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Esta semana vai ser quentinha – não estou a falar das condições atmosféricas, refiro-me à situação política e social. As manifestações convocadas para o próximo sábado já não são iniciativas espontâneas, como aconteceu há uns meses. Agora há apoios de sindicatos, de associações, de partidos, existe uma grande confluência, digamos, de vontades e de espíritos. O que a anterior manifestação tinha de fator aglutinador, esta tem de fator redutor. Alguns partidos foram incapazes de resistir à tentação de meter a foice em seara alheia. Surpreendidos há uns meses pela dimensão e abrangência do protesto, aborrecidos por tudo ter acontecido à sua margem, ei-los agora a tomar conta da ocorrência. Esta não é uma boa notícia: a partidarização desta iniciativa, já inevitável no estado em que as coisas estão, vai reduzir o seu alcance, apesar de ter que se reconhecer que a construção da imagem frentista está a ser feita com arte: desde as cantilenas de protesto, aos apoios diários que se sucedem, passando pelos murais pintados em direto para a televisão ou os episódios encenados deixados no YouTube, cria-se a sensação de uma grande frente. Há menos improviso, mais coordenação – notoriamente existe uma organização. A imagem que agora está a ser construída é diferente da anterior: trata-se de uma campanha de esquerda, com símbolos tradicionais da esquerda, com recurso a métodos tradicionais das organizações de esquerda, contra um governo de direita. Deixou de ser um protesto dos descontentes, passou a ser um protesto da oposição. Esta diferença é grande. Vamos a ver no que resulta.
(Publicado no diário Metro de 26 de Fevereiro)
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