob o título “Dois Em Um”. Nesbitt abandona aqui o rumo dos seus trabalhos anteriores e apresenta guaches, simples, a lembrar exercícios de formas e cores, com algo de oriental. Ângela Dias faz desenhos em que se desenrolam pequenas histórias e as obras que expõe são baseadas na combinação da escrita com a imagem, palavras desenhadas em torno de figuras, folhas que evocam páginas de cadernos ou de um diário, graficamente muito apuradas, envolventes e algo misteriosas - num contraste com desenhos de maiores dimensões que parecem anunciar personagens recorrentes das histórias desenhadas. Até 28 de Junho, de terça a sábado, na Rua Ivens 38.


OUVIR- Jamie Cullum deixou-se de citar os clássicos do jazz vocal e, ao sexto álbum, fez o seu disco mais atrevido - e interessante: “Momentum”. Ouso dizer que isto é um trabalho pop, como era o jazz que se dançava e enchia as noites de ritmo. Aqui estão truques dos melhores cancioneiros da música popular, com recurso às sonoridades dos velhos sintetizadores. Tudo isto é particularmente saliente na sua versão de um clássico de Cole Porter, “Love For Sale”, onde introduz  um espírito funk com toques de hip hop, que aliás aproveita bem um sample da voz de Roots Manuya, tudo pontuado pelo solo do próprio Collum num Fender Rhodes. Destaco ainda temas como o “The Same Things”, a faixa de abertura cheia de sonoridades de Nova Orleãs ou o intenso  e , digo eu, esmagador “Edge of Something” onde vale a pena ouvir com atenção os pormenores da percussão. “Anyway” e “Take Me Out (Of Myself) são mais dois temas pop perfeitos - já para não falar de uma balada arrasadora que dá pelo nome de “Save Your Soul”. CD Island/Universal.


FOLHEAR - A edição de Junho da “Vanity Fair” traz Bradd Pitt na capa, a propósito da aventura de 200 milhões de dolares que foi fazer o seu novo filme “World War Z”. que ele andou a preparar e a produzir desde 2006. Se contarmos com os custos de pós-produção e marketing o filme precisa de facturar 400 milhões de dolares no mundo inteiro para fazer break-even. Fazendo jus à fama de ter os melhores jornalistas de negócios a contarem histórias de dinheiro nas suas páginas, esta Vanity Fair conta a épica aventura da venda do Instagram ao Facebook, mas o prato forte é a história dos feitos de Steve Cohen, o fundador do hedge fund de 14 mil milhões de dolares SAC Capital e a forma como está a ser investigado pelo procurador Preet Bharara que se tem dedicado, com sucesso e várias detenções no activo, a casos de inside trading ao longo dos últimos sete anos. Um ponto de situação sobre a vida de Carla Bruni fora do Palácio do Eliseu e uma investigação sobre a noite em que Oscar Pistorius disparou sobre a sua namorada completam esta bela edição da “Vanity Fair”.


LER - Duas mulheres ao telefone, durante duas horas seguidas, falam de quê? A resposta está em “Quando A Chuva Parar”, de Joana Pereira da Silva, uma argumentista que se estreia neste formato de pequeno conto, numa nova colecção, com livros de menos de cem páginas, e que se destina a ser lida nas deslocações diárias. Se alguma vez sentiu desejo de ser mosca para ouvir uma conversa solta entre duas amigas, aqui está a forma de resolver essa vontadinha. Maria e Teresa desbobinam as suas memórias de juventude numa conversa que decorre enquanto Maria vem de carro, numa noite chuvosa, do Porto para Lisboa, depois de uma discussão com o marido. A escrita tem ritmo, imagina-se com facilidade duas actrizes a representar a situação. A ideia desta colecção é muito engraçada - livros que se lêem depressa, e a ideia deste livro em particular ainda é mais sedutora: espreitarmos uma conversa. A colecção chama-se “poucas palavras GRANDE FICÇÃO” e tem a chancela da Guerra e Paz.



PROVAR - Decididamente estou a fazer revisão da matéria dada - num regresso ao “Apuradinho”, em Campolide, tirei a barriga de misérias com um dos meus petiscos preferidos: pivetes. Para quem não sabe, pivetes são os bocados de rabo de boi, devidamente cozinhados, estufados. No “Apuradinho” pode pedi-los com osso ou desossados, só com a carne a navegar no molho, saborosíssimo. Para a mesa vem um tachinho com os pivetes , acompanhados por puré de batata caseiro. A combinação é fantástica e é um verdadeiro exemplo da arte culinária ribatejana - já que o petisco se fez gente por lá. O “Apuradinho” fica na Rua de Campolide 209 e tem o telefone 213 880 501. Na minha lista de preferências desta casa estão também as iscas e os pastéis de bacalhau - daqueles de chorar por mais, acabadinhos de fazer, acompanhados por arroz solto de tomate.


DIXIT - «Às vezes acordo e constato que vivo num país onde o primeiro-ministro é Passos Coelho, o candidato à sua substituição é António José Seguro e o Presidente da República é Cavaco Silva. Só pode ser um pesadelo” - Miguel Sousa Tavares, no “Expresso”.


GOSTO- Da actuação do Secretário de Estado do Turismo, a facilitar o acesso às actividades merítimo-portuárias para combater a sazonalidade da procura turística no litoral.


NÃO GOSTO - Da reacção da Presidência da República a uma entrevista de Miguel Sousa Tavares, indo fazer queixinhas à Procuradoria Geral da República.


BACK TO BASICS - Devemos perdoar sempre aos nossos inimigos, isso é o que mais os irrita - Oscar Wilde

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publicado às 18:10

NO REINO DAS EXPERIÊNCIAS

por falcao, em 28.05.13

Quando olho para a actividade do principal partido do Governo e para a do principal partido da oposição tenho a estranha sensação que os respectivos líderes se esqueceram de que o seu trabalho devia ser desenvolver políticas e discutir política. Em vez disso vou assistindo a umas discussões, muitas vezes bizantinas, um a dizer que tem de se fazer, o outro a dizer que não se pode fazer. Estes dois líderes são hábeis na resposta, prolixos na guerrinha de soundbytes, mas muito fraquinhos na construção de políticas – o que, necessariamente passa pela construção de acordos e de pontes. Fico com a sensação que os dois, Passos e Seguro, preferem a intriga palaciana para a manutenção do poder ao exercício de facto da acção política, no sentido da resolução dos problemas e da construção de soluções.

 

É desesperante ver como estes políticos dos dois maiores partidos preferem escudar-se atrás de receitas, do que pensarem um pouco na realidade e construírem propostas objectivas a partir de dados objectivos. O desfasamento que ambos mostram frente à realidade das pessoas e do país é confrangedor – um porque acha que a solução está em evitar a mudança, o outro porque segue instruções para uma mudança tão rápida e tão grande que qualquer dia acaba com as pessoas. A actividade política é suposta evitar situações destas, não é suposta proteger experiências ditadas sabe-se lá de onde. Por estes dias Rui Zink postou no Facebook uma frase que resume na perfeição a situação que vivemos: “Povo, à beira-mar plantado, e bem amestrado, aluga-se para experiências científicas. Sigilo assegurado.”

 

(Publicado no diário Metro de 28 de Maio)

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publicado às 16:06

MUDE - O Museu do Design e da Moda, MUDE, tem tido uma actividade assinalável, fruto da equipa dirigida por Bárbara Coutinho, que soube bem exponenciar o núcleo inicial da Colecção Capelo, assegurado ainda antes de António Costa ser Presidente da Câmara. A António Costa coube a instalação do MUDE no antigo edifício sede do Banco Nacional Ultramarino, na Rua Augusta - o edifício estava em péssimas condições e foi assumidamente usado “em bruto” pelo MUDE, com intervenções mínimas, fruto de um acordo entre a Câmara e a CGD, que detinha o imóvel. Por estes dias António Costa anunciou ir investir dez milhões de euros na reabilitação do edifício, num projeto que irá ampliar a área do Museu para os oito pisos do edifício, num total de 15 mil metros quadrados. Eu percebo que António Costa queira desenvolver o que começou, em plena baixa da cidade. Mas não deixo de sentir alguma estranheza por não se ter aproveitado esta oportunidade - e este investimento - para resolver a questão do Pavilhão de Portugal - questão que ainda fica mais saliente agora que passam 15 anos sobre a realização da EXPO. Faz pena que o edifício de Siza Vieira, concebido para ser um local de acolhimento de exposições, com características ideais para isso, e com infra estruturas de armazenamento de obras de arte, esteja praticamente abandonado e a degradar-se. A questão que se põe é a de ter abertura de espírito suficiente para equacionar fazer reviver o edifício com uma colecção e actividade como a do MUDE, fomentando as ligações à indústria e à universidade, e enriquecendo o pólo oriental da cidade. Os dez milhões para recuperar o edifício do BNU não poderiam ser melhor utilizados para dar uma utilidade consentânea com o projecto inicial do pavilhão de Portugal? Nunca é tarde para mudar de rumo. Bem sei que o problema central da não utilização do pavilhão de Portugal é saber quem assume o custo do edifício - mas será que um problema de engenharia financeira do Estado vai condenar à degradação e inutilidade aquele espaço?


SEMANADA - O Conselho de Estado, convocado para debater o futuro, esteve sete horas reunido e produziu um comunicado que é uma lista de tarefas para o presente; o pós-troika no pós-Conselho de Estado resume-se a análises sobre timing de remodelação no Governo, saída de Vitor Gaspar para Comissário Europeu e prazo para a ruptura da coligação; o conteúdo da reunião do Conselho de Estado foi tornado público nos jornais no espaço de 24 horas, e contribuíu, muito mais do que o vago comunicado oficial, para se perceber o que foi discutido; o banco central alemão deu orientações sobre o Banco Central Europeu e sobre a política do Governo francês; entre a chegada da troika e a sua partida prevista,  o desemprego deverá ter aumentado 60,9%, o PIB deverá encolher 5,8%, o investimento cairá 28,3% e o consumo privado cairá 6,7% - mas em compensação a dívida pública terá aumentado 24% e os juros da dívida terão um aujmento de 47,7%; Portugal está no top 5 europeu na compra de BMW, Mercedes e Audi; o ministro alemão das Finanças encontrou-se com Vitor Gaspar e teceu-lhe rasgados elogios; o Ministro Miguel Poiares Maduro encomendou um estudo sobre a melhoria das formas de comunicação do Governo e exortou “a comunidade política a contribuir para um discurso público mais construtivo e informado”.


ARCO DA VELHA - O Estoril teve 45 pontos na Liga e gastou três milhões de euros nesta época, enquanto o Sporting ficou atrás, com 42 pontos, e gastou 68 milhões - feitas as contas cada ponto custou ao Estoril 67 mil euros e cada ponto custou ao Sporting 1,6 milhões, o mais elevado custo por ponto de todos os clubes da I Liga.



VER - António Sena da Silva foi um homem visual - o prazer do olhar era o seu modo de vida e isso reflectiu-se, do design à fotografia. No Torreão Nascente da Cordoaria, estão cerca de duas centenas de imagens numa exposição criada por Sérgio Mah, intitulada “Uma Antologia Fotográfica”, que estará patente até 4 de Agosto. Tenho a tentação de dizer que Sena da Silva foi aquilo a que os americanos chamam “street photographer” - até porque, como a exposição mostra, ele dedicou-se a retratar a evolução de Lisboa entre os anos 50 e os anos 70. Aqui está o quotidiano da cidade, das pessoas que a habitam e, quase sempre, do rio que nessa altura era uma presença não vista, nem vivida. A exposição ocupa completamente os dois pisos da Cordoaria e mostra várias fases do trabalho de Sena da Silva - formatos de negativo diferentes, máquinas diversas, um uso impoluto do preto e branco e um uso discreto e contido da côr. O rigor do enquadramento é uma constante, quer fotografe paisagens urbanas, ou o campo, ou máquinas, ou fábricas ou objectos. Esta é uma exposição que nos ajuda a reter a memória do tempo - e o trabalho de Sérgio Mah é um exemplo de respeito pela obra, um exemplo do prazer de dar a descobrir o encanto da imagem fotográfica.


OUVIR- Até aqui “The Heart Of The Matter” era uma novela discreta de Graham Greene, escrita no final da década de 40. Agora é também um disco de Jane Monheit em que a sua versão da fusão de duas canções dos Beatles, “The Long And Winding Road” e “Golden Slumbers”, se torna fatalmente um ponto de atracção. Mas é em “Born To Be Blue” de Mel Tormé ,ou “When She Loved Me” de Randy Newman, que ela verdadeiramente mostra a sua versatilidade e capacidade de interpretação - que se faz ainda notar em dois temas de Ivan Lins, “Depende de Nós” e “A Gente Merece Ser Feliz”. Em “The Two Lonely People”, de Bill Evans, Monheit mostra como não receia mostrar a voz quase sem presença instrumental, uma voz às vezes tímida, outra à beira de um lamento. Os arranjos, no entanto, são parte importante deste álbum, assinados pelo teclista Gil Goldstein, que com o baterista Rick Montalbano e o guitarrista Romero Lubambo, asseguram um suporte musical digno de destaque. (CD Emarcy/Universal).


FOLHEAR - O jornal “Próximo Futuro” é uma das mais interessantes publicações de instituições culturais. É um jornal que a Gulbenkian edita para acompanhar o seu programa “Próximo Futuro”, coordenado por António Pinto Ribeiro. São 40 páginas, distribuídas na Fundação e disponíveis em versão electrónica em www.proximofuturo.gulbenkian.pt . A edição agora em distribuição, a nº 13,  anuncia o novo ciclo de programação de Junho e Julho e tem na capa uma obra impressionante do artista sul-africano Conrad Botes. Lá dentro um belo texto de António Pinto Ribeiro com o provocador título : “Lamento dizer-vos mas somos todos africanos”, citando a frase de abertura da intervenção de Desmond Tutu na Gulbenkian, no ano passado. A nova programação tem em destaque uma festa da Literatura e do Pensamento do Sul da África, a exposição dos Encontros de fotografia de Bamako, um ciclo de cinema com uma dúzia de filmes e bailes na garagem com, por exemplo, o DJ Rui Miguel Abreu. Além disso estão previstos concertos com música da Tanzânia e uma espectáculo de dança baseado na marrabenta, entre muitas outras iniciativas, todas elas bem anunciadas neste jornal que tem um delicio espírito “fanzine” em technicolor.


PROVAR - A ementa de um bom restaurante deve ser uma obra em permanente transformação. No De Castro Elias é isso que acontece e agora há algumas novidades: começo por umas chamuças de massa filo, umas com queijo da beira e mel, outras com alheira e espinafres. Para fazer crescer água na boca há umas tostadas de cavala fumada com legumes salteados e uma açorda de cogumelos e enchidos. Nos pratos mais substanciais sugiro um entrecosto assado com arroz de forno ou uma perna de pato com canela e azeitona. Seguindo a recomendação da casa os petiscos foram acompanhados por um muito honesto vinho  Santos Lima, o “Confidencial” Reserva, a bom preço. E claro que há sempre os clássicos da casa - moelas picantes e feijão manteiga com ameijoas.  O De Castro Elias fica na Elias Garcia 180, e tem o telefone 217 979 214. Vale a pena reservar.


DIXIT - “Perante as sucessivas medidas da troika, que não dão resultado, eu, no mínimo, gritava” - Manuela Ferreira Leite


GOSTO - Do início da edição portuguesa da revista “Granta” - o tema “Eu” foi o escolhido para o primeiro número, que inclui textos de vários autores e um porfolio fotográfico de Daniel Blaufuks. A direcção é de Carlos Vaz Marques.

NÃO GOSTO - De uma  luta anti-austeridade conduzida por quem andou a promover gastos bem acima das possibilidades do país.

BACK TO BASICS - O riso é a mais antiga e mais terrível forma de crítica - Eça de Queiroz.

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publicado às 15:16

A JUNTA MÉDICA DE BELÉM

por falcao, em 21.05.13

O pós troika inicia-se em Junho do próximo ano, antes da conclusão da atual legislatura. Mas pelos vistos o Conselho de Estado, que vai decorrer poucas horas depois do momento em que escrevo estas linhas, na tarde de segunda-feira 20, debaterá a situação política geral dessa altura futura, em vez da situação do presente. É mais uma originalidade do processo. Há quem diga que a lógica de discutir o futuro tem a ver com a convicção, mais ou menos generalizada, que daqui a um ano, mais coisa menos coisa, já não será Pedro Passos Coelho o Primeiro-Ministro. Nunca fui grande fã de crónicas de mortes políticas anunciadas – que geralmente nunca são certeiras. E parece-me que era bem melhor ter a coragem de olhar para o que se passa. Esta é daquelas situações em que mais vale a pena falar da dor de dentes que temos agora do que da gangrena que, se calhar, pode existir daqui a um ano.

 

O Presidente da República faz malabarismos para, em simultâneo, se ir demarcado das políticas de Gaspar, para se manter sorridente a Paulo Portas, e para continuar a poder cavaquear com Seguro. É um equilíbrio difícil, este de manter pontes entre o presente e o futuro.  Este Conselho de Estado, que para uns vem tarde e que para outras vem com a ordem de trabalhos trocada, é mais um passo no imbróglio existente. A situação política está como a malfadada pneumonia que anda para aí: os remédios corriqueiros não a debelam e é preciso doses maciças de remédios muito fortes para amainar os sintomas. O ponto curioso disto tudo é saber se os doutores que se sentaram em Belém terão conseguido encontrar remédio que cure o paciente ou se optaram apenas por anestésicos e sonoríferos.

 

(publicado no diário Metro de terça  21 de Maio)

 

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publicado às 12:34

CONCORRÊNCIA INFORMATIVA

por falcao, em 17.05.13

Esta semana fui ver como se comportam os três canais informativos nas várias regiões do país, dentro dos espectadores qie têm televisão por subscrição e que são sensivelmente 2/3 do total. A nível nacional a SIC Notícias lidera estes canais informativos na sexta posição, seguida da TVI 24 na nona posição e da RTP Informação na 12ª. Na zona da Grande Lisboa a coisa é bem diferente – a SIC Notícias está em 5º lugar, a TVI 24 em 10º e a RTP Informação em 14ª. O melhor resultado da SIC Notícias é na zona sul, na quarta posição – a RTP Informação nem aparece nos 15 primeiros nesta região e a TVI 24 está na 8ª posição. A única região em que a TVI 24 consegue bater a SIC Notícias é a zona Centro, onde se coloca na 5ª posição, seguida da SIC Notícias na sexta posição e da RTP Informação na 13ª. Finalmente na zona norte a SIC Notícias aparece em 8º lugar, a TVI 24 em 9º e a RTP Informação em 12º. Na maior parte das regiões as preferências, excluindo os informativos e os generalistas, vão para o Hollywood, o Panda e o Disney Channel.

 

(Publicado dia 17 de Maio na revista Correio da manhã TV)

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publicado às 14:27

O PECADO ORIGINAL

por falcao, em 14.05.13

Qual a razão da recorrente instabilidade política a que se assiste em Portugal, ao clima, repetido em vários mandatos e com vários protagonistas, de desconfiança entre o Presidente da República e os Governos?  O novo livro de Pedro Santana Lopes chama-se “O Pecado Original” , dedica-se a analisar o choque constitucional entre Belém e São Bento ao longo dos anos e faz uma retrospetiva de como os vários Presidentes da República têm exercido os seus poderes. “O sistema de Governo da Constituição Portuguesa depende do discernimento de um homem só”– diz o autor, sublinhando que o Parlamento e o Governo dependem do Presidente da República e que “a Assembleia da República não dispõe de autoridade política equivalente, apesar de igualmente eleita por sufrágio direto e universal”. O resultado é que o sistema favorece “ um Presidente da República «que tome conta disto» ou «que deite isto abaixo», quando fôr o caso”.

 

Em jeito de conclusão, Santana Lopes escreve: “Importa clarificar o sistema semipresidencial: ou governa o Presidente (como em França), ou governa o Primeiro Ministro. Se é para o presidente governar, deve presidir ao Conselho de Ministros. Se não é, e se é o Governo que governa, a oposição deve estar – no que ao Estado respeita – no Parlamento. Nesse caso o Presidente só deve poder dissolver o Parlamento nas situações expressamente previstas na Constituição, deixando esse poder de ser discricionário”.

 

Isto quer dizer retirar do Presidente a capacidade de ser ele próprio oposição e a possibilidade que tem de demitir o Governo “para assegurar o normal funcionamento das instituições democráticas” – pretexto suficientemente amplo e que tem sido utilizado de forma discricionária. A polémica está lançada. E bem lançada.

 

(Publicado no diário Metro de dia 14 de Maio)

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publicado às 17:16

AUDIÊNCIAS -  Um dia se fará a história deste processo, a história de como se aumentou artificialmente o consumo de televisão, de como se aumentou o número de resultados indefinidos e se criaram distorções no mercado, como se fomentou a ruptura, como se pôs em causa a auto-regulação. Esta semana a RTP e a TVI deixaram a CAEM, a entidade que superintende na medição de audiências. Na origem estão todos os problemas com a audimetria da GFK. Vale a pena não esquecer quem desenhou e impulsionou o actual e polémico modelo, na altura em que o concurso para a nova audimetria foi lançado. Vale a pena não apagar a memória do que foi este processo, do papel desempenhado por cada protagonista, das divisões que provocou, dos erros causados e, eventualmente, dos prejuízos provocados. Teria sido possível encontrar equilíbrios entre a GFK e a Marktest e teria sido possível evitar a saída da RTP e TVI se tivesse havido mais bom senso. Para memória futura vejamos as diferenças verificadas na medição de audiências de televisão no primeiro trimestre deste ano. No painel da CAEM/GFK, a RTP1 obteve 12% de share, a RTP2 teve2,7, a SIC atingiu 23,2 e a TVI 25,7, enquanto o conjunto dos canais de cabo alcançou 24,9% e o conjunto de “outros” não identificados teve 11,5%. Mas no painel da Marktest/Kantar os números são um pouco diferentes: 16,6% para a RTP1, 2,2% para a RTP2, 23% para a SIC e 27,5% para a TVI, enquanto o cabo ficou nos 25% e os “outros” não identificados em apenas 5,8%. Como se vê persistem as diferenças, com sobrevalorização na CAEM/GFK dos não identificados, e diferenças, para menos,  na RTP1 (4,6%) e TVI (2,5%). Esta semana foi eleita nova direcção para a CAEM, espera-se que seja capaz de voltar a colocar o processo nos carris. E que volte a imperar o bom senso e se corrijam as anormalidades técnicas que persistem em existir.


SEMANADA - Passos Coelho anuncia várias novas medidas; Paulo Portas convoca imprensa para comunicação; Passos Coelho diz que Portas participou ativamente na elaboração das medidas; Paulo Portas vem dizer que foi e será sempre contra uma das medidas anunciadas; na sua crónica na SIC Marques Mendes afirmou saber que vai ser convocado a curto prazo o Conselho de Estado; Aguiar Branco, Ministro da Defesa, disse que o Governo está coeso e que o CDS está tranquilo; Fernando Seara disse que Paulo Portas assumiu uma posição muito respeitada em defesa dos pensionistas; o Ministro Poiares Maduro disse, na sua primeira entrevista, não ver na taxa suplementar sobre os pensionistas, divergência entre Passos Coelho e Paulo Portas; Pedro Passos Coelho disse à UGT que afinal não haverá nova taxa sobre os pensionistas; o novo secretário de Estado do Desporto decidiu, dez dias depois de tomar posse, conceder benefícios fiscais a quem der donativos ao clube de que é sócio, o Vitória de Guimarães;


ARCO DA VELHA - Angela Merkel confessou, numa entrevista, que tem “certas capacidades de camelo” que lhe fazem aumentar a resistência, disse-se atraída por homens “de olhos bonitos” e admitiu que um dos seus desejos secretos é cortar lenha.

VER - Muita actividade na Gulbenkian, justifica-se passar lá algum tempo. Para além da exposição documental sobre a vida e a obra da escritora Clarice Lispector, “A Hora da Estrela”, destaque para a mostra de cerca de duas centenas de desenhos que integram “A Obra Perdida de Emmerico Nunes”, um desenhador e ilustrador português que publicou quase toda a sua obra em revistas alemãs, nas décadas de 10 e 20 do século passado - com um traço fino, de humor e de observação. Além disso, o Centro de Arte Moderna apresenta  “Gálapagos”, o resultado de uma residência artística ali realizada, patrocinada pela Fundação em parecria com a Fundação Charles Darwin e o Museu de História Natural de Londres. E finalmente vale a pena ver “360º - Ciência Descoberta”,   uma exposição sobre a ciência ibérica na época dos descobrimentos, que apresenta os desenvolvimentos científicos e técnicos associados às grandes viagens oceânicas de Portugueses e Espanhóis nos séculos XV e XVI, e o impacto que causaram na ciência europeia. Por fim, se quiser petiscar tem ali ao lado a Cafetaria do Centro de Arte Moderna, que está com uma nova dinâmica - que se nota aliás no Facebook.


OUVIR- “O Grande Medo do Pequeno Mundo” é o terceiro álbum de Samuel Úria e começa logo assim: “Duplas Falsas Partidas/São motins contra quem/ Usa pólvora seca/ Para fazer-nos correr”. Úria é dos casos mais interessantes, surgidos nos últimos anos, a escrever canções em português e as suas letras são um exemplo do que a nossa língua permite fazer - falando de temas actuais, de estados de espírito, com ritmo, com sonoridade. Às vezes conta histórias, noutras deixa recados. A sua voz molda-se bem com as palavras e o seu caminho musical vai ficando mais coerente com a forma de cantar as palavras que usa. Confesso que gostava de ouvir outros cantores interpretarem algumas destas canções e também gostava de ouvir Úria, por exemplo, a cantar versões de alguns temas de Sérgio Godinho. Uma coisa é certa: não há, fora do fado,muita gente a percorrer, com esta qualidade e consistência, os caminhos das novas canções cantadas em português. Podia ser melhor, é imperfeito q.b. Mas isso abre a possibilidade de um dia destes conseguir dar o salto. Falta-lhe método e produção - o que, esclareça-se, não deve querer dizer complicação e sim contenção e força.


FOLHEAR - A Madeira foi das primeiras regiões do país onde a fotografia se desenvolveu, praticamente desde a sua descoberta, na primeira metade do século XIX - e isto pela mão fundamentalmente de dois estúdios: Vicentes Photographos e Perestrellos Photographos, a que rapidamente se adicionaram João Francisco Camacho, Augusto Maria Camacho , Augusto César dos Santos e Joaquim Augusto de Sousa. O mais notável é a qualidade do trabalho - estético e técnico - da maioria do trabalho destes fotógrafos madeirenses. Em 1982, nasce “A Photographia- Museu Vicentes”, na casa onde estava instalado o estúdio do mesmo nome. Hoje em dia estão lá depositados e conservados cerca de 800 mil negativos que são um testemunho da vida do arquipélado durante mais de uma centena de anos, desde meados do século XIX. Por iniciativa da delegação regional da Madeira da Ordem dos Economistas foi editado um livro intitulado “As Origens do Turismo Madeirense- Quintas e Hotéis do acervo da Photographia Museu Vicentes”. É um álbum fascinante e ao longo das suas 180 páginas vemos a evolução da ilha, a transformação da sua paisagem, os grandes marcos do tursimo madeirense, desde as quintas de aluguer onde se hospedavam os primeiros visitantes até ao campo de golfe do Santo da Serra e respectiva Casa de Chá, passando, claro pelo histórico Hotel Reid’s e os outros grandes hotéis madeirenses construídos na primeira metade do século XX. A obra, já nas livrarias, mostra imagens registadas entre cerca  1870 e o final dos anos 50 do século passado.


PROVAR - Gosto de bons pequenos almoços, tomados com calma e de preferência em casa. Aos fins de semana permito-me uma pequena indulgência: torradas em bom pão, obviamente com manteiga. O pão alentejano, de Beja, da padaria “Fermentopão”, que se encontra com alguma facilidade nos supermercados lisboetas é a minha primeira escolha. Mas quando não o encontro há uma boa alternativa , da península de Setúbal, perto de Palmela, que é o pão da Lagoinha, e que também se encontra, igualmente fresco, em alguns supermercados. Para a coisa ficar completa prefiro manteiga dos Açores e as minhas duas escolhas vão para a manteiga Nova Açores, que tem boa distribuição em supermercados, e na mais artesanal (e mais aborosa)  Manteiga Uniflores (produzida pelas Cooperativa Ocidental na da Ilha das Flores) e que se pode encontras na Mercearia Criativa, da Avenida Guerra Junqueiro em Lisboa. E assim se começa bem o dia.


DIXIT - Pedro Passos Coelho e Paulo Portas fizeram “dois discursos de Primeiro Ministro sobre a mesma matéria,mas o do líder do CDS é bem melhor” - Marcelo Rebelo de Sousa.


GOSTO - Da análise feita no livro “Pecado Original” em que Santana Lopes aborda o funcionamento da Presidência da República no nossos sistema político.

NÃO GOSTO - Emigração portuguesa para a Alemanha aumentou 43% no último ano.

BACK TO BASICS - A Democracia é aquilo que permite que sejamos governados à medida daquilo que merecemos - George Bernard Shaw

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publicado às 11:36

(DES) GOVERNO

por falcao, em 07.05.13

Aqui vai um pequeno resumo dos últimos quinze dias: há cerca de semana e meia uma discussão interna no Conselho de Ministros tornou-se pública em 24 horas. Na semana passada o Primeiro Ministro anunciou uma série de medidas na quinta-feira à noite, teoricamente aprovadas em Conselho de Ministros, e o líder do CDS/PP, Paulo Portas, anunciou logo de seguida uma conferência de imprensa, para Domingo, onde se iria pronunciar sobre as referidas medidas.

 

Pouco depois desta informação, Passos Coelho elogiou o seu parceiro de coligação e disse que Paulo Portas tinha participado ativamente na elaboração das medidas anunciadas. No Domingo Paulo Portas declarou ser contra as novas taxas sobre os pensionistas, pondo assim em causa uma das medidas anunciadas por Passos Coelho.

 

Ficou claro que está a decorrer uma partida de xadrez em que cada um dos jogadores faz movimentos cuidadosamente planeados, tentando colocar o outro em xeque. Para complicar o jogo Marques Mendes resolveu iniciar uma simultânea e abriu novo tabuleiro, para anunciar que vai ser convocado um Conselho de Estado.


Como bem escreveu, ontem, Pedro Santos Guerreiro no seu Editorial no “Jornal de Negócios”, o Governo está a ficar ingovernável. Na última semana ficou evidente que Paulo Portas está a acelerar o movimento do seu reposicionamento, colocando o CDS/PP no papel de charneira indispensável para assegurar existência de uma maioria – não se vá dar o caso de haver uma crise e surgirem eleições com uma vitória do PS.


Na realidade, na conjuntura actual, nem PS nem PSD podem governar sozinhos – os dois partidos precisam de Portas e ele sabe disso. Algo me diz que esta vai ser uma longa partida de xadrez e ninguém pode dizer que sabe qual será o seu desfecho.

 


(Publicado na edição de hoje do diário METRO)

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publicado às 11:25

O TRABALHO DESAPARECE?

por falcao, em 03.05.13

TRABALHO - O nível de desemprego na Europa e na União Europeia é preocupante. Noutras regiões do globo não é especialmente melhor. E a má notícia é que o Mundo se encontra num, ponto de viragem em que a criação de novas indústrias não quer necessariamente dizer a criação de um número significativo de novos postos de trabalho. Nos Estados Unidos e em vários países da Europa estão a regressar indústrias que tinham sido deslocalizadas para outras regiões - e esse regresso ocorre quer por razões de logística, de eficiência ou de qualidade. Mas as novas fábricas têm mais robots e menos pessoas, e o regresso da indústria não quer dizer um retomar do emprego. Ao virar da esquina está a revolução das impressoras 3D, que num futuro não demasiado distante poderão fabricar pequenas peças ou máquinas inteiras praticamente sem intervenção humana. Estamos numa encruzilhada - e saber qual o rumo a seguir para fazer crescer o emprego e dinamizar a economia não vai funcionar com as receitas das últimas décadas. E é sobre isto que temos que pensar e encontrar o nosso caminho, a partir dos nossos recursos e do nosso talento.


SEMANADA - O actual nível de emprego é o mais baixo desde 1997; os países periféricos pesam 44% no total dos desempregados da Europa; na zona Euro há 19 milhões de pessoas sem trabalho; a circulação dos jornais diários generalistas em Portugal caíu 10%; a Comissão Nacional de Proteção de Dados considera que a Autoridade Tributária está a recolher informações que extravasam os dados relevantes para efeitos fiscais; Mário Soares acusou Cavaco de fazer um discurso inconstitucional; Vitor Gaspar apelou ao consenso e criticou a “política de mentira”; a dívida das empresas públicas duplicou entre 2007 e 2012; O Primeiro Ministro anunciou que há grande coesão no Governo; Pedro Passos Coelho afirmou que quase 78% do que o Estado gasta são salários, transferências sociais e juros da dívida pública; Portugal registou em 2010 e 2011 o maior aumento da carga fiscal na União Europeia; o “Correio da Manhã” reportou que Sócrates fez o seu exame final de inglês técnico num restaurante do Bairro Alto, numa conversa ao almoço com o respectivo professor; um ex-deputado do PS processou a Assembleia da República para tentar receber uma subvenção vitalícia; o sistema de vigilância da cadeia de Faro está desligado há quatro anos por falta de manutenção.     


ARCO DA VELHA - Os grandes bancos que venderam “swaps” às empresas públicas são quase todos assessores financeiros do Estado

VER - Esta semana sugiro 3 ideias de fotografia, bem diferentes. Na Fundação EDP, Museu da Electricidade, está a exposição anual do World Press Photo, uma das mostras de fotografia que mais público atrai e que apresenta os melhores trabalhos de fotojornalismo escolhidos por um júri internacional -  teoricamente mostra o melhor da foto reportagem de todo o mundo. Noutro registo sugiro uma ida à recentemente inaugurada “Pequena Galeria“, que fica na Avenida 24 de Julho nº 4C, perto da Praça D. Luis - que apresenta uma exposição designada “O Grupo de Évora” e que agrupa trabalhos de António Carrapato, João Cutileiro, Pedro Lobo e José M. Rodrigues. E, finalmente, para algo completamente diferente, na Galeria João Esteves de Oliveira (Rua Ivens nº 38  ) durante meia dúzia de dias - de 7 a 11 de Maio -  pode ver uma recolha de fotografias de trabalhos de Rui Chafes, o artista convidado este ano para oprojecto dedicado ao Espaço Público e à Arte Pública do Chiado e da Baixa.


OUVIR-  “Mosquito”, o quarto álbum dos norte-americanos Yeah Yeah Yeahs, podia estar nesta coluna na secção “Back To Basics”. O seu álbum de 2009, “It’s Blitz!” acabou por não corresponder às expectativas comerciais que a banda tinha colocado e este “Mosquito” fecha o círculo, regressando ao início da história, há uma década. “Area 52”, um dos melhores temas do disco, é bem exemplo disso e vive de evocações do próprio passado, mas também dos Stooges ou Cramps, por exemplo - e a faixa título, “Mosquito”, evoca a tradição musical de Nova York, a cidade onde a banda agora regressou. Há hinos, como “Sacrilege”, há um piscar de olhos a outras músicas como em “Buried Alive”, que conta com a colaboração do rapper Kool Keith/Dr. Octagon e há um retrato de Nova York em “Subway”. Karen O, Nick Zinner and Brian Chase estão de volta à sua cidade, onde aliás este álbum foi gravado numa cave desocupada - e fizeram um disco que bem pode ser um ajuste de contas com o passado e uma preparação para o pensam fazer no futuro. Eu confesso que gosto disto e tenho ouvido “Mosquito” um bom par de vezes nos últimos dias - é despretencioso, bem produzido e com uma sonoridade desafiante que nos faz pensar que mesmo depois das crises há esperança.


FOLHEAR - Um dos temas recorrentes da revista “Monocle” é o interesse por pequenos projectos de produçāo artesanal, seja de roupa, mobiliário, acessórios ou ... apitos metálicos e óculos de tartaruga. A edição de Maio da revista vem cheia de exemplos destes, feitos em Inglaterra, França, Dinamarca ou Espanha. Alguns destes projectos internacionalizam-se e ganham mercados inesperados - muitos sāo quase "case studies". E tanto podem ser uma produtora de filmes na Dinamarca que trabalha com uma equipa de dez pessoas até à oficina que faz móveis inesperados ou sapatos por medida. Todos têm em comum o facto de fazerem a aliança entre design contemporâneo e métodos de produçāo artesanais, mas sem esquecer as facilidades dadas pela técnica. Em comum têm também a presença humana - na criatividade, na atenção ao pormenor. São pequenas empresas que desenvolvem novos projectos nas mais diversas áreas, das mais tecnológicas às mais simples e tradicionais. Dão emprego, contribuem para a economia, utilizam mão de obra local. Esta edição está cheia de exemplos destes. O tema forte de capa desta “Monocle” de Maio é a guerra de audiências nos programas matinais de rádio e televisão, mostrando a partir da concorrência desenfreada que se passa nos nossos antípodas, na Austrália. Pode parecer um tema esotérico, mas a verdade é que o espaço da manhã, nas estações de televisão e da rádio está a ser no novo prime time, um dos poucos momentos em que as pessoas estão menos ligadas à internet e ao Facebook, esse grande concorrente na partilha dos sofás ao fim do dia. Outros registos dignos de nota dizem respeito ao novo protagonismo de Londres no campo da fotografia - desde uma nova Feira a várias galerias. A revista tem um roteiro da cidade com todos os novos locais a não perder para quem gosta de fotografia.


PROVAR - Olivier Costa, o “chef” que se especializou em criar espaços de entretenimento onde se come bem, abriu agora o “Honra”, integralmente dedicado á tradição culinária portuguesa. Fica no novo Hotel Figueira - numa Praça da Figueira desleixada pela Câmara - esta semana quando lá fui o centro da praça estava um caos de sujidade e desleixo, cercado por grades municipais que envolviam cadeiras plásticas meio tombadas. Não imagino o que ali tenha acontecido, mas não é bonito de ser ver numa praça que quer agora captar turistas. Mas Olivier não tem culpa da preguiça dos vereadores camarários em exercício na área do espaço urbano e merece elogios por mostrar aos muitos estrangeiros que o visitam o que são ovos verdes, peixinhos da horta, lulas recheadas ou um simples bitoque - já para não falar dos travesseiros e pastéis de nata à hora do chá. Como sempre nos restaurantes de Olivier  a cozinha é honesta - se bem que aqui algumas frituras mereçam mais cuidado - nomeadamente a dos pastéis de nata. Mas o bitoque estava em muito boa forma com batatas fritas como deve ser e o polvo panado com arroz de feijão cumpria. Há cocktails de ginjinha e vinhos a copo das melhores precedências e a preço decente.  Praça da Figueira 16, telefone 210 194 154. Reserve, que a casa anda cheia e é bom ir à baixa jantar ou almoçar.


DIXIT - “Já engolimos todos os venenos sem efeito algum” - José Pacheco Pereira, na “Sábado”.


GOSTO- Da iniciativa de aulas interactivas de matemática para crianças, da Khan Academy, lançado pela Fundação PT no seu site, numa versão em português.


NÃO GOSTO -  Os prejuízos com swap são equivalentes a 10% da dívida das empresas públicas.


BACK TO BASICS - Os factos são terríveis; as estatísticas são mais maleáveis - Mark Twain.


(Publicado no Jornal de Negócios de  dia 3 de Maio)

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publicado às 14:26


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