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COMISSIONISTAS - Ao longo de quatro décadas criou-se em Portugal uma raça a que vou chamar de comissionistas políticos. Cresceram a cobrar, sempre discretamente, comissões pela sua actividade onde quer que tivessem uma réstea de poder. Desenvolveram-se em todos os partidos e quadrantes ideológicos e foram fazendo a sua actividade em benefício das suas organizações partidárias, locais ou nacionais, de grupos de pressão, de organizações amigas a que depois ficavam ligados e, nalguns casos, em proveito próprio. As comissões tinham mil caras - desde as que estavam impressas nas notas de papel moeda até às trocas de favores ou obtenções de sinecuras futuras. A sucessão de casos foi crescendo ao longo dos anos e foi-se estendendo também na administração pública e nalgumas empresas. Mais cedo ou mais tarde as coisas começam a dar nas vistas em demasia e foi isso que agora aconteceu. Durante muito tempo proliferou o discurso que acusava a justiça de só perseguir os pobres e indefesos; mas mal o aparelho judicial começou a perseguir banqueiros, altos funcionários, políticos no activo ou na reforma, ex-governantes e dirigentes partidários, começou um imenso clamor de protesto de que havia intenções políticas detrás das acções da justiça. E assim chegamos ao ponto em que pensadores de diversos matizes se deixam envolver mais pelo sentimento do que pela razão e se tornam cegos. Fernando Sobral escreveu, aqui neste jornal, que se criaram as condições para uma pergunta assassina, em termos sociais e políticos: “és a favor ou contra Sócrates?” E acrescentava: “se a política se reduzir a isto estamos perdidos”. Mas é isso mesmo que está a acontecer, como desde quinta-feira se tornou bem patente, graças ao contributo de Mário Soares para a questão. Subjacente a tudo isto está um princípio, de que a esquerda não abdica: ela é intocável e intrinsecamente honesta, e a direita é a mãe de todos os vícios e fundamentalmente desonesta. Ou seja, a esquerda é o Bem e a direita é o mal. Este raciocínio maniqueísta tem ainda mais décadas que a existência de comissionistas políticos em Portugal - mas é o raciocínio da moda, que comanda o sentimento sobre a razão. É o raciocínio solidário:  Sócrates é de esquerda e, portanto, não pode ser desonesto; se o acusam é porque se trata de uma manobra política, obviamente desonesta e de direita. Estarmos reduzidos a isto é uma tristeza. E há ainda outra coisa: os mesmíssimos políticos que gostam de jogar com a velocidade e agilidade mediática quando estão a fazer guerrilha e chicana, são os que agora se lamentam pela excessiva atenção dada pelos media a este caso, não se recodadndo que foi a mesma atenção dada a outros recentes onde não viram nada de excessivo. No fundo não compreendem uma coisa básica: a velocidade da justiça e a velocidade do sistema mediático são coisas diferentes. E ainda bem. Talvez preferissem que não houvesse velocidade. Ou seja, que nada se movesse. Presumo que escuso de citar Galileu.

 

SEMANADA - PS e PSD juntaram-se pela primeira vez nesta legislatura para apresentarem uma proposta de reposição das subvenções aos políticos, mas passados dias os seus proponentes tiveram que a retirar; duas dezenas de deputados declararam manter colaborações regulares com orgãos de comunicação; na semana seguinte à prisão de vários altos quadros do Estado no processo dos vistos gold o ex-Primeiro Ministro José Sócrates foi detido sob a suspeita de corrupção e branquamento de capitais; o advogado que apareceu a defendê-lo já tinha pedido há um mês atrás cópias dos despachos que ordenaram a destruição das escutas dos telefonemas entre Sócrates e Armando Vara; a detenção ocorreu na noite de sexta feira e o advogado João Araújo apareceu como seu representante no dia a seguir; Mário Soares foi visitá-lo à prisão na quarta-feira e disse que ele era um homem exemplar; Pedro Silva Pereira, um dos mais próximos colaboradores de Sócrates, esteve mais de 72 horas sem se pronunciar publicamente sobre a detenção do ex-Primeiro Ministro; um grupo de jovens eborenses, alunos de arquitectura, tirou selfies à porta da prisão onde está José Sócrates logo no dia em que ele chegou; depois da visita de Mário Soares José Sócrates distribuíu um comunicado a considerar a sua detenção “um abuso”; segundo a Marktest no último fim-de-semana o nome de José Sócrates foi o mais mencionado nas redes sociais, sobrepondo-se a todos os outros assuntos, personalidades ou marcas; ainda segundo a Marktest em apenas dois dias foram divulgadas cerca de três mil notícias relacionadas com o ex-Primeiro-ministro; o investimento estrangeiro estava a subir 641% até à crise dos vistos gold; em dois anos fecharam mil lojas de compra e venda de ouro; o fisco penhorou 197 imóveis por dia desde o início do ano; há 73 queixas por dia de violência doméstica em Portugal; de 2009 até agora houve 4605 pessoas que mudaram de nome; o Estado arrecadou mais de 30 mil milhões de euros de impostos até Outubro, um aumento de mais 2 mil milhões em relação a igual período do ano passado.

 

ARCO DA VELHA - O ex-procurador Pinto Monteiro afirmou que, no almoço que teve com José Sócrates em Lisboa na semana em que o ex-Primeiro Ministro foi detido, apenas falaram de livros e de viagens.

 

FOLHEAR - Esta é a altura em que a “Monocle” chega à sua edição dupla, de Dezembro/Janeiro, que este ano tem cerca de 270 páginas. O tema da edição é o “soft power”, a capacidade de um país exercer  poder e ganhar reconhecimento  através da sua diplomacia e da sua presença no mundo. A lista de 30 países resulta do relatório de um think-tank britânico, The Institute For Government. Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão e França ocupam os cinco primeiros lugares de uma lista de 30 países, na qual Portugal está na 24ª posição. Nesta edição há ainda um destaque para o Top 50 dos viajantes e para Antuérpia, além da Art Basel de Miami. Finalmente, na capa, uma fotografia de um eléctrico bem lisboeta é o chamariz para um especial destacável, um guia de Portugal.  A edição deste guia resulta do esforço conjugado do Turismo de Portugal com o interesse há muito manifestado pela revista em relação ao nosso país - é rara a edição em que não se encontra alguma coisa seja sobre Lisboa ou Porto ou sobre criadores ou artesãos portugueses que estão a marcar a diferença.  O guia sobre Portugal tem 36 páginas e, como é hábito nestes guias da “Monocle”, tem recomendações sobre sítios onde ficar, onde comer e lugares a visitar, sobre lojas e pequenas indústrias, além de múltiplos dados sobre o país. Lisboa, as praias do surf, o Alentejo, o Algarve, o Porto, o Douro e o Minho são as zonas em destaque, com boas e acertadas sugestões. Já agora a revista anuncia que a 17 e 18 de Abril realizará em Lisboa a “The Monocle Quality Of Life Conference” que abordará temas desde urbanismo até ao comérico, passando pela indústria da restauração e hotelaria,  ou ainda o artesanato e ofícios criativos. E a 5 de Dezembro o grupo que edita a “Monocle” lança uma nova publicação, um almanaque anual intitulado “The Forecast”, que em 240 páginas promete ensaios fotográficos, reportagens e análises. Já falta pouco.

 

VER - Hoje recomendo-vos uma visita à Fundação Louis Vuitton, o edifício junto ao Bosque de Bolonha, no 16º Bairro de Paris, onde Frank Gehry concebeu e construíu um edifício extraordinário, encomendado por Bernard Arnault, o Presidente do grupo de produtos de luxo LMVH, para albergar um museu e centro cultural que teve um investimento de construção de perto de 150 milhões de dólares. A visita, para quem está em Lisboa e para aguçar o apetite, é fácil e barata. Basta ir a www.fondationlouisvuitton.fr e começar a percorrer o site. Aí poderão encontrar informação sobre as actividades, mas também registos de eventos recentes - desde o concerto inaugural de Lang Lang em Outubro até uma recente actuação, já em Novembro, dos Kraftwerk. Encontrarão também uma visita electrónica à obra do ponto de vista arquitectónico, que tembém pode ser vista através de uma aplicação disponível para smartphones. Ainda nesse campo existe também uma aplicação, concebida especialmente para crianças, que lhes permite fazerem uma visita virtual a esta obra de Gehry, “Archi Moi”, disponível para iPad.

OUVIR - Poucos discos me agarraram e surpreenderam tanto como “Down Where The Spirit Meets The Bone”, o álbum que a norte-americana Lucinda Williams editou em Outubro. Aos 61 anos é o seu primeiro duplo CD e inclui 18 temas originais, além de uma canção, “Compassion”, que abre o disco, feita a partir de um poema do seu pai, Miller Williams, e de uma versão de um tema de JJ Cale, “Magnolia”, que encerra o álbum. Além disso este é o disco de estreia da sua própria editora, Highway 20 Records. A produção é dela própria, de Tom Overby, seu marido, e de Greig Leisz. Entre os músicos está a secção rítmica de Elvis Costello, o trio Jackshit, ou o guitarrista Bill Frisell. A base da música de Lucinda Williams é a country, com incursões frequentes nos blues. Aliás o segundo CD do álbum é assumidamente bluesy. Eu não gosto muito de dizer coisas destas, mas ouvindo vez após vez este disco, e a diversidade e intensidade das suas canções, ocorre-me que este é uma daqueles momentos em que o título de obra de carreira se pode aplicar. Definitivamente um dos grandes discos de 2014. (Highway 20 Records, na Amazon)

 

PROVAR - No meio da proliferação das hamburguerias de todos os feitios e padrões vale a pena referir uma casa inaugurada há pouco tempo sob o nome “A Loja”. Fica perto do Liceu Maria Amália, entre a Artilharia Um e a Rua Castilho, cá para cima, do lado da Marquês da Fronteira - esta é aliás uma rua de boa memória em matéria de restauração. A Loja tem uma decoração leve e confortável, o pessoal é simpático e, como se exige numa casa destas, a carne é de boa qualidade, saborosa - e na cozinha sabem fazer o hamburguer mal passado (e é aí que se percebe que a carne que serve de base é boa). Há umas surpresas que vão variando mês a mês - em Outubro houve o hamburguer tártaro, em Novembro o de alheira com grelos salteados, vamos lá a ver que hamburguer traz o Pai Natal em Dezembro. Enquanto não se conhece o menu surpresa de Dezembro uma boa hipótese é o hamburguer da Loja, que leva cebola caramelizada e queijo gruyére. As batatas fritas são mesmo caseiras, grossas e vêm no ponto, sem óleo a escorrer. Há uma dúzia de variedades de hamburgueres, no prato ou no pão, tábuas de petiscos para uma conversa ao fim da tarde, saladas e sopas para as dietas e, nos doces, uma tentadora mousse de chocolate da casa e, se ainda não tiver esgotado a célebre e única A Tarte de amêndoa.  A Loja fica na Rua D. Francisco Manuel de Mello 26.

 

DIXIT - “Não é uma Justiça igual para todos que destrói a democracia - é a impunidade” -  Luis Rosa, no “i”.

 

GOSTO - Os turistas que visitam Lisboa descobriram as castanhas assadas e tornaram-se compradores frequentes do petisco.

 

NÃO GOSTO - Da maneira sistemática como se repetem inundações em Lisboa cada vez que a chuva é mais intensa.

 

BACK TO BASICS - “Os políticos deviam ler livros de ficção científica em vez de histórias de detectives e de crimes” - Arthur C. Clarke

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publicado às 14:00

SOBRE A ARTE DE FUGIR DE DECIDIR

por falcao, em 21.11.14

 

INUTILIDADES - Uma coisa que me surpreende cada vez mais é como, neste tempo em que a propagação da informação surge instantaneamente em várias plataformas, alguns protagonistas da vida pública, seja política ou económica, persistem em achar que podem deixar para depois uma resposta. Neste tempo quem não responde, foge; quem não fala, esconde. Mesmo que não seja assim, o efeito é esse. O silêncio penaliza quem o amplifica. Os últimos meses estão cheios de casos destes - o BES, claro, mas também agora os efeitos directos e colaterais dos vistos gold, as taxas a taxinhas de Lisboa, as colocações de professores, o Citius e etc e etc. O desgaste de imagem dos protagonistas destas situações deve-se, em primeiro lugar, a uma má gestão dos tempos de resposta, à falta de capacidade de ter um discurso organizado, à falta de compreensão e previsão dos efeitos de uma medida, de um discurso, de uma decisão. Não estamos no século XIX para dizer, como ouvi por estes dias  a um ilustre académico empossado num cargo público, que só para a semana se pronunciaria sobre determinado assunto, aflito por o tutelar Ministro lhe ter passado a responsabilidade da reacção. O que sai fora de tempo, é inutil. Quem se deixa cair na inutilidade não se pode queixar de ser depois ignorado, ultrapassado, e de não ter voz activa na matéria que era suposto governar. É isto que amiúde se passa no reino.

 

SEMANADA - A posição da Galp e REN relativa à taxa extraordinária sobre o sector energético provoca um rombo de 60 milhões nas contas do Estado; o Tribunal Constitucional detectou ilegalidades em todas as candidaturas às presidenciais de 2011; as gorduras do Estado aumentaram mil milhões entre 2007 e 2015; a Assembleia da República teve prejuízos de 6,17 milhões de euros em 2013, um valor dez vezes superior ao resultado negativo de 2012, de 680 mil euros; Marques Mendes disse que achava que uma empresa, da qual é sócio, se extinguira em 2011 - por acaso a referida empresa, JMF, está ligada ao caso dos vistos dourados; Portugal registou este ano o número mais baixo de incêndios florestais dos últimos 25 anos; a GNR caçou este ano 39 incendiários em flagrante; uma empresa que assegura transportes escolares em Santa Maria da Feira deixou uma criança de 3 anos, por esquecimento, dentro do autocarro durante quatro horas; nove crianças por dia sofrem quedas graves; uma rusga da PSP num bar em Alcântara levou a que subitamente fossem deixadas no chão da pista de dança 11 armas brancas, uma soqueira e quase 200 doses de droga; Braga é a cidade portuguesa com maior número de pessoas inscritas num site destinado a promover a infidelidade nas relações afectivas - 17 mil utilizadores em Braga, 15 mil no Porto e 13 mil em Lisboa; parece que a RTP vai ficar com a transmissão dos jogos da Champions League por ter oferecido mais do que a TVI pagava por eles; no Reino Unido os jogos da Champions não são licitados pela BBC e são transmitidos pela ITV e a Sky Sports, ambas privadas, como a TVI.

 

ARCO DA VELHA - Em pouco mais de um ano os vistos gold passaram de case study para  caso de polícia e, pela primeira vez, um juiz mandou prender um director de uma das polícias do Estado.

 

FOLHEAR - Se ha coisa de que gosto é de uma edição provocadora. E poucas edições são tão atraentes, provocadoras e inesperadas como este “O Bordel das Musas ou as nove donzelas putas”, de Claude LePetit, agora lançado pela Guerra & Paz. A boa tradução é de Eugénia de Vasconcellos e as ilustrações, a condizer com o espírito libertino da obra, são de João Cutileiro. A edição é bilingue e parte do original francês, escrito no século XVII. O autor acabou na fogueira aos 23 anos - e, como diz o editor Manuel S. Fonseca no texto de apresentação, “queimaram-lhe o corpo por causa dos pecados das alma”. João Cutileiro, num curto texto recorda que “há pouco mais de 150 anos ainda na praça do Giraldo havia autos de fé e execuções com palco e tudo” E remata: “quando faço estes desenhos penso sempre nisto”. A tradutora, Eugénia de Vasconcellos, pelo seu lado,  sublinha o prazer que sentiu em “levar-lhe um verso que seja para outro país, outra língua”, recordando: “Claude Le Petit morreu muito jovem, a poesia não lhe cabe na idade; acredito que estamos diante de uma voz singular que tentou e desconseguiu romper o casulo das suas circunstâncias”.

 

VER - Uma semana com muito que observar. Começo pela Galeria Luis Serpa Projectos (Rua Tenente Raul Cascais 1B) onde abriu Skate.Exe - é a sétima exposição do ciclo “Olho Por Olho Mente Por Mente”comissariado por António Cerveira Pinto. André Sier partiu do universo do skate e esta exposição (na imagem) apresenta uma série de obras interativas multimédia, fotografia digital e esculturas 3D. Logo a seguir destaque para o novo espaço da Galeria das Salgadeiras (Rua da Atalaia 12 a 16) - e para a inauguração uma colectiva, “grifo”, que reúne trabalhos de Helena Gonçalves, Teresa Gonçalves Lobo, Pauliana Valente Pimentel, Cláudia Garrudo, Jaime Vasconcelos, Joanna Latka, e Marta Ubach. Na galeria Belo-Galsterer (Rua Castilho 71 r/c esq) , duas exposições: “Fúcsia” de Jorge Molder e “A memória Viva Nasce A Cada Dia, Florescendo”, de Catarina Branco. E, finalmente, no Museu do Chiado, a começar agora e durante um ano, apresentação de trabalhos de artistas portugueses que têm vindo a desenvolver trabalho lá fora, mas sem eco em Portugal, sob o título  “Ecos On The Wall: diáspora portuguesa”. Finalmente, em “A Pequena Galeria”, (Av. 24 de Julho 4C) este é o último fim de semana de “A Fotografia Nas Redes Sociais”.

OUVIR - Neil Percival Young completou 69 anos há poucos dias. Está a tornar-se num hábito, verdadeiramente fruto dos tempos, falar de novos trabalhos de nomes da primeira linha da música popular anglo-americana que continuam a fazer bons discos com idades, digamos, avançadas. Aqui há umas semanas falei de Leonard Cohen, que vai nos 80 anos, hoje é a vez de Neil Young. A sua carreira musical começou em 1966 com os Buffalo Springfield, portanto há quase cinco décadas - e o mais engraçado é que continuo a ter um imenso prazer a ouvir os discos dos Buffalo Springfield. Depois vieram os Crazy Horse, Crosby, Stills, Nash & Young e, em 1979, esse cataclismo conhecido por “Rust Never Sleeps”, que mudou a minha vida e a maneira de ouvir música - a minha e de muitos mais. É curioso que após todos estes anos o novo disco de Young tenha uma versão acústica e outra com uma orquestra; em 78 a digressão “Rust Never Sleeps” tinha uma primeira parte acústica e outra eléctrica. Passaram-se os anos e a electricidade ficou depurada. Mas mantém-se a ideia da pureza das formas - e sobretudo a intensidade de interpretação -  que só a versão acústica (apenas com guitarra, ukelele, piano e voz) transmite. A presença da orquestra em vez dos Crazy Horse é o sinal dos tempos e da idade. Mas é também o testamento da insubordinação e imprevisibilidade que Neil Young gosta de mostrar. São dez canções novas - quase 20 de tão diferentes que parecem nas duas versões.”Storytone”, este novo disco de Young, mostra o que ele sente, o que ele pensa e, acima de tudo como continua atento a tudo à sua volta. Gosto muito de “All Those Dreams”, “Like You Used To Do”, “Plastic Flowers”, o épico “Who’s Gonna Stand Up?” ou road songs como “I Want To Drive My Car” e “Glimmer”. Ou, sempre, da maneira como canta o amor, como aparece em “I’m Glad I Found You” ou “When I Watch You Sleeping”. Nos últimos tempos, antes deste disco, começou a pintar aguarelas, separou-se, apaixonou-se e gravou um disco em sistemas primitivos de som com Jack White. A seguir, pensou numa orquestra. Faz sentido. (CD Reprise, na Amazon)

 

PROVAR - Quando se tem uma segunda estrela Michelin num restaurante, merecida, não se pode desfazer a imagem criada com o que acontece num outro restaurante a uma centena de metros do premiado. O Belcanto recebeu esta semana a segunda estrela Michelin e José Avillez está de parabéns. Mas o bem que faz no Belcanto não pode justificar o que permite e tolera ali ao lado no Mini Bar, no Teatro de S. Luiz. Avillez tem cinco restaurantes na zona do Chiado e um no Porto. Talvez já não dê a atenção devida à sua marca e isso não é bom. No Chiado, além do Belcanto, estão o inicial Cantinho do Avillez, o Café Lisboa no S. Carlos, a Pizzaria Lisboa ali ao pé e o Mini Bar no S. Luiz. Já experimentei os cinco e não recomendo a Pizzaria Lisboa nem o Mini Bar. A Pizzaria porque não tem os mínimos de qualidade e serviço, o segundo porque a confecção e qualidade são inconstantes e o serviço é pretencioso e ineficaz. Fui lá esta semana e explicaram-me que finger food, que é o nome que dão ao que servem, se chama assim porque se come com os dedos; apreciei saber. Só não percebo porque é que num sítio de tapas se esconde o vinho longe do cliente sem haver condições para existir cuidado nem atenção para o servir quando ele é preciso na mesa. Há um lado pretencioso, no contraste entre os petiscos e o serviço, que é fatal. Constatei ainda que o tempero e qualidade dos pratos são variáveis - o cornetto temaki de atum com soja picante estava bom num dia e exageradamente temperado noutro; a cavala fumada com salada de maçã e aipo com trufa era insípida; as vieiras, cozinhadas no ponto, vinham no entanto com o sabor próprio demasiado ofuscado por um duvidoso tempero thai. Salvou-se o ferrero rocher “parece que é mas não é”, que leva foie gras, manteiga de cacau, natas e avelã. E salvou-se o vinho, um belo branco feito em parceria com José Bento dos Santos, com base nas castas Arinto e Viognier - pena é que fosse preciso fazer um requerimento cada vez que se queria continuar a degustá-lo. A única coisa constante foi o empratamento, viçoso. Mas os petiscos, petiscam-se, eventualmente com os dedos, sem ser só com os olhos. Estaremos perante um daqueles momentos em que a forma pretende superar o conteúdo?

 

DIXIT - "Não menti em nenhum dos momentos em que falei neste Parlamento" - Maria Luis Albuquerque, Ministra das Finanças, na Comissão Parlamentar de inquérito ao BES.

 

GOSTO - Do novo sistema de informação de proximidade, o Tomi, instalado em estações de Metro de Lisboa, uma espécie de tablet gigante com sugestões sobre a zona e que até selfies podem fazer.

 

NÃO GOSTO - A um mês do fim do primeiro período ainda há alunos sem aulas de compensação devidas pelos atrasos nas colocações.

 

BACK TO BASICS - O preço é aquilo que se paga, o valor é aquilo que se obtém - Warren Buffet

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publicado às 14:00

TAXAS - A OUTRA EPIDEMIA

por falcao, em 14.11.14

BASÓFIAS -  Por muito que eu tente assobiar para o ar é impossível fugir a este tema: António Costa aproveitou nos últimos anos todas as oportunidades que teve para criticar as medidas de austeridade, e nomeadamente os aumentos de impostos. Aproveitou os ares dos tempos, e sobretudo as indemizações do Estado, pendentes há décadas, à Câmara Municipal de Lisboa, para mascarar resultados e se armar em grande gestor das contas públicas. Depressa se esvaíram os milhões dessas indemnizações num aparelho autárquico que nunca reformou e, à primeira oportunidade, surgida agora, aumentou a colecta de taxas na cidade. Lisboa, quando a coisa fôr vista com atenção e distância daqui a uns anos, tornou-se num sorvedouro de ineficiências durante o consulado de António Costa - e esse é o seu cartão de visita para os eleitores quando se apresentar a eleições nacionais. Pelo sim pelo não já começou a recuar em questões como a reposição dos salários da Função Pública e outras promessas se esvaziarão com a suavidade própria dos vendedores de banha da cobra. Aos poucos se irá descobrindo como a basófia era maior que os ditames da realidade. Esta realidade mostrará que António Costa tem um mau currículo em Lisboa, mascarado apenas pelo efeito para o exterior, que sempre privilegiou, à defesa dos interesses dos habitantes e contribuintes da cidade que cá habitam e que no dia a dia vêem uma cidade mais agreste. Imaginem isto transposto para o país.

 

SEMANADA - Em 2013 os hospitais portugueses registaram 40462 casos de pneumonia e 8424 doentes (20%) acabaram por morrer; quase15%  das torres de refrigeração analisadas de 2010 a 2012 em todo o país tinham a bactéria legionella; a importação de bacalhau aumentou 76% em Outubro; o Presidente da República recomendou ao líder parlamentar do PS que fizesse “o trabalho de casa”; “O que andaram a fazer os accionistas e gestores” da PT - questionou Cavaco Silva numa declaração, sublinhando que essa é “uma pergunta que os portugueses têm o direito de colocar”; Cavaco Silva condecorou Zeinal Bava em 10 de Junho deste ano, com a ordem de mérito comercial; o ex-Presidente Ramalho Eanes afirmou que os portugueses não devem limitar-se a votar de quatro em quatro anos e que devem mostrar aos poderes que “não podem ultrapassar determinados limites”; uma stripper brasileira foi filmada a conduzir um alfa pendular da CP a 220 km/h e colocou o filme on line; Maria Luis Albuquerque admitiu que a classe média foi a grande sacrificada pelos planos de austeriodade, justificando esse facto por, disse, em Portugal existir um reduzido número de ricos; o BBVA fecha 43 balcões em Portugal; a banca reduz mais de 1200 colaboradores só este ano; o número de famílias que deixaram de pagar as mensalidades do crédito à habitação subiu para 150 mil; Luis Filipe Menezes diz ter sido alvo de um “tsunami psicoafectivo”, a propósito das suspeitas de corrupção e enriquecimento ilícito que o têm envolvido.

 

ARCO DA VELHA - Manuel Maria Carrilho deu uma conferência de imprensa para acusar o Governo de “apoio encapotado” a Bárbara Guimarães, sua ex-mulher, que leu um poema sobre violência doméstica num encontro promovido pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

 

FOLHEAR - Um livro que conta histórias do quotidiano, na linguagem de agora, sem preconceitos nem pruridos, que relata façanhas e pecados, bondades e malfeitorias, é de si um facto raro. Um livro que foge ao politicamente correcto e fala da vida que existe é quase subversivo. Um livro assim, escrito em Angola, nos tempos que correm, a relatar o dia-a-dia de personagens actuais, é coisa rara e - para mim - nunca vista. “A Virgem” é uma história de amor antigo no tempo de hoje, passado na cidade do Lobito. Está escrito com expressões do país, que nos levam a aprender o que é a Angola para além das intrigas políticas e das lutas de poder - este livro é um romance sem ser em tempo de guerra. É uma história de amor, simples sem ser piegas. Divertida. Bem escrita. Não é passado em Luanda, é no Lobito; não fala de ministros nem de generais, nem de condomínios, nem de fortunas e bancos. Fala das pessoas e do que elas fazem. O seu autor assina Tempestade Celestino, mas de facto chama-se Celestino Jerónimo, estudou Relações Internacionais e é funcionário público numa empresa do Lobito, depois de ter sido repórter, jornalista, cronista. Escreve sobre pessoas, costumes e os ritmos da vida. Só posso dizer que foi uma surpresa e gostei - da diferença e da ousadia que é escrever um romance apenas para contar uma história de amor. Conheço uns rapazes e raparigas que se aborrecem com este conceito. Edição “Guerra & Paz”.

 

VER - Como o nome indica uma revista interactiva, digital,  tem que ser vista e às vezes ouvida, não pode apenas ser apenas lida ou folheada. Baseada em três vectores - artes, ciência e tecnologia, e com opção de escolha entre textos em português ou inglês, a “Luz” está disponível para download gratuito para iPad na App Store em 74 países e já tem 4500 leitores. Estão disponíveis quatro edições, focadas nos elementos Sol, Água, Ar e Terra - tudo fontes de energia. A revista, concebida para ser vista em tablets, é uma aplicação nativa para iOS e vai estar brevemente disponível também em Android. Com esta publicação digital a EDP tem claramente como objectivo mostrar como está ligada às tendências e tecnologias mais recentes. Nos números já editados é possível, por exemplo, ver os projectos de arquitectura da nova sede EDP (que pode ser visualizada em 3D) e o Centro de Artes e Tecnologias da Fundação EDP, o primeiro a funcionar já para o ano e o segundo em 2016.

OUVIR - Hoje em dia tenho um método para os discos que continuo a adquirir compulsivamente - primeiro ouço-os no carro, nas voltas da cidade ou a caminho de casa. No carro consigo saltar rapidamente de faixa para faixa, voltar atrás, ver se uma canção resiste à interrupção de um telefonema que entra no sistema - no fundo é o equivalente moderno do salta-pocinhas feito com a agulha no tempo em que se ouvia vinil (por necessidade e não por moda). Álbum que resiste a este tratamento passa para a fase seguinte que é ser ouvido várias vezes em casa, de seguida, de fio a pavio. “Nostalgia”, de Annie Lennox, resistiu aos testes e passou à fase de escuta intensiva. Aproveitando o título do álbum deixo aqui uma nota pessoal, nostálgica se quiserem: o cartaz de lançamento do “Blitz - A Música em Jornal”, feito há 30 anos, tinha um fundo amarelo vivo, com as letras Blitz a vermelho e uma fotografia a preto e branco de Lennox, nessa altura na crista da onda dos Eurythmics, o tempo de “Sweet Dreams”; ainda colei uns cartazes desses à porta do Frágil, no Bairro Alto. O título “Nostalgia” vem do facto de este disco ser feito de versões do cancioneiro popular norte-americano, como “Georgia On My Mind”, “I Put A Spell On You”, “Summertime”, “I Cover The Waterfront” ou “You Belong To Me” e “The Nearness Of You” - são 12 ao todo.  Lennox, que está à beira dos 60 anos, claramente amadureceu voz, sensibilidade e capacidade de interpretação. Nunca vai pelo caminho fácil, arrisca por vezes remar contra a tradição. E fez um disco que me deu muitíssimo prazer. (CD Island/Universal, disponível nos sítios onde ainda há discos).

 

PROVAR - O edifício do Espelho de Água data da Exposição do Mundo Português, de 1940 - foi feito para ser a cafetaria do evento. Ao longo das décadas teve várias utilizações, desde posto de turismo até restaurante, passando por um clube privado e uma discoteca que fez época nos anos 90 do século passado, o T-Club. Os últimos anos foram para esquecer, em projectos sem qualidade e que afundaram rápido. Agora ganhou novo fôlego, com um novo proprietário que pela primeira vez desde há alguns anos soube aproveitar as potencialidades arquitectónicas do edifício e a sua localização, em cima do rio - e assim foi recuperada a esplanada. A decoração é simples mas cuidada, a realçar o edifício - que teve pequenas alterações como um parte do tecto que pode abrir na zona do bar. A cafetaria, aberta desde as 10 da manhã, ocupa o espaço, amplo, de entrada, convivendo com obras de arte - já que o novo proprietário, o empresário luso-angolano Mário de Almeida, é também galerista. E assim, lá está, finalmente, à vista, o mural que o artista norte-americano Sol Lewitt pintou em finais dos anos 80. Arte à parte a cafetaria tem propostas simples, de sandes a saladas, ovos em diversas versões e pisceas, que são as boas pizzas do local, até pratos (bem) confeccionados. Ao longo de todo o dia pode passar-se por lá e dentro em breve abrirá o restaurante, na sala que tem o mural de Lewitt . Em duas visitas, uma delas numa mesa mais numerosa, o resultado foi sempre bom em qualidade e muito razoável no preço. Quando o restaurante abrir darei notícias. Espelho de Água, Avenida Brasília, 213 010 510

 

DIXIT - “Em Portugal, já não há direita e esquerda, mas só governo e oposição, isto é, os que têm de se reger pelo dinheiro que há, e os que podem fingir que não tem de ser assim” - Rui Ramos, n’ Observador.

 

GOSTO - Do vinho Têmpera, 2010, de José Bento dos Santos, feito à base de uvas da casta Tinta Roriz.

 

NÃO GOSTO - Dos croissantes simples, massudos, da Sacolinha, no Chiado.


BACK TO BASICS - Na cauda é que está o veneno - anónimo

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publicado às 14:00

DIZERES POPULARES - A procissão, como se costuma dizer, ainda vai no adro. Esta corriqueira frase aplica-se às presidenciais, mas também ao futuro da coligação governamental, ao evoluir de António Costa no PS e, claro, ao BES, ao Novo Banco, às previsões do Orçamento do próximo ano, e, para manter um ar contemporâneo, à venda da PT - todos os dias tem aparecido novo interessado. Até parece que fica mal não querer comprar. Grupo que é grupo que se preze manifesta interesse. Afinal, a PT parece valer mais do que aquilo que se dizia - tantos são os interessados. Eu, que gosto do que a PT fez e construíu ao longo dos anos, às vezes ponho-me a falar com os meus botões e imagino o que seria se o poder anterior voltasse pela mão de um dos putativos compradores. Todos aqueles que andaram a esfregar as mãos de contentes quando Zeinal Bava saíu devem agora estar com uma considerável dor de cabeça com a possibilidade de ele poder estar ligado a quem, no fim, fôr o comprador. Ninguém sabe o que vai acontecer e acredito que muita água há-de correr nesta ponte por onde passa o negócio. E há muita gente a pensar se aqui se aplicará a frase: “o primeiro milho é dos pardais”.

 

SEMANADA - Insolvências de empresas e singulares caíram 32% entre Janeiro e Junho; a Comissão Europeia reviu em baixa as previsões de retoma da economia; a Comissão Europeia considerou irrealistas as previsões do Governo para 2015; o Banco de Portugal apresentou queixa contra Ricardo Salgado e outros ex-gestores do BES por suspeitas de burla, infidelidade e falsificação; a Câmara Municipal de Lisboa não entregou dentro do prazo estipulado o seu Orçamento para 2015; o ex-Presidente da Câmara de Vila Verde, Braga, aumentou a dívida da autarquia em mil por cento ao longo dos 12 anos do seu mandato; uma auditoria à reabilitação do Bairro do Aleixo, no Porto, aponta irregularidades à gestão de Rui Rio; a Câmara Municipal do Cartaxo, que tem uma dívida de 60 milhões de euros, pediu uma ajuda urgente de 11 milhões para cumprir o pagamento de necessidades básicas do funcionamento da autarquia; nos últimos dez anos verificaram-se 250 fugas das cadeias e há ainda 15 reclusos por apanhar; uma auditoria da Inspecção Geral da Justiça revelou que existem nas cadeias portuguesas negócios sem controlo no valor de 8,3 milhões de euros; nas cadeias estão cinco centenas de presos a cumprir penas por violência doméstica; desde 2012 a violência doméstica faz três orfãos por mês; num só ano a ASAE apreendeu 1,2 milhões de litros de vinho português adulterado; 13% dos portugueses entre os 20 e 79 anos têm diabetes; na semana passada o conjunto dos canais de cabo ultrapassou a SIC no horário nobre e está praticamente colado à TVI;  “Os Maias”, de João Botelho, é o 10º filme português mais visto de sempre.

 

ARCO DA VELHA - Xanana Gusmão não avisou Passos Coelho da expulsão de magistrados portugueses de Timor Leste invocando que “estava atrapalhado com outras atividades”. Os oito portugueses expulsos investigavam há três anos ministros do governo timorense alegadamente por corrupção..

 

FOLHEAR - Joana Stichini Vilela regressa à crónica das últimas décadas do século passado, com “LX 70 - Lisboa, do Sonho à Realidade”, uma espécie de sequela de “LX 60- A Vida em lisboa Nunca Mais Foi a Mesma”. O novo volume, dedicado à década de 70, faz a viagem pelos últimos anos do antigo regime e sobre os primeiros anos da democracia, incluindo os anos da brasa.

Aqui estão dados estatisticos de um ano, 1970, em que 63% dos partos ainda decorriam em casa, em que apenas 47% das casas tinham água canalizada e em que Portugal tinha 8,6 milhões de habitantes - e que foi o ano de estreia de “007 Ao Serviço de Sua Majestade” e o ano em que, apesar de Eusébio ter sido o melhor marcador, o campeonato foi ganho pelo Sporting. O livro prossegue a viagem pela década, pelas boites como o Stone’s, os programas de rádio e televisão, a arquitectura mais inovadora por exemplo nas igrejas, os filmes portugueses que marcaram uma época, a moda ou os grandes estaleiros de reparação naval inaugurados na altura. E depois, claro, os anos a seguir a 74 - a explosão, o regresso dos retornados, os primeiros partidos, os primeiros políticos, Carlucci, Crazy Horese, Cornelia e Capitão Roby. São 300 deliciosas páginas para quem viveu a década, aqui muito bem recordadas por escrita e imagem e com uma belíssima paginação, de Nick Mrozowski e Pedro Fernandes. A década de 80 desta equipa aparece quando? “LX70- LISBOA: DO SONHO À REALIDADE”, editado pela D.Quixote.

 

VER - Esta semana faço sugestões avulsas. Começo pelo Centro de Artes Visuais, de Coimbra, que expõe “Esta Terra É A Tua Terra - Os Anos 90 em Portugal, na colecção dos Encontros de Fotografia” (na foto) e que inclui imagens de António Júlio Duarte, José Manuel Rodrigues, Nuno Cera, Paulo Nozolino, Duarte Belo e de um conjunto de fotógrafos estrangeiros que foram convidados pelos Encontros, ao longo dos anos, a realizar trabalhos sobre Portugal. A curadoria é de Sérgio Mah.

Na Culturgest podem ser vistos cartazes de exposições desenhados pelos artistas que são expostos - é uma amostra da colecção Lempert, que tem cerca de 15 mil peças. Podem ser vistos cartazes criados por Robert Rauschenberg, Andy Warhol, Richard Hamilton, Dieter Roth, Oswald Oberhuber, Sol Lewitt, Marcel Broodthaers, Lawrence Weiner, ou Günter Brus, entre outros. A exposição “permite compreender em que medida e de que maneira um objeto, cuja função é publicitar e que tem um ciclo de vida curto, foi sendo recriado e valorizado por muitos artistas”. Está na Culturgest, em Lisboa, até 15 de Março.

Na Sociedade Nacional de Belas Artes e até 5 de Dezembro mostra-se uma colectiva sob o título “Projecto Sociedade/Um Cadáver Esquisito Para o Século XXI”, apresentando um alargado conjunto de participantes, entre artistas e curadores, que foram convidados a integrar uma obra colectiva “que retoma os princípios do "cadavre-esquis", método de criação colectiva espontâneo e inconsciente, guiado pela insondável justeza do acaso, inventado e profusamente praticado nas primeiras décadas do século XX por poetas e artistas surrealistas.” Integra imagens de Julião Sarmento, Inez Teixeira, Pedro Calapez, Rui Chafes, Luis Pavão, Delfim Sardo e João Pinharanda, entre outros.

OUVIR - Nos últimos anos Cecilia Bartoli tem-se dedicado a descobrir e divulgar compositores pouco conhecidos, pegando nas suas árias e dando-lhes o seu toque muito pessoal. As respectivas edições são exemplos de investigação sobre os autores, a sua época, as circunstãncias em que a música foi composta. Agora foi editado mais um trabalho nesta linha, “St. Petersburg”. Bartoli é acompanhada pela orquestra de cãmara I Barocchisti, dirigidos por Diego Fasolis e pelo côro da Readiotelevisão Suíça, dirigido por Gianluca Capuano. As onze árias aqui incluídas, investigadas pela própria Bartoli, foram agora gravadas pela primeira vez e mostram o trabalho de compositores como Araia, Raupach, Cimarosa e Manfredini, que cultivavam a ópera italiana bem longo do deu país, na corte imperial russa das Tsarinas Anna Ioannovna, Elizaveta Petrovna e Catarina a Grande, durante o século XVIII. A meia-soprano Cecilia Bartoli continua a ser um exemplo de técnica vocal e de capacidade de interpretação. CD Decca, disponível em Portugal.

 

PROVAR - Tenho para mim que um bitoque é uma espécie de prova dos nove em qualquer restaurante. Pelo bitoque avalia-se a qualidade da carne, o cuidado no molho, a arte do ovo estrelado e a atenção às batatas. Um destes dias fui experimentar a Casa do Lago, o novo restaurante que abriu no Campo Grande, no lado dos barcos a remos. Fechado durante anos, praticamente em ruínas durante algum tempo, o edifício foi reconstruído, redecorado e funciona desde há pouco tempo. Admito que o sítio me traz boas recordações, desde os tempos da adolescência e, sobretudo, da época da faculdade - o local fica paredes mesias com a Cidade Universitária. Além do mais tem um amplo terraço que proporciona uma boa esplanada, completamente arranjada, a meio do jardim e com vista directa para o lago onde continua a ser possível alugar uns pequenos barcos a remos. Na Casa do Lago o serviço é simpático, a decoração das duas pequenas salas do interior é simpática (uma delas também tem vista para o lago). Há pratos do dia que vão variando, há petiscos como tábuas de queijos e enchidos, ovos mexidos com farinheira ou com espargos ou folhados d emarmelo caramelizado com queijo de cabra. A lista inclui dois pratos de bacalhau (confitado e à portuguesa), o salmão salteado e um risotto de camarão. Nas carnes há cinco bifes e o acima mencionado bitoque. Há vinho a copo, Vale dos Fornos, da região Tejo - honesto. Passemos ao bitoque - carne de bom corte, no ponto em que foi pedido, ovo convenientemente estrelado, gema mal passada, clara em condições; molho saboroso sem transpirar gordura, batatas aos gomos salteadas, o que foi uma boa surpresa. Balanço geral positivo. Local sem pretensões nem enganos. Há parque de estacionamento na faixa interior do lado da Universidade. Está aberto de terça a domingo das 10 às 23 e no fim de semana fecha à meia noite. O telefone é 217 574 241.



DIXIT - “O PS tem de escolher: ou quer recuperar José Sócrates ou quer recuperar o país. Os dois juntos, não dá” - João Miguel Tavares

 

GOSTO - O lucro dos CTT cresceu 16,5% com os novos serviços que começou a prestar, e esta semana anunciou um serviço de expedição de pranchas de surf para vários pontos do país com uma embalagem própria.

 

NÃO GOSTO - A Europa perdeu 421 milhões de aves nos últimos 30 anos.

 

BACK TO BASICS - “Acredito que há por aí alguém a velar por nós. Infelizmente é o Governo” - Woody Allen

 

 

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