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OS SEGREDOS DE ESTADO

por falcao, em 28.07.17

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OCULTAÇÕES - Durante uma semana o Estado escondeu informações e, ao contrário daquilo que o Primeiro Ministro afirmava, ainda há muito por esclarecer - basta ver a lista das perguntas feitas por jornalistas do Público a várias entidades, e que não tiveram qualquer resposta. E mais, de outros jornais, hão-de ter sido feitas e ficado sem resposta. Em abono da verdade quem começou o aproveitamento político dos incêndios foi quem condicionou o acesso à informação, quem usou a justiça para sonegar dados, quem evitou esclarecer e quem defendeu a legitimidade do secretismo como o inefável Ministro Santos Silva. Depois de tudo o que aconteceu discutir o número de mortes parece macabro - mas foram as autoridades e quem as comanda, e não a oposição, quem iniciou o jogo. A verdade é que não foi só no cenário da tragédia que o Estado falhou. Ao longo destas semanas tem-se visto que falhou na Comunicação atempada e no esclarecimento cabal da verdade, que qualquer Governo deve aos cidadãos. Há um desagradável manto de silêncio, à espera que o tempo faça esquecer as dúvidas e os erros cometidos. Infelizmente o incêndio de Mação levanta mais dúvidas e questões sobre a coordenação de meios pelas autoridades, a começar pela Proteção Civil. Cresce o somatório de indícios de uma mentalidade de disfarce bem visível na lei da rolha imposta aos bombeiros, factos que mostram como se querem esconder as falhas e os erros no combate às chamas. A Autoridade Nacional de Protecção Civil qualquer dia muda o nome para Autoridade Nacional da Mordaça. E não consigo deixar de pensar que tudo isto, todo este silêncio, tem a ver com nomeações feitas pelo Governo há poucos meses nesta área crítica em época de fogos. Como Luís Paixão Martins escreveu no Facebook, "Tantos Media, tanta informação, tantos diretos. E ainda não sabemos o que se passou no incêndio de Pedrógão nem no furto de Tancos. É a época da ilusão da Comunicação". Termino citando um texto ,admirável, um testemunho de Nádia Piazza, mãe de uma criança de cinco anos que morreu em Pedrógão Grande, que o Público divulgou Domingo:"Assim se vai governando Portugal. Sem pactos de regime e visão a longo prazo. Vão-se puxando o tapete uns aos outros, não se apercebendo que, por fim, só restam cacos, dor, e tristeza para governar (...) O Estado não protegeu a sua Nação. Não assegurou o seu território e com ele o seu Povo. Fomos vítimas desta ausência insuportável de Estado".

 

SEMANADA - O número de pedidos de novos cursos enviados por universidades e institutos politécnicos no último ano lectivo foi o mais baixo desde 2009; as esperas de mais de uma hora de turistas estrangeiros para entrar no aeroporto de Lisboa subiram 500% este ano; estão a vender-se mais 26 casas por dia do que em 2010, o ano que até agora registava o número mais elevado de transacções imobiliárias; dez deputados do PS e PSD estiveram o último ano sem abrir a boca nas sessões plenárias do Parlamento; o Governo prevê gastar 700 milhões de euros em armas e equipamentos para as Forças Armadas; pelo segundo ano consecutivo, o Bloco de Esquerda foi o partido com mais diplomas aprovados no Parlamento; nos últimos dez anos pelo menos 492 pessoas suicidaram-se em Portugal nas linhas de comboios; pastores da Serra da Estrela estão a preparar um calendário sexy para 2018; mais de 1.600 estrangeiros foram impedidos de entrar em Portugal no ano passado por não reunirem as condições legais, o que significa um aumento de quase 29% em relação a 2015, revela o SEF; ainda segundo o SEF no ano passado foram emitidos quase 45 mil novos títulos de residência a estrangeiros; a investigação de crimes de corrupção demora em média cerca de quatro anos; este ano estão a registar-se, em média, mais 34 crimes por dia do que em igual período do ano passado.

 

ARCO DA VELHA - A Secretária Geral do Sistema de Segurança Interna só tomou conhecimento do desaparecimento de material de guerra em Tancos através das notícias divulgadas pela comunicação social no dia seguinte ao assalto - "ler jornais é saber mais", como diz o Bartoon de Luís Afonso.

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FOLHEAR - "Lisboa Em Camisa" é um divertido livro, originalmente publicado em 1882, e que retrata as peripécias de uma família oriunda do Algarve, os Antunes, na Lisboa no final do século XIX. Antunes, o chefão da família, faz carreira no funcionalismo público, entre Conselheiros e Chefes de Repartição, tudo muito burocraticamente organizado, no meio de muitos salamaleques. A família vive na Rua dos Fanqueiros, a um passo do Terreiro do Paço, na época o indiscutível centro burocrático de Portugal. O autor, Gervásio Lobato, jornalista e romancista, tem um humor notável e é um certeiro observador de usos e costumes, sobre os quais ironiza com elegância. Ao ler o livro encontramos o retrato de uma Baixa que já não existe, de lojas que fizeram época, de mercearias a chapelarias, uma Lisboa ainda sem transportes públicos onde o precursor dos eléctricos, um veículo puxado a mulas e que dava pela designação de "americano", levava os lisboetas até à praia, a Pedrouços. O livro desenvolve-se à volta do baptizado de um filho do casal Antunes, um evento que terá repercussões, uma delas uma récita teatral. É impossível não ler este livro, e as suas muitas e divertidas cenas,  sem pensar que António Lopes Ribeiro e seu irmão Francisco Ribeiro, "Ribeirinho", se devem ter cruzado com estas leituras quando preparavam alguns dos seus filmes que fizeram uma época do cinema português. Imperdível leitura de verão para nos fazer rir sobre as origens da burocracia e dos costumes que ainda perduram. Edição Guerra & Paz.

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VER - Se quiser ver arte contemporânea fora de Lisboa pode, a partir de agora, dirigir-se a Abrantes onde, num antigo quartel de bombeiros recuperado, passou a estar exposta a coleção Figueiredo Ribeiro. O quARTel, assim se chama este equipamento , será no futuro o centro de arte que vai acolher o acervo desta coleção, composta por mais de um milhar de obras de arte abrangendo diversas áreas da criação artística, como o desenho (muito representativo), pintura, escultura, instalação e fotografia. Esta exposição inaugural, intitulada “Ponto de Partida" apresenta uma escolha de autores e obras muito representativos da arte contemporânea portuguesa como Carlos Correia, Cristina Ataíde (na imagem), Duarte Amaral Netto, Edgar Martins, Fernando Calhau, José Pedro Croft, Rui Calçada Bastos, Rui Chafes, entre outros. Até 29 de Setembro, Rua de Santa Ana 10, Abrantes. Outra sugestão, mais urbana - o Lisboa Stone Crushers quer pôr em evidência a criação artística ligada ao universo do skate com exposições a ter lugar na Underdogs Public Art Store + Montana Lisboa e que reúne obras de diferentes artistas convidados a intervir em tábuas de skate.

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OUVIR - "Dança Ma Mi criola" foi o primeiro disco de Tito Paris, editado em 1995. Duas décadas depois, e após quase 15 anos sem publicar um disco de originais, ei-lo que regressa com "Mim Ê Bô". São treze temas, três dos quais gravados com Bana, Boss AC e Zeca Baleiro. "Mim ê bô" é uma expressão crioula que significa "eu sou tu". A música e os ritmos de Cabo Verde estão bem presentes nestes temas, que no entanto evocam também o cruzamento com os ritmos urbanos e europeus de Lisboa, onde Tito Paris reside habitualmente. Nascido no Mindelo em 1963, Aristides Paris de seu nome, começou a tocar cedo em Cabo Verde, primeiro bateria e violão, ao lado de Bana, com quem deu os primeiros passos em concertos e digressões. A morna "Resposta de segredo cu mar", de B. Leza, foi um dos primeiros temas que cantou, mas só agora o gravou. Tito Paris tem também produzido e feito arranjos para discos de outros músicos e isso explica o cuidado posto na produção deste seu novo álbum, o recurso a mais instrumentos de cordas, ao acordeão, e até a uma pequena orquestra como em "Kêl li ka tá fazedo", um funaná em que Tito Paris substituiu a gaita por orquestra. Em "Fado triste" o músico fala de Cabo Verde, da saudade da sua terra natal, dos objetos que tinha no seu quarto no Mindelo, mas fala também de Lisboa, cidade para onde veio viver com 19 anos, a convite de Bana. Para além do funaná, os ritmos da coladeira e da morna estão também patentes neste álbum em temas como "Mim ê bô, e "Mindel d´Novas". Disponível no Spotify.

 

PROVAR -  O Algarve de finais de Julho é outra coisa. Comparando com o que se passa em Agosto, há menos gente nas praia e, claro, nos restaurantes. Santa Luzia, perto de Tavira, é uma das praias da zona da Ria Formosa, conhecida como a capital do polvo. Na sua marginal existem numerosos restaurantes e vários especializados no octópode. Dois deles, lado a lado, reclamam para si o título do melhor na confecção do bicho. Em ocasião anterior tinha visitado a Casa do Polvo, de que gostei, e desta vez fui ao lado, ao Polvo & Companhia, e não me arrependi. A Casa do Polvo é mais tradicional no menu, o Polvo & Companhia é mais atrevido nas propostas. Para começar veio um carpaccio de polvo, muitíssimo bem cortado e temperado. E depois veio uma paella de polvo e marisco, muito bem servida e cozinhada. Farta e abundante em diversas espécies, os tentáculos do polvo estavam tenros e os nacos que polvilhavam a paella, ao lado de mexilhões, camarões e berbigão, estavam temperados de forma aprimorada. Cabe ainda dar muito boa nota ao serviço, sempre bem disposto e eficaz, mesmo já tarde na noite. Um contraste absoluto com um afamado restaurante de Cabanas de Tavira, Noélia e Jerónimo, onde a arrogância dos empregados, face à elevada procura do local, ultrapassa tudo o que já vi, chegando mesmo a destratar pessoas que só queriam saber se o nome estava na lista de candidatos a uma mesa. Local a evitar este Noélia e Jerónimo, não há cozinha que justifique más-criações. Um dia hão-de querer clientes e não os hão-de ter.

 

DIXIT -  “Gostamos dos idiotas porque não nos põem em causa” - António Lobo Antunes

 

GOSTO - Da recuperação do Pavilhão de Portugal, de Siza Vieira, para ser utilizado pela Universidade de Lisboa como pólo de difusão do conhecimento.

 

NÃO GOSTO - O SIRESP voltou a falhar nos incêndios da Sertã e Castelo Branco.

 

BACK TO BASICS - "Não há elegância na política moderna. É um inferno" - House of Cards, 5a temporada.

 

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publicado às 12:16

ABSTENÇÃO, ELEIÇÕES & LIBERDADE

por falcao, em 21.07.17

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ABSTENÇÃO - A pré-campanha das autárquicas está a ser um retrato do estado da nação. Em Lisboa a candidata do PSD fez um cartaz que só pode ser interpretado como um pedido de um cheque em branco; também em Lisboa a Câmara está a ser investigada por autorizações urbanísticas dadas por Manuel Salgado e Medina já se confessa desistente de manter a maioria absoluta; em Loures o candidato da coligação CDS - PSD fez afirmações polémicas sobre os ciganos e afirmava-se tranquilo sobre o apoio dos partidos que o indicaram - mas o CDS saíu da coligação, ficou o PSD sozinho com a polémica; no Porto, Manuel Pizarro, o iô-iô autárquico local do PS, faz promessas mirabolantes esbracejando pelas ruas, numa passeata ao lado de um António Costa tranquilo. A procissão eleitoral ainda vai no adro, mas percorrer as rotundas de cidades e vilas já proporciona um catálogo de tesourinhos deprimentes que parecem todos saídos de cartazes de uma empresa imobiliária, cada um com um slogan e promessas de bradar aos céus. Não admira que, como diz Manuel Villaverde Cabral, apesar “da enxurrada de demagogia feita à volta do chamado «poder local», a abstenção eleitoral tem sido mais alta ainda nas autárquicas do que nas legislativas”. Nas autárquicas de 2013 a abstenção foi de 47,4%, nas legislativas de 2015 foi de 44%, número apenas ultrapassado pelas presidenciais de 2016, com 51,3% de abstenção. Citando ainda Villaverde Cabral, “há muito tempo que Portugal se tornou no país da abstenção como o maior partido”. Este ano o cenário poderá ser ainda pior. Vai sendo tempo de o Presidente, os partidos e os autarcas tirarem lições de tudo isto - mas tal parece cada vez mais fora dos seus interesses e prioridades. O mesmo é dizer que a opinião dos cidadãos só interessa quando lhes dá jeito.

 

SEMANADA - As salas de cinema registaram mais de 7,9 milhões de espectadores no primeiro semestre, mais um milhão que no mesmo período do ano passado; “Velocidade Furiosa 8” foi o filme recordista com 786 mil espectadores e “Jacinta” foi o filme português mais visto, com 45 mil espectadores; Matosinhos é o concelho do país no qual as salas de cinema têm maior média de espectadores por sessão; desde 2011 têm sido desligadas 280 máquinas de multibanco por ano e entre 2011 e 2016 fecharam 1620 balcões de bancos; no segundo trimestre deste ano as compras realizadas com cartões de débito ou de crédito totalizaram mais mil milhões de euros que em igual período do ano passado; este ano o Turismo criou tanto emprego em Abril como em todo o ano passado; o SIRESP voltou a falhar no incêndio de Alijó; no espaço de um ano Portugal perdeu um terço dos bombeiros; o Governo deu instruções para que os comandantes dos bombeiros deixem de dar informações à imprensa; a administração central não divulga 85% das compras de produtos ou serviços que efectua, e o ajuste directo continua a ser principal opção de aquisição; os gastos do Estado com as parcerias público-privadas aumentaram 39 milhões de euros num ano; o conjunto de gastos com veículos automóveis, desde a compra à manutenção, passando pelos combustíveis, rende ao estado 23 milhões de euros por dia em impostos; na última década as famílias portuguesas cortaram em restaurantes, hotéis, cultura e lazer para equilibrar as subidas verificadas na habitação, luz, gás, água e ensino; o orçamento familiar é 232 euros mais caro em Lisboa que a média nacional.

 

ARCO DA VELHA - O fabrico de petardos cada vez mais pequenos, com poucos centímetros, tem permitido que cada vez mais adeptas dos principais clubes entrem com esses artefactos explosivos escondidos nas partes íntimas.

 

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FOLHEAR - Tenho seguido a existência da revista Elsewhere desde o seu número um, no primeiro semestre de 2015. Durante dois anos a Elsewhere publicou semestralmente, a partir de uma operação de crowdfunding que lhe deu vida durante essas primeiras quatro edições. O formato é 16x23, 82 páginas. Os textos são relativamente curtos, tem existido pelo menos um portfolio fotográfico por número e muitos dos artigos de viagem são acompanhados de magníficas ilustrações em desenho feitas expressamente para a ocasião. A Elsewhere nasceu em Berlim pela mão de Paul Scraton e Julia Stone, que são responsáveis por vários textos publicados ao longo da vida da revista . É assumidamente uma actividade extra em relação às actividades profissionais que ambos desenvolvem. A Elsewhere intitula-se “ A Journal of Place” - não é uma publicação sobre viagens no conceito habitual, é mais uma evocação de sentimentos e sensações que os lugares visitados deixam nos visitantes. Não esperem reportagens,  vão encontrar impressões. Nas primeiras quatro edições não havia um tema fixo orientador, a diversidade de  locais, como a Madeira, no número 4, era o lema. A partir deste número 5, que agora foi publicado, no início de Julho, passa a existir um tema por edição, e o primeiro é “Transition”. “A transição tem a ver com o movimento, com a natureza da viagem, e assim sendo com o conceito de casa, de origem e de identidade. De certa forma estes sempre foram os temas da Elsewhere e, de alguma maneira,  a ideia da transição moldou, pelo menos em parte, a revista desde o seu início” - escrevem Paul Scraton e Julia Stone no editoral. Locais: São Francisco, Cáceres, Tblisi, Melbourne, e Irlanda, entre outros. O ensaio fotográfico é sobre as ilhas Faroe. Se quiser saber mais consulte o blog, que é actualizado regularmente - www.elsewhere-journal.com/blog/

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VER - Até 15 de Setembro pode ver na Biblioteca Nacional uma deliciosa exposição intitulada “Jazz em Portugal: 100 anos de txim, txim, txim, pó,pó,pó,pó”, comissariada por João Moreira dos Santos, autor de sete livros sobre a história deste género musical em terras lusas. Os primeiros ecos de jazz terão chegado em 1916/17 e ganharam adeptos como Ferreira de Castro, Almada Negreiros, Stuart Carvalhais, Cottinelli Telmo, António Ferro, António Lopes Ribeiro e Fernando Curado Ribeiro. A imagem que aqui se reproduz evoca a primeira jam session pública de que há registo, realizada em Lisboa, em 1948 no Café Chave de Ouro. São exibidas várias fotografias inéditas (como a de Duke Ellington com Eusébio), exemplos da presença do jazz nas bandas sonoras de filmes portugueses dos anos 20 e 30, o primeiro disco de jazz gravado por músicos portugueses em 1957, entre muitos outros documentos como capas de revistas e publicações diversas. Imperdível. Outras sugestões: no Palácio Pimenta, e no âmbito da programação de Lisboa Capital Ibero-Americana da Cultura 2017, estão expostas máscaras e devoções mexicanas aob a designação “Do Carnaval À Luta Livre”; na Fundação Carmona e Costa, até 29 de Julho, ainda pode ver “Missão Fria”, de Pedro Casqueiro (Rua Soeiro Pereira Gomes Lote 1, 6º); e a sul, no Centro Cultural de Lagos, de dia 22 até meados de Outubro, Sofia Areal expõe pintura, desenho, obra gráfica e tapeçarias.

 

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OUVIR - Quatro músicos de jazz, Jack DeJohnette (bateria), Larry Grenadier (baixo), John Medeski (teclas) e John Scofield (guitarra), juntaram-se para prestarem homenagem a uma paixão comum - o rock dos anos 60. Vai daí criaram o projecto Hudson, agora editado. O álbum inclui dois temas de Dylan (“Lay Lady Lay” e uma versão de nove minutos, fantástica, de “A Hard Rain’s Gonna Fall”), “Woodstock” de Joni Mitchell, “Wait Until Tomorrow” de Jimi Hendrix, “Up On Cripple Creek” de The Band e ainda diversos originais dos membros do grupo. O álbum arranca com “Hudson”, um original de 12 minutos de John Scofield, que faz lembrar a época de “Bitches Brew”, de Miles Davis - não por acaso Scofield integrou o grupo de Davis nessa época, o que também se nota no outro tema que assina, “Tony, Then Jack”. “Dirty Ground” é um tema de Jack DeJohnette, onde o baterista também canta num registo de blues. O que é mais curioso neste disco é a forma como quatro nomes do jazz, de diferentes gerações, se cruzam em torno da evocação de canções que se tornaram standards da música dos anos 60 e, nas composições próprias que apresentam, acabam por reflectir o espírito da época, como por exemplo em  “Song for World Forgiveness” e “Great Spirit Peace Chant”. Mas de facto o momento alto é mesmo a versão de “A Hard Rain’s Gonna Fall”, captando o espírito com que Dylan compôs e interpretou a canção, desafiando a noção clássica de canção e de ritmo.  Álbum disponível no Spotify.



PROVAR -   A espelta, também conhecida por trigo vermelho, é um cereal que durante anos caíu em desuso, mas a sua utilização cresceu nos últimos anos ligada às investigações sobre uma alimentação saudável. A espelta é rica em fibras e vitaminas do complexo de B e tem a presença de diversos minerais como cobre, magnésio, fósforo e, principalmente, ferro. É também conhecida por seu alto teor de proteínas. Além disso, por possuir pouca quantidade de glúten, o grão é de mais fácil digestão. Normalmente utilizo o pão de espelta fabricado pela Miolo, mas há pouco tempo descobri numa loja Celeiro o pão de espelta integral elaborado pela Pachamama (nome que evoca uma deusa Inca), num processo de fermentação lenta durante 24 horas e que, além da farinha leva apenas água filtrada e sal marinho. É mais leve que o da Miolo (que é mais denso), e igualmente saboroso - aparentemente o processo de fermentação lenta torna o pão mais digestivo e com menor indíce glicémico. Além da espelta integral simples existem as variedades com curcuma e pimenta preta, centeio integral, trigo duro e centeio integral.  

 

DIXIT -  “A direita tem um problema de liderança, de caras, de quadros, de ausência de ideias, de estratégia” - Nuno Garoupa.

 

GOSTO - Rita Red Shoes fez uma magnífica actuação ao vivo na abertura do EDP cooljazz, com uma banda e arranjos surpreendentes, até num clássico de Nina Simone.

 

NÃO GOSTO - Winnie the Pooh, o urso amarelo da banda desenhada, foi banido da internet chinesa por se parecer com o Presidente XiJinping.

 

BACK TO BASICS - “A liberdade é o direito de dizermos às pessoas aquilo que elas não querem ouvir” - George Orwell

 

 

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publicado às 13:31

ABSTENÇÃO, ELEIÇÕES & LIBERDADE

por falcao, em 21.07.17

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ABSTENÇÃO - A pré-campanha das autárquicas está a ser um retrato do estado da nação. Em Lisboa a candidata do PSD fez um cartaz que só pode ser interpretado como um pedido de um cheque em branco; também em Lisboa a Câmara está a ser investigada por autorizações urbanísticas dadas por Manuel Salgado e Medina já se confessa desistente de manter a maioria absoluta; em Loures o candidato da coligação CDS - PSD fez afirmações polémicas sobre os ciganos e afirmava-se tranquilo sobre o apoio dos partidos que o indicaram - mas o CDS saíu da coligação, ficou o PSD sozinho com a polémica; no Porto, Manuel Pizarro, o iô-iô autárquico local do PS, faz promessas mirabolantes esbracejando pelas ruas, numa passeata ao lado de um António Costa tranquilo. A procissão eleitoral ainda vai no adro, mas percorrer as rotundas de cidades e vilas já proporciona um catálogo de tesourinhos deprimentes que parecem todos saídos de cartazes de uma empresa imobiliária, cada um com um slogan e promessas de bradar aos céus. Não admira que, como diz Manuel Villaverde Cabral, apesar “da enxurrada de demagogia feita à volta do chamado «poder local», a abstenção eleitoral tem sido mais alta ainda nas autárquicas do que nas legislativas”. Nas autárquicas de 2013 a abstenção foi de 47,4%, nas legislativas de 2015 foi de 44%, número apenas ultrapassado pelas presidenciais de 2016, com 51,3% de abstenção. Citando ainda Villaverde Cabral, “há muito tempo que Portugal se tornou no país da abstenção como o maior partido”. Este ano o cenário poderá ser ainda pior. Vai sendo tempo de o Presidente, os partidos e os autarcas tirarem lições de tudo isto - mas tal parece cada vez mais fora dos seus interesses e prioridades. O mesmo é dizer que a opinião dos cidadãos só interessa quando lhes dá jeito.

 

SEMANADA - As salas de cinema registaram mais de 7,9 milhões de espectadores no primeiro semestre, mais um milhão que no mesmo período do ano passado; “Velocidade Furiosa 8” foi o filme recordista com 786 mil espectadores e “Jacinta” foi o filme português mais visto, com 45 mil espectadores; Matosinhos é o concelho do país no qual as salas de cinema têm maior média de espectadores por sessão; desde 2011 têm sido desligadas 280 máquinas de multibanco por ano e entre 2011 e 2016 fecharam 1620 balcões de bancos; no segundo trimestre deste ano as compras realizadas com cartões de débito ou de crédito totalizaram mais mil milhões de euros que em igual período do ano passado; este ano o Turismo criou tanto emprego em Abril como em todo o ano passado; o SIRESP voltou a falhar no incêndio de Alijó; no espaço de um ano Portugal perdeu um terço dos bombeiros; o Governo deu instruções para que os comandantes dos bombeiros deixem de dar informações à imprensa; a administração central não divulga 85% das compras de produtos ou serviços que efectua, e o ajuste directo continua a ser principal opção de aquisição; os gastos do Estado com as parcerias público-privadas aumentaram 39 milhões de euros num ano; o conjunto de gastos com veículos automóveis, desde a compra à manutenção, passando pelos combustíveis, rende ao estado 23 milhões de euros por dia em impostos; na última década as famílias portuguesas cortaram em restaurantes, hotéis, cultura e lazer para equilibrar as subidas verificadas na habitação, luz, gás, água e ensino; o orçamento familiar é 232 euros mais caro em Lisboa que a média nacional.

 

ARCO DA VELHA - O fabrico de petardos cada vez mais pequenos, com poucos centímetros, tem permitido que cada vez mais adeptas dos principais clubes entrem com esses artefactos explosivos escondidos nas partes íntimas.

 

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FOLHEAR - Tenho seguido a existência da revista Elsewhere desde o seu número um, no primeiro semestre de 2015. Durante dois anos a Elsewhere publicou semestralmente, a partir de uma operação de crowdfunding que lhe deu vida durante essas primeiras quatro edições. O formato é 16x23, 82 páginas. Os textos são relativamente curtos, tem existido pelo menos um portfolio fotográfico por número e muitos dos artigos de viagem são acompanhados de magníficas ilustrações em desenho feitas expressamente para a ocasião. A Elsewhere nasceu em Berlim pela mão de Paul Scraton e Julia Stone, que são responsáveis por vários textos publicados ao longo da vida da revista . É assumidamente uma actividade extra em relação às actividades profissionais que ambos desenvolvem. A Elsewhere intitula-se “ A Journal of Place” - não é uma publicação sobre viagens no conceito habitual, é mais uma evocação de sentimentos e sensações que os lugares visitados deixam nos visitantes. Não esperem reportagens,  vão encontrar impressões. Nas primeiras quatro edições não havia um tema fixo orientador, a diversidade de  locais, como a Madeira, no número 4, era o lema. A partir deste número 5, que agora foi publicado, no início de Julho, passa a existir um tema por edição, e o primeiro é “Transition”. “A transição tem a ver com o movimento, com a natureza da viagem, e assim sendo com o conceito de casa, de origem e de identidade. De certa forma estes sempre foram os temas da Elsewhere e, de alguma maneira,  a ideia da transição moldou, pelo menos em parte, a revista desde o seu início” - escrevem Paul Scraton e Julia Stone no editoral. Locais: São Francisco, Cáceres, Tblisi, Melbourne, e Irlanda, entre outros. O ensaio fotográfico é sobre as ilhas Faroe. Se quiser saber mais consulte o blog, que é actualizado regularmente - www.elsewhere-journal.com/blog/

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VER - Até 15 de Setembro pode ver na Biblioteca Nacional uma deliciosa exposição intitulada “Jazz em Portugal: 100 anos de txim, txim, txim, pó,pó,pó,pó”, comissariada por João Moreira dos Santos, autor de sete livros sobre a história deste género musical em terras lusas. Os primeiros ecos de jazz terão chegado em 1916/17 e ganharam adeptos como Ferreira de Castro, Almada Negreiros, Stuart Carvalhais, Cottinelli Telmo, António Ferro, António Lopes Ribeiro e Fernando Curado Ribeiro. A imagem que aqui se reproduz evoca a primeira jam session pública de que há registo, realizada em Lisboa, em 1948 no Café Chave de Ouro. São exibidas várias fotografias inéditas (como a de Duke Ellington com Eusébio), exemplos da presença do jazz nas bandas sonoras de filmes portugueses dos anos 20 e 30, o primeiro disco de jazz gravado por músicos portugueses em 1957, entre muitos outros documentos como capas de revistas e publicações diversas. Imperdível. Outras sugestões: no Palácio Pimenta, e no âmbito da programação de Lisboa Capital Ibero-Americana da Cultura 2017, estão expostas máscaras e devoções mexicanas aob a designação “Do Carnaval À Luta Livre”; na Fundação Carmona e Costa, até 29 de Julho, ainda pode ver “Missão Fria”, de Pedro Casqueiro (Rua Soeiro Pereira Gomes Lote 1, 6º); e a sul, no Centro Cultural de Lagos, de dia 22 até meados de Outubro, Sofia Areal expõe pintura, desenho, obra gráfica e tapeçarias.

 

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OUVIR - Quatro músicos de jazz, Jack DeJohnette (bateria), Larry Grenadier (baixo), John Medeski (teclas) e John Scofield (guitarra), juntaram-se para prestarem homenagem a uma paixão comum - o rock dos anos 60. Vai daí criaram o projecto Hudson, agora editado. O álbum inclui dois temas de Dylan (“Lay Lady Lay” e uma versão de nove minutos, fantástica, de “A Hard Rain’s Gonna Fall”), “Woodstock” de Joni Mitchell, “Wait Until Tomorrow” de Jimi Hendrix, “Up On Cripple Creek” de The Band e ainda diversos originais dos membros do grupo. O álbum arranca com “Hudson”, um original de 12 minutos de John Scofield, que faz lembrar a época de “Bitches Brew”, de Miles Davis - não por acaso Scofield integrou o grupo de Davis nessa época, o que também se nota no outro tema que assina, “Tony, Then Jack”. “Dirty Ground” é um tema de Jack DeJohnette, onde o baterista também canta num registo de blues. O que é mais curioso neste disco é a forma como quatro nomes do jazz, de diferentes gerações, se cruzam em torno da evocação de canções que se tornaram standards da música dos anos 60 e, nas composições próprias que apresentam, acabam por reflectir o espírito da época, como por exemplo em  “Song for World Forgiveness” e “Great Spirit Peace Chant”. Mas de facto o momento alto é mesmo a versão de “A Hard Rain’s Gonna Fall”, captando o espírito com que Dylan compôs e interpretou a canção, desafiando a noção clássica de canção e de ritmo.  Álbum disponível no Spotify.



PROVAR -   A espelta, também conhecida por trigo vermelho, é um cereal que durante anos caíu em desuso, mas a sua utilização cresceu nos últimos anos ligada às investigações sobre uma alimentação saudável. A espelta é rica em fibras e vitaminas do complexo de B e tem a presença de diversos minerais como cobre, magnésio, fósforo e, principalmente, ferro. É também conhecida por seu alto teor de proteínas. Além disso, por possuir pouca quantidade de glúten, o grão é de mais fácil digestão. Normalmente utilizo o pão de espelta fabricado pela Miolo, mas há pouco tempo descobri numa loja Celeiro o pão de espelta integral elaborado pela Pachamama (nome que evoca uma deusa Inca), num processo de fermentação lenta durante 24 horas e que, além da farinha leva apenas água filtrada e sal marinho. É mais leve que o da Miolo (que é mais denso), e igualmente saboroso - aparentemente o processo de fermentação lenta torna o pão mais digestivo e com menor indíce glicémico. Além da espelta integral simples existem as variedades com curcuma e pimenta preta, centeio integral, trigo duro e centeio integral.  

 

DIXIT -  “A direita tem um problema de liderança, de caras, de quadros, de ausência de ideias, de estratégia” - Nuno Garoupa.

 

GOSTO - Rita Red Shoes fez uma magnífica actuação ao vivo na abertura do EDP cooljazz, com uma banda e arranjos surpreendentes, até num clássico de Nina Simone.

 

NÃO GOSTO - Winnie the Pooh, o urso amarelo da banda desenhada, foi banido da internet chinesa por se parecer com o Presidente XiJinping.

 

BACK TO BASICS - “A liberdade é o direito de dizermos às pessoas aquilo que elas não querem ouvir” - George Orwell

 

 

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publicado às 13:30

MILITÂNCIA, PARTIDOS & AUTÁRQUICAS

por falcao, em 14.07.17

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MILITÂNCIAS - As eleições locais eram supostas significar um momento de aproximação das pessoas com a política, nomeadamente através dos partidos, que são supostos serem a forma organizada de proporcionar a participação cívica dos cidadãos no governo da sociedade. Teoricamente os partidos reflectem as preocupações das pessoas, de acordo com o respectivo posicionamento ideológico analisam a realidade, propõem soluções e apresentam programas de acção que serão um guia para os seus eleitos. Agora digam-me lá: onde é que isto se passa? Onde é que estão escritas, em programa eleitoral, as profundas alterações a que Lisboa tem sido submetida nos últimos dois anos? Comportamentos partidários como os que assistimos - executar políticas não referendadas e abdicar de tomar posição - foram as duas linhas de acção das duas principais forças eleitas nas anteriores autárquicas, em Lisboa. Comportamentos assim são a semente do descrédito nos políticos e nos partidos e são um incentivo ao surgimento de candidaturas independentes. Mas, tudo indica que, ao contrário do que se passa no Porto, não existirá em Lisboa nenhum candidato independente. É pena porque com o desagrado de tantos votantes do PS e do PSD pelo comportamento dos candidatos destes partidos, Fernando Medina e Teresa Coelho, esta seria uma boa oportunidade para mudar de rumo. Lisboa vai continuar presa na teia dos aparelhos e interesses partidários, os seus habitantes relegados para segundo plano.

 

SEMANADA - O Presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia, António Ramos, diz que para manter a ordem pública é sempre necessário cometer excessos; este ano já foram detidos seis vezes mais incendiários que no ano passado; entre 2013 e 2016 morreram 89 pessoas na rede ferroviária e no ano passado registaram-se mais 31 por cento de acidentes mortais que em 2015; a polícia apreende seis armas de fogo por dia; o roubo de armas em Tancos proporcionou, segundo a Marktest, 152 notícias e 5 horas e meia de emissão nas estações de televisão; ainda segundo a Marktest, em Junho, António Costa, liderou o tempo de exposição televisiva, com 200 notícias que ocuparam 10 horas e 23 minutos;  Marcelo Rebelo de Sousa, foi segundo, com 188 notícias, num total de 9 horas e 49 minutos; na terceira posição ficou Constança Urbano de Sousa, com 53 notícias com o tempo total de 3 horas e 16 minutos; Pedro Passos Coelho foi quarto, tendo estado perante os ecrãs por 2 hora e 57 minutos, repartidos por 70 notícias;  Catarina Martins ocupou o quinto lugar, com 64 notícias de 2 horas e 30 minutos de duração; o tráfego nas auto-estradas regressou aos níveis pré-troika com uma média diária ponderada de 16.447 veículos a circular.

 

ARCO DA VELHA - O Presidente do Grupo Parlamentar do PSD, Luis Montenegro, já invocou “trabalho político” em pelo menos duas ocasiões em que faltou à Assembleia da República e foi assistir a jogos da selecção portuguesa no estrangeiro.

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FOLHEAR - Volta e meia o tema do populismo na política portuguesa volta à baila - nomeadamente porque aqui, ao contrário do que aconteceu em Itália, França, Espanha, Venezuela ou Estados Unidos, o fenómeno é quase irrelevante. Há quem diga que a geringonça desarticulou os putativos populistas, há quem diga que os proverbiais brandos costumes lusitanos são terreno pouco fértil para tais aventuras. O fenómeno do populismo tem criado novas forças políticas, tem influenciado eleições, proporcionado votações inesperadas. Jan-Werner Muller é Professor de Política na Universidade de Princeton e tem-se dedicado a estudar a evolução das ideias políticas. “O Que É O Populismo” é a sua mais recente obra, um original de 2016, agora editado em Portugal pela Texto. “Todos os populistas contrapõem “o povo” a uma elite corrupta e interesseira” - escreve o autor no prefácio, sublinhando: “o que realmente distingue um populista é a sua reivindicação de que ele e só ele representa o verdadeiro povo”. Em cerca de 100 páginas Muller analisa o discurso dos populistas, estuda como se comportam quando no poder, especula sobre as melhores formas de lidar com o fenómeno e culmina com aquilo a que chama “sete teses sobre o populismo” que só por si valem o livro. Leitura recomendadíssima para os tempos que correm.

 

crédito_Fernando Guerra. Richter Dahl Rocha & Ass

VER - A fotografia de arquitectura pode ser um postal ilustrado, sem graça, ou uma mera ilustração passiva do trabalho de arquitectos; ou então pode ser um olhar agudo e criativo sobre a própria obra arquitectónica - e é isso que o trabalho do fotógrafo Fernando Guerra mostra de forma clara (na imagem). O espaço “Garagem Sul” do CCB acolhe até 7 de Outubro a exposição “Raio X de Uma Prática Fotográfica”  que percorre a carreira de Fernando Guerra, um arquitecto que abdicou do estirador e passou a usar a máquina fotográfica. A formação em arquitectura influencia claramente a sua forma de ver e de se aproximar dos edifícios e do território. Fernando Guerra fotografa em todo o mundo, é requisitado por arquitectos internacionais e tem uma relação especial com alguns dos grandes nomes da arquitectura portuguesa. Luis Santiago Batista, o curador da exposição, destaca a capacidade de Fernando Guerra em comunicar visualmente com as pessoas, mesmo os leigos em matéria arquitectónica. Outras sugestões: no MAAT, na sala dos geradores e no Jardim do Campus Fundação EDP,  o artista chinês Bai Ming apresenta até 4 de Setembro cerca de duas centenas de peças de cerâmica, desenho e pintura apresentadas sob a designação “Branco e Azul”. Bai Ming é considerado um dos artistas que mais tem trabalhado a renovação da criação artística chinesa no campo da cerâmica, numa evidente reciclagem de uma tradição ancestral; finalmente na Galeria Principal da Gulbenkian, inserido na programação “Jardim de Verão”, é apresentada a interpretação que sete realizadores fazem, em filme, de obras de escultura - “The Very Impress Of The Object”, a partir de obras de diversos museus, desde o Museu do Louvre até museus de Paris a Roma, seguindo até Atenas, com passagens por Berlim, Munique e Londres.

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OUVIR - Em 1974 David Bowie tinha 27 anos e fartou-se de Inglaterra. Rumou aos Estados Unidos, primeiro a Nova Iorque, depois para Los Angeles. No final de 73 e início de 74 tinha gravado o seu álbum glam-rock “Diamond Dogs”, onde as influências do funk e da soul music eram patentes. O álbum foi editado em Maio e a digressão baseada no disco atravessou os Estados Unidos ao longo de 1974 e prolongou-se por parte de  1975. No início de Setembro de 74, estava Portugal em brasa revolucionária, Bowie realizou uma série de concertos em Los Angeles, no Universal Amphiteatre e o concerto de dia 5 foi gravado e é agora publicado, 43 anos depois, sob o título “Cracked Actor”, o mesmo de um documentário da BBC, de 1975, sobre essa digressão. Os registos originais foram remisturados no final do ano passado por Tony Visconti, que tantas vezes trabalhou com Bowie. “Diamond Dogs” mostrava a visão de um mundo pós-apocalíptico e, aparentemente, o livro “1984”, de George Orwell, terá sido uma das inspirações desta fase da carreira de Bowie - o disco tem mesmo uma faixa com o nome do livro. A digressão de “Diamond Dogs” arrancou em Junho de 1984, teve uma produção inovadora e ambiciosa, nos cenários imponentes, no guarda roupa, no leque de músicos em palco. No duplo CD agora editado, “Cracked Actor”,  e que reproduz o concerto, é muito engraçado redescobrir a voz de Bowie, ao vivo,  ainda antes dos 30 anos. No primeiro CD está grande parte dos temas originais de “Diamond Dogs” e no segundo estão canções de referência da carreira de Bowie até aí, como”Space Oddity”, “The Jean Genie” ou “Rock’n’Roll Suicide” - além do tema título “Diamond Dogs”. O disco encerra com “John, I’m Only Dancing (Again)”, que só foi editado como single cinco anos depois destes concertos. Duplo CD distribuído em Portugal pela Warner.

 

PROVAR -   A ideia foi apresentada na edição portuguesa do programa de TV “Shark Tank” e um dos membros do júri, o empresário Marco Galinha, agarrou-a e está a ajudar os seus proponentes . A ideia baseia-se num dos produtos portugueses mais tradicionais, aqui apresentado de forma diferente:  solidificado em pasta para barrar - e que é verdadeiramente uma grande ideia. Sob o nome “Ideias & Requintes”, são apresentados azeite em spray, natural e temperado com alecrim, e embalagens de azeite solidificado para barrar, com sabor natural, com tomate e com oregãos. Se gosta de molhar o pão no azeite experimente barrar uma torrada com este azeite de barrar natural ou, noutros momentos, servir umas tapas com azeite com tomate ou com oregãos. Oriunda de Portalegre, a empresa tem os seus produtos no El Corte Ingles e ainda numa série de lojas gourmet, estando agora a negociar a sua presença em grandes superfícies. Pode ir acompanhando o seu trabalho através de facebook.com/ideiaserequintes. Todo o azeite utilizado pela marca Ideias & Requintes é Azeite Virgem Extra de categoria superior obtido unicamente por processos mecânicos, 100% natural sem qualquer aditivo. O Azeite Virgem Extra é obtido exclusivamente de azeitonas da variedade Galega proveniente de olivais tradicionais localizados no Parque Natural da Serra de São Mamede. Finalmente, e fora dos azeites, a empresa produz também chocolate negro com nozes e gengibre, com 71% de cacau. Todas as matérias primas utilizadas são obtidas através de métodos de produção biológicos.

 

DIXIT -  “O Governo fica tranquilo quando os chefes militares asseguram ao país a segurança das instalações militares” - António Costa, na sequência do roubo de armamento em Tancos.

 

GOSTO - A agência de publicidade portuguesa Partners, que tem trabalhado com a PT em Portugal, foi escolhida pela Altice para criar a campanha de lançamento da marca de telecomunicações nos Estados Unidos, protagonizada por Ronaldo.

 

NÃO GOSTO - O ano de 2017 apresenta, até ao dia 30 de junho, o quinto valor mais elevado em número de incêndios florestais e o valor mais elevado de área ardida desde 2007.

 

BACK TO BASICS -   “Mais vale ter menos, mas melhor” - Dieter Rams

 

 





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UM ESTADO DILUÍDO NA POUCA VERGONHA

por falcao, em 07.07.17

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VERGONHA - Aquilo que as semanas recentes mostram é que, no Estado, se perdeu toda a vergonha. A seguir à catástrofe dos incêndios a prioridade cronológica foi  encomendar um estudo de focus group, para ver se a opinião pública não ficou muito desagradada com o Governo pelo sucedido. Logo depois soube-se que o exército deixa roubar as armas e munições que lhe estão confiadas e descobre-se que há quase mais chefes que índios na estrutura. Logo, com grande rapidez, o ministro substituto do Primeiro Ministro declarou estar certo que o Governo vai reaver o armamento roubado, com as autoridades a dizerem pouco depois que o armamento já estaria fora do país, num caso de semelhança, pelo absurdo, com a rapidez com que a polícia judiciária atribuíu, a um raio, o fatal incêndio de Pedrogão, que começou horas antes da ocorrência metereológica. O Estado diluíu-se num pantanal de descaramento e pouca vergonhice e dois pilares de qualquer Governo - na Administração Interna e na Defesa - comportam-se como zombies da série “Walking Dead”. A trapalhada é total e o Ministro da Defesa foi arrastado pelas orelhas, pelo Presidente da República, a ver o local do roubo das armas. Dou comigo a pensar que por bem menos o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, em vez de puxar orelhas, resolveu invocar que havia trapalhadas,  demitir o Governo, dissolver o Parlamento e convocar eleições. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já Camões dizia; Marcelo conformou-se ao papel de  distribuir afetos num país que se vai transformando num cenário de papelão usado para filmes de série B.

 

SEMANADA - A Uber tem actualmente em Portugal três mil motoristas, nos últimos 12 meses transportou clientes de 80 nacionalidades, num total de 750 mil estrangeiros de visita a Lisboa ou Porto e 30% dos portugueses que vivem nestas cidades já experimentaram utilizar os seus serviços;  no primeiro semestre deste ano o número de mortos nas estradas portuguesas aumentou mais de 23% ; António Costa interrompeu o seu merecido repouso para dar uma palavrinha à nossa Selecção pelo 3º lugar na Taça das Confederações e deixou a Santos Silva o encargo de lidar com a trapalhada criada no Ministério da Defesa; em compensação a conversa futebolística da semana foi em torno da utilização de bruxedos na obtenção de resultados, o que mostra o elevado grau de bom senso dos dirigentes daquela área de negócio desportivo;  foi encontrado o principal segredo para os números do défice: houve um valor histórico de cativações, que chegou aos 942,7 milhões, mais do dobro que o governo tinha prometido à Comissão Europeia;  estatísticas divulgadas pela Anacom mostram que a maior proporção de acessos residenciais de Internet em banda larga se localiza no concelho de Cascais, ao contrário de Pedrógão Grande onde essa proporção é a mais baixa do país; nos tribunais reabertos por este Governo realizam-se menos de dois julgamentos por mês.

 

ARCO DA VELHA - Em Tancos não houve rondas de vigilância durante 20 horas, a videovigilância estava inoperacional há dois anos, os soldados que vigiavam os paióis tinham armas sem balas e nos últimos anos as Forças Armadas contrataram serviços a empresas privadas de segurança. Fica no ar a pergunta: antes de se inventar a videovigilância como se garantia a segurança dos paióis militares?

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FOLHEAR - Um interessante livro para ler neste período preparatório das próximas eleições autárquicas é “Manual de Crimes Urbanísticos - exemplos para compreender os negócios da especulação imobiliária”. O seu autor é Luis F. Rodrigues, um especialista em ordenamento do território e planeamento ambiental, que se dedica também ao estudo de temas religiosos e históricos. Entre as suas obras anteriores estão “A História do Ateísmo Em Portugal” e “A Ponte Inevitável”, que relata a história da primeira ponte sobre o Tejo. “Manual de Crimes Urbanísticos” foi originalmente editado em 2011 e teve agora uma segunda edição. Numa nota sobre esta nova edição, o autor sublinha: “analisados os relatórios do Provedor de Justiça à Assembleia da República de 2011 (ano da primeira edição) e 2015 (ano do relatório mais recente), verifica-se que as admissões de queixas relacionadas com urbanismo e habitação, ambiente e recursos naturais e ordenamento do território, totalizaram, em 2011, 482 processos, enquanto em 2015 esse número ascendeu a 678 processos - ou seja um acréscimo de 40%”. Já na primeira edição o autor fazia notar que os dados da corrupção permitem identificar o urbanismo como um sector de risco nas câmaras municipais. O livro tem prefácio de Gonçalo Ribeiro Telles que sublinha que os crimes urbanísticos reflectem a falta de uma visão integrada do território.

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 VER -  É uma das exposições mais marcadamente políticas e mais relevantes que me foi dado ver este ano em galerias de Lisboa - “Talk Tower for Ingrid Jonker, 2012”, de Ângela Ferreira, na Appleton Square (Rua Acácio Paiva 27). A exposição combina o som de um poema de Ingrid Jonker (The Child Is Not Dead) declamado pela própria, difundido através de uma escultura que evoca  uma torre de transmissão radiofónica (na imagem) e fotografias de Paul Grendon (feitas em colaboração com Ângela Ferreira), da praia da Cidade do Cabo onde Jonker caminhou pelo mar até se afogar. Jonker era uma activista anti-apartheid, o poema relata a morte de uma criança negra pelas autoridades e foi este o poema que Nelson Mandela recitou na sua intervenção inaugural do primeiro parlamento democrático da África do Sul, em 24 de maio de 1994. Passando para outra sugestão, as Galerias Baginski (de Lisboa) e a Kubikgallery (do Porto) organizaram na Baginski (Rua Capitão Leitão 51) uma exposição colectiva que reúne artistas representados pelas duas galerias, com curadoria de Miguel Mesquita, sob o título “Force, Strength, Power” e que decorre até 9 de Setembro. Destaque para os trabalhos de Hernâni Reis Baptista, Cecília Costa, Bruno Cidra, Rui Valério, Carlos Azeredo Mesquita e Valter Ventura. Destaque especial para os trabalhos de Raquel Melgue e Liliana Porter . No British Bar, ao Cais do Sodré, Pedro Cabrita Reis apresenta até dia 27 as suas terceiras escolhas para as montras do melhor sítio para beber uma Guiness em Lisboa - são  peças de Edgar Massul, Ana Vieira (magnífica) e Amanda Duarte. O destaque final vai para para a exposição dedicada à carreira de cenógrafo e figurinista António Lagarto, que decorre na Sala Polivalente da Escola D. António Costa, junto ao Teatro Municipal Joaquim Benite e integrada na edição deste ano do Festival de Almada.

 

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OUVIR - Há 33 anos, em Junho de 1984, Prince publicava o álbum “Purple Rain”, que foi um dos maiores e mais marcantes sucessos da sua carreira e que tem várias canções que fazem parte das suas melhores obras - disco que originalmente era a banda sonora de um filme com o mesmo nome, protagonizado pelo próprio, uma estratégia de cruzamento da música com a imagem em movimento que estava à frente do seu tempo. Assinalando o aniversário foi feita uma edição especial com quatro discos e um livro de 36 páginas com histórias que rodeiam essa época, relatando os concertos da digressão de “Purple Rain” e as suas gravações. O primeiro disco reproduz, remasterizado em 2015 ainda por Prince, o álbum original de Purple Rain; o segundo disco tem 11 gravações inéditas - ou de temas nunca antes editados ou de versões até agora desconhecidas e é uma prova das preciosidades que ainda estão por descobrir; o terceiro CD agrupa remixes editadas como singles ou como lados B desses discos; e finalmente o quarto disco é um DVD gravado a 30 de Março de 1985 e que reproduz o concerto então realizado  no Carrier Dome, de Syracusa, em Nova Iorque. Soberbo. Já disponível em Portugal, edição Warner.

 

PROVAR -   Nestes dias de verão há um paraíso escondido em Lisboa - o terraço do Hotel Olissipo Lapa Palace, antigo Hotel da Lapa. O terraço fica no prolongamento natural do restaurante, tem uma vista magnífica sobre o jardim, a encosta e o rio e, nesta altura do ano, ao almoço,  oferece um menu especial, à base de pratos ligeiros e saladas. Numa recente visita receberam boa nota uma salada Caesar muito bem guarnecida e uma salada de legumes mistos com presunto de parma e ovos de codorniz. Há também uma salada de gambas, um gaspacho e, para quem quiser outro género, uma boa sandwich club clássica ou um hamburguer Lapa Palace, que pode vir com ovo e bacon. A acompanhar as saladas provou-se um branco, a copo,  Encostas de Sonim reserva, de Trás os Montes, que recebeu boa nota. O terraço tem poucas mesas, a clientela inclui protagonistas que procuram um lugar discreto para conversas tranquilas, num sítio confortável e com estacionamento garantido. O restaurante é dirigido pelo chef Helder Santos e na sala e na sua carta normal propõe um menu degustação e uma lista onde se incluem diversas propostas inspiradas pela gastronomia portuguesa, quer nos peixes quer nas carnes, além de uma possibilidade de risottos e pastas frescas. Mas essas são outras conversas.

 

DIXIT -  "O Parlamento Europeu é ridículo, muito ridículo. Saúdo os que se deram ao trabalho de estar na sala. Mas o facto de haver só uma trintena de deputados presentes neste debate é suficientemente demonstrativo que este parlamento não é sério" - Jean Claude Juncker no discurso de encerramento da presidência rotativa da União Europeia, que esteve a cargo de Malta. O Parlamento Europeu tem 751 deputados.

 

GOSTO - O artista plástico português Vihls (Alexandre Farto) tem desde 30 de Junho e até 23 de Julho uma exposição em Pequim, de 70 retratos em baixo relevo, “Imprints”,  feita com o apoio da REN.

 

NÃO GOSTO - A praia do Portinho da Arrábida está reduzida a 37% do seu comprimento e a 40% da sua área em relação ao que era há cem anos.

 

BACK TO BASICS - A capacidade do comando vem do saber e da experiência e não das armas que se utilizam - William Shakespeare.

 

 



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