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MISTÉRIO - Terminei a semana passada a pensar que a frase “O Estranho Caso da Oposição Desaparecida” seria um bom ponto de partida para um policial de matiz política, passado no centro de Lisboa, ao redor de S. Bento. A verdade é que aquele que era suposto ser o partido líder da oposição, o PSD, está, sobre o PS e o Governo,  mais calado que Francisco Assis ou José Sócrates. A realidade é que o PSD só age quando é forçado a reagir - quando lá dentro alguém se sente incomodado pelo seu próprio silêncio, comparado com o ruído da oposição interna do PS ou o tacticismo eficaz do PP - que esta semana fez uma jogada de mestre ao obrigar o Programa de Estabilidade a ir a votos. Recordo que do lado do Governo e seus apoiantes tal votação era indesejada - e o PCP foi particularmente duro a dizer que não via necessidade em ir a votos, na mesma altura em que cinicamente formulava opinião negativa sobre esse mesmo Programa de Estabilidade. O Bloco, mais hábil nestas coisas que o PCP, deu a entender que não concordava mas foi-se esgueirando nos intervalos da chuva - até ser forçado a declarar o seu voto. Aquilo que a bancada do PP na Assembleia da República fez foi dar uma lição sobre os principios básicos da actuação parlamentar da oposição - colocando os aliados do governo a não ter outra alternativa que votar a favor daquilo que não gostam e remetendo para toda a esquerda o ónus de um Programa que é o reconhecimento de que as promessas eleitorais e as reivindicações de política económica da esquerda se revelaram um acto falhado. No fim de tudo isto vê-se que o Bloco, apesar dos esforços da deputada Mortágua, tem mais jeito a fazer propostas sobre a não discriminação de géneros do que a traçar rumos para o desenvolvimento do país.

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SEMANADA - A Presidente do Conselho das Finanças Públicas, Teodora Cardoso, declarou mais uma vez que as previsões do Governo são demasiado optimistas; o défice sobe a um ritmo de 1,2 milhões de euros por dia e atingiu 824 milhões no fim de Março; o Plano de Estabilidade assenta em mais 5,5 milhões cobrados em impostos; mais de dez mil milhões de euros saíram de Portugal para offshores nos últimos cinco anos; a poupança das famílias portuguesas está no nível mais baixo das últimas décadas; Lisboa, Porto, Sintra, Vila Nova de Gaia e Cascais são os cinco concelhos onde se concentra um quinto do poder de compra do Continente, segundo os dados do Sales Index da Marktest; no sector das obras públicas as adjudicações ficam em média em 21% do valor base e os construtores queixam-se de preços fictícios nos concursos; um terço das mais de sete mil queixas feitas em 2015 ao Provedor de Justiça foram contra o Instituto da Segurança Social e o Ministério das Finanças; o Governo falhou o prazo de fim de Abril para fechar o acordo com a TAP; nos últimos anos 400 padres deixaram o sacerdócio para casar; o Exército anunciou previamente as datas em que vai fazer inspecção ao Colégio Militar para averiguar se há discriminação sobre a orientação sexual dos alunos; a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária esteve seis meses sem processar as multas de trânsito; o PAN anunciou pretender que cães e gatos possam entrar em restaurantes e supermercados.

 

ARCO DA VELHA - Metade dos médicos de família reforma-se nos próximos dez anos e entretanto os centros de saúde querem contratar 700 médicos reformados para suprir as suas deficiências.

 

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FOLHEAR - Após alguns meses de edições insípidas a revista mensal “Monocle” voltou à sua melhor forma na edição do mês de Maio. O tema é aliciante, sobretudo vindo da revista que nos últimos anos mais se dedicou a analisar a vida nas cidades e a apresentar propostas para  a melhorar. Agora a “Monocle” olha à volta das grandes cidades e dedica-se a escolher exemplos de pequenas localidades onde viver é mais agradável, onde podem existir oportunidades de negócio e onde se pode trabalhar com menos stress e maior produtividade. “Aquilo que as pequenas vilas não têm em dimensão é compensado pelas oportunidades, as boas ideias e os bons planos para quem as escolhe” - escreve a revista. As melhores dessas vilas, prossegue a “Monocle”, têm um comboio perto que assegura uma viagem rápida e confortável até à cidade, criam emprego quer em start-ups tecnológicas em busca de baixo custo de instalação, quer através de indústrias e actividades tradicionais resultado da iniciativa própria de jovens empreendedores, têm uma vida animada todo  ano sem a pressão sazonal de turistas, dispõem de infraestruturas para a prática desportiva e espaços verdes abundantes e têm uma proximidade efectiva aos eleitos que decidem sobre esses locais. Lá dentro há artigos sobre imprensa local, exemplos escolhidos de vilas bem sucedidas e muitas ideias.

 

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VER - Chegou aquela altura do ano em que os trabalhos fotográficos seleccionados pelo World Press Photo ficam expostos em Lisboa, no Museu da Electricidade. Até 22 de Maio pode ser vista uma seleccção de 150 fotografias, entre elas o primeiro prémio, de Warren Richardson, uma imagem que mostra dois refugiados a fazerem passar um bebé através de uma vedação de arame farpado na fronteira entre a Sérvia e a Hungria. Destaque também para o trabalho do fotógrafo português Mário Cruz, da agência Lusa, vencedor na categoria “Assuntos Contemporâneos”. O jornalista concorreu com um ensaio fotográfico sobre a escravatura de crianças no Senegal e na Guiné- Bissau, intitulado “Talibes, Modern Day Slaves”, de onde é extraída a foto que acompanha esta nota. Outra exposição de fotografia que merece visita é a do fotógrafo moçambicano Filipe Branquinho, “Paisagens Interiores”, que mostra 24 imagens de Maputo, centradas no interior de edifícios públicos, espaços onde se adivinha, sem se ver, a presença humana. Na Galeria Avenida da Índia até 5 de Junho (Avenida da Índia 170, depois do CCB).

 

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OUVIR - Samuel Úria edita desde 2003 e integrou o catálogo da editora FlorCaveira, que também gravou Tiago Guillul (o fundador da editora) Manuel Furia, B Fachada e Diabo na Cruz, entre outros. Nos últimos anos Samuel Úria começou uma carreira a solo na editora NorteSul, da Valentim de Carvalho. O seu trabalho de 2013, “Grande Medo do Pequeno Mundo”, foi considerado um dos discos do ano e agora surge com “Carga de Ombro”, mais maduro na escrita das canções, mais certeiro na interpretação, mais apurado nos arranjos. E mais forte no conteúdo. Samuel Úria percorre um estreito caminho entre a música popular portuguesa e assumidas influências dos blues e de nomes como Tom Waits, tão marcante na maneira como escreve. Um disco que começa a primeira canção por contar “eu tinha a corda na garganta afinada em dó” e que depois proclama “eu tenho o futuro num post-it que é para ser lembrete” é declaradamente um caso invulgar. Eu, por mim, gosto ainda mais deste ”Carga de Ombro” que do disco anterior - e ele estabelece declaradamente Samuel Úria como um dos grandes autores portugueses contemporâneos de canções, com um domínio invulgar do idioma na composição musical. Acresce que a produção e os arranjos de Miguel Ferreira merecem ser destacados, porque ele faz um duo perfeito com Úria. “Carga de Ombro” inclui 11 novas canções e tem uma edição especial, exclusivo FNAC, que inclui um video gravado ao vivo nos Estúdios Valentim de Carvalho, com sete temas de anteriores trabalhos de Úria. A edição digital tem um tema extra.

 

PROVAR - Tinha saudades de ver o mar entre as Azenhas do Mar e a Praia Grande, de andar por ali, fora da época estival. Gosto sobretudo da estrada que sai da Praia das Maçãs e que atravessa as Azenhas do Mar - que para mim continua a ser um local mágico.  Há qualquer coisa naquele mar que exerce atracção - o sentido de Oceano, a côr, as falésias. Num outro pedaço de estrada, a descer para a Praia Grande, fica o Restaurante Nortada, um clássico da região, garantia de boa cozinha e de respeito pelos produtos do mar. Situado no alto da praia, tem uma vista única. No meio desta volta tive lá um belíssimo almoço que começou por uns percebes das Berlengas, que estavam superiores. A seguir vieram filetes de pescada com arroz de berbigão (perfeitos) e uma empada de robalo com legumes salteados e redução balsâmica que foi surpreendente pela novidade e pelo cuidado do preparo. O serviço é atento e simpático e, ao fim de muitos anos sobre a anterior visita, resta dizer que todas as qualidades que fizeram desta casa um dos mais apreciados restaurantes da região de Colares sem mantêm. Telefone 21 929 1516, Avenida Alfredo Coelho 8, Praia Grande.

 

DIXIT - "Era, talvez, preferível reduzir o IVA na electricidade do que reduzir o IVA nos restaurantes. A redução do IVA na electricidade beneficia todas as famílias portuguesas. A redução do IVA na restauração beneficia, essencialmente, os donos dos restaurantes, em certos segmentos" - Eduardo Catroga

 

GOSTO - Da campanha criada pelo Museu Nacional de Arte Antiga e que em seis meses conseguiu recolher 600 mil euros para comprar “A Adoração dos Magos”, de Domingos Sequeira, garantido assim a permanência da obra em Portugal.

 

NÃO GOSTO - Da arrogância de Vitor Constâncio face à Assembleia da República

 

BACK TO BASICS - “Um pessimista, confrontado com duas escolhas igualmente más, escolhe ambas” - provérbio judeu

 

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publicado às 14:35

FACTURAS - Estamos a pouco tempo, meia duzia de meses,  de ver se quem está no Governo mente ou não sobre o estado das finanças públicas e sobre o que pensa fazer a propósito da situação. Olho para novidades anunciadas pelo Governo nos últimos dias e que vejo? O Ministro da Economia, que ameaçou de excomungar da nacionalidade quem fosse abastecer a Espanha, prepara-se para proporcionar combustível mais barato em postos de abastecimento próximo das fronteiras, mas só para alguns - veículos pesados de carga e de passageiros. O comum dos mortais terá que fazer o favor de continuar a ser excomungado se for a Espanha. Outro membro do Governo promete baixar o preço de várias scuts do interior lá mais para o verão. Com tudo isto passa a haver vários portugais. Quem gritar mais fica com um portugalzinho à sua medida. Parece que aumentar a despesa é, neste Governo, uma linha política. A situação real é esta: Bruxelas exige cortes adicionais de 600 milhões nas reformas, quer travar aumento do salário mínimo nacional, a comissão europeia exige um corte adicional de 705 milhões de euros este ano. E o Governo que faz? Vais distribuindo prebendas, e diz que no fim da legislatura se verá. Só que antes disso, daqui a uns meses, quando as previsões do crescimento se revelarem erradas, vai perceber-se que falta dinheiro e então irá mais uma vez puxar pelos impostos e pelas taxas. Adivinhem quem vai pagar a factura....

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SEMANADA - O Ministro da Administração Interna anunciou, com solenidade, que o Governo está aberto a mudar o nome do Cartão de Cidadão; Pinto da Costa ganhou as eleições no F. C Porto com 79% dos votos, o seu resultado mais baixo de sempre;  a Agência Nacional do Medicamento francesa concluiu que a BIAL deu uma informação errada no ensaio clínico em que morreu uma pessoa; uma estação de saneamento recém construída pelas Águas do Norte  numa freguesia de Guimarães, com um custo de quase cem mil euros, foi alvo de um auto da GNR por atentado ambiental porque faz a descarga de esgotos directamente no rio Ave; a partir deste fim de semana, e pelo menos até final do ano, vão decorrer as obras no eixo Marquês de Pombal-Saldanha, o que vai complicar o trânsito em todo o centro de Lisboa; a CGTP perdeu mais de 60 mil sindicalizados nos últimos quatro anos, uma quebra de cerca de 10%; no primeiro trimestre deste ano a DECO recebeu 6434 pedidos de ajuda de sobre-endividados, mais do dobro do total de pedidos durante todo o ano de 2008; há 372 mil desempregados que não recebem qualquer subsídio; os produtos falsificados de marcas de luxo valem 2,5% das importações mundiais; Portugal é o 9º maior produtor mundial de vinho; o número de casamentos subiu ao fim de 15 anos; os portugueses já gastam 90 euros por mês em compras na net; um estudo de uma consultora internacional evidencia que metade dos administradores e directores financeiros de grandes empresas entrevistados considera que as práticas de suborno e corrupção acontecem de forma generalizada no país; as remessas dos emigrantes caíram 18,5% em Fevereiro.

 

ARCO DA VELHA - Mais de 300 mil alunos dos  2º, 5º e 8º anos continuam sem saber se vão fazer provas de aferição marcadas para os dias 6 e 8 de junho por culpa do zigue zague de decisões do Ministério da Educação.

 

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FOLHEAR - Confesso que muitas vezes desligo de um romance às primeiras páginas - mas não foi o caso desta vez. O romance em causa fez-me ficar acordado uma boa parte da noite em que escrevo estas notas. O título chamou-me logo a atenção: “À Espera de Bojangles”,  uma evocação da canção Mr. Bojangles, popularizada por Nina Simone. Trata-se do romance de estreia de Olivier Bourdeaut e devo confessar que a história é um bocado amalucada mas funciona na perfeição para agarrar o leitor do princípio ao fim. É a história de uma família, simples, bela e triste como as histórias simples são muitas vezes. É muito bem contada e muito bem escrita, tem um toque de loucura, um ritmo invulgar e uma utilização libertina das palavras e da evolução da narrativa no tempo. Gostei do livro, gostei da ideia da história, tão pessoal e tão capaz de misturar a realidade que se adivinha com a invenção que se sente. É um livro fantástico - não só pela atracção que exerce como pela fantasia a partir do qual é construído. O primeiro parágrafo do romance é assim: “O meu pai tinha-me dito que, antes de eu nascer, a sua profissão era caçar moscas com um arpão. Tinha-me mostrado o arpão e uma mosca esborrachada”. Quando um livro começa desta maneira é impossível não continuar a lê-lo até ao fim. Edição Guerra & Paz, sai em Maio, já falta pouco.

 

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VER - Esclareço desde já que sou parte interessada no que a seguir vou recomendar. O criador do Newsmuseum, Luis Paixão Martins, convidou-me há uns meses para ser o curador da área de fotojornalismo que lá seria desenvolvida. Aceitei, com entusiasmo, a ideia - foi como fotojornalista que de facto comecei no jornalismo, há umas décadas atrás, e a fotografia, principalmente o fotojornalismo, é uma das minhas paixões pessoais. Dito isto, vamos ao que interessa. O Newsmuseum não é um equipamento estático, parado no tempo. É a visão contemporânea e tecnológica de grandes momentos da história da comunicação em Portugal e no mundo, de que a imagem aqui usada - um Eça de Queiroz na esplanada à porta do museu com um smartphone na mão - é um claro sinal. Claro que há vitrinas com equipamentos que caíram em desuso mas que nos deram as notícias ao longo do século XX - mas há também uma aplicação em iOs ou Android que pode ser descarregada gratuitamente para acompanhar a visita - desde as zonas de guerra à propaganda, passando pela rádio, o desporto e até o futuro da comunicação, um mergulho no que está para vir graças à realidade aumentada proporcionada pelos oculus rift que lá existem. Este é um museu onde os recursos da tecnologia são bem utilizados para que os visitantes se sintam eles próprios parte do processo de comunicação. O Newsmuseum é uma instituição privada sem apoios estatais, fica no centro de Sintra, tem uma loja com material próprio e está aberto todos os dias, a partir da próxima segunda-feira 25 de Abril. Todas as informações - horários, preços e acessos - em www.newsmuseum.pt , ou na página do facebook. Rua Visconde de Monserrate 26, Sintra.

 

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OUVIR - O novo disco de P.J. Harvey é tudo menos consensual. É, como o Observer lhe chamou, uma reportagem sobre o estado do mundo feita numa batida rock, em que as letras das canções são como artigos que relatam conflitos e problemas. O título do disco é logo um episódio : “The Hope Six Demolition Project”. O véu sobre o título levanta-se na primeira canção, “The Community Of Hope”, que fala de estradas de morte e destruição entre edifícios governamentais numa das capitais do mundo. A segunda faixa, um das melhores do disco por sinal, “The Ministry Of Defence”, traça um relato duro das instituições que o Estado diz erguer para defesa dos seus cidadãos e acaba com uma frase dura : “This Is How The World Will End”. Em vários pontos o disco faz lembrar “Let England Shake”, de 2011, só que em vez de falar apenas de Inglaterra, P. J. Harvey debruça-se agora sobre o estado do mundo. O álbum foi gravado ao longo de 2015, algumas partes frente a uma audiência em estúdio. John Parish, o guitarrista que tem acompanhado a carreira de P.J. Harvey revela-se mais uma vez um eixo sólido ao longo de todo o disco, e assegura a produção. Mas vale a pena salientar que a própria P. J. Harvey se revela em grande forma vocal, talvez a melhor dos seus últimos discos - e por acaso não se sai nada mal também no sax alto. Desiludam-se os tímidos - este é um disco de provocações e slogans, duro como o rock e cortante como o punk era. Seria fastidioso enumerar as boas canções que aqui estão, mas não resisto a elogiar “River Anacostia” e, sobretudo, “The Wheel”. Para já, é o melhor disco do ano. CD Island/ Universal Music.

 

PROVAR -  Volta e meia gosto de voltar a um restaurante que conheci na fase inicial de sua vida e que, na altura, se revelou uma boa surpresa. É sempre bom verificar se as qualidades se mantêm ou se de repente há algum defeito inesperado. No Rua Artilharia Um, no local  onde ficava o Mezzaluna abriu no início de 2015 a pizzaria Forno D’Oro, por iniciativa do chef  Tanka Sapkota, o mesmo que fez do Come Prima um dos grandes restaurantes italianos de Lisboa. O nome provém do forno das pizzas, imponente, a dominar a sala, folheado a ouro. Voltei lá esta semana e confirmo que as qualidades estão intactas: uma massa de pizza exemplar, muito leve, bons ingredientes, um bom serviço e um preço simpático. Provámos uma pizza vegetariana e uma caponata e ambas estavam muito boas - destaco a qualidade dos ingredientes da caponata e o ponto certo da sua cozedura. A casa gaba-se das suas cervejas e tem uma extensa lista de cervejas artesanais, algumas italianas. A cerveja de pressão Benedikter que acompanhou a caponata revelou-se perfeita. Antes das pizzas vieram bruschettas e uma focaccia que é provavelmente a melhor de Lisboa - com azeite temperado a balsâmico para embeber. A casa é hoje em dia muito frequentada ao jantar por estrangeiros dos hotéis próximos, a clientela é diversificada. O jantar para duas pessoas ficou em 35 euros - e no fim é oferecida uma grappa ou um limoncello. Eu fiquei bem com a grappa. A casa estava cheia, é mesmo conveniente marcar. Rua Artilharia 1 - nº16, telef 213 879 944. Aberto todos os dias.

 

DIXIT - “Liderar um governo ou um país tem exigências. Uma delas consiste na necessidade de ser ou ter algo mais do que jeito para resolver problemas. A direcção política não se resume à habilidade para tratar de conflitos” - António Barreto

 

GOSTO - Da ideia de centrar Os Dias da Música, que este fim de semana decorrem no CCB, numa espécie de banda sonora para “A Volta Ao Mundo em 80 Dias”, de Júlio Verne

 

NÃO GOSTO - Da perda de tempo com questões como o género do Cartão de Cidadão-

 

BACK TO BASICS - Nunca deitem abaixo um muro até perceberem bem a razão porque ele foi erguido - G. K. Chesterton

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publicado às 16:06

FUTURO - O Facebook foi lançado em Fevereiro de 2004, há 12 anos portanto. O seu crescimento foi exponencial e hoje o número de pessoas que o utilizam regularmente ultrapassa 1,6 mil milhões em todo o mundo. Em Portugal os utilizadores regulares ascendem a 5,7 milhões. Hoje em dia o universo do Facebook inclui o sistema de mensagens Messenger, mas também o WhatsApp e o Instagram. Em poucos anos o Facebook tornou-se no maior concorrente, em termos de números de utilizadores, mas também de volume de negócios, do Google. A nível global, o tempo médio passado no Facebook por cada utilizador e por mês é de 6,3 horas. Diariamente,  mil milhões de pessoas acedem ao Facebook por um período médio de 20 minutos. Os números são impressionantes. Na verdade a grande diferença entre o Google e o Facebook é que o Google tem muita informação sobre o mundo, mas o Facebook tem muita informação sobre cada pessoa que o utiliza. Há uns anos atrás, não muitos, quando estávamos em casa, toda a gente na sala olhava para um único ecrã - o da televisão. Hoje em dia, em muitos casos, cada pessoa tem o seu próprio ecrã. O mundo mudou e o Facebook é parte desta mudança. Esta semana Mark Zuckerberg anunciou os seus planos para os próximos dez anos. O resumo é simples: proporcionar internet em regiões remotas graças a uma série de satélites e aviões emissores (que funcionarão a energia solar) e garantir que a conectividade seja uma realidade universal e gratuita; desenvolver a relação dos sistemas de messaging com o comércio electrónico; utilizar a inteligência artificial para escolher conteúdos adequados aos gostos de cada utilizador; fomentar a emissão de videos em directo no Facebook; explorar o mundo da realidade aumentada; desenvolver as possibilidades da internet nos campos da saúde e educação. E isto é apenas o começo - o Facebook está a entrar no campo do hardware, como o o Gear VR ou o Oculus Rift, ambos dispositivos de realidade virtual que vão alterar a forma de produzir e consumir entretenimento. Zuckerberg diz que a sua missão é ligar as pessoas, garantir que elas possam comunicar umas com as outras em qualquer ponto e em qualquer circunstância - e isso proporciona-lhe imensa informação sobre cada utilizador. A revista The Economist colocou esta semana Mark Zuckerberg na sua capa, e dedicou-lhe o editorial. O título? - Imperial Ambitions. Se quiser conhecer os planos de Zuckerberg veja aqui o roadmap que ele desenhou para os próximos dez anos numa conferência do Facebook para programadores, que decorreu esta semana - https://developers.facebook.com/videos/f8-2016/keynote/

 

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SEMANADA - O Banco de Portugal vai inaugurar o seu Museu do Dinheiro na próxima quarta-feira; esta semana foi anunciado que o Banco de Portugal vai ter dois novos administradores - uma ex eurodeputada e um ex administrador do banco mau do BES; no espaço de uma semana saíram três membros do Governo - o Ministro e o Secretário de Estado da Cultura e também o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, este último em “profundo desacordo” com o Ministro da Educação; em Fevereiro os depósitos a prazo captaram 6,5 mil  milhões de euros em novas aplicações, o valor mensal mais elevado do último ano; registou-se um aumento do crédito à habitação de cerca de 80% nos ultimos 12 meses; segundo o Observatório de Economia e Gestão da Fraude a economia paralela daria para pagar cinco orçamentos anuais da saúde; segundo o FMI Portugal vai ter um dos crescimentos mais fracos do mundo; o número de empresas exportadoras baixou no ano passado pela primeira vez desde 2009; Angola desceu de quarto para sexto cliente de produtos portugueses; a TAP reportou 99 milhões de euros de prejuízo em 2015, o pior resultado desde 2008; o Metropolitano chegou à Reboleira seis anos depois da data prevista inicialmente para a conclusão das obras; as portuguesas internadas com anorexia têm em média 14 anos e ficam internadas 51 dias no hospital; Portugal não forneceu dados que permitam que justiça nacional seja comparada com a do resto da União Europeia; o Ministro da Defesa diz que o Chefe de Estado Maior do Exército lhe desobedeceu; Vasco Lourenço veio pedir a cabeça do Ministro da Defesa.


ARCO DA VELHA - Oito funcionários do Fisco foram detidos com suspeita de corrupção e o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos não achou melhor que vir avisar logo de seguida que os cortes salariais aumentaram o risco de corrupção na Autoridade Tributária.

 

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FOLHEAR - O primeiro livro de viagens que li foi “A Volta Ao Mundo Em Oitenta Dias”, de Júlio Verne. Li-o com uns oito anos  e senti uma emoção igual à que anos mais tarde senti com o primeiro Indiana Jones. Com Júlio Verne descobri depois o fundo do mar  em “Vinte Mil Léguas Submarinas” e percebi como o planeta escondia segredos fascinantes em “Viagem Ao Centro da Terra”. Estes três livros foram escritos entre 1864 e 1872 e eu li-os, numeros redondos, cem anos depois. Com os dois últimos e “Da Terra à Lua” descobri os encantos da ficção científica, mas foi mesmo com “A Volta Ao Mundo Em Oitenta Dias” que descobri o prazer da literatura de viagens e aventuras. O livro, baseado numa aposta de um nobre inglês, Phileas Fogg, percorre países e continentes e muitas vezes relata episódios que se podiam passar mesmo hoje, quase século e meio depois. Em boa hora decidiu a editora “Guerra & Paz” editar textos clássicos e este é um deles. Esta edição inclui as 58 ilustrações originais da primera edição,  da autoria de Alphonse de Neuville e Léon Benett, e ainda  o mapa da viagem de circum-navegação. A tradução, exemplar, é de Helder Guégués - e fiquem sabendo que Júlio Verne é o autor mais traduzido em todo o mundo depois de Agatha Christie e as suas obras são, no seu conjunto, as mais publicadas, logo depois da Bíblia.

 

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VER - Steve McCurry é um dos grandes fotógrafos da prestigiada agência Magnum, e em Lisboa, na melhor espaço de exposição e venda de fotografia que temos, a Barbado Gallery (Rua Ferreira Borges 109) está uma magnífica exposição sua sobre a Índia, país que ele já visitou cerca de 80 vezes nas últimas três décadas. É muito curioso que em cerca de seis meses que leva de vida, a Barbado Gallery já tenha mostrado dois dos grandes nomes da Magnum, a agência que contou entre os seus fundadores Robert Capa e Henri Cartier-Bresson. As fotografias de McCurry são poderososas - como a da menina afegã que em 1985 fez a capa da National Geographic, revista para a qual trabalha frequentemente. A imagem que aqui reproduzimos foi feita em Bombaim - mãe e filha coladas ao vidro de um carro que passava. McCurry tem um olhar especial, quase sem tempo definido, sobre aquilo que o rodeia e é isso que faz o seu encanto. Muitas das fotografias foram feitas na década de 80 e 90, mas não perderam razão de ser. São clássicos. Do género que a Barbado nos proporciona poder ver. Todas as informações em www.barbadogallery.com.

 

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OUVIR - Canções que são como conversas de café parecem uma raridade em Portugal, nos anos mais recentes, sobretudo se escritas e cantadas em português. Felizmente os Capitão Fausto existem e praticam o género. Cada canção é como se fosse uma história, um episódio de vida. Os Capitão Fausto praticam música pop da melhor estirpe, bem imaginada, bem tocada e bem cantada. Desenganem-se aqueles que pensam que isto é coisa fácil - fazer uma boa canção pop é do mais difícil que há. Um álbum pop tem sempre telhados de vidro maiores que um álbum que se pretenda de nicho. Aos nichos marginais tudo é permitido, a começar pela incompreensibilidade e a terminar na inaudibilidade. Portanto a vida é-lhes sempre mais fácil. Difícil mesmo é criar canções originais que façam sentido nas palavras e na música e que fiquem no ouvindo, apetecendo trautear. Este é o terceiro disco dos Capitão Fausto e eu gosto de canções como “Semana Em Semana”, “Corazon”, “Dias Contados” ou a minha preferida, “Alvalade Chama Por Mim”. Resumo - Têm Os Dias Contados é dos melhores discos portugueses dos últimos tempos. CD Sony.

 

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PROVAR -  Gosto muito de conservas e ultimamente tenho andado a explorar as variedades de cavala que estão no mercado. A cavala é um peixe injustamente subvalorizado, mas é um dos que resulta melhor em conserva, talvez até melhor que muita lata de sardinha que por aí anda. Esta semana provei uma variedade que ainda não conhecia e fiquei fã - filetes de cavala com temperos da marca Tricana - cenoura, cebola, louro, especiarias como cravinho e pimenta. Os filetes são muito bem cortados e funcionam às mil maravilhas  com uma massa como farfalle (da Cecco,recomendo), que rapidamente ganha o sabor envolvente. Vai à perfeição com um Marquês de Borba branco da colheita de 2015 - feito a partir das castas Arinto, Atão Vaz e Viognier - um vinho fresco ideal para estas ocasiões. Jantar simples, prazer garantido.



DIXIT - “Liderar o PS foi a melhor escola para gerir conflitos” - António Guterres na sua audição como candidato a Secretário Geral da ONU.


GOSTO - A RTP1 vai exibir o documentário "Amadeo: o último segredo da arte moderna", de Christophe Fonseca. a 20 de Abril, no dia da inauguração da exposição no Grand Palais.


NÃO GOSTO - Com António Costa ficou estabelecido que o critério para a contratação de assessores para processos negocias complexos passou a ser a amizade pessoal com o Primeiro Ministro.


BACK TO BASICS - “A grande questão não é saber se conseguimos que as máquinas pensem; o principal problema é conseguir que os seres humanos pensem” - B.F. Skinner

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publicado às 14:00

FÁBULA - Era uma vez um senhor chamado António que queria muito mandar em tudo. O senhor António tinha sido eleito para presidente da junta da sua terra, mas gostava mais de outro lugar onde mandasse mais. Nas eleições da sua terra tinha jurado a pés juntos que mandar nas ruas e ruelas da terrinha era mesmo o que ele queria e prometia dali não sair. Mas manhoso como é, e já a pensar na sua tropelia seguinte, o senhor António tinha posto como seu braço direito o senhor Fernando. O senhor Fernando não percebia nada das coisas da terrinha, mas ninguém se importava com isso, muito menos o senhor António. A seguir ao senhor Fernando vinha o senhor Manuel, que já tinha sido o braço direito do senhor António, mas que não era do mesmo clube. e por isso teve que ficar um bocadinho para trás. O senhor Manuel quando se olhava ao espelho pensava-se o Marquês do Pombal e tinha como desejo reconstruir a sua terrinha. Esperto, percebeu logo que o senhor António se queria ir embora e sabia que o senhor Fernando percebia pouco das coisas que interessavam. De maneira que viu uma oportunidade de, não mandando no papel, ser ele a mandar por interposta pessoa. Quando o senhor António se foi embora da terrinha deixou os problemas nas mãos do senhor Fernando que, aflito, se virou para o senhor Manuel e pediu ajuda. O senhor Manuel sorriu, esfregou as mãos de contente, virou-se para o espelho e disse: “agora é que vai ser”. E, assim começou paulatinamente a destruir a terrinha, para depois a reconstruir à sua maneira, como o velho Marquês tinha feito depois de um terramoto. Como agora não havia terramoto, o senhor Manuel encheu o peito de ar e disse: “terramoto eu serei”. O senhor Manuel odiava carros e quem os usava. Para ele a terrinha devia ser como um bibelot - muito certinha, guardada numa redoma, de preferência sem utilizadores. Imaginou logo um esquema: os habitantes da terrinha íam ter obras com fartura que demorassem muito tempo, para andarem pouco pelas ruas; haviam de não poder andar nos seus carritos de uma ponta à outra, por dentro da terrinha - se quisessem que fossem por uma das estradas do lado de fora da redoma, para não sujar o bibelot - assim as visitas escusavam de ver quem vivia na terra. Os indígenas - como o senhor Manuel lhes chamava - demoravam mais tempo e sentiam incómodo? -  “Paciência” - rangia o senhor Manuel, dizendo entre dentes: “se não gostam, que vão morar para outro sítio”. No meio disto o senhor Fernando julgava que estava tudo como ele queria e foi-se até convencendo que o que se passava era da sua lavra. Nunca percebeu que a única coisa que fazia era dizer que sim ao senhor Manuel. Ufano, o senhor Fernando foi pondo notícias nos jornais a explicar que, mesmo não parecendo, o presidente da junta era ele. O senhor Manuel sentava-se ao lado de uma das valas que esventrava as ruas e agarrava-se à barriga , de tanto rir, enquanto lia páginas e páginas da gazeta da terra a falar com o senhor Fernando.

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SEMANADA - Até Março venderam-se mais de 205 carros por dia, a antecipar a subida de impostos; o FMI pediu um reforço da austeridade; Angola pediu assistência ao FMI exactamente cinco anos depois de Portugal o ter feito; esta semana os prazos constitucionais atingiram o ponto a partir do qual o novo Presidente da República recuperou o poder de dissolução da Assembleia da República; Mário Draghi participou no Conselho de Estado, o primeiro convocado por Marcelo Rebelo de Sousa; na comissão parlamentar de inquérito apurou-se que o Banco de Portugal desaconselhou a resolução do Banif 15 dias antes de a aplicar; em Portugal, no ano de 2015 saíram para offshores 2,25 milhões de euros por dia; o numero de emigrantes portugueses que são licenciados triplicou no último ano; José Sócrates acusou o Ministério Público de fazer terrorismo de Estado; cerca de mil contribuintes por dia pedem ajuda para preencherem o IRS; 16 militantes do PS de Coimbra foram suspensos por terem falsificado fichas de inscrição no partido; do 1º ao 4º ano há mais de 94 mil alunos em turmas que têm, em simultâneo, vários anos de escolaridade diferentes; os orçamentos das universidades e institutos politécnicos vão perder 57 milhões de euros face ao que tinha sido inscrito no Orçamento de Estado para este ano; António Costa quer dar às secretas acesso a dados dos telemóveis.

 

ARCO DA VELHA - Em Vila do Conde foi assaltada uma ourivesaria que fica ao lado de uma esquadra da PSP.

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FOLHEAR - António Caeiro é um jornalista português que viveu na China muitos anos e já escreveu vários livros sobre as relações luso-chinesas : “Pela China Dentro - Uma Viagem de 12 anos”, “Novas Coisas da China- Mudo, logo existo” e, agora, “Peregrinação Vermelha - O Longo Caminho Até Pequim”. Como António Caeiro faz notar, “Portugal foi um dos países europeus onde o comunismo chinês teve mais adeptos e parte da sua actual elite foi maoísta durante a juventude”. Este novo livro é uma história dessa atracção e dos contactos entre Portugal e a China vermelha. Como o autor relata, durante três décadas, até 1979, Portugal e a China não tiveram relações diplomáticas mas os contactos “secretos, clandestinos ou oficiosos” nunca foram interrompidos - o que em parte se explica pela presença em Macau e pelo facto de nenhum dos dois países e regimes considerar o território uma colónia. O livro conta uma sucessão de histórias, algumas quase aventuras e “agarra” os leitores do princípio ao fim - há muita coisa que se descobre e aprende nestas páginas que evocam muitas conversas tidas pelo autor ao longo dos anos. Numa altura em que a China volta a estar no centro do Mundo e em que tanto se fala da presença chinesa em Portugal, aqui está uma boa forma de conhecer melhor a história da relação entre os dois países. (Edição D. Quixote/ Leya).

 

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VER - Vou começar com uma sugestão no Porto, na Galeria Pedro Oliveira - a exposição de Cecília Costa. A exposição agrupa vários desenhos a óleo, outros a fita cola e carvão e duas esculturas de madeira, na realidade duas propostas de mesas transfiguradas - uma delas com livros e outra com uma esfera de aço polido (na imagem). Sob o título “Força Fraca”, Cecília Costa combina figuras geométricas com as suas mesas alteradas - até 21 de Maio. Do Porto passamos para Coimbra onde, no  Centro de Artes Visuais (CAV) está a exposição “O Coração da Ciência”, que sob a curadoria de Albano da Silva Pereira reúne até 12 de Junho fotografias de Álvaro Rosendo, Candida Hofer, Joan Fontcuberta, Joel Peter Witkin, Jorge Molder e Paul Den Hollander, entre outros. Em Lisboa, destaque para “Linhas de Diálogo”, uma exposição que no Espaço Novo Banco, Praça Marquês do pombal, em Lisboa, apresenta uma selecção de obras das colecções de fotografia da Fundação Coca Cola Espanha e da Colecção Novo Banco (ex-BES), que, sabe-se agora, está à venda por força do que aconteceu à instituição bancária - é considerada uma das mais importantes colecções de fotografia contemporânea europeias. E, a terminar, na sala de exposições da Torre do Tombo com “Livros de Muitas Cores” onde podem ser vistas fotografioas de escritores portugueses feitas por Luísa Ferreira em 1997 e 2000 para os pavilhões de Portugal na Feira do Livro de Frankfurt e no Salão do Livro de Paris.

 

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OUVIR - A 13 de Abril de 1965 a histórica sala do Olympia de Paris acolhia, pela primeira vez, um digressão de alguns dos maiores artistas da etiqueta discográfica que pôs a música soul nas bocas do mundo - a Tamla Motown. Nessa noite, em Paris, actuaram Steveie Wonder, The Supremes, The Miracles, Martha (Reeves) & The Vandellas e Earl Van Dike and The Soul Brothers: The Tamla Motown Show. Paris tinha acolhido anos antes o jazz norte-americano e recebia de braços abertos a soul music. A sala do Olympia estava cheia (ao contrário do que tinha acontecido dias antes nos concertos em Londres). A editora decidiu gravar o concerto e o resultado foi um LP que fez história “Motortown Revue in Paris”. 40 anos depois eis que surge uma edição em CD duplo que agrupa três dezenas de temas cantados nessa noite, 12 dos quais surgem agora em disco pela primeira vez. “Motortown Review In Paris” é um duplo CD com edição especial da Tamla, distribuído em Portugal por Universal Music.

 

PROVAR -  Cheio de hesitações entrei na Mexicana um dia destes à hora de almoço. Pedir um bife três pimentas, muito mal passado, com ovo estrelado e batata frita é um teste a qualquer local. Em primeiro lugar ver se a carne é de boa qualidade - em segundo lugar ver se de facto veio mal passado mas saboroso da pimenta e do tempero, ter a certeza que tenha sido frito e não grelhado com  molho depois adicionado por cima; outro ponto importante - que o bife, apesar de mal passado venha quente e que não esteja frio de frigorífico no meio (já me aconteceu numa das casas do cozinheiro Vitor Sobral); em terceiro lugar desejar que o molho não seja parecido com restos de um galão, destruindo todo o sabor; verificar ainda que o ovo venha estrelado e não recozido e, finalmente que as batatas estejam fritas e estaladiças e não espapaçadas e moles. Pois então tenho a dizer que gostei do bife na renovada Mexicana. A rematar o café estava bom, sem vir queimado e o pastel de nata recomenda-se. A sala do fundo, do restaurante, está com mais luz, mais limpa, a mobilia foi bem restaurada, os painéis estão fantásticos. Nem mesmo os balcões frigoríficos da entrada me escandalizaram. Acho que a Mexicana se salvou de aparência e de conteúdo- Há um mix de empregados antigos e novos, o serviço está mais atento e simpático. Dentro de pouco tempo vai abrir uma taberna, vocacionada para os petiscos. Hei-de lá ir experimentá-la. E à Mexicana voltarei quando por lá passar de novo. Avenida Guerra Junqueiro 30C, à Praça de Londres, telefone 218 486 117.

 

DIXIT - “Estamos a criar um império europeu em Bruxelas, guiado pela Alemanha” - João Ferreira do Amaral.

 

GOSTO - Da inauguração do novo equipamento cultural de Coimbra, o Convento de S. Francisco, que pretende ser um pólo de atracção de públicos de toda a região Centro.

 

NÃO GOSTO - Do que significa um Ministro que ameaça fisicamente quem o critica, como João Soares fez a Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente.

 

BACK TO BASICS - Aprendi a usar a palavra “impossível” com o maior dos cuidados - Von Braun.





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PRIMAVERA - Estamos oficialmente na Primavera, tempo de romance, a estação do ano em que a sedução anda à solta. Veja-se o que tem acontecido nestes dias: o Presidente da República e o Primeiro Ministro partilharam a mesma posição sobre a eventual venda de bancos portugueses a  capital estrangeiro; Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa foram juntos ao futebol, a Leiria, ver o Portugal-Bélgica; Marcelo e Costa estiveram também juntos nas críticas à gravidade da pena de Luaty Beirão;  o Orçamento de Estado passou sem frisson e foi promulgado antes do 1º de Abril para não existirem graçolas entre a razoabilidade das previsões orçamentais e o dia das mentiras. Está tudo portanto no melhor dos mundos. A maior prova do espírito primaveril vem, no entanto, de Rui Rio, que fez uma interrupção do seu ruidoso  silêncio para se juntar a Marcelo e a Costa, mostrando uma grande convergência de pontos de vista, como se costumava dizer nos comunicados oficias entre representações de países satélites da ex-URSS. Parafraseando a feliz expressão de Vasco Pulido Valente, ouso dizer que a geringonça encontrou finalmente um mecânico que poderá reparar alguma avaria que possa ter. É sabido como Rui Rio gosta de restaurar e recuperar veículos, portanto tem as competências necessárias para o caso de a geringonça conduzida pelo seu amigo Costa gripar algum cilindro ou quebrar algum amortecedor. Que o hábil Rio apareça e se ofereça como mecânico da geringonça na semana do Congresso do PSD é evidentemente um fruto do acaso, como tanta coisa no nosso Portugal.

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 SEMANADA - Marcelo Rebelo de Sousa recebeu um cão pastor alemão oferecido pela Força Aérea; dirigentes das associações representativas dos cães de raça portuguesa lamentam que não tenha sido oferecido um cão de “linhagem” lusa ao Presidente; já depois da oferta do canídeo soube-se que o Presidente vai fazer uma visita oficial à Alemanha; Marcelo Rebelo de Sousa optou por fazer uma comunicação ao país fora dos jornais televisivos das 20h00, preferindo as 17h00, horário do chá; o cenário escolhido para a comunicação, com uma escrivaninha e um pedaço de tapeçaria como fundo de imagem, foi muito comentado por especialistas em televisão, que o acharam desadequado; António Costa, referindo-se à reposição de feriados, disse que: “ há valores acima das conveniências conjunturais”; o numero de clientes de banda larga fixa aumentou 9,5% no ano passado, para um total de 2,99 milhões; num país tão dado a tecnologias foi revelado que o site do fisco não trabalha com alguns dos browsers mais usados do mercado; um em cada quatro professores, do pré-escolar ao ensino superior, está a recibos verdes; existe um déficit de sete mil camas na área dos cuidados continuados em todo o país; em 2014 formaram-se 2633 enfermeiros e emigraram 2850; no Hospital de Chaves foram adiadas cirurgias porque não existia fio para suturar as costuras das operações.

 

ARCO DA VELHA - Luis Amado, ex-Ministros dos Negócios Estrangeirs aquando da assinatura do Tratado de Lisboa, disse no Parlamento, a propósito do caso Banif, que as instituições europeias funcionam como um “centro de poder burocrático extremamente agressivo” ,  sublinhou que o poder da Europa chega a assemelhar-se a um “rolo compressor” e defendeu que “temos de reavaliar a relação com a UE”.

 

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 FOLHEAR - O mercado está cheio de livros de dietas e de conselhos de alimentação, muitos deles com muita promessa e pouca explicação. Não é o caso de um novo título que se destaca e que faz da guerra ao açúcar a sua causa. Trata-se de “Doce Veneno”, da nutricionista Cláudia Cunha. O livro vai além da evidência dos bolos e dos doces ou do açúcar que se coloca no café e, por exemplo, dá conselhos sobre como ler as etiquetas dos alimentos processados em busca de formas de açucares escondidos. O ponto de partida é que o açúcar cria uma dependência, tal como o álcool, por exemplo, dependência que está ligada a uma série de doenças que à partida não imaginaríamos. “Doce Veneno” explica ainda o que o açúcar faz ao nosso organismo, desmistifica os substitutos artficiais do açúcar e aconselha alimentos a eliminar e outros a introduzir. Este livro de Cláudia Cunha estabelece um plano prático de desintoxicação do açúcar em 21 dias, sugere listas de compras saudáveis para serem utilizadas no plano e, mais tarde, no dia a dia. Além disso inclui um conjunto de receitas de culinária ajustadas ao plano, do pequeno almoço a snacks para comer durante o dia, passando pelas refeições principais. O livro é editado pela Esfera dos Livros e Cláudia Cunha tem um site que pode seguir em www.nutricaocompanhia.com .

 

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VER - Várias sugestões para esta semana. Começo por destacar  uma das raras exposições de Manuel João Vieira, fundador dos Ena Pá 200, Irmãos Catita, artista plástico, compositor, músico e cantor, que criou e encenou diversas personagens em palco e em exposições diversas. Esta, chama-se “Viagens Na Minha Terra” e está na galeria Giefarte, Rua da Arrábida 44, ao Rato, até 26 de Abril (na imagem) . No Museu Colecção Berardo estará patente até 25 de Setembro a exposição “O Enigma - Arte Portuguesa na Colecção Berardo”, que agrupa trabalhos de Rui Chafes, Jorge Molder, João Maria Gusmão e Pedro Paiva, Pedro Cabrita Reis, João Tabarra e Ana Vieira.  Passando para  a Fundação Gulbenkian sugere-se “Inside a Creative Mind”, uma exposição que visita a obra de sete arquitectos portugueses - Aires Mateus, ARX Portugal, Carrilho da Graça, Gonçalo Byrne, Inês Lobo, Siza Vieira e Souto de Moura. Fica patente até 6 de Junho e inclui pequenos documentários de Catarina Mourão sobre os projectos apresentados. Destaque para uma maltratada exposição de João Mariano, que apenas até dia 16 fica no Arquivo Fotográfico Municipal (Rua da Palma 246), 20 fotografias do litoral de Lagoa sob o título “O Conhecido Desconhecido”. Finalizo com “Mexicano”, a exposição de Bruno Cidra que inaugurou esta semana na Galeria Baginski, onde ficará até 7 de Maio - Rua Capitão Leitão 51 e 53, ao Beato.

 

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OUVIR - Entre meados dos anos 40 e 50 do século passado o produtor Norman Granz juntou um grupo de músicos de excepção, em formações de geometria variável.  O centro das operações começou por ser o Philarmonic Auditorium, de Los Angeles e, da série de concertos aí realizada, nasceu a sigla JATP - Jazz At The Philarmonic, que fez longas digressões pelos Estados Unidos. Nessa altura Ella Fitzgerald tinha começado a gravar para uma editora de jazz acabada de nascer, a Verve - que teve a felicidade de registar o seu talento sobretudo no apogeu da sua carreira. “The Ella Fitzgerald JATP” é um CD que reune 19 temas gravados entre 1949 e 1954, ou entre os 32 e 37 anos da cantora, uma das suas melhores fases. O CD, que agora agrupa pela primeira vez registos antes editados em vários LP’s, começa por um concerto de 1949 no Carnegie Hall em que Ella é acompanhada por Hank Jones, Ray Brown e Buddy Rich com interpretações excepcionais em “A New Shade Of Blues” e “Black Coffee” e uma versão arrebatadora de “Oh Lady Be Good”, de Gershwin. A segunda série de gravações, de 1953, foi feita no Connecticut e inclui clássicos como “Bill” de Jerome Kern e uma reinterpretação de um grande êxito de Peggy Lee, “Why Don’t You Do Right”. E um ano depois, em 1954, Ella, faz maravilhas com “Hernando’s Hideaway”, uma canção menor de uma banda sonora que ela transforma, outro Gershwin - “The Man That Got Away” e, a finalizar, “Later”, que ela já tinha gravado em estúdio nesse ano mas aue aqui aparece numa outra versão. Ao todo 22 temas de um lado menos conhecido da carreira de Ella Fitzgerald, fora dos estúdios, acompanhada por músicos fantásticos em concertos ao vivo cheios de fulgor. CD Verve, distribuído em Portugal por Universal Music

 

PROVAR -  Depois de escrever sobre um livro que prega a contenção, até fica mal abordar este tema, ainda por cima com três exemplos e um extra. O primeiro é uma conserva de achovas do Cantábrico, situada em Laredo, no norte de Espanha. São da marca Codesa, uma empresa familiar. A série Oro, disponível nos supermercados do El Corte Inglês, na zona do frio perto da peixaria, tem anchovas pescadas nos meses de Abril e Maio, que ficam um ano em salmoura, até serem cortadas em finíssimos filetes, embalados em azeite virgem, em caixas de 48 gramas. Perdoem-me os conserveiros portugueses, mas estas anchovas da série Oro da Codesa são os melhores filetes de anchova que conheço. Por mais estranho que pareça com estes filetes vão bem as finíssimas tostas de pão de centeio integral Finn Crisp, absolutamente sem mais nada - assim brilha o sabor das anchovas e das tostas. A terminar, para acompanhar isto, vem um produto bem português - um vinho tinto de superior qualidade, o Ex-Aequo de 2011, produção da Quinta do Monte d’Oiro, de José Bento dos Santos com Michel Chapoutier. Com 75% de Syrah e 25% de Touriga Nacional, este vinho mereceu a classificação de 95 pontos de Mark Squires, no Wine Avocate. Como no fim das anchovas ainda deve sobrar vinho sugiro que se prolongue a conversa, com as mesmas tostas, com um queijo da ilha de S. Miguel velho, de cura prolongada. A splendid time is guaranteed for all, como dizia o outro.

 

DIXIT - “Resta saber se o possível será suficiente...Só em 2017 saberemos se o modelo provou” - Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o Orçamento de Estado

 

GOSTO -  A Orquestra Jazz de Matosinhos regressa aos Estados Unidos para uma residência de uma semana no mítico clube Blue Note, de Nova Iorque.

 

NÃO GOSTO - China Irão e Rússia são os três países com maiores restrições à liberdade de criação artistica, segundo um relatório divulgado esta semana

 

BACK TO BASICS - “O meu objectivo não é que as minhas respostas agradem a quem faz as perguntas” - William Shakespeare

 

 

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