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PAPEL - A imprensa continua a descer de circulação. As vendas em banca vão caindo na maioria dos títulos. Mas continuam a ser os jornais e as revistas de informação, nas suas edições impressas, que fazem a agenda das televisões e das rádios com as entrevistas e a opinião que publicam e as reportagens e investigações que realizam. Não é só uma questão do poder das respectivas marcas como referências da informação. O que acontece é que os conteúdos de jornais e de revistas acabam por ser divulgados e consumidos, muitas vezes através de outros mídia, num sentido contrário às vendas em banca. Acredito que a causa da decadência das vendas está num conceito editorial baseado na concorrência com a actualidade global em vez da procura do interesse local. Os jornais e as revistas hoje não podem viver de notícias globais num mundo permanentemente conectado. Dizer que aconteceu alguma coisa só interessa se fôr algo que não está no twitter nem no facebook. Não é por acaso que os dois jornais diários portugueses com maior circulação - Correio da Manhã e Jornal de Notícias - têm uma forte componente de noticiário local que lhes dá conteúdos exclusivos. Isto não é nada de novo: todos os estudos sobre imprensa diária apontam para a necessidade da ligação local e, nos Estados Unidos, os jornais que se salvaram estão a fazer esse caminho. Sem ligação às comunidades onde estão inseridos os jornais perdem razão de ser. Alguns iluminados pensam que é paroquianismo reportar sobre o que se passa nas cidades ou regiões onde estão e que é pecado dar-lhe mais destaque do que sobre factos globais. Creio ser um engano terrível. Qualquer grande notícia internacional é consumida e esgotada quase instantaneamente; o que se passa por cá em S. Bento e as tricas político-partidárias são exploradas à exaustão na net e na televisão. Mas o noticiário local, que cimenta as comunidades que constituem um país, é muitas vezes subalternizado. Se houvesse mais noticiário local e regional os jornais seriam ainda mais citados. E, talvez, com uma gestão inteligente do que está online e do que não está, o papel impresso se possa salvar. As pessoas continuam a ler, como o consumo de livros mostra. Não querem é ler o que já sabem.
SEMANADA - Um acordão do Supremo Tribunal Administrativo condenou o Fisco a pagar juros indemnizatórios e juros de mora em dobro por atraso na execução de uma sentença que obrigava a devolver impostos a um contribuinte; segundo advogados fiscalistas o Fisco, apesar de levar tudo até às últimas instâncias e usar todos os expedientes para adiar pagamentos, continua a perder entre 60 a 70% das causas julgadas; em contrapartida com esta dureza, entre 2011 e 2014, o Fisco deixou sair 10 mil milhões para offshores sem vigiar transferências; novas regras para offshores estão paradas há oito meses no Parlamento; o Estado tem 8577 prédios, 1322 andares e 1441 casas; apenas 35% dos titulares de conta bancária são utilizadores de internet banking e o seu número está estagnado desde 2014; o número de estrangeiros a quem foi concedido o estatuto de residente não habitual aumentou 44% em 2016, o que lhes permite pagar uma taxa reduzida de IRS; em Portugal a base de dados genética só abrange 15% dos condenados por crime violento; Portugal conta com mais de dois milhões de idosos; a subnutrição nos lares é o dobro do que é em casa; o número de condutores com mais de 75 anos a morrer em acidentes aumentou e 42% dos peões mortos em atropelamentos tinham mais que 70 anos; em 2016 a dívida pública subiu para o valor recorde de 130,6% do PIB, mas as famílias e empresas registaram os níveis de endividamento mais baixos da última década; António Saraiva, Presidente da CIP, defendeu a reestruturação da dívida.
ARCO DA VELHA - O alerta da prisão de Caxias a outras forças policiais sobre a fuga de três detidos no fim de semana passado, só foi formalizado cinco horas depois de ter sido detectada.
FOLHEAR - Sábado passado fui à Gulbenkian ver a exemplar exposição de Almada Negreiros e, por via das dúvidas, resolvi trazê-la para casa. Explico desde já que não roubei nenhuma obra, limitei-me a trazer o magnífico catálogo de “Uma Maneira de Ser Moderno”. São 420 páginas de informação, ensaios e, claro, boas reproduções das obras expostas. Gostei muito de “Uma Maneira de Ser Moderno”, de Mariana Pinto dos Santos (uma das curadoras da exposição), que enquadra de forma exemplar o trabalho de Almada na sua época. Destaque também poara “A coreografia das palavras”, de Fernando Cabral Martins e também “As viagens de Almada” de Sara Afonso Ferrreira. Ana Vascobcelos (a outra curadora) aborda o trabalho de encomenda que Almada foi fazendo ao longo do tempo e que proporcionou algumas das suas obras mais marcantes e conhecidas. E, finalmente, o imperdível “A forma de Almada:o século XX de Almada Negreiros”, de Luis Trindade, que sumariza uma época. A organização da reprodução das obras é exemplar, permitimndo compreender a evolução da criatividade, assim como a forma como Almada se entregou a diversos géneros e os interesses, fora das artes plásticas, que procurou acompanhar. Pelo meio há textos que contam pequenas histórias de algumas das obras, ou das circunstâncias em que foram feitas. É um catálogo imperdível e estou muito contente por ter assim trazido a exposição, para agora a ir podendo ver com calma em casa. A cronologia que encerra o livro, de Luis Miguel Gaspar, é uma visita à História de uma época, entre 1893 e 1970.
VER - Num daqueles passeios de sábado de manhã ía a descer a pé a Rua Rodrigo da Fonseca quando, no nº 35, dou por uma oficina de relojoaria que dá pelo nome de Pêndulo Real, aberta há cerca de um ano mas que eu nunca tinha olhado com atenção. Lá dentro estão magníficos relógios de caixa alta, de parede, de mesa e até um relógio de sol do século XVI. De um lado está o balcão e o atendimento, do outro uma sala onde se mostram exemplares fantásticos dos séculos XVII, XVIII e XIX, já restaurados, com máquinas, caixas e acabamentos de um pormenor impressionante. Luis Couto Soares, na fotografia com uma rara peça de mesa, um relógio feito para a Companhia de Jesus, é o proprietário do Pêndulo Real, um apaixonado pelos relógios e pela sua história, ele próprio um coleccionador. Tem prazer em falar do que tem na sua galeria do tempo, enquadra cada exemplar na sua época e sobre vários conta episódios que vão das guerras peninsulares ao percurso das peças ao longo dos séculos, desde que foram feitas, algumas por encomenda real. É fascinante visitar o espaço e mais ainda falar - ouvir - Luis Couto Soares. Outra sugestão, bem diferente: proponho que visitem a exposição “Cadernetas de Cromos”, na Biblioteca Nacional até 29 de Abril - ali estão cadernetas e cromos de futebol, cinema ou aventuras ao longo de um século. Como sou fascinado por cromos passei lá um bom bocado, a recordar memórias e a descobrir muita coisa que desconhecia.
OUVIR - Ainda estou perplexo com “Bowie 70”, o muito publicitado álbum produzido por David Fonseca, promovido numa colagem de mau gosto ao aniversário da morte do músico. Já ouvi o disco uma boa dezena de vezes e em rigor não entendo como alguém pode sequer pensar que isto é uma homenagem - quanto a mim é, na realidade, um insulto. Tenho alguma dificuldade em dizer o que é pior - se os tiques fadistóides de Ana Moura em “The Man Who Sold The World”, com requebros de arrepiar sem ser pelas boas razões, se “Starman”, por Aurea, outro momento penoso, assim como “Blue Jean” por Catarina Salinas, e sobretudo “Let’s Dance”, por Afonso Rodrigues, aqui transformado num hino ao imobilismo. Rui Reininho bem podia ter ficado calado em vez de fazer esta versão de “Where We Are Now” - e o mesmo se aplica a ”This Is Not America” por Marcia, “Heroes” (num fraco momento de Rita Redshoes) ou “Life On Mars” por um António Zambujo cheio de tiques, na senda, infelizmente da sua mais recente produção. Salvam-se, à tangente, as duas primeiras faixas, ali colocadas não certamente por acaso, para engodo dos incautos: “Absolute Beginners” por Tiago Bettencourt e sobretudo “Modern Love”, por Manuela Azevedo - apesar dos arranjos desinspirados e de uma produção rasteira que Bowie de todo não merecia.
PROVAR - Volta e meia dou com mais um restaurante de comida portuguesa que resolve remodelar-se e mudar de posicionamento. Nos últimos tempos têm sido vários. Agora soube que um dos que gostava, e onde ía com alguma frequência, vai mudar para mais uma italianada. Eu percebo: está próximo de hotéis com muitos turistas, e certamente uma pizza ou um risotto poderão ser mais apetecíveis que feijão manteiga com ameijoas ou pica-pau. Mas assim vai ser apenas mais um italiano numa zona onde há mais meia dúzia de restaurantes dessa inspiração, que servem desde pizzas pré fabricadas a várias gamas de massas de preços e qualidades diversas. Fico com muitas dúvidas se será uma boa ideia mudar a bandeira. Bem sei que a cozinha italiana foi a primeira a globalizar-se e quem viaja acha sempre que onde há pizza ou uma putanesca a coisa está segura. Mas mesmo assim fico com pena. Na zona onde falo, as avenidas novas, só abrem restaurantes de inspiração internacional - desde nepaleses até quase uma dúzia de japoneses e outros tantos italianos, passando por um tailandês e obviamente vários chineses. Há dias, no entanto, abriu um, portuguesíssimo, que serve bucho. Ainda lá não fui mas está na calha para uma próxima oportunidade.
DIXIT - “Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum” - Dulce Garcia, título do seu romance editado por estes dias.
GOSTO - Assunção Cristas é a favor do fim da taxa de protecção civil criada na fúria de cobranças pela Câmara Municipal de Lisboa costista .
NÃO GOSTO - Os magistrados do Ministério Público demoram em média um ano para deduzir uma acusação, mais quatro meses que o prazo previsto na Lei.
BACK TO BASICS - “A simplicidade, na arte, não é um fim em si mesmo; mas geralmente chegamos à simplicidade quando nos aproximamos do verdadeiro sentido das coisas” - Constantin Brancusi.
(publicado no diário «Meia Hora»)
Neste ultimo fim-de-semana soube-se que a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) colocou entraves ao acesso à documentação sobre a investigação às tentativas de pressão do Primeiro-Ministro a vários orgãos de comunicação, no caso da conclusão da licenciatura de José Sócrates.
Sabe-se agora – segundo o «Expresso» noticiou - que o relatório que sobre este assunto a ERC elaborou minimiza todos os depoimentos e dados que indicavam a existência de pressões do Gabinete do Primeiro Ministro, e do próprio José Sócrates, para tentar impedir o surgimento de notícias sobre a licenciatura que obteve na Universidade Independente.
A ERC entendeu há cerca de um ano que devia arquivar o caso, apenas com um voto contra, dando assim provimento à tese Governamental que não teriam existido pressões. Sabe-se agora que os membros da ERC trocaram entre si «insultos, ameaças e intimidações» a propósito do relatório, e, em especial, da possibilidade de chamar o Primeiro-Ministro a depor. Sabe-se que essa extraordinária figura da política à portuguesa, chamada Estrela Serrano, e que integra a ERC, achou por bem dizer a jornalistas que noutros países é pior e recomendar aos seus pares que o Primeiro Ministro deve ser respeitado. Ora eu acho que, na realidade, a ideia subjacente é que o Primeiro Ministro não deveria ser incomodado com estas questões de estar a fomentar o condicionamento da informação. Isto é de uma enorme gravidade: quando se fala de respeito a altas individualidades num caso em que a liberdade de imprensa é posta em causa por elas próprias, estamos perante a mais indigna das posições – quem pensa assim não pode estar num órgão regulador.
Com este relatório e tudo o que sobre ele agora se conhece, esta ERC perdeu os últimos laivos de credibilidade que tinha. A composição desta entidade foi cozinhada nos corredores da Assembleia pelo fatídico Bloco Central em depois de tudo o que agora se sabe, os membros do Conselho da ERC deviam ter a dignidade de se demitirem.
Cada regime tem os órgãos que merece e a Entidade Reguladora da Comunicação é bem o exemplo do que vai mal na actividade política, do primado da ocultação dos podres sobre a divulgação da verdade, de nomeações de conveniência e não de competência, de transferência da guerrilha partidária para órgãos que deviam ser reguladores. Sócrates gosta de ser obedecido. A ERC tem-lhe obedecido.
(publicado no Jornal de Negócios de 18 de Abril)
PÉSSIMO – A total falta de bom senso do PSD, os disparates que alguns dos seus dirigentes dizem quando falam de comunicação, a completa falta de pudor em querer manipular e interferir em processos de decisão editoriais, fazendo de questões pessoais factos políticos. Muito maus factos políticos.
MAU – O panorama geral que o mais recente estudo sobre audiência de imprensa apresenta é o da quase generalizada descida de influência da imprensa de circulação paga, nomeadamente dos chamados jornais de referência generalistas. Independentemente dos efeitos do desenvolvimento tecnológico e da repercussão das edições digitais, existe um problema editorial que leva a que as audiências não se fixem nestes jornais, apesar do esforço de marketing que fazem. Um jornal é suposto ser como uma pessoa que nos é próxima, com personalidade definida, que ofereça algo de diferente, que surpreenda. Quando as agendas político-partidárias continuam a ocupar grande parte dos recursos humanos e técnicos das redacções (em conferências de imprensa, palestras, inaugurações fictícias, cerimónias de lançamento e outras basbaquices diversas), o resultado é que grande parte do noticiário é forçosamente igual; depois entra-se num círculo fechado em que o mesmo facto gera as mesmas notícias e, ainda por cima, um surto de comentários sobre o mesmo assunto. É o jornalismo umbilical, apenas suplantado pelo que é feito, sentado à secretária, a atender telefonemas, com recados e supostas notícias – esta semana é disso bom exemplo o lamentável caso da edição digital do «Expresso» sobre Pinto da Costa. Esta redução de facto do universo da realidade é um condicionamento da informação que vem alegremente sendo feito pelos agentes políticos (Governo, órgãos de soberania, partidos, etc) e que vem sendo suicidariamente aceite pelos responsáveis editoriais. Os casos de sucesso, que escapam à descida ou menos a sofrem, são os que se especializam, criam agendas próprias, contextualizam a informação, procuram noticiário de proximidade, não misturam noticiário com opinião e sabem separar a influência dos lobbies e das fontes, do trabalho de reportagem e de edição. Não são as pessoas que não querem ler jornais – há é jornais que oferecem pouco de interessante para as pessoas lerem. Enquanto a questão não fôr encarada de frente as audiências continuarão a cair e as receitas, de publicidade e da venda, continuarão igualmente a cair.
OUVIR – Mari Boine é uma norueguesa que conseguiu encontrar uma forma de misturar o jazz com a música popular da sua terra natal, a Lapónia, criando ambientes misteriosos e envolventes. O seu mais recente disco, o segundo volume de remisturas, chama-se «It Ain’t Necessarily Evil» e inclui o tema do filme « The Kautokeiko Rebellion». Boine é vocalista e baterista e a sua música parte de uma base rítmica forte com vocalizações onde as palavras entrm pouco mas os sons e expressões contam muito. É uma ponto de encontro de influências étnicas, jazzisticas e até rock. CD Universal Music.
LER – Na edição de Abril da revista «Monocle» um óptimo artigo sobre Cabo Verde e a cidade da Praia. Na mesma edição um excelente artigo sobre a proliferação de canais noticiosos de televisão levanta a questão de saber se estes canais são de facto de informação ou, se se destinam a fazer propaganda dos seus financiadores. Muito oportuno.
VER – Até 8 de Junho, uma exposição imperdível no Centro de Artes Visuais de Coimbra, do artista belga Michael Borremans, que tem explorado o desenho, a pintura, a fotografia e o vídeo. Intitulada «Weight» esta mostra é surpreendente e inquietante, resulta de uma colaboração entre o Centro de Artes Visuais e o De Appel Arts Centre de Amesterdão, e pode ser vista nas instalações do CAV, Pátio da Inquisição 10, Coimbra, de terça a Domingo entre as 14 e as 19h00.
PETISCAR – O restaurante Praia da Luz, no Porto, em plena Avenida do Brasil. Uma boa esplanada com serviço simpático e descontraído, com ofertas que incluem um rosbife honestíssimo e uma simpática lasanha de legumes. www.praiadaluz.pt , 226173234. Tudo se passa em frente ao mar, em frente ao mar a sério, sem outro horizonte à vista que não seja água.
PENSAR – O prémio de fotografia do BES está em risco de se tornar numa anedota que tem pouco a ver com a fotografia. Alexandre Pomar, no seu blogue (www.alexandrepomar.typepad.com), ataca a questão de frente: «O que foram defeitos iniciais do BES Photo (presença no júri de selecção dos programadores dos artistas nomeados, junção de veteranos e novos) e outros defeitos não corrigidos (amálgama de fotógrafos-artistas com artistas que se servem da fotografia, velha e difícil questão que se deve usar com prudência; sucessivas recusas de participação) deu lugar à ausência de justificação para as nomeações e, por consequência, uma confrangedora inanidade.» Leiam que vale a pena.
BACK TO BASICS – Os jornais não devem ter amigos – Joseph Pulitzer.
(Publicado no diário «Meia Hora»)
Nas últimas semanas a clivagem entre as duas alas do PS tem sido flagrante – primeiro na questão da saúde, levando ao afastamento do Ministro Correia de Campos e agora com críticas abertas à actuação de Maria de Lurdes Rodrigues na educação. No primeiro caso o Ministro cessante foi substituído por uma apoiante de Manuel Alegre, no segundo é também uma pessoa próxima de Alegre que lidera a contestação pública dos socialistas à reforma de Sócrates na educação.
É pois uma altura interessante para recordar um episódio da vida de Manuel Alegre que os seus apoiantes gostam de esquecer e que a maior parte das pessoas já nem se recorda bem. O caso remonta a 12 de Fevereiro de 1977, há 31 anos, quando Manuel Alegre tinha responsabilidades governativas na área da Comunicação Social e decidiu extinguir a empresa do jornal «O Século» de um dia para o outro.
Vamos fazer um bocadinho de história: O jornal «O Século» foi criado em 1880 por um republicano, Magalhães Lima. Ao longo dos tempos teve ilustres directores como Vitorino Nemésio e João Pereira Rosa e durante muitos anos foi o jornal mais vendido do país. Desde cedo a empresa evoluiu no sentido da constituição de um grupo editorial, que editava revistas como «O Século Ilustrado», a «Vida Mundial», o «Modas e Bordados» ou o «Cinéfilo», além de manter uma obra social importante através da Colónia Balnear Infantil «O Século», em S. Pedro do Estoril, cujas receitas vinham, em parte, da Feira Popular, que era também apadrinhada pelo jornal. Pelo grupo do «Século» passaram alguns dos maiores jornalistas, colunistas e repórteres fotográficos portugueses – foi aliás ali – pode dizer-se – que nasceu o moderno fotojornalismo em Portugal.
Após o 25 de Abril, tal como o «Diário de Notícias» aliás, «O Século» foi «tomado» por sectores próximos do PCP, que rapidamente radicalizaram o jornal e delapidaram as suas audiências e colocaram a empresa em situação difícil. Num clima ainda conturbado do pós 25 de Novembro, com um PS sequioso de estancar a influência do PCP na informação, Manuel Alegre decidiu, de um dia para o outro, alegando uma crise financeira que aliás tocava outros jornais de igual forma, fechar «O Século». Foi uma decisão política, muito mais que económica. Pior: nem sequer procurou salvaguardar o precioso arquivo de 100 anos de História de Portugal que estava no edifício do grupo editorial e que em boa parte se perdeu. A razão de ser desta nota, é só lembrar alguns desmandos de figuras de esquerda hoje intocáveis, como Manuel Alegre. Por causa das coisas…
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