(Publicado no diário Meia Hora de 3 de Novembro)
Governar o que quer que seja não é fácil, governar uma grande cidade ainda menos. Lisboa é um exemplo das dificuldades que toda a gente tem, sem excepção. Quando António Costa foi eleito fez uma série de promessas. Para além das de gestão corrente, garantiu que queria uma cidade mais humana, que queria uma cidade mais habitada, que queria uma cidade mais virada para o rio, onde fosse mais agradável viver. É um programa comum que poderia ser subscrito por muita gente. No entanto, nas últimas semanas, os factos têm contrariado as boas intenções, as boas declarações, as promessas eleitorais.
Comecemos pelo caso do alargamento do terminal dos contentores – qualquer pessoa que se preocupe com a qualidade de vida na cidade preocupa-se com a decisão que o Governo impôs à Câmara, e que António Costa aceitou. O assunto é este: «A ampliação da capacidade do terminal de contentores de Alcântara que o Governo inoportunamente se propõe levar por diante implicará a criação de uma muralha com cerca de 1,5 quilómetros com 12 a 15 metros de altura entre a Cidade de Lisboa e o Rio Tejo. A zona de Alcântara estará sujeita a obras durante um período previsto de 6 anos, impossibilitando assim a população de aceder ao rio pelas “Docas”, levando ao fecho de toda a actividade lúdica desta zona, pondo em risco 700 postos de trabalho. Os terminais de contentores existentes nos portos de Portugal no final de 2006 tinham o dobro da capacidade necessária para satisfazer a procura do mercado.»
Como se isto não chegasse fiquei a saber pelos jornais de fim-de-semana que a Câmara se prepara para abandonar o projecto de uma zona residencial em Entrecampos, sobretudo destinada aos mais jovens, e em seu lugar quer construir mais escritórios. Eu trabalho nas Avenidas Novas e vejo a quantidade de escritórios que ali estão vazios, há anos, sem encontrarem ocupante. O cenário repete-se por toda a cidade. Lisboa não tem falta de escritórios, tem é falta de pessoas, de residentes. Não há emprego para tanta área de escritórios – mas é certo que eles são potencialmente mais rentáveis que habitações para arrendamento a preços não especulativos.
No fim a conversa é sempre a mesma: promove-se o que é mais rentável para interesses particulares, abandona-se o que é mais importante para fazer reviver a cidade e dar conforto a quem a habita.