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SOBRE O SENTIDO DO VOTO

por falcao, em 27.09.13


ABSTENÇÃO - Um amigo meu disse-me esta semana que não tem intenção de votar em Lisboa, onde vive, baseado numa máxima que tem seguido toda a vida: “voto em quem limpou, não voto em quem promete limpar, promessas leva-as o vento”. Eu não posso estar mais de acordo e faço minhas as suas palavras. Também não votarei. Ainda agravo mais os meus sentimentos quando olho à volta e vejo ruas muito alcatroadinhas de fresco após anos de buracos, e dou comigo a pensar: mais vale aproveitá-las antes que chegue a chuva forte e o alcatrão se comece a diluir no inverno, como é hábito e tradição lisboeta. Só daqui a quatro anos, nas autárquicas que hão-de vir, é que havemos de ter alcatrão novo como este, que é afinal o maior cartaz da campanha eleitoral - e que não é pago pelos partidos, mas pelos contribuintes. O período pré-eleitoral caracteriza-se por  promover rapidamente obras que há muito deviam ter sido feitas e por fazer toda a espécie de promessas. Por exemplo, Hernâni Dias, candidato do PSD à Câmara de Bragança, promete construir uma auto-estrada de Quintanilha até Zamora, em Espanha, num curioso caso de promessa de exportação de obra pública; e Miranda Calha, candidato do PS à freguesia de Belém/Restelo, garante  que, se ganhar, na sua Junta os estudantes terão cursos de mergulho e de carta de marinheiro, certamente inspirado pela vocação marítima emanada da Torre de Belém. Estas eleições hão-de ficar recordadas por slogans disparatados e pelo uso excessivo de photoshop em péssimos cartazes. Mas estas são também as eleições em que os partidos se abstiveram de clarificar a lei sobre os dinossauros autárquicos, em que a CNE se recusou a encarar a realidade e em que as televisões privadas resistiram a serem programadas pelos políticos. Nesta véspera de voto quero recordar o que  Antònio Sérgio Rosa de Carvalho escreveu no Público a 22 de Agosto: “O papel da cidadania participativa é o de exclusivamente estimular de forma critica e permanente a reforma do sistema de representatividade política e de representar, sem o constrangimento dos compromissos, as verdadeiras ansiedades dos cidadãos, transformados posteriormente em votantes.”




SEMANADA - A receita do IVA desceu 2% este ano; a colecta de IRS aumentou 30% ; o aumento da despesa com o subsídio de desemprego foi de 10%; o Tribunal da Relação do Porto absolveu um contribuinte que dirigiu um email classificando as Finanças de “ladrões”; o investimento público caíu 500 milhões de euros até Agosto; a dívida directa do Estado aumentou mais de 19 mil milhões de euros nos ultimos 12 meses; o numero de dormidas em hotéis de 5 e 4 estrelas aumentou 16,8% em Julho; o vencimento líquido médio em Portugal é de 803 euros; a revista Reader’s Digest fez um ranking de honestidade de 16 cidades e Lisboa ficou em ultimo lugar na devolução de carteiras perdidas; Álvaro Santos Pereira anunciou estar em fase avançada a escrita das suas memórias de dois anos no Governo e disse ter retomado a escrita de um romance; em 82% das câmaras municipais há um presidente ou vice presidente que se candidata de novo, há 151 presidentes recandidatos, há 20 Presidentes que substituíram os anteriores e que vão a votos pela primeira vez, e apenas 35 candidatos novos; o Índice da Economia Paralela de 2012, revela que o valor da economia paralela nesse ano foi de 44,28 mil milhões de euros, 26,74% do PIB, o que representa  um crescimento de mil milhões de euros face ao ano anterior.

ARCO DA VELHA - António Costa reclamou da decisão do Tribunal Constitucional que o obriga a entregar ao diário Publico um relatorio dos serviços camarários, pedido por um jornalista e que o Presidente da Câmara de Lisboa se recusa a fornecer. O relatorio, feito por um seu vereador, é sobre a adjudicação por ajuste directo, a um reduzido numero de empresas, de obras da autarquia. Como diz o cartaz, ele precisa de uns votos para continuar a fazer habilidades.


VER - O roteiro desta semana começa pela exposição “Youth Of Athens” da fotógrafa Pauliana Valente Pimentel, na Galeria Boavista (Rua da Boavista 50). Ao longo do tempo Pauliana Valente Pimentel tem vindo a desenvolver a abordagem aprofundada de temas contemporâneos através da imagem fotográfica (e também do video), um trabalho para além de uma reportagem de circunstância, mais próximo da tradição do ensaio fotográfico que se foi perdendo com a descaracterização da utilização de fotografia em jornais. Uma outra galeria a visitar é a Baginski, no Beato (Rua Capitão Leitão 51), onde coexiste uma exposição de André Romão com uma das mostras mais interessantes da Trienal de Arquitectura, Traço de Arquitecto, que aborda o processo criativo do português Manuel Aires Mateus e do brasileiro Marcio Kogan, muito focada no desenho de ambos - “pensar a desenhar e desenhar para pensar”. Finalmente até este fim de semana ainda podem viver a Lisbon Week, com numerosas propostas por toda a cidade, que podem ser exploradas em www.lisbonweek.com.


OUVIR- Nos últimos anos Elvis Costello fez mais coisas insípidas que discos interessantes. Quando soube que se tinha envolvido numa colaboração com The Roots, fiquei expectante. O disco redime-o de alguns deslizes recentes e mostra que a soma de dois talentos pode ser maior do que se imagina. “Wise Up Ghost”, assim se chama o novo álbum, vem assinado por  Elvis Costello & The Roots e a marca de hip-hop que os Roots trouxeram é bem marcada e encaixa que nem uma luva na dureza e tom cáustico e crítico das palavras de Costello - que continua a ser um mestre da escrita. Este conceito musical faz sair Costello da sua zona de conforto e obriga-o a ir a jogo na forma de escrever, que se adapta ao hip-hop nativo dos Roots, apesar de manter muitas referências, recorrentes na obra e em canções antigas de Costello. O momento mais inesperado  e mais interessante é o extraordinário dueto com a mexicana La Marisoul, “Cinco Minutos Con Vos”. Também gosto de outros temas, como “Stick Out Your Tongue”, “Satellite” ou “Tripwire”. Som forte, provocador por vezes, este CD não é garantidamente conformista e rotineiro. Não me admirava se “Wise Up Ghost” estiver na lista dos melhores discos deste ano. (CD Blue Note/ Universal)



FOLHEAR - A revista norte-americana “Vanity Fair” está a completar cem anos de vida, a edição de Outubro é dedicada ao centenário e a capa é uma fotografia de Annie Leibowitz com uma tentadora Kate Upton a segurar o bolo e a vela. Gostei que este número não seja um repositório do passado, deixando o lado de evocação ao livro que Graydon Carter, o brilhante editor da revista nos últimos anos, preparou e que devrá sair este Natal sob o título “Vanity Fair 100 Years”.  Destaques desta edição: Bob Colaccello faz um artigo sobre o rei Juan Carlos de Espanha que vai dar que falar, uma entrevista com Romam Polanski aborda as acusações de sexo com menores, um artigo sobre Julian Assange aborda as suas ambições políticas e eventual participação em eleições, além de uma bela nota sobre a exposição evocativa do surrealista René Magritte no Moma de Nova York. Claro que há um especial que evoca como a Vanity Fair abordou os grandes factos da História dos últimos 100 anos - e eu costumo dizer que, se pudesse, era este modelo de revista que eu ambicionava fazer: inteligente, textos bem escritos, reportagens bem investigadas, entrevistas reveladoras e grande fotografia. Em matéria de revistas a Vanity Fair é a que fica mais perto da perfeição.



PROVAR - Andava há uns meses para experimentar este restaurante e fico contente porque, um dia destes, ao almoço, não frustrou as minhas expectativas. O “Mercado 1143” fica na LX Factory, é um espaço amplo, confortável e bem decorado. À noite fica cheio, dizem-me que é preciso reservar e que às vezes é um pouco mais confuso, mas ao almoço nem por isso. Na mesa o couvert era constituído por boas azeitonas, azeite e pão decente. Pediu-se polvo ao vapor com legumes - e quer o polvo, quer os legumes tiveram nota alta. O vinho branco que acompanhou era o da casa e cumpriu muito bem. A lista etílica não é enorme mas satisfaz e existe à disposição a já célebre cerveja artesanal Sovina. Aos almoços há saladas e outros petiscos leves e ao jantar a coisa muda naturalmente de figura e podem surgir petiscos como os raviolis de sardinha ou umas pataniscas de enchidos. O serviço foi atento, simpático e eficaz - três pontos que nem sempre andam juntos. Para reservas o telefone é o 215 900 963 e os detalhes podem ser observados em www.mercado1143.pt ou no habitual facebook.


DIXIT - “Devemos escolher pessoas que não nos tragam problemas, aventuras e dívidas” - Paulo Portas, numa acção de campanha eleitoral em Sintra, com Pedro Pinto


GOSTO - Em três dias a Apple vendeu nos Estados Unidos nove milhões de unidades dos seus novos modelos de telemóveis, praticamente a população portuguesa.


NÃO GOSTO - Em termos mundiais o rácio entre a população com mais de 65 anos e a população até 14 anos (índice de envelhecimento) atingiu o seu ponto mais elevado, alcançando 131%. Em 2000 era de 102% e em 1990 de 68%.


BACK TO BASICS - “Ter dinheiro é melhor que ser pobre - quando mais não seja por razões financeiras” - Woody Allen

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publicado às 11:07

UM EXEMPLO DE VISÃO

por falcao, em 24.09.13
A Portugal Telecom inaugurou ontem, na Covilhã, o maior centro de dados da Europa. É a consequência natural de uma estratégia que começou a ser traçada há alguns anos e que transformou a PT, de uma empresa que providenciava linhas telefónicas em casa, para uma empresa que tem uma oferta integrada onde o processamento e a distribuição de dados são uma parte fundamental. Hoje em dia, como Zeinal Bava disse recentemente em entrevistas à BBC e à CNN, a PT deixou de ser uma empresa essencialmente telefónica para ser uma empresa que abraçou a convergência entre o digital e a televisão e onde o entretenimento está no centro da actividade. Na realidade a distribuição de canais de televisão através do MEO e a possibilidade de os seus clientes criarem canais próprios (e nesta campanha eleitoral surgiram muitos candidatos a aproveitar esta capacidade tecnológica), levaram a empresa para um patamar diferente, um patamar que necessita de armazenar, processar e distribuir dados – um negócio que vai crescer, como referiu o presidente da PT e da OI, nas entrevistas já referidas. Nesta actividade o tempo é precioso – e a PT posicionou-se onde outros ainda não estão, ganhou tempo e vantagem. Mais: a PT está a desenvolver capacidades portuguesas em tecnologias de ponta e provavelmente a criar uma nova indústria exportadora, tecnologicamente sofisticada e diferenciadora. Mais do que muitos discursos esta decisão de investimento da PT prova que, quando queremos, temos visão, capacidade de transformação e de realização. Não estamos condenados a viver dos restos nem do passado.

PS – Resolvi nem falar das eleições. Prefiro votar em quem limpou do que em quem promete limpar. E não vejo nada limpo.

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publicado às 23:42

SOBRE O CAOS PRÉ ELEITORAL E A CNE

por falcao, em 20.09.13

CNE - A pior coisa que existe na política é a hipocrisia. Como se nāo fosse revoltante a hipocrisia de numerosos candidatos, agora temos a suprema hipocrisia da entidade que é suposta fiscalizar as eleiçōes, a CNE. Vou explicar a razāo desta minha convicçāo: a lei eleitoral proíbe o recurso a publicidade comercial durante um período de tempo que excede a campanha propriamente dita. Acontece que na época em que a lei foi feita a realidade da comunicaçāo em geral, e da actuaçāo política partidária em particular, era bem diferente do que é hoje - nomeadamente o esforço e disponibilidade dos militantes. O que acontece actualmente, e que é usado pela maioria dos partidos parlamentares, é o recurso a organizaçōes comerciais especializadas na afixaçāo de propaganda e na sua distribuiçāo por várias formas, nomeadamente a colocaçāo de suportes para cartazes de grande e média dimensāo e sua utilizaçāo. Estes serviços sāo pagos, como se se tratasse de um operador de publicidade exterior - na realidade o que aparentemente parece tratar-se de actividade militante é, na maioria dos casos, uma operaçāo comercial que cobra a instalaçāo, o aluguer, a manutençāo e afixaçāo nos referidos suportes dos cartazes partidários. É uma operaçāo de facto de publicidade exterior paga, com a agravante de os referidos operadores nāo precisarem de licenças nem alvarás e de nāo pagarem taxas - uma espécie de concessionários de publicidade exterior clandestinos. Pois a mesma CNE que fecha os olhos a esta realidade que dura há anos, é a que tomou as posiçōes que se conhecem sobre a utilizaçāo do Facebook e de mensagens de email ou sms pelas campanhas. É a mesma CNE que, sobre a cobertura noticiosa destas eleiçōes, se pronunciou no sentido de, no período eleitoral, nāo se aplicarem critérios editoriais pelas direcçōes de informaçāo, limitando assim o exercício da actividade jornalística. E foi ainda a que anunciou ir perseguir quem, no período final antes de eleiçōes, o chamado tempo de reflexāo, opinar nas redes sociais sobre a política e o acto eleitoral. Palpita-me que vāo ter muito que fazer - a menos que, como acontece em alguns países, o Presidente da CNE, Fernando Costa Soares, passe a defender a proibiçāo do Facebook ou do Twitter no território nacional. A actuaçāo deste senhor começa a ser matéria de estudo sobre os efeitos da ausência de percepçāo da realidade no exercício de cargos públicos e políticos.


SEMANADA - Os juros da dívida a dez anos andam de novo acima dos 7%; o fisco ganhou 404 milhões de euros em processos nos tribunais, 60% dos quais em processos nos quais estão em causa cobranças acima de um milhão de euros; devido à quebra de procura nos mercados internacionais a Auto-Europa deverá produzir este ano menos 20% de veículos que os fabricados no ano passado; a venda de automóveis em Portugal cresceu 16% em Agosto, a segunda maior subida em toda a União Europeia;  a Ministra das Finanças continuou a meter os pés pelas mãos no caso dos swaps; Luis Filipe Menezes já excedeu em 70%, só na pré campanha, o orçamento para propaganda de rua; as autarquias ainda devem mais de 200 milhões de despesas relacionadas com o Euro 2004; 120 autarcas já se reformaram mas continuam em funções; certamente pensando no Marquês do Pombal e na Avenida da Liberdade António Costa sublinhou que o seu programa eleitoral "nāo é o da grande obra, tem sido o de fazer as pequenas obras que mudam a vida das pessoas"; Reboredo Seara, referindo-se a comentários sobre notícias que nos últimos meses colocaram dúvidas sobre a possibilidade legal da sua candidatura, avisou que por sua iniciativa "alguma gente há-de ir aos tribunais".


ARCO DA VELHA - O Presidente da Câmara de Esposende ofereceu a idosos da autarquia 2000 terços numa festa que incluíu uma viagem a Fátima, tudo com um custo de cerca de 20 mil euros.


VER - Esta semana destaco a abertura de uma galeria que coexiste com uma editora, a Abysmo, dinamizada por João Paulo Cotrim e que tem no desenho e na banda desenhada uma das suas razões de ser. Pois a Abysmo mudou há uns meses para o nº 40 da  Rua da Horta Seca, ao Largo de Camões, e esta semana inaugurou o seu espaço de exposição - dedicado aos desenhos que Álvaro Siza fez para a edição de “A Casinha dos Prazeres”, de Jean-François de Bastide. Outros pontos altos da semana são a abertura da exposição de Miguel Navas na Bloco 103 (Rua Rodrigo da Fonseca 103) e a mostra evocativa dos 40 anos do AR.CO, que está desde esta semana no Museu do Chiado e que inclui, entre outros,  trabalhos de Ana Jotta, Miguel Branco, Pedro Sousa Vieira e Rui Sanches. Finalmente, vale a pena conhecer a exposição que André Gomes criou para a Casa Museu Anastácio Gonçalves e que pode ser vista até Novembro -  uma narrativa de imagens intitulada “A Sesta de Um Fauno”, que, ao contrário do que era a sua prática anterior, nāo sāo originalmente feitas a partir de polaroids, mas sim de fotografias digitais posteriormente manipuladas.

 

OUVIR- "Sunrise" tem a particularidade de ser o disco de estreia do pianista Masabumi Kikuchi na editora ECM e, também, o de ter sido o último registo gravado em estúdio (em 2009) pelo baterista Paul Motian, que com o baixista Thomas Morgan completava o trio que gravou este CD. Editado no final de 2012, um ano depois da morte de Motian, “Sunrise” é uma montra de talentos, das capacidades destes três músicos, mas sobretudo da inesperada forma que Masabuki Kikuchi tem de lançar temas e guiar improvisações. Neste disco é disso que se trata: três músicos que bem se entendem, e todos de gerações diferentes, sendo Thomas Morgan o mais novo, improvisam sobre dez temas que se vão desenrolando ao longo de quase uma hora. Uma das notas que li sobre esta gravação sintetiza assim o que se passa: “ este trabalho favorece a substância ao estilo, o significado aos malabarismos e o espaço à densidade”. Mas sobretudo o que cativa é o espaço e o tempo dado à improvisaçāo, num gesto raro, hoje em dia, de exercício colectivo. (CD ECM, na Amazon.)


FOLHEAR - “Playtime” é o título de capa da edição 212, de Outono, do Aperture Magazine, uma das mais estimulantes revistas dedicadas à fotografia e que pode ser adquirida através da Amazon. Nesta edição há um artigo excelente sobre as ligações dos planos cinematográficos do filme “Playtime” de Jacques Tati com a fotografia e um outro, muito curioso, que analisa a relutância de muitos fotógrafos ao humor. Mas o mais estimulante dos artigos é o que fala da relação de Italo Calvino com a fotografia, por exemplo através da evocação que fez da obra “Camera Lucida” de Roland Barthes, mas sobretudo por um pequeno conto que Calvino publicou em meados dos anos 50, intitulado “A Aventura de Um Fotógrafo”, que mais tarde veio a ser incluído na colectânea “Difficult Loves”. O autor deste artigo da Aperture, Aveek Sen, um ensaísta premiado pelo International Center Of Photography, defende que este conto de Calvino é mais importante para a compreensão do meio fotografia que os textos posteriores de Barthes e de Susan Sontag, sobretudo pela ideia expressa de que tudo o que não é fotografado inevitavelmente se perde.  O fotógrafo que protagoniza a aventura de Calvino vive entre a obsessão de não conseguir fixar todas as imagens da realidade à sua volta e o desejo da encenação de imagens que são a sua própria fuga a essa realidade - aquilo que sāo as duas correntes opostas que têm marcado a fotografia das últimas décadas. Nesta ediçäo da Aperture destaque ainda para seis portfolios de outros tantos fotógrafos de várias nacionalidades, que mostram de forma elucidativa os diversos caminhos que a fotografia contemporânea percorre.


PROVAR - Quando a fome aperta a meio da noite uma das possibilidades recomendáveis em Lisboa é o Café do Paço. O grosso da equipa veio há uns anos do D. Pedro V, que ficava na rua do mesmo nome. Este fica no Paço da Rainha, ao Campo dos Mártires da Pátria, e tem estacionamento facilitado. Só abre ao fim da tarde, para bar, jantar e ceias. Tem um ambiente confortável e acolhedor, boa iluminação e uma acústica excelente, ideal para uma conversa sossegada ao fim de um dia agitado. Recomendam-se os bifes, um impecável prego no pão e os já históricos pastéis de bacalhau com arroz de tomate e o pato assado à Alice. Os preços são sensatos, a garrafeira é curta mas equilibrada, o serviço é muito bom. Da clientela fazem parte políticos e jornalistas. Paço da Rainha 62-A, tel. 218 880 185.


DIXIT - “Enquanto não houver solução para o crescimento da dívida, Portugal está pior” - Daniel Bessa


GOSTO - O mestrado em gestão da Universidade Nova foi considerado o 7º melhor do mundo


NÃO GOSTO - 43% do total dos processos crime por corrupção envolvem Câmaras Municipais


BACK TO BASICS - Uma coisa é passar a vida a falar, outra coisa é falar quando é mesmo preciso - Sófocles


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publicado às 11:05

O CAOS

por falcao, em 17.09.13

As estatísticas são o que são e podem ter sempre várias leituras, mas é difícil convencerem-me que este número pode ter várias interpretações: 43% dos crimes por corrupção envolvem câmaras municipais – e as muitas centenas de investigações realizadas vão desde turismo sexual patrocinado, até ao lançamento de concurso público depois de uma obra já estar feita. É certo que o justo não pode ser confundido com o pecador, mas a verdade é que o peso das autarquias no esbanjamento do dinheiro público, como também várias estatísticas demonstram, é enorme. Todos conhecemos os casos das rotundas, e é raro o mês que não ouço falar de um equipamento que foi construído algures mas que está vazio porque a ânsia de fazer obra foi maior que a de acautelar o seu uso futuro.

 

Nos últimos dias tenho visto boas reportagens sobre o estado da nação, sobre a forma como as autarquias são geridas – e chego à conclusão que muitas Câmaras são um problema que vai de funcionários a mais a eficiência a menos, passando por dívida incomportável. Aquilo que se fez no país em matéria de esbanjamento, replicou-se a nível local e esse fardo ainda o vamos carregar durante anos. Mas ao mesmo tempo que vejo o inacreditável acontecer em muitos  municípios, percebo que nas juntas de freguesia a realidade é bem diferente. As juntas fazem um trabalho de proximidade, muitas funcionam exemplarmente, desempenham funções e apoios à população para além daquilo que era esperado. Sobretudo nas zonas rurais prestam serviços que mais ninguém fornece e são tanto mais importantes quanto a desertificação do interior aumenta. Quanto mais penso no assunto, mais acho que a reforma do Estado tem que passar por aumentar a proximidade e não cavar novas distâncias.


(publicado na edição de hoje do diário Metro)

 

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publicado às 11:56

CIDADES  - Infelizmente não vejo nenhum candidato a Lisboa dizer que defende uma cidade mais confortável e amigável para os que cá vivem e cá pagam impostos. Nestas autárquicas, or esse país fora, vejo muitas proclamações generalistas mas poucas propostas concretas. A propósito, em boa hora chegou-me às mãos um belíssimo trabalho da consultora McKinsey, na sua newsletter mensal,  de Setembro, que tem por tema “How To Make Cities Great”. Com a devida vénia reproduzo de seguida algumas ideias que retive deste estudo da McKinsey, que devia ser leitura obrigatória para os candidatos autárquicos sérios - eu sei, a expressão é quase um paradoxo nos tempos que correm. Pois bem, actualmente metade dos habitantes mundiais, 3.6 mil milhões de pessoas, vive em cidades e, em 2030, esse número deve atingir os 5 mil milhões - as cidades vão crescer ainda mais e serão o principal factor de crescimento económico e de produtividade - e, também, o maior território de consumo. Por isso são encaradas como o palco do desenvolvimento e da transformação dos paises. Na governação de uma cidade, sublinha o estudo, há três mandamentos: conseguir um crescimento inteligente, fazer mais com menos, e conseguir ganhar o apoio da população, e dos funcionários da cidade,  para a mudança. Este programa ambicioso implica mais oportunidades para todos, melhor aproveitamento da tecnologia, um pensamento ambiental permanente, a procura ativa e produtiva de consensos com habitantes e com os negócios locais e uma cultura de responsabilidade nas equipas que dirigem as cidades. Claro que é preciso identificar clusters competitivos, criar centros de inovação, acolher universidades de ponta, ter bons transportes, garantir a segurança e facilidade na mobilidade. Mas é também preciso fazer uma formação intensiva nos funcionários dos municípios, estudar os melhores exemplos de como outras cidades atraíram investimentos. No fundo - e esta parte é tão desprezada entre nós -  é fundamental perceber que as cidades têm que fornecer serviços aos seus clientes. E os clientes das cidades são as empresas que as escolhem e as pessoas que lá vivem. Isto implica não ser precipitado, ter objectivos de longo prazo, ter noção das necessidades de pessoas e empresas, assumir procupações ambientais de forma realista, o que quer dizer  diminuir as emissões de carbono e, portanto, ter cuidado com a congestão de tráfego, ter consciência da realidade da vida das pessoas e não operar por decreto de cima para baixo. Tudo se resume a criar condições para que as pessoas vivam dentro da cidade,  preocupar-se mais com a rede interna de trasnportes e a circulação interna do que com o acesso de quem vem de fora.  Tudo isto pode parecer utópico - mas a McKinsey explica como as cidades que melhor prosperaram passaram por este caminho.


SEMANADA - Um estudo do Banco de Portugal indica que uma em cada cinco empresas gostaria de cortar salários; o sector da construção perde 198 empregos por dia; o preço médio das casas em Espanha caíu 38,6% desde 2007; em Espanha as dívidas das seis maiores empresas construtoras ultrapassam os 40 mil milhões de euros; o crédito malparado em Portugal atingiu o valor de 17 mil milhões de euros no final de Julho, um valor recorde; 66 cursos do ensino superior não tiveram nenhum candidato na primeira fase das inscrições e outros 48 cursos registaram apenas uma inscrição; no primeiro semestre deste ano as vendas de smartphones em Portugal ultrapassaram pela primeira vez as de telemóveis tradicionais; em Portugal as vendas de antidepressivos e ansiolíticos continuam a aumentar; estimativas apontam para a existência nos cadernos eleitorais de um milhão de eleitores fantasmas. já falecidos ou emigrados, num total de 9,4 milhões; o património imobiliário dos partidos políticos soma mais de 20 milhões de euros com o PCP a liderar com 13 milhões, seguido do PS com 7,7 e do PSD com 6 milhões - e nenhum paga IMI; aos 21 anos cerca de 18% dos jovens já agrediram namorado, 64% já se embriagaram e 34% já tiveram um acidente; o PS conseguiu dizer, primeiro que o Bloco de Esquerda, que votará contra o Orçamento, antes mesmo de o conhecer; slogans da semana: “Cabeçudo, por ti, tudo!” e “ser tripeiro é um mundo”.


ARCO DA VELHA - Estou para ver se os comentadores televisivos que se candidatam nas próximas eleições autárquicas vão permanecer em ecrã durante a campanha e que diz a sapiente Comissão Nacional de Eleições sobre o assunto.


VER - Esta é uma semana abundante em recomendações. Em Lisboa abre a Trienal de Arquitectura - no MUDE, na Rua Augusta, e no Carpe Diem, na Rua do Século, há espaços que vale a pena visitar. Por falar em arquitectura, no CCB, no espaço Garagem Sul, abriu uma imperdível exposição do arquitecto japonês Sou Fujimoto,  “Futurospective Arquitecture”, concebida pelo próprio. Outras ideias: na Fundação EDP, Museu da Electricidade,  inaugurou “Stop Making Sense”, uma exposição da artista plástica Mariana Gomes. Ainda em Lisboa decorrem hoje, sexta, e amanhã, sábado, as Noites de São Bento, um bom pretexto para visitar na  Galeria São Roque a “Exaltação da Sombra” de Lourdes Castro. E finalmente, na Fundação D. Luis I, no Centro Cultural de Cascais, inaugurou uma exposição com curadoria de Luis Serpa,  “Manta, Retratos de Família”, que agrupa obras de Abel Manta, da sua mulher Clementina Carneiro de Moura Manta, do seu filho João Abel Manta,  e da sua neta Isabel Manta. E, para terminar com fotografia, A Pequena Galeria, na 24 de Julho,  retoma o Salão Lisboa a partir de dia 19. Não há falta de boas coisas para ver. E ver, como dizia o outro, é meio caminho andado para aprender.


OUVIR- Nestes tempos Madonna parece como que apenas uma discreta virgem, quando comparada com as travessuras de replicantes como Miley Cirus. E no entanto, como vem provando desde os anos 80, é bem mais consistente que os sucedâneos entretanto surgidos. A sua digressão de 2012, “MDNA World Tour” teve 88 concertos e as receitas de bilheteira ultrapassaram os 300 milhões de dolares em todo o mundo - tornando esta a digressão que mais receita produziu no ano passado. A concepção do espectáculo, bem diferente de digressões anteriores da artista, foi descrita por Madonna como “a viagem espiritual da escuridão para a luz” e incluía três partes - a profecia, o masculino/feminino em que se reproduzia um ambiente de cabaret e eram interpretadas algumas das canções mais marcantes da sua carreira, e a redenção, cenografada como uma grande festa. A digressão foi cuidadosamente gravada e filmada - o resultado é um duplo CD e um DVD, já disponíveis em Portugal. A edição de imagem, algum material de bastidores, a montagem, tornam o DVD uma peça bem diferente do simple registo de um concerto. Desde os pormenores das coreografias aos cenários, passando pela actuação da cantora, o DVD do MDNA Tour é uma peça que testemunha a criatividade e o talento de Madonna e a forma como ela concebe o espectáculo. (CD e DVD Interscope/Universal).





FOLHEAR - A edição de Setembro da “Monocle” tem por tema o empreendedorismo e está recheada de exemplos de uma nova geração que procura negócios fora do comum ou que se dedica a recuperar velhas tradições e a torná-las rentáveis. Sob o lema “Do Your Own Thing”, a revista guia os leitores, através de exemplos, no processo de como escolher e iniciar o negócio, como gerir de forma moderna e eficiente e, finalmente, como conseguir negociar e estabelecer parcerias que ajudem a empresa a crescer. Tudo é acompanhado do relato de numerosos casos de sucesso um pouco por todo o mundo. Há outros temas de interesse, desde a renovação urbana como factor de desenvolvimento de negócios locais até à forma como as universidades de Vancouver, Aarhus na Dinamarca ou Tóquio estão a mudar o conceito e a forma dos seus MBAs, para melhorar prepararem os seus alunos - e o exemplo de Aarhus  é particularmente interessante e bem que podia ser seguido por algumas escolas portuguesas.


PROVAR - Uma das cervejarias emblemáticas da Avenida de Roma nos anos 70 e 80, “O Pote”, é agora um restaurante familiar e sossegado, bem longe das noites animadas que durante anos acolheu. Ao longo do seu meio século de história, acolheu tertúlias e a sua esplanada era ponto de encontro garantido. Aberto todos os dias, O Pote tem uma cozinha que não engana, baseada em valores seguros da culinária portuguesa - o destaque vai para o arroz de polvo, a carne de porco frita com açorda e, por exemplo, o clássico pica-pau do lombo. Os preços são justos, as doses generosas e o serviço é familiar e acolhedor. Está aberto todos os dias, mesmo no Domingo ao jantar, o que vai sendo raridade, e-dispõe de uma sala para fumadores. Fica no nº7 da Avenida João XXI e o telefone é o 218486397. Para mais informações ver opoterestaurante.com .


DIXIT - “Portugal é um país congelado - com o Governo e o PS a lutarem pelo papel do capitão Iglo” - Fernando Sobral, aqui no “Negócios”.


GOSTO - Da nova estratégia de produtos da Apple


NÃO GOSTO - Da posição da ERC sobre a cobertura das eleições, que contraria a liberdade editorial


BACK TO BASICS - A imaginação é mais importante que o conhecimento - Albert Einstein


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publicado às 15:27

PARA QUÊ VOTAR NAS AUTÁRQUICAS?

por falcao, em 10.09.13

Para que serve um voto nas autárquicas? Basicamente para ver se as cidades, vilas e freguesias onde vivemos ficam mais apetecíveis para todos nós, se ficam mais confortáveis para o dia-a-dia, se os órgãos autárquicos nos ajudam em vez de nos atrapalharem, se existe uma acção social capaz, se é estimulada de alguma forma a criação de emprego e o desenvolvimento económico e social.

Portanto este é o momento exacto para pensar: estes que lá estão há quatro anos facilitaram-me a vida ou infernizaram-me a cabeça? Gastaram bem o dinheiro dos nossos impostos ou andaram a desperdiçá-lo em manias? Têm noção do que é a vida hoje em dia e querem ajudar, ou vivem numa qualquer utopia e querem dificultar?

 

Os que lá estão há quatro anos, que fizeram pela limpeza das ruas, pela segurança, pela recuperação e conservação? E  os pavimentos das estradas – foram só arranjados em véspera de eleições, ou são regularmente conservados e mantidos para que existam menos acidentes e se causem menos prejuízos ao veículos?

 

Se cada um de nós pensar desta forma, poderá fazer um juízo rápido sobrem que dirigiu a sua câmara e a sua freguesia. Será que vale a pena continuarem estes,  ou é melhor escolher outros? Nestas eleições os programas partidários contam menos que a capacidade das pessoas. Eu, na minha Câmara e na minha Freguesia, quero quem me ajude, não quero quem me dificulte a vida, quero quem empregue bem o dinheiro sem ser em obras incompreensíveis, quero quem me ajuda a poupar, em vez de me meter mais multas e limitações em cima.

 

Eu, onde voto, preocupo-me mais com o que fizeram ao meu dia a dia do que com aquilo que fizeram para os visitantes e forasteiros. Quero quem cuide de cá vive em vez de quem cuide de fazer show off.

 

(Publicado na edição de hoje do diário METRO)

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publicado às 15:22

O Gato e o Rato na política portuguesa

por falcao, em 06.09.13

O GATO E O RATO - A saga do Governo com o Tribunal Constitucional parece a história do gato e do rato. Neste caso o rato é o Governo e o gato é o Tribunal Constitucional. Por três vezes, em tempos recentes, o gato já caçou o rato. E o rato, em vez de pensar como pode escapar do gato, coloca-se vez após vez nas suas garras. Saindo deste tom de fábula, mas que no meu entender retrata a realidade, parece evidente que o rato não se tem preparado - e preparar aqui é fazer política, encontrar opinião semelhante que o defenda, estudar, debater, comunicar, procurar um caminho de fuga, um plano B - tudo o que é preciso para não ser apanhado e deixar o gato no beco sem saída onde o rato se deixou encurralar. Não chega dizer que se vai fazer - é preciso, antes, mostrar que há alguma coisa que se tem de fazer para que outras não aconteçam. É isto que tem faltado ao rato da nossa história. Ainda por cima ele tenta escapar-se de um gato sabidola, ágil e traiçoeiro. A questão é que o gato da nossa história, o Tribunal Constitucional, tem dois problemas - toma decisões ideológicas, porque a contituição é ideológica; e, esta é a pior parte, tem os dois pés fora da realidade. O Tribunal Constitucional é do tempo em que se fabricavam notas nas máquinas da Casa da Moeda e não interiorizou que o dinheiro não nasce por decreto nem por acordão. Ainda por cima é preguiçoso, como o seu processo de trabalho vai demonstrando. Mas o pior de tudo é que, mesmo agora, o Tribunal Constitucional tem entre mãos diplomas com um impacto de mil milhões/ano na despesa do Estado - e continua sem conseguir ver as diferenças entre o Estado e a sociedade. Na realidade continua sem perceber o que é, agora, este país.


SEMANADA - Portugal perdeu cerca de 30 mil professores desde a chegada da troika em 2011; a dívida das autarquias às Águas de Portugal subiu cerca de 5% nos últimos seis meses para 535 milhões de euros; as dívidas fiscais paradas nos tribunais aumentaram 7% este ano; a área ardida este ano, até final de Agosto, é 25% superior em relação à do ano passado; o número de mortos em incêndios este ano já se eleva a seis e existem seis feridos em estado grave; entre 2007 e 2011 foram condenadas 280 pessoas por provocarem incêndios florestais, mas dessas apenas 14 foram condenadas a penas de prisão efectivas e a maioria é condenada a penas suspensas e multas; a segurança da PSP a José Sócrates, de cada vez que se desloca à RTP, ocupa uma equipa de sete agentes; 10% da frota automóvel da PSP está avariada, ao todos 500 veículos estão fora de serviço; por falta de conservação aluíu o pavimento do pátio de entrada do comando distrital de Évora da PSP; Carlos Tavares, presidente da CMVM considera que “a supervisão dos SWAPS não é satisfatória”; 70 concelhos têm falta de médicos de família; as vendas dos smartphones em Portugal cresceram este ano 74%; Alfredo Barroso publicou no diário “i” um artigo intitulado “O PS política e ideologicamente à deriva”.


ARCO DA VELHA - 560 mil imóveis estão isentos de Imposto Municipal desde sedes dos partidos políticos a estádios de futebol, passando por embaixadas ou edifícios detidos por sindicatos e associações patronais, entre outros.


VER - No dia 17 de Agosto abriu no Museum Of Modern Art (MoMa) em Nova York, uma exposição dedicada ao modernismo americano, que revisita a colecção do Museu, com obras que vão de 1015 a 1950, ou, como diz o subtítulo da exposição, “American Modern: Hopper to O'Keeffe” - é de Hopper a imagem junto a esta nota, “House By The Railroad”, de 1925, um dos pontos altos da exposição. Ao mesmo tempo o MOMA continua a apresentar uma retrospectiva sobre a obra do arquitecto Le Corbusier. Se visitarem o site www.moma.org poderão vislumbrar outras exposições, como a que é dedicada à fotografia de Walker Evans ou às novas aquisições para a colecção de fotografia do MoMa. Bem sei que não é a mesma coisa, mas na realidade esta possibilidade de, por via digital, pelo menos vislumbrarmos o que se passa em sítios onde não estamos é uma das maravilhas destes tempos que correm.


OUVIR- Para assinalar o 60º aniversário da editora discográfica Riverside a Concorde Records, que entretanto ficou com esse precioso catálogo de jazz, tem estado a fazer uma série de boas reedições. Chegou agora a vez de “So Much Guitar!”, um LP originalmente editado em 1962, o sexto na discografia do guitarrista Wes Montgomery, um dos responsáveis por tornar a guitarra eléctrica um instrumento musical respeitado (e inovador) no jazz contemporâneo. Este disco tem todos os temas da edição original de “So Much Guitar”, mais um registo ao vivo, “The Montgomery Brothers In Canada”, gravado em Vancouver na Primavera de 1961. Os oito temas de “So Much Guitar” incluem basicamente um repertório de standards e alguns originais, nos quais Wes Montgomery é acompanhado por um então promissor baixista Ron Carter, pelo pianista Hank Jones e os percussionistas Lex Humphries e Ray Barretto - ou seja uma espécie de laboratório de ensaio de alguns dos nomes que haviam de moldar o jazz na década seguinte. Ao ouvirmos as suas interpretações de temas como Twisted Blues ou Something Like Bags, percebemos a época única de explosão de talentos que então se vivia. (CD Riverside/Concorde, distribuído em Portugal pela Universal).


FOLHEAR - Tradicionalmente as edições de Setembro da “Vogue” são o ponto alto  do mundo das grandes revistas de moda. Por isso mesmo a “Vogue” promove em Setembro, em várias cidades, a “Vogue Fashion Night Out”, que na próxima quinta-feira dia 12 chega a Lisboa, pelo quarto ano consecutivo. Avenida da Liberdade, Chiado, Camões, Principe Real, serão as zonas em movimento. Enquanto isso não acontece, vale a pena destacar a edição norte-americana da Vogue de Setembro, uma recordista habitual em tamanho e número de páginas de publicidade. A coisa é de tal forma que já se fez um documentário, “The September Issue”, que relata o processo de produção da edição da Vogue em Setembro de 2007. Pois bem a edição deste ano tem 902 páginas, e nas primeiras 400 praticamente só existe publicidade - mas é preciso dizer que muita desta publicidade é especialmente concebida, fotografada e produzida apenas para esta edição, o que torna muitas das páginas magníficos objectos gráficos. A honra de capa coube a Jennifer Lawrence, um das novas actrizes americanas (nasceu em 1990), e uma outra chamada de capa é para uma exemplar reportagem sobre Marissa Mayer, a mulher que veio da Google para gerir a Yahoo!. Outros destaques vão para bastidores de grandes casas de moda como a Valentino ou a Loewe. Mas há também um trabalho sobre a obra do grande fotógrafo Irving Penn, para não falar de numerosos artigos sobre viagens, restaurantes e as novas estrelas do teatro, das artes plásticas ou da televisão. A Vogue fala de moda - onde quer que ela se manifeste. Em Portugal esta magnífica edição custa 17.60€.


PROVAR - Aqui há uns anos, no meio de uma resolução burocrática na Baixa, resolvi levar o meu filho Gonçalo, que me acompanhou nessa expiação das teias que o Estado tece, a conhecer uma petisqueira. Apontámos à Rua dos Douradores e apresentei-o à Adega dos Lombinhos. Ainda hoje, e já lá vão uns anitos bons, ele se lembra da emoção do lugar - a fauna local e a visitante, o jeito dos empregados, o sabor da carne e das batatas. Volta e meia, esporadicamente, quando estou por aqueles lados, ali vou - prefiro de longe aqueles lombinhos às hamburguerias mal engedradas adjacentes. A Adega dos Lombinhos é uma das derradeiras petisqueiras originais da Baixa e vai desaparecer, engolida numas obras de remodelação que, no prédio onde está instalada, criarão um novo hotel. Essa é uma parte boa e que tem a ver com a cidade - dará conforto aos seus visitantes, sem cuidar do conforto dos habitantes - uma constante da política costista. Se eu fosse ao futuro Hotel mantinha o pessoal da Adega dos Lombinhos no activo, ali no rés do chão do número 52 da Rua dos Douradores, e garanto que rapidamente seriam estrelas num suplemento de viagens do Guardian ou do New York Times. Nem sequer lhe mudava muito o ambiente.


DIXIT - “Com os mesmos de sempre não espere nada diferente” - cartaz da Plataforma Cidadania Lisboa


GOSTO - Do dinossauro introduzido por Luis Afonso na tira de BD Bartoon.


NÃO GOSTO - Da ideia da criminalização dos piropos.


BACK TO BASICS - O maior erro que alguém pode cometer na vida é estar permanentemente com medo de errar  - Elbert Hubbard

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publicado às 15:17

O VAZIO DA CAMPANHA ELEITORAL

por falcao, em 03.09.13

As próximas eleições autárquicas estão a revelar-se um repositório de lugares comuns. Os cartazes então são cada vez mais confrangedores. Ainda não vi um com uma ideia, apenas vejo um rol de banalidades, não se vislumbra uma proposta política. Em Lisboa a coisa é terrível – começa por Seara que tem por lema “Em Lisboa Com Os Dois Pés”. Por muito que me esforce não consigo traduzir isto em medidas concretas – será que pretende distribuir pontapés pela cidade fora? António Costa não é muito melhor – “Juntos Fazemos Lisboa” não quer dizer nada a não ser que deve estar contente com o que fez ao Marquês do Pombal e à Avenida da Liberdade e que se propõe continuar a fazer mais do mesmo. Até o Bloco de Esquerda abdicou da política e de propostas para se limitar a dizer “Queremos Lisboa”, uma coisa que fica sempre bem mas que não quer dizer mesmo nada. Desta vez nem a CDU escapa com o seu vaguíssimo “Cidade Para Todos”.

 

Mas não se pense que isto só acontece em Lisboa. O belíssimo e educativo blogue imagensdecampanha.blogs.sapo.pt recolhe pérolas como “Esperança no Futuro” para a candidatura do PS no Montijo ou “Juntos pelo Montijo”, para  a candidatura do PSD. Em Constância o PS proclama “Juntos Vamos Mudar Constância” e o PSD diz “Mais Juventude, Mais Futuro”. Também gosto muito do slogan do PS “Mudar o Porto” (será para Gaia?), acho curioso o do PS em Loulé “Ninguém Ficará para Trás” e parecem-me muito criativos estes do PSD -  “Afirmar Amarante”  e “Por Angra”.

 

Mas pior que tudo é a mania de adaptar músicas para hinos de campanha sem autorização dos autores. Cá para mim candidatos que usurpam direitos de autor deviam ser impedidos de se candidatarem – estão a usar o que não é seu com desplante e descaramento.

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publicado às 15:36


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