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(esta imagem é um pormenor da obra "Interdito" da artista plástica Marilá Dardot)

 

AGORA? - Não tenho a certeza se a avaria política detectada no Domingo passado se resolve com uma simples reparação de motor, recauchutagem de pneu ou mudança de mecânico e condutor. O que aconteceu nestas autárquicas foi o sinal da crise que percorre o sistema político e partidário desenhado em 1974, entretanto desactualizado mas nunca adequadamente ajustado. A avaria maior foi detectada no lado direito do espectro partidário, com o PSD, mas teve também sinais fortes do lado esquerdo, com o PCP. A minha convicção é que este foi o sinal de um problema estrutural irreversível se se mantiver o quadro actual. Soluções antigas dificilmente resolvem problemas novos - como apresentar propostas diferentes de acordo com as questões contemporâneas, de adequar o discurso às novas formas de comunicação, conseguir atrair os eleitores mais jovens. Duvido que formas de organização antigas possam ajudar a solucionar o problema. Se quer sobreviver e ser relevante o PSD necessita urgentemente de criar um novo enquadramento, de analisar como se distanciou do eleitorado, qual a razão que o leva a ser  incapaz de mobilizar vontades, cativar independentes e criar propostas fora dos aparelhos partidários. Precisa sobretudo de uma clara definição ideológica e de um posicionamento político que seja mobilizador. Veja-se o que aconteceu em Lisboa: Assunção Cristas conseguiu falar para fora do seu partido, o PSD ficou a falar para dentro (na realidade nem para dentro conseguiu falar) e deixou muitos dos seus eleitores tradicionais fugir. O PSD tem o desafio de voltar a conseguir inserir-se na sociedade, a quem virou costas nos últimos anos. Importa mais saber o que se diz para fora de forma coerente e consistente do que entrar no jogo das habilidades tácticas conjunturais e exercícios de conspirações palacianas. O CDS deu um exemplo de mudança. Será o PSD capaz de fazer o mesmo?

 

SEMANADA - Em Lisboa  Fernando Medina perdeu 3 vereadores e a maioria absoluta; no Porto Rui Moreira obteve maioria absoluta; o PCP perdeu dez câmaras, entre as quais Almada, Barreiro e Beja; a análise dos fluxos de eleitores mostra que os votos das câmaras perdidas pela CDU foram para o PS; a CDU (PCP e PEV) ficou pela primeira vez abaixo do meio milhão de votos em todo o território; nestas autárquicas houve 17 movimentos independentes que ganharam câmaras, contra 13 em 2013; Tino de Rans obteve 6,22% de votos em Penafiel; em 2013 o PAN teve 16 mil votos, Domingo passado chegou praticamente aos 56 mil; 47 câmaras mudaram de côr nestas autárquicas - 16 passaram do PSD para o PS, 12 passaram do PS para o PSD, 9 passaram da CDU para o PS e 2 passaram do PSD para independentes; o PSD, sozinho ou em coligação, nunca tinha obtido tão poucas presidências de câmara desde o início das autárquicas, em 1976; o PS ficou com 159 câmaras, o PSD vai liderar 98; há mais de 40 anos que o PSD não tinha tão poucos votos; Passos Coelho anunciou que não se recandidatará à liderança do PSD; segundo a Marktest, a freguesia de Lamosa (concelho de Sernancelhe, distrito de Viseu) foi a mais participativa neste acto eleitoral pois 90.15% dos 203 inscritos apresentaram-se nas urnas; pelo contrário, a freguesia de Parada do Monte e Cubalhão foi a que registou maior abstenção, tendo votado apenas 29.89% dos 977 inscritos nesta freguesia.

 

ARCO DA VELHA - O candidato do PCTP/MRPP à Câmara da Moita, Leonel Coelho, prometia uma ruptura com o passado apesar de ter 82 anos - teve 667 votos, mais sete do que há quatro anos.

 

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FOLHEAR - A colecção Livros Amarelos, da editora Guerra & Paz, permite fazer uma leitura paralela de textos de dois autores que por alguma razão têm uma ligação entre si. O novo volume reúne, sob a orientação de Jerónimo Pizarro, a “Saudação a Walt Whitman” de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa e o “Canto A Mim Mesmo” de Walt Whitman. Pizarro escreveu para esta edição curtas biografias de Fernando Pessoa e de Walt Whitman e ainda um ensaio, “Negação e Saudação”, que permite perceber o porquê de juntar os dois textos. Nele Jerónimo Pizarro recorda que o crítico literário norte-americano Harold Bloom escreveu que Fernando Pessoa foi considerado o maior herdeiro português de Whitman e é sugerido que o heterónimo Álvaro de Campos pode ter nascido desse fascínio que Pessoa tinha pela poesia de Walt Whitman e que ”toda a sua produção de 1914-e 1916, e não só, torna-se mais compreensível se a aproximarmos de Whitman”. Os dois poemas que esta edição reúne reforçam a comunhão poética entre os dois autores, e, como Jerónimo Pizarro diz, “vem precisamente convidar-nos a uma leitura dupla, permitindo neste caso revisitar Whitman para reler Pessoa”.

 

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VER - Prossegue o ciclo “British Bar”, uma ideia de Pedro Cabrita Reis que encontra nas três montras do estabelecimento do Cais de Sodré o seu ponto de exposição - peças de artistas plásticos que encaixam nas dimensões das três estreitas montras verticais, obras escolhidas pelo próprio Cabrita Reis - que está sempre presente no animado fim de tarde de apresentação de cada um destes projectos, que depois durante um mês ali estão expostos. Desde esta segunda-feira ali estão peças de Maria José Oliveira (“Macaco Miguel”, na imagem) e dois trabalhos de artistas mais novos - uma peça sem título de João Ferro Martins na montra da esquerda e outra da Fernão Cruz, “Apologizing studio#1”, na montra da direita. Trago mais duas sugestões e ambas partilham de uma mesma nota prévia: apresentadas em galerias privadas, são obras de inegável valor que parecem destinadas apenas a serem compradas por instituições, que as possam albergar nos seus acervos e esporadicamente mostrar. Começo pelo trabalho de Ana Jotta, que está na galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18). Intitulado “fala-só”, trata-se de um trabalho de grandes dimensões, em que o suporte é um rolo de tela que ao ser desenrolado vai mostrando movimentos de figuras humanas traçadas em esboço, que podem ser lidos como  momentos da evolução da espécie, evocando quase um storyboard cinematográfico através do desenho afirmativo e forte de Ana Jotta. A outra exposição, que manifestamente só vive de todas as peças e ambientes em conjunto, é da brasileira Marilá Dardot, está na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80) e é uma instalação que evoca a censura sobre a criação literária, a partir de uma lista de 900 livros censurados, proibidos ou apreendidos entre 1933 e 1974 em que uma representação tridimensional do objecto livro convive com a justificação dos censores para as suas proibições.

 

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OUVIR - O trio clássico de jazz - contrabaixo. bateria e piano - é uma das minhas formações preferidas. Para a coisa funcionar é preciso que os intervenientes sejam grandes músicos e, sobretudo, que consigam dialogar entre si e conjugar as suas experiências e vivências musicais. Depois de 30 anos a tocar com Keith Jarrett, com quem gravou duas dezenas de discos no Standards Trio (que incluía o baterista Jack DeJohnette), Gary Peacock decidiu em 2014 criar o seu próprio trio e escolheu o pianista Marc Copland e o baterista Joey Baron. O seu primeiro disco, dessa altura, foi “Now This” e agora saíu novo álbum, “Tangents”. Gary Peacock, agora com 82 anos, tem uma carreira de mais de seis décadas e nos anos 60 tocou com nomes da vanguarda dessa época, como Albert Ayler e Paul Bley. Depois dos anos com Jarrett, Gary Peacock retoma nesta sua nova formação as influências das diversas fases da sua carreira e sente-se que as suas experiências com Ayler deixaram marca que perdurou ao longo de todos estes anos. O novo disco, “Tangents”, tem onze temas: cinco deles são do próprio Gary Peacock, dois de  Baron, um de Copland, um outro uma improvisação assinada pelos três músicos e duas versões, ambas fantásticas - “Spartacus” de Alex North e “Blue In Greens” de Miles Davis e Bill Evans. O tema improvisado, “Open Forest”, é um dos momentos altos do disco, assim como a faixa título, “Tangents”, “December Greenwings”, a envolvente faixa de abertura “Contact” ou a energia que passa em “Tempei Tempo”. Este CD é um perfeito exemplo de um trabalho em que os músicos deixam espaço uns para os outros, com longos solos, permitindo que os temas se desenvolvam de forma natural - a experiência de todos os envolvidos subtilmente deixa a música ir para onde ela quer. CD "Tangents", Gary Peacock Trio, edição ECM, na FNAC.

 

PROVAR -  Há já muito tempo que João Portugal Ramos se dedicou a vinhos fora do Alentejo que lhe deu fama. Primeiro, em 2004, chegou à região do Tejo, com o Quinta do Vimioso, depois, em 2007, foi o Douro, com o Duorom e uma parceria com José Maria Soares Franco; no entretanto tinha começado a trabalhar as vinhas da Quinta da Foz do Arouce, na Lousã; e, mais recentemente, entrou no mundo dos vinhos verdes, da região de Monção e Melgaço. É nestes vinhos verdes que me vou focar. O primeiro Alvarinho acompanhado por João Portugal Ramos foi de 2012 e no ano seguinte saíu um Loureiro. Agora, a sua equipa, que inclui a enóloga Antonina Barbosa, apresentou duas novas propostas. A primeira é um Alvarinho Espumante Reserva Bruto Natural, de 2014, o primeiro espumante da sub-região apresentado como um Bruto Natural. Tem bolha fina e persistente e um longo final, marcado pela mineralidade do Alvarinho. A outra novidade é o Alvarinho Reserva 2015 que mantém a mineralidade, pontuado por um toque de madeira e notas frutadas, com um longo final - um vinho branco surpreendente. Aproveitem estes dias quentes, convidativos para um fim de tarde na companhia de qualquer destes vinhos.

 

DIXIT - “Não gostei da vitória esmagadora de Fernando Medina. Os lisboetas, como eu, sabem que não merecia. “Alindar” a cidade não é o que se pede ao Presidente da CML – e sentindo que todos os dias mais lisboetas são literalmente expulsos da cidade para os subúrbios, e que a cidade vive um caos que resulta das (erradas) prioridades da Câmara, esperava uma vitória ligeira, que lhe reconhecesse algum talento mas o obrigasse a ouvir quem vive na capital.” - Pedro Rolo Duarte

 

GOSTO - O MAAT teve mais de meio milhão de visitantes no primeiro ano de existência, que se completou esta semana.

 

NÃO GOSTO - A dívida pública ultrapassou os 250 mil milhões de euros.

 

BACK TO BASICS - “Um fanático é alguém que não muda de opinião, nem muda de assunto” - Winston Churchill.

 




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