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PÓS ELEIÇÕES (J Negócios 16 OUT)

por falcao, em 21.10.09

 


ELEIÇÕES – Esta semana dei por mim a pensar que um dia destes valia a pena escrever um «Diário» das eleições para Lisboa., a começar por umas reflexões sobre o calendário eleitoral que, na prática, condicionou de forma perversa a campanha para as autárquicas. Para mim, que fui candidato à Presidência da Assembleia Municipal da lista «Lisboa Com Sentido», de Pedro Santana Lopes, foi uma experiência fantástica e enriquecedora – mesmo tendo sido o PS o vencedor em Lisboa, com larga ajuda de apoios directos do PC, como Carvalho da Silva, Carlos do Carmo e José Saramago. António Costa, o vencedor da noite, afirmou-se como o dirigente do PS capaz de federar a esquerda e esse será um capital político que não deixará de usar nas intrigas internas do seu partido. Para conseguir juntar a péssima açorda política que arregimentou, diabolizou desde o primeiro dia Santana Lopes, que tornou no símbolo do mal, a quem interessava derrotar a todo o custo. Como mais tarde se recordará, para o conseguir não hesitou em juntar nomes de convivência improvável, não apresentou programa para além da obediência ao Governo, e, na prática, transformou os Paços do Concelho em sede da sua campanha contra Santana Lopes. Todos – e creio que foram alguns - os que sendo de centro-direita ou até de direita se fingiram assustar com o papão e votaram vingativamente Costa, numa diletante atitude de angélico e ingénuo comportamento, poderão ver agora o que faz em Lisboa um PS com maioria absoluta e sem desculpas de dificuldades em aprovar medidas. Como o tempo já provou, e estou certo que voltará a provar, os grandes negócios em Lisboa fazem-se com o PS no poder – existe nos círculos da especulação imobiliária, das obras públicas e dos grandes prestadores de serviço a convicção de que «com o PS é que a gente se governa». A tarefa é facilitada porque o argumentário ideológico utilizado pelo PS serve de desculpa e capa protectora para atitudes pouco claras. Um querido amigo meu dizia-me segunda feira que a Mota-Engil tinha sido de facto, em sentido figurado, a vencedora das eleições em Lisboa. Como os leitores deste jornal bem sabem, a Bolsa interpretou as coisas exactamente dessa forma.

 

VER – Gertrude Stein escreveu o conto infantil «The World Is Round» em 1939 e até agora não existia nenhuma edição portuguesa desta obra. A lacuna foi resolvida com uma edição especial, assegurada pela Galeria João Esteves de Oliveira com base na tradução que Luísa Costa Gomes fez da obra, ilustrada com desenhos a tinta da china sobre papel da autoria de Jorge Nesbitt. É a colecção dos originais criados para ilustrar o livro que a Galeria expõe desde a semana passada e o resultado é surpreendente. Nesbitt, que tem feito um percurso criativo multifacetado, com passagem de destaque pela banda desenhada portuguesa contemporânea, tem-se afirmado, através das suas várias exposições, como um artista que cria universos visuais por vezes surpreendentes, como acontece nesta exposição – em que o recurso à tinta da china acentua a exploração de um imaginário povoado de referências no domínio do Fantástico. A exposição fica até 13 de Novembro, na Rua Ivens 38, www.jeogaleria.com.

 

LER – Em 1991 Douglas Coupland tornou-se conhecido com «Generation X: Tales For An Accelerated Culture», um livro sobre a geração nascida no início dos anos 60. Coupland tinha nessa altura 30 anos e o livro era a caracterização dos hábitos, costumes e cultura dos jovens adultos no final dos anos 80. A obra marcou a literatura contemporânea e afirmou o seu autor. 18 anos depois Coupland volta a contar a história de uma geração, desta vez no futuro, num mundo onde várias formas de vida se extinguiram e as abelhas se tornaram uma rara preciosidade, subversiva, perigosa de deter sob qualquer forma. «Generation A», o livro que Coupland acabou de publicar, é um livro sobre as gerações de um mundo mais digital que possamos imaginar, nalguns momentos quase uma réplica contemporânea da obra de Orwell. Com uma forma narrativa inventiva, invulgar e arrebatadora, «Generation A» passa-se em torno de 5 personagens, espalhadas por outros tantos pontos do Mundo, e que têm nas abelhas o ponto comum – são aos mesmo tempo rebeldes e sobreviventes, lutadores e guardiões de um mundo que se extingue. Mas «Generation A» é também uma história sobre o Poder, sobre a utilização do Poder e sobre aqueles que o detêm e os que o querem conquistar. Muito, mas muito oportuno. (Versão original na Amazon).

 

OUVIR – Não se assustem com os primeiros segundos de «Outdoor», o segundo disco dos La La La Ressonance, agora editado. Partindo de influências do jazz, este quinteto português mistura-as com sonoridades pop e consegue uma fusão invulgar, às vezes a evocar ora sonoridades de formações de câmara, ora música improvisada. «Outdoor» é uma aposta criativa arriscada, mas bem conseguida, e uma das boas surpresas editoriais do panorama nacional no corrente ano. Dos 12 bons originais, compostos pelo quinteto, a minha preferência vai para «Free Radicals», tema mesmo a jeito para remisturas ou para utilização como banda sonora.

 

PETISCAR – Nestes dias de um inesperado calor outonal vale a pena considerar uma proposta de um belo terraço em cima do rio, longe de contentores, na doca do Jardim do Tabaco. Estou a falar do Xico’s, um bom local para almoçar nestas belas tardes de sábado ou domingo. O estacionamento é fácil (tem parque ao lado). Uma boa proposta de petisco de entrada é o carpaccio de polvo, se lhe apetece alguma coisa leve experimente as favinhas guisadas, o entrecôte café de Paris é célebre (e com razão), há saladas para quem quer evitar desvarios, mas também há um bacalhau lascado à lagareiro a merecer referência. Serviço às vezes um bocado irritantemente desatento, garrafeira boa, preços razoáveis. «Xico’s», www.xicos.pt, tel. 211 515 480.

 

 

BACK TO BASICS – O primeiro passo no progresso de um homem ou de uma nação é o descontentamento – Oscar Wilde

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publicado às 16:32



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