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NA VIDA TUDO SE TRANSFORMA

por falcao, em 27.12.13

TEMA- Durante uns anos criou-se a ideia de que o trabalho manual seria uma coisa menor e que as pequenas empresas não teriam futuro. Louvou-se a massificação, a dimensão e desprezou-se a produção diferente, quase artesanal. Nesse tempo as boas ideias só podiam ser boas se tivessem uma escala enorme: o resultado está à vista de todos. Mas o que é mais curioso é que a crise do crescimento acelerado abriu caminho para uma nova geração - a que vou chamar a geração do novo artesanato ou da nova manufactura, se preferirem. Os últimos anos estão cheios de bons exemplos de pessoas que perderam os seus empregos e decidiram criar qualquer coisa de seu - desde uma tarte de amêndoa a uma linha de roupa ou a um serviço de entregas personalizadas. No fim do dia o que interessa é que estas pessoas, tecnicamente qualificadas e treinadas, imaginaram um produto, aplicaram os seus conhecimentos, criaram marcas e felizmente muitas têm feito sucesso. Sempre achei que nos devemos esforçar por ver o lado bom das coisas más, mas neste caso é fácil - a crise criou uma geração de empreendedores como há muito tempo não víamos em Portugal . Todos os dias ouvimos falar de novos pequenos negócios, nas grandes cidades mas também no interior, que ao princípio arrancam baseados no esforço único do seu criador, a partir de um canto em casa, e que passado algum tempo estão a alugar instalações, a contratar pessoas, a criar procura. Em suma, estão a dinamizar a economia, contra tudo e contra todos - contra um governo demasiado apressado a impôr directivas europeias que os nossos vizinhos ignoram, contra um fisco que considera a iniciativa um pecado, contra um Estado que por princípio desconfia e é inimigo de quem faz alguma coisa de novo. Gosto destes novos empreendedores, que arriscam, inventam, resistem à pressão dos gigantes da distribuição e se afirmam pela criatividade, a qualidade e a capacidade de comunicação. Para eles vão os meus melhores votos para 2014.

 

SEMANADA - Três Secretários de Estado aproveitaram a época do Natal para se auto-oferecerem a prenda de saírem do Governo; dez mil advogados devem 3,4 milhões de euros em quotas à Ordem dos Advogados; em 15 cadeias portuguesas há 14.349 reclusos, uma média de 3,4 presos por guarda prisional; o desemprego jovem aumentou 2,2% em Novembro ; 62% das uniões celebradas em Portugal em 2012 foram casamentos civis, o que mostra a perca de predominância dos casamentos religiosos; desde 2000 tem vindo a aumentar a percentagem de casais que vivem juntos antes de casar, que agora já é de 49,6%; as Câmaras Municipais  gastaram mais em luzes e festas de Natal que em 2012;  por força da decisão do Tribunal Constitucional só no sector privado é que a idade da reforma sobe para 66 anos, a partir de Janeiro de 2014 - no Estado mantém-se nos 65 anos; a PSP levantou este ano 60 autos por protestos na Assembleia da República; este ano as falências judiciais diminuíram 0,7%, o que acontece pela primeira vez desde o início da crise; desde o início do ano as falências de particulares registaram um aumento de 4%; a receita fiscal obtida em Novembro foi 16,5% mais alta que a registada no mesmo mês do ano passado; desde 2012 Portugal pagou quase 3 mil milhões de euros à troika, em juros e comissões; desde que a troika entrou em Portugal foi cortado o apoio a cerca de dez mil idosos com baixos rendimentos.

 

ARCO DA VELHA - O relatório sobre os incêndios de Verão indica que as chefias dos bombeiros têm falta formação básica sobre fogos e aponta erros frequentes no uso do contrafogo.

 

FOLHEAR - Em 1962 foi criada uma organização chamada British Design & Art Directors, com David Bailey entre os seus fundadores. No ano seguinte começou a atribuir prémios, os célebres e muito desejados Yellow Pencils. Em 2011 a organização, entretanto transformada em Fundação, deixou de ser só britânica, globalizou-se, mudou o nome para D&AD e reflecte o que de melhor existe no design e art direction em todas as suas disciplinas. Continua a atribuir prémios e a Taschen edita o anuário. Este Natal trouxe-me o anuário de 2013, magnífico, 600 páginas em honra à criatividade aplicada à publicidade tradicional e digital, mas também à edição de livros ou de imprensa, passando ainda pela rádio e o cinema. A edição de 2013, cuja capa aqui se reproduz, tem as suas páginas de abertura dedicadas a reflectir sobre a importância da criatividade no mundo contemporâneo e sobre diferentes perspectivas para o ensino artístico e para a forma como as escolas abordam as disciplinas criativas. O Presidente da D&AD nesta edição foi Neville Brody, um dos mais conceituados designers britânicos, responsável pelo inovador grafismo da revista “Face”, depois da “Arena”, criador de capas para discos dos Cabaret Voltaire, Level 42 ou Depeche Mode, entre outros. No seu texto inicial deste livro, Brody desenvolve uma ideia interessante: “Numa época de crescente desigualdade o nosso dever é proporcionar acesso o mais amplo possível à oportunidade de os estudantes receberem ensino nas áreas creativas e não apenas nas tradicionais ciências, engenharia, tecnologia e matemárica. O dever de qualquer Governo é levar a sério as indústrias criativas e o ensino da criatividade, tão necessária para o desenvolvimento da indústria, do comércio e da cultura.”

 

VER - Proponho para estes dias entre o Natal e o fim de ano duas exposições bem diferentes. Uma está no CCB, no espaço dedicado a exposições de arquitectura, a Garagem Sul e tem um título desafiante: “África – Visões do Gabinete de Urbanização Colonial”, com curadoria de Ana Vaz Milheiro, com Ana Cannas e João Vieira. Através de um conjunto de desenhos, relatórios e fotografias, depositados no Instituto de Investigação Científica Tropical, e que são apresentados em público pela primeira vez, mostra-seuma paisagem africana desenhada e inventada a partir do coração da metrópole, em Lisboa, no período final da colonização portuguesa, entre 1944 e 1974. A outra exposição, bem diferente, está em pleno Chiado, na galeria João Esteves de Oliveira, na Rua Ivens 38. Sob o título O “Melhor do Acervo”, João Esteves de Oliveira apresenta  trabalhos em papel de artistas consagrados como  Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, José Pedro Croft, Rui Chafes e artistas mais novos,  como Manuel Diogo (de quem é a obra aqui reproduzida), Vasco Futscher, Josefina Ribeiro, Carmo Posser ou Hugo Palma, entre outros.

 

OUVIR - O disco de que hoje falo é, para mim, uma das mais estimulantes edições de jazz do ano que agora está a acabar. O saxofonista norte-americano Joshua Redman chamou para o seu lado o trio dirigido pelo pianista Brad Mehldau, o baixista Larry Grenadier e o baterista Brian Blade. A tudo isto juntou uma orquestra dirigida por Dan Coleman. O resultado é um disco, “Walking Shadows”, que está no limiar entre o easy listening e um clássico. Brad Mehldau foi o produtor e teve certamente uma palavra a dizer na escolha do repertório, introduzindo temas inesperados num disco de jazz. Começo pelo “Let It Be” dos Beatles (um grupo cuja obra Mehldau gosta de revisitar) onde Redman mostra bem o seu talento de saxofonista, passando do gospel para o funk com elegância. Logo no tema de abertura, “The Folks Who Live On The Hill”, um standard de Jerome Kern e Oscar Hammerstein II, Dan Coleman cria um fundo orquestral que permite a Redman mostrar o seu talento. A versão do “Adagio” de Bach é um exemplo de simplicidade com o saxofone praticamente apenas em diálogo com o baixo. Outros pontos altos são “Lush Life” ou “Easy Living” e sobretudo o trabalho de arranjos e execução em “Last Glimpse Of Gotham”, um tema do próprio Mehldau. O disco encerra com um belíssimo original de Redman, “Let Me Down Easy”. Alguns puristas acharão que a escolha do repertório é de gosto duvidoso e de um ecletismo perigoso. Eu acho a escolha provocante. E corajosa - ainda por cima com um excelente resultado final. (CD Nonesuch).

 

PROVAR - No Inverno, quando não há sardinhas e apetece um petisco, que fazer? A minha sugestão é que aproveitem as fantásticas conservas de sardinha portuguesas - e nos últimos anos têm ressurgido boas marcas antigas. Uma delas é a Fábrica de Conservas Pinhais, fundada em 1920. A Pinhais produz três variedades muito procuradas - as sardinhas em azeite virgem, as sardinhas em azeite temperado, picante, e as sardinhas em tomate. Há mesmo uma embalagem de degustação onde vêm caixas de conservas destas três variedades. A empresa, de Matosinhos, continua nas mãos da mesma família desde a fundação, utiliza os métodos tradicionais e emprega cerca de 140 pessoas. O trabalho é quase todo feito manualmente, desde a escolha e preparo da sardinha à sua colocação nas latas, o que proporciona uma qualidade diferente ao produto final. Gosto destas sardinhas como entrada, acompanhadas de um pedaço de bom pão tostado - mas há quem as arranje e tire a pele e as espinhas e misture com um esparguete. Seja como fôr, as conservas de sardinha, quando são boas, são uma grande base para a nossa petiscaria. A tradicional tiborna, que é a mais portuguesa das tapas, fica à maravilha com umas sardinhas em tomate ou picantes por cima.

 

DIXIT - “Parece-me que neste momento existem falhas no plano de ajustamento da troika” - Leonardo Mathias, Secretário de Estado da Economia, em entrevista ao jornal espanhol “Expansión”.

 

GOSTO - Da aplicação de novas tecnologias à criação e monitorização de um rebanho comunitário em Penela, para garantir a produção do queijo Rabaçal na região.

 

NÃO GOSTO - De quem escolhe a época do Natal para fazer greve e depois ainda se congratula com a acumulação de lixo nas ruas.


BACK TO BASICS - A coisa mais importante da vida é nunca deixarmos de nos questionar - Albert Einstein

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publicado às 16:06

ALGORITMOS - Luis de Camões não imaginaria como o seu verso “Todo o Mundo É Feito de Mudança” se revelaria tão actual séculos depois. Hoje mais que nunca a mudança é permanente - a esmagadora maioria dos recursos que utilizamos na vida moderna, baseados em software, estão permanentemente a mudar. Nos últimos 20 anos assistimos a uma transformação brutal - o foco deixou de estar no hardware e passou para o software e programas que custavam milhares de euros foram substituídos por aplicações, muitas vezes mais poderosas e eficazes, que ou são gratuitas ou custam muito pouco. Hoje em dia talvez seja mais certo dizer-se que toda a vida é feita de algoritmos em permanente alteração - porque é essa de facto a nossa nova realidade. Um artigo recente de Lev Manovich sublinhava este facto: “O software tornou-se uma linguagem universal. Aquilo que a electricidade e o motor de combustão significaram no início do século XX, pode ser comparado ao que o software significa neste início de século XXI (...) Se queremos entender as técnicas contemporãneas de comunicação, representação, simulação, análise, tomada de decisão, memória, visão, escrita e interacção temos que compreender o software.”

Tudo isto é verdade, mas o mais interessante, é que, ao mesmo tempo que a tecnologia nos rodeia e está em permanente mutação, oferecendo o que há dez anos era impensável, continuamos a querer coisas básicas na nossa vida, nas cidades onde vivemos - conforto de circulação, transportes públicos e privados que funcionem, zonas verdes bem conservadas, boas escolas públicas, bons hospitais, ruas limpas e seguras. E é curioso constatar que os políticos mais tecnocratas são aqueles que pior interpretam e satisfazem as necessidades do seu eleitorado. Por enquanto ainda não há algoritmo que resolva esta equação.



SEMANADA - Foi detectada em Braga uma fraude de sete milhões de euros em cursos profissionais e ex-dirigentes da Associação PME-Portugal foram constituídos arguidos; em época de Natal até aos fins de semana a Avenida da Liberdade, em Lisboa, continua engarrafada, a causar mais poluição do que antes das obras; quatro em cada dez portugueses confessam ficar sem dinheiro após pagar as contas do mês; o setor da construção civil fatura 7% em reabilitação urbana em Portugal, quando a média europeia é de 37%; Jorge Jesus é o 11º treinador mais bem pago do mundo; Portugal registou a quinta maior queda anual de salários na União Europeia; em 2012 Portugal foi um dos três países da OCDE a regitar maior quebra nas receitas fiscais; no primeiro semestre houve quase dez mil insolvências de empresas e particulares declaradas nos tribunais portugueses; em Portugal, ao longo dos últimos três anos, foram apreendidas 13 armas ilegais por dia; Passos Coelho admitiu que no curto prazo o Governo poderá não ter outra alternativa do que aumentar os impostos se o OE proposto pelo Governo fôr chumbado no Tribunal Constitucional; Paulo Portas admitiu que PSD e CDS podem concorrer separados às próximas legislativas; as autarquias que cobram IMI pela taxa máxima vão duplicar em 2014; os CTT esperam receber este ano 180 mil cartas dirigidas ao Pai Natal.

 

ARCO DA VELHA - O executivo municipal de Braga, liderado pelo socialista Mesquita Machado, deixou uma fatura de 150 milhões de euros para pagar até 2033 por causa de uma parceria público-privada que construíu 35 campos de futebol nas 62 freguesias do concelho - em algumas há agora dois campos.

 

FOLHEAR - Quando se abre a edição especial que a revista “Egoísta” fez neste Natal, ressurgindo, mesmo que efémera, quando já não se esperava, encontram-se logo estas palavras de Sylvia Plath: “It is a terrible thing to be so open: it is as if my heart put on a face and walked into the world”. O tema desta edição especial é a poesia e nas primeiras páginas está um portfolio fotográfico de Annie Leibowitz, que é uma revisitação de Romeu e Julieta, feita para a Vogue. Há poemas de Lu Yu, Gastão Cruz, António Ramos Rosa, Adrienne Rich, João Rui de Sousa, Eugénio de Andrade, Maria do Rosário Pedreira, Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral, Vasco Graça Moura, Hilda Hist, Rainer Maria Rilke, Pedro Tasmen e Jaime Rocha, entre outros. Há mais fotografia de Augusto Brázio, Maria João Gonçalves, Christophe Jacrot, Ricardo Alevizos e sobretudo um imprevista e surpreendente trabalho de Pedro Cláudio. Nas ilustrações destaque para os trabalhos de  Manuel San Payo e Rodrigo Prazeres Saias. Um verdeiro número para coleccionadores. Uma preciosidade. Uma prenda de Natal para os fãs da revista.

 

VER -  Todas as razões são boas para ir ao MUDE, o Museu do Design e da Moda, que fica na Rua Augusta 24. Mas, agora, há mais uma razão, incontornável - descobrir a exposição “3553”, de Teresa Segurado Pavão, na Sala dos Cofres. O local em si é magnífico, mas a força das pequenas peças ali ganha outra dimensão - quase comovente. Na sala dos cofres privados, de aluguer,  do antigo Banco Nacional Ultramarino, o edifício onde o MUDE foi acolhido, existem 3552 cofres - e é deste número que nasce o título da exposição - evocando o cofre seguinte, na realidade inexistente, o momento que está para vir, o futuro que não se conhece. As peças expostas são objectos simples - que podem ser do quotidiano, mas podem também ser tesouros guardados - e a sua presença na sala dos cofres reforça esta ideia de tesouro que vale a pena salvaguardar. Cabe aqui elogiar o trabalho do catálogo e as fotografias de Eurico Lino do Vale, despojadas mas não neutras, que conseguem fazer retratos de objectos quase como se tivessem expressão. As peças criadas por Teresa Segurado Pavão são lindíssimas - nas formas, mas também nos pormenores. Parecem imaginadas como esculturas - quase orgânicas, como naqueles casos onde um alfinete atravessa o barro branco como se envolvesse a pele, ou quando existe a sensação de que um objecto pode ter muitos usos, dependendo da imaginação. São 120 peças, criadas de 2011 até agora. A exposição “3553” pode ser vista até ao início de Março

 

OUVIR - Sou da opinião que um disco gravado do vivo funciona muitas vezes como um tira-teimas: há músicos que fazem álbuns muito certinhos em estúdio, mas depois é o diabo quando vão para um palco e lá querem gravar alguma coisa. Felizmente no caso de António Zambujo a gravação feita em espectáculo só confirma as boas impressões deixadas pelos registos de  estúdio. O disco foi gravado ao viuvo no Coliseu, faz agora um ano, em Dezembro do ano passado, pouco tempo depois da edição do seu álbum “Quinto”. Inclui 19 temas entre os originais de  Zambujo, clássicos de Marceneiro, uma versão de uma canção de Vinicius e Banden Powell, poemas de João Monge, Aldina Duarte e Maria do Rosário Pedreira. No espectáculo gravado Zambujo acompanhou-se a si próprio à guitarra clássica e a seu lado estiveram Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Jon Luz (cavaquinho e guitarra clássica), José Miguel Conde (clarinetes), Ricardo Cruz (contrabaixo) e a participação de uma grupo de cante alentejano que o acompanhou em alguns dos temas. (CD UNIVERSAL).

 

PROVAR - Não sou muito dado a doces, mas nesta altura do ano o Bolo-Rei tira-me do sério. Aqui há uns anos achava que o da Pastelaria Cinderela, no Areeiro, era o melhor de todos - e ainda é bom. Depois passei a gostar do da Pastelaria Colombo, que era óptima e lindíssima, praticamente em frente à Versailles na Avenida da República, e que hoje é um incaracterístico MacDonalds. Esse, já não se pode provar - mas o da Versailles é ele próprio um bom sucessor. Outro que me agrada é o da pastelaria Aloma, em Campo de Ourique, na Rua Francisco Metrass. E claro, há o incontornável Bolo-Rei da Confeitaria Nacional, da Praça da Figueira, e que agora tem vários pontos de venda, um dos quais nas Amoreiras. O segredo do Bolo Rei está na massa, que deve ser leve e na qual devem como que flutuar pedaços de frutos secos e algumas passas. O segredo é conciliar a leveza com uma boa distribuição dos frutos - não podem ser demais, não podem ser de menos, não podem ficar colados ao fundo. E é escusado o Bolo Rei estar recoberto de açúcar caramelizado, algumas frutas cristalizadas - não demais - bastam. Nesta altura do ano o único doce que não dispenso é o Bolo Rei - e sou dos que não se importam que, se ele fôr dos bons, tenha dois ou trs dias. Se fõr bom não perde qualidades. E, como bem disse Miguel Estevs Cardoso, bom Bolo Rei não precisa de manteiga para nada.

 

DIXIT - “Não criei nem tenciono criar nenhum movimento” - declaração de Carvalho da Silva três dias antes de ser anunciado o movimento 3D para as eleições europeias, em que ele surge como um dos promotores.

 

GOSTO - Do levantamento dos sem-abrigo de Lisboa, feito por uma equipa de voluntários organizada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

 

NÃO GOSTO - Está muito na moda, mas fui lá e não gostei. O Mercado de Campo de Ourique é apenas uma má cópia da ideia do Mercado de San Miguel (em Madrid), só que atravancado e com mais confusão que fulgor.

 

BACK TO BASICS - «Uma ideia que não é perigosa não merece sequer ser chamada de ideia» - Oscar Wilde




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publicado às 16:19

SOBRA A INDIGNAÇÃO

por falcao, em 18.12.13

Há semanas em que falta assunto. Esta é uma delas. Não sei do que hei-de falar, sobre que tema escrever. Não vou falar da tragédia que aconteceu durante o fim-de-semana na Praia do Meco. Olho já sem espanto para as notícias que revelam adjudicações dúbias e que envolvem figuras destacadas do PSD Porto. Fico quase sem reação quando leio que o Director demitido da PSP na sequência da invasão da escadaria do Parlamento vai para oficial de ligação da embaixada portuguesa em Paris, com a diplomática remuneração correspondente. Sorrio quando ouço Sócrates comentar o défice português e a política de austeridade. Sorrio ainda mais quando percebo que o retrato que os Gato Fedorento fizeram do país, e que só vi no YouTube, consegue ter graça no meio de toda esta desgraça – e interrogo-me sobre o porquê de terem sido tão criticados. Constato que enquanto Passos Coelho teoriza sobre a não necessidade de um acordo com o PS, o seu parceiro de coligação, Paulo Portas, afirma ser pecado não negociar com os socialistas. Passeio nas ruas de Lisboa e continuo a desesperar, num Domingo à tarde, com o que António Costa fez à Avenida da Liberdade e interrogo-me se os engarrafamentos contínuos não geram enorme poluição. Fico desanimado quando olho à volta e fico a apreciar o que se diz e o que se passa. Não ouço uma ideia transformadora vinda de quem manda – na cidade ou no país. O poder vicia e rotina-se – e quando isso acontece perde razão de ser. Eu, contrariado, começo a encolher os ombros. Já pouco me espanta, mesmo quando muito me indigna.

 

(Publicado no diário Metro de  17 de Dezembro)

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publicado às 19:25

L’ÉTAT C’EST MOI ? -  Rui Rio bateu esta semana o recorde nacional de juras de não querer ganhar protagonismo na política. Quis o acaso que  estivesse presente em várias iniciativas, desde uma plataforma que as más línguas dizem ser a sua rampa de lançamento para outros vôos, até um almoço-conferência na Associação 25 de Abril onde lançou pequenas bombas como esta: “Temos de acabar com isto de as medidas irem sempre ao Constitucional”, aproveitando para  criticar a opacidade da justiça, a vários níveis, e o seu envolvimento na política. Não contente com esta auto-proclamada ausência de posicionamento político não se coibiu também de sublinhar que admitia a possibilidade de eleições primárias, nos partidos, para escolha do candidato a Primeiro Ministro, à semelhança do sistema norte-americano. Embora reafirmando sempre não ter ambições políticas, não deixou de dizer que que o poder político é eleito para defender o interesse público, sublinhando que, na sua opinião, ao longo dos últimos 40 anos o poder político tem vindo a ficar cada vez mais refém de interesses setoriais e corporativos. Aguarda-se com curiosidade o desenrolar de novos episódios deste reality show mas uma coisa é certa: nada de novo no horizonte - Rio é mais um  a dizer uma coisa e a fazer outra.

 

SEMANADA - Crimes sexuais vitimam cinco menores por dia, a maioria é abusada por familiares e tem idades entre os 8 e 12 anos; três agentes da PSP foram agredidos numa discoteca gay do Porto quando tentavam terminar uma rixa; uma investigadora portuguesa obteve um financiamento de 1,3 milhões de euros para um estudo sobre género e direitos sexuais na Europa; Ministério dos Negócios Estrangeiros foi atacado por hackers chineses que ofereciam a Rui Machete fotos de Carla Bruni nua; PSP investiu 300 mil euros em drones voadores, motos de água e um barco semi rígido; novo código do trabalho reduziu salários em 2,3%; Banco de Portugal prevê novos aumentos salariais nos privados nos próximos anos; as mulheres ganham em média menos 16,2% que os homens na União Europeia; Passos Coelho anunciou recandidatura à liderança do PSD; Rui Rio participou numa reunião da plataforma Uma Agenda Para Portugal que agrupa uma facção do PSD; 57% dos portugueses com menos de 24 anos pensam que o seu futuro passa pelo estrangeiro; o PIB da Islândia registou um crescimento de 6,1% no terceiro trimestre; José Sócrates vai integrar o Conselho Geral da Universidade da Beira Interior  - “no fundo é um filho da terra que é reconhecido em Portugal e no estrangeiro”, afirmou o Presidente do Conselho Geral, Paquete de Oliveira.

 

ARCO DA VELHA - “Será que podemos realmente dizer que a crise ficou para trás quando há 12% da população activa sem emprego?” - interrogou-se Christine Lagarde no Parlamento Europeu, falando sobre os erros cometidos pelo FMI na aplicação de planos de austeridade.

 

VER -  2013 fica marcado pela entrada em cena de uma estrutura privada, experiente em produção e promoção de espectáculos, na organização de exposições de arte de grande dimensão e com recurso a uma comunicação invulgar nesta actividade. Trata-se da Everything Is New, de Álvaro Covões, o responsável por numerosos concertos e festivais. A primeira experiência, bem conseguida na captação de públicos, foi feita com a exposição de Joana Vasconcelos no Palácio da Ajuda, que atraíu dezenas de milhar de visitantes. E agora, no Museu Nacional de Arte Antiga, dando corpo a uma parceria com o Museu do Prado, a mesma Everything is New empenhou-se em criar um acontecimento em  “Rubens, Brueghel, Lorrain - A Paisagem Nórdica do Museu do Prado”, que agrupa até final de Março seis dezenas de obras de referência do museu madrileno. A intensa cobertura mediática e a publicidade, invulgares em iniciativas de Museus do Estado, têm o bom sabor da ousadia e da novidade e, espera-se poderão trazer ao Museu Nacional de Arte Antiga público em maior número que é habitual. Esta forma de trabalhar é a que pode proporcionar que novos públicos vivam a experiência da descoberta da Arte, que deixa de se esconder e se mostra sem complexos. Já agora uma palavra também para o envolvimento de uma empresa portuguesa, a Artwear, responsável pelo merchandising da exposição, e que começa a ser uma referência até a nível internacional.

 

OUVIR - Entre 1973 e 1984 existiu um grupo, a Banda do Casaco, que marcou quase sempre o panorama musical de então com um equilíbrio inovador entre as influências da música tradicional portuguesa e a descoberta de sonoridades pop e contemporâneas e, sobretudo, a experimentação de palavras da língua portuguesa e a sua introdução invulgar na estrutura musical das canções, graças às letras de António Avelar de Pinho. A Banda do Casaco, percebe-se hoje ouvindo a sua obra, ajudou a que muito pouco tempo depois se voltasse a cantar em português e se conseguisse contar histórias musicais - que se fizessem canções, afinal. Pela Banda do Casaco passaram gerações de músicos de várias áreas desde os fundadores Antònio Pinho, Luis Linhares, Celso de Carvalho e Nuno Rodrigues, a Carlos Zíngaro, Carlos Barreto, António Emiliano, Moz Carrapa, José Eduardo, Ramon Galarza, Vitor Mamede, Rão Kyao, Tó Pinheiro da Silva ou Zé Nabo e vozes como Concha, Gabriiela Schaaf, Cândida Soares, Helena Afonso ou Né Ladeiras, por exemplo. Durante esses anos foram feitos sete LP’s de originais, os dois últimos já sem a participação de António Pinho. Este ano José Fortes, uma das referências da gravação sonora em Portugal, pegou no material que originalmente tinha gravado em fita e remasterizou-o digitalmente - e o resultado é muito bom. Do trabalho saíram duas edições distintas: duas caixas, que englobam os sete discos originais, um DVD de gravações ao vivo e um CD de inéditos diversos, profusamente acompanhado por livros que enquadram a edição e reconstituem a história da Banda do Casaco, e um CD compilação - “Bada do Casaco - 40 Anos de Som”, que agrupa 16 dos mais significativos temas da história do grupo. A caixa é um exclusivo FNAC e Companhia Nacional da Música, a compilação está à venda por todo o lado e com uma magnífica capa desenhada por Carlos Zíngaro e que aqui podem ver. É uma peça única para perceber como no final da década de 80, e a partir daí, a música portuguesa evoluíu.

 

FOLHEAR - Só pela capa vale a pena reter esta edição do British Journal Of Photography, um retrato assinado por Spencer Murphy, e que faz parte do levantamento do retrato na fotografia contemporânea que é um dos pratos fortes deste número. Na série Projects há belíssimos exemplos de ensaios fotográficos, esse lado da imagem quase esquecido em Portugal: a nova classe média africana, placas fúnebres de cemitérios soviéticos, iamgens de família, a Etiópia pós-colonial ou o lugar das pessoas nas cidades. Um pouco mais à frente encontramos comunidades alternativas de skaters, invulgares mulheres madrilenas e  marginais dos Balcãs. Mas o portfolio que mais me atraíu, a seguir aos retratos, foi o dedicado a fragmentos de multidões, instantâneos da vida moderna.

 

PROVAR - Ao início era apenas no Chiado. Depois a Brasserie de L’Entrecôte mudou de donos e estendeu o seu conceito a um total de seis restaurantes, mas manteve sempre inalterado o conceito: uma entrada de salada verde fresca com nozes picadas, seguida do único prato disponível - entrecôte fatiado, mal passado a menos que se peça de outra forma, envolvido num saboroso molho Brasserie que leva 18 ingredientes, de ervas variadas a mostarda de Dijon - uma receita tradicional do Café de Paris, em Genéve. A acompanhar, batata frita feita na hora, aos palitos finos e que é servida à descrição. Parece banal mas a qualidade da carne e do seu corte, assim como o tempêro certo do molho, tornam -se um pólo de atracção para carnívoros (embora os vegetarianos tenham à sua disposição um bife de seitan). Novidades são a sandwich de entrecôte, com o dito, o respectivo molho e rúcula, e a de salmão, em pão de cereais, com rúcula e queijo creme - ambas com a batata frita da casa. ambas a 8,40 €. A carta de vinhos é variada e bem escolhida e a cerveja, Sagres de pressão, é bem tirada e cá para mim é a boa escolha para o prato. A Brasserie de l’Entrecôte abriu agora nas Amoreiras o seu sexto restaurante, no corredor de restauração onde antes estava a cervejaria Portugália, que pertence aliás aos mesmos donos. Bom serviço, atento e ágil. O menu tradicional, acima descrito, fica por 18.95 €, a que se há-de juntar tudo o resto que fôr pedido. Ao almoço, em querendo,  há um menu executivo, mais económico (12,90 €).

 

GOSTO - “Desfado”, de Ana Moura, ganhou o título de melhor disco de World Music do ano, atribuído pelo Sunday Times. Esta semana saíu uma nova edição que inclui um CD extra gravado ao vivo.

 

NAO GOSTO - A corrupção em Portugal está acima da média da zona Euro, revela um estudo da Transparency International

 

DIXIT - “Eu sou a deputada mais famosa do Parlamento Europeu (...) Há outros que ninguém sabe quem são” - Edite Estrela

 

BACK TO BASICS - Servir música ao jantar num restaurante é um insulto, tanto para o cozinheiro como para o violinista - G.K. Chesterton

 

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publicado às 14:56

SOBRE A DENÙNCIA COMO MÉTODO

por falcao, em 10.12.13

A Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, afirmou segunda-feira: "Penso que é um dever de cidadania denunciar fraudes, denunciar corrupção e outros crimes", enfatizando que o que está em causa "não é só um problema das instituições", mas também um "problema de cidadania".

Não posso estar mais de acordo com a Ministra. Acho mesmo que deve ser aberta uma linha para os cidadãos se queixarem de todos os eleitos, deputados, autarcas, membros de Governo e gestores de empresas públicas quer desbarataram dinheiros públicos, fizeram obras inúteis, favoreceram amigos em concursos, privilegiaram contratos por interesse próprio, deram benesses a familiares, amigos ou correligionários de partidos ou de sociedades mais ou menos obscuras.

 

Um Estado que é incapaz de se escrutinar a si próprio, uma classe política que em muita medida é parasita e corrupta, um sistema de financiamento de partidos que favorece negociatas, um regime que opta sempre por cobrar mais e oferecer menos, não tem moral para falar. Mais: não merece respeito nem apoio.

 

Um sistema que apela à denúncia de cidadãos contra cidadãos sendo incapaz de olhar para si próprio não merece o respeito dos eleitores. A Ministra da Justiça não conhece casos de abusos entre políticos de diversos partidos? Entre ex governantes de várias tendências? Entre deputados de várias bancadas? Não acredito que não saiba de nada, que nunca tenha ouvido falar de nada.

 

Quando a classe política se conseguir dar ao respeito e mostrar, exemplarmente, que pune quem abusa, então poderá começar a pedir alguma coisa à sociedade. Até lá, é devedora. Muito devedora de todos os que pagamos impostos, de todos os que cada vez se sentem menos inclinados a votar em eleições cujo resultado é sempre o contrário das promessas feitas.

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publicado às 11:57

CRIAR - Durante alguns bons anos trabalhei numa empresa que produzia para televisão. Fiz documentários, ajudei a fazer entretenimento, comprei formatos e produzi-os, aceitei encomendas e consegui fazê-las. Mais tarde, com uma pequena equipa brilhante de pessoas da RTP, trabalhei na criação e lançamento de um canal, a 2:, que foi das coisas de que me orgulho. Da mesma maneira que os escritores e os músicos dizem, com verdade, que não voltam a ler ou a ouvir os seus trabalhos depois de terminados, também nunca gostei de rever o que fiz na televisão. Mas, por acaso, sempre gostei de ver os resultados do que fazia - quer do ponto de vista quantitativo, quer qualitativo. A minha vida profissional dá-me a possibilidade de saber o que se passa na televisão sem a ver. Todos os dias sigo as audiências - confesso que é uma coisa viciante. E vejo como tudo mudou tão depressa nos últimos anos. No final do terceiro deste terceiro trimestre existiam 3,16 milhões de assinantes do serviço de televisão por subscrição, mais 149 mil do que em igual período de 2012. Estas casas significam mais de 75% do total de espectadores e têm acesso a, pelo menos, 50 canais. Eu, que vejo televisão de forma incerta, continuo encantado pelo que me entra, nesse ecrã, pela casa dentro. Sei que a televisão e a internet se namoram, que já se cruzam às vezes e quanto mais a fibra ótica avançar mais isso acontecerá.. As pessoas continuam a ver programas de televisão - mesmo que não seja num aparelho convencional, e esse é um dos encantos da mudança dos tempos. Os progressos tecnológicos nas telecomunicações vão permitir que se vejam programas de televisão de formas e em circunstâncias que ainda não imaginamos - da mesma forma que há dez anos as redes sociais como Facebook eram uma improbabilidade. Eu acredito que são os conteúdos e a criatividade que fazem mover o mundo - do ponto de vista económico, do ponto de vista social, do ponto de vista cultural. Estes tempos que vivemos, de grandes mudanças tão aceleradas, são magníficos desafios. Já repararam como há tanta criatividade nas empresas, nas artes, nas ciências e tão pouca na política, reduzida a uma repetição de chavões e fechada sobre receitas antigas? Isto dá que pensar: será que a sociedade é comandada por políticos que não a compreendem, que são incapazes de fugir de receitas antigas e avessos à inovação?



SEMANADA - A emigração para Angola mais que triplicou desde o início da crise; receitas do Turismo cresceram 7% até Setembro; o Governo esperava rescindir com 15 mil funcionários públicos mas apenas cerca de 3 mil solicitaram rescisão; o Ministro da Educação recuou no caso da prova de acesso, insentado mais de metade dos professores inicialmente abrangidos; a corrupção em Portugal regista níveis acima da média da zona Euro; o antigo presidente de Câmara do Alandroal, do PS, foi acusado pelo Ministério Público de 209 crimes de peculato; começou a guerrilha no PSD com a criação do movimento “Uma Agenda Para Portugal”, em apoio das ambições políticas de Rui Rio; Portugal é o único país comandado pela troika a sair da crise com menos população; no entretanto portugal começou a exportar a troika sob forma de um jogo de sala feito por uma pequena empresa; as PME portuguesas empregam 2,4 mihões de pessoas, ou seja 78,6% do emprego do setor privado não financeiro; segundo o estudo “Os Portugueses e as Redes Sociais” 15% dos utilizadores de redes sociais afirmam já ter realizado compras nesses sites; em Novembro de 2013, RTP1, SIC e TVI emitiram cerca de 213 horas de informação regular, o que representa uma média diária de 2 horas e 22 minutos por canal, e a RTP1 foi, a estação que emitiu mais notícias, com 2245 trabalhos, e a que deu mais tempo em grelha à informação regular, com cerca de 78 horas; duas candidatas a nova palavra do ano são “grandolada” e “pós-troika”.

 

ARCO DA VELHA - A Louropel é uma empresa de Famalicão que se tornou na líder mundial de fabrico de botões, produzindo entre 9 a 12 milhões de botões por dia, 25% dos quais ecológicos. Fatura 14 milhões de euros por ano, tem três fábricas e 243 trabalhadores e paga salários acima da média da região.


VER -  Hoje proponho-vos que vão ver uma loja - a loja nova de “A Vida Portuguesa”, no largo do Intendente, na antiga zona fabril da fábrica de azulejos Viúva Lamego. Ouso chamar exposição a esta loja. Uma exposição que tem  desde brinquedos a roupas, passando por conservas, azeites, produtos de cosmética ou até pastilhas elásticas. Tudo português, tudo feito em pequenas e médias empresas, tudo feito com criatividade e alma, com embalagens extraordinárias e por grandes marcas. Grandes marcas nossas - portuguesas. Catarina Portas começou há uns anos a apostar em descobrir e incentivar estes fornecedores - heróis que resistem à ditadura das grandes superfícies, ao comércio injusto que criou um sistema onde a distribuição tem lucros e os produtores têm custos - é o mundo ao contrário: sem produtores não havia comércio.  A loja em si é enorme - coexiste com as amostras dos antigos azulejos ali fabricados e que decoram partes das paredes. Quando se percorre esta loja renasce o orgulho sobre aquilo que somos capazes de fazer, sobre quem persiste em fabricar, em produzir, em se adaptar aos novos tempos. Algumas das marcas que Catarina Portas ajudou a redescobrir ganharam entretanto projecção internacional - estão nas zonas de luxo em grande cadeias de lojas em Nova Iorque, fornecem restaurantes em Londres, aparecem nas páginas de publicações como a Monocle. Estas marcas dão-nos orgulho e mostram-nos um caminho.


OUVIR - Vou gastar poucas linhas nisto: “The Marshall Mathers LP 2”, de Eminen, é um grande disco. Revivalista, tentativamente cabotino, a repisar territórios percorridos, às vezes óbvio, permanentemente provocador. Muito do que aqui está existe nas nossas memórias, mas a forma como reaparece é o que faz a diferença. 13 anos depois da versão original que lhe deu fama e proveito, Eminem faz o mais arriscado de todos os caminhos - uma viagem nostálgica que consegue convencer, com humor e sabedoria, uma sabedoria feita de lata e provocação - no fundo a melhor de todas.


FOLHEAR - Há algum tempo que não lia um livro que me divertisse tanto - e com o qual não estivesse tão de acordo - como “50 segredos politicamente incorrectos do amor”, de Pedro Marta Santos. Hoje em dia são publicados tantos livros que seguir o panorana editorial é uma tarefa impossível - ainda por cima maçadora se atentarmos nos best-sellers da chamada nova literatura portuguesa. Estou muito solidário com os que acham as estrelas literárias do presente uma bosta, desculpem-me a expressão mas melhor não me ocorre. Pedro Marta Santos felizmente escapa a essa definição e fez um livro maldito. Eu cá gosto dos livros malditos, inspiram-me bem mais que os livros bem-ditos. Além disso gosto de escritos confessionais - “marimbe-se definitivamente para a razão”, escreve o autor, antes de dizer uma evidênica: “Estaríamos todos melhor se Cristo fosse chanceler da Alemanha”. Estão a ver o que eu digo? O livro foi bem editado pela Guerra E Paz na sua colecção de Livros Politicamente Incorrectos. Bem haja.


PROVAR -  Durante meses andei a querer conhecer a Taberna Moderna - que fica na Rua dos Bacalhoeiros, a chegar ao Campo das Cebolas e à Casa dos Bicos.  Não foi fácil marcar mesa, o lugar está na moda - entre os devaneios dos novos fãs de Gin e a onda que a casa conseguiu criar. Este é um daqueles restaurantes que concilia um cozinha razoável com um entretenimento simpático. A qualidade da comida não é o único factor, o ambiente pesa mais pontos. Mas, felizmente, a comida não desagrada. Um arroz rico e de substância, chamado de Domingo, foi interessante, mas a salada de bacalhau e a salada de vieira foram mais estimulantes. O tamboril tostado com chutney também se relevou satisfatório. O tomate temperado nas entradas e o leite frito nas sobremesas ganharam votos. O serviço é simpático. O sítio é todo ele simpático. É um bom sítio, não sei bem se é só um restaurante. Fica na Rua dos Bacalhoeiros 18, está em  facebook/taberna moderna e tem o telefone 218 865 039.


GOSTO - Da nova loja das conservas que fica na Rua do Arsenal 130, em Lisboa, que tem cerca de 300 variedades de produtos, 70% dos quais são dedicados à exportação.


NÃO GOSTO - Da arrogância, a roçar o ditatorial,  de João Bilhim, numa entrevista sobre a sua comissão (que opina sobre o recrutamento de dirigentes e gestores públicos) a querer que ela tenha maior dimensão, faça maia avaliações e receba por isso pilim dos contribuintes. Se ele se leva a sério é um caso perigosíssimo: confundir um cenário com a realidade é fatal.


DIXIT - "Não tenciono colocar a minha liderança à disposição no curto prazo" - Pedro Passos Coelho


BACK TO BASICS - A democrcia é o processo que assegura que seremos governados por pessoas que nunca serão melhores do que aquilo que merecemos - George Bernard Shaw



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publicado às 17:15

SOMOS CADA VEZ MENOS

por falcao, em 03.12.13

Esta semana foi divulgado um estudo que indica que Portugal perde habitantes a um ritmo crescente e tudo indica que, quando acabar a intervenção da troika, teremos uma população menor e mais envelhecida do que aquela que tínhamos quando a crise começou. O aumento da emigração e a quebra da natalidade, em conjunto, colocam Portugal numa situação pior que qualquer outro dos países intervencionados.


Os efeitos da crise e as perspectivas nebulosas quanto ao futuro adiam decisões dos casais novos sobre mais filhos – o que quer dizer que daqui a duas décadas teremos um problema: menos novas famílias constituídas, diminuição do consumo, com, consequências que atingem vários sectores da economia.

 

Por outro lado a saída de muitos jovens que vão procurar trabalho no estrangeiro tem um reflexo directo no envelhecimento da população, o que reduz ainda mais a taxa de natalidade e agrava a situação.

 

Vários especialistas consideram, por outro lado, que o aumento da emigração dos jovens mais qualificados significa também que iremos ter menores condições de desenvolver sectores competitivos da economia. No jornal “Público” de ontem vários especialistas coincidiam no diagnóstico: “A perda de população tira ao país potencialidades de crescimento a prazo”. Porquê? – “Na prática, o que acontece é que com menos população, especialmente se a que saíu estava entre a que tinha mais qualificações, a capacidade do país para ser mais produtivo, competitivo e inovador pode perder-se durante um período muito longo de tempo.”

 

Esta situação de perca de população é um efeito colateral, mas directo, das medidas tomadas na sequência do descalabro a que se chegou. O descalabro da primeira década deste século vai deixar marcas numa geração inteira.

 

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