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(esta imagem é um pormenor da obra "Interdito" da artista plástica Marilá Dardot)

 

AGORA? - Não tenho a certeza se a avaria política detectada no Domingo passado se resolve com uma simples reparação de motor, recauchutagem de pneu ou mudança de mecânico e condutor. O que aconteceu nestas autárquicas foi o sinal da crise que percorre o sistema político e partidário desenhado em 1974, entretanto desactualizado mas nunca adequadamente ajustado. A avaria maior foi detectada no lado direito do espectro partidário, com o PSD, mas teve também sinais fortes do lado esquerdo, com o PCP. A minha convicção é que este foi o sinal de um problema estrutural irreversível se se mantiver o quadro actual. Soluções antigas dificilmente resolvem problemas novos - como apresentar propostas diferentes de acordo com as questões contemporâneas, de adequar o discurso às novas formas de comunicação, conseguir atrair os eleitores mais jovens. Duvido que formas de organização antigas possam ajudar a solucionar o problema. Se quer sobreviver e ser relevante o PSD necessita urgentemente de criar um novo enquadramento, de analisar como se distanciou do eleitorado, qual a razão que o leva a ser  incapaz de mobilizar vontades, cativar independentes e criar propostas fora dos aparelhos partidários. Precisa sobretudo de uma clara definição ideológica e de um posicionamento político que seja mobilizador. Veja-se o que aconteceu em Lisboa: Assunção Cristas conseguiu falar para fora do seu partido, o PSD ficou a falar para dentro (na realidade nem para dentro conseguiu falar) e deixou muitos dos seus eleitores tradicionais fugir. O PSD tem o desafio de voltar a conseguir inserir-se na sociedade, a quem virou costas nos últimos anos. Importa mais saber o que se diz para fora de forma coerente e consistente do que entrar no jogo das habilidades tácticas conjunturais e exercícios de conspirações palacianas. O CDS deu um exemplo de mudança. Será o PSD capaz de fazer o mesmo?

 

SEMANADA - Em Lisboa  Fernando Medina perdeu 3 vereadores e a maioria absoluta; no Porto Rui Moreira obteve maioria absoluta; o PCP perdeu dez câmaras, entre as quais Almada, Barreiro e Beja; a análise dos fluxos de eleitores mostra que os votos das câmaras perdidas pela CDU foram para o PS; a CDU (PCP e PEV) ficou pela primeira vez abaixo do meio milhão de votos em todo o território; nestas autárquicas houve 17 movimentos independentes que ganharam câmaras, contra 13 em 2013; Tino de Rans obteve 6,22% de votos em Penafiel; em 2013 o PAN teve 16 mil votos, Domingo passado chegou praticamente aos 56 mil; 47 câmaras mudaram de côr nestas autárquicas - 16 passaram do PSD para o PS, 12 passaram do PS para o PSD, 9 passaram da CDU para o PS e 2 passaram do PSD para independentes; o PSD, sozinho ou em coligação, nunca tinha obtido tão poucas presidências de câmara desde o início das autárquicas, em 1976; o PS ficou com 159 câmaras, o PSD vai liderar 98; há mais de 40 anos que o PSD não tinha tão poucos votos; Passos Coelho anunciou que não se recandidatará à liderança do PSD; segundo a Marktest, a freguesia de Lamosa (concelho de Sernancelhe, distrito de Viseu) foi a mais participativa neste acto eleitoral pois 90.15% dos 203 inscritos apresentaram-se nas urnas; pelo contrário, a freguesia de Parada do Monte e Cubalhão foi a que registou maior abstenção, tendo votado apenas 29.89% dos 977 inscritos nesta freguesia.

 

ARCO DA VELHA - O candidato do PCTP/MRPP à Câmara da Moita, Leonel Coelho, prometia uma ruptura com o passado apesar de ter 82 anos - teve 667 votos, mais sete do que há quatro anos.

 

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FOLHEAR - A colecção Livros Amarelos, da editora Guerra & Paz, permite fazer uma leitura paralela de textos de dois autores que por alguma razão têm uma ligação entre si. O novo volume reúne, sob a orientação de Jerónimo Pizarro, a “Saudação a Walt Whitman” de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa e o “Canto A Mim Mesmo” de Walt Whitman. Pizarro escreveu para esta edição curtas biografias de Fernando Pessoa e de Walt Whitman e ainda um ensaio, “Negação e Saudação”, que permite perceber o porquê de juntar os dois textos. Nele Jerónimo Pizarro recorda que o crítico literário norte-americano Harold Bloom escreveu que Fernando Pessoa foi considerado o maior herdeiro português de Whitman e é sugerido que o heterónimo Álvaro de Campos pode ter nascido desse fascínio que Pessoa tinha pela poesia de Walt Whitman e que ”toda a sua produção de 1914-e 1916, e não só, torna-se mais compreensível se a aproximarmos de Whitman”. Os dois poemas que esta edição reúne reforçam a comunhão poética entre os dois autores, e, como Jerónimo Pizarro diz, “vem precisamente convidar-nos a uma leitura dupla, permitindo neste caso revisitar Whitman para reler Pessoa”.

 

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VER - Prossegue o ciclo “British Bar”, uma ideia de Pedro Cabrita Reis que encontra nas três montras do estabelecimento do Cais de Sodré o seu ponto de exposição - peças de artistas plásticos que encaixam nas dimensões das três estreitas montras verticais, obras escolhidas pelo próprio Cabrita Reis - que está sempre presente no animado fim de tarde de apresentação de cada um destes projectos, que depois durante um mês ali estão expostos. Desde esta segunda-feira ali estão peças de Maria José Oliveira (“Macaco Miguel”, na imagem) e dois trabalhos de artistas mais novos - uma peça sem título de João Ferro Martins na montra da esquerda e outra da Fernão Cruz, “Apologizing studio#1”, na montra da direita. Trago mais duas sugestões e ambas partilham de uma mesma nota prévia: apresentadas em galerias privadas, são obras de inegável valor que parecem destinadas apenas a serem compradas por instituições, que as possam albergar nos seus acervos e esporadicamente mostrar. Começo pelo trabalho de Ana Jotta, que está na galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18). Intitulado “fala-só”, trata-se de um trabalho de grandes dimensões, em que o suporte é um rolo de tela que ao ser desenrolado vai mostrando movimentos de figuras humanas traçadas em esboço, que podem ser lidos como  momentos da evolução da espécie, evocando quase um storyboard cinematográfico através do desenho afirmativo e forte de Ana Jotta. A outra exposição, que manifestamente só vive de todas as peças e ambientes em conjunto, é da brasileira Marilá Dardot, está na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80) e é uma instalação que evoca a censura sobre a criação literária, a partir de uma lista de 900 livros censurados, proibidos ou apreendidos entre 1933 e 1974 em que uma representação tridimensional do objecto livro convive com a justificação dos censores para as suas proibições.

 

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OUVIR - O trio clássico de jazz - contrabaixo. bateria e piano - é uma das minhas formações preferidas. Para a coisa funcionar é preciso que os intervenientes sejam grandes músicos e, sobretudo, que consigam dialogar entre si e conjugar as suas experiências e vivências musicais. Depois de 30 anos a tocar com Keith Jarrett, com quem gravou duas dezenas de discos no Standards Trio (que incluía o baterista Jack DeJohnette), Gary Peacock decidiu em 2014 criar o seu próprio trio e escolheu o pianista Marc Copland e o baterista Joey Baron. O seu primeiro disco, dessa altura, foi “Now This” e agora saíu novo álbum, “Tangents”. Gary Peacock, agora com 82 anos, tem uma carreira de mais de seis décadas e nos anos 60 tocou com nomes da vanguarda dessa época, como Albert Ayler e Paul Bley. Depois dos anos com Jarrett, Gary Peacock retoma nesta sua nova formação as influências das diversas fases da sua carreira e sente-se que as suas experiências com Ayler deixaram marca que perdurou ao longo de todos estes anos. O novo disco, “Tangents”, tem onze temas: cinco deles são do próprio Gary Peacock, dois de  Baron, um de Copland, um outro uma improvisação assinada pelos três músicos e duas versões, ambas fantásticas - “Spartacus” de Alex North e “Blue In Greens” de Miles Davis e Bill Evans. O tema improvisado, “Open Forest”, é um dos momentos altos do disco, assim como a faixa título, “Tangents”, “December Greenwings”, a envolvente faixa de abertura “Contact” ou a energia que passa em “Tempei Tempo”. Este CD é um perfeito exemplo de um trabalho em que os músicos deixam espaço uns para os outros, com longos solos, permitindo que os temas se desenvolvam de forma natural - a experiência de todos os envolvidos subtilmente deixa a música ir para onde ela quer. CD "Tangents", Gary Peacock Trio, edição ECM, na FNAC.

 

PROVAR -  Há já muito tempo que João Portugal Ramos se dedicou a vinhos fora do Alentejo que lhe deu fama. Primeiro, em 2004, chegou à região do Tejo, com o Quinta do Vimioso, depois, em 2007, foi o Douro, com o Duorom e uma parceria com José Maria Soares Franco; no entretanto tinha começado a trabalhar as vinhas da Quinta da Foz do Arouce, na Lousã; e, mais recentemente, entrou no mundo dos vinhos verdes, da região de Monção e Melgaço. É nestes vinhos verdes que me vou focar. O primeiro Alvarinho acompanhado por João Portugal Ramos foi de 2012 e no ano seguinte saíu um Loureiro. Agora, a sua equipa, que inclui a enóloga Antonina Barbosa, apresentou duas novas propostas. A primeira é um Alvarinho Espumante Reserva Bruto Natural, de 2014, o primeiro espumante da sub-região apresentado como um Bruto Natural. Tem bolha fina e persistente e um longo final, marcado pela mineralidade do Alvarinho. A outra novidade é o Alvarinho Reserva 2015 que mantém a mineralidade, pontuado por um toque de madeira e notas frutadas, com um longo final - um vinho branco surpreendente. Aproveitem estes dias quentes, convidativos para um fim de tarde na companhia de qualquer destes vinhos.

 

DIXIT - “Não gostei da vitória esmagadora de Fernando Medina. Os lisboetas, como eu, sabem que não merecia. “Alindar” a cidade não é o que se pede ao Presidente da CML – e sentindo que todos os dias mais lisboetas são literalmente expulsos da cidade para os subúrbios, e que a cidade vive um caos que resulta das (erradas) prioridades da Câmara, esperava uma vitória ligeira, que lhe reconhecesse algum talento mas o obrigasse a ouvir quem vive na capital.” - Pedro Rolo Duarte

 

GOSTO - O MAAT teve mais de meio milhão de visitantes no primeiro ano de existência, que se completou esta semana.

 

NÃO GOSTO - A dívida pública ultrapassou os 250 mil milhões de euros.

 

BACK TO BASICS - “Um fanático é alguém que não muda de opinião, nem muda de assunto” - Winston Churchill.

 




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publicado às 13:00

O MUNDO ESTÁ CONFUSO

por falcao, em 23.07.13

O discurso do Presidente da República do passado Domingo baseou-se em traduzir o discurso anterior que, nas singelas palavras de alguns observadores, lançou o caos na situação política. Do que percebi, o Presidente acha que fala claro, que não faz confusões nem complica, e sublinhou que, se não o percebem, a culpa não é dele, que, por acaso, só tem boas ideias e as melhores intenções. Clinicamente, como se classifica quem confunde a realidade com os seus desejos?

 

A coisa não está fácil para Portugal. A revista “The Economist”, na sua mais recente edição, escreve que “o Presidente Aníbal Cavaco Silva interveio de forma inepta para pedir aos dois partidos da coligação e aos socialistas de centro-esquerda, para forjarem um pacto de salvação nacional”.  Para que não surgissem dúvidas fui ao dicionário ver o que queria dizer “inepto”. Aí está: “Que significa ou demonstra ausência de inteligência: argumento inepto - sem coerência; que não possui ou faz sentido; confuso.” Fiquei esclarecido, afinal a dificuldade de compreensão não é só minha.


Aquilo que vejo é que andámos duas semanas a perder tempo, numa tentativa de acordo que, como era expectável, trouxe os históricos do PS à ribalta, dando~lhes palco e a possibilidade de transmitirem instruções claras, ao mesmo tempo que se  evidenciou que António José Seguro tem, no interior e no exterior do seu partido, o carisma de um caracol.


Se há coisa que saíu desta crise é que António Costa está agora mais próximo de ser o futuro líder do Partido Socialista. Quem, nas autárquicas, vota em Lisboa pode ir contando que Costa muito provavelmente não cumprirá o próximo mandato camarário -  portanto quem nele votar irá desperdiçar o voto porque não o irá ver por muito tempo na Praça do Município.


(Publicado no diário Metro de 23 de Julho)

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publicado às 15:29

SMS - Para a lenda há-de ficar esta história: na nossa crise destes dias, no meio das negociações entre os partidos, oscilando entre sedes partidárias, houve quem enviasse, via sms, a jornalistas, sinais do agudizar das divergências. Só me espanto de no twitter não surgirem relatos - já espero de tudo, vindo de todos. Estas negociações são em boa parte uma encenação apressada de uma dramaturgia estranha escrita em Belém e que deixou o fim em aberto - será mesmo um “happy end” aquilo que o Presidente, lá longe, nas Ilhas Selvagens, pretende? De qualquer maneira na quarta feira é certo que começaram os discursos preparatórios para não haver acordo algum de governação. Não me espanto muito, a única coisa que me surpreende é que à quarta a mesa continue em amena cavaqueira depois de se saber que, na quinta,  um dos presentes vai votar, numa moção de censura, contra os outros dois. O mundo está estranho, o país ainda mais e neste momento só me ocorre dizer, como um divertido comentador desportivo sublinhou há uns anos: prognósticos só no fim do jogo. Uma coisa tenho por certa: uma geração de eleitores vai olhar para isto com desprezo e pensar que quando um país está entregue, nos seus mais altos cargos, a reformados, alguma coisa vai mal. O resultado está à vista. O regime está a precisar de ume reforma, que comece por tirar os reformados do leme.

 

SEMANADA - O Presidente da República abriu a porta a uma próxima campanha eleitoral, a começar agora, e a terminar daqui a um ano;  o PS aceitou sentar-se à mesa de negociações com o PSD e CDS; o PS anunciou que vai votar uma moção de censura ao Governo; José Junqueiro, vice-presidente da bancada parlamentar do PS,  vê “com muita dificuldade” um acordo com PSD e CDS; PS manifestou abertura a reunir com o PCP e com o BE, que não quiseram reunir com o PSD e CDS; Mário Soares avisou que um acordo do PS com os dois partidos da coligação só aconteceria “se o PS fosse dirigido por alguém que não tivesse senso”; no final da reunião com o BE, o PS emitiu um comunicado no qual afirma que este Governo “tem os dias contados” ; Álvaro Santos Pereira está em visita oficial a Angola; Cavaco Silva foi em deslocação oficial às Ilhas Selvagens; o PS sublinhou que as negociações não envolvem nenhum representante do Governo, apesar da presença de vários secretários de Estado e de um Ministro; o eventual candidato do PSD à Câmara de Lisboa, Fernando Seara, anunciou que quem não chegar a acordo será “sancionado pelo eleitorado”; o gabinete de prevenção e investigação de acidentes com aeronaves está desde esta semana sem qualquer investigador ao seu serviço; os metropolitanos de Lisboa e Porto perderam 7,7 milhões de passageiros num ano; as dívidas fiscais aumentaram 7,7 milhões de euros com a troika; o emprego em Portugal recuou a níveis de 1995 e o consumo a níveis de 1999; o programa de ajustamento já destruíu 686 mil postos de trabalho.

 

ARCO DA VELHA - A CP vendeu quatro dezenas de bilhetes para lugares inexistentes num comboio Lisboa-Faro na passada segunda-feira, levando os passageiros a viajar de pé e no bar do comboio.

 

 

FICAR- Na semana passada descobri os Açores. Melhor dizendo, ajudaram-me a descobrir os Açores, insistindo comigo para que fosse.  Fiquei muito contente por ter ido: estive cinco dias em São Miguel e fiz quase setecentos quilómetros por estradas grandes e por estradas pequenas, indo a todos os recantos e parando nos mirantes que encontrei.  Comi bem em bombas de gasolina e em esplanadas em cima do mar; no Hotel onde fiquei e, em restaurantes onde fui e em casa de amigos que me acolheram. Na estrada, por todo o lado me ajudaram com indicações de caminhos e sugestões do que ver. Fiquei rendido a São Miguel e com vontade de descobrir o resto dos Açores. Tive a boa sorte de ficar no Hotel Terra Nostra, nas Furnas, e não podia ter ficado melhor. O Hotel está num parque natural, único, cuidadíssimo, onde é um prazer passear, e que mostra a diversidade da flora da ilha. Não é muito fácil para mim descrever a natureza, mas este é daqueles locais onde apetece ficar, ao qual se quer voltar. No meio do parque está um enorme tanque circular, de água termal, quente, onde se entra para perceber que o descanso não é uma palavra vã e o conforto é um conceito que não se esgota no óbvio. Hei-de voltar a este Terra Nostra - já me tinham dito que é um local que exerce fascínio. Comprovei ser completamente verdade.

 

PROVAR - Desta vez não vou falar de um só restaurante mas do que provei em vários sítios. Primeiro, falo do mar: de uma abrótea e de um veja que me acolheram no Terra Nostra e que reconfortaram das viagens. De umas lapas grelhadas das quais viciosamente abusei numa esplanada na Ribeira Grande, acompanhado por um branco seco, local, o Curral Atlantis com acidez adequada aos petiscos do mar. Mas, sobretudo, devo destacar um peixe que ignorava, de textura e sabor até então desconhecidos, e que mesa amiga me deu a provar - um rocaz, fantástico. Mas quero também falar do queijo de São Jorge, acompanhado de chutney de ananás e servido com o Czar, um vinho generoso do Pico e que deve o seu nome à preferência que os titulares da coroa imperial russa tinham por ele, ao ponto de comprarem toda a produção. E já tenho saudades da carne, bem cozinhada, bem temperada e sobretudo tenríssima, a puxar por um vinho tinto, do Pico, o Basalto, de uva americana, servido refrescado, a acompanhar bem estes petiscos carnívoros. E por falar nisso, remato com o célebre cozido das Furnas, que leva sete horas a fazer em buracos no chão vulcânico, com os enchidos da região - de que se destaca a morcela - com batata doce e inhame ao lado do entrecosto, da couve e do repolho. Imperdível, a gastronomia açoriana.


VER - De há uns anos a esta parte assistia à presença da Galeria Fonseca Macedo, de Ponta Delgada, na Arte Lisboa, na FIL, onde tem tido uma presença que chamava a atenção. No meio das minhas voltas micaleenses da semana passada, tive a sorte de coincidir com uma nova exposição - “Austeridade” de Ana Vidigal, e “Osso” de Paulo Brighenti, ambas possíveis graças à colaboração com a galeria Baginski, de Lisboa. Situada no centro de Ponta Delgada a “Fonseca Macedo” é uma lufada de ar fresco, dedicada à arte contemporânea, e que tem desenvolvido um núcleo de coleccionadores açorianos, alguns dos quais conheci naquela noite. Gostei de rever estes trabalhos recentes de Ana Vidigal e de Paulo Brighenti, de os sentir ali apreciados, a meio do Atlântico. Nada como uma noite de abertura de uma galeria de arte contemporânea para nos permitir tomar o pulso a uma sociedade - ver quem vai ser visto, quem vai por dever de ofício, ou quem vai porque gosta de descobrir. Felizmente foi uma noite, para muitos, de descoberta.

OUVIR- Sou suspeitíssimo nesta matéria: acho que J. P. Simões é um dos nossos músicos mais geniais, um dos autores de canções que vai ficar para a história destes anos terríveis. Letras provocatórias, observações certeiras, cuidado e originalidade nos arranjos - tudo faz dele um caso à parte. Mesmo que hoje em dia seja ainda ignorado por uns e marginalizado por outros, suspeito que este seu repertório, particularmente o deste novo CD “Roma”, ainda vai dar que falar ao longo dos anos. Ouço-o com cada vez maior prazer, descubro nele sempre alguma coisa de novo em cada audição. J P Simões é o mais tropical dos nossos músicos, tanto que às vezes pode parecer demais. Mas é bom, genuíno e dá que pensar. (CD “Roma”, JP Simões, na FNAC).

 

FOLHEAR - A edição de Julho do “British Journal Of Photography” mostra como os encontros de fotografia de Arles, depois de há uns anos largos terem mostrado a importância da côr, regressam este ano ao preto e branco. E, sobretudo, dá a conhecer um belíssimo portfolio de George Giorgiou e Vanessa Winship, intitulado “The Long Road” e que mostra a coexistência entre duas visões, mas também entre várias técnicas, evidenciando como se podem conjugar de forma harmónica os retratos, as paisagnes, as cores, o preto e branco. Sem os fundamentalismos que tantas vezes nos impedem de ver o que queremos observar. Uma bela edição anti-dogma.

 

DIXIT - “ Seguro prometeu-me que o PS não fazia cedências” - Manuel Alegre

 

GOSTO - Do canto das cagarras, pássaros abundantes na reserva das Ilhas Selvagens.

 

NÃO GOSTO - Que tenham ido incomodar as cagarras às Ilhas Selvagens.

BACK TO BASICS - “Os factos são o maior inimigo da verdade” - Miguel de Cervantes.


(Publicado no Jornal de Negócios de 19 de Julho)


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publicado às 13:45

O AFUNDADOR

por falcao, em 16.07.13

Se a situação estava confusa, mais confusa ficou depois da enigmática proposta de Cavaco Silva. A sua intervenção da semana passada fez-me lembrar o mágico que queria mostrar um truque de cartas extraordinário, mas que a meio se atrapalhou e atirou o baralho ao ar, espalhando tudo em seu redor.

 

A ideia do lamentável Presidente que temos parte de dois pontos: ele acha que ao propor diálogo fica isento de culpas no cartório e, depois, consegue arranjar espaço de manobra para tentar impor uma solução sua, não sujeita a eleições e não controlada pelo Parlamento. O que este Presidente da República está a tentar é subverter o regime sob a aparência da normalidade.

 

Já tínhamos provas bastantes dos problemas que existiam com o semi-presidencialismo do regime português, agora, com azar, talvez tenhamos que  ver  a nossa vida num regime presidencialista com fraca cultura democrática. Preparem-se que a longa metragem em pré-produção em Belém parte desse guião.

 

Como se tem visto nestes últimos dias o Presidente, que despertou para o que se passava tarde e a más horas,  deixou de querer usar a magistratura de influência para usar a magistratura da imposição. No fundo ele  está apenas a usar os partidos para depois dizer que não se entendem, e aparecer ele próprio – ou por interposta pessoa de um seu escolhido – como o salvador da pátria.

 

Tenho uma certa embirração pelos salvadores da pátria e aquilo que está a acontecer  faz-me reforçar ainda mais a minha desconfiança. Daqui não vai sair nada de bom e o resultado deste presidencialismo está  já à vista: mais dificuldades externas, maior confusão política, maior instabilidade, degradação da situação económica. Ou seja, um afundador do país em vez de um salvador da pátria. Lamentável presidência.

 

(Publicado no diário Metro de dia 16 de Julho)

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publicado às 11:39

REGIME - Cavaco Silva foi Primeiro Ministro entre 6 de Novembro de 1985 e 28 de Outubro de 1995, há cerca de 18 anos portanto. Os eleitores que este ano votarão pela primeira vez nas autárquicas, e aqueles que se estrearão nas próximas legislativas, não se lembram dele no Governo nem fazem ideia do que o país era no início da década de 90. As suas memórias remontarão ao início deste milénio e devem ter da política a péssima imagem moldada pelos governantes e políticos que, desde então, viram fazer promessas que não cumpriram, fugir ao primeiro desaire e incentivar gastos para além das possibilidades do país. O Cavaco que conhecem é este, desta semana, enigmático, que parece agir por vigança política, preocupado com o seu papel na História mais do que com qualquer outra coisa, que se alheia da realidade e constrói cenários, que brinca ao monopólio político sem medir consequências. A geração que agora vai começar a votar teve, talvez, a adolescência menos preocupada e está a ter a mais difícil entrada na vida profissional. Como se comportará eleitoralmente? Conseguirá o sistema político levar a votar aqueles que nas ruas já se mostraram indignados, descontentes e desesperados? E os partidos políticos? Perceberão que com a sua retórica de chavões e ideias feitas estão a milhas de conseguirem comunicar com estes cidadãos? Estas semanas de crise, além de tudo o que já se sabe e não vale a pena repetir, mostram o vazio de argumentos dos partidos - todos previsíveis, todos arrogantes das suas verdades, todos a viverem num mundo de fantasia, sejam do Governo ou da oposição. Verdade seja dita o Presidente da República desta vez foi rápido a fazer-lhes companhia em matéria de contributo para a crise, no preciso momento em que parecia começar a existir uma solução. O Presidente jogou na incerteza, aumentou a confusão e provavelmente deu um forte contributo para que suceda mesmo um segundo resgate. Na realidade o Presidente não deu só um tiro nos pés do país - passou por cima do uso da bomba atómica da dissolução e inventou uma bomba de neutrões política, sob a forma de um contrato a prazo para o Governo.
PERGUNTAS - Como se podem convocar eleições presidenciais antecipadas? O que se pode fazer quando, por omissões e actos, um Presidente da República aprofundar uma crise política em vez de a resolver? E se um Presidente da República prefere ignorar uma maioria parlamentar existente e forçar uma solução extra eleitoral, estamos perante um golpe de estado constitucional? Qual o processo para avaliar se um Presidente é inimputável?
SEMANADA - A previsibilidade de reacções do Bloco, do PCP e do PS à crise foi total- chavões, sem uma ideia nova; António José Seguro parecia alguém que, nestes dias de calor, estava dentro de água a levar amonas sucessivas e, volta e meia, vinha cá acima respirar e balbuciar qualquer coisa; diversas sondagens revelam que aumenta o descrédito dos políticos entre os eleitores; a audiência média diária do Canal Parlamento é de 720 pessoas por dia, menos que o total de deputados e funcionários da Assembleia da República; Vitor Gaspar regressou ao Banco de Portugal e uma das suas primeiras decisões foi encomendar a entrega diária do "Financial Times" no seu gabinete; Teixeira dos Santos mostrou no Parlamento a nota de passagem de pasta sobre os swaps, que a actual Ministra das Finanças afirma não existir, e voltouz a acusar Maria Luis Albuquerque de ter mentido; a crise confirmou que nada é mais previsível que o erro das previsões, sejam económicas, sejam políticas; o Presidente da República contrariou todas as previsões e, para se vingar da crise da semana passada, criou ele próprio nova crise esta semana; o "Financial Times" classificou a situação saída da declaração de Cavaco como "caos político".
ARCO DA VELHA - António Costa recorreu para o Tribunal Constitucional de duas sentenças que obrigam a Câmara Municipal de Lisboa a facultar o acesso de um jornalista do "Público" ao relatório de um vereador sobre a forma como são feitas as contratações de empreitadas de obras municipais, nomeadamente as de ajuste directo.
VER - As duas exposições de fotografia do ciclo “Próximo Futuro”, no edifício principal da Fundação Gulbenkian, proporcionam a oportunidade para descobrir a fotografia africana contemporânea. Começo pelas imagens da exposição da nona edição dos Encontros de Fotografia de Bamako e destaco as máscaras de Fatoumata Diabate, os fragmentos de momentos de Mamadou Konate, os poderosos retratos de Jejag Nga ou a fé vista por Mário Macilau. Há imagens marcantes, de paisagens pós coloniais, quase sempre com oportuna e referencial presença de pessoas, em vez da tendência paisagistica do betão das periferias urbanas, dominantes na aborrecida fotografia ocidental contemporânea. No piso inferior da Fundação está a exposição “Present Tense”, comissariada por António Pinto Ribeiro, o dinamizador do “Próximo Futuro”, que mostra o trabalho de fotógrafos do sul de África - e aí destaco as fotografias de Paul Samuels, Piet Hugo, Sammy Baloji, Kiluanji Kia Henda e, de forma especial, a maneira de ver de Mauro Pinto. É muito curioso observar a utilização da côr por estes fotógrafos, em contraste com o recurso ocasional com o preto e branco. E sobretudo é estimulante seguir a linguagem fotográfica que praticam, resistindo ao óbvio e evitando
OUVIR- O novo disco do trompetista norte-americano Terence Blanchard, o vigésimo da sua carreira,tem um título que descreve bem a capacidade de atracção dos seus dez temas - "Magnetic". Terence Blanchard no trompete, Brice Winston e Ravi Coltrane no sax tenor, Lionel Loueke na guitarra, Fabian Almazan no piano, Ron Carter e Joshua Crumbly no baixo e Kendrick Scott na bateria são os músicos presentes nestas gravações. A autoria dos dez temas inéditos é diversa, repartida pelos músicos do grupo - aqui estão composições do próprio Blanchard, mas também do pianista Fabian Almazan, do baixista Joshua Crumbly, do baterista Kendrick Scott e do saxofonista Brice Winston. Este disco, nas interpretações, mas também na composição, é um espelho daquilo que é a grande atracção do jazz - o desenvolvimento colectivo do talento, de que o arrebatador tema título "Magnetic" é um belíssimo exemplo. Emocional em "Hallucinations", atrevido em "No Borders, Just Horizons", melancólico no solo de piano de "Comet", ou swingante em "Don't Run", aqui estão várias boas razões para ouvir este "Magnetic". (Edição Blue Note, Universal)
FOLHEAR - A história, fantástica, que Pedro Bidarra criou em "Rolando Teixo", é particularmente adequada ao estado do país, é uma longa metáfora sobre este estado de coisas. O protagonista vive na negação da realidade e  sofre um processo de regressão que progressivamente destrói o que restava de si. Pelo meio está a descrição do quotidiano de uma vida sem história, que se cruza com sonhos e foge da realidade. Não resisto a citar uma passagem que dá o mote ao livro: "A felicidade é uma invenção da cidade. A cidade foi inventada para esconder a morte do nosso quotidiano, para nos fazer crer na omnipotência, na vida eterna, na juventude sem fim, na felicidade. No campo não há felicidade. Há vida, há morte, e, entre elas, sobrevivência." ("Rolando Teixo", de Pedro Bidarra, 150 páginas, colecção "Poucas Palavras, Grande Ficção", da Guerra e Paz.)
PROVAR -  Agora que é mais fácil ir ao restaurante do Chapitô, graças ao parque de estacionamento do mercado do Chão do Loureiro, que desemboca a umas dezenas de metros do local, vale a pena experimentar o que o chef  Bertílio Gomes está a fazer, num dos locais com melhor vista sobre Lisboa e que tem tido uma vida atribulada. Falo do restaurante do Chapitô, agora chamado "Chapitô à Mesa" e onde a tradição da cozinha portuguesa está em destaque, com pormenores invulgares que são imagem de marca de Bertílio Gomes. Creme de espargos com amendoas torradas, secretos de porco preto com molho de queijo de Azeitão, entrecôte com esmagada de batatas e cogumelos em molho de vinho tinto, ou cherne com musseline de aipo e ameijoas são alguns dos pratos da lista - onde também existem algumas saladas  e massas frias que sabem bem nestes dias quentes. Localizada na zona do Castelo, a casa é muito procurada por turistas a qualquer hora, e vale a pena marcar e não desesperar - que o serviço, embora esforçado, tem momentos de uma lentidão considerável. Rua da Costa do Castelo 7, telefone 21 887 5077.
DIXIT - "O partido mais pequeno da coligação não pode ser uma espécie de sidecar sem travões, sem guiador, nem embraiagem" - Bagão Felix
GOSTO- Da iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e do ISEG, que vão promover um estudo sobre as mudanças verificadas na vida dos vencedores dos grandes prémios dos jogos.
NÃO GOSTO - Que um orgão de soberania, em especial o Presidente da República, se guie pelo ressabiamento no seu processo de tomada de decisões.
BACK TO BASICS - Os piores dos lugares do Inferno estão guardados para aqueles que numa época de crise aguda mantêm a neutralidade - Dante Allighieri

(Publicado no Jornal de negócios de 12 de Julho)

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publicado às 11:37

XADREZ - A única coisa que me ocorre é que os senhores políticos, além de escangalharem o país, tramaram a vida dos comentadores - uma opinião não se aguenta meia dúzia de horas e eu estou aqui quinta de manhã, sem saber que dizer. Poucos serão os que percebem o que se passou nos bastidores desde o fim de semana passado, mas há campo para fazer perguntas: Porque é que Passos Coelho persistiu no nome de Maria Luis Albuquerque, apesar de saber que o líder do outro partido da coligação discordava fortemente da escolha? Como é que o Presidente da República não usou os mecanismos à sua disposição para  perguntar ao líder do segundo partido da coligação se estava confortável com a situação? Porque é que Paulo Portas agiu, aparentemente, sem falar com os seus mais próximos? Tenho várias teorias sobre o assunto e algumas delas não são novidade: a primeira é que inabilidade política, teimosia, desfasamento da realidade, arrogância e sobranceria têm sido  linhas mestras de Passos Coelho e elas estiveram sempre presentes nestes dias; a segunda é que o Presidente da República já não sabe como há-de exercer o seu cargo - é caso para se perguntar onde está o Wally? ; e a terceira é que Paulo Portas decidiu jogar um jogo de xadrez em simultânea, abrindo vários tabuleiros ao mesmo tempo - o do Governo, o do seu partido e o de eventuais futuras coligações em caso de eleições antecipadas, nomeadamente com o PS. O tema das coligações - que tem a ver com o funcionamento do sistema partidário e político que temos - é aliás central em toda esta história. Temos uma fraca cultura política de negociação, indispensável em coligação. Os líderes partidários estão habituados a ser obedecidos e não a fazer compromissos - querem o poder, ponto. Não é preciso ser-se analista para perceber que desde há muitos meses o PSD anda a esticar a corda na relação com o CDS, e um dia ela havia de se partir - rebentou no pior momento possível. As jogadas politiqueiras sobrepõem-se a acordos políticos sérios e isso tem os elevados custos que estamos a ver - e devo dizer que, nesta matéria, Passos Coelho, num primeiro momento, e Paulo Portas, num segundo, estiveram-se nas tintas para as dificuldades do país e para as consequências dos seus actos. A verdade é que a direita e o centro direita não têm sido capazes de levar um Governo até ao fim - lembram-se de um conselho coordenador da coligação, anunciado a 20 de Setembro do ano passado e de que nunca mais se ouviu falar? A crise não vem de agora, foi-se agudizando, muito graças ao facto de o Governo ter sido conduzido, na prática, por Vitor Gaspar - a sua carta de demissão é clara sobre isso e é exemplar sobre a sua noção de política e compromisso nas referências que faz, de novo, ao Tribunal Constitucional. Não arrisco prever o que se irá passar, mas admito que Paulo Portas, com o seu xeque ao rei conseguirá cedências de Passos Coelho, reforçando o seu papel no Governo, ultrapassando dificuldades no seu partido e forçando uma remodelação maior do que se imaginava há uma semana. Por quanto tempo se aguentará esta situação? Não faço ideia das consequências dentro do PSD - mas não me custa imaginarRui Rio, no Porto, a afinar o motor de um carro de corrida antigo, daqueles de que tanto gosta,  para fazer a antiga Nacional Um, rumo à sede do PSD em Lisboa, talvez com paragem prévia em Belém, vestido com a armadura de salvador da Pátria. Como um amigo meu dizia por estes dias, preocupo-me ainda mais quando me parece também ouvir o silvo de um jacto privado, com Sócrates lá dentro, a levantar vôo de Paris, rumo a Lisboa. João Quadros, com o seu humor corrosivo que todos conhecemos, quarta à noite, no twitter, imaginava Jack Bauer, a personagem central da série “24 Horas” a olhar para Portugal e a dizer “Isto já não faz sentido: não é possível acontecer tanta coisa em 24 horas!”.


SEMANADA - Segunda feira, o primeiro briefing do Governo falhou a demissão do Ministro Vitor Gaspar; Maria Luis Albuquerque foi nomeada Ministra das Finanças depois de ter desmentido o seu antecessor Vitor Gaspar no caso dos swaps; terça-feira, o segundo briefing do Governo, falhou a demissão do Ministro Paulo Portas; Cavaco Silva deu posse à nova Ministra das Finanças meia hora depois da demissão de Ministro do líder do segundo partido da coligação; quarta-feira Passos Coelho viajou para Berlim e já não houve briefing; foi neste dia, quarta feira, que curiosamente se assinalaram os 130 anos do nascimento de Franz Kafka; na mesma quarta-feira o CDS mandatou o Ministro irregovalmente demissionário, Paulo Portas, para negociar com Passos Coelho a viabilização do Governo; título de uma página de política do Correio da Manhã na quarta-feira: “Dois Ministros do CDS devem demitir-se hoje”; a Bolsa de Lisboa deu um trambolhão histórico; Jorge Sampaio falou sobre a crise a pedir eleições antecipadas a 29 de Setembro; Seguro foi a Belém pedir eleições antecipadas a 29 de Setembro; José Sócrates demitiu-se do cargo de engenheiro na Câmara da Covilhã, onde estava há 20 anos em regime de licença sem vencimento; Luis Filipe Vieira, presidente do Benfica, desmarcou quarta feira uma entrevista na TVI devido à grave crise do país, afirmando não ser “tempo de falar de futebol”; Vale a Azevedo foi condenado a mais dez anos de prisão; o Ministério Público contrariou o Presidente da República, que pretendia a manutenção do procedimento criminal contra Sousa Tavares no caso do palhaço.


ARCO DA VELHA - Em 2012 o fisco deixou prescrever mais de 900 milhões de euros de dividas fiscais e a divida à segurança social aumentou quase 1,3 mil milhões de euros. Fisco e segurança social têm 28 mil milhões de euros por cobrar, ou seja o equivalente a três defices orçamentais;


OUVIR- Estou rendido ao disco de estreia de Gisela João,  deslumbrado por esta voz, encantado por estes arranjos, pelo atrevimento na escolha do repertório e pela deliciosa falta de reverência na interpretação. Gosto de iconoclastas e este é um belíssimo disco à margem dos bons costumes, coisa rara no que por aí se edita em nome do fado. Claramente este é o melhor disco de estreia da geração mais recente dos que cantam fado e  arrisco dizer que esta é a única grande fadista a aparecer nos últimos anos, em que tantos imitadores têm feito carreira. Não por acaso a produção executiva é de Helder Moutinho - que confiou a produção musical a Frederico Pereira, que fez um belíssimo trabalho, com a ajuda de Ricardo Parreira na guitarra, Tiago Oliveira na viola, e Francisco Gaspar no baixo. Nascida em Barcelos, Gisela João oscila entre temas populares como “A Casa da Mariquinhas” ou “Malhões e Vira”, a clássicos como “Maldição”, “Sou Tua”, “Não Venhas Tarde” ou o extraordinário “Madrugada Sem Sono”, que abre o disco num arranjo excepcional. E há novidades, como “Primavera Triste” de Aldina Duarte ou a maior surpresa do disco, “Vieste do Fim do Mundo”, de João Loio. Nada aqui é gratuito, nem exibicionista. E é isso que faz ouvir este CD vez após vez. “Não é fadista quem quer/mas sim quem nasceu fadista” - por acaso são estas as últimas palavras cantadas deste disco. (CD Edições Valentim de Carvalho)


FOLHEAR - Gosto de romances de estrada e gosto ainda mais de romances de estrada com música. Gosto da escrita de Francisco Camacho e gosto deste seu novo romance, “A Última Canção da Noite”. Há uns anos Nick Hornby juntou três dezenas de ensaios sobre canções de que gostava e publicou “31 Songs”. Primeiro comprei o livro, depois comprei o disco, que juntava 18 dos temas de que ele falava. Se estivesse numa editora discográfica fazia uma compilação com as canções de Francisco Camacho, aquelas que ele seleccionou recentemente para um artigo ,no cada vez mais imprescindível carrosselmag.com sobre o seu livro, e juntava-lhes mais umas tantas de que ele se lembrasse. Lá estariam os Ramones, Clash, Long Ryders, Sonic Youth, mas também Radiohead, Go Betweens ou Madonna. Pela estrada fora e sempre a abrir ele havia de fazer uma bela compilação. Pelo menos tão envolvente como este “A Última Canção da Noite”, de Marrocos a Berlim, uma viagem de liberdade, paixão e imprevistos, acelerada ao som do rock’n’roll, como bem lembra o CarrosselMag.


DIXIT - “Foi a crise dos partidos (...) - prometendo o que o país não podia dar - que provocou a desconfiança generalizada na capacidade deles para resolverem os problemas do País” - Manuel Villaverde Cabral


GOSTO - Da Campanha da Associação Portuguesa de Produtores de Biocombustíveis: “Se não há petróleo em Portugal, planta-se”, apelando à plantação de soja e colza para a produção de biodiesel.


NÃO GOSTO - Da revogação pela Secretaria de Estado da Cultura da autorização de venda de uma pintura do século XV, de Crevelli, que é propriedade privada.


BACK TO BASICS - Uma observação atenta revela que a maior parte das situações de crise geram a oportunidade para que tudo fique na mesma - Maxwell Maltz


(Publicado no Jornal de Negócios de 5 de Julho)

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publicado às 17:47

O DISCURSO DO PASSADO

por falcao, em 11.06.13

Ouvi dizer que o Presidente da República está muito preocupado com o futuro e com o que o país deve fazer no pós-troika. Mas a verdade é que no seu discurso do 10 de Junho só o ouvi falar sobre o passado, como Portugal era maravilhoso e se transformou de forma tão inexcedível quando ele foi Primeiro-Ministro. Foi um discurso cínico, cruel. a justificar opções passadas que, em muito, nos conduziram onde estamos. Foi o elogio disfarçado e hipócrita de uma época em que Cavaco Silva optou pelo betão, pelo princípio do desvario nas obras públicas e se esqueceu de criar bases sustentadas de desenvolvimento. Cavaco, Primeiro-Ministro, entregou o país ao eixo franco-alemão que nos inundou de fundos para pagar o que nos roubava na agricultura e nas pescas. É de um cruel cinismo falar como ele falou. Se existiam dúvidas de que Portugal não merece ter um Presidente da República como ele, desvaneceram-se com o que Cavaco Silva disse neste 10 de Junho.

 

Quando daqui a uns anos se fizer a história verdadeira - não o embuste habilidoso dos discursos do 10 de Junho - ver-se-à quão nefastas foram as escolhas e opções estratégicas de Cavaco na governação e como foram perniciosas as suas opções no desencadear e evoluir dos momentos críticos da crise  - desde Sócrates até agora. Nessa altura poder-se-à perceber como os milhões que a Europa pagou a Portugal se destinaram apenas a iludir e distrair o pagode com estradas, enquanto uns quantos as construíam e outros íam fazendo negociatas à conta dos lugares que tinham ocupado na política. O maior legado de Cavaco, de que ele não fala, é o rol de casos pouco claros que envolvem gente da sua entourage e que continuam a ser o exemplo do pior que o regime tem para mostrar.


(Publicado no diário Metro de 11 de Junho)

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