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O ESTADO FALHOU  - Esta é a frase que sintetiza o ano que passou. Por mais que António Costa insista em clamar que só tem êxitos, a realidade mostra o contrário sobre o funcionamento do Estado: falhas nos comboios e em outros transportes, na protecção civil, na coordenação de serviços públicos, nos hospitais, em escolas, na justiça, na segurança, no Parlamento, nos disparates dos novos ministros da saúde e da cultura, nos numerosos casos de cativações que impedem serviços aos cidadãos que os pagaram nos impostos, impostos desviados para folhas salariais em vez de serem aplicados a garantir meios para que mortes sejam evitadas. António Costa vai entrar em 2019 em plena campanha eleitoral para as duas eleições (europeias e legislativas) do próximo ano sem querer  ouvir falar de Tancos e de Borba - dois exemplos do que vai muito mal no Estado a todos os níveis. O líder do PS encontrou uma caixa cheia de guloseimas quando chegou a S. Bento. Tem vindo a dar cabo delas e a deixar apenas os seus invólucros espalhados por onde passa. Da sua governação pode dizer-se que gastou onde não devia e poupou onde não podia.

 

SEMANADA - Em 2016 Portugal ocupava o 14º lugar europeu no PIB per capita, passou a 15º lugar em 2017 e a 16º em 2018; o Banco de Portugal reviu em baixa a previsão do crescimento do PIB este ano; no mês de Outubro os bancos concederam 640 milhões em empréstimos ao consumo; mais de metade do crédito ao consumo já é contratado diretamente nas lojas onde se fazem as compras;  Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que no caso das operações de busca ao helicóptero do INEM “o Estado falhou”; Nuno Sá, deputado do PS, apagou a página do Facebook onde existiam videos e fotografias da sua campanha eleitoral em Famalicão, no dia 12 de Junho de 2017, a mesma data em que foi dado como presente no Parlamento; este ano já se registaram 173 greves na função pública; o turismo já representa 7,5% da economia e em 2019 deverão abrir 69 novos hotéis em Portugal; Lisboa duplicou a taxa turística para dois euros por noite, mesmo para residentes da cidade que precisem de pernoitar num hotel da capital; o diretor de material circulante da CP foi exonerado depois de ter discordado de uma decisão da administração da empresa que , na sua opinião, podia pôr em causa a segurança dos passageiros; o Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público acusou o poder político de querer impedir o combate à corrupção.

 

SÓ PARA RECORDAR - Este ano Pacheco Pereira esteve do lado de Rui Rio na eleição para líder do PSD e do lado da Presidente do Conselho de Administração de Serralves no caso da interferência na exposição de Robert Mapplethorpe.

 

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LER AS BARRAGENS  - Em 2006 a EDP deu início ao projecto Arte e Arquitectura nas Barragens, um iniciativa que até agora envolveu o trabalho de José Rodrigues, Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto Moura, Graça Morais, João Louro, José Pedro Croft, Pedro Calapez, Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes e Vihls. “Sobre A Paisagem - Arte nas Barragens Portuguesas” é o livro-álbum agora publicado pela editora AMAG e pela EDP e que recolhe  o trabalho fotográfico que André Cepeda foi fazendo sobre a relação entre as barragens, as obras dos artistas e a paisagem. No texto de introdução António Mexia sublinha a importância da intervenção artística nas barragens num país “onde os projectos de arte pública são escassos” e sublinha que “as regiões envolvidas ficam dotadas de um conjunto de artistas conceituados, visitáveis por todos” - no caso nas barragens da Venda Nova, Caniçada, Picote II, Bemposta, Baixo Sabor, Foz Tua e Alqueva. Aurora Carapinha aborda a necessidade da paisagem num texto acompanhado por fotografias de Duarte Belo. Isabel Lucas escreve sobre “A Paisagem É O Grande Acontecimento” onde, pelo meio de conversas com os vários artistas que realizaram obras nas barragens aborda questões como o que distingue a criação para o que é arte pública e para as galerias e como pode uma obra de arte viver numa dimensão tão grande como é a de uma barragem. Já perto do final surge um ensaio de Francesco Careri sobre a obra de Robert Smithson, um artista norte-americano que foi pioneiro na criação de ligações entre a arte e a paisagem e um texto contextualizador dos coordenadores da obra, Nuno Crespo e Luísa Salvador. O livro termina com um portfolio de André Cepeda onde ele próprio faz a interpretação das obras e da sua localização, para além da simples evocação documental.

 

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O ESTADO DA ARTE  - Colocar uma instituição no mapa demora tempo, colocá-la à beira do precipício é coisa rápida: este é o retrato do que aconteceu a Serralves este ano. De Museu de referência pela originalidade das propostas apresentadas foi capturado pelo síndrome de treinador de bancada que percorreu a Administração da Fundação e que a levou a querer mandar e interferir na programação artística. João Ribas, Director Artístico, foi ultrapassado pela Presidente do Conselho de Administração, Ana Pinho. O Director Artístico saíu, e como na cultura o crime compensa cada vez mais, Ana Pinho foi reconduzida atendendo aos serviços prestados na destruição da reputação de Serralves. Este foi talvez o caso mais mediático do ano na área das exposições. No pólo oposto, pelo bom trabalho desenvolvido, destaca-se a actividade da Gulbenkian, nomeadamente a forma como a sua Directora, Penelope Curtis, tem vindo a trabalhar a colecção da instituição, explorando-a e cruzando-a de forma imaginativa - como sucedeu com a exposição “Pós-Pop - Fora do Lugar Comum” (na imagem) e, mais recentemente, “Arte e Arquitectura entre Lisboa e Bagdade” que relembra a exposição levada ao Iraque em 1966 e que incluía nomes como Nuno de Siqueira, Artur Bual, Luís Demée, João Vieira Ângelo de Sousa, José Escada, René Bertholo e Júlio Pomar, entre outros, naquele que foi o núcleo inicial da Colecção desenvolvida pela Fundação Gulbenkian. Finalmente, no MAAT, destaque para apresentação, no Porto primeiro e em Lisboa depois, da colecção Cabrita Reis - “Germinal - O Núcleo Cabrita Reis na Colecção de Arte Fundação EDP”, que pode ainda ser vista até dia 31.

 

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TEMPOS MODERNOS - Há uns anos os discos gravados ao vivo eram editados um tempo depois das digressões em que  tinham sido gravados. Este ano Springsteen deu o sinal da mudança, na realidade um sinal dos tempos: o seu “Springsteen On Broadway”  foi lançado na mesma semana em que a temporada na Broadway terminou e praticamente em simultâneo no Spotify e na Netflix - na Netflix foi disponibilizado cinco horas depois de terminada a derradeira actuação na Broadway. O resultado é um registo de cerca de duas horas e meia  com 35 das suas mais conhecidas canções. Mas não é só um registo de canções - todas em versão acústica, Springsteen sozinho no palco com a sua guitarra e às vezes ao piano, intercalando entre as canções a história da sua vida - desde as primeiras memórias, às lições de guitarra, passando pela cidade onde cresceu (My Hometown), o dia-a-dia familiar, os músicos com quem tocou, as suas primeiras actuações e, claro, o momento em que se tornou um nome incontornável da música popular e do rock há quatro décadas. “I am here to provide a proof of life” - diz ele logo no início das actuações que fez durante 236 dias, ao longo do último ano, até ao sábado passado, no pequeno teatro Walter Kerr, da Broadway com uma lotação de apenas 960 lugares, permanentemente esgotados.  Graças à Netflix é possível ver além do que se ouve no Spotify - um concerto íntimo, uma actuação forte e emotiva. Toda a actuação estava escrita como um argumento, que Springsteen repetiu noite após noite e se isto pode parecer o caminho para a rotina, desenganem-se: não só na interpretação das canções, mas também na forma como contou a sua vida, the Boss mostrou uma capacidade de ligação com o público como acontece nas peças de teatro da Broadway que se repetem noite após noite, na mesma encenação. Os grandes actores vencem a rotina. Além de músico, Springsteen provou ser um actor a representar o seu próprio papel, com uma enorme simplicidade mas também convicção: “That’s how good I am” - dizia ele todas as noites. Esta forma de fazer e registar a música é o acontecimento editorial do ano.

 

INTRAGÁVEIS -  Na restauração lisboeta há uma espécie de triângulo das Bermudas onde desaparece o bom senso e a arte da culinária. As pontas do triângulo são o Princípe Real, o Largo da Misericórdia e o Largo de Camões. Aqui se concentram os restaurantes surgidos da caça ao turista -  pouco cuidado na cozinha, serviço displicente, desprezo pelos clientes nacionais e preços abusivos para a qualidade geral final. Basta passear nesta zona e noutra sua concorrente, na Baixa, na Rua Augusta e suas perpendiculares, para perceber que se perdeu a arte do petisco e cresceu a arte do engano. A maioria destes novos restaurantes importa-se mais com a comunicação do que com a qualidade e o serviço. Muitas das boas tascas que existiam nestas zonas foram sendo substituídas por manjedouras repetitivas e, nos casos em que o nome do local não mudou, tudo o resto foi modificado. Hoje em dia trabalha-se mais para o conceito e o cenário do que para a substância - muitos dos novos restaurantes surgidos nos últimos meses mostram isso e mesmo algumas das boas referências na restauração moderna lisboeta que fez uma época dão sinais de quebra de qualidade. Eu por mim dedico-me sobretudo a procurar boas descobertas em cozinhas étnicas que vão surgindo e em localizar e guardar quem pratica a boa arte da cozinha portuguesa. A propósito recomendo que sigam o blogue “O Homem Que Comia Tudo”, de Ricardo Dias Felner, onde se dão sugestões de confiança nestas áreas.

 

DIXIT - “O Natal, para mim, começa por ser um cuidado com os outros” - Gisela João, fadista.

 

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BOLSA DE VALORES - Em 2018 várias novas galerias de artes plásticas destacaram-se e a Balcony (Rua Coronel Bento Roma 12 A) foi uma delas. Aqui está uma obra de Tiago Alexandre, Spread #16, que integrou a  sua exposição ”Words Don’t Come Easy” e que está à venda por  3.750 euros (IVA não incluido). A técnica é barra de óleo sobre papel e mede 220 x 150 cm.

 

BACK TO BASICS - “Para o Pai Natal conseguir sempre saber onde estás, se te portas bem ou mal, se estás acordado ou a dormir, deve ser de certeza dos serviços de informação” - David Letterman

 

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publicado às 13:00

ANATOMIA DE UMA AMEAÇA MINORITÁRIA

por falcao, em 13.04.18

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O BOMBO DA FESTA - Enquanto Costa andou a evocar a I Guerra Mundial com Marcelo, em França, e, depois, foi saudar Theresa May a Londres, Mário Centeno ficou em Portugal a ser o bombo da festa dos partidos que sustentam o Governo. Na linha de fogo está a austeridade encapotada, que provoca problemas em múltiplos sectores, desde logo na saúde como mais uma vez se viu esta  semana. Mas uma coisa há que reconhecer: Mário Centeno tem cara de pau e sorriso de plástico e esta combinação é politicamente terrível. Ele é o optimista de serviço que diz que tudo vai a correr bem, que garante contra todas as evidências que a carga fiscal diminuíu, que promete fazer de imediato obras que impediu durante meses, que se gaba de um crescimento que não é da dimensão que quer fazer crer. A responsabilidade política do que se tem passado não é no entanto de Centeno, é obviamente de António Costa. Esta semana o Bloco, que tem vindo de vitória em vitória nas suas reivindicações, ameaçou Centeno e deixou no ar um aviso a Costa, pela voz de Mariana Mortágua: “não há governos de minoria absoluta”.  Assim, de repente, começou a falar-se da possibilidade de o Governo não chegar ao fim da legislatura. Costa não vai deixar isso acontecer - nem que evitá-lo lhe custe oferecer um gigantesco tubo de pastilhas digestivas a Centeno, para engolir tudo o que andou a dizer e esquecer a revisão em baixa do défice na nova versão do Plano de Estabilidade. Claro que haverá alguma nova cedência: Centeno não é garantia de Costa continuar no poder; mas o Bloco é.

 

SEMANADA - A verba destinada às obras necessárias na ala pediátrica do Hospital de S. João, no Porto, existe mas está bloqueada pelo Ministério das Finanças; o serviço pediátrico do Hospital funciona em contentores desde 2009; o presidente do Conselho de Administração do Hospital diz que a unidade não tem investimento há 10 anos; no Hospital de Viseu os médicos recusaram-se a usar máquinas de diagnóstico com 21 anos de idade, mais 11 do que o respectivo prazo de validade; no final de 2017 uma dezena de hospitais têm tempos de espera superiores a dois anos  para consultas de especialidade; no primeiro trimestre deste ano aumentou o crédito concedido pelos Bancos à habitação, mas diminuíram os empréstimos concedidos às empresas; em 2016 Portugal concedeu nacionalidade a 25.104 estrangeiros residentes no país; o investimento captado pelos vistos gold caíu 46% em março, em comparação com igual mês do ano passado; em fevereiro as exportações subiram 6,2% em relação ao mesmo mês no ano passado, mas as importações cresceram mais, aumentando 8,5%; durante uma conferência no Porto, Daniel Bessa criticou um artigo de opinião de Mário Centeno em que este considera que a economia portuguesa passa por um bom momento.

 

ARCO DA VELHA - Em Camarate três pessoas pediram por telefone a entrega de comida por um estafeta com o objectivo de o assaltarem. Depois de concretizado o roubo e de a vítima denunciar o crime os assaltantes foram identificados pela PSP de Loures e continuaram em liberdade.

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FOLHEAR - Desde 2011 Rosa Cullell está em Lisboa, como administradora delegada da Media Capital, que detém nomeadamente a TVI e uma série de estações de rádio. Trabalhou como jornalista em jornais e televisões e como gestora em bancos, editoras, instituições culturais e empresas de mídia. Javier Martin Del Barrio, seu marido, também jornalista, igualmente com assinalável carreira, chegou a Lisboa três anos depois e é correspondente do El País. Ambos têm obra publicada e juntaram agora as suas vozes para partilharem aquilo de que mais gostam na cidade onde vivem. “Lisboa, A Tua E A Minha” é assim uma viagem contada a duas vozes e que percorre as suas experiências pessoais por estas bandas. O ponto de partida é o Chiado, onde encontraram casa antes ainda de ser a moda que hoje é, uma zona a que Rosa, logo no primeiro capítulo, chama “o meu bairro”. Javier, para começar, escolheu escrever sobre  “Marvila, cinzenta e renascida”. São 12 capítulos, 12 viagens por Lisboa e as suas gentes, passando por recantos e restaurantes, lojas e exposições, histórias e personagens, igrejas e futebóis, o rio e os arredores. Em cada capítulo, Rosa e Javier escolhem os seus imprescindíveis, um mapa dos sítios de que mais gostam nestes anos que levam de Lisboa. Não é a visão de visitantes nem de turistas, é o relato da descoberta de uma cidade por quem a adoptou. “Lisboa, A Tua E A Minha”, edição Objectiva/ Penguin Random House.

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VER - O Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, MAAT, inaugurou esta semana uma exposição que promete ser um êxito de público a avaliar pelo que tem acontecido noutros países. Trata-se de”The Happy Show”, uma criação de um dos designers mais populares de sempre, Stefan Sagmeister. A exposição teve a sua primeira apresentação em 2012, no Institute of Contemporary Art de Filadélfia, esteve no Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles e em muitas outras instituições na Europa. Esta apresentação em Lisboa deverá ser a derradeira montagem de “The Happy Show”. Sagmeister, um austríaco que vive em Nova Iorque, fez capas de discos para os Rolling Stones, David Byrne, Talking Heads, Aerosmith e vários posters para Lou Reed - e no caso português fez a identidade gráfica da Casa da Música, no Porto. A exposição aborda a sua perspectiva pessoal de felicidade e engloba videos, fotografia, escultura e design gráfico.  Uma outra exposição a reter, sobretudo para quem gosta de fotografia, está no Palácio Pimenta, Museu da Cidade, no número 245 do Campo Grande. Trata-se de”Lisboa Cidade Triste e Alegre: Arquitectura de Um Livro”. A exposição revela a história da concepção e criação daquele que é ainda hoje considerado o mais importante foto-livro português, da autoria de Victor Palla e Costa Martins, feito ao longo da década de 50 e editado pela primeira vez em 1959. Considerado um dos melhores foto-livros do mundo pela obra “Photobook: A History”, de Martin Parr e Gerry Badger, “Lisboa Cidade Triste e Alegre” teve várias outras edições, a última das quais em 2015. Nesta exposição são mostradas as fotos originais, negativos e imagens nunca antes exibidas, assim como uma série de outros materiais, nomeadamente os relacionados com a galeria Ether, de António Sena, que em 1982 voltou a ressuscitar a obra e montou uma exposição que, além de ter estado na galeria, esteve nos encontros de Fotografia de Coimbra e em Serralves. Imperdível.

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OUVIR - Na rádio pública portuguesa existe um programa que fomenta o diálogo entre religiões e que é único a nível internacional. Chama-se “E Deus Criou O Mundo” e os seus intervenientes foram convidados a participar numa conferência no Vaticano. A ideia, de Carlos Quevedo, o autor, foi juntar num programa de rádio três membros das comunidades religiosas mais influentes em Portugal, a judia, a católica e a muçulmana. “E Deus Criou O Mundo” é transmitido semanalmente na RTP Antena 1, às 3ªas feiras, pelas 23h00 e está disponível em podcast (a série completa) na plataforma RTP Play. Todas as semanas Khalid Jamal, Isaac Assor e Pedro Gil abordam temas da actualidade, dando cada um a sua visão do que vai acontecendo por esse mundo, à luz da fé de cada um. A apresentação é de Henrique Mota e o programa já deu origem a um livro, da autoria de Carlos Quevedo. Este programa ganhou tal destaque  que foi convidado a participar, na próxima semana, no Vaticano, num seminário sobre “Diálogo, Respeito e Liberdade de Expressão no Espaço Público”, organizado pela Pontificia  Universidade da Santa Cruz. O convite dirigido ao programa fará deslocar a Roma toda a sua equipa, que terça feira apresentará o seu trabalho como um caso exemplar do diálogo entre religiões e na quarta-feira a equipa estará numa audiência com o Papa Francisco. Não é todos os dias que uma produção portuguesa ganha esta projecção internacional. E este programa é um dos mais claros exemplos do que é o serviço público na rádio.

 

PROVAR - Volta e meia, um pouco por acaso, levado por mão amiga, dou com uma boa surpresa. Foi o que se passou por estes dias em Paço d’Arcos, no Astrolábio, um restaurante no centro histórico da vila, com vista para a Marginal. O Astrolábio vive do peixe fresco e de uma boa grelha, mas também de comida de tacho, com destaque para um arroz de tamboril e para uma massa fresca com ameijoas à Bulhão Pato. A salada de polvo é recomendável, as azeitonas são muito bem temperadas e o pão é acima da média. Além dos peixes mais vulgares há propostas diferentes todos os dias, fresquinhas da lota. Coube-me experimentar um boca negra, um peixe de profundidade dos Açores, de carne branca, muito saboroso, familiar do cantaril da costa continental. Destaque para a frescura dos legumes e para a sua cozedura, no ponto como é raro encontrar. Garrafeira com algumas boas surpresas e a preço honesto. Em estando bom tempo, há esplanada, a sala é acolhedora e confortável. Praça Guilherme Gomes Fernandes 7, Paço de Arcos, telefone  214 410 381, fecha aos domingos.

 

DIXIT - “A marca Bruno de Carvalho não alinha com a marca Sporting e está a prejudicar o Clube” - Carlos Coelho, da Ivity Brand Corp.

 

GOSTO - Este ano a Feira das Viagens, que decorre de hoje dia 13 de Abril até domingo, realiza-se em novos cenários com a cultura em pano de fundo: em Lisboa na Sociedade Nacional de Belas Artes e em Braga no Museu D. Diogo de Sousa.

 

NÃO GOSTO - O número de mortes nas estradas portuguesas subiu 14% em 2017, relativamente ao ano anterior.

 

BACK TO BASICS - O desporto não desenvolve o carácter, mostra a sua verdadeira face - Heywood Broun



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publicado às 13:15

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SOBRE A IGUALDADE - Caso ainda não tenham notado anda meio mundo aflito com o Regulamento Geral de Protecção de Dados, que é suposto entrar em vigor a 25 de Maio próximo. Abundam os cursos de formação e os pareceres de gabinetes de advogados sobre o assunto, todos a aproveitar o momento e a escassez de tempo, tal como os limpadores de mato aproveitaram as superiores orientações de cortar a eito e depressa. O mais engraçado de tudo é que na semana passada o Conselho de Ministros aprovou que a protecção de dados vem para todos, mas não para as administrações públicas - e isto pelo menos durante os três próximos anos, prazo que pode até ser aumentado. De facto o Governo aprovou no Conselho de Ministros da semana passada uma proposta de lei que prevê a isenção de coimas para o Estado em caso de infração. A ministra da Presidência, Maria Manuel Leitão Marques, sempre atenta à inovação, estimou os custos administrativos com o novo regulamento na ordem de “centenas de milhões” de euros. O argumento utilizado para justificar a excepção prende-se com o critério de utilização dos dados - uma falsidade, já que se sabe que o Estado usa e abusa do cruzamento de dados de cidadãos entre organismos, muitas vezes com duvidosa legitimidade para tal. Era suposto existir um período de transição para as empresas nacionais de 18 meses, que o Estado convenientemente eliminou para poder cobrar mais umas coimas, sublinhando que as PME’s portuguesas têm que cumprir o referido regulamento, mesmo que o Estado o não faça. O Sol não nasce igual para todos, é o que é...

 

SEMANADA - O mesmo Governo que prometeu baixar impostos conseguiu que a carga fiscal atingisse em 2017 o valor mais alto dos últimos 22 anos; na realidade em 2017 a carga fiscal aumentou para 37% do Produto Interno Bruto, face ao peso de 36,6% que tinha na economia em 2016; o Instituto Nacional de Estatística destaca os aumentos da receita dos impostos sobre a produção e importação (6,1%), nomeadamente o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), das contribuições sociais (5,1%) e dos impostos sobre o rendimento e património (3,3%); as ajudas do Estado à banca nesta década já custaram 17,1 mil milhões de euros aos contribuintes, quase 9% do PIB; no ano passado os casamentos realizados em Portugal renderam quatro milhões de euros em taxas diversas cobradas pelo Estado; ao analisar o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) detectou "cerca de 95 milhões de euros cobrados indevidamente" nos últimos cinco anos; segundo o presidente do conselho de reitores das universidades, Portugal está ao nível da Hungria e da Roménia no investimento no ensino superior; António Costa fez uma acção de propaganda a limpar matas; Rui Rio fez uma acção de propaganda a visitar quartéis de bombeiros; em Portugal uma em cada cinco mulheres consome produtos dietéticos.

 

ARCO DA VELHA - Portugal é o país com maior carga de parcerias público-privadas, cujos custos representam cerca de 10,8% do PIB, cinco vezes mais que a média europeia.

 

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FOLHEAR - A edição de abril da revista Monocle dá destaque a Maria de Lourdes Modesto, que apresenta - e bem -  como a mais importante autora portuguesa sobre temas de gastronomia. Trisha Lorenz, a correspondente da revista em Portugal, traça um perfil de Maria de Lourdes Modesto e explica como ao longo da sua vida ela contribuíu para elevar o conhecimento e a compreensão da cozinha tradicional portuguesa. Ao mesmo tempo elucida os leitores sobre algumas das particularidades da comida portuguesa. A conversa passou-se no restaurante Monte Mar, do Guincho, com elogios aos seus filetes de pescada com arroz de berbigão. Na conversa com Trish Lorenz Maria de Lourdes Modesto elogia dois críticos gastronómicos portugueses: o já falecido David Lopes Ramos e Duarte Calvão, do blogue Mesa Marcada. No roteiro da última página da Monocle o Porto surge como uma das cidades em destaque com referências à guesthouse My Home In Porto, à Casa de Chá da Boa Nova e ao café Progresso, entre outros locais. Portugal aparece ainda referido com uma curta nota sobre os azulejos da fábrica Viúva Lamego. Outros artigos a ler: uma entrevista com Angela Ahrendts, que saíu da Burberry para dirigir a cadeia de lojas da Apple; e uma iniciativa austríaca que visa dar projecção internacional aos artistas plásticos do país.

 

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VER - Ponto prévio: segunda feira a partir das 19h00  regressa o ciclo de exposições nas montras do British Bar, no Cais do Sodré, organizadas por Pedro Cabrita Reis e que desta vez apresenta Pedro Calapez, Pedro Valdez Cardoso e Fernanda Fragateiro. Passemos a outros temas: um dos locais incontornáveis para quem gosta de ver fotografia é o Foam Fotografiemuseum, de Amsterdão . Mas se lá não puder ir o site está organizado por forma  a dar-lhe uma boa ideia do que está em exposição. Seydou Keita é um fotógrafo do Mali, que viveu entre 1921 e 2001 e que, sobretudo nas décadas de 50 e 60 do século passado, fotografou as pessoas de Bamako, a capital do país, em imagens a preto e branco que transmitem a intensidade dos retratados (na imagem). As pessoas visitavam o estúdio de Keita para serem fotografadas com as suas melhores roupas e penteados. A exposição abre a 5 de Abril e ficará no Foam até 20 de Junho. Entretanto podem sempre descobrir o que lá há para ver em www.foam.org . Dentro de portas há outras sugestões. No MAAT Miguel Palma apresenta obras sobre papel e o argentino Tomás Saraceno mostra na Galeria Oval  “Um Imaginário Termodinâmico”. Na Lisbon Gallery (Praça do Princípe Real 19) está “Polaroid”, uma mostra de 13 projectos de uma nova geração de designers que trabalham em Portugal. No Museu Colecção Berardo está a exposição “Linha, Forma e Cor” que apresenta obras de artistas como Piet Mondrian, Bruce Nauman, Frank Stella, Cy Twombly,  Fernando Calhau, José Pedro Croft, Fernanda Fragateiro, Pedro Cabrita Reis, António Sena e Ângelo de Sousa, entre outros.

 

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OUVIR - O trio constituído por Keith Jarrett (piano), Gary Peacock (baixo) e Jack DeJohnette (bateria)  - e que ficou conhecido informalmente como The Standards Trio - separou-se em 2014 depois de uma carreira de mais de 25 anos. Em fevereiro foi publicado um novo disco destes músicos, “After The Fall”, um CD duplo que recupera uma gravação ao vivo inédita, realizada em 1988 em Newark. Acontece que este registo merece ser colocado entre os melhores que o grupo lançou. Aqui estão temas tradicionais do cancioneiro norte-americano, nos quais se nota o vigor da capacidade de improvisação do trio - desde logo na faixa de abertura, “The Masquerade Is Over” que ganha fulgor ao longo de 16 minutos. Aqui estão clássicos como “Moment’s Notice” de Coltrane, “Doxy”, de Sonny Rollins, “Bouncin’With Bud” de Bud Powell, “Scrapple From The Apple” de Charlie Parker ou ainda “Autumn Leaves”, “When I Fall In Love” ou uma versão inesperada de “Santa Claus Is Coming To Town”. Gravado no final de um período de convalescença de Jarrett, e após um hiato de actuações ao vivo de quase dois anos, este álbum evidencia o virtuosismo, a força e a coesão do trio, assim como a sua capacidade de reinterpretar clássicos. O próprio Jarrett sublinha nas notas de capa que “ficou surpreendido pela forma como os três músicos tocaram nesse concerto, depois de um longo período de pausa. Duplo CD ECM, disponível no Spotify.

 

PROVAR - De 5 a 15 de Abril regressa o “Peixe em Lisboa”, que se tem afirmado como o maior evento dedicado à gastronomia do mar realizado em Lisboa, este ano de novo no Pavilhão Carlos Lopes. Nesta 11.ª edição do Peixe em Lisboa estarão presentes reputados  chefes internacionais, com destaque para os responsáveis do Dinner, de Londres, do Il Pagliaccio de Roma, de Ana Ros, considerada Melhor Chefe Feminina do Mundo em 2017 pelo seu trabalho no restaurante Hisa Franko, na zona rural da Eslovénia, Andrew Wong que assinala a estreia da cozinha chinesa no evento e Iván Domínguez, chefe do restaurante Alborada, na Corunha. Entre os portugueses estarão José Avillez, do Restaurante Belcanto,  João Rodrigues do Restaurante Feitoria e também jovens chefes nacionais como João Oliveira e Tiago Bonito, Vasco Coelho, Diogo Noronha e Diogo Rocha. O Peixe em Lisboa 2018 terá ainda dez restaurantes da região de Lisboa que funcionam em permanência, do meio-dia à meia-noite e que se destacam por pratos à base de peixes e mariscos portugueses, com destaque para três estreantes: a Casa do Bacalhau, Loco e Mariscador. Além destes estarão o Arola, o Ibo, o Kanazawa, a Taberna Fina, o Ritz Four Seasons e o Ribamar, de Sesimbra. Este ano se o tempo permitir existem esplanadas, a entrada é 15 euros, os bilhetes estão à venda na Ticketline e há concursos para nomear as melhores pataniscas e pastéis de nata.

 

DIXIT - “A ideia é sempre juntar pessoas” - Manuel Reis

 

GOSTO - O filme “São Jorge”ganhou sete prémios Sophia da Academia Portuguesa de Cinema, entre eles o de melhor realização para Marco Martins e de melhor actor para Nuno Lopes.

 

NÃO GOSTO - Da intenção de a Meo passar a cobrar um euro por cada fatura em papel enviada aos seus clientes.

 

BACK TO BASICS - “Temos a arte para evitar morrermos da verdade” - Nietzsche



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O SURURU - Vai para aí um grande sururu por causa da Web Summit. As redes sociais, um dos pilares da expressão pública da nova sociedade, foram o centro das críticas, remoques e ataques à iniciativa que delas em boa parte nasceu. Esclareço que para mim a Web Summit não é a santa milagreira que vai resolver o problema das start ups portuguesas, nem uma escola de casos de sucesso. Mas é uma boa feira, uma enorme feira de um sector específico que está no centro da nova economia, uma forma de proporcionar pontos de encontro, fomentar debates e às vezes criar notícia internacionalmente - como aconteceu com as revelações sobre a campanha de Trump feitas por um dos seus protagonistas. Eu cá prefiro que tudo isto suceda em Lisboa do que noutra capital qualquer- ajuda a pôr-nos no mapa e traz-nos mundo. Mas, é bom ter isto presente, também reforça a necessidade de que quem manda na cidade reflicta com cuidado como quer tratar e posicionar o turismo, como quer posicionar a cidade em termo de recuperação urbanística e atracção de empresas. E sobretudo, obriga necessariamemte o Governo a ver as assimetrias que existem dentro de um país que é capaz de acolher com sucesso um evento desta complexidade e, ao mesmo tempo, deixar arder vastas porções de território, permitir a morte de uma centena de pessoas nos fogos, não conseguir garantir a segurança nem nos incêndios nem nos hospitais como agora se percebeu. É este o paradoxo do Portugal contemporâneo e a Web Summit também tem essa utilidade - agudiza a comparação e mostra como o Estado tem comportamentos diferentes. É bom termos a Web Summit, é bom aprendermos, é bom que o Sr Cosgrove ganhe dinheiro com o assunto porque assim também nós ganhamos: este é o caso de uma win-win situation. Mas o êxito da sua realização, a eficácia da produção do evento, a correcção de erros do ano passado, traz a responsabilidade de o Estado não se restringir a eventos de propaganda e começar a preocupar-se com os cidadãos. O sentido da Web Summit é esse: de nada serve a inteligência artificial se as pessoas forem destruídas.

 

SEMANADA - Na semana da Web Summit o alojamento local em Lisboa teve uma ocupação de 80%; há 120 grupo de participantes na web summit que têm por objectivo visitar os bares do Bairro Alto e proximidades; foi uma falha de software no sistema de informação de autópsias que levou a PSP a interromper os velórios de vítimas de legionela, colocando os cadáveres dentro de sacos de plástico à frente dos familiares; na sequência dos incidentes na discoteca Urban a PSP informou que não prevê reforçar o patrulhamento à noite em Lisboa; os processos existentes em Tribunal sobre violência exercida por seguranças não suspendem a sua licença de actividade, nem lhes retiram o cartão profissional; a verba prevista no Orçamento de Estado para o Serviço Nacional de Saúde não chega para cobrir as suas despesas e a dívida a fornecedores continua a crescer e já ultrapassa os mil milhões de euros; em sete anos um em cada três empregos podem ser substituídos por sistemas de tecnologia inteligente; segundo um estudo da Marktest a utilização da Internet através do telemóvel quase quadruplicou nos últimos 5 anos; o futebol vale 43% do total de apostas do jogo online; a Amazon vai passar a fazer entregas gratuitas em Portugal a partir da sua filial espanhola.

 

ARCO DA VELHA - O Ministério da Administração Interna comprou há dois anos um software para monitorizar o SIRESP que nunca usou;  depois de Pedrógão, a Protecção Civil requereu a utilização dessa aplicação que no entanto permaneceu inoperacional nos incêndios de 15 de Outubro.

 

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FOLHEAR - Hanna Arendt foi uma das mais influentes pensadoras do século XX. Alemã, de origem judaica, foi perseguida pelos nazis. A situação na Alemanha levou-a a emigrar para os Estados Unidos ainda antes da segunda grande guerra, onde consolidou a sua reputação na área da filosofia política, ou teoria política - como ela preferia chamar-lhe. Na Universidade de Marburg, onde estudou em 1924, um dos seus professores foi Martin Heidegger, 17 anos mais velho que ela, casado,  e um dos mais reputados filósofos da época. A relação entre o professor de 36 anos e a aluna de 19 evoluíu da atracção intelectual e tornaram-se amantes, clandestinos, uma relação escondida, que a levou a partir para outra universidade sem nunca esquecer a relação. Depois de concluir os seus estudos em filosofia, Arendt começou progressivamente a interessar-se por teoria política, nomeadamente o papel das mulheres na sociedade e a questão judaica. Heidegger, pelo seu lado, era dos nomes mais importantes da Filosofia alemã da época e a sua obra desenvolveu-se em torno do sentido do ser. Em 1933 aderiu ao partido nacional-socialista, precisamente o ano em que Hitler ascendeu ao poder e em que Hanna Arendt esteve presa pelos nazis, antes de emigrar. Heidegger havia de afirmar que o romance com Arendt foi “o mais excitante, mais orientado e mais rico” período da sua vida e que essa criatividade se refletiu na sua obra mais importante - “”Ser e Tempo”. Agora, pela primeira vez, surge reunida num único volume a correspondência trocada entre Hanna Arendt e Martin Heidegger entre 1925 e 1975, o ano em que ela morreu. É um diálogo feito com base na paixão e admiração recíprocas que se manteve ao longo dos anos, contrariando a distância geográfica e as diferenças ideológicas, mas é sobretudo um constante diálogo entre duas das mais importantes vozes filosóficas do século XX. Hoje em dia se calhar isto tudo é incorrecto e seria um escândalo que levaria ao despedimento de ambos - mas se não tivesse acontecido não tínhamos “Arendt-Heidegger, Cartas 1925-1975”, que foi traduzido do alemão por Marco Casanova e editado pela Guerra & Paz.

 

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VER - O MAAT tem muito para ver por estes dias. Começo por “Electronic Superhighway”, uma exposição produzida pela Galeria Whitechapel de Londres, em 1916, e que reúne mais de 100 peças que mostram o impacto das novas tecnologias e da internet nos artistas de meados da década de 60 até ao presente. A exposição inclui obras multimedia, filmes, pintura, escultura, fotografia e desenho de mais de 70 artistas, entre eles Nam June Paik, Judith Barry, Douglas Copland, JODI, Richard Serra, Thomas Ruff e Amalia Ulman, entre outros. Está no edifício da Central Tejo até Março do próximo ano. Ainda no edifício da Central Tejo recomenda-se “Quote/unquote, entre apropriação e diálogo”, uma selecção de obras da Fundação EDP subordinada ao tema da apropriação na arte contemporânea. A exposição estará patente até Fevereiro do próximo ano e inclui obras de artistas como Pedro Calapez, Eduardo Batarda, Luis Campos, Nuno Cera, José Pedro Croft, Ângelo de Sousa, e Fernando Calhau, entre outros. A completar este ciclo de exposições do MAAT está “Bónus”, uma projecto de Ana Jotta que sai dos edifícios do MAAT para um espaço no número 30 da Rua do Embaixador, em Belém e que inclui gravuras e peças de bronze em tiragem única. Esta exposição nasce da relação entre a artista e o museu, relação que parte da atribuição do Grande Prémio Fundação EDP a Ana Jotta em 2013. “Bónus”, o título escolhido pela artista, reflecte o desejo de levar para um espaço de características não museológicas, numa rua de grande circulação e comércio da freguesia de Belém, um conjunto de trabalhos recentes e inéditos levando-os para mais perto da comunidade local envolvente do MAAT.

 

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OUVIR - A prestigiada etiqueta de jazz Blue Note teve a ideia de pegar em seis dos mais destacados músicos que gravam para a editora, cada um dirigindo o seu próprio grupo, e juntou-os. É uma ideia explosiva que pode correr mal ou correr muito bem. Correu muito bem. Para culminar resolveram chamar ao duplo CD resultante desta junção “Our Point Of View”, um título ele próprio provocatório. No caso juntaram-se os talentos de Robert Glasper no piano, Marcus Strickland no saxofone, Lionel Loueke na guitarra, Derrick Hodge no baixo eléctrico, Kendrick Scott na bateria e Ambrose Akinmusire no trompete. Como se isto não chegasse Wayne Shorter e Herbie Hancock aparecem a dar ar da sua graça no primeiro tema do segundo disco em “Masquelero”, um original do próprio Shorter. À excepção deste e de “Witch Hunt”, também de Wayne Shorter, todos os outros nove temas do duplo CD são da autoria de membros deste sexteto de luxo, quase todos versões de composições que gravaram a solo nos seus discos. Gostava de realçar “Bayinah”, no segundo disco, um original do guitarrista Lionel Loueke e que mostra de forma exemplar o prazer de tocar em conjunto e em romper barreiras e conceitos estabelecidos - afinal é essa a essência do próprio jazz. Nesse sentido este disco é uma introdução perfeita ao que de melhor se faz no jazz contemporâneo. Blue Note All - Stars, “Our Point Of View”, duplo CD distribuído em Portugal pela Universal.

 

PROVAR - Estamos no Verão de S. Martinho - embora o Outono ande tímido e a chuva arredia para mal dos nossos pecados. Esta é a época do ano em que se comem castanhas assadas, acompanhadas de água-pé, uma bebida tradicional que celebra o fim das vindimas e o vinho novo e que as normas comunitárias arredaram das prateleiras, norma que a ASAE se apressou a implementar com o desvelo que aplica às tradições. A água-pé é uma bebida tradicional de Portugal, com baixo teor de álcool, normalmente à volta de oito graus, resultante da fermentação da adição de água ao bagaço da uva e é em geral confeccionada para consumo nos magustos e outras festividades tradicionais do Outono. Tem a tonalidade de um clarete, um sabor suave, bebe-se à temperatura ambiente, mais fresca do que morna e pode ter um leve gasoso. A sua comercialização está proibida - legalmente só pode ser utilizada para consumo familiar do produtor de vinho. Quer isto dizer que ou arranjamos familiares que façam vinho ou teremos que ir à procura de almas caridosas que a dispensem, correndo o risco da ilegalidade. Esta é daquelas situações ridículas - a produção de água-pé não é proibida, a sua comercialização é que é. Assim se dá cabo de uma tradição por obra e graça de uns rapazes em Bruxelas, aos quais o destemido Mário Centeno se quer agora juntar. Eu por mim espero comer castanhas e beber água pé neste verão de S. Martinho. E sei onde a posso encontrar.

 

DIXIT - “É tempo de a China ocupar o seu lugar no centro do palco mundial” - Xi Jiping, Presidente da República Popular da China.

 

GOSTO - A exportação de frutas portuguesas aumentou 40% nos primeiros oito meses deste ano.

 

NÃO GOSTO - Os prazos dos tribunais e da Justiça em Portugal continuam na cauda da Europa.

 

BACK TO BASICS - Mesmo no trono mais sumptuoso a verdade é que apenas estamos sentados no nosso próprio  rabo - Michel de Montaigne

 

 

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(esta imagem é um pormenor da obra "Interdito" da artista plástica Marilá Dardot)

 

AGORA? - Não tenho a certeza se a avaria política detectada no Domingo passado se resolve com uma simples reparação de motor, recauchutagem de pneu ou mudança de mecânico e condutor. O que aconteceu nestas autárquicas foi o sinal da crise que percorre o sistema político e partidário desenhado em 1974, entretanto desactualizado mas nunca adequadamente ajustado. A avaria maior foi detectada no lado direito do espectro partidário, com o PSD, mas teve também sinais fortes do lado esquerdo, com o PCP. A minha convicção é que este foi o sinal de um problema estrutural irreversível se se mantiver o quadro actual. Soluções antigas dificilmente resolvem problemas novos - como apresentar propostas diferentes de acordo com as questões contemporâneas, de adequar o discurso às novas formas de comunicação, conseguir atrair os eleitores mais jovens. Duvido que formas de organização antigas possam ajudar a solucionar o problema. Se quer sobreviver e ser relevante o PSD necessita urgentemente de criar um novo enquadramento, de analisar como se distanciou do eleitorado, qual a razão que o leva a ser  incapaz de mobilizar vontades, cativar independentes e criar propostas fora dos aparelhos partidários. Precisa sobretudo de uma clara definição ideológica e de um posicionamento político que seja mobilizador. Veja-se o que aconteceu em Lisboa: Assunção Cristas conseguiu falar para fora do seu partido, o PSD ficou a falar para dentro (na realidade nem para dentro conseguiu falar) e deixou muitos dos seus eleitores tradicionais fugir. O PSD tem o desafio de voltar a conseguir inserir-se na sociedade, a quem virou costas nos últimos anos. Importa mais saber o que se diz para fora de forma coerente e consistente do que entrar no jogo das habilidades tácticas conjunturais e exercícios de conspirações palacianas. O CDS deu um exemplo de mudança. Será o PSD capaz de fazer o mesmo?

 

SEMANADA - Em Lisboa  Fernando Medina perdeu 3 vereadores e a maioria absoluta; no Porto Rui Moreira obteve maioria absoluta; o PCP perdeu dez câmaras, entre as quais Almada, Barreiro e Beja; a análise dos fluxos de eleitores mostra que os votos das câmaras perdidas pela CDU foram para o PS; a CDU (PCP e PEV) ficou pela primeira vez abaixo do meio milhão de votos em todo o território; nestas autárquicas houve 17 movimentos independentes que ganharam câmaras, contra 13 em 2013; Tino de Rans obteve 6,22% de votos em Penafiel; em 2013 o PAN teve 16 mil votos, Domingo passado chegou praticamente aos 56 mil; 47 câmaras mudaram de côr nestas autárquicas - 16 passaram do PSD para o PS, 12 passaram do PS para o PSD, 9 passaram da CDU para o PS e 2 passaram do PSD para independentes; o PSD, sozinho ou em coligação, nunca tinha obtido tão poucas presidências de câmara desde o início das autárquicas, em 1976; o PS ficou com 159 câmaras, o PSD vai liderar 98; há mais de 40 anos que o PSD não tinha tão poucos votos; Passos Coelho anunciou que não se recandidatará à liderança do PSD; segundo a Marktest, a freguesia de Lamosa (concelho de Sernancelhe, distrito de Viseu) foi a mais participativa neste acto eleitoral pois 90.15% dos 203 inscritos apresentaram-se nas urnas; pelo contrário, a freguesia de Parada do Monte e Cubalhão foi a que registou maior abstenção, tendo votado apenas 29.89% dos 977 inscritos nesta freguesia.

 

ARCO DA VELHA - O candidato do PCTP/MRPP à Câmara da Moita, Leonel Coelho, prometia uma ruptura com o passado apesar de ter 82 anos - teve 667 votos, mais sete do que há quatro anos.

 

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FOLHEAR - A colecção Livros Amarelos, da editora Guerra & Paz, permite fazer uma leitura paralela de textos de dois autores que por alguma razão têm uma ligação entre si. O novo volume reúne, sob a orientação de Jerónimo Pizarro, a “Saudação a Walt Whitman” de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa e o “Canto A Mim Mesmo” de Walt Whitman. Pizarro escreveu para esta edição curtas biografias de Fernando Pessoa e de Walt Whitman e ainda um ensaio, “Negação e Saudação”, que permite perceber o porquê de juntar os dois textos. Nele Jerónimo Pizarro recorda que o crítico literário norte-americano Harold Bloom escreveu que Fernando Pessoa foi considerado o maior herdeiro português de Whitman e é sugerido que o heterónimo Álvaro de Campos pode ter nascido desse fascínio que Pessoa tinha pela poesia de Walt Whitman e que ”toda a sua produção de 1914-e 1916, e não só, torna-se mais compreensível se a aproximarmos de Whitman”. Os dois poemas que esta edição reúne reforçam a comunhão poética entre os dois autores, e, como Jerónimo Pizarro diz, “vem precisamente convidar-nos a uma leitura dupla, permitindo neste caso revisitar Whitman para reler Pessoa”.

 

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VER - Prossegue o ciclo “British Bar”, uma ideia de Pedro Cabrita Reis que encontra nas três montras do estabelecimento do Cais de Sodré o seu ponto de exposição - peças de artistas plásticos que encaixam nas dimensões das três estreitas montras verticais, obras escolhidas pelo próprio Cabrita Reis - que está sempre presente no animado fim de tarde de apresentação de cada um destes projectos, que depois durante um mês ali estão expostos. Desde esta segunda-feira ali estão peças de Maria José Oliveira (“Macaco Miguel”, na imagem) e dois trabalhos de artistas mais novos - uma peça sem título de João Ferro Martins na montra da esquerda e outra da Fernão Cruz, “Apologizing studio#1”, na montra da direita. Trago mais duas sugestões e ambas partilham de uma mesma nota prévia: apresentadas em galerias privadas, são obras de inegável valor que parecem destinadas apenas a serem compradas por instituições, que as possam albergar nos seus acervos e esporadicamente mostrar. Começo pelo trabalho de Ana Jotta, que está na galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18). Intitulado “fala-só”, trata-se de um trabalho de grandes dimensões, em que o suporte é um rolo de tela que ao ser desenrolado vai mostrando movimentos de figuras humanas traçadas em esboço, que podem ser lidos como  momentos da evolução da espécie, evocando quase um storyboard cinematográfico através do desenho afirmativo e forte de Ana Jotta. A outra exposição, que manifestamente só vive de todas as peças e ambientes em conjunto, é da brasileira Marilá Dardot, está na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80) e é uma instalação que evoca a censura sobre a criação literária, a partir de uma lista de 900 livros censurados, proibidos ou apreendidos entre 1933 e 1974 em que uma representação tridimensional do objecto livro convive com a justificação dos censores para as suas proibições.

 

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OUVIR - O trio clássico de jazz - contrabaixo. bateria e piano - é uma das minhas formações preferidas. Para a coisa funcionar é preciso que os intervenientes sejam grandes músicos e, sobretudo, que consigam dialogar entre si e conjugar as suas experiências e vivências musicais. Depois de 30 anos a tocar com Keith Jarrett, com quem gravou duas dezenas de discos no Standards Trio (que incluía o baterista Jack DeJohnette), Gary Peacock decidiu em 2014 criar o seu próprio trio e escolheu o pianista Marc Copland e o baterista Joey Baron. O seu primeiro disco, dessa altura, foi “Now This” e agora saíu novo álbum, “Tangents”. Gary Peacock, agora com 82 anos, tem uma carreira de mais de seis décadas e nos anos 60 tocou com nomes da vanguarda dessa época, como Albert Ayler e Paul Bley. Depois dos anos com Jarrett, Gary Peacock retoma nesta sua nova formação as influências das diversas fases da sua carreira e sente-se que as suas experiências com Ayler deixaram marca que perdurou ao longo de todos estes anos. O novo disco, “Tangents”, tem onze temas: cinco deles são do próprio Gary Peacock, dois de  Baron, um de Copland, um outro uma improvisação assinada pelos três músicos e duas versões, ambas fantásticas - “Spartacus” de Alex North e “Blue In Greens” de Miles Davis e Bill Evans. O tema improvisado, “Open Forest”, é um dos momentos altos do disco, assim como a faixa título, “Tangents”, “December Greenwings”, a envolvente faixa de abertura “Contact” ou a energia que passa em “Tempei Tempo”. Este CD é um perfeito exemplo de um trabalho em que os músicos deixam espaço uns para os outros, com longos solos, permitindo que os temas se desenvolvam de forma natural - a experiência de todos os envolvidos subtilmente deixa a música ir para onde ela quer. CD "Tangents", Gary Peacock Trio, edição ECM, na FNAC.

 

PROVAR -  Há já muito tempo que João Portugal Ramos se dedicou a vinhos fora do Alentejo que lhe deu fama. Primeiro, em 2004, chegou à região do Tejo, com o Quinta do Vimioso, depois, em 2007, foi o Douro, com o Duorom e uma parceria com José Maria Soares Franco; no entretanto tinha começado a trabalhar as vinhas da Quinta da Foz do Arouce, na Lousã; e, mais recentemente, entrou no mundo dos vinhos verdes, da região de Monção e Melgaço. É nestes vinhos verdes que me vou focar. O primeiro Alvarinho acompanhado por João Portugal Ramos foi de 2012 e no ano seguinte saíu um Loureiro. Agora, a sua equipa, que inclui a enóloga Antonina Barbosa, apresentou duas novas propostas. A primeira é um Alvarinho Espumante Reserva Bruto Natural, de 2014, o primeiro espumante da sub-região apresentado como um Bruto Natural. Tem bolha fina e persistente e um longo final, marcado pela mineralidade do Alvarinho. A outra novidade é o Alvarinho Reserva 2015 que mantém a mineralidade, pontuado por um toque de madeira e notas frutadas, com um longo final - um vinho branco surpreendente. Aproveitem estes dias quentes, convidativos para um fim de tarde na companhia de qualquer destes vinhos.

 

DIXIT - “Não gostei da vitória esmagadora de Fernando Medina. Os lisboetas, como eu, sabem que não merecia. “Alindar” a cidade não é o que se pede ao Presidente da CML – e sentindo que todos os dias mais lisboetas são literalmente expulsos da cidade para os subúrbios, e que a cidade vive um caos que resulta das (erradas) prioridades da Câmara, esperava uma vitória ligeira, que lhe reconhecesse algum talento mas o obrigasse a ouvir quem vive na capital.” - Pedro Rolo Duarte

 

GOSTO - O MAAT teve mais de meio milhão de visitantes no primeiro ano de existência, que se completou esta semana.

 

NÃO GOSTO - A dívida pública ultrapassou os 250 mil milhões de euros.

 

BACK TO BASICS - “Um fanático é alguém que não muda de opinião, nem muda de assunto” - Winston Churchill.

 




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REPORTAGEM - Olhando para os últimos dias verifico que os melhores trabalhos de reportagem sobre a catástrofe dos incêndios estiveram em jornais impressos ou em sites de informação, nomeadamente no Observador. Domingo de manhã apenas o Correio da Manhã e o Jornal de Notícias tinham chamadas de capa em destaque evidenciando a dimensão do que estava a acontecer; a edição do Público desse dia era particularmente desajustada da actualidade - valeu-lhe o site que foi recuperando o que o papel falhou. No Observador encontrei as primeiras grandes reportagens, bem escritas, descritivas, com informação, com episódios das vidas das pessoas, com pequenas histórias que ajudavam a fazer o grande retrato do que se passou. Foi no Observador, e também no Público online, que vi as melhores fotografias destes dias - e devo dizer que neste caso a reportagem fotográfica fixou momentos de enorme intensidade e dramatismo, sem sensacionalismos, e ajudando a compreender o que se passou e como as mensagens oficiais se afastavam da realidade que as imagens acabaram por mostrar. O Correio da Manhã TV foi a estação que mais depressa começou a fornecer imagens e relatos e não foi por acaso que este foi o canal noticioso mais visto nesses dias. A RTP3 desta vez conseguiu bater pela sobriedade e rigor a SIC Notícias e a TVI24. A rádio acabou por ser o meio onde menos notei reportagens exemplares. Neste tempo do video, e apesar dos momentos já referidos, não deixa de ser curioso que as melhores reportagens, na minha opinião, tenham sido escritas e fotografadas - quer tivessem sido publicadas em papel ou online. É o triunfo da escrita numa ocasião terrível. E foi-o graças a um regresso à melhor forma de jornalismo - a reportagem. Do resto não falo.

 

SEMANADA - O plano contra incêndios não foi avaliado nos últimos quatro anos;  pelo menos 64 bombeiros morreram em serviço ao longo dos últimos 17 anos; Portugal é o país da europa do sul que registou maior número de fogos florestais entre 1980 e 2013;  até quarta-feira à noite o Governo ainda não tinha ordenado à Inspecção Geral da Administração Interna nenhum inquérito global aos fogos do passado fim de semana; na internet as menções aos acontecimentos de Pedrógão Grande provieram, em 34%, do Facebook, 32% foram observadas no Twitter e 31% em notícias online - indica um estudo da Marktest;  a fibra óptica já é a principal forma de acesso à internet em Portugal, tendo ultrapassado o cabo; a internet em banda larga móvel é utilizada por 6,5 milhões de pessoas; segundo a Marktest, entre Janeiro e Abril de 2017, os portugueses dedicaram 399 milhões de horas à Internet na navegação a partir de computadores de uso pessoal; a Europa recebeu 1,5 milhões de refugiados desde 2015; as compras de automóveis feitas por empresas de aluguer de carros cresceram 26% em função do boom do turismo; em Lisboa existem 2051 pessoas referenciadas como sem-abrigo; o exame de português realizado segunda-feira corre o risco de ser anulado por ter circulado no whatsapp uma gravação que revelava a matéria que iria sair - e que acertou em cheio, citando como fonte uma explicadora, dirigente sindical, que teria passado a informação a uma explicanda sua.

 

ARCO DA VELHA - Um homem invadiu uma casa no Intendente para tentar roubar e violar uma mulher de 85 anos que se defendeu mordendo os orgãos genitais do assaltante, levando-o a fugir - o relato foi feito pela própria às autoridades.

 

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FOLHEAR - A revista que vos trago esta semana é o exemplo da convivência entre o digital e o papel. Neste caso essa convivência existe não nos canais de distribuição de conteúdos, mas sim na equipa que a faz. Grande parte dos elementos com responsabilidades editoriais trabalham simultaneamente neste projecto e em plataformas digitais de última geração como o Quartz e o Medium. Editada duas vezes por ano, a  “Anxy" dedicou a sua primeira edição à raiva - “The Anger Issue”. A revista é um mix cuidado de belos textos, portfolios fotográficos invulgares e um grafismo surpreendente. É editada duas vezes por ano e apresenta-se como uma publicação dedicada a apresentar narrativas pessoais sobre emoções, abordando temas como a ansiedade, a depressão, o medo, a raiva, o trauma e a vergonha, numa incursão que pretende abordar a saúde mental de uma forma diferente, através de exemplos de vulnerabililidade. Nesta edição inaugural a entrevista é com a escritora Margaret Atwood, a autora de “The Handmade’s Tale”; há uma série de ensaios e narrativas de pessoas que lidam diariamente com a raiva e o desespero de outros, desde criados de mesa, a vendedores de lojas de roupa ou cosmética ou, ainda, de agentes de execução que vão penhorar bens em nome de bancos; a grande reportagem é dedicada à instabilidade política na Turquia e aos problemas emocionais que ela fomenta no país; e finalmente há três portfolios fotográficos absolutamente excepcionais. Destaco o de Matt Eich, um dos grandes fotógrafos norte-americanos actuais (procure a conta dele no Instagram), numa visão pessoal do seu próprio universo familiar - um dos melhores ensaios fotográficos que vi nos últimos tempos; dois outro merecem destaque : Melissa Spitz mostra a relação tensa que tem com a sua própria mãe e Brian Frank visita o universo das prisões. São três momentos imperdíveis. Pode comprar a Anxy no site da revista - www.anxymag.com .

 

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VER - A mais recente aventura de Pedro Cabrita Reis é um livro de autor, em que o artista mostra desenhos inspirados pelo poema “Cântico Negro”, de José Régio, que é reproduzido na edição (na foto). Este trabalho começou a ser idealizado há três anos, depois de uma exposição do artista no Rio de Janeiro, o plano editorial e a direção gráfica são da responsabilidade de Cabrita Reis com Lucia Bertazzo e Leonel Kaz, de UQ! Editions, editora brasileira, que tem produzido  livros de artista, sempre com originais. As encadernações da caixa e do grande estojo são obra do Atelier Dreieck, em Paris, que se serviu de um tecido de linho e algodão de um laranja intenso. A tiragem é de 70 exemplares, dos quais 20 estão disponíveis na Galeria João Esteves de Oliveira. Cada caixa inclui um desenho original de Pedro Cabrita Reis, em acetona e pigmentos, trabalhados em folhas de 200x126 cms. Os 20 originais correspondentes a outra tantas caixas estão expostos na Galeria (Rua Ivens 38). Outros destaques: no MAAT inaugurou uma exposição de Fernanda Fragateiro , “Dos arquivos, à Matéria, à construção” e uma outra exposição com os trabalhos dos seis finalistas à edição do prémio EDP Novos Artistas deste ano, escolhidos entre mais de 600 candidaturas.

 

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OUVIR - No final de Maio de 1967 foi lançado o oitavo disco de originais dos Beatles - Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Foi um êxito, na crítica e nas vendas, e esteve durante 27 semanas em primeiro lugar do top britânico de álbuns. Inclui alguns temas famosos como “With A Little Help From My Friends”, “Lucy In The Sky With Diamonds”, “When I’m Sixty Four”, “She’s Leaving Home” e “A Day In The Life”. A ideia do disco foi criar um alter ego dos Beatles, a Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, que se pudesse aventurar por territórios diferentes. As gravações começaram no final de 1966, depois de os Beatles terem decidido parar definitivamente com os concertos e as digressões. O facto de estarem a trabalhar num disco que não seria tocado ao vivo proporcionou a oportunidade de experimentarem técnicas novas de gravação e manipulação de som e de incluírem uma orquestra de 40 elementos. Nas numerosas sessões de gravação nos estúdios da EMI, em Abbey Road, dois dos primeiros temas a serem gravados foram “Penny Lane” e “Strawberry Fields Forever”, que não estão incluídos no álbum original porque a EMI forçou a banda a editá-los como single no Natal desse ano. A capa, que foi concebida por Peter Blake e Jann Haworth, dois artistas plásticos britânicos da então nascente pop art, teve um custo de 3000 libras, contra as 100 que eram usualmente o orçamento para o trabalho gráfico de um LP. A EMI concordou que a pagaria, unicamente se o disco vendesse mais de um milhão de exemplares mundialmente - senão a conta seria assumida pelos Beatles. Como hoje se sabe a conta acabou por não ser paga por eles. A edição especial que agora foi lançada para assinalar os 50 anos do lançamento original, inclui um pequeno livrinho de 60 páginas onde esta e outras histórias são contadas, além de detalhes e fotos das sessões de gravação. A edição tem dois CD’s - um que corresponde ao disco original, com uma nova mistura estereo, e outro que mostra 18 misturas inéditas das sessões de gravação, entre as quais algumas de “Penny Lane” e “Strawberry Fields Forever”. (Edição especial Universal Records, distribuída em Portugal).

 

PROVAR -   Então este é um daqueles dias em que tudo correu mal e a raiva é tanta que nem a fome aparece? Narda Lepes, uma chef argentina, diz que tem uma receita infalível para dias assim: arroz com um ovo estrelado por cima. A coisa é simples: coze-se o arroz, escorre-se bem e mistura-se com meia colher de sopa de manteiga numa tigela. À parte faz-se um ovo estrelado em azeite. Narda recomenda que não se salgue o ovo enquanto ele está na frigideira, para que a clara fique bem cozida, estaladiça, e a gema fique crua. Coloca-se o ovo por cima do arroz e o petisco está pronto quando o amarelo da gema começa a inundar o arroz. Tudo bem misturado é um remédio certo anti-ansiedade, diz convicta a chef argentina na divertida secção de gastronomia da revista “Anxy”, uma nova publicação referida noutro ponto destas páginas. Já Jimena Agois, uma food blogger peruana, prefere massa com pesto è genovesa, tudo preparado na ocasião. Cá por mim, nesses dias, o ideal é uma dose dupla de iogurte natural, misturada com fruta da época cortada aos pedaços, alguns frutos silvestres e um pouco de frutos secos. Se por acaso fôr acompanhada com uma flûte de espumante Murganheira Reserva Bruto, ainda melhor.

 

DIXIT -  “Isto foi um furacão de fogo, veio para nos matar” - habitante na zona de Pedrogão

 

GOSTO - Da eficácia e contenção na comunicação de Jorge Gomes, o secretário de Estado da Administração Interna, que no local acompanhou os incêndios.

 

NÃO GOSTO - A Câmara de Lisboa ignorou a  assembleia municipal e vai aprovar a alteração de um edificio  dos anos 70,decorado com azulejos de António Vasconcelos Lapa, para autorizar um hotel a imitar traça pombalina.

 

BACK TO BASICS - “A arte de agradar muitas vezes encobre a arte de enganar” - máxima hassídica, em textos judaicos

 

 

 

 

 

 

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DIVERGÊNCIAS - Esta semana dei comigo a pensar que vivemos a duas velocidades: o país tem uma política, Lisboa tem outra. No país a geringonça esforça-se por promover a inclusão e regista melhores resultados que os esperados; em Lisboa o PS promove a exclusão, incentiva a gentrificação da cidade, afasta os habitantes para a periferia. António Costa e Fernando Medina parecem o polícia bom e o polícia mau das velhas histórias. Lisboa vive debaixo de uma chuva de milhões de receitas trazidas pelo turismo e pela aplicação de novas taxas e comporta-se como um novo rico esbanjador. A desproporção entre os investimentos sociais e os gastos em decoração e festarolas é enorme. A EGEAC, a empresa municipal que gere a área da Cultura, é um particular exemplo de delírio, aplicando a régua e esquadro o princípio medinista de que tudo deve acontecer ao mesmo tempo, não olhando a custos nem a propósitos.  No meio de tudo isto espanto-me, é claro, com o silêncio cúmplice dos Cidadãos por Lisboa, a muleta eleitoral que Costa usou nas anteriores autárquicas e que de insubmissos passaram a cordeirinhos sossegados nos corredores do poder. O que vale a Medina é o despautério em que a oposição se encontra, e os comportamentos de outros candidatos, oscilando entre as gaffes e a ausência. Medina, o senhor milhões, tem no entanto uma incógnita: nunca antes foi ele próprio directamente a votos. E continua sem formalizar a sua candidatura, obviamente para ir fazendo campanha, gastando os milhões que não são seus e fingindo que está apenas a cumprir funções.

 

SEMANADA - A inspecção geral das Finanças demorou um ano a fazer sínteses de uma página de dez auditorias prontas em 2015; segundo dados do Eurostat, ajustado ao poder de compra, Portugal lidera a lista dos países da União Europeia com preços mais caros tanto na eletricidade como no gás; os indicadores de crescimento económico são positivos e prevê-se um crescimento de 2% no PIB; dados do Banco de Portugal indicam que os portugueses estão a faltar mais ao pagamento do crédito ao consumo, sobretudo nos cartões de crédito, e que duplicaram as irregularidades nos bancos; Marcelo Rebelo de Sousa alertou contra o deslumbramento dos números  e sublinhou que após a viragem económica é altura de atacar os problemas estruturais; em Portugal registam-se doze mil novos casos de cancro da pele por ano; segundo o Ministério Público os instrutores dos comandos sabiam que estavam a pôr vidas em risco na prova de instrução que causou duas mortes em Setembro de 2015; a revisão da Lei Eleitoral prevê o fim do número de eleitor e a sua substituição pelo cartão de cidadão com recenseamento automático; a detida mais velha do país, tem 89 anos, é brasileira e está em prisão preventiva por suspeita de ter vendido por 300 mil euros um prédio em Lisboa que não era seu; nos primeiro três dias após a vitória na Eurovisão Salvador Sobral foi citado em 1.641 notícias em todo o mundo e foi na Alemanha que teve direito a mais referências nas notícias; na semana passada a RTP1 ficou em segundo lugar das audiências, o que já não acontecia há muito tempo.

 

ARCO DA VELHA - A Guarda Nacional Republicana apreendeu 708 mil euros em dinheiro, 36 quilos de droga e dezenas de armas nos quatro dias em que as fronteiras foram controladas pelas autoridades, no âmbito da visita do papa Francisco a Portugal.

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FOLHEAR - A revista “Holiday” foi das primeiras grandes publicações dedicadas a viagens e na sua época áurea, os anos 50 e 60 do século passado, contou com grandes nomes entre os seus colaboradores, como Truman Capote, Jack Kerouac e Graham Greene. Em final de 1977 a “Holiday” fechou e 37 anos depois regressou num formato bi-anual, com um enfoque grande em moda usando apenas as viagens e os locais como pretexto. Franck Durand, um Director de Arte francês, é o impulsionador desta nova série, que é publicada duas vezes por ano em Paris, em língua inglesa. A edição da Primavera-Verão 2017, tem por tema a California- a terra onde está Silicon Valley, Hollywood e, claro, Los Angeles. Esta é a verdadeira “promised land” do imaginário americano, o espaço onde tudo é possível, dessde a corrida ao ouro de meados do século XIX ao despontar da contra-cultura em meados dos anos 60 e o explodir da tecnolgia no final do século passado e no início deste. É a região onde criatividade e liberdade andam de mãos dadas e dão bom dinheiro a ganhar - um combinação improvável mas, neste caso, verdadeira. O que esta edição da “Holiday” propõe é uma viagem pelo wild west, que foi primeiro um território espanhol, depois parte do México e finalmente um estado da União - Zorro, no fundo, era apenas um independentista. As fotografias de Bruce Weber mostram este Oeste sob o pretexto da moda local, o portfolio sobre a Getty Villa exibe o esplendor dos anos 50, a história de David Hockney em Los Angeles e Hollywood nos anos 60 conta a aventura de um tempo. E há ainda as fotografias de rua de Bruce Davidson, a história de como F. Scott Fitzgerald entrou no mundo do cinema e, por fim, um roteiro da viagem por estrada de São Francisco a Los Angeles. São 280 esplêndidas páginas.

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VER - Esta é a semana da ARCO, a feira de arte que Madrid exportou para Lisboa, e que vai na sua segunda edição, entre polémicas na selecção dos galeristas e um grande impacto público. Ao mesmo tempo da Feira decorrem uma série de actividades em paralelo, como a inauguração de novos espaços (a Galeria Francisco Fino no Beato ou a madrilena MaisTerraValbuena, em Alvalade - os dois dinâmicos pólos de arte da cidade). A ARCO decorre na Cordoaria, tem 58 galerias, 23 delas portuguesas. No ano passado a ARCO Lisboa foi visitada por 13 mil pessoas, este ano espera-se que o record seja batido até domingo às 18h00, quando encerrará a edição deste ano. Logo à entrada José Pedro Croft, o artista escolhido para representar Portugal este ano na Bienal de Veneza, apresenta três peças inéditas no stand da Galeria Vera Cortês e Paulo Nozolino, representado pela Quadrado Azul, será o único português na Photo España. Do numeroso programa de actividades paralelas à ARCO destacam-se as novas exposições no MAAT, uma nova exposição nas Carpintarias de São Lázaro onde a galeria Belo-Galsterer apresenta “Shadows” de Alfredo Jaar e, na sexta feira, a inauguração de “Uma Pintura e Uma Floresta”, de Pedro Cabrita Reis, no Pavilhão 31 do Hospital Júlio de Matos e que lá ficará até 30 de Junho, pela mão da Galeria João Esteves de Oliveira.

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OUVIR -  Meio mundo descobriu Salvador Sobral no sábado passado graças à vitória no Festival da Eurovisão. Conhecido sobretudo por ter participado em alguns programas de televisão antes do Festival, uma faceta menos conhecida da sua actividade musical é o disco que lançou no final do ano passado, “Excuse Me”. Trata-se de um surpreendente CD com 12 temas, sete dos quais originais do próprio Salvador Sobral e do venezuelano Leo Aldret. O álbum inclui versões de temas clássicos como “Nem Eu” (de Dorival Caymmi), de “Autumn In New York” (de Vernon Duke), “After You’re Gone” (de Henry Creamer e Turner Layton), “Ay Amor” (do cubano Bola de Nieve, aliás Ignacio Villa Fernandez) e, finalmente um tema da irmã, Luisa Sobral “I Might Just Stay Away”.  Foi em Barcelona, quando estudou na escola Taller de Músics, que colaborou com a banda Noko Woi, formada por venezuelanos radicados em Barcelona e foi assim que conheceu Leonardo Aldrey, o venezuelano que co-produziu “Excuse Me”, com o pianista Julio Resende e o próprio Salvador Sobral. Sobre a forma como o cantor se revelou neste disco Miguel Esteves Cardoso escreveu: "A voz dele é límpida e aérea. Tem uma musicalidade irrequieta que se atreve a cantar por cima do canto. Canta como se toda a música dependesse dele. Cada canção é um tudo ou nada.". Aqui está uma boa altura para descobrir “Excuse Me” - CD edição Valentim de Carvalho.

 

PROVAR - Manter a qualidade daquilo que uma casa oferece aos seus clientes é mais que meio caminho andado para defender a reputação e fidelizar a clientela. Nos restaurantes a reputação é muitas vezes um bem que se degrada mas não é o caso nos grandes clássicos, como a Versailles, Ao longo dos anos esta pastelaria, casa de chá e restaurante conquistou clientes. A casa vai-se enchendo em levas sucessivas, desde as sete e meia da manhã até à meia-noite. Há bolos que são uma ameaça ao bom senso - como os caracóis, talvez os melhores de Lisboa. Junto ao Metro do Saldanha, a Versailles é ponto de encontro e é cenário de muitas reuniões e conspirações. A hora do almoço é particularmente concorrida - esplanada cheia, mesas cheias na entrada e na mezzanine, o longo balcão repleto. O balcão tem uma hierarquia - bolos e doces ao pé da porta, salgados lá para o fundo. Ao almoço mais de uma dezena de empregados afadigam-se só ao balcão e os clássicos da casa estão sempre a sair: os pastéis de bacalhau com feijão frade, os rissóis de camarão com salada russa e os famosos croquetes da casa com salada mista - também podem vir com batata frita e esparregado. Na realidade os salgados da Versailles proporcionam um infindável número de composições com as diversas saladas e acompanhamentos à escolha. Todos são fresquíssimos e bons - claro que os croquetes são especiais. Além disso a Versailles oferece outra coisa, além da comida: o espectáculo, que começa na decoração clássica, que tem sido bem preservada, e que passa sobretudo pelas pessoas e pela azáfama de quem lá trabalha. A Versailles não é apenas uma pastelaria ou um restaurante, é um mundo. Avenida da República 15A, telefone 213 546 340.

 

DIXIT - "É uma obra arriscada, por baixo de edifícios antigos e muito frágeis, isto vai provocar problemas complicadíssimos” - Pompeu Santos, engenheiro civil especialista em infraestruturas, sobre a decisão de construir as estações de metropolitano da Estrela e Santos.

 

GOSTO - Da instalação que Ana Pérez-Quiroga expõe no MAAT, uma casa de uma única divisão, em que todo o mobiliário e objectos foram desenhados pela artista. A casa, no interior do edifício da Central Tejo, pode ser alugada (duas noites, 50 euros).

 

NÃO GOSTO - Portugal está entre os cinco países com mais adolescentes obesos.

 

BACK TO BASICS - “Cada um de nós devia, todos os dias, ouvir uma pequena canção, ler um bom poema, ver uma obra de arte e, se possível, dizer algumas palavras com sentido” - Goethe



 



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DIA DAS MENTIRAS OU DIA DO POLÍTICO?

por falcao, em 31.03.17

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MENTIRINHAS - Sábado é dia 1 de Abril e esperam-se as habituais manchetes de jornais com as mentiras que são a tradição da data. Mas o meu palpite é que este ano vamos ter imensos dias da mentira. Com as eleições autárquicas marcadas provavelmente para 1 de Outubro a coisa promete mentira a rodos durante os meses de verão e mentirinhas acrescidas em qualquer estação. Esta semana Fernando Medina já deu um ar da sua graça nesta matéria clamando que a oposição mente quando diz que as infraestruturas de Lisboa estão em mau estado, sem reparar que o nariz lhe crescia de forma desmesurada enquanto falava. A data escolhida para as eleições autárquicas vai permitir que depois se inicie o ciclo do Orçamento de Estado - tema que o Bloco de Esquerda já introduziu esta semana, a propósito da Comunidade Europeia, reivindicando a saída do Euro e a renegociação da dívida, em clara contradição com o que António Costa disse  a propósito dos 60 anos do tratado de Roma. Não certamente por acaso foi esta a semana que a senhora May escolheu para assinar a carta de partida, pondo o Brexit em movimento. E também não certamente por acaso o PCP deixa ao Bloco a despesa da conversa europeia porque já percebeu que esticar a corda demais em tema tão delicado pode partir o guindaste que faz mover a geringonça. Algo me diz que o Verão de 2017 vai dar pano para mangas. No fim do ano alguém pode promover  um concurso onde os políticos na berra se colocam frente a um espelho e dizem assim: “Espelho meu, quem mente melhor que eu?”. Com sorte a RTP ainda faz um programa disto com o Fernando Mendes, chamado “A Mentira Certa”. E vai ter  audiências.

 

SEMANADA - Segundo a Associação Portuguesa de Apoio À Vítima, registam-se três casos por mês de mulheres agredidas pelas outras mulheres com quem vivem; ainda segundo a APAV o retrato tipo das vítimas de agressões domésticas mostra que 82% são mulheres com uma média de idades de 50 anos, mas estão a crescer as agressões a homens e a idosos; os serviços dos CTT vão ficar mais caros 2,4% a partir de 4 de Abril; em fevereiro, 42% das páginas dos sites auditados pela Marktest foram acedidas através de equipamentos móveis; uma auditoria descobriu que a Direcção Geral da Segurança Social atribui regalias aos seus funcionários que não estão previstas na lei, nomeadamente um benefício de 12 dias anuais de não trabalho que acrescem aos dias de férias; com mais de 60 mil unidades espalhadas pelo país as entidades que desenvolvem a economia social são responsáveis por 6% do emprego; o Bloco de Esquerda criticou o Governo de António Costa “por manter intactos os problemas de fundo do país”; Catarina Martins, de caminho, sublinhou que  “é urgente preparar o país para o cenário da saída do euro”; entre criadores, designers e marcas o Portugal Fashion, este ano na 40ª edição, movimenta 500 milhões de euros e tem um horizonte de emprego de 15 mil pessoas ; Fernando Medina classificou de demagogia os reparos feitos à sucessão de problemas surgidos em infraestruturas da cidade de Lisboa por falta de conservação.

 

ARCO DA VELHA - A maioria das escolas do 1º ciclo não possui o material exigido para as novas provas de aferição nas áreas de Expressões físico-motoras e artísticas a que 90 mil alunos terão que se sujeitar este ano pela primeira vez.

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FOLHEAR - O primeiro romance de Dulce Garcia conta uma história de amor em que uma mulher aposta tudo numa paixão e um homem se deixa derrotar pelas circunstâncias e o conformismo. O homem é o infiel, que arrasta atrás de si as relações por onde passa, para voltar sempre ao mesmo sítio. A mulher bate-se por manter a paixão viva até chocar de frente com a realidade que lhe escapou. Refugia-se num lugar de passagem, que foi aquilo em que ela própria se tornou; vai viver para um aeroporto, vagueando entre partidas e chegadas, e é a partir daí que vê o mundo e conta a sua história. O título, “Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum”, é em si mesmo um achado, resumindo de forma crua o que vai dentro da cabeça de Isabel, a mulher que passa na vida a perder aqueles de quem gosta. Afonso é o vilão, a viver em constante mentira, derrotado pela vida,  e que acaba, talvez, por ser o grande perdedor. A estrutura da escrita é envolvente e por ela passa um sentido de humor subtil que consegue conviver com o dramatismo da situação relatada - uma mistura rara que é um dos motivos de atracção do livro que, também por isso agarra o leitor do princípio ao fim. “Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum”, Dulce Garcia, edição Guerra & Paz.

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VER - No bom sentido do termo o MAAT entrou na rotina - ou seja, encheu o seu espaço de exposições. No novo edifício, além da instalação/intervenção, na Galeria Oval,  de Hector Zamora sobre barcos de pesca em ruínas, o destaque vai para “Utopia/Distopia”,  que percorre todo o espaço expositivo, mostrando em simultâneo exemplos  das valências de arte, arquitectura e tecnologia que são a declaração fundadora de todo este equipamento. A exposição é imensa, tão densa que por vezes se torna difícil de seguir e compreender num espaço físico que não favorece uma diversidade e imensidão de propostas como as que aqui se apresentam. Por vezes a montagem apresentada parece um mero armazém de ideias. No novo espaço criado na parte antiga do edifício está a segunda apresentação da colecção de arte da EDP no MAAT. E é, deste novo ciclo de exposições, a que tem a montagem mais conseguida, sob o título genérico “O Que Eu Sou”, tirado de um poema de Teixeira de Pascoaes. São 40 obras que evocam os próprios artistas que as criaram - veja-se o auto retrato de Manuel João Vieira que aqui se reproduz, uma deliciosa ironia sobre as tensões criativas deste artista. “O Que Eu Sou” fica até 29 de Maio e “Utopia/Distopia” até 21 de Agosto. E pronto, o MAAT está a funcionar em pleno, com os jardins envolventes terminados e o espaço totalmente pronto a receber os visitantes. A partir de agora as entradas são pagas - a cinco euros para cada um dos espaços ou a 9 euros para os dois; vale a pena considerar a possibilidade de se tornar membro - por 20 euros por ano pode visitar as exposições as vezes que quiser sem pagar mais por isso.

 

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OUVIR -  Por um lado é a voz; por outro as vozes - como se interpretasse diversas personagens enquanto canta; há também a inteligente produção e,  finalmente, as palavras - as palavras que são o que chama mais a atenção deste sexto disco de Laura Marling, uma britânica que vive dividida entre os dois lados do Atlântico e que ora canta com uma cristalina pronúncia inglesa, ora usa um sotaque californiano. Neste novo “Semper Femina” Laura Marling faz um álbum sobre a mulher a quem, logo cedo, recomenda que não se esqueçam de que são sempre uma mulher, a tradução do título que escolheu em latim: "A thousand artists' muse/But you'll be anything you choose". Criada no folk, embevecida pela soul music, Marling mostra todo o seu potencial em temas como “Wild Fire”, mas também em “Nouel”, “The Valley”, em “Don’t Pass Me By” ou na faixa de abertura, “Soothing”.  Intimista, o disco acaba com “Nothing, Not Nearly”, onde, no final, se ouve uma guitarra a ser pousada e alguém a sair, como no fim de um concerto, quando se abandona o palco. “Semper Femina” é feito destes detalhes, com palavras que exprimem ideias  que vão desde as relações entre pessoas até à observação do que nos cerca: “We love beauty because it needs us to”. CD “Semper Femina”, Laura Marning, no Spotify.

 

PROVAR -  O nome de Aguinaldo Silva é conhecido por assinar a autoria de algumas das telenovelas mais populares da Globo. A sua ligação a Portugal, onde vive durante parte do ano, passa também pela hotelaria e restauração. Há alguns anos tem um pequeno hotel em Óbidos, o Casa das Senhoras Rainhas, e um restaurante chamado “Comendador Silva”, que ganhou boa fama na região. O “Comendador Silva” de Óbidos mantém-se e em Dezembro surgiu um novo, em Lisboa, na zona de S. Sebastião. Tem uma sala simpática e confortável, um serviço atento e a cozinha é dirigida pelo chef  Napoleão Valente. Ao almoço propõe um menu executivo a 11 euros, que inclui um prato de peixe ou carne, uma bebida, sobremesa (doce ou fruta) e café. A oferta vai sendo renovada todas as semanas, muda todos os dias, mas normalmente à quarta-feira há uma boa feijoada portuguesa com enchidos de muito boa qualidade e tempero acertado. Nas sobremesas destaco a tarte de maçã, com uma base de massa exemplar e o puré  a envolver pedaços da dita e nozes, tudo bem temperado com canela. Aos sábado é dia fixo do buffet de cozido, que já ganhou fama. A carta apresenta pratos principais de 14 a 20 euros onde chama a atenção uma massa fresca com lavagante que se tornou num dos emblemas da casa. Há marisco variado e a lista de vinhos é bem escolhida. O menu de almoço inclui um copo de vinho da casa, satisfatório, mas, segundo constatei, de quantidade variável conforme o empregado. Comendador Silva, Rua Latino Coelho 50A, telefone 215816246. Encerra às segundas.

 

DIXIT -  “Em 2018, 2019, Portugal terá que decidir se quer continuar no Euro ou não. Se decidir ficar, será o fim da geringonça” - João Marques de Almeida

 

GOSTO - Alegando erros conceptuais e o estado de conservação, o vereador do PP no Município de Lisboa pediu uma auditoria a todas as ciclovias da cidade, a ser efectuada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

 

NÃO GOSTO - Segundo o INE, a população com menos de 15 anos de idade residente em Portugal diminuirá até 2080, passando dos atuais 1,5 milhões para menos de 1 milhão de pessoas.

 

BACK TO BASICS - “As pessoas só aceitam a mudança quando se defrontam com a necessidade, e só reconhecem a necessidade quando a crise já lhes caíu em cima “ - Jean Monnet

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publicado às 13:30

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TANGA - Na quarta feira foi divulgada correspondência de António Domingues a Mário Centeno, onde se afirma que o Ministério das Finanças se compromete a criar uma excepção para que a então nova administração da Caixa Geral de Depósitos não tivesse de entregar a declaração de rendimentos no Tribunal Constitucional. A divulgação da carta veio confirmar o que há muito se dizia, que havia documentos comprovando uma aceitação de Centeno às exigências de Domingues para constituir equipa e aceitar o lugar. Nesse mesmo dia houve debate no Parlamento, Centeno não compareceu, mas o Primeiro Ministro lá esteve sorridente. António Costa garantiu que Centeno não mente. Mas não disse que Domingues mentia. Centeno nada disse, visto não ter aparecido. Por mais que Costa grite que o Rei Centeno não vai nu, a verdade é que, se ele aparecesse no plenário, provavelmente apareceria de tanguinha, talvez mesmo de fio dental. Ora acontece que, embora se saiba que os políticos e a verdade não combinam bem, um Ministro não pode ser publicamente suspeito de mentir, ocultar, distorcer. E desde quarta feira passada Centeno é suspeito disso mesmo.

 

SEMANADA - 40 meses é o prazo médio de realização de julgamentos para cobrança de dívidas; o acordo ortográfico, que nasceu há 27 anos envolto em polémica,  nunca foi integralmente adoptado pela totalidade dos países de língua oficial portuguesa, entre os quais Angola e Moçambique que não chegaram a assiná-lo; Manuel Alegre considerou “arrogante e autoritária” a posição do Ministro dos Negócios Estrangeiros português, que é contra a revisão do Acordo Ortográfico; em 2016 aumentou o abandono escolar precoce; a compra de dívida portuguesa pelos Banco Central Europeu atingiu em Janeiro o valor mais baixo de sempre; o tratado de Maastricht, que lançou as bases para a  moeda única, foi assinado há 25 anos; a banca portuguesa apresentava em setembro passado os rácios mais baixos da União Europeia e o terceiro nível de crédito malparado mais pesado; o facebook fez 13 anos e em Portugal cresceu 49% nos últimos cinco anos; os dados do estudo Bareme Rádio da Marktest indicam que, ao longo de 2016, os portugueses registaram um consumo de rádio um pouco acima de 3 horas diárias; um ano após terem sido aprovados os fundos de apoio à Comunicação Social para 2016 as respectivas verbas ainda não foram libertadas pelo Governo.

 

ARCO DA VELHA - 50% da frota automóvel da PSP está parada devido a avarias e falta de verba para as respectivas reparações.

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FOLHEAR - Neste mundo em que o papel tem tendência a ser ultrapassado pelo digital não deixa de ser irónico que a edição para tablet da revista Tate Etc., dedicada a David Hockney, um dos primeiro e mais destacados artistas plásticos a utilizar o iPad, seja a derradeira neste formato, existindo a partir daqui apenas em papel. Sugiro que façam o ainda possível download da aplicação na AppStore da Apple e comprem este número avulso, para guardar - até porque Hockney merece. Nos últimos tempos tem-se assistido a um desinvestimento em aplicações e a um regresso aos sites e até aos blogues, de que o sucesso do Medium é um bom exemplo. Mas voltemos à Tate Etc. O destaque claro que vai para a retrospectiva de Hockney que estará na Tate Britain até Maio, mas há bom material sobre Robert Rauschenberg ( exposição que está na Tate Modern), para novas fotografias de Wolfgang Tillmans e um belo ensaio sobre as visões que os artistas têm daquilo que vêem das janelas das suas casas. No editorial escreve-se que um recente inquérito a 200 recém formados de engenharia da Universidade de Bath mostrou que aqueles que tiveram cadeiras de arte e design ofereciam uma vantagem assinalável sobre os outros que não tinham estudado estas matérias. Cada vez mais se associa o estudo de disciplinas artísticas ao desenvolvimento da criatividade. “A mensagem é clara - escreve o editor - a arte realmente muda as pessoas, seja o que fôr que venham a fazer na vida. Por favor digam isso a todos os vossos amigos que dizem não se interessar por arte”.

 

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 VER -  Destaque para duas novas exposições no espaço Central Tejo do MAAT. No espaço Cinzeiro 8, no piso de entrada, José Maçãs de Carvalho volta a mostrar o Oriente através das imagens que foi fazendo ao longo de uma década. “Arquivo e Democracia”,  assim se chama esta exposição, é mais uma peça da série de viagens ao arquivo pessoal de Maçãs de Carvalho, nesta caso centrado em Hong Kong. Os trabalhos apresentados combinam fotografias com video, numa montagem que consegue reconstituir o processo de observação e criativo  numa sequência lógica. É um documento sobre um quotidiano, mulheres filipinas que trabalham como empregadas domésticas em Hong Kong, e que se juntam aos domingos, seu dia de folga, junto à zona central da cidade onde estão as lojas das grandes marcas. A montagem da exposição, a passagem da imagem fixa das fotografias à imagem em movimento do video é feita de uma forma muito conseguida, mostrando afinal como a fotografia se pode prolongar no tempo. No espaço remodelado do primeiro andar, “Central 1”, está a exposição “Dimensões Variáveis”, construída a partir de um conceito importado da publicação “Artistas e Arquitectura”, editada em Paris em 2015. A mostra propõe confrontar a relação entre a arquitectura e as artes plásticas e apresenta trabalhos históricos e actuais de artistas de diversas gerações, nacionais e internacionais, entre os quais Bruce Nauman, Gordon Matta-Clark, John Baldessari, Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, Rui Toscano, Liam Gillick e Ed Ruscha. “Arquivo e Democracia” fica no MAAT até 24 de Abril e “Dimensões Variáveis” até 22 de Maio.

 

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OUVIR - Durante muitos anos a formação clássica do trio de jazz (piano, baixo, bateria) foi a imagem de marca de Brad Mehldau, que explora agora o dueto. Após o disco de final do ano passado com o saxofonista Joshua Redman, juntou-se ao bandolinista e vocalista country Chris Thile, com quem deu uma série de concertos, de onde saíu o disco agora editado. Thile e Mehldau são dois músicos muito diferentes: Brad Mehldau é o melhor pianista de jazz da sua geração e Chris Thile é um virtuoso do bandolim e um vocalista com fama feita na country music., nos blues e interpretações de Bach. Neste disco, há dois temas de Thile, outros dois de Mehldau e um belíssimo original de ambos, a faixa de abertura, “The Old Shade Tree”, proporcionando desde o início uma amostra das capacidades vocais de Thile. E há também algumas versões surpreendentes de originais de outros compositores onde Thile canta com a sua voz de falsete e toca o seu bandolim numa inesperada combinação com as sonoridades do piano. No clássico de Nashville “Scarlett Town”, um tema da dupla David Rawlings e Gillian Welch, Mehldau faz côro ao lado da voz de Thile e o resultado é arrebatador. Destaque para as  versões de canções como  “Don’t Think Twice, It’s All Right” de Bob Dylan, do clássico “I Cover The Waterfront”, um original de Johnny Green imortalizado por Billie Holiday, de “Marcie” de Joni Mitchell ou, ainda, ”Independence Day” de Elliott Smith, aqui numa versão apenas instrumental. “Chris Thile & Brad Mehldau” está disponível em duplo CD, em duplo LP de vinyl (com um tema extra,  “Fast As You Can”, de Fiona Apple) e também no Spotify.

 

PROVAR -  Uma sanduíche pode ser uma coisa fantástica e pode ser uma coisa medonha. Infelizmente a maior parte das sanduíches nos cafés portugueses são medonhas - mesmo as mais básicas. Por exemplo a mais tradicional de todas, a sandes de fiambre, é maioritariamente fornecida sob a forma de uma carcaça amolecida, com textura semelhante a borracha, acidentalmente barrada de manteiga mal espalhada (já nem falo das que levam margarina, que as há), com fiambre em reduzida quantidade, mau corte e qualidade inferior. Na maior parte dos casos o corte é grosso, em vez das fatias finas que têm mais sabor. Se sugerirmos que coloquem uma folha de alface olham-nos como se estivéssemos a pedir para substituir a manteiga por caviar. Se usarmos a variante queijo somos brindados com uma fatia acidental de queijo flamengo sensaborão. Tudo isto piora se passarmos ao presunto, que tem grandes probabilidades de aparecer sob a forma de lascas grossas e algo ressequidas que são um teste à integridade de qualquer dentadura. Nem as organizações modernaças como a Padaria do Bairro ou a Padaria Portuguesa conseguem ultrapassar esta mediocridade sanduicheira básica. O meu conselho é que frequentem sempre o mesmo local, de preferência um café tradicional, que partilhem pacientemente com os empregados da casa como querem a sanduíche, que peçam fiambre “do bom e reforçado” e que ganhem a estima de quem está atrás do balcão. Nestes cafés tradicionais, que gostam de ter clientes regulares e não apenas de passagem, os empregados mantêm-se além das estações e vão conhecendo as manias dos clientes. Felizmente tenho locais assim, como a Confeitaria Valbom, onde me fazem uma magnífica sandes de fiambre onde nada de mal se passa.

DIXIT -  “Hoje não há direita” - Vasco Pulido Valente

 

GOSTO - Da edição, pela Gulbenkian, em três volumes, dos ensaios e artigos de imprensa escritos por Agustina Bessa-Luís entre 1951 e 2007.

 

NÃO GOSTO - Da ausência dos membros do Governo da área da Cultura na apresentação realizada em Lisboa, na Gulbenkian, da recolha de ensaios e artigos de Agustina.

 

BACK TO BASICS - A mudança é o processo pelo qual o futuro invade a nossas vidas - Alvin Toffler

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publicado às 14:00

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O NOVO MUNDO - Durante meses muita gente andou a tapar o sol com a peneira, a ver se as eleições americanas se safavam com um mal menor, uma espécie de bloco central entre os directórios dos partidos Democrata e Republicano, que apenas ofereciam mais do mesmo. Hillary, cujo prazo de validade na política americana, de acordo com os parâmetros de Washington já estava expirado, era a sua proposta comum. Acontece que ela foi percepcionada como uma candidata do sistema, das manhosices políticas instituídas, sem trazer nada de novo. Atrás dela estavam os democratas, mas também a elite republicana que se incomodava com o estilo de Trump. Ora estes bem pensantes são, como se viu, de uma arrogância insuportável aos olhos de uma parte importante da América. Já muito foi dito sobre o olhar distorcido e a imagem tendenciosa que os mídia passaram sobre as eleições e os candidatos. No fundo o resultado destas eleições americanas reafirmou que a característica mais importante de um político é a de ser autêntico, de sentir e acreditar no seu projecto de tal maneira que consiga transmitir essa energia aos seus apoiantes independentemente de tradições, elites e de manobras partidárias e de comunicação. Os derradeiros spots de publicidade dos dois candidatos antes do dia das eleições mostram uma Clinton conformista e um Donald confiante e desafiador. Ao longo dos 600 dias de campanha Trump perdeu apoiantes de peso na direcção dos Republicanos, mudou várias vezes a sua equipa operacional, ignorou conselhos do aparelho e foi em frente baseado no seu núcleo duro. E, assim,  acabou por dar aos Republicanos uma vitória inesperada em toda a linha - para além da sua presidência, também no Senado e na Câmara dos Representantes. Li algures, num blog americano,  uma frase que me ficou na memória destes dias: “já passámos por derrocadas económicas e guerras devastadoras - mas hoje em dia as pessoas levam nos seus bolsos aparelhos que são supercomputadores e que ajudam a mudar o que nos rodeia todos os dias e a influenciar quotidianamente as nossas vidas, e isso é algo de novo e que tem um impacto enorme na maneira como o mundo funciona”. A Web Summit, que aí está, no fundo, é sobre isto. E é neste novo mundo que tudo se passará.

 

SEMANADA -  O Ministério da Cultura vai nomear mais três vigilantes para o Museu Nacional de Arte Antiga onde há dias um visitante derrubou e partiu uma escultura do século XVII, do Arcanjo Miguel ; a estação do metropolitano de Arroios fechou devido ao elevado tráfego para a web summit: soube-se esta semana que o IPO do Porto despediu uma farmacêutica que estava em período experimental quando se apercebeu que estava grávida; o consumo actual de leite em Portugal é o mais baixo desde há 32 anos; no último ano emigraram 101 203 portugueses, 32301 dos quais com destino ao Reino Unido; um estudo da Universidade de Aveiro indica que 70% das farmácias dão prejuízo; estão á venda na internet licenças de taxis com valores que vão dos 100 aos 200 mil euros;o crédito à habitação voltou aos níveis de 2010; uma sondagem publicada esta semana para o Negócios e o Correio da Manhã indica que Rui Rio pode obter melhores resultados que Passos Coelho em todos os cenários de confronto com António Costa; o número de professores que se aposentaram este ano é o mais baixo desde 2004; o peso da economia paralela aumentou nos últimos dois anos e já ultrapassa os 25% do PIB.

 

ARCO DA VELHA - Em todo o mundo são tiradas cerca de 93 milhões de selfies por dia.

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FOLHEAR - Nesta semana em que meio mundo pensa como vai ser a América de Trump, proponho uma escritora norte-americana, politicamente incorrecta e vocacionada para contar episódios picantes com sentido de humor. Chama-se Therese ONeill (writerthereseoneill.com) e escreveu um delicioso livro sobre os bons costumes intitulado “Indecoroso - O Guia da Dama Vitoriana Para o Sexo, Casamento e Conduta”. Se o começar a ler desprevenido poderá pensar que é um texto escrito no século XIX nos tempos da rainha Vitória. A escritora vive no Oregon, um dos estados onde Hillary venceu, embora por reduzida margem. Therese ONeill escreve textos de humor e artigos sobre História para diversas publicações e este é o seu primeiro livro, publicado em Portugal em simultâneo com a edição norte-americana pela Guerra & Paz. Os títulos dos capítulos são todo um episódio: “Baldes para evacuação intestinal”, “A Arte traiçoeira de tomar banho”, “Fazer a corte”, “A noite de núpcias”, “Ser uma boa esposa”, “Orgasmos medicinais e outras ficções” e o “Vício secreto”, para citar só alguns. Ilustrado com desenhos que evocam a época vitoriana,  este “indecoroso” é uma lufada de ar fresco nos ventos que vêm da América.

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VER - Nos últimos 14 anos o fotógrafo português Rui Calçada Bastos viveu em Berlim e fez dessa cidade o centro das suas expedições pela Europa. Foi registando imagens, observações aparentemente banais, mas que exprimem as suas memórias e a sua visão pessoal dos locais por onde andou, efectuadas em Berlim, mas também em Lisboa, Budapeste, Paris, Estocolmo e Riga, cidades com que o autor confessa ter particulares motivos de afeição. Intitulada “Walking Distance” (na imagem) esta é a mais interessante mostra da nova série de exposições que ficou patente no MAAT, neste caso a partir desta semana e até 16 de Janeiro. Há também uma exposição que assinala os 50 anos de actividade de Eduardo Batarda, intitulada “Misquoteros - A Selection of T Shirts”, um pretexto para um jogo de palavras  que formam 646 frases espalhadas em 30 pinturas. A série completa-se com“Liquid Skin”, uma instalação montada a partir de excertos de filmes de Joaquim Sapinho e Apichtapong Weerasethakul.

Outras sugestões -  “Os Meus Álbuns de Família Um a Um” - que agrupa pela primeira vez os 36 álbuns que  Lourdes Castro fez, na Culturgest, até 8 de Janeiro. No Atelier Museu Julio Pomar o novo convidado é Julião Sarmento. Esta série de convidados cujas obras dialogam com as de Pomar foi iniciada por Rui Chafes e terá, a seguir, Pedro Cabrita Reis - Rua do Vale, até 29 de Janeiro.

Passando para o Porto destaque para a grande exposição de Amadeo Souza Cardoso no Museu Nacional Soares dos Reis que vem em Janeiro para Lisboa para o Museu do Chiado. E, por fim, também no Porto, na Galeria Fernando dos Santos, “Configurações” - pinturas recentes de Pedro Calapez, que inaugura este sábado e fica até 7 de Janeiro, na Rua Miguel Bombarda 526.

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OUVIR - Paolo Conte é um compositor e músico italiano que navega pelo jazz com influências de valsas, milongas e do charleston. O seu álbum mais recente, “Amazing Game - Instrumental Music” tem 23 temas feitos desde os anos 90 até agora, inicialmente destinados a bandas sonoras de peças de teatro, filmes, alguns trabalhos experimentais. A improvisação joga também um importante papel em algumas das faixas onde Paolo Conte comanda os seus músicos com o piano mas deixando-os soltos em momentos  de virtuosismo instrumental e evidente cumplicidade. A música de Paolo Conte é feita de uma hábil combinação de melodias e de ritmos, frequentemente evocando memórias de outras sonoridades. Conte nasceu em 1937, estudou direito, foi advogado e tornou-se conhecido como músico a partir da segunda metade dos anos 60 graças a versões de composições suas tornadas populares por nomes como Adriano Celentano que tornou “Azzuro” num êxito. Além de compositor e  músico, o trabalho e o talento de Paolo Conte em áreas como a poesia e a pintura têm sido distinguidos e é conhecida a sua proximidade a nomes como Hugo Pratt, com quem trabalhou em diversos projectos. O seu primeiro disco a solo data de 1974 e desde então editou 16  álbuns de originais e outros tantos de gravações ao vivo e compilações. Este “Amazing Game” é um exemplo da sua versatilidade musical e é um belíssimo guia para descobrir a sua obra em diversas fases. Edição Decca/ Universal, distribuída em Portugal.

 

PROVAR - Gosto de ovos verdes, mas há muito que não provava uns tão bons como as de uma pequena petisqueira situada em Campo de Ourique, chamada Chiringuito - Tapas Bar. O menu está cheio de boas ideias, inclui propostas bem tradicionais como peixinhos de horta, migas de tomate, tábuas de queijos e enchidos, uma variedade de ovos - desde mexidos com espargos ou farinheira, até ovos rotos , tortilha de batata e cebola e os tais ovos verdes que constituiram uma boa entrada. Depois veio rim frito com esparregado e bacalhau dourado à Brás, ambos muito satisfatórios. Fiquei com curiosidade pela coroa de tamboril e gambas e pela empada de perdiz e as costeletas de borrego panadas. O serviço é familiar e atento, um dos vinhos a copo é o Chaminé, que foi o escolhido. Ao longo da semana há propostas de pratos para cada dia, desde feijoada à transmontana até ensopado de borrego ou pataniscas. Ao Domingo há buffet de cozido e à segunda fecha para descanso.  Rua Correia Teles 31 B, telefone 211 314 432.

 

DIXIT -  “O que sei é que pessoas como eu, e provavelmente a maioria dos leitores do New York Times, de facto não perceberam o país em que vivem” - Paul Krugman, sobre a vitória de Trump.

 

GOSTO - Da plataforma GPS (Global Portuguese Scientists) que visa juntar os talentos portugueses espalhados pelo mundo em diversos centros de investigação e que até aqui não tinham qualquer ligação entre si

 

NÃO GOSTO - Da forma como a RTP se prestou a ser manobrada por um fugitivo procurado pelas autoridades, servindo-lhe de escudo e acedendo às suas exigências - coisa pouco consentânea com a noção de serviço público.

 

BACK TO BASICS - Qualquer americano que se disponha a candidatar-se a Presidente devia automaticamente, e por definição, ser impedido de o fazer - Gore Vidal

 

 

 

 

 

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