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FANATISMOS - Mais de 40 anos de regime democrático não chegaram ainda para que  a política não seja entendida como uma espécie de  campeonato de futebol em que os partidos são os clubes. Existe em relação aos partidos um fanatismo que não tem a ver com razões ideológicas, tem a ver com a noção de ter que se defender sempre a agremiação, mesmo que os erros sejam tremendos, que o ideário e a prática de hoje não tenham nada a ver com o que os seus fundadores enunciaram. Na realidade a política não é um jogo de futebol. Claro que pode ser uma paixão, mas convém que seja racional - se for tão irracional como um auto-golo não vale a pena sequer dar-lhe atenção. Quando olho para o que se passa à volta tenho a sensação que vivemos, na política portuguesa, num ponto difuso entre duas séries de televisão - os jogos, traições e manobras de “House Of Cards” e as alianças inesperadas de “Borgen”. Em honra da produção audiovisual portuguesa às vezes “Madre Paula” também dá um ar da sua graça - quando o poder seduz e paga o que for preciso para fazer o que quer e ter o seu momento de prazer. O problema é que no meio de tudo isto há pessoas que são arrastadas por manobras que não têm a ver com os seus interesses, mas com jogos de poder. Penso que é o que se passa na Autoeuropa. Depois da saída de António Chora, que era do BE, o PCP apressou-se a ocupar o terreno. Em plena negociação, na geringonça, do orçamento de estado, o PCP usou os seus sindicatos para mostrar que ainda tem poder, com o claro objectivo de evidenciar que podia impôr condições com mais eficácia que o Bloco. A incógnita disto tudo é perceber como vai Costa terminar este episódio de “Borgen”. Vai para o Convento de Odivelas fugir à realidade ou procurará uma manobra de diversão para entalar os que lhe estão próximos, como faz Frank Underwood?

 

SEMANADA - O relatório de acesso à saúde de 2016 revela que no final do ano passado havia 211 mil pessoas à espera de cirurgia e que o tempo de espera médio foi de 3,3 meses, o maior desde 2011;  O Estado e várias entidades públicas têm cerca de 4.000 imóveis por registar;  desde janeiro houve 12 340 incêndios em todo o país, mais 3600 que em 2016 e ao todo já arderam mais 72 mil hectares que no ano passado; quase 40 por cento dos incêndios que deflagraram entre 22 e 28 de Agosto começaram à noite; falta de qualidade da comida, distribuição fora de horas e escassez de alimentos são as principais acusações dirigidas pelos bombeiros à forma como têm sido tratados pela Autoridade Nacional de Protecção Civil, que é a responsável por assegurar a alimentação no teatro de operações; a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) tinha registados 2920 orgãos de comunicação no final de 2016, menos 144 que no final de 2015; há 652 jornais e revistas, 289 empresas jornalísticas; actualmente existem registados 43 serviços de rádio exclusivamente por streaming e seis de televisão online;  de acordo com os resultados do primeiro semestre de 2017 do Bareme Rádio da Marktest, um em cada seis portugueses ouviu rádio pela Internet nos primeiros seis meses do ano.

 

ARCO DA VELHA - Uma operadora de telecomunicações aplicou uma penalização de 139 euros pelo cancelamento do contrato de uma vítima mortal do incêndio de Pedrógão Grande.

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FOLHEAR - A Photo España é o maior evento fotográfico da península ibérica e promove a realização de numerosas exposições em diversas cidades num período alargado - três meses, de início Junho a final de Agosto. A Photo España é produzida por uma associação, La Fabrica, dirigida por Alberto Anaut, um jornalista que entre meados dos anos 70 e meados dos anos 90 passou por alguns dos maiores jornais e revistas espanhóis. Em 1994 fundou a associação La Fabrica que, em 1995, começou a editar a revista Matador e em 1998 criou a Photo España. Passemos à revista: é editada uma vez por ano, tem 3000 exemplares destinados aos sócios do clube Matador e outros 4000 que são distribuídos em pontos de venda seleccionados. A Matador custa 70 euros, pode ser encomendada online e é um objecto impresso absolutamente precioso - uma qualidade gráfica impressionante, grande formato (40x30, 184 páginas). Uma escolha criteriosa de colaboradores, um tema por edição. O deste ano, cuja capa se reproduz, é “O Futuro”. A revista conta ter uma vida útil de 28 edições e terminará em 2022 se tudo correr como previsto. Entre os colaboradores estão médicos, arquitectos, futuristas, ambientalistas, cientistas, fotógrafos (como Juan Fontcuberta ou Edgar Martins), gestores culturais, músicos, artistas (como Ai Weiwei) ou biólogos (como Ana Patricia Gomes). Falta dizer que o Club Matador inclui um restaurante e tem um blog (http://clubmatador.com/en/blog/). Espreitem se puderem.

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VER - Setembro está aí e já se anuncia o reinício da actividade de diversas galerias. Até lá, aqui ficam algumas sugestões. Começo pelo Centro de Arte Manuel de Brito, em Algès, onde  até 17 de Setembro podem ser vistas três exposições: “O Legado de Mário Henrique Leiria”, “Os artistas surrealistas na colecção de Manuel de Brito” com obras de, entre outros, António Dacosta, Cruzeiro Seixas, António Quadros, Cesariny e Vespeira (na imagem); e

“O Afecto”, que agrupa obras oferecidas a Manuel de Brito por nomes como  Sonia Delaunay, Arpad Szenes, Vieira da Silva ou Júlio Pomar. Para as três montras do British Bar, ao Cais de Sodré, Pedro Cabrita Reis escolheu para este novo ciclo obras de Miguel Palma, Rosa Ramalho e Pedro Gomes, que ali ficarão até final de Setembro. Na Galeria Zé dos Bois (Rua da Barroca 59, Bairro Alto), está até 23 de Setembro a exposição Cartazes Cubanos do período entre 1960-1980,. Na Galeria Pedro Cera (Rua do Patrocínio 67E) está a colectiva “Where and when”,  com trabalhos de  Ana Jotta, Daniel Gustav Cramer, Gil Heitor Cortesão, Luis Paulo Costa e Paulo Brighenti. E finalmente no Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Chiado (Rua Serpa Pinto 4), sugiro duas exposições feitas a partir do acervo da instituição: “Vanguardas e neovanguardas na arte portuguesa dos séculos XX e XXI” e “A Sedução da Modernidade”, que aborda a influência da literatura na criação artística portuguesa em meados do Século XIX.

 

 

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OUVIR - Randy Newman, 73 anos, é um compositor, produtor e intérprete norte-americano que se tornou conhecido pela sua voz e pela forma de cantar, pela ironia das suas canções e pelas numerosas bandas sonoras de filmes que compôs ao longo da vida. O seu disco de maior sucesso “Trouble In Paradise”, data de 1983 e tem uma das suas canções mais populares - “I Love L.A.”.  Nos filmes pôs a sua assinatura nas bandas sonoras de “Ragtime” e em sete produções da Disney/Pixar, entre elas a série de “Toy Story” e ainda no filme de animação “O Sapo E A Princesa”, também da Disney. Paralelamente nunca deixou de fazer canções acutilantes sobre temas actuais, com forte cariz social e político. Em 2016 divulgou uma canção sobre Donald Trump intitulada “What a Dick” que fazia comparações entre o tamanho do orgão sexual de Trump e o do próprio cantor (“My dick’s bigger than your dick”….) e anunciou que ela estaria no seu próximo disco - “Dark Matter”, agora publicado. Acabou por não a incluir e em vez da canção sobre Trump há no entanto uma outra, que data igualmente de 2016, “Putin”, que ao som de música tradicional russa, ironiza sobre o presidente Putin . “Dark Matter” é um disco povoado de reflexões - muitas delas enunciadas na faixa de abertura, “The Great Debate”, onde ao longo de oito minutos, numa mini opereta, se degladiam opiniões entre personagens que vão do fundamentalismo religioso aos que não acreditam nas transformações climáticas. Nos nove temas do disco destaca-se a capacidade de arranjos orquestrais de Newman, mas também a sua maneira de fazer canções marcantes, como, além das já citadas , em “Sonny Boy” , “Wondering Boy” e “She Chose Me”. E não posso deixar de destacar os arranjos de “Lost Without You” e sobretudo a epopeia musical que é “On The Beach”. CD Nonesuch/ Warner.

 

PROVAR -  Habituados que estamos aos supermercados por vezes esquecemo-nos do encanto dos antigos mercados tradicionais. Num destes fins de semana fui a Setúbal, ao belo edifício do Mercado do Livramento, na Avenida Luisa Todi. Logo à entrada uma placa avisa-nos que o jornal norte-americano USA Today considerou este local como um dos melhores mercados do mundo. Nesta praça o peixe é rei - ou não fosse Setúbal terra de pescadores. Os balcões de pedra cheios da colheita do mar são uma tentação: chocos, lulas, pregados, garoupas, cantaril e, claro, atum acabado de pescar, de fazer inveja aos japoneses que por ele pagam fortunas. Pedir para cortar bifes de lombo de atum, grossos, e depois braseá-los em casa é uma experiência que não tem comparação possível com o que se consegue em supermercados - fresco ou congelado. Mas os encantos não se esgotam no peixe nem no marisco. As bancadas de legumes e frescos têm molhos de rabanetes com rama, as alfaces são viçosas e fresquíssimas, com uma textura e paladar que também não se compara com o que se vende em sacos de plástico. Em pequenas bancas descobrem-se temperos, sementes comestíveis, um mundo de sabores. E, claro, há bancadas de pães e de doces, que adequadamente convivem com as de queijos e fumados. E o preço? comparando peça a peça o que se comprou, gasta-se menos no mercado que num supermercado mesmo em dia de promoções e a frescura e o sabor são outra conversa.

 

DIXIT -  “Orgulho-me de ter sido membro de uma CT que começou numa fábrica com 144 pessoas. Saí de lá com 4 mil, contrariamente a muitos sindicatos que entraram com 11 mil trabalhadores e saíram com ninguém, como na Lisnave, CUF ou Quimigal. Tenho muito orgulho no meu trabalho” - António Chora, ex coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa entre 1996 e 2016.

 

GOSTO - Vai haver uma série de selos de correio em Portugal baseados na saga “Star Wars” .

 

NÃO GOSTO - Que o Governo se ponha a recomendar o que uma editora de livros deve ou não publicar.

 

BACK TO BASICS - “ Não é boa ideia alguém ter ciência superior e moral inferior” - Arthur C. Clarke

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publicado às 14:00

DR. COSTA, E DEPOIS DO VAZIO?

por falcao, em 26.08.16

VAZIO - Este verão tem sido politicamente muito educativo. Ficámos a saber que a economia persiste em não crescer, que Catarina Martins está desgostosa com as tropelias que o PS faz na geringonça, que Costa continua optimista. Tudo indica que a rentrée política vai ser muito interessante: uma preparação do Orçamento de Estado que promete agudizar as divergências na coligação, um agudizar das tensões com Bruxelas e uma degradação geral do panorama do país. Há membros do Governo desgastados, em boa parte por culpa própria, e começa agora a ver-se que a equipa maravilha que Costa reuniu à sua volta está a meter água em vários lados. Se a geringonça fosse um barco, o melhor seria instalarem rapidamente uma bomba de água potente para evitar que se afundasse. O episódio da CGD, que, sabe-se agora, levará  a um orçamento rectificativo, ainda vai provocar mais fissuras na coligação - PCP e Bloco já disseram o que queriam, e o que querem não é o que o PS acordou em Bruxelas. O cenário está preto: olhamos à volta e não vemos criação de empregos duradouros, não se vislumbram políticas de desenvolvimento regional e nacional coerentes - em vez disso as cidades estão entregues a obras de jardinagem e embelezamento, fruto do esbanjamento em função das eleições autárquicas do próximo ano; a balança comercial está frágil, a reputação das finanças de Portugal nos mercados tem piorado e os juros que pagamos ressentem-se. como se viu na última semana. Costa encontrou um país em recuperação quando chegou a S. Bento. Vamos ver o que deixa, quando sair - no entretanto tudo indica que se prepara para provocar umas eleições antecipadas e tentar ficar a governar sozinho.

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SEMANADA - O Presidente da República veio de férias e forçou explicações do Governo sobre a Caixa; Bruxelas disse como queria a Administração da CGD, reduzindo os seus membros de 19 para 15; Bruxelas mandou que alguns dos nomes propostos pelo Governo para a CGD fossem estudar; Bruxelas aprovou uma recapitalização da CGD até 4,6 mil milhões de euros e fez incluir financiamento privado no pacote; Bruxelas quer redução do número de balcões e de funcionários da Caixa; a intenção governamental de mudar a lei bancária para encaixar as propostas do Governo, vetadas pelo BCE, foi travada por uma convergência de opiniões do Presidente da República, do PCP e do Bloco de Esquerda; Catarina Martins afirmou arrepender-se todos os dias do acordo que permitiu ao seu partido apoiar o Governo do PS, devido às limitações que cria; os filhos de um embaixador de um país árabe envolveram-se numa zaragata, um português de 15 anos foi espancado por eles, e os agressores disseram estar “humilhados e zangados” ; neste assunto o ocupante do Ministério dos Negócios Estrangeiros mostrou mais uma vez ser um mero verbo de encher; na PSP há entre 7 a 10 mil agentes desperdiçados em tarefas burocráticas; o Governo disse que não podia fazer mais no combate aos fogos; a Ministra da Administração Interna deu uma entrevista à revista Flash a explicar como as suas férias foram interrompidas pelos incêndios.

 

ARCO DA VELHA - Os encargos do Estado com as parcerias público-privadas no primeiro trimestre aumentaram 5% face a igual período de 2015 e as receitas das portagens para os cofres públicos caíram 2%.

 

 

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OUVIR - Este ano tenho feito umas férias um pouco diferentes do que é habitual e lancei-me à estrada, em Portugal e Espanha. De vez em quando ouvia as minhas listas no Spotify, mas na maior parte do tempo, em Portugal, sintonizei a Antena 1, 2 ou 3. Devo dizer que por razões profissionais sou um saltitão na escuta das rádios, mas pelo menos uma vez por semana sigo a emissão da manhã da Antena 1. Eu gosto muito de rádio, acho que é um dos media mais fascinantes e daqueles que melhor se tem conseguido adaptar às mudanças - de tal forma que tem ganho ouvintes em vez de os perder. Um estudo recente indicava que a rádio superava a imprensa em termos de confiança quanto à informação transmitida. Ao contrário do que acontece com a televisão, o horário nobre da rádio está no início da manhã, entre as sete e as dez, quando a maior parte das pessoas se deslocam para o trabalho, nomeadamente nos seus veículos particulares. Até há uns dois anos o carro era o sítio por excelência para ouvir rádio, mas, de repente, olhado-se para os números de consumo de internet, constata-se que começou a existir uma dispersão de horários - a audiência de rádios online, em streaming, já é significativa durante o período laboral. Regressando ao início do parágrafo, venho aqui dizer que gosto da Antena 1, gosto às vezes da Antena 2 e acho que a Antena 3 cumpre bem a sua função, embora não lhe ficasse mal um choque de vitaminas. O bom estado do serviço público de rádio deve-se a Rui Pêgo, que há anos o dirige. É impressionante o contraste entre a qualidade e utilidade do serviço público de rádio e a vacuidade da maioria do  serviço público de televisão - quer em termos de programas, quer em termos de informação. Bem sei que os meios necessários são diferentes, mas aqui, o que conta, é a atitude. Rui Pêgo faz serviço público. Outros, na RTP televisão, não. É isto. Deixo também um elogio ao facto de a rádio pública ter desenvolvido programas de autor sobre os mais variados temas. Estes programas de autor são, hoje em dia,  a matéria prima para a mais valiosa propriedade da rádio no mundo digital - os podcasts. E nesta matéria a rádio pública dá cartas.

 

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VER - A Condé Nast Traveller considerou este ano o Guggenheim de Bilbao, desenhado por Frank Gehry, como o mais bonito museu do Mundo. Bilbao saía de um período difícil quando se decidiu avançar para a construção do museu, que decorreu entre 1993 e 1997. O projecto ajudou claramente a mudar a imagem da cidade e voltou a colocar Bilbao no mapa. Lisboa podia ter um polo de atracção assim se o projecto de Gehry para o Parque Mayer tivesse ido em frente - infelizmente esse azar da democracia chamado Jorge Sampaio impediu-o, vetando, quando era Presidente da República, um diploma que permitiria fazer a obra. Ao fim destes anos todos o Parque Mayer continua sem solução, abandonado e sem plano coerente. Mas regressemos ao Guggenheim de Bilbao - além de ter um museu fantástico, tem um site na internet fabuloso e um conjunto de presenças nas redes sociais que permite visitar o projecto de arquitectura, a história da sua construção, o trabalho de Gehry e uma visita ao exterior e ao interior do edifício. É também possível percorrer a colecção própria do museu, fazendo uma visita virtual. Enquanto não se encontra tempo para lá ir, a visita virtual, cada vez mais acessível em numerosos museus de referência, é uma boa forma de nos informarmos, conhecermos e escolhermos aquilo que queremos ver. Era engraçado que o projecto de Gehry para o Parque Mayer estivesse também assim acessível. Pode ser que a história recente de Lisboa não se resumisse no futuro aos desvarios a que vamos assistindo.

 

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FOLHEAR - A edição de Setembro da “Monocle”, já distribuída em Portugal, é dedicada ao empreendedorismo, e sugere muitas ideias e casos para seguir. Berlim, Tel Aviv, Oslo e Auckland são cidades recomendáveis para novos negócios, segundo a revista. Kasrin Wanngard, a Mayor de Estocolmo, olha para os  resultados conseguidos pela sua cidade nos anos mais recentes e destaca a importância da educação, dos transportes públicos, de apoios familiares e de alojamento acessível como aquilo que permitiu atrair e reter talentos. Foi um esforço continuado de inovação, de promoção da diversidade, de educação em todos os níveis escolares e na criação de uma rede de infantários municipais disponíveis para todas as famílias, sejam estudantes ou já trabalhadores. Uma das prioridades da cidade é dar condições para combinar a família com a carreira e Karin sublinha que quando as cidades funcionam em termos de atracção de talentos, funcionam em termos de atracção de negócios, e está garantido que terão sólidas instituições culturais e desportivas. Outros artigos interessantes nesta edição têm a ver com as novas tendências de produção de televisão e diversos ensaios sobre as razões de sucesso de bons negócios. Portugal tem três referências - uma página de publicidade da trienal de arquitectura, um elogio às novas capacidades na industria aeronáutica que a Embraer aqui criou, e finalmente, no Guia do Empreendedorismo, o primeiro destaque vai logo para Nuno Carvalho, que explica como construíu a sua Padaria Portuguesa.

 

PROVAR - Já se sabe que o norte de Portugal é uma região onde se come bem. Mas mesmo assim, às vezes fica-se bem surpreendido. Foi o que me aconteceu na “Muralha de Caminha”. Trata-se de uma casa que é simultaneamente restaurante e alojamento local, situada em sítio privilegiado, frente à foz do rio Minho. Tem uma zona interior e uma belíssima esplanada que nestes dias merece ser vivida. À partida há três coisas a destacar - a frescura dos produtos (mariscos, peixe ou carne), a simpatia do pessoal e o saber da cozinha. No meio das voltas que dei não vi robalo de pesca local tão fresco como o que chegou à mesa da Muralha. Espreitei para  a mesa do lado, onde um cliente notoriamente habitual se deliciava com um lavagante “da nossa costa”, grelhado e flamejado em aguardente velha. Eu fiquei-me com meia dose de posta de novilho, feita com um tempero habilidoso de alho, louro e pimenta e que estava verdadeiramente delicioso. A acompanhar vinham batatinhas novas salteadas e feijão verde, mas o pedido de umas batatas fritas - feito por inveja do que via passar  - foi prontamente satisfeito. Antes de o repasto começar tinham vindo dois pastéis de bacalhau daqueles que já é raro encontrar, com mais bacalhau que batata, e dois rissóis de carne, impecáveis. A lista de vinhos é boa e tem em conta a produção local. A broa de milho era exemplar. Muralha de Caminha, Rua Barão de São Roque 69, telefone 258 728 199.


DIXIT - O facto de querer sempre concorrer com os privados, o facto de não ter uma elite com coragem para fazer diferente, tornam a RTP pouco relevante e muitas vezes irrelevante no que toca ao serviço público” - Eduardo Cintra Torres.

 

GOSTO - Da apresentação da integral das nove sinfonias de Beethoven, pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, em várias cidades, como vai acontecer em quatro dias seguidos, no Terreiro do Paço, no fim do mês de Setembro.

 

NÃO GOSTO - Da decisão sobre a permanência dos Mirós em Portugal. Como Jorge Calado escrevia na Revista do Expresso: “Em vez de ficar com dois ou três razoáveis e vender o resto para comprar obras para as colecções existentes, vai-se criar o pior museu Miró do mundo para mostrar o rebotalho de uns restos de colecção. “

 

BACK TO BASICS - “Depois de saber tudo, estará sempre tudo por saber” - Alexandre O’Neill

 

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publicado às 14:09

ESTADO - Há três verbos que definem a acção do Governo nestes primeiros seis meses de vida: revogar, demitir e nomear. Os três andam juntos e justificam-se uns aos outros em nome da alteração das políticas. Raramente um Governo terá feito de forma tão sistemática, em tão pouco tempo, tantas  alterações de dirigentes de organismos públicos, interrompendo mandatos e substituindo anteriores responsáveis, independentemente do seu desempenho, por outros novos nomeados com o exclusivo critério da confiança política. Para usar uma expressão introduzida pelo Primeiro Ministro, parece que as vacas voadoras tomaram o freio nos dentes e se transformaram em drones, que voam sobre o Estado português, ocupando posições estratégicas na economia, na saúde, na segurança social, em todo o lado onde surja um pretexto para encaixar alguém sintonizado. As vacas voadoras deixaram de ser figura de retórica e são quem assumidamente reboca a geringonça. Aquilo a que assistimos é à tomada do aparelho de Estado por um partido, sem olhar a meios nem a competências. Aos poucos o Estado perde credibilidade e a célebre frase de Guterres, “no jobs for the boys” parece mais uma vez uma anedota de péssimo gosto. Há quem diga, elogiando, que António Costa reintroduziu a política na acção do Estado; creio que o que fez foi reintroduzir a politiquice e o aparelhismo, as duas degenerações senis da partidocracia.

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SEMANADA - A greve dos Estivadores no Porto de Lisboa causa prejuízos superiores a 100 mil euros por dia; os sete operadores do Porto de Lisboa estão em situação de pré-falência; a actividade económica do Porto de Lisboa em 2015 foi metade da registada em 2012; o Governo pretende que as empresas cotadas em bolsa que, em 2018, não atinjam uma quota de 20% de mulheres nas administrações, tenham a cotação suspensa; um padre que dirigia uma instituição integrada na Casa do Gaiato foi acusado pelo Ministério Público de maltratar crianças e idosos; o subsídio de desemprego só chega a menos de 22% dos trabalhadores independentes; as exportações portuguesas tiveram o pior arranque do ano desde 2009; o investimento estrangeiro feito através dos vistos gold aumentou 45% até Abril deste ano; a Madeira aumentou os incentivos fiscais para atrair mais vistos gold; Cavaco Silva interrompeu o seu silêncio para dizer que “a política económica é demasiado importante para ser deixada aos políticos; o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou o desejo de que as eleições “autárquicas não venham interromper a governação”; o Estado está a cobrar mais 1,6 milhões de euros por dia em impostos sobre combustiveis e já arrecadou este ano mais de mil milhões de euros graças a eles; as obras da segunda circular, em Lisboa, vão começar em Junho, ainda com as obras do eixo central a decorrer e sem prazo de finalização apurado; as turmas do ensino profissional não entraram no cálculo da lotação das escolas públicas quando o Estado decidiu cortar o financiamento aos privados.


ARCO DA VELHA - Kátia Aveiro vai cantar na final da Liga dos Campeões, em Milão, neste sábado - e depois ainda há quem ande à procura das causas do mau tempo...

 

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FOLHEAR - A edição de Junho da revista Monocle é dedicada ao mar, opção que atinge as várias secções. Talvez por isso a revista publica uma nota sobre Marcelo Rebelo de Sousa e o desenho que acompanha o texto de Joana Stichini Vilela sobre o novo Presidente da República, mostra um Marcelo de fato de banho e polo, com leves mocassins, como se fosse a caminho dos seus bem amados mergulhos no mar. É uma boa maneira de a Monocle assinalar o resultado das presidenciais portuguesas. Outras referências a Portugal surgem nesta edição. Mário Ferreira, da DouroAzul, fala das suas actividades de cruzeiros ao longo do rio e dos seus planos de expansão para o Brasil, com cruzeiros no Amazonas. É mostrado o exemplo da manutenção da construção artesanal de barcos num estaleiro, no Tejo, que usa técnicas tradicionais, fundado pela família Ferreira da Costa, e que hoje é dirigido por Jaime Costa, bem perto de Lisboa, e que continua a fazer lindíssimos barcos. Na área de sugestões a Monocle recomenda o turismo rural da Casa Agostos, em Santa Bárbara de Nexe, no Algarve, uma obra do atelier de arquitectura Pedro Domingos. Finalmente o portfolio de fotografias no fim da edição é dedicado a São Tomé e Principe e infelizmente não foi feito por quem melhor fotografou esse arquipélago nos últimos anos, Inês Gonsalves, que lá vive. Em vez disso a Monocle publica uns postais ilustrados sem grande graça - aqui está uma oportunidade perdida.

 

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VER - No espaço da Fundação Carmona e Costa, na Rua Soeiro Pereira Gomes nº1, ao Rego, está patente até 9 de Julho uma mostra de obras em papel, de Pedro Calapez, feitas entre 2012 e 2016. Arriscaria dizer que são precisamente as obras mais recentes, já deste ano, concentradas numa única sala, que mostram uma alteração do modelo de trabalho de Calapez, abrindo novo horizontes de uma forma quase inesperada e surpreendente. Numa das outras salas está a instalação, aqui na imagem, que funciona como se um caderno de esboços ganhasse subitamente vida em quatro paredes. Outra exposição a ver reúne obras de Rui Sanches, Mitsuo Miura, e também Pedro Calapez, sob a designação comum de Backstories, na Fundação Arpaz Szenes - Vieira da Silva até 25 de Setembro. Aqui o mais marcante é o trabalho de Rui Sanches, na sala inicial, sobretudo os seus jogos de ilusão sobre o quotidiano. Dando um salto para fora do país, a portuguesa Cristina Ataíde volta a expor no Brasil, desta feita em Curitiba, na Galeria Ybakatu, até 30 de Junho, sob o título “Na Palma da Mão”, que agrupa desenhos e esculturas em alumínio ainda inéditas em Portugal; a seguir estará em São Paulo. Finalmente, para quem gostar de festejos numa certa aura de polémica entre críticos, artistas e galeristas, este é o fim de semana da primeira extensão da feira de arte Arco, de Madrid, a Lisboa. Está na Cordoaria até domingo dia 29 e 44 galerias de vários países, predominantemente Espanha e Portugal, mostram obras de cerca de uma centena de artistas, com bilhetes entre 15 e 25 euros.

 

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OUVIR - Há alguma coisa de Bill Withers na forma como Gregory Porter canta. Depois do sucesso obtido com “Liquid Spirit”, que ganhou um Grammy, Porter regressou agora a um registo mais pessoal e intimista, numa produção discreta mas assente em temas sólidos, desde logo “Holding On”, que abre o novo álbum “Take Me To The Alley”. Porter tem uma voz e um estilo de interpretação tão marcantes que às vezes é preciso distanciarmo-nos para que possamos entender como ele evolui de disco para disco, sem perder a força natural que caracteriza a sua voz e que é a sua marca muito pessoal. Neste álbum Gregory Porter apresenta quase exclusivamente composições suas, canções que contam histórias da sua vida, do seu filho, da sua mãe, da família. Há aqui quase um regresso à tradição dos espirituais, o que faz com que este álbum pareça  musicalmente menos variado e mais conservador do que “Liquid Spirit”. Na realidade, neste seu quarto disco, “Take Me To The Alley”,  Gregory Porter optou por traçar o seu próprio caminho, com base nas suas histórias de vida, arriscando musicalmente, com maior influência do gospel e menos utilização das sonoridades da  pop que lhe trouxeram a fama no disco anterior. Mas isso é também fruto de uma opção de produção rigorosa, com arranjos mais discretos, que fazem passar para primeiro plano o conteúdo das histórias pessoais presentes nas canções. CD Blue Note, Universal

 

PROVAR -  A carne de javali não é das mais fáceis de cozinhar. Se mal preparada fica rija, seca e sensaborona. Se bem tratada, ganha fulgor. É o que acontece na Casa Nepalesa, um restaurante surpreendente das Avenidas Novas onde o javali com espargos verdes em molho de caril é uma belíssima descoberta. A mão amiga que lá me fez regressar tem também razão ao elogiar a qualidade da confecção do arroz basmati: a Casa Nepalesa utiliza exclusivamente a célebre marca Tilda, dos Himalaias, e assim consegue de facto um arroz de invulgar qualidade. A decoração evoca a origem dos fundadores do restaurante, o serviço é atencioso e irrepreensível. A garrafeira é de extensão moderada, com preços honestos e selecção cuidada. Há uma multidão de entradas tentadoras, propostas de peixe e vegetarianas, várias possibilidades com gambas de moçambique e com frango, para além dos pratos mais tradicionais de borrego e cabrito, tudo com a intensidade do picante a poder ser ajustada à preferência de cada um, Mas foi de facto a surpresa da combinação do javali com os espargos verdes e o caril que me conquistou. Para rematar provou-se um gelado de manga com pistácio, que se recomenda. Avenida Elias Garcia 172 A, (quase a chegar à Fundação Gulbenkian), telefone 217 979 797. É melhor marcar que a casa não é muito grande.

DIXIT - “A Câmara Municipal de Lisboa manifesta (...) um completo desrespeito por quem vive e trabalha na cidade e revela uma incompetência que não é admissível em quem gere uma capital europeia” - do comunicado do Automóvel Club de Portugal sobre as obras que que estão a piorar a circulação em Lisboa.

GOSTO - O Parque Eduardo VII ganha nova vida este fim de semana com o regresso da Feira do Livro, até 13 de Junho.

NÃO GOSTO - O défice orçamental quase duplicou no mês de Abril.

BACK TO BASICS - Só duas coisas são infinitas - o Universo e a estupidez humana - Albert Eisntein

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publicado às 12:30

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POESIAS - Estava eu a ouvir Mário Centeno no debate parlamentar desta semana e lembrei-me de um poema de Bertolt Brecht, que começa assim: “Todo os dias os ministros dizem ao povo/Como é difícil governar. Sem os ministros/O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima”. É a segunda vez, em poucos dias, que Brecht me vem à memória. A primeira foi depois desse momento sublime dos conselhos de António Costa, quando recomendou que não se andasse de automóvel, que não se fumasse, estabelecendo regras de bom comportamento. Pensei nessa altura que, por este andar, qualquer dia vai estar a dizer-nos outras coisas que podemos ou não fazer. Ou dizer. E vai daí lembrei-me deste poema, também de Brecht:

“Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro

 

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

 

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável

 

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho o meu emprego

Também não me importei

 

Agora vierem buscar-me

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo”.

 

SEMANADA - Os automobilistas portugueses vão pagar mais 580 milhões de euros este ano; um Renault Mégane é proporcionalmente mais penalizado na nova fiscalidade automóvel que um Lamborghini e os veículos híbridos e eléctricos ficam a perder no novo OE; os técnicos da Unidade Técnica de Apoio Orçamental do Parlamento alertaram para a “elevada incerteza” das estimativas na proposta de Orçamento; Mário Centeno considerou, numa entrevista, que “quem tem 2000 euros de rendimento tem uma posição privilegiada”; metade da consolidação orçamental vem do lado da receita, a despesa continua impune; as gorduras do Estado aumentam 8,6%, ou seja 912 milhões de euros, e batem novo recorde; há 20 mil casos de propinas em atraso em quatro universidades, sendo que a de Coimbra lidera a lista; enquanto estava na oposição António Costa passava a vida a acusar o Governo de ser obediente em relação a Angela Merkel, mas a verdade é que, como Primeiro-Ministro, Costa conseguiu arranjar pretexto para ir ouvir Merkel antes de fechar o processo do Orçamento de Estado; apesar de todas as medidas da CML, tomadas ainda no tempo de Costa, o trânsito na Avenida da Liberdade aumentou 30% em apenas um ano, ao contrário das previsões anunciadas; extrapolamos a eficácia das suas previsões lisboetas para a matéria orçamental?; no último ano duplicou o número de pedidos de asilo político em Portugal, sobretudo de cidadãos da Ucrânia, Mali, China e Paquistão; os turistas chineses gastam em média 600 euros em compras quando visitam Portugal; 65% dos médicos trabalham no Serviço Nacional de Saúde; nenhum hospital público do Norte tem médicos especialistas à noite; em quatro anos saíram do país mil médicos; mais de meio milhão de portugueses não sabe ler; antes de sair de Belém, Cavaco vai condecorar Vitor Gaspar - que mal frequentadas andam as condecorações nacionais.

 

ARCO DA VELHA - Um estudo da OCDE aponta que Portugal é o quarto pior país para se trabalhar, apenas ultrapassado pela Turquia, Espanha e Grécia.

 

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FOLHEAR - “A Ilha do Tesouro” - Há muito tempo que não pegava neste livro. Literalmente, há décadas. E, no entanto, foi um dos meus livros do início da juventude - via-o como o supra sumo dos livros de aventuras. Foi a época em que devorava histórias de piratas umas atrás das outras e que nem sonhava que um dia Indiana Jones havia de tomar conta da minha imaginação. Razão tinha Robert Louis Stevenson, o autor de “A Ilha do Tesouro” quando disse que “a ficção é para o homem adulto o que o brinquedo representa para a criança”. Folheio esta nova edição e vou-me recordando de tudo o que vivi, sonhando a ler este livro -desde os mistérios da arca do marinheiro aos enigmas do mapa do tesouro, e até aos feitos do insuperável Capitão Silver. “A Ilha do Tesouro” foi o primeiro romance de Robert Louis Stevenson e foi o livro que mais fama lhe trouxe. Fiquei fascinado ao redescobri-lo na nova edição da Guerra&Paz, com belíssima tradução de Rui Santana Brito. Na nota de contra-capa o editor diz, com razão, que “esta é a mais popular história de piratas de todos os tempos”. Se Stevenson fosse nosso contemporâneo não lhe havia de faltar matéria prima para falar sobre piratas, olhando para o que se tem passado em Portugal.

 

Andrei Rublev (1966)

VER - Hoje não falo de exposições. Venho apenas recomendar um ciclo de cinema, dedicado à obra do cineasta Andrei Tarkovsky, amaldiçoado por Brejnev e pelo regime soviético, e o maior realizador russo depois de Sergei M. Eisenstein. Este ciclo começa exactamente pelo filme “Andrei Rublev”, que foi a causa da irritação de Brejnev, que manteve o filme proibido de ser exibido na então União Soviética até 1971, acusando-o de mostrar uma visão deturpada da História. O ciclo começou ontem, quinta-feira, no Nimas, em Lisboa, e tem também programação no Porto a partir de dia 12, no cinema Campo Alegre. Além de “Andrei Rublev” (cartaz original na imagem) o ciclo, que se estende até ao início de Março, inclui a longa metragem de estreia “O Pequeno Ivan” (que ganhou um Leão de Ouro em Veneza), “Solaris” (de 1972), “Stalker” (de 1979), “O Espelho” (de 1975), “Nostalgia” (de 1983) e o derradeiro “O Sacrifício” (de 1986). A programação pode ser encontrada no site da Medeia Filmes(http://medeiafilmes.com/eventos/ver/evento/ciclo-cinema-russo-andrei-tarkovsky-espaco-nimas/) e inclui também a curta-metragem “O Rolo Compressor E O Violino”, que foi o trabalho de fim de curso do cineasta e que é exibido nos mesmos dias que “O pequeno Ivan”.

 

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OUVIR - O pianista norueguès Tord Gustavsen é responsável por um dos melhores discos dos últimos anos, “The Well”, de 2012. Interpretado com o seu quarteto, “The Well” teve uma sequência lógica em “Extended Circle”, editado dois anos depois. Entretanto Gustavsen sentiu necessidade de sair do caminho que tão bem tinha trilhado nesses dois discos e regressou à ideia de um álbum onde músicas e palavras se completassem, como já tinha feito no início da sua carreira. Com uma extraordinária cantora, meio alemã, meio afegã,  Simin Tander, fez um CD de canções simples, maioritariamente com temas tradicionais e de raízes religiosas. Aqui estão textos da tradição popular norueguesa, versões inglesas de escritos do século XIII do poeta e místico persa Rumi, mas também o célebre”I Refuse” de Kenneth Rexroth, um poeta da Beat generation. Além de Tord Gustavsen no piano, teclados e baixo sintetizado, e da voz de Simin Tander, o baterista Jaris Vespestad completa a formação que fez este ”What Was Said”, o CD gravado em meados de 2015 e editado em Janeiro deste ano pela ECM. Na Amazon.

 

PROVAR -  Como os meus leitores hão-de já ter reparado ando um pouco enfastiado com os chefs portugueses. Diria mesmo que vai sendo altura de substituir a adoração aos chefs pelo elogio aos restaurateurs - os criadores de restaurantes, os que pensam no seu conceito, na sua arquitetura, no tipo de serviço que querem prestar, na clientela que querem conquistar, em quem se vai ocupar da cozinha e na comida que pretendem servir, bem entendido - ou seja, pensam nos clientes antes de pensarem na sua própria glória. Um restaurador - para usar o termo português (que se presta a alguma confusão) é aquilo a que no linguajar contemporâneo se poderia chamar um curador de comensais. Às vezes são eles próprios chefs, mas não se põem em bicos de pés. Já houve tempo em que havia alguns restauradores dignos de nota, agora a coisa é mais escassa na nova cultura ditada pela moda dos balcões dos mercados virados tascas modernaças - que sinceramente é um conceito que me irrita. Mas voltemos aos restauradores. Há em Lisboa um que merece destaque - é nepalês, veio para Portugal no final dos anos 90 e conseguiu criar ambientes especiais. Chama-se Tanka Sapkota, dedica-se à comida italiana que estudou com afinco e não hesita em fazer  experiências. É conhecido pela qualidade das suas pizzas napolitanas, mas não hesita em misturar massas tradicionais com, por exemplo, perceves ao lado de camarões da costa. E faz isso com tanto à vontade como é dos raros a servir trufa branca na estação e a incluir generosas lâminas de trufa negra nas suas pizzas. Depos de várias casas alheias, a começar pela antiga Trattoria, o Come Prima foi a sua primeira grande experiência e agora tem também o Forno d’Oro, onde dantes era o Mezzaluna. Mas é o Come Prima que merece mais atenção pelos pormenores da decoração, pelo espaço, pelo ambiente e pela qualidade da confecção. O próprio Tanka Sapkota está nas salas dos seus restaurantes, fala com os clientes, permanece atento, como um bom restaurador deve fazer. O Come Prima fica na Rua do Olival 256,  e tem o telefone 213 902 457.

 

DIXIT - “Estou convencido de que queriam evitar que eu apresentasse a minha candidatura à Presidência” - José Sócrates, explicando a sua detenção em entrevista a um jornal holandês.

 

GOSTO - As exportações portuguesas cresceram 33% nos últimos cinco anos.

 

NÃO GOSTO - Um terço dos parlamentares portugueses concilia a sua actividade enquanto deputados com actividades na advocacia ou na consultoria, o que potencia conflitos de interesse - denuncia um relatório do Conselho da Europa.


BACK TO BASICS - É muito perigoso querer ter razão quando o Governo está errado - Voltaire

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publicado às 14:00

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ENCALHADOS - O PS tem uma tradição matemática  simples: primeiro gasta-se, depois logo se vê. Foi assim com o agora louvaminhado Guterres, foi assim até ao extremo com Sócrates e está a ser assim com Costa, independentemente da reconhecida capacidade de vendedor de tapetes voadores que tem demonstrado. Como temos visto em anos recentes a receita do PS é criar condições para o Estado aumentar a dívida - e os contribuintes é que a pagam sempre. Como se tem visto nos últimos dias, o PS gosta da Europa que lhe dá dinheiro, mas não gosta mesmo nada da que lhe estabelece regras quanto aos gastos e ainda menos da que cobra dívidas. O PS, em geral, acha as dívidas uma falsa questão; já o Bloco prefere esquecê-las e o PC ignorá-las. A coligação tem um ponto comum nisto: venha o dinheiro, não me falem em obrigações. Este é o lema do cimento ideológico que sustenta Costa. Na realidade estes meses de governação vêm mais uma vez provar que a utopia esbarra na realidade - mais uma vez as promessas ficam no saco dos votos perdidos e os impostos voltam a cair maioritariamente na classe média. Permito-me recordar que os anos de austeridade do anterior Governo se traduziram numa queda do défice público de 11,2 por cento do PIB registado em 2010, para 3 por cento do PIB em 2015 . Já agora para os que dizem que a dívida do Estado foi feita nos anos da troika e não antes, recordo que no período de austeridade a subida foi de apenas 11 por cento do PIB, enquanto entre 2005 e 2011, no consulado do PS com Sócrates, foi de 58 por cento do PIB. E assim, de gasto em gasto, lá vamos continuando encalhados. Coisas…

 

SEMANADA - Depois de ter dito que não mexia no Orçamento por imposição de Bruxelas, o Governo começou a fazer ajustamentos; atirou-se aos consumos ligados aos hábitos individuais - nos impostos sobre combustíveis e sobre automóveis, que já são dos maiores em toda a Europa; a ideia de que o Governo não iria aumentar impostos está a revelar-se uma partida de Carnaval; Bruxelas queria um corte adicional de 500 milhões no Orçamento; O Ministro do Planeamento e Infra-estruturas anunciou que o Governo quer investir 450 milhões em novas obras públicas; no meio da discussão orçamental Costa vai oportunamente a Berlim falar com Angela Merkel e a sua agenda diz que o tema da conversa será a crise dos refugiados; Passos Coelho vai recandidatar-se à liderança do Partido Social Democrata e a sua grande definição ideológica e estratégica é, depois de anos a defender o neo-liberalismo, afirmar-se com o slogan “Social Democracia Sempre; o desemprego em Portugal é o quarto maior da zona Euro; o regresso das 35 horas semanais vai provocar um aumento de custos nas áreas onde se trabalha por turnos; em 2015 a GNR registou 2300 crimes graves feitos através da internet; Cavaco Silva condecorou com a Grã Cruz da Ordem da Liberdade António Guterres, o Primeiro Ministro que se pôs ao fresco quando a situação se começou a complicar em Portugal; na mesma ocasião Cavaco Silva recomendou Guterres para secretário-geral da ONU e Guterres mostrou-se desiludido com a Europa; depois de anos a queixarem-se que o IVA era o pai de todos os males na restauração, a Associação do sector apresentou um estudo por si patrocinado onde afirma que a descida do IVA não resolve os problemas da restauração.

 

ARCO DA VELHA - Um tribunal de Coimbra condenou um homem de 71 anos a dois anos e três meses de pena suspensa por abusar sexualmente  de um neto, que tinha quatro anos à altura do crime, e uma juíza de Lisboa mandou deter um cidadão por ter inadvertidamente faltado a um depoimento sobre um assalto à sua própria casa. Que avaliação podem estes dois juízes ter?

 

As Direitas na Democracia Portuguesa

 

FOLHEAR - Os dias que correm são particularmente adequados para se ler um livro recente intitulado “As Direitas Na Democracia Portuguesa”. A edição foi coordenada por Riccardo Marchi, um investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e inclui onze estudos que abordam a evolução da direita nos últimos 40 anos. Gostaria de destacar o trabalho de António Araújo sobre os intinerários socioculturais da direita portuguesa, o trabalho de Ana Sofia Ferreira sobre a evolução das ideologias políticas do PSD e do CDS-PP, o excelente”As Direitas, o Estado e as Igrejas” de Luis Salgado de Matos, o trabalho do próprio Marchi” “À Direita da Direita: O Desafio da Extrema Direita à Democracia Portuguesa”, a contribuição de Manuel Monteiro, um ex-líder do CDS-PP sobre a organização que dirigiu e, sobretudo  o trabalho de Andrè Freire e Sofia Serra Silva sobre “A Opinião Pública de Direita, antes e depois da crise de 2008”. Recomendo que o próximo candidato a líder da oposição a Costa leia bem este capitulo. A edição é da Texto, grupo Leya.

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VER - Sugiro um programa para o fim de semana: uma visita à Ilustrarte, a VII Bienal Internacional de Ilustração para a Infância que até 17 de Abril vai estar no Museu da Electricidade. Esta edição da Ilustrarte atribuíu o primeiro prémio à espanhola Violeta Lópiz, que ilustrou o livro “Amigos do Peito” do brasileiro Cláudio Thebas (na imagem). No Museu da Electricidade estão mais de 150 ilustrações, feitas por meia centena de artistas, seleccionados de entre 1700 inscritos, de mais de sete dezenas de países. Portugal está representado por trabalhos de Teresa Lima, Catarina Sobral, Joana Estrela e Daniel Moreira. Edições anteriores da Ilustrarte registaram entre 25 a 30 mil visitantes. O artista convidado desta exposição é o francês Serge Bloch, um dos mais destacados ilustradores contemporâneos. Finalmente esta edição inclui uma exposição dedicada à obra de Alice Vieira, , uma das mais importantes escritoras portuguesas para a infância e juventude. O preço da entrada é 2 euros e reverte para a campanha Unicef- Crianças Sírias.

 

OUVIR - Há cerca de 30 anos que Ennio Morricone não compunha temas para uma banda sonora de um western. Actualmente com 87 anos, Morricone pode gabar-se de ter sido, desde os tempos em que compunha para os western-spaghetti de Sergio Leone, uma das influências maiores de vários grupos de rock. O facto é cabalmente demonstrado aqui pelo clássico dos White Stripes, um original de 2000,  “Apple Blossom”, que encaixa que nem uma luva no meio dos temas orquestrais de Morricone para Hateful Eight . Só mesmo Quentin Tarantino, na sua versão de DJ sem barreiras,  se podia lembrar de juntar a banda de Jack White ao génio de Morricone. Vale a pena sublinhar que por aqui também passa Roy Orbinson no magnífico ”There Wont’t Be Many Coming Home”, vários momentos de diálogo do filme, e uma canção popular australiana, muito bem interpretada, como Jennifer Jason Leigh a canta na película. Produtor assumido desta banda sonora, Tarantino, que nunca tinha feito uma banda sonora integral para nenhum dos seus filmes, aproveitou a deixa que em tempos Morricone lhe deixou, ao dizer que já não encarava trabalhar com ele. Pois aqui está - e mesmo sabendo que alguns dos temas são reaproveitamentos nunca antes usados de composições feitas para um filme de John Carpenter (“The Thing”), o génio de Morricone domina. Aqui está. Estreado esta semana em Portugal sob o título escasso “Os Oito Odiados” , vale a pena ter o disco para saborear as memórias do filme quando se chega a casa. CD Decca/Universal.

 

PROVAR -  Há restaurantes que investem mais em comunicação e em relações públicas que na simpatia do atendimento. Gostam de criar a ideia que estão na moda, ter filas, recusam reservas e têm empregados a dizer com ar arrogante “no mínimo vai ter uma espera de 45 minutos”. Cada vez gosto menos de restaurantes da moda, de chefs que se copiam uns aos outros sem ter em conta um tema básico, que é bem servir o cliente. Às vezes leio que num restaurante o espectáculo é tão importante como a comida. Nada é tão importante como o bom atendimento, o conforto e a qualidade do que se apresenta à mesa. Por isso estas linhas de hoje são dedicadas a restaurantes que não estão em locais da moda, que têm comida bem confeccionada a partir de boa matéria prima, que são hospitaleiros e praticam preços honestos. É quanto basta. Sexta feira passada em boa hora constatei que um dos locais da moda, no Principe Real, de origem italiana, enxotava quem não quisesse ficar numa longa fila e dirigi-mo-nos ao velho Comida de Santo onde fomos bem recebidos, estivemos muito confortáveis e comemos uma belíssima feijoada à brasileira, baseada na tradição e sem modernices, acompanhado de um vinho da casa, do Dão, muito equilibrado. No domingo, a seguir, aproveitando o bom tempo, quis ir perto do mar e recordei-me que em tempos era fiel cliente do Carula, em Paço de Arcos. A casa continua a receber bem - o dia era de sedutor cozido, mas ficámo-nos no robalo, que estava óptimo, acompanhado por umas couves saborosas. Foi antecedido por uma pasta de sapateira e gambas igualmente muito boa. Resumo: a Comida de Santo e o Carula são dois locais onde tenho ido menos do que devia - porque são restaurantes que sabem que a amabilidade da tradição é bem melhor que a arrogância do sucesso. Comida de Santo , Calçada Engenheiro Miguel Pais 39 (à Rua da Escola Politécnica, em Lisboa), telefone 213 963 339; Carula, Rua Costa Pinto 41, Paço de Arcos (é a mesma rua do Hotel Paço dos Arcos-Vila Galé, à Marginal) telefone 214 432 206.

 

DIXIT - A nossa doméstica esquerda pós-moderna confunde a bruta e fera realidade, onde se joga o destino pessoal e coletivo de 10 milhões de portugueses, com um teste à sua boa consciência. Nem a tragédia do esmagamento da Grécia do Syriza lhe parece ter ensinado a perceber a desagradável diferença entre virtude e razão de Estado” - Viriato Soromenho Marques

 

GOSTO - O diário britânico The Guardian considerou o Hot Clube um dos dez grandes locais para ouvir jazz na Europa.

 

NÃO GOSTO - Numa sondagem realizada pela Win Gallup International Portugal está entre os 13 países menos felizes, com 5% a considerar-se muito feliz, 45% feliz, 39% nem feliz nem infeliz, 9% infeliz e 1% muito infeliz.

 

BACK TO BASICS - A finança é a arte de passar dinheiro de mão para mão até que finalmente desapareça - Robert W. Sarnoff

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publicado às 13:45

DESAFIO  A ANTÓNIO COSTA  - Já que não vejo razão para votar em Reboredo Seara, assumo desde já que estou disposto a votar António Costa se ele vier dar uma volta de moto comigo e uns amigos meus (pode vir escoltado pela Polícia Municipal desde que de moto), num trajecto urbano não superior a 25 kms, onde se vejam e sintam os perigos e incomodidades que os motociclistas sofrem em Lisboa, e se ele fizer um compromisso escrito de reparação de dez situações graves no espaço de um ano; reafirmo que voto Costa se, a José Sá Fernandes, fôr retirado o pelouro dos espaços públicos da cidade; voto António Costa se a EMEL admitir que cada cidadão residente e contribuinte em Lisboa pode ter direito a duas zonas de estacionamento não contínguas, com definição pelo próprio de qual a principal e qual a secundária, que poderá ter um pagamento anual equivalente ao valor actual de uma segunda viatura na mesma morada; voto António Costa se a EMEL garantir um tempo de resposta ao desbloqueamento não superior a 15 minutos após contacto telefónico, sob pena de não cobrança de custos de desbloqueamento nem de multa - o equivalente à tolerância que a empresa dá. A mim parecem-me propostas razoáveis. O desafio é público, espero a resposta do candidato, que não deixarei de divulgar se -  e - quando surgir.

 

VERÃO QUENTE - Citando o que João Gonçalves escreveu no Facebook, “o apodrecimento do regime não tira férias”, constato que este ano voltámos aos verões quentes da política. Olho para o Ministério das Finanças e vejo uma sucessão de bonecas matrioshkas, daquelas que se encaixam umas nas outras, mas que têm “swaps” escrito na testa. A Ministra, que não é isenta de ocorrências em matéria de swaps, tem juntado à sua volta, com notável falta de bom senso, um clã de swapistas. Nunca hei-de perceber o que leva alguém a escolher para o Governo um cidadão, por mais honesto e boa pessoa que se assuma, que na sua vida, por um só momento que seja,  tenha sido parte de uma venda de  aldrabices aos contribuintes - e não me parece que o caso possa ser analisado por quem esteve envolvido na operação. O Ministério das Finanças continua a precisar de uma limpeza - e não será o Ministério Público, essa instituição de carácter humanitário que arquiva os processos todos, citando uma feliz expressão que também li no facebook, que poderá resolver o assunto. A questão de fundo é esta: Joaquim Pais Jorge será certamente um excelente profissional na área da banca e uma boa pessoa. Acontece que, certamente por razões profissionais, esteve, mesmo que indirectamente, ligado a uma operação que visava iludir os contribuintes portugueses - no montante do défice e em custos financeiros, a proveito da instituição para  a qual trabalhava. Na posição que ocupava, era difícil não saber, e avalizar, os detalhes da operação. Mesmo que não tenha sido ele a escrever, tinha que saber o que foi escrito. Dou de barato que até pode não ter estado presente nalguns momentos. Mas, a menos que não cumprisse as suas funções, não pode negar conhecimento e co-responsabilidade nas propostas apresentadas. E é de responsabilidade que estamos a falar. Ao demitir-se demonstrou que tem carácter e, nos tempos que correm, reconheço que  lhe sobra aquilo que a outros falta.

 

SEMANADA - As pensões do Estado acima dos 600 euros sofrem um corte de 10% a partir de 2014; a medida vai abranger 500 mil reformados; no entanto, juízes e diplomatas jubilados são considerados caso excepcional e escapam a este corte das pensões;  Portugal é o quarto país mais envelhecido da União Europeia; o Governo anunciou querer aumentar a idade da reforma para 66 anos já em 2014; o Presidente da República tem o estatuto de reformado, assim como a Presidente da Assembleia da República é reformada, e também os presidentes de três bancos privados, que por acaso são reformados da Caixa Geral de Depósitos; os presos VIP da cadeia da Carregueira fizeram acções de protesto contra a greve dos guardas prisionais; em Amarante um casal em que ambos eram candidatos por listas diferentes entrou em divergência política e separou-se - rompeu-se a coligação que os unia; nos ultimos

três anos foram detectadas em casas particulares cinco jibóias e seis cobras pitão e foram apreendidos a particulares seis tigres, dois leões e um hipopótamo.

 

ARCO DA VELHA -O Presidente da Liga de Clubes de Futebol Profissional, Mário Figueredo, foi acusado de, num acesso de fúria, ter atirado um telemóvel a um funcionário da FNAC do Norte Shopping, provocando-lhe um hematoma.

 

VER - Nesta semana em que se tornou patente que existe uma ruptura sobre o sistema de financiamento da nova Lei do Cinema, é  particularmente interessante ver “A Gaiola Dourada”, de Ruben Alves, um filme sobre portugueses, maioritariamente filmado em França, maioritariamente com financiamento francês. Hesito em dizer que se trata de uma comédia, porque aborda assuntos sérios - um olhar cáustico sobre Portugal, particularmente actual com o aumento que a nova emigração tem tido. Mas também certeiro porque mostra a nossa complacência e brandos costumes e revela a imagem que projectamos além fronteiras. Eu gostei do filme, tecnicamente escorreito, com boas interpretações - sobretudo de Rita Blanco e de Joaquim de Almeida - dois actores que não receiam sê-lo em vez de parecer, como infelizmemte se tornou prática, por ignorância ou arrogância. E, gostei da realização e da montagem. Se mais filmes assim existissem, com princípio, meio e fim e uma ideia bem comunicada, menos guerra existiria para que o financiamento do cinema português se concretizasse. Grave mesmo, é impôr cobrança sem definir para que serve o dinheiro cobrado - sobretudo garantindo um princípio básico: o primado do produtor e a adequação da obra ao meio que a financia.

 

OUVIR- Pega-se no disco e saltam nomes à vista: George Duke, Stanley Clarke, Kurt Elling, Dave Grusin, Marcus Miller, Chick Corea e Nathan East são apenas alguns dos mais de 20 músicos envolvidos nestas “Rhythm Sessions”, que se desenvolvem à volta de Lee Ritenour, um dos grandes nomes da guitarra eléctrica no jazz. Todo o disco é um exercício de virtuosismo dos diversos instrumentistas, qualquer deles pronto a figurar na lista dos melhores músicos que compreendem - e executam - a música contemporânea. Permito-me destacar uma das faixas cantadas, “River Man”, um original de Nick Drake, aqui numa extraordinária interpretação de Kurt Elling. Se por mais não fosse, este tema valia para guardar este disco na memória. (CD Concorde, na Amazon).

 

FOLHEAR - A revista NAU XXI passa para papel a conversa abundante sobre a vocação marítima que volta e meia assola o país. Oriunda de um destino atlântico, açoreana, consegue concretizar essa atracção pelo mar - nos conteúdos, bem servidos por um grafismo envolvente e a um ritmo de paginação que, infelizmente, hoje em dia é uma raridade. Gosto deste desafios, de revistas que nascem contra o tempo e a contra a lógica das coisas, que desafiam as ideias feitas e surgem como propostas inesperadas. Este número 2 da NAU XXI tem o peixe português como tema e muito que ler - e bastante por descobrir. Gosto disto, que mais vos posso dizer?

 

PROVAR - Nas noites em que escrevo esta coluna gosto de petiscar alguma coisa simples, em casa. Quis o acaso que esta semana me defrontasse num supermercado com esta belíssima caixa de conservas, filetes de chaputa em escabeche. Desde o tempo em que havia uns magníficos anúncios radiofónicos do peixe congelado, que apregoavam as qualidade da chaputa, que o raio do peixe me persegue. Assim, quando vi uma embalagem de chaputas em escabeche à mão de semear, não hesitei. A confecção vem das conservas La Gondola, que aqui assinam Luças, de Matosinhos, anunciando no grafismo irresistível que desde 1920 dão o seu melhor no preparo do peixe. Este escabeche é leve e deixa solto o bom sabor da chaputa. Acompanhei com uma salada e regalei-me com um branco D. Ermelinda bem fresquinho. Rematei com um pêssego, da região de Palmela. Fiquei satisfeito, vim escrever.

 

DIXIT - “Tubo de ensaio é pouco, fomos um esgoto de ensaio” - Helena Sacadura Cabral sobre a intervenção da troika em Portugal.

 

GOSTO - As listas apartidárias às autárquicas cresceram 35% em relação a 2009

NÃO GOSTO - As mulheres representam apenas 10% do total de candidatos a cargos dirigentes em autarquias.

 

BACK TO BASICS - Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo- provérbio popular

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publicado às 15:39

PORTUGAL - Duas décadas de desvario vão custar-nos outro tanto tempo para recuperarmos de tudo aquilo em que nos deixámos enredar - seja a Europa, seja a inconsciência local. As PPP’s, de que tanto se fala, são um bom exemplo de fazer vista com dinheiro alheio, de comprar jóias a crédito que irão ter pouco uso. Hoje, já percebemos que é assim: endividámo-nos por soberba. Deixámo-nos, todos, cair na tentação. As PPP’s são o melhor retrato de um país que, mais do que de negócios, gosta de negociatas. Se olharmos bem para a nossa História vemos muitos negociantes, comerciantes espertos, vendedores de especiarias,  de volfrâmio, ou do gás natural que o Ministro do Canadá diz que vai extrair no Algarve. No fundo andamos todos à espera que saia um euromilhões ao país. Poucos são os empresários portugueses que preferem criar, inovar, desenvolver e fabricar, a comprar e a vender. O comércio está-nos na alma e é isso que lá vamos fazendo. O pior é quando vendemos o país ao desbarato ou quando vendemos ilusões uns aos outros. É o que tem acontecido, com a benção de Bruxelas e as negociatas à sombra dos partidos instalados. No Correio da Manhã, Paulo Pinto de Mascarenhas escreveu que PPP’s quer dizer “Portugueses Pagam Políticos”. Tudo indica que tem razão.


SEMANADA - A derrapagem nas PPP do sector rodoviário pode chegar aos nove mil milhões de euros; o Estado já assumiu mil milhões de euros em perdas com “swaps”; há mais de 12 milhões de indivíduos, no mundo inteiro, com um património superior a um milhão de dolares; segundo a Caritas, o risco de pobreza afecta 23,5% da população portuguesa; Silva Peneda, Presidente do Conselho Económico e Social, considerou, numa comissão parlamentar, que o cenário macroeconómico do orçamento rectificativo, já aprovado, é irrealista e sublinhou que o programa de ajustamento tem corrido mal; em 2012 mais de 120.000 portugueses abandonaram o país em busca de trabalho na emigração, mais 20% que no ano anterior; o poder de compra dos portugueses está 25% abaixo da média europeia; a emissão de Bilhetes de Tesouro registada esta semana foi emitida com juros mais altos que em Maio do ano passado; em termos de receitas, a Liga portuguesa de futebol está ao nível da Liga da Ucrânia; António Costa vai deixar de ter Helena Roseta como vereadora e passou-a para a Assembleia Municipal de Lisboa; António Costa designou o deputado do PS Fernando Medina como seu sucessor na Câmara Municipal; António Costa nomeou Mega Ferreira para a direcção da Orquestra Metropolitana de Lisboa; António Costa criou um novo cargo, Provedora do animal, e atribuíu-o à ex-deputada do PS Marta Rebelo;  por este andar qualquer dia António Costa pode anunciar que há um provedor das bicicletas; Cavaco Silva decidiu não desistir do processo contra Miguel Sousa Tavares por causa das analogias entre o Presidente e uma actividade circense.


ARCO DA VELHA - Na mesma semana em que Paulo Portas apresentou a sua moção de estratégia ao Congresso do PP, na qual defende a baixa do IRS ainda na actual legislatura, e em que vários digirientes do PP confessaram “profunda incomodidade” com os resultados do Governo, o Ministro Poiares Maduro considerou que a coligação do Governo “é muito coesa” e Passos Coelho afirmou não ter um calendário para a descida do IRS.

VER - Estava cheio de curiosidade em ver a nova Photographer’s Gallery, em Londres, no Soho, perto de Oxford Circus, que abriu, renovada, este ano. Data originalmente do início dos anos 70 e é,  como se diria aqui, uma iniciativa da sociedade civil, aliás de uma pessoa, Sue Davies - com apoios de diversas entidades, umas públicas, outras, mais numerosas, privadas, desde empresas de consultoria a empresas industriais. É uma daquelas coisas que não existe, por enquanto, em Portugal. Há galerias e espaços disto e daquilo, de umas marcas e de outras, mas não há muitos espaços de iniciativa privada que consigam reunir apoios institucionais diversos - e do próprio público que contribui - para se desenvolverem. Gostei muito da nova galeria, do seu espaço, de iniciativas como a “What Do You See?”, onde se pede para cada visitante que queira expressar o que sentiu a olhar para a única fotografia que está exposta naquela sala. De todas as exposições, e eram várias, a que mais me intertessou foi a de Chris Killip - “What Happened - Great Britain 1970-1990”, em que o autor retrata como era a vida em comunidades que estavam a passar pela desintegração da velha sociedade industrial.  Mas, lá como aqui, a fotografia é território de polémica, entre os que olham para a realidade e os que preferem a fantasia ou a manipulação da técnica. De qualquer forma, a verdade é que os vários lados desta história estão nesta galeria. (Ramillies Street 16-18)


 

FOLHEAR - Em boa companhia, estive uma hora na fila, uma hora a fazer horas para entrar, e um bocadinho mais de duas horas a visitar a exposição. Não me arrependo de um único segundo gasto nesse dia. Já antes, para prevenir o excesso de peso na bagagem de regresso, tinha encomendado, e recebido, o catálogo da exposição. Estou a falar de “David Bowie Is Here”, que até Agosto está no Victoria & Albert, cada vez mais um dos museus incontornáveis do Reino Unido. De maneira que quando voei para Londres, com Bowie na mira, já o tinha bem folheado em casa, e levava na cabeça a frase na dupla página do começo: “I opened doors that would have blocked their way, I braved their cause to guide, for little pay”. O catálogo tem um nome diferente da exposição, um pequeno jogo de palavras: "David Bowie is Inside" - são cerca de 300 páginas, editadas pelos curadores da exposição, e que, tanto quanto possível num livro, fazem justiça à exuberância visual e tecnológica que nos permite percorrer a carreira de Bowie, as suas manias, as suas obsessões, as suas paixões. No fim, um quase concerto, em surround, um momento de transição, antes de voltar à rua. A tecnologia, nesta exposição, é admirável e permite uma experiência única. Mas este livro, que se pode encomendar pela Amazon por 24 libras, permite-nos ter uma ideia de tudo o que se mostra no Victoria & Albert. E a mim vai-me servir de memória de um dia de descoberta.


OUVIR- Na vida de qualquer grupo rock e pop decente o primeiro disco deve ser bom, o segundo um desafio e, o terceiro, a redenção. “Modern Vampires Of The City”, o novo e terceiro álbum dos Vampire Weekend, encaixa-se que nem uma luva nesta descrição. Aqui está uma bela colecção de temas, alguns com arranjos e vocalizações inesperadas, a romper com os discos anteriores. Há boas canções, uns toques de ironia nas letras, poderia quase falar em rebeldia, mas mais não digo - desde que sei que o ex-Ministro da Defesa e da propaganda socrática, Santos Silva, está a investigar, numa Universidade onde pontifica, o movimento punk em Portugal, o qual considera pouco proletário, ando a pensar em desistir de escrever sobre música. Já me chegam as PPP nas estradas, escuso de me aborrecer mais com assuntos destes. Não é? Mudando de conversa, e para não enjoar, não perdem nada em ouvir este disco. Tem mesmo cantigas atrevidas.


PROVAR - Aviso já que hoje falo para carnívoros - vegetarianos e fanáticos de aquários podem abster-se. O assunto aqui é carne, de várias origens e com vários corte e temperos. O Talho é uma aventura de Kiko Martins e, se de um lado serve carne crua para levar para casa e cozinhar, do outro é um agradável e bem decorado restaurante, com uma espaço confortável (uma acústica perfeita), e boas surpresas na confecção de vários géneros de carne. Há um menu de almoço mais económico, há sempre uma proposta de hamburguer do mês - por estes dias é o hamburguer manjerico, com manjericão e parmesão. Num belo jantar o rosbife asiático marcou pontos, assim como a vitela maronesa. E o serviço também merece destaque. (Rua Carlos Testa 18, frente ao El Corte Ingles, é a rua que sai do Largo de S. Sebastião da Pedreira). Telefone 213 154 105.


DIXIT - “Quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão”, Bartoon, sobre a greve dos professores


GOSTO- Da inovação de uma rolha de cortiça de enroscar desenvolvida em Portugal pela Amorim.


NÃO GOSTO - Do surto de nomeações camarárias de António Costa.

BACK TO BASICS - Não sou obrigado a acreditar que o mesmo Deus que nos terá dado a razão e o intelecto se esqueceu de nos ensinar a utilizá-los - Galieleo Galilei

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publicado às 16:11

BICICLETAS NOS PASSEIOS

por falcao, em 18.06.13

Até há pouco tempo eu julgava que os passeios eram para peões e as faixas de rodagem para veículos. Lembro-me que, quando estudei o código da estrada, as bicicletas era consideradas veículos e não deviam andar em cima dos passeios. Pois constato que hoje isso é letra morta. Há poucos dias ía sendo atropelado por duas bicicletas que seguiam numa zona estreita de passeio, com andaimes, na Rua Castilho, ao fim da tarde. Não é a primeira vez que em passeios para peões, e fora das ciclovias, me cruzo com ciclistas que circulam com a convicção que os passeios são seus e que os peões se devem desviar.

 

Também não consigo compreender porque é que os ciclistas, em Lisboa, muitas vezes decidem não acatar a sinalização dos semáforos e passam os vermelhos, de preferência contornando-os pelas passadeiras para peões. Outra coisa que me faz espécie é que os ciclistas andem lado a lado na faixa de rodagem, condicionando todo o trânsito. Tudo isto são contravenções ao código da estrada – mas em nome do espírito politicamente correcto que se instalou para quem anda de bicicleta, o código da estrada pelos vistos deixou de ser aplicado. Esta é uma originalidade portuguesa. Lá fora não vejo isto – e vejo muito mais bicicletas a circular nas cidades do que aqui.

 

Os ciclistas andam nas faixas de rodagem ou nas suas zonas demarcadas, param nos sinais vermelhos e não andam por cima de passeios nem em passagens de peões. Não percebo porque é que em Portugal existe isto – e já imagino que os fanáticos das bicicletas se indisponham com o que aqui escrevi – mas na verdade não me agrada nada ir no passeio - e andar na rua a pé é uma coisa de que gosto - e ter que me desviar por causa de um ciclista.

 

O Dr. António Costa achará que isto é forma de tratar os peões lisboetas ou continua a fechar os olhos aos devotos do vereador Fernandes?

 

(publicado na edição do diário Metro de dia 18 de Junho)

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publicado às 10:29

MUDE - O Museu do Design e da Moda, MUDE, tem tido uma actividade assinalável, fruto da equipa dirigida por Bárbara Coutinho, que soube bem exponenciar o núcleo inicial da Colecção Capelo, assegurado ainda antes de António Costa ser Presidente da Câmara. A António Costa coube a instalação do MUDE no antigo edifício sede do Banco Nacional Ultramarino, na Rua Augusta - o edifício estava em péssimas condições e foi assumidamente usado “em bruto” pelo MUDE, com intervenções mínimas, fruto de um acordo entre a Câmara e a CGD, que detinha o imóvel. Por estes dias António Costa anunciou ir investir dez milhões de euros na reabilitação do edifício, num projeto que irá ampliar a área do Museu para os oito pisos do edifício, num total de 15 mil metros quadrados. Eu percebo que António Costa queira desenvolver o que começou, em plena baixa da cidade. Mas não deixo de sentir alguma estranheza por não se ter aproveitado esta oportunidade - e este investimento - para resolver a questão do Pavilhão de Portugal - questão que ainda fica mais saliente agora que passam 15 anos sobre a realização da EXPO. Faz pena que o edifício de Siza Vieira, concebido para ser um local de acolhimento de exposições, com características ideais para isso, e com infra estruturas de armazenamento de obras de arte, esteja praticamente abandonado e a degradar-se. A questão que se põe é a de ter abertura de espírito suficiente para equacionar fazer reviver o edifício com uma colecção e actividade como a do MUDE, fomentando as ligações à indústria e à universidade, e enriquecendo o pólo oriental da cidade. Os dez milhões para recuperar o edifício do BNU não poderiam ser melhor utilizados para dar uma utilidade consentânea com o projecto inicial do pavilhão de Portugal? Nunca é tarde para mudar de rumo. Bem sei que o problema central da não utilização do pavilhão de Portugal é saber quem assume o custo do edifício - mas será que um problema de engenharia financeira do Estado vai condenar à degradação e inutilidade aquele espaço?


SEMANADA - O Conselho de Estado, convocado para debater o futuro, esteve sete horas reunido e produziu um comunicado que é uma lista de tarefas para o presente; o pós-troika no pós-Conselho de Estado resume-se a análises sobre timing de remodelação no Governo, saída de Vitor Gaspar para Comissário Europeu e prazo para a ruptura da coligação; o conteúdo da reunião do Conselho de Estado foi tornado público nos jornais no espaço de 24 horas, e contribuíu, muito mais do que o vago comunicado oficial, para se perceber o que foi discutido; o banco central alemão deu orientações sobre o Banco Central Europeu e sobre a política do Governo francês; entre a chegada da troika e a sua partida prevista,  o desemprego deverá ter aumentado 60,9%, o PIB deverá encolher 5,8%, o investimento cairá 28,3% e o consumo privado cairá 6,7% - mas em compensação a dívida pública terá aumentado 24% e os juros da dívida terão um aujmento de 47,7%; Portugal está no top 5 europeu na compra de BMW, Mercedes e Audi; o ministro alemão das Finanças encontrou-se com Vitor Gaspar e teceu-lhe rasgados elogios; o Ministro Miguel Poiares Maduro encomendou um estudo sobre a melhoria das formas de comunicação do Governo e exortou “a comunidade política a contribuir para um discurso público mais construtivo e informado”.


ARCO DA VELHA - O Estoril teve 45 pontos na Liga e gastou três milhões de euros nesta época, enquanto o Sporting ficou atrás, com 42 pontos, e gastou 68 milhões - feitas as contas cada ponto custou ao Estoril 67 mil euros e cada ponto custou ao Sporting 1,6 milhões, o mais elevado custo por ponto de todos os clubes da I Liga.



VER - António Sena da Silva foi um homem visual - o prazer do olhar era o seu modo de vida e isso reflectiu-se, do design à fotografia. No Torreão Nascente da Cordoaria, estão cerca de duas centenas de imagens numa exposição criada por Sérgio Mah, intitulada “Uma Antologia Fotográfica”, que estará patente até 4 de Agosto. Tenho a tentação de dizer que Sena da Silva foi aquilo a que os americanos chamam “street photographer” - até porque, como a exposição mostra, ele dedicou-se a retratar a evolução de Lisboa entre os anos 50 e os anos 70. Aqui está o quotidiano da cidade, das pessoas que a habitam e, quase sempre, do rio que nessa altura era uma presença não vista, nem vivida. A exposição ocupa completamente os dois pisos da Cordoaria e mostra várias fases do trabalho de Sena da Silva - formatos de negativo diferentes, máquinas diversas, um uso impoluto do preto e branco e um uso discreto e contido da côr. O rigor do enquadramento é uma constante, quer fotografe paisagens urbanas, ou o campo, ou máquinas, ou fábricas ou objectos. Esta é uma exposição que nos ajuda a reter a memória do tempo - e o trabalho de Sérgio Mah é um exemplo de respeito pela obra, um exemplo do prazer de dar a descobrir o encanto da imagem fotográfica.


OUVIR- Até aqui “The Heart Of The Matter” era uma novela discreta de Graham Greene, escrita no final da década de 40. Agora é também um disco de Jane Monheit em que a sua versão da fusão de duas canções dos Beatles, “The Long And Winding Road” e “Golden Slumbers”, se torna fatalmente um ponto de atracção. Mas é em “Born To Be Blue” de Mel Tormé ,ou “When She Loved Me” de Randy Newman, que ela verdadeiramente mostra a sua versatilidade e capacidade de interpretação - que se faz ainda notar em dois temas de Ivan Lins, “Depende de Nós” e “A Gente Merece Ser Feliz”. Em “The Two Lonely People”, de Bill Evans, Monheit mostra como não receia mostrar a voz quase sem presença instrumental, uma voz às vezes tímida, outra à beira de um lamento. Os arranjos, no entanto, são parte importante deste álbum, assinados pelo teclista Gil Goldstein, que com o baterista Rick Montalbano e o guitarrista Romero Lubambo, asseguram um suporte musical digno de destaque. (CD Emarcy/Universal).


FOLHEAR - O jornal “Próximo Futuro” é uma das mais interessantes publicações de instituições culturais. É um jornal que a Gulbenkian edita para acompanhar o seu programa “Próximo Futuro”, coordenado por António Pinto Ribeiro. São 40 páginas, distribuídas na Fundação e disponíveis em versão electrónica em www.proximofuturo.gulbenkian.pt . A edição agora em distribuição, a nº 13,  anuncia o novo ciclo de programação de Junho e Julho e tem na capa uma obra impressionante do artista sul-africano Conrad Botes. Lá dentro um belo texto de António Pinto Ribeiro com o provocador título : “Lamento dizer-vos mas somos todos africanos”, citando a frase de abertura da intervenção de Desmond Tutu na Gulbenkian, no ano passado. A nova programação tem em destaque uma festa da Literatura e do Pensamento do Sul da África, a exposição dos Encontros de fotografia de Bamako, um ciclo de cinema com uma dúzia de filmes e bailes na garagem com, por exemplo, o DJ Rui Miguel Abreu. Além disso estão previstos concertos com música da Tanzânia e uma espectáculo de dança baseado na marrabenta, entre muitas outras iniciativas, todas elas bem anunciadas neste jornal que tem um delicio espírito “fanzine” em technicolor.


PROVAR - A ementa de um bom restaurante deve ser uma obra em permanente transformação. No De Castro Elias é isso que acontece e agora há algumas novidades: começo por umas chamuças de massa filo, umas com queijo da beira e mel, outras com alheira e espinafres. Para fazer crescer água na boca há umas tostadas de cavala fumada com legumes salteados e uma açorda de cogumelos e enchidos. Nos pratos mais substanciais sugiro um entrecosto assado com arroz de forno ou uma perna de pato com canela e azeitona. Seguindo a recomendação da casa os petiscos foram acompanhados por um muito honesto vinho  Santos Lima, o “Confidencial” Reserva, a bom preço. E claro que há sempre os clássicos da casa - moelas picantes e feijão manteiga com ameijoas.  O De Castro Elias fica na Elias Garcia 180, e tem o telefone 217 979 214. Vale a pena reservar.


DIXIT - “Perante as sucessivas medidas da troika, que não dão resultado, eu, no mínimo, gritava” - Manuela Ferreira Leite


GOSTO - Do início da edição portuguesa da revista “Granta” - o tema “Eu” foi o escolhido para o primeiro número, que inclui textos de vários autores e um porfolio fotográfico de Daniel Blaufuks. A direcção é de Carlos Vaz Marques.

NÃO GOSTO - De uma  luta anti-austeridade conduzida por quem andou a promover gastos bem acima das possibilidades do país.

BACK TO BASICS - O riso é a mais antiga e mais terrível forma de crítica - Eça de Queiroz.

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publicado às 15:16

UMA CIDADE AO DEUS DARÁ

por falcao, em 19.06.12

Lisboa está suja, o lixo transborda. Lisboa cheira mal. A cidade é cada vez mais mal governada. Quem se senta nas cadeiras da Câmara Municipal tem uma agenda própria de ambição política que não passa por servir a cidade. O estado em que tudo está mostra isso mesmo.


 


O que se tem passado na concessão dos espaços públicos é outro sinal da má forma como a cidade é gerida. A feira ao ar livre que o Continente montou no Terreiro do Paço, é um bom exemplo do desprezo pelos munícipes. Bem pode o vereador Sá Fernandes argumentar com a possibilidade da experiência de ver o campo no meio da cidade, que não consegue apagar as outras consequências da coisa.


 


A ocupação comercial do Terreiro do Paço por uma campanha de marketing de uma cadeia de hipermercados poderá ser ótima para o marketing da empresa em causa, mas dificultou a vida a quem quer circular à beira rio. Os habitantes da cidade, quem aqui vive e paga impostos, são sucessivamente submetidos a condicionamentos de trânsito que causam incómodos e condicionam os seus fins de semana.


 


O comércio das zonas envolvidas nestas operações, sobretudo o que é afetado pelos condicionamentos de transito, sai prejudicado – agravando os problemas que já existem na conjuntura económica em que vivemos. No conforto dos munícipes e na proteção do comércio e restauração  local e tradicional não pensam os responsáveis camarários.


 


Resta o balanço das capacidade de mobilização do fim de semana: a CGTP juntou menos gente que Tony Carreira. O novo líder da central sindical tem uma grande falta de jeito na escolha dos dias das suas ações – arranja sempre um termo de comparação em que sai mal da fotografia.


 


(Publicado no diário Metro de 19 de Junho)

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publicado às 12:03


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