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AUDITORIA – Se pensam que vou falar da auditoria ao sistema de medição de audiências da GFK enganam-se – apesar de continuarem a ocorrer coisas estranhas como, por exemplo, no Domingo passado, o canal de cabo mais visto no Algarve ter sido o angolano TPA. Mas adiante - o que venho aqui propor é uma auditoria à ANACOM e a todo o processo de implantação da Televisão Digital Terrestre. Como a imprensa tem relatado sucedem-se os casos de zonas onde o sinal não chega ou chega em más condições e onde, segundo a Anacom «terão de ser as populações a suportar o custo de adaptação à TDT». Como o serviço público de televisão – seja ele qual fôr no futuro – é suposto ter um acesso universal, livre e gratuito, temos aqui uma espécie de vazio: para alguns cidadãos ele terá custos, o que no mínimo vai dar azo a muita conversa jurídica. Mas para além deste aspecto, formal, aquilo que merece de facto uma auditoria é a falta de conteúdos presentes na TDT, que conseguiu a proeza, inédita na Europa, de apenas oferecer os quatro canais de sinal aberto e não proporcionar nenhum dos diversos canais portugueses que já existem no cabo. Aqui está um assunto que a ERC devia analisar - porque, este sim, tem a ver com serviço público.
PRIMÁRIAS – Não estou a falar dos Estados Unidos – onde os republicanos continuam a disputar as suas primárias para as presidenciais. Estou a falar de Portugal, onde por estes dias foi dado o tiro de saída para as primárias das próximas presidenciais. Graças a Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa reencontrou espaço para explicar como um Presidente da República se deveria comportar. Estivesse ele sujeito aos seus próprios exames e levaria nota alta – uns 18 pelos exigentes critérios que usa. Imagino que Marcelo, quando falou, já sabia que António Costa apresentaria a meio da semana um livro de recolha do seu pensamento político – uma tarefa árdua, convenhamos. Mas o facto de António Costa publicar significa alguma coisa – no cenário do PS e no cenário eleitoral – significa até bastante. Assim Costa sai do estatuto de reserva da nação e volta a entrar no activo. A sua entrevista de quarta-feira ao «Público» não deixa margem para dúvidas: «Não fujo de cargo nenhum». Uma sondagem publicada segunda-feira pelo «Correio da Manhã» apontava o duelo presidencial entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa como o que recolhia as preferências do eleitorado. António Costa recolhia 33,1% de preferências como melhor candidato à esquerda, à frente de António Guterres (que adoraria voltar a ser missionário na sua terra), Maria de Belém e de Carvalho da Silva – que regista uns 10,3% que podem não ser displicentes na altura das grandes decisões. À direita Marcelo, com 40%, quase que dobra Durão Barroso, enquanto Leonor Beleza e Santana Lopes surgem praticamente empatados à volta dos 9%. Teoricamente as eleições presidenciais são daqui a quatro anos – mas uma coisa é certa: esta semana começou o posicionamento dos pretendentes e a contagem das espingardas. O país está na crise que sabemos, mas a luta política promete ser animada.
SEMANADA – A retracção do consumo de combustíveis provoca uma quebra de receitas fiscais diária de cerca de 645 mil euros; associação de juízes processa 14 ministros do PS por suspeita de gastos ilegais; dois agentes da PSP de Lisboa foram detidos por envolvimento com uma rede criminosa de romenos; as falências de restaurantes aumentaram 68% em dois meses; um juiz do tribunal de Viana do Castelo emitiu uma ordem de serviço proibindo a aplicação do novo acordo ortográfico; Daniel Bessa admitiu que «Portugal está hoje muito pior que em 1994»; a CGD é o banco público com maior quota de mercado entre os seus congéneres europeus.
ARCO DA VELHA – Comentando a situação criada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa chamou a atenção para o facto de Cavaco Silva ter corrido o risco de Sócrates poder ter vencido as eleições legislativas, sem que ele, Cavaco, dissesse uma palavra sobre a «deslealdade gravíssima», que na semana passada subitamente revelou.
AGENDA – Andreas Stocklein apresenta até 11 de Maio trabalhos de pintura, azulejo e desenho sobre papel na Galeria Ratton numa exposição intitulada «Entre cá e lá – Outros Lugares». A Ratton (Rua da Academia das Ciências 2-C, de segunda a sexta, das 15 às 19h30), fez nome a partir de trabalhos sobre azulejo, promovendo edições exclusivas de nomes como Paula Rego, Pedro Proença, Julio Pomar, ou Rachel Korman. Frequentemente, como é o caso da exposição de Andreas Stocklein, apresenta obras sobre outros suportes. A Ratton existe desde 1987, pela mão e persistência de Ana Viegas e o ponto de partida foi trabalhar com artistas dispostos a utilizar o azulejo como suporte da sua criatividade. Desde o início a Ratton procurou artistas contemporâneos, procurando recuperar a tradição ao azulejo, mas também, tendo em conta a evolução das técnicas de produção, procurar novas formas de os utilizar nos espaços actuais.
OUVIR – Conseguir manter-se atento e interveniente ao fim do 17º disco não é coisa fácil, mas Bruce Springsteen trilha esse caminho com «Wrecking Ball», o seu novo álbum, um fresco sobre a crise e as suas consequências nos Estados Unidos. De certa forma este trabalho tem pontos de contacto com «Darkeness On The Edge Of Town», o seu quarto disco, editado na Primavera de 1978, e que relatava a época do início da queda das cidades industriais norte-americanas. É impossível ouvir a faixa de abertura de «Wrecking Ball», o hino «We Take Care Of Our Own», sou ainda «Easy Money», sem rever a história recente dos Estados Unidos. Musicalmente o disco mostra a diversidade de registos que Springsteen gosta de explorar. É um disco «engagé», é um disco de rock, como poucos dos últimos tempos. É um notável trabalho de um músico de 62 anos que continua a querer mostrar as suas diferenças. E a afirmar o seu olhar sobre a América.
LER – Pela mão de António Barreto a Fundação Francisco Manuel dos Santos, que criou a base de dados Pordata, lançou agora o portal «Conhecer a Crise». Na apresentação explica-se que este é «um portal destinado a dar visibilidade aos principais indicadores económicos e sociais capazes de traduzir com mais pormenor a situação de crise que Portugal atravessa ». Os promotores da iniciativa sublinham que «além de entidades oficiais, foi necessário recorrer a organizações civis e a empresas económicas que detêm informação importante» e declaram utilizar também com frequência inquéritos de opinião e atitudes. O «Conhecer A Crise» utiliza dados trimestrais e mensais, «mais adequados a medir a evolução actual, assim como as reacções das famílias e empresas, na sua tentativa de se ajustar ao novo contexto económico e superar algumas dificuldades». Finalmente, «com esta iniciativa, pretende a Fundação Francisco Manuel dos Santos contribuir para um melhor conhecimento da realidade, tantas vezes ocultada ou exagerada». Disponivel em www.conheceracrise.com , o portal é graficamente muito atraente, de navegação fácil e inclui na área «A Crise Como Eu A Vejo», a possibilidade de selecionar os conteúdos que interessam mais a cada utilizador.
PROVAR – O Solar dos Presuntos é, há 38 anos, um templo da gastronomia lisboeta onde se volta sempre com prazer. Não sou assíduo, mas cada vez que lá vou fico rendido à qualidade do presunto que dá nome à casa – a começar no produto propriamente dito e a acabar no corte, perfeito como é raro encontrar. Outro ponto exemplar reside na forma como a garrafeira está organizada e guardada, à boa temperatura para cada caso – o Solar dos Presuntos desde cedo aproveitou o potencial do iPad e a sua lista, extensa, de vinhos é trazida à mesa nesse aparelho – está sempre actualizada e é rica em informação sobre cada vinho. Nesta altura do ano o Solar dos Presuntos dedica-se à lampreia, e tem fama – e proveito - de ser um dos locais onde ela melhor é preparada em Lisboa. Até agora a melhor que provei este ano, foi aqui – por sorte com ovas, saborosa, carnuda, tenra. Esta magnífica lampreia à bordalesa que lá provei esta semana, foi antecedida de uma versão espectacular, e menos difundida, que é a lampreia de escabeche – em que o ciclóstomo aparece escabechado em finas fatias, assim como que a servir de aperitivo. O Solar dos Presuntos fica na Rua das Portas de Santo Antão 150 e tem o telefone 213 424 253.
BACK TO BASICS – Nas eleições a maior parte das pessoas vota contra alguém em vez de votar a favor de um candidato – Franklin P. Adams.
(Publicado no Jornal de Negócios de 16 de Março)
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