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DIA DAS MENTIRAS OU DIA DO POLÍTICO?

por falcao, em 31.03.17

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MENTIRINHAS - Sábado é dia 1 de Abril e esperam-se as habituais manchetes de jornais com as mentiras que são a tradição da data. Mas o meu palpite é que este ano vamos ter imensos dias da mentira. Com as eleições autárquicas marcadas provavelmente para 1 de Outubro a coisa promete mentira a rodos durante os meses de verão e mentirinhas acrescidas em qualquer estação. Esta semana Fernando Medina já deu um ar da sua graça nesta matéria clamando que a oposição mente quando diz que as infraestruturas de Lisboa estão em mau estado, sem reparar que o nariz lhe crescia de forma desmesurada enquanto falava. A data escolhida para as eleições autárquicas vai permitir que depois se inicie o ciclo do Orçamento de Estado - tema que o Bloco de Esquerda já introduziu esta semana, a propósito da Comunidade Europeia, reivindicando a saída do Euro e a renegociação da dívida, em clara contradição com o que António Costa disse  a propósito dos 60 anos do tratado de Roma. Não certamente por acaso foi esta a semana que a senhora May escolheu para assinar a carta de partida, pondo o Brexit em movimento. E também não certamente por acaso o PCP deixa ao Bloco a despesa da conversa europeia porque já percebeu que esticar a corda demais em tema tão delicado pode partir o guindaste que faz mover a geringonça. Algo me diz que o Verão de 2017 vai dar pano para mangas. No fim do ano alguém pode promover  um concurso onde os políticos na berra se colocam frente a um espelho e dizem assim: “Espelho meu, quem mente melhor que eu?”. Com sorte a RTP ainda faz um programa disto com o Fernando Mendes, chamado “A Mentira Certa”. E vai ter  audiências.

 

SEMANADA - Segundo a Associação Portuguesa de Apoio À Vítima, registam-se três casos por mês de mulheres agredidas pelas outras mulheres com quem vivem; ainda segundo a APAV o retrato tipo das vítimas de agressões domésticas mostra que 82% são mulheres com uma média de idades de 50 anos, mas estão a crescer as agressões a homens e a idosos; os serviços dos CTT vão ficar mais caros 2,4% a partir de 4 de Abril; em fevereiro, 42% das páginas dos sites auditados pela Marktest foram acedidas através de equipamentos móveis; uma auditoria descobriu que a Direcção Geral da Segurança Social atribui regalias aos seus funcionários que não estão previstas na lei, nomeadamente um benefício de 12 dias anuais de não trabalho que acrescem aos dias de férias; com mais de 60 mil unidades espalhadas pelo país as entidades que desenvolvem a economia social são responsáveis por 6% do emprego; o Bloco de Esquerda criticou o Governo de António Costa “por manter intactos os problemas de fundo do país”; Catarina Martins, de caminho, sublinhou que  “é urgente preparar o país para o cenário da saída do euro”; entre criadores, designers e marcas o Portugal Fashion, este ano na 40ª edição, movimenta 500 milhões de euros e tem um horizonte de emprego de 15 mil pessoas ; Fernando Medina classificou de demagogia os reparos feitos à sucessão de problemas surgidos em infraestruturas da cidade de Lisboa por falta de conservação.

 

ARCO DA VELHA - A maioria das escolas do 1º ciclo não possui o material exigido para as novas provas de aferição nas áreas de Expressões físico-motoras e artísticas a que 90 mil alunos terão que se sujeitar este ano pela primeira vez.

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FOLHEAR - O primeiro romance de Dulce Garcia conta uma história de amor em que uma mulher aposta tudo numa paixão e um homem se deixa derrotar pelas circunstâncias e o conformismo. O homem é o infiel, que arrasta atrás de si as relações por onde passa, para voltar sempre ao mesmo sítio. A mulher bate-se por manter a paixão viva até chocar de frente com a realidade que lhe escapou. Refugia-se num lugar de passagem, que foi aquilo em que ela própria se tornou; vai viver para um aeroporto, vagueando entre partidas e chegadas, e é a partir daí que vê o mundo e conta a sua história. O título, “Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum”, é em si mesmo um achado, resumindo de forma crua o que vai dentro da cabeça de Isabel, a mulher que passa na vida a perder aqueles de quem gosta. Afonso é o vilão, a viver em constante mentira, derrotado pela vida,  e que acaba, talvez, por ser o grande perdedor. A estrutura da escrita é envolvente e por ela passa um sentido de humor subtil que consegue conviver com o dramatismo da situação relatada - uma mistura rara que é um dos motivos de atracção do livro que, também por isso agarra o leitor do princípio ao fim. “Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum”, Dulce Garcia, edição Guerra & Paz.

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VER - No bom sentido do termo o MAAT entrou na rotina - ou seja, encheu o seu espaço de exposições. No novo edifício, além da instalação/intervenção, na Galeria Oval,  de Hector Zamora sobre barcos de pesca em ruínas, o destaque vai para “Utopia/Distopia”,  que percorre todo o espaço expositivo, mostrando em simultâneo exemplos  das valências de arte, arquitectura e tecnologia que são a declaração fundadora de todo este equipamento. A exposição é imensa, tão densa que por vezes se torna difícil de seguir e compreender num espaço físico que não favorece uma diversidade e imensidão de propostas como as que aqui se apresentam. Por vezes a montagem apresentada parece um mero armazém de ideias. No novo espaço criado na parte antiga do edifício está a segunda apresentação da colecção de arte da EDP no MAAT. E é, deste novo ciclo de exposições, a que tem a montagem mais conseguida, sob o título genérico “O Que Eu Sou”, tirado de um poema de Teixeira de Pascoaes. São 40 obras que evocam os próprios artistas que as criaram - veja-se o auto retrato de Manuel João Vieira que aqui se reproduz, uma deliciosa ironia sobre as tensões criativas deste artista. “O Que Eu Sou” fica até 29 de Maio e “Utopia/Distopia” até 21 de Agosto. E pronto, o MAAT está a funcionar em pleno, com os jardins envolventes terminados e o espaço totalmente pronto a receber os visitantes. A partir de agora as entradas são pagas - a cinco euros para cada um dos espaços ou a 9 euros para os dois; vale a pena considerar a possibilidade de se tornar membro - por 20 euros por ano pode visitar as exposições as vezes que quiser sem pagar mais por isso.

 

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OUVIR -  Por um lado é a voz; por outro as vozes - como se interpretasse diversas personagens enquanto canta; há também a inteligente produção e,  finalmente, as palavras - as palavras que são o que chama mais a atenção deste sexto disco de Laura Marling, uma britânica que vive dividida entre os dois lados do Atlântico e que ora canta com uma cristalina pronúncia inglesa, ora usa um sotaque californiano. Neste novo “Semper Femina” Laura Marling faz um álbum sobre a mulher a quem, logo cedo, recomenda que não se esqueçam de que são sempre uma mulher, a tradução do título que escolheu em latim: "A thousand artists' muse/But you'll be anything you choose". Criada no folk, embevecida pela soul music, Marling mostra todo o seu potencial em temas como “Wild Fire”, mas também em “Nouel”, “The Valley”, em “Don’t Pass Me By” ou na faixa de abertura, “Soothing”.  Intimista, o disco acaba com “Nothing, Not Nearly”, onde, no final, se ouve uma guitarra a ser pousada e alguém a sair, como no fim de um concerto, quando se abandona o palco. “Semper Femina” é feito destes detalhes, com palavras que exprimem ideias  que vão desde as relações entre pessoas até à observação do que nos cerca: “We love beauty because it needs us to”. CD “Semper Femina”, Laura Marning, no Spotify.

 

PROVAR -  O nome de Aguinaldo Silva é conhecido por assinar a autoria de algumas das telenovelas mais populares da Globo. A sua ligação a Portugal, onde vive durante parte do ano, passa também pela hotelaria e restauração. Há alguns anos tem um pequeno hotel em Óbidos, o Casa das Senhoras Rainhas, e um restaurante chamado “Comendador Silva”, que ganhou boa fama na região. O “Comendador Silva” de Óbidos mantém-se e em Dezembro surgiu um novo, em Lisboa, na zona de S. Sebastião. Tem uma sala simpática e confortável, um serviço atento e a cozinha é dirigida pelo chef  Napoleão Valente. Ao almoço propõe um menu executivo a 11 euros, que inclui um prato de peixe ou carne, uma bebida, sobremesa (doce ou fruta) e café. A oferta vai sendo renovada todas as semanas, muda todos os dias, mas normalmente à quarta-feira há uma boa feijoada portuguesa com enchidos de muito boa qualidade e tempero acertado. Nas sobremesas destaco a tarte de maçã, com uma base de massa exemplar e o puré  a envolver pedaços da dita e nozes, tudo bem temperado com canela. Aos sábado é dia fixo do buffet de cozido, que já ganhou fama. A carta apresenta pratos principais de 14 a 20 euros onde chama a atenção uma massa fresca com lavagante que se tornou num dos emblemas da casa. Há marisco variado e a lista de vinhos é bem escolhida. O menu de almoço inclui um copo de vinho da casa, satisfatório, mas, segundo constatei, de quantidade variável conforme o empregado. Comendador Silva, Rua Latino Coelho 50A, telefone 215816246. Encerra às segundas.

 

DIXIT -  “Em 2018, 2019, Portugal terá que decidir se quer continuar no Euro ou não. Se decidir ficar, será o fim da geringonça” - João Marques de Almeida

 

GOSTO - Alegando erros conceptuais e o estado de conservação, o vereador do PP no Município de Lisboa pediu uma auditoria a todas as ciclovias da cidade, a ser efectuada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

 

NÃO GOSTO - Segundo o INE, a população com menos de 15 anos de idade residente em Portugal diminuirá até 2080, passando dos atuais 1,5 milhões para menos de 1 milhão de pessoas.

 

BACK TO BASICS - “As pessoas só aceitam a mudança quando se defrontam com a necessidade, e só reconhecem a necessidade quando a crise já lhes caíu em cima “ - Jean Monnet

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publicado às 13:30

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AMNÉSIAS - À medida que se vai desenrolando a meada dos problemas da banca portuguesa fica-se com uma certeza: durante cerca de uma década, já neste século, instituíu-se um grupo de pessoas e de empresas que concentraram em si um endividamento sistemático que foi rodando de banco para banco, sempre aumentando, numa dívida colossal que acabou por criar problemas em diversas instituições financeiras. Sabe-se lá porquê essas pessoas e empresas receberam empréstimos uns a seguir aos outros, sem garantias reais, baseados em planos de negócio irrealistas, deliberadamente forjados, e em que a palavra optimismo peca por manifesta modéstia. Um traço comum a uma boa parte destas entidades é que não se lhes conhece actividade produtiva e geradora de riqueza que tenha vindo a criar proveitos para pagar os empréstimos recebidos; em contrapartida vão sendo conhecidas manobras especulativas, tentativas de controlo de bancos e de empresas, obstrução da actividade de livre concorrência, alinhamento em manobras políticas a troco de novos empréstimos. Vai-se percebendo que a actividade normal dos mercados foi contrariada por especuladores que receberam dinheiro só para travar negócios em vez de produzir riqueza, que delapidaram milhões para ajudar manobras de conquista de poder, em vez de fazerem crescer a economia. Impávido, o Banco de Portugal, em várias encarnações, assistiu a tudo isto sem nunca mostrar querer parar o caminho que as coisas levavam, dando atestados de idoneidade que já fazem parte do anedotário nacional e fechando os olhos a situações que hoje todos consideram aberrantes. A pouca vergonha andou à solta e passeou-se por onde quis, dos corredores do poder político aos corredores do poder financeiro. E estranhamente, nos envolvidos existe uma amnésia colectiva. Quem agora os ouve diria que nada se passou.  

 

SEMANADA - Há 90 leis, em vigôr desde 2003, que continuam coxas porque nunca foram regulamentadas; o PS bloqueou na Assembleia Municipal de Lisboa a audição de técnicos sobre o cancelamento do concurso para as obras da Segunda Circular; a dívida pública voltou a subir em janeiro; o movimento de mercadorias no Porto de Lisboa, sobretudo graças a importações, cresceu 20% nos dois primeiros meses do ano face ao período homólogo de 2016; o preço das casas no centro histórico de Lisboa aumentou 46% em cinco semestres; o custo da mão de obra no 4º trimestre de 2016 aumentou 1,6% na zona euro e 1,2% em Portugal; as remessas dos emigrantes subiram 44,4% em Janeiro; desde 2015 mais de cinco mil agressores domésticos com culpa provada ou assumida foram dispensados de ir a julgamento e cumprir pena pelos magistrados que aceitaram que os acusados limpassem o cadastro mediante o pagamento de uma quantia; desde 2006 houve 40 reformas curriculares nos ensinos básico e secundário; o Ministro da Educação recusou as propostas para punir praxes académicas; no final de Fevereiro 57% do território estava em seca fraca;  a apreensão de animais de espécies raras ilegalmente trazidos e vendidos em Portugal triplicou no ano passado para um total de 234; o BCE criticou Portugal pela falta de reformas estruturais; um estudo sobre a actividade bancária publicado esta semana indica que em 2020 os portugueses entre os 25 e 30 anos não irão pedir crédito para compra de habitação com a frequência de gerações anteriores; os despedimentos colectivos diminuíram 22% em 2016; na Póvoa do Varzim e em Vila do Conde há 45 barcos de pesca parados por falta de pescadores; só 15% dos refugiados acolhidos em Portugal encontraram trabalho; em Lisboa sucedem-se acidentes nas infraestruturas em contraste com os embelazamentos e congestionamentos que são a linha política da Câmara Municipal.

 

ARCO DA VELHA - Cientistas da Universidade de Coimbra estudaram o cérebro de membros de claques de clubes de Futebol e descobriram que os adeptos activam circuitos semelhantes aos do amor quando vêem o seu clube.

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VER  - José Manuel Rodrigues é um dos poucos fotógrafos portugueses com uma carreira internacional consistente, que o tornou numa referência. Viveu durante duas décadas na Holanda, onde participou no movimento Perspektief, sempre apostou na experimentação e trouxe dos seus tempos de performance ideias que foi incorporando na sua linguagem visual. Reside em Évora, em cuja Universidade lecciona, desde meados dos anos 90, e as suas aulas são frequentadas por alunos de diversos países. Galardoado com o Prémio Pessoa em 1999, a sua obra está representada em diversas colecções portuguesas e estrangeiras, nomeadamente na Culturgest, Bes-Foto, Serralves, Dutch Art Foundation (Amsterdam), Van Reekum Galerie (Apeldoorn), Prentenkabinet (Leiden) e La Bibliothèque Nationale (Paris), entre outros. Tem exposto regularmente em diversos países. “Não conheço quem, no mundo, melhor pense o carácter e as possibilidades da fotografia, reinventando-a sempre” - as palavras são de Jorge Calado, no Expresso, referindo-se a José Manuel Rodrigues. Em Lisboa não expunha desde 2014, quando esteve na Pequena Galeria e agora podemos ver “Errata” na Barbado Gallery, a mais importante galeria portuguesa de fotografia. Trata-se de uma exposição quase antológica que mostra diversas épocas da sua actividade criativa, evidenciando a sua experimentação em diversos géneros da fotografia, do retrato à encenação, passando pelo ensaio fotográfico, com obras que vão de 1982 até 2010, entre elas uma imagem de um ensaio sobre o Alqueva, pronto há anos mas nunca exibido. A exposição estará até 18 de Abril, na Rua Ferreira Borges 109 A.

 

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OUVIR - Jose James é um dos mais versáteis músicos do jazz contemporâneo. A Wikipedia apresenta-o como um cantor de jazz moldado para a geração hip hop  e é patente a forma como Jose James consegue combinar influências de vários sectores - desde Billie Holiday a Gil Scott Heron ou Terry Callier - e o próprio gosta de dizer que uma das suas fontes de inspiração é a música de John Coltrane. “Love In A Time Of Madness”, o seu novo disco, o quarto que grava para a Blue Note, é um exemplo da abertura de Jose James às novas sonoridades pop, não se coibindo de trabalhar em estúdio com os mais destacados produtores contemporâneos de rhythm’n’blues e soul music. Não deixa também de ser curioso como ele evoluíu do álbum anterior, uma bem conseguida homenagem a Billie Holiday onde reinterpretou clássicos da cantora, para este novo trabalho onde se conseguem encontrar referências a nomes como Kanye West ou Bryson Tiller. E nem sequer hesita quando, a meio do disco, em dois ou três temas, retoma sonoridades que evocam Prince. “Love In A Time Of Madness”, de Jose james, CD Blue Note, já disponível em Portugal.

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FOLHEAR - Em ano de eleições aqui está um livro que todos os candidatos deviam ler antes de começarem a falar em comícios. Trata-se de um manual de excelentes exemplos, intitulado “Grandes Discursos da História”. A recolha está a cabo de um dos maiores entusiastas de discursos e citações que conheço, e que é Henrique Monteiro, jornalista, cronista, comentador político, confesso contador de histórias e além disso director-geral adjunto de Informação do Grupo Impresa. Aqui estão 23 discursos, desde a seminal “Apologia de Sócrates” por Platão, até ao discurso de tomada de posse de Barack Obama, passando pelo “Elogio Fúnebre a Júlio César” por Marco António, a “Proclamação da Vitória em Austerlitz” de Napoleão Bonaparte, “Sangue, Labuta, Lágrimas e Suor” de Winston Churchill, “Ich Bin Ein Berliner” de John Kennedy e outros de autores como Martin Luther King, Ronald Reagan, Gandhi, Lincoln, Lenine ou Jesus de Nazaré. Cada um dos discursos é antecedido por uma breve nota de Henrique Monteiro, que contextualiza o autor da oratória no seu tempo. Estas palavras percorrem 2500 anos de História, desde Péricles a Obama, como Henrique Monteiro salientou no texto introdutório destes “Grandes Discursos da História”, uma edição Guerra e Paz.

 

PROVAR - Um destes dias, ao fim da tarde, dei comigo a espreitar a montra de uma pequena esplanada na Rua Correia Teles, em Campo de Ourique. Numa ardósia, à porta, estava escrito “Aperitivo Italiano” e o estabelecimento dava pelo nome de La Bottega. Lá dentro produtos italianos - de queijos a enchidos e fumados, passando por massas Cecco, massas frescas feitas na casa, molhos preparados, conservas de tomate, gressinos, biscoitos e bolos tradicionais. La Bottega apresenta-se como uma mercearia que serve take-away, pequenos almoços, almoços e aperitivos de fim da tarde. Além da esplanada quando os dias estão bons, há uma meia dúzia de mesas no interior. Aos almoços há um menu que por 9 euros inclui o prato do dia, uma bebida, sobremesa e café. Os pratos do dia podem ser consultados semanalmente na página do La Bottega no Facebook. Ao fim da tarde é o reino do aperitivo, desde um prosecco até um Aperol Spritz ou um Campari. E, na melhor tradição italiana, cada aperitivo vem com uma tábua de tapas. Quem quiser algo mais substancial pode pedir uma tábua de queijos e fumados - entre os quais se destaca um fiambre com trufas… Fiquei a saber que a casa está ligada aos dois restaurantes Il Matriciano, que existem em S. Bento. No La Bottega a simpatia de Michele e Alessandro são logo um motivo de boa disposição e fomentar o hábito do aperitivo é uma ideia fantástica. Rua Correia Teles 22A, telefone 935803868.

 

DIXIT -  Passos Coelho “é um obstáculo a que o PSD se revitalize” - Carlos Encarnação, ex-dirigente social democrata.

 

GOSTO - Da recuperação da histórica Livraria Ferin, no Chiado, por José Pinho, o fundador da Ler Devagar.

 

NÃO GOSTO - Do possível encerramento do centenário restaurante Faz Frio, na sequência da venda do prédio onde está instalado, perto do Príncipe Real.

 

BACK TO BASICS - Em vez de dar a um político as chaves da cidade o melhor seria mudar as fechaduras - Doug Larson

 











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publicado às 21:02

 

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RESISTÊNCIA - Uma das manifestações da esquizofrenia é a dificuldade em distinguir o que é ou não é real. Quando olho para algumas coisas que se passam neste rectângulo à beira-mar plantado penso que há aqui um ar esquizofrénico que se traduz em dois discursos: de um lado o Governo que destaca as “boas notícias”, um discurso emocional destinado às famílias e que tem por efeito estimular o consumo e criar um ambiente despreocupado; do outro estão empresas que convivem com a economia real, que se preocupam pela demora nas decisões, pela dificuldade em decidir investimentos, pela falta de confiança no desenvolvimento da economia. É como se vivêssemos num país a duas velocidades, onde as pedaladas da geringonça de S. Bento dão para chegar a Belém, mas não conseguem colocar o resto do país em velocidade de cruzeiro. Há aqui dois discursos, o do Governo e o outro - e este outro não é da oposição, que nem sequer consegue manifestar um discurso coerente. Aqui o outro é de observadores, especialistas, portugueses que chamam a atenção para os perigos, desde o irrealismo das previsões económicas até ao descontentamento face aos políticos. Nestes tempos a demagogia e a retórica andam de mãos dadas e raras vezes foram tão dominantes no discurso do poder como agora são. A minha ambição é que se comece a perceber a importância de surgir uma resistência, aquele estado de espírito que surge quando tomamos consciência de que de um lado estamos nós e, do outro, estão eles. E que o que eles fazem não é bom para nós, Portugal.

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SEMANADA - 600 médicos pediram para emigrar em 2016, um aumento de 29% face a 2015; o turismo criou mais de 27 mil novos empregos no ano passado; o Governo anunciou querer duplicar no espaço de 10 anos as receitas geradas com o turismo, passando dos 12,7 mil milhões de euros de 2016 para 26 mil milhões em 2026;  Assunção Cristas revelou que o Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca; Assunção Cristas afirmou numa entrevista que ler o novo livro de Cavaco Silva não está no topo das suas prioridades; segundo o Portal da Opinião Pública, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a percentagem de portugueses que confia nos partidos está abaixo dos 20% desde 2006 e, nesta segunda década do século XXI, o valor médio tem rondado os 15%; os ajustes directos pesam 35% na contratação de obras públicas; os Tribunais são o serviço público dependente do Estado com maior número de reclamações no Portal da Queixa; segundo a Marktest,  durante o ano de 2016, os sites de televisão receberam 4,9 milhões de visitantes; o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras deu mais vistos gold a turcos nos dois primeiros meses deste ano que em todo o ano de 2016; agricultores e empresas espanholas controlam metade da área do olival e três quartos da área de amendoal do Alqueva; o número de casas arrendadas caiu 40% nos últimos cinco anos.

 

ARCO DA VELHA - A Comissão Nacional de Protecção de dados entende que a morada única digital, pretendida pelo Estado, potencia o crime informático  e gera cruzamento de dados sem precedentes. Entretanto a informação digital de utentes do Serviço Regional de Saúde dos Açores foi parar ao site da ARS do Alentejo.

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FOLHEAR - A editora Guerra & Paz apresenta este livro sem disfarces - trata-se do relato de  “um rasto de sangue e morticínio: a França invade Portugal”, a história trágica e opressiva da primeira invasão francesa comandada por Junot. O seu autor é Raul Brandão e a edição, disponível nas livrarias na próxima semana, surge por ocasião dos 150 anos do nascimento do escritor. “El-Rei Junot” foi originalmente publicado em 1912 e trata-se de um romance combinado com uma investigação histórica sobre esse negro período do saque de Portugal feito pelos franceses. Tenho para mim que este é um bom livro para oferecer ao Embaixador de França e aos seus acólitos, para que conheçam aquilo que um dos maiores escritores portugueses escreveu sobre o que Portugal sofreu nesse ano de 1807, quando os exércitos francês e espanhol, comandados pelo napoleónico Junot, nos invadiram, provocando um rasto de sangue, violações, mortes  e roubos. Com a corte portuguesa fugida para o Brasil, uma revolta popular, apoiada pelo exército inglês, expulsa o invasor e impõe-lhe uma pesada e saborosa derrota.  Esta edição da Guerra & Paz, “El-Rei Junot”, é um “clássico quase esquecido que importa recuperar, uma obra que nos revela um Portugal a ferro e fogo”. A presente edição inclui extratextos da edição de 1919, a cronologia da Primeira Invasão Francesa e apontamentos biográficos das principais personagens.

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VER - Começamos pela Galeria João Esteves de Oliveira (Rua Ivens 38, ao Chiado), onde Jorge Nesbitt fez reviver a arte da gravura a linóleo com uma série de obras (cada uma com tiragem de apenas três exemplares no formato 100x70), a que deu o título “A Favorite Color”. Estas obras de Nesbitt retomam a tradição das naturezas mortas, com um pequeno desvio tecnológico: Nesbitt encontrou na net as imagens que utilizou, manipulou-as e depois imprimiu-as em papel de fotocópia. E foi a partir dessa imagem que trabalhou o linóleo para as obras que agora apresenta (como a que está na imagem). O formato escolhido evoca os cartazes de rua, remetendo mais uma vez para a obtenção de múltiplos através da gravura, que foi o primeiro método de reprodução a partir de uma matriz, como o linóleo neste caso. Outras sugestões: na Galeria do Parque, em Vila Nova da Barquinha, Valter Vinagre expõe até 31 de Maio fotografias sob o título “A Voz Na Cabeça”; no bairro de Alvalade abriram quinta feira três exposições “Fiducia Incorreggibile” de Joana Escoval na Galeria Vera Cortês, “Restless Until It Becomes Gold”, de Edgar Pires na Appleton Square, e “Wails And Torsos”, de Gonçalo Sena na Galeria Quadrado Azul; do outro lado da cidade, no Beato, na Galeria Bagisnki, Mariana Gomes expõe “Romanian Dances”; finalmente, no CCB, está uma revisitação da obra de Mário Cesariny, “De Cor e Salteado”.

 

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OUVIR -  Atirar de repente com 50 canções para cima da mesa nunca é uma atitude rotineira. Mas temos que convir que Stephen Merritt, o homem que personifica The Magnetic Fields desde o início da década de 90, não se enquadra na definição de rotina. A coisa foi feita de forma a que cada uma das 50 canções represente um ano da vida do autor - é portanto uma autobiografia escrita em 50 canções. Aqui há de tudo - desde a história de um gato, aos amores vividos pela mãe do autor, passando pelas suas observações sobre o estado do mundo e o seu relacionamento com outras pessoas. “50 Songs Memoir” tem ainda por cima uma luxuosa edição, uma caixa com um pequeno livro que inclui uma entrevista com Merritt e reproduções dos 50 manuscritos das canções incluídas em outros tantos CD’s, cada um com capa diferente. Já antes, em finais dos anos 90, The Magnetic Fields tinha dado que falar com a edição de “69 Love Songs”, um triplo álbum cujo conceito base é de certa forma aqui retomado. Neste tempo de música passageira e paisagística, digamos assim, estas são canções que nos encantam como as pequenas histórias que, afinal cada uma delas conta. “Rock’n’roll will ruin your life and make you sad,” - canta Merritt, entre revelações, observações e  ironias marcantes - cada uma delas com diferentes arranjos e instrumentações, numa paleta demonstrativa dos seus talentos musicais. Edição Nonesuch, já distribuída pela Warner em Portugal.

 

PROVAR -  Os entendidos consideram a galinhola um dos grandes petiscos que a caça de aves proporciona. Oriunda do norte da Europa, a galinhola migra durante o Inverno para zonas menos frias e cá vêm parar algumas. Diz-se que a galinhola é a única ave de caça que é comida sem desperdícios - desde os miolos à tripa. Tem uma carne saborosa, de paladar único, que exige uma confecção simples e sabedora. É preciso provar uma, bem feita, para perceber aquilo de que falo. Um destes dias tive a sorte de o poder fazer num restaurante de que aqui já tenho falado, “O Apuradinho”, onde o  casal que comanda os destinos da casa, a Bé o o Albano, preserva as melhores tradições portuguesas, que nesta época, continuando na caça, inclui um precioso civet de lebre. Estas duas iguarias estão disponíveis mediante encomenda ainda durante algum tempo, até as estações do ano trazerem outra matéria prima. Da galinhola devem deixar-se apenas os ossos e o bico, grande nesta espécie. É uma ave relativamente pequena que, em Portugal, tem a particularidade de se ter tornado numa espécie permanente nos Açores. Geografias à parte o que vos quero dizer é isto: com batatinhas e cebolinha, estufada, uma galinhola é um petisco dos deuses. Experimentem-na, enquanto a houver e mediante marcação, n’O Apuradinho, Rua de Campolide 209, telefone 213 880 501.

 

DIXIT -  “Os partidos políticos deturparam o espírito da democracia republicana e passaram a sujeitar tudo às conveniências dos seus aparelhos” - Nuno Garoupa.

 

GOSTO - “São Jorge”, o filme de Marco Martins com Nuno Lopes, teve mais de 10.000 espectadores no fim de semana de estreia.

 

NÃO GOSTO - Em 2016 o Observatório Nacional da Diabetes registou 168 novos casos diagnosticados da doença, que já afecta mais de 40% dos adultos em Portugal.

 

BACK TO BASICS - À medida que vamos vivendo devemos sempre saber porque vivemos e como vivemos - Séneca

 

 

 

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RTP - Esta semana a RTP comemorou os seus 60 anos e houve dois factos relevantes: o Presidente da República defendeu a não privatização do operador de serviço público e a empresa decidiu disponibilizar online o seu arquivo, que vinha sendo digitalizado desde há uma dezena de anos. Comecemos por aqui - o arquivo é a maior base de imagens portuguesa e mostra o percurso do país ao longo dos 60 anos da empresa, foi pago com o dinheiro dos contribuintes e é-lhes agora devolvido. Tornar livre o seu acesso público foi a melhor decisão que Gonçalo Reis tomou desde que é presidente da RTP. O segundo tema, o da privatização da RTP, é um fantasma político que tem surgido recorrentemente. Marcelo Rebelo de Sousa, como o próprio recordou esta semana, já defendeu essa privatização e agora declarou ter mudado de posição. Fez bem. Há pouco mais de uma década a polémica sobre o tema estava no auge e Morais Sarmento, então ministro da tutela, tomou a decisão de proteger o serviço público, reestruturá-lo e congelar uma privatização anunciada e desejada por vários sectores do seu partido. Vale a pena referir que foi essa reestruturação que salvou a empresa, que estava falida e consumida em guerrilhas internas. O Conselho de Administração de então, liderado por Almerindo Marques, merece ser evocado porque sem a sua acção provavelmente as coisas seriam diferentes, para pior, hoje em dia. E chegamos ao momento presente. Na minha opinião, do ponto de vista da coordenação de conteúdos - programação e informação - a RTP está sem rei nem roque, ao sabor de decisões contraditórias, com demasiadas suspeitas de favorecimento, amiguismo  e de falta de transparência. Sou dos que entende que a RTP não deve ser privatizada e que deve ser um operador de serviço público focado na entrega de conteúdos em défice no panorama audiovisual português, que os privados não produzem por falta de rentabilidade comercial dos mesmos. E sou dos que acha que a RTP, no mercado, não deve fazer concorrência aos privados na compra de conteúdos como jogos de futebol, com a possível excepção da Selecção Nacional. Quanto ao resto sou o primeiro a reconhecer que os conceitos de serviço público do século passado devem ser reapreciados, que a evolução do consumo de mídia se alterou radicalmente com a evolução do universo digital e que a alteração da forma de consumo de televisão ainda está apenas a começar. A RTP é uma das maiores marcas portuguesas de comunicação e se o seu trabalho for bem feito pode ser um factor de coesão nacional e territorial, em vez da arma de arremesso político, da feira de vaidades pessoais e do albergue de negócios com amigos em que se transformou demasiadas vezes.

 

SEMANADA - Portugal é o país da União Europeia com a taxa de fertilidade mais baixa e aquele onde mais diminuíu o número de nascimentos nos últimos 15 anos; em Portugal, em média, seis adolescentes por dia dão à luz; em 2015 houve mais 915 casamentos do que em 2014, dos quais 350 foram entre pessoas do mesmo sexo; desde o início da época verificaram-se 35 agressões a árbitros; por mês há 28 queixas de idosos vítimas de agressões, a maior parte de familiares; só 1,4% dos magistrados têm avaliação negativa; no caso das offshores, 18 das 20 declarações ocultas já são do tempo do actual Governo;  o número de queixas dos consumidores registadas em livros de reclamações aumentou 7% no ano passado; o Presidente da República apareceu todos os dias nas notícias no primeiro ano do seu mandato e, só na televisão, Marcelo teve direito a 1.060 horas de emissão, o dobro de Cavaco Silva. Segundo a Marktest, ao longo do ano 2016, cada português passou uma média de 11 horas em sites de informação, consultados diariamente por cerca de 900 000 pessoas; a universidade de Harvard vai fazer um simpósio com académicos e políticos sobre a geringonça portuguesa; a Associação 25 de Abril convidou Jaime Nogueira Pinto a realizar nas suas instalações a conferência sobre “Populismo ou Democracia”, que foi proibida pela Universidade Nova.

 

ARCO DA VELHA -Esta semana os debates parlamentares transformaram a Assembleia da República uma arena de insultos e má criações, num triste retrato da classe política, quer no Governo, quer na oposição.

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FOLHEAR - Gosto de História e gosto das histórias que fazem a grande História. Essa é uma das razões porque o livro “Os Dias Em Que Portugal Foi Feliz” me conquistou. Elizabete Godinho, a sua autora, pegou em mais de 100 momentos - do desporto à política, passando pela economia e a cultura - e elaborou um calendário em que ao longo dos doze meses do ano se vão mostrando os momentos marcantes da nossa História em cada um deles. O mais recente data de Janeiro deste ano, quando Guterres passou a ser Secretário Geral da ONU e o mais antiga é de Junho de 1128, quando D. Afonso Henriques venceu a batalha de S. Mamede. Ao longo das 300 páginas estão momentos como o primeiro concerto dos Xutos & Pontapés em 1979, a abolição da escravatura em 1869, a criação da Universidade de Coimbra em 1290, a descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral em 1500, a primeira vitória de Portugal no Europeu de Futebol em 2016, a medalha de Ouro de Carlos Lopes em 1984, a derrota do exércicto invasor francês na Batalha do Buçaco em 1810, o dia de 2013 em que Sara Sampaio se tornou um ano da Victoria’s Secret ou, em 1640, a restauração da Independência de Portugal. Cada data é acompanhada de um texto que a enquadra, de forma sintética e informativa, criando uma enciclopédia dos nossos motivos de orgulho.  Edição Guerra & Paz.

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VER - “Os Anos do Exílio no Brasil” é o título da exposição patente até 7 de Maio na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, no Jardim das Amoreiras, em Lisboa. Trata-se de uma recolha de obras de pintura e desenho que o casal fez entre 1940 e 1947, quando esteve exilado no Brasil. Integrada na programação de Lisboa Capital Ibero Americana da Cultura, a exposição mostra o que Vieira da Silva e Arpad fizeram quando, nos anos da guerra, fugiram da França em vésperas da invasão alemã e viram a sua entrada recusada em Portugal. Nessa altura foi o Brasil que os acolheu ao longo de sete anos e o conjunto de retratos que nessa época Arpad fez de Helena são talvez um dos pontos mais interessantes desta exposição. Também na Fundação Arpad-Szenes-Vieira da Silva, na casa que foi o antigo atelier do casal, igualmente no jardim das Amoreiras, Ana Vidigal apresenta “Mas Ao Brasil Jamais Voltaria”, evocando uma frase da própria Vieira da Silva. Vidigal intervém sobre móveis da casa e apresentando um conjunto de peças que são uma revisitação de memórias imaginadas. Finalmente, também na Fundação, e igualmente integrada na programação da Capital Ibero-Americana da Cultura está uma exposição do fotógrafo português Armindo Cardoso, que viveu no chile entre 1969 e 1973 e que mostra a evolução do país naquele período, até à queda de Allende. Outras sugestões: Catarina Pinto Leite mostra “Sótão” na Galeria Giefarte (Rua da Arrábida 54) e Teresa Dias Coelho mostra “Interiores”, na Galeria Monumental (Campo dos Mártires da Pátria 101).

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OUVIR -  Esta semana fui ver, ao Cinema Ideal, um dos melhores filmes a que assisti nos últimos tempos - “Hell Or High Water” (“A Qualquer Custo”, em português). Realizado por David Mackenzie, tem soberbas interpretações de Chris Pine, Jeff Bridges e Ben Foster. É um western contemporâneo, com roubos a bancos, índios que agora são polícias e o inevitável petróleo do Texas. Cabe aqui dizer que o Cinema Ideal é a sala ideal para ouvir filmes com boas bandas sonoras - não há barulhos de pipocas mastigadas nem de coca colas aspiradas - por isso é que gosto de lá ir. Numa outra sala talvez esta banda sonora, composta por Nick Cave e por Warren Ellis causasse menos efeito, mas nesta sobressai. Algumas bandas sonoras não vivem fora dos filmes, ou vivem mal; outras são um repositório de canções adequadas a cenas de beijos,  de cama ou de pancadaria, mas não passam de uma miscelânia. Esta entrou na alma do filme e tornou-se minha companhia regular no Spotify. Warren Ellis foi um dos Bad Seeds, a banda que acompanhava Nick Cave, e os dois já fizeram uma dúzia de bandas sonoras - desde para a representação teatral de “Woyzeck”, passando por vários westerns como este, ou pela série “Mars”, da National Geographic que recentemente foi exibida em Portugal. A banda sonora de “Hell Or High Water” tem nove temas originais compostos por Cave e Ellis, e permito-me destacar “Robbery”, “Lord Of The Plains”, “Casino “ e “Comancheria”. Depois há meia dúzia de canções muito bem escolhidas de nomes como Townes Van Zandt, Ray Wylie Hubbard, Waylon Jennings, Colter Wall e Christopher Stapleton, entre outros.

 

PROVAR -  Vou começar pelo fim. Nestes dias mais temperados, apetece um gelado. Num destes dias em que o sol regressou, foi o que  finalizou o almoço: um gelado de eucalipto. Eucalipto? Sim, cheira a eucalipto, sabe a eucalipto, há-de vir do eucalipto. Soube muito bem depois do café. Antes, porém, encontrei uma sanduíche club surpreendentemente bem feita, com tudo a que tem direito, as três fatias de pão, fresco mas levemente torrado, com recheio variado e abundante entre elas. Uma boa sanduíche club não é coisa fácil de encontrar em Lisboa e esta estava bem acima da média. Hesitei na lista com uma sanduíche aberta de salmão fumado com alcaparras e rúcula e percebi que um folhado de queijo de cabra com salada era dos pratos mais requisitados. As empadas de galinha tinham uma massa leve e um recheio generoso e saboroso. Na lista há chás variados e infusões e chocolate quente. A orientação geral das operações é do chef Bertílio Gomes (do Chapitô) e de Maria Santos, que são os obreiros dos gelados artesanais ali servidos e que são um dos atractivos do local. E de que estamos a falar? Do Ice Gourmet, uma cafetaria situada no Jardim da Gulbenkian, próximo da entrada pela Rua Marquês Sá da Bandeira, mesmo frente à loja de revistas “Under Cover”. Sugestão - vão lá buscar boa leitura e depois sentem-se na esplanada a gozar o momento e a petiscar uma refeição leve e um bom gelado. O jardim fecha às seis, quando os dias forem mais longos é uma pena não poder fazer lá os fins de tarde.

 

DIXIT -  “Na Europa, estamos todos em negação e a tentar sobreviver e lutar contra as mudanças que a tecnologia vai trazer “ - Cristina Fonseca, da Taldesk, na apresentação do livro “Indústrias do Futuro”

 

GOSTO - De Salvador Sobral e da sua canção “Amar pelos dois”, composta pela  irmã, Luisa Sobral. Como escreveu Miguel Esteves Cardoso, “que atinja o publico internacional que merece - se for assim o festival da canção serviu para alguma coisa”.

 

NÃO GOSTO - Da proibição da conferência de Jaime Nogueira Pinto na Universidade Nova.

 

BACK TO BASICS - “Não concordo com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito de o dizeres” - Evellyn Beatrice Hall

 

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OFFSHORES - As audições parlamentares do anterior e do actual Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais vieram mostrar uma coisa interessantíssima sobre o caso das transferências para offshores: quando se trata de rastrear e combater a grande evasão fiscal, o Estado fecha os olhos, em contraste absoluto com o que faz com os pequenos contribuintes e os que trabalham por conta de outros. Confirmou-se agora que mais facilmente a máquina fiscal detecta um atraso num pagamento de pequena monta do que se dispõe a investigar a tentativa de escapar com muitos milhões. Rocha Andrade, o actual Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, que aceitou convites para o Europeu de Futebol de uma empresa que estava em contencioso com o Fisco, disse preto no branco que “terá sido uma falha informática a impedir o controlo inspetivo sobre os 10.000 milhões de euros transferidos para ‘offshore' entre 2010 e 2014”, confirmando o que o seu antecessor, Paulo Núncio, já tinha dito. Este caso é o exemplo de que o Fisco tem dois pesos e duas medidas e que o seu comportamento padrão convive da mesma forma em governos à direita ou à esquerda. É um Estado dentro do Estado, cujos abusos e lapsos atravessam intocados os regimes. Desculpem lá mas é chato que os erros informáticos aconteçam sempre para esconder milhões e que os sistemas andem na pirisca e na ponta da unha atrás de tostões. Alguma coisa vai muito mal no fisco, na forma como funciona e nas prioridades que os governantes lhe estabelecem.

 

SEMANADA - Desde 2012 até hoje a percentagem de consumidores portugueses com acesso a um smartphone passou dos 18% para os 59%; as principais figuras do estado português comunicam entre si com telemóveis e computadores sem medidas especiais de protecção;  na sequência da fuga de Caxias há cerca de duas semanas, o diretor geral dos serviço prisionais criou um manual de instruções para lidar com situações de fuga - que ou não existia ou estava desactualizado; o mesmo diretor geral declarou não perceber a razão de “tanto alarido” em torno da referida fuga, que classificou de “histeria completa”;  quase um terço das empresas criadas em 2016 em Portugal são de alojamento e restauração, imobiliárias ou ligadas à indústria da construção; a grande maioria das duas centenas de prédios militares que o Ministério da Defesa colocou à venda desde 2008 continuam por alienar; em 2016 as forças policiais detiveram nove mil pessoas que conduziam sem carta; uma advogada foi detida a levar droga para um cliente preso em Paços de Ferreira; a fusão de freguesias originada pela reforma administrativa de 2013 fez crescer a despesa em vez de a diminuir, como era a ideia original; o indicador de confiança dos consumidores portugueses aumentou entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano, tendo atingido o valor mais alto desde março de 2000; o jornal britânico The Independent classificou o presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, como o Donald Trump do futebol.

 

ARCO DA VELHA - Vitor Constâncio, que foi o responsável pela supervisão dos bancos em Portugal no período em que o sector foi acumulando problemas que, depois de 2010, explodiram nas mãos dos contribuintes, continua, no BCE, como o segundo responsável mais bem pago de toda a supervisão financeira da União Europeia.

 

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FOLHEAR - Ao fim de dez anos e 100 edições a revista “Monocle” tocou levemente no seu grafismo e mais acentuadamente no alinhamento editorial. O formato é o mesmo mas o novo grafismo de capa faz a revista parecer um pouco maior. O resultado graficamente é bom e gosto do alinhamento editorial novo, que define melhor algumas secções, cria novas áreas na revista e dá um ritmo de leitura mais claro. Além disso permite que alguns assuntos se destaquem, naturalmente de forma mais clara, como a bela peça sobre a estação norte-americana de serviço público de televisão, a PBS, ou uma outra dedicada aos critérios de quem define as encomendas e produção de séries da Netflix. A edição 101 tem 300 páginas entre as quais 32 páginas que retratam o nascer e crescer da “Monocle”, que é o mais interessante projecto de imprensa, na área das revistas, destas primeiras décadas do século XXI. A “Monocle” mostrou que havia espaço para uma novo género de publicação e hoje em dia há dezenas de revistas mensais, trimestrais ou semestrais que existem porque acreditaram no caminho aberto por Tyler Brulé, o fundador deste projecto. E, finalmente, ao fim destes dez anos, um grupo de empresas e entidades portuguesas conseguiu juntar-se para que a revista publicasse um especial sobre Portugal. Vários anunciantes portugueses, entre empresas (com destaque para a EDP), associações privadas e instituições públicas, viabilizaram que se mostrasse uma nova imagem de Portugal no survey de 64 páginas dedicado ao país e que felizmente vai além do habitual very typical.

 

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VER - É enorme esta exposição: cinco centenas de fotografias que mostram como Alfredo Cunha, um dos mais importantes fotojornalistas portugueses, foi vendo Portugal e o Mundo ao longo de quase 50 anos, de 1970 até agora. Há imagens anteriores a 1974 e há imagens do dia 25 de Abril, como os tanques de Salgueiro Maia, ou meses depois, os caixotes e contentores chegados das colónias e que eram descarregados perto do Padrão dos Descobrimentos. Do Mundo há fotos da queda de Ceauşescu, na Roménia (em 1989) ao Iraque (desde 2003). Cunha, filho e neto de fotógrafos, nasceu em Celorico da Beira,  foi editor de fotografia em agências, jornais e revistas e, nos últimos anos, dedicou-se a projectos pessoais, como freelancer, muito envolvido em ONG’s - nomeadamente no grande projeto comemorativo dos 30 anos da AMI “Três Décadas de Esperança”, que o levou a percorrer países como a Niger, a Roménia, o Bangladesh, a Índia, o Haiti, o Sri Lanka, a Guiné Bissau e o Nepal, e de que resultou o seu último livro: “Toda a esperança do mundo”. Esta exposição abre ao público a partir deste sábado e fica até 25 de Abril no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, na Avenida da Índia, e está aberta de terça a sexta entre as 10h00 e as 18h00, e ao sábado e domingo das 14h às 18h.

 

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OUVIR -  Bing & Ruth é o nome de um colectivo de músicos liderado pelo pianista David Moore e que tem três discos no activo - o primeiro de 2010 (City Lake), o segundo de 2014 (Tomorrow Was The Golden Age) e, agora, “No Home Of The Mind”, o primeiro trabalho a ser lançado na editora 4AD. Claramente sofrendo influências do trabalho de nomes como Philip Glass, Harold Budd ou Max Richter, Moore tem conseguido criar um caminho próprio de que este novo “No Home Of Mind” é o melhor exemplo. O ensemble Bing & Ruth agrupa cinco músicos, é originário de Brooklin e Moore estudou na New School For Jazz. Claramente é Moore quem lidera o espaço musical do grupo, definindo os percursos sonoros que vão sendo percorridos, e balizando-os com as suas teclas. No Spotify podem descobrir os seus três álbuns e claramente entenderão a evolução verificada até se chegar a este novo trabalho, que é o mais conseguido de todos. O disco, desde o início cruza as sonoridades do piano, com o clarinete, acentuadas por uma presença do baixo, persistente, sobre um fundo sonoro proporcionada por efeitos electrónicos. Por vezes parece que estamos num estranho cruzamento entre o barroco e a música minimalista da última metade do século XX, sem envolvimentos no desvio new age, mas incorporando subtilmente os ritmos que os movimentos de uma cidade evocam.

 

PROVAR -   Não costumo ir ao restaurante Nobre com frequência e já lá não ía há uns anos. Continua a comer-se bem mas o processo, como dizer, industrializou-se e não tenho a certeza que tenha ganho com a mudança. Hoje em dia é um daqueles locais onde se pode ver um presidente de um banco a almoçar com um ex Ministro das Finanças, noutra mesa responsáveis da RTP com um realizador de cinema e, espalhadas pela sala, caras conhecidas do mundo empresarial, desde a indústria aos mídia. Devo dizer que mesas carregadas de entradas forçadas não fazem o meu género - prefiro couverts simples. Neste caso, no Nobre, havia um presunto mediano, um queijo atabafado genuíno, uma salada de polvo infeliz e uma salada de favinhas tradicional. O pão era desinteressante. Nada disto me parece lógico. Para compensar as quatro dezenas de euros que o couvert standard completo implica, a casa propõe meias doses, mais que suficientes - desde a sopa de santola na casca da dita que é um ex libris da casa (mas que já foi mais aprimorada), até aos rolinhos de linguado (outro clássico), mas que estavam um pouco insípidos, e umas lasquinhas de cherne panadas sobre açorda do mesmo, que tinham a melhor aparência do conjunto. A casa estava cheia e naquela dimensão isso repercute-se no aprimorado da cozinha e no sentimento de que há alguma passagem para o pronto a comer. Nesta visita soube que em breve O Nobre vai regressar às suas origens, de há uns 30 anos, na Ajuda, onde irá abrir um novo espaço, mais pequeno, sem deixar este do Campo Pequeno, onde ultimamente tem funcionado (Avenida Sacadura Cabral 53B).

 

DIXIT -  “Creio que este Governador demonstrou uma impreparação técnica, uma vulnerabilidade e pressões externas e uma incapacidade de consolidar o sistema bancário com o sistema de confiança”  - Francisco Louçã sobre Carlos Costa, em Fevereiro de 2016, um ano antes de ser nomeado pelo Governo para o Conselho Consultivo do Banco de Portugal.

 

GOSTO - O New York Times não poupou elogios à actuação de Gisela João no NY Fado Festival, no sábado passado, no Schimmel Center.

 

NÃO GOSTO - Segundo o Presidente do Tribunal Constitucional a instituição tem falta de meios para fiscalizar as contas dos partidos e das campanhas nas próximas eleições autárquicas.

 

BACK TO BASICS - Sempre achei que um político deve ser julgado pela animosidade que provoca nos seus opositores - Sir Winston Churchill

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