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SOBRE A IGUALDADE - Caso ainda não tenham notado anda meio mundo aflito com o Regulamento Geral de Protecção de Dados, que é suposto entrar em vigor a 25 de Maio próximo. Abundam os cursos de formação e os pareceres de gabinetes de advogados sobre o assunto, todos a aproveitar o momento e a escassez de tempo, tal como os limpadores de mato aproveitaram as superiores orientações de cortar a eito e depressa. O mais engraçado de tudo é que na semana passada o Conselho de Ministros aprovou que a protecção de dados vem para todos, mas não para as administrações públicas - e isto pelo menos durante os três próximos anos, prazo que pode até ser aumentado. De facto o Governo aprovou no Conselho de Ministros da semana passada uma proposta de lei que prevê a isenção de coimas para o Estado em caso de infração. A ministra da Presidência, Maria Manuel Leitão Marques, sempre atenta à inovação, estimou os custos administrativos com o novo regulamento na ordem de “centenas de milhões” de euros. O argumento utilizado para justificar a excepção prende-se com o critério de utilização dos dados - uma falsidade, já que se sabe que o Estado usa e abusa do cruzamento de dados de cidadãos entre organismos, muitas vezes com duvidosa legitimidade para tal. Era suposto existir um período de transição para as empresas nacionais de 18 meses, que o Estado convenientemente eliminou para poder cobrar mais umas coimas, sublinhando que as PME’s portuguesas têm que cumprir o referido regulamento, mesmo que o Estado o não faça. O Sol não nasce igual para todos, é o que é...

 

SEMANADA - O mesmo Governo que prometeu baixar impostos conseguiu que a carga fiscal atingisse em 2017 o valor mais alto dos últimos 22 anos; na realidade em 2017 a carga fiscal aumentou para 37% do Produto Interno Bruto, face ao peso de 36,6% que tinha na economia em 2016; o Instituto Nacional de Estatística destaca os aumentos da receita dos impostos sobre a produção e importação (6,1%), nomeadamente o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), das contribuições sociais (5,1%) e dos impostos sobre o rendimento e património (3,3%); as ajudas do Estado à banca nesta década já custaram 17,1 mil milhões de euros aos contribuintes, quase 9% do PIB; no ano passado os casamentos realizados em Portugal renderam quatro milhões de euros em taxas diversas cobradas pelo Estado; ao analisar o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) detectou "cerca de 95 milhões de euros cobrados indevidamente" nos últimos cinco anos; segundo o presidente do conselho de reitores das universidades, Portugal está ao nível da Hungria e da Roménia no investimento no ensino superior; António Costa fez uma acção de propaganda a limpar matas; Rui Rio fez uma acção de propaganda a visitar quartéis de bombeiros; em Portugal uma em cada cinco mulheres consome produtos dietéticos.

 

ARCO DA VELHA - Portugal é o país com maior carga de parcerias público-privadas, cujos custos representam cerca de 10,8% do PIB, cinco vezes mais que a média europeia.

 

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FOLHEAR - A edição de abril da revista Monocle dá destaque a Maria de Lourdes Modesto, que apresenta - e bem -  como a mais importante autora portuguesa sobre temas de gastronomia. Trisha Lorenz, a correspondente da revista em Portugal, traça um perfil de Maria de Lourdes Modesto e explica como ao longo da sua vida ela contribuíu para elevar o conhecimento e a compreensão da cozinha tradicional portuguesa. Ao mesmo tempo elucida os leitores sobre algumas das particularidades da comida portuguesa. A conversa passou-se no restaurante Monte Mar, do Guincho, com elogios aos seus filetes de pescada com arroz de berbigão. Na conversa com Trish Lorenz Maria de Lourdes Modesto elogia dois críticos gastronómicos portugueses: o já falecido David Lopes Ramos e Duarte Calvão, do blogue Mesa Marcada. No roteiro da última página da Monocle o Porto surge como uma das cidades em destaque com referências à guesthouse My Home In Porto, à Casa de Chá da Boa Nova e ao café Progresso, entre outros locais. Portugal aparece ainda referido com uma curta nota sobre os azulejos da fábrica Viúva Lamego. Outros artigos a ler: uma entrevista com Angela Ahrendts, que saíu da Burberry para dirigir a cadeia de lojas da Apple; e uma iniciativa austríaca que visa dar projecção internacional aos artistas plásticos do país.

 

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VER - Ponto prévio: segunda feira a partir das 19h00  regressa o ciclo de exposições nas montras do British Bar, no Cais do Sodré, organizadas por Pedro Cabrita Reis e que desta vez apresenta Pedro Calapez, Pedro Valdez Cardoso e Fernanda Fragateiro. Passemos a outros temas: um dos locais incontornáveis para quem gosta de ver fotografia é o Foam Fotografiemuseum, de Amsterdão . Mas se lá não puder ir o site está organizado por forma  a dar-lhe uma boa ideia do que está em exposição. Seydou Keita é um fotógrafo do Mali, que viveu entre 1921 e 2001 e que, sobretudo nas décadas de 50 e 60 do século passado, fotografou as pessoas de Bamako, a capital do país, em imagens a preto e branco que transmitem a intensidade dos retratados (na imagem). As pessoas visitavam o estúdio de Keita para serem fotografadas com as suas melhores roupas e penteados. A exposição abre a 5 de Abril e ficará no Foam até 20 de Junho. Entretanto podem sempre descobrir o que lá há para ver em www.foam.org . Dentro de portas há outras sugestões. No MAAT Miguel Palma apresenta obras sobre papel e o argentino Tomás Saraceno mostra na Galeria Oval  “Um Imaginário Termodinâmico”. Na Lisbon Gallery (Praça do Princípe Real 19) está “Polaroid”, uma mostra de 13 projectos de uma nova geração de designers que trabalham em Portugal. No Museu Colecção Berardo está a exposição “Linha, Forma e Cor” que apresenta obras de artistas como Piet Mondrian, Bruce Nauman, Frank Stella, Cy Twombly,  Fernando Calhau, José Pedro Croft, Fernanda Fragateiro, Pedro Cabrita Reis, António Sena e Ângelo de Sousa, entre outros.

 

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OUVIR - O trio constituído por Keith Jarrett (piano), Gary Peacock (baixo) e Jack DeJohnette (bateria)  - e que ficou conhecido informalmente como The Standards Trio - separou-se em 2014 depois de uma carreira de mais de 25 anos. Em fevereiro foi publicado um novo disco destes músicos, “After The Fall”, um CD duplo que recupera uma gravação ao vivo inédita, realizada em 1988 em Newark. Acontece que este registo merece ser colocado entre os melhores que o grupo lançou. Aqui estão temas tradicionais do cancioneiro norte-americano, nos quais se nota o vigor da capacidade de improvisação do trio - desde logo na faixa de abertura, “The Masquerade Is Over” que ganha fulgor ao longo de 16 minutos. Aqui estão clássicos como “Moment’s Notice” de Coltrane, “Doxy”, de Sonny Rollins, “Bouncin’With Bud” de Bud Powell, “Scrapple From The Apple” de Charlie Parker ou ainda “Autumn Leaves”, “When I Fall In Love” ou uma versão inesperada de “Santa Claus Is Coming To Town”. Gravado no final de um período de convalescença de Jarrett, e após um hiato de actuações ao vivo de quase dois anos, este álbum evidencia o virtuosismo, a força e a coesão do trio, assim como a sua capacidade de reinterpretar clássicos. O próprio Jarrett sublinha nas notas de capa que “ficou surpreendido pela forma como os três músicos tocaram nesse concerto, depois de um longo período de pausa. Duplo CD ECM, disponível no Spotify.

 

PROVAR - De 5 a 15 de Abril regressa o “Peixe em Lisboa”, que se tem afirmado como o maior evento dedicado à gastronomia do mar realizado em Lisboa, este ano de novo no Pavilhão Carlos Lopes. Nesta 11.ª edição do Peixe em Lisboa estarão presentes reputados  chefes internacionais, com destaque para os responsáveis do Dinner, de Londres, do Il Pagliaccio de Roma, de Ana Ros, considerada Melhor Chefe Feminina do Mundo em 2017 pelo seu trabalho no restaurante Hisa Franko, na zona rural da Eslovénia, Andrew Wong que assinala a estreia da cozinha chinesa no evento e Iván Domínguez, chefe do restaurante Alborada, na Corunha. Entre os portugueses estarão José Avillez, do Restaurante Belcanto,  João Rodrigues do Restaurante Feitoria e também jovens chefes nacionais como João Oliveira e Tiago Bonito, Vasco Coelho, Diogo Noronha e Diogo Rocha. O Peixe em Lisboa 2018 terá ainda dez restaurantes da região de Lisboa que funcionam em permanência, do meio-dia à meia-noite e que se destacam por pratos à base de peixes e mariscos portugueses, com destaque para três estreantes: a Casa do Bacalhau, Loco e Mariscador. Além destes estarão o Arola, o Ibo, o Kanazawa, a Taberna Fina, o Ritz Four Seasons e o Ribamar, de Sesimbra. Este ano se o tempo permitir existem esplanadas, a entrada é 15 euros, os bilhetes estão à venda na Ticketline e há concursos para nomear as melhores pataniscas e pastéis de nata.

 

DIXIT - “A ideia é sempre juntar pessoas” - Manuel Reis

 

GOSTO - O filme “São Jorge”ganhou sete prémios Sophia da Academia Portuguesa de Cinema, entre eles o de melhor realização para Marco Martins e de melhor actor para Nuno Lopes.

 

NÃO GOSTO - Da intenção de a Meo passar a cobrar um euro por cada fatura em papel enviada aos seus clientes.

 

BACK TO BASICS - “Temos a arte para evitar morrermos da verdade” - Nietzsche



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ELEIÇÕES - Não é novidade dizer-se que existe um descrédito generalizado no parlamento, nos partidos e nos políticos. Nesta conjuntura, duas associações, a Sedes - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social e a APDQ - Associação por uma Democracia de Qualidade,  apresentaram um projecto de reforma eleitoral que preconiza um sistema de representação proporcional personalizada, inspirado no modelo alemão, que conjuga as listas territoriais com os círculos uninominais e um círculo nacional de compensação, para garantir um equilíbrio final das representações partidárias. Não é a primeira vez que a questão da introdução dos círculos uninominais, permitidos pela revisão Constitucional de 1997, é apresentado como uma solução para a crise de confiança dos eleitores em relação aos deputados. O objectivo é fazer uma reforma do sistema eleitoral que reforce o poder de escolha dos eleitores e responsabilize os eleitos - cada eleitor exerce o duplo voto no boletim, assinalando, por um lado, a força política preferida, na lista do círculo territorial intermédio e, por outro, o deputado que escolhe no respectivo círculo uninominal. Esta proposta já foi apresentada ao Presidente da República e pretende ser apreciada no Parlamento. Um dos seus objectivos, segundo Ribeiro e Castro, um dos seus promotores, é  provocar uma transformação profunda na formação das listas, com os partidos a terem que ser mais cuidadosos com os candidatos que apresentam, privilegiando a sua relação com os eleitores e não com os equilíbrios internos de forças do aparelho. Por mim penso que a adopção desta proposta seria um grande passo em frente no nosso sistema - resta saber se os partidos políticos têm coragem para darem este passo ou se preferem manter o imobilismo e o caduco sistema eleitoral actual.

 

SEMANADA - Em 2017 registaram-se mais 24 mil mortes que nascimentos e a população portuguesa está a encolher há nove anos consecutivos; os tempos de espera por consultas da especialidade em algumas unidades do Serviço Nacional de Saúde chega a ultrapassar os quatro anos; de acordo com o gabinete de estatísticas da UE, as maiores dívidas públicas são as da Grécia (177,4% do PIB), Itália (134,1%) e Portugal (130,8% do PIB); a Direcção Geral do Orçamento cativou 100% das verbas do Turismo do Norte, colocando em risco o pagamento de salários e ameaçando fechar os postos do aeroporto e do centro do Porto; a Associação Nacional dos Municípios diz que o plano do ministro Eduardo Cabrita, de limpar matas em dois meses, “não é exequível”; em 2017 Marcelo Rebelo de Sousa teve mais tempo de presença nos espaços informativos das televisões que Cavaco e Sócrates juntos dez anos antes; um estudo revelado esta semana indica que em Portugal existem cerca de 48 mil esquizofrénicos, 16% dos quais sem qualquer acompanhamento médico; um estudo do ACP indica que 80 por cento dos portugueses utilizam o automóvel próprio em deslocações para o trabalho; a DECO recebeu 405 mil queixas em 2017, 8o% delas terminaram a favor do consumidor e o sector das telecomunicações é o principal alvo de reclamações.

 

ARCO DA VELHA - Uma juíza de Beja solicitou ao hospital local uma perícia psiquiátrica a um homem falecido há dois anos e da notificação fazia parte a indicação do cemitério onde está sepultado e a localização da campa.

 

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FOLHEAR - A Monocle de Fevereiro tem o tema do futuro dos mídia na capa. e inclui diversos artigos interessantes sobre o assunto. A Monocle, que preserva ciosamente a sua existência na edição impressa, que não é disponibilizada na net, que não tem site com conteúdos da revista, tem em paralelo uma intensa e diversa actividade digital como uma rádio online, uma área video com numerosos pequenos filmes entre o documentário e a informação, além de diversas newsletters digitais. No editorial Tyler Brulée defende a sua ausência de plataformas como o Instagram porque considera que as marcas de comunicação não devem revelar demasiado sobre elas próprias. O problema com as redes sociais, sublinha, é que o facto de estarem constantemente activas obriga a dizer mais do que aquilo que muitas vezes se pretende. Outros temas desta edição - o portfolio de moda é inteiramente fotografado no Restelo, parte dele na zona comercial junto ao Careca; e existe um artigo sobre a recuperação do antigo cinema Odeon para Hotel e restaurante com incorrecções factuais - a mais humorística das quais é dizer que Salazar frequentava o cinema com “a sua mulher e netos” - enfim, vai para o rol de anedotas daquilo que correspondentes mal informados são capazes de escrever. Muito bom o suplemento patrocinado dedicado à importância do design na Lufthansa.

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VER - Até domingo 28 de Janeiro ainda pode ver uma das últimas representações da versão de “Sonho De Uma Noite de Verão”, a comédia romântica de Shakespeare escrita no final do século XVI, numa versão da produtora teatral Espaço Em Branco com encenação de Luis Moreira. Destaco a adaptação do texto, a partir de uma tradução de Fernando Villas Boas.que mantém o espírito de Shakespeare bem ajustado a esta época sem perder o enquadramento original. O trabalho de todos os actores é muito bom. Como Luis Moreira faz questão de fazer notar no programa do espectáculo, o motor do texto é o ciúme e a tensão que ele cria na relação entre personagens. Mais não digo, esta peça, nesta encenação merece ser vista, e está no Teatro do Bairro, rua Luz Soriano 63. Sexta e sábado às 21h30, Domingo às 17h00.  Reservas espacoembranco.teatro@gmail.com ou 916 911 100. Já agora a companhia Espaço em Branco não é subsidiada e as representações têm estado cheias.

Outras sugestões: em Matosinhos, a Galeria-livraria O Manifesto (Rua França Junior 1) apresenta até 31 de Março “Coming Home” de David Guttenfelder, um importante fotógrafo norte-americano que mostra imagens da Coreia do Norte feitas durante os anos em que lá foi correspondente da Associated Press e, depois, do seu país, os Estados Unidos, quando regressou ao fim de 20 anos no estrangeiro. Todas as fotografias foram feitas com smartphone e vale a pena seguir o seu Instagram em dguttenfelder.

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OUVIR - Numa recente leitura online da revista de jazz  “Downbeat” descobri “Directions”, um disco assinado por João Barradas na editora nova-iorquina Inner Circle Music. E quem é João Barradas? Ribatejano, natural de Porto Alto, a fazer agora 26 anos e já com uma carreira longa, que incluíu formação na área da música clássica e do jazz,  João Barradas é um dos mais conceituados e reconhecidos acordeonistas europeus. Em 2016 gravou, para a Inner Circle Music, o seu primeiro álbum enquanto líder - “Directions”, que teve produção de Greg Osby e contou com as participações de Gil Goldstein e Sara Serpa. O grupo é formado por João Barradas (acordeão), André Fernandes (Guitarra), João Paulo Esteves da Silva (Piano), André Rosinha (Contrabaixo) e Bruno Pedroso (Bateria). . O disco começa por uma faixa que é uma espécie de manifesto, pontuada pela voz de Greg Osby. O acordeão está sempre em destaque, desde a balada  “Varazdin’s Landscape” , às sonoridades folk de “Amalgamat” (onde surge a voz de Sara Serpa) ou a evocação de Piazzolla e o seu novo tango em “The Red Badge Of Courage”. Outro acordeonista, Gil Goldstein, faz um arrebatador dueto com Barradas em “Tiling For The Plane” e Greg Osby participa ainda, enquanto saxofonista, em duas faixas, “Unknown Identity” e “Ignorance”, ambas a sublinhar a ligação de Barradas ao jazz e à música improvisada. Nas plataformas de streaming pode não só ouvir este disco como o outro álbum gravado para a Inner Circle Music, “Home - An End For A New Beginning”.

 

PROVAR - Finalmente fui ao andar gourmet do El Corte Ingles, no sétimo piso do edifício em Lisboa, onde só se chega depois de percorrer toda a restante loja. Resolvi deixar de lado as modas insensatas de nomes como Kiko Martins, as propostas geralmente sensatas de José Avilez e concentrei-me em ver o que ali soprava do lado de Espanha. Amante da Galiza fui direito ao Atlántico, uma criação de  Pepe Solla (uma estrela Michelin no Casa Solla, em Pontevedra) dedicada aos petiscos galegos com uma interpretação muito pessoal. O Atlántico está logo à saída das escadas rolantes e tem uma área confortável que contrasta com a amálgama barulhenta dos chefes da moda e sobretudo com o ruído do salão de festas mexicano ali instalado no meio. Salvaguardados da poluição, já bem sentados, constatei que a escolha do Atlántico tinha sido boa. Não se provaram os mexilhões com caril verde que são a marca de Solla, mas outros petiscos deram boa prova de si. No couvert vinha bom pão, azeitonas levemente picantes e uma surpreendente manteiga com algas. A seguir vieram uns bons croquetes de marisco, acabados de fazer, e umas zamburinas (pequenas vieiras, habituais na Galiza), temperadas com um molho de azeite e alho, que estavam suculentas, o tempero q.b para não tirar o sabor de mar que as caracteriza. No fim um atum com paprika agridoce e algas foi um remate perfeito para uma noite de petisco galego. A lista de vinhos inclui nos brancos portugueses um alvarinho, um douro, um dão e um alentejo, todos bem escolhidos, e quatro propostas da Galiza - distribuição que tem uma réplica semelhante nos tintos. Para a próxima experimento as tapas de Aitor Ansorena, um embaixador da cozinha basca, com o seu Imanol, onde me dizem ter que experimentar alcachofras fritas.

 

DIXIT - "Não quer dizer que o pinhal não vá ser pinhal. O pinhal vai ser pinhal e só é pinhal se tiver pinheiro. Mas, para nós termos um bom pinhal e um bom pinheiro que seja, também ele, resistente ao fogo, é preciso que este pinhal não seja só de pinheiro". - António Costa

 

GOSTO - Há quatro portugueses entre os jovens mais brilhantes da União Europeia, segundo a revista Forbes: o bailarino Marcelino Sambé que está no Royal Ballet de Londres, as empreendedoras Filipa Neto e Lara Vidreiro da Chic By Choice na área do comércio electrónico e Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular, na categoria Direito e Política.

 

NÃO GOSTO - Um ano depois de ter sido detectado um problema informático que omitiu dados sobre o apagão das offshores, envolvendo informação sobre dez mil milhões de euros, as Finanças não dizem se há investigação aberta ou responsáveis apurados e a justiça não constituíu arguidos.

 

BACK TO BASICS - Os conselhos devem ser julgados pelos resultados que provocam e não pelas intenções que os originam - Cícero

 

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PULHICE - Quase metade dos portugueses abstém-se nas eleições e a percentagem é maior ainda entre os que têm menos de 35 anos. Isto quer dizer que praticamente metade da população - 43,07% nas mais recentes legislativas - não quis eleger deputados, não confia nos políticos e nos partidos onde se organizaram. E que fazem os partidos, os deputados eleitos por metade da população e os seus dirigentes? Em vez de procurarem conquistar a confiança e mostrarem-se como exemplo de probidade, revelam-se um exemplo de dissimulação e aldrabice. O que se passou com o processo da nova Lei de Financiamento dos Partidos é a demonstração clara da pouca vergonha instalada na Assembleia da República. O funcionamento do regime  não é barato - e o que está aqui em causa não é o custo financeiro da democracia e do funcionamento do sistema, o que está em causa é a ética política e sobretudo a maioria dos partidos não querer fazer de todos nós parvos. Na Assembleia da República PS, PSD, PCP, Verdes e Bloco de Esquerda organizaram-se numa conspiração de silêncio, reunindo à porta fechada, sem divulgação de agenda, escondidos dos jornalistas acreditados no Parlamento, sem sequer redigirem actas do que se passava nas reuniões. A coisa é de tal modo que agora não se sabe quem propôs o quê nas alterações verificadas ao financiamento dos partidos. Quando chegou a hora da votação apenas o CDS e o PAN votaram contra a conspiração. A frente única da aldrabice aprovou a lei. Até o líder da Comissão de Transparência da Assembleia da República não foi informado do que se passava, tão pouco o presidente da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, muito menos o Presidente da República. Fixem o nome dos actuais líderes parlamentares dos partidos - eles são os primeiros responsáveis por este golpe do baú. Haverá melhor retrato da degeneração do sistema político do que este?

 

SEMANADA - A Câmara Municipal de Lisboa, através da EGEAC, comprou 30 mil cartolas vermelhas e pretas por 57 mil euros para oferecer aos espectadores da passagem do ano no Terreiro do Paço; as festas de fim de ano em Lisboa vão custar 650 mil euros, igualmente suportados pela EGEAC, que vive essencialmente das receitas geradas pelos visitantes do Castelo de S. Jorge; a esquadra de Arroios, em Lisboa, foi encerrada entre 22 de Dezembro e 2 de Janeiro por falta de agentes - indica um aviso afixado na porta das instalações; Bragança e Beja são os dois distritos que captaram maior números de imigrantes estrangeiros entre 2008 e 2016; os estudantes estrangeiros no Instituto Politécnico de Bragança têm um impacto anual de 12,3 milhões de euros na economia local; o investimento estrangeiro em Portugal no primeiro semestre de 2017 foi de 119 mil milhões de euros; o número de alunos do ensino superior a estudarem para serem professores  é o mais baixo dos últimos 20 anos; em novembro 44% das páginas dos sites auditados pela Marktest foram acedidas através de equipamentos móveis; segundo o estudo Os Portugueses e as Redes Sociais, também da Marktest,  39% dos utilizadores de redes sociais leem comentários de consumidores sobre produtos/serviços antes de comprar; familiares de Miguel Frasquilho, ex-secretário de Estado do Tesouro e Finanças e ex deputado do PSD, terão recebido transferências de uma conta na Suíça, detida pela Espírito Santo Enterprises.

 

ARCO DA VELHA - Apesar de viver em Lisboa com o ministro Vieira da Silva, desde 2009, a deputada Sónia Fertuzinhos continua a receber, todos os meses, do Parlamento, mais de mil euros de subsídio de deslocação para Guimarães.

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FOLHEAR - Desde 2015 a revista “Monocle” edita em dezembro uma publicação intitulada “Forecast”, que pretende apontar as principais tendências para o ano seguinte. Na edição deste ano recomenda-se a leitura de um ensaio de David Milliband, ex-responsável pela política externa do Reino Unido, onde defende que a globalização é perseguida à esquerda por ser inimiga da igualdade e  perseguida à direita por ser terreno da contestação à ordem estabelecida. Um dos fenómenos da crise actual da globalização, segundo Milliband, vem do facto de a economia e a política, que durante muito tempo se entenderam, estarem agora em divergência de forma acentuada. É uma visão interessante da crise mundial. A revista aborda ainda a importância de ter nas cidades locais confortáveis para pessoas de idade, com comércio de rua e zonas que incentivem que os residentes mais velhos façam parte da comunidade e participem nela - aqui está um bom lembrete para os responsáveis por Lisboa, que preferem atirar os mais velhos para fora da cidade e das zonas onde sempre viveram. Já agora, a ler a Forecast descobriu que a nova exportação suíça são camarões, que começaram a ser produzidos em grande quantidade no país para serem exportados para toda a Europa. Para rematar uma visão imperdível sobre aquilo que faz da Holanda um país especial: “se não fossemos criativos, estávamos condenados a viver abaixo do nível do mar e a ficarmos afogados” - diz um dos entrevistados.

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VER -  Finalmente consegui ir à Bienal de Coimbra, que encerra já no último dia do ano depois de ter inaugurado a 11 de Novembro. Trata-se da segunda edição desta segunda Bienal de Arte Contemporânea, esta dedicada ao tema “Curar e Reparar”. A iniciativa representa um assinalável esforço da cidade e da região Centro para estabelecer uma mostra internacional de tendências, em muitos casos com obras feitas expressamente para os locais onde são exibidas - e várias delas claramente efémeras como a própria Bienal. O espaço magnífico do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova é aquele onde melhor foi conseguida a materialização do conceito fundador deste ano e onde estão claramente as mais conseguidas obras inéditas e também as apresentações de obras de criadores estrangeiros aqui mostradas pela primeira vez em Portugal. O efeito conseguido neste antigo Mosteiro, que na maior parte do século XX albergou um quartel e é hoje ainda propriedade militar, abandonada e decadente,é verdadeiramernte impressionante. Destaco os trabalhos de Fernanda Fragateiro, Francis Alys, James Lee Byars, Julião Sarmento e William Kentridge, que aliás proporciona um final telúrico do percurso do Mosteiro.Depois disso é muito difícil encontrar paralelos com as exposições apresentadas nos outros seis locais da Bienal - algumas pretensiosas e vazias, outras falhadas, outras ainda desnecessariamente a procurarem justificativos ideológicos que sustentem uma prestação plástica medíocre. A curadoria foi de Delfim Sardo com Luiza Teixeira de Freitas.

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OUVIR - A primeira metade da década de 60 foi a época de ouro da aproximação do saxofonista Stan Getz à música brasileira. São os anos Bossa Nova, durante os quais ele lançou cinco álbuns agora reunidos numa caixa, pela prestigiada editora Verve, para quem estas preciosidades foram gravadas. E quais são esses álbuns? Comecemos por “Big Band Bossa Nova”, com arranjos de Gary MacFarland, onde se destacam interpretações instrumentais de temas como Melancolico, Chega de Saudade, e Samba de Uma Nota Só.  Em 1962 Getz junta-se ao guitarrista Charlie Byrd e edita “Jazz Samba”, onde se destacam temas como Desafinado, O Pato e Baía. Pouco tempo depois surge “Jazz Samba Encore”, já com participações de Luiz Bonfa e Maria Toledo que cantam Só Danço Samba, Insensatez ou Saudade Vem Correndo. Depois  Stan Getz e o guitarrista Laurindo Almeida na guitarra fazem um disco pouco conhecido que explora novos caminhos no cruzamento entre o saxofonone e a guitarra. E por fim, a jóia da coroa desta colecção surge quando Stan Getz se junta a João Gilberto, com a participação de Antonio Carlos Jobim, no LP “The Girl From Ipanema”, onde além do tema título se destacam  Desafinado, Corcovado, O Grande Amor e Vivo Sonhando. Para além desta caixa de CD’s “Stan Getz - Bossa Nova Years”, a Verve lançou também   “The Divine Miss Dinah Washington”  e  “Classic Lady Day”, de Billie Holiday, ambas igualmente reproduzindo cinco LP´s originais.


PROVAR - O panorama gastronómico em Lisboa andou morno este ano e a coisa resume-se assim: alguns bons restaurantes, na comida, serviço e ambiente, degradaram-se em relação aos seus clientes habituais e esmeram-se em relação aos visitantes estrangeiros.  A falta de mão de obra qualificada começa a fazer-se sentir nos estabelecimentos de maior prestígio, onde a rotação de colaboradores é cada vez mais visível. Sobretudo nos restaurantes localizados nas zonas mais turísticas o cliente nacional é tratado pelos empregados de mesa da mesma forma que os taxistas tratam um cidadão português à chegada ao  aeroporto. Claro que há excepções, mas elas são reduzidas e pouco frequentes entre os chamados chefs da moda, uma raça que começa a ser uma praga e a quem é permitido o que não se tolera a um empregado de balcão de uma tasca de bairro. No fundo tudo isto radica numa certeza, que é a galinha de ovos de oiro dos novos grupos empresariais da restauração: os clientes portugueses são uns chatos que aparecem eventualmente várias vezes ao ano se se sentirem bem tratados e os estrangeiros muito raramente repetem a visita; os primeiros não gastam muito e torcem o nariz aos preços dos vinhos e de fantasias culinárias, os segundos não se queixam dos preços e sorriem pasmados. A variedade fast food dos novos chefs é a mais recente praga - depois de anos a fazerem menus degustação muitas vezes insuportáveis, dedicam-se agora a uma variedade de comida rápida feita com menos regras e preceitos que os existentes em qualquer McDonald’s. Depois das estrelas Michelin o batalhão dos chefs de aviário entrou no campeonato dos food corners, como o que agora abriu no El Corte Inglés de Lisboa, Resta a consolação de bons restaurantes por enquanto ainda fora de zonas turísticas e das tascas dedicadas à cozinha popular.

 

DIXIT - “Sou uma lobista social; se eu quisesse estar na política já estaria” - Paula Brito e Costa

 

GOSTO - Da forma como Marcelo Rebelo de Sousa mostrou ao longo do ano como se pode estar de forma diferente no mais alto cargo político do país, a dar exemplos ao resto dos políticos.

 

NÃO GOSTO - Vários jogadores da equipa de futebol do Rio Ave estão a ser investigados por suspeita de viciação de resultados, levando a sua equipa a perder.

 

BACK TO BASICS - “O género humano não pode suportar muita realidade” - T. S.  Eliott

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APARTHEID - A frente de esquerda, a que alguns por carinho oficinal chamam geringonça, está a fazer tudo para criar um apartheid na sociedade portuguesa, ao colocar de um lado quem trabalha para a administração e empresas públicas e, do outro, quem trabalha fora do braço protector do Estado como patrão. O resultado é simples: jogar uns contra os outros, Estado contra o que não é Estado. Aquilo a que assistimos por estes dias é à defesa da criação de duas castas - a dos que têm benefícios automáticos e a dos que só progridem se derem provas de que o merecem. Os clamores pela igualdade para todos escondem sempre a parte que não cabe no todos e que, neste caso, já é a maior parte. Se formos ao segmento abaixo dos 35 anos ainda é mais evidente a clivagem: nesse escalão há muito mais gente a trabalhar fora do Estado que em qualquer outro segmento etário. Os que trabalham fora do Estado sabem o que é terem de competir com empresas rivais da sua, terem que desenvolver produtos que sejam vendáveis, dever prestar serviços de forma eficaz, sob pena de as suas empresas serem preteridas por outras. Mas Estado há só um e não há como lhe fugir. Ainda vivemos numa época em que a maioria dos políticos passou a vida a trabalhar para o Estado - na Administração central, local ou em empresas públicas. Cresceram com a certeza de que os votos vinham daí e que esse colégio eleitoral tinha que ser protegido. Mas com o andar dos tempos há menos gente a receber ordenado do Estado. Um dia destes os eleitores que não trabalham para o Estado vão revoltar-se contra os políticos que defendem o apartheid social.

 

SEMANADA - Os partidos que apoiam o Governo apresentarem 492 propostas de alteração ao Orçamento de Estado com reflexos no aumento da despesa pública; a Comissão Europeia diz que o Orçamento português arrisca violar as regras europeias de ajustamento orçamental e em causa está uma redução estrutural do défice inferior à recomendada e um aumento da despesa considerado excessivo; peritos de Bruxelas dizem que a despesa com salários da função Pública vai custar mais 385 milhões de euros do que o Governo previu no Orçamento, sem contar com novos encargos pendentes de negociações com os sindicatos; a Comissão de Protecção de Dados considera que o Orçamento de Estado propõe demasiadas interconexões entre bases de dados da administração pública; o sector empresarial do Estado registou no ano passado prejuízos de cerca de 408 milhões de euros e a Parpública foi a que registou maior aumento de perdas nesse período; nos últimos quatro meses, em Portugal, foram feitos 3500 furos de água; cada português gasta por dia 220 litros de água, o dobro do considerado suficiente pelas Nações Unidas; o tempo médio de espera para o início de tratamento de alcoólicos já ultrapassa os dois meses; ficaram por ocupar cerca de meia centena de vagas para médicos de família por falta de candidatos; 91% dos trabalhadores do Infarmed estão contra a mudança para o Porto.

 

ARCO DA VELHA - A base de dados de pedófilos condenados, que tem mais de cinco mil nomes e que foi criada há dois anos com o objectivo de ser usada pelos orgãos de investigação criminal, nunca foi consultada por PSP, GNR ou PJ, apesar de crescente número de casos de abuso de menores.

 

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FOLHEAR - A “Monocle” já não surpreende com frequência, mas neste mês conseguiu dar nas vistas: fez uma entrevista com o ex-presidente brasileiro Lula, a que dá chamada de capa com o título “O Regresso de Lula”,  com direito a três páginas, no essencial laudatórias. Para o ex-presidente nas malhas da Lei esta foi a possibilidade de se reposicionar numa revista de difusão internacional e dirigida a um segmento influente. Lula curiosamente afirma na entrevista que “a solução para a crise económica é a credibilidade”. Quase me apetece dizer que a peça sobre Lula podia ser considerada conteúdo patrocinado.... Surpresas à parte, esta edição de Dezembro da “Monocle” inclui o já tradicional relatório anual sobre os países que melhor exercem o seu “soft power”, um misto de diplomacia com encanto e comunicação. Portugal aparece na posição 12, em subida comparativamente com o ano passado, logo atrás da Itália e Dinamarca e à frente da Nova Zelândia, Espanha e Noruega. O ranking de 25 países é liderado pelo Canadá, Alemanha e França. Sobre Portugal a revista deixa no entanto um aviso: “à medida que cresce o número de visitantes é importante o país focar-se na salvaguarda da sua autenticidade”. Um outro destaque português surge na lista “Travel Top 50” com o Hotel Ritz (“Top untouched modernist hotel”) e com as tripulações da TAP (“Most handsome crew”). Finalmente na secção de comidas e bebidas surge em destaque o restaurante Jncquoi, na Avenida da Liberdade. Por fim, uma notícia: efeito colateral do Brexit, a “Monocle” vai mudar o seu quartel general de Londres para Zurique. Já me esquecia - esta é  a edição com sugestões de prendas de Natal. Nada austeras.

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VER - A nova exposição de Pedro Calapez surge como uma surpresa, rasgando horizontes em relação ao que tem sido a evolução da sua obra nos anos mais recentes. São pinturas sobre papel e alumínio (na imagem), criadas em várias dimensões, rasgando a escala habitual, e sugerindo diversas formas de ver e de poderem ser vistas. Integralmente composta por obras inéditas, feitas para esta mostra que assinala o 5º aniversário da Galeria Belo-Galsterer, a exposição evidencia a forma como Calapez optou por trabalhar sobre formatos inesperados. O nome escolhido - “Tracção e Compressão simples entre limites elásticos” - é particularmente indicado para mostrar as diferentes abordagens, de material de suporte e de concepção da sua forma. Vai ficar na na Belo Galsterer, Rua Castilho 71, r/c esq, até 20 de Janeiro. Outro destaque vai para a exposição “2 desenhos e 2 esculturas”, de José Pedro Croft, na Galeria Vera Cortês. Croft, que representou Portugal este ano na Bienal de Veneza, apresenta quatro trabalhos inéditos. Permito-me chamar  a atenção para os desenhos, que vão para além da aparência do traço, numa construção minuciosa feita sobre papel, manipulado e trabalhado de forma a permitir diversas leituras. Na Rua João Saraiva 16-1º, até 13 de Janeiro. N´A Pequena Galeria, (avenida 24 de Julho 4C),  Luiz Carvalho apresenta “O Resto É Paisagem”, uma exposição de fotografias feitas ao longo da sua vida e a que aqui regressaremos para a semana.

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OUVIR - A carreira de Seal começou no início dos anos 90, ao longo do tempo editou dez álbuns e afirmou-se como uma das vozes mais interessantes, muitas vezes na fronteira entre a pop e o soft jazz, com influências dos blues e da soul music e de nomes como Tony Bennett ou Nat King Cole. O seu  mais recente CD acaba de ser publicado e o nome corresponde exactamente ao seu conteúdo: “Standards”. Trata-se de um conjunto de canções que ganharam fama, originalmente feitas entre os anos 30 e 60 do século passado. Neste álbum Seal é acompanhado por uma orquestra de 65 elementos, com arranjos de Chris Walden, num registo que muitas vezes se aproxima de uma gravação ao vivo. O começo do disco é arrasador: “Luck Be A Lady”, “Autumn Leaves” e “I Put A Spell On You”. Ao todo são 14 temas, entre os quais podemos ainda encontrar “They Can’t Take That Away From Me”, “Love For Sale”, “My Funny Valentine”, “I’ve Got You Under My Skin”, “The Nearness Of You” e, claro, “Christmas Song”, entre outros. Seal é um vocalista de créditos firmados, com uma capacidade de interpretação invulgar. É justo dizer o que o disco é marcado por um espírito de risco na sua abordagem a “I Put A Spell On You”, uma interpretação arrebatadora onde Seal é acompanhado de um coro gospel. O mesmo desejo de fazer  a diferença ouve-se em “I Got You Under My Skin”, onde descola da abordagem que Nelson Riddle  fez para a marcante interpretação de Sinatra. CD Decca /Universal já disponível em Portugal.

 

PROVAR - Há cerca de duas décadas Manuel Martins ganhou fama com os seus petiscos alentejanos num pequeno estabelecimento na Rua Coelho da Rocha, em Campo de Ourique, a que chamou “A Charcutaria”. Alguns anos depois resolveu mudar-se para uma casa bem maior, na Rua do Alecrim. Continuou a ganhar fama mas a certa altura as coisas começaram a correr menos bem e este ano, há uns meses, decidiu voltar a Campo de Ourique, à Rua Francisco Metrass. É bem visível o peso da idade, mas o talento nos sabores alentejanos continua igual. As suas empadas de galinha têm uma massa finíssima e um recheio leve e continuam a ser uma iguaria. O pão, obviamente alentejano, é fatiado finíssimo. Na ementa introduziu umas saladas (como por exemplo de pêra, canónigos, pinhões e parmesão), mas mantém bons clássicos - como os seus pastéis de massa tenra acompanhados por arroz de coentros que continuam soberbos. E claro que na lista ao longo do ano surgem pratos como os pezinhos de coentrada, perdiz estufada, perdiz de escabeche,  empada de perdiz ou a lebre com feijão..Lá estão ainda nos queijos um serpa curado e um de cabra, também curado, muito saboroso e, nas sobremesas, um belo bolo de chocolate e doces conventuais. O vinho servido a copo é o alentejano Nunes Barata, tanto tinto como branco, e ambos cumprem com honestidade a sua função. Manuel Martins continua sempre simpático, focado nos clientes e a fazer boa cozinha alentejana, simples, com qualidade, e aqui com preços muito convidativos. A sala é pequena, como na casa original, tem uma dúzia de lugares e está aberta ao almoço e jantar todos os dias excepto ao domingo. A Charcutaria, Rua Francisco Metrass 64, telefone 215 842 827. Aceita encomendas para fora.

 

DIXIT - “Mudar sedes da Administração Central é desconcentrar. Descentralizar é transferir competências da Administração Central para Entidades Regionais ou Locais” - Luis Paixão Martins, no Facebook.

 

GOSTO - The Presidential, o comboio turístico de luxo do Douro, que usa as carruagens utilizadas por Presidentes da República recuperadas pelo Museu Nacional Ferroviário, ganhou o Best Event Awards de 2017.

 

NÃO GOSTO - Mais de 200 mil utentes foram afectados pela greve dos técnicos de diagnóstico e terapêutica.

 

BACK TO BASICS - Vale mais um exército de ovelhas comandado por um leão, que um exército de leões comandados por uma ovelha - Damião de Goes

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publicado às 13:15

AUTÁRQUICAS - Esta semana soube-se que os candidatos às eleições autárquicas vão gastar um total próximo de cinco milhões de euros em brindes para a campanha eleitoral -  só o PS gasta quase dois milhões por sua conta.  Os brindes vão de sacos de plástico a bandeirinhas, emblemas e toda uma parafernália que acaba no lixo. Não posso deixar de citar, sobre esta matéria, aquilo que Rui Calafate, um consultor de comunicação, escreveu no Facebook em jeito de conselho aos candidatos: “recomendei a todos o que recomendo às pessoas com quem trabalho: comprem três pares de sapatos confortáveis - uma campanha é para se dar a conhecer, ganhar a confiança das pessoas e andar no terreno. A proximidade é que dá votos”. Nestas próximas autárquicas já passámos por guerras de secretaria, as mais evidentes foram as que pretendiam impedir Rui Moreira de se candidatar no Porto e Isaltino de Morais em Oeiras. Estas manobras acontecem claramente ligadas a um aumento das candidaturas independentes, nomeadamente por parte de ex-presidentes de Câmara. Num artigo de opinião Nuno Garoupa abordou a questão da importância eleitoral crescente dos independentes e prevê mesmo que, nas próximas autárquicas, os grupos de cidadãos e listas independentes possam alcançar 10% dos votos, podendo ser a terceira força autárquica, abaixo do PS e do PSD. E chama a atenção para o facto de uma subida expressiva dos resultados dos grupos de cidadãos ter como consequência inevitável uma descida percentual do PS e PSD. “As listas independentes são a única ameaça real à hegemonia do PS e do PSD no nosso sistema partidário, tudo o resto não mexe”  - escreve Nuno Garoupa, prevendo igualmente que os partidos institucionais farão todo o possível para, no futuro, dificultar ainda mais a apresentação de candidaturas independentes como já se está agora a ver.

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SEMANADA - A Estrada Nacional 125 no Algarve, tem 64 rotundas em 150 quilómetros; as empresas portuguesas são as que, em 29 países europeus, têm uma demora maior no pagamento de faturas a fornecedores, com um prazo médio de 66 dias; o número de abonos de família pagos este no primeiro semestre deste ano desceu cerca de 10% em comparação com igual período do ano passado; a dívida externa líquida de Portugal era de 176,1 mil milhões em Junho, mais mil milhões que no final de 2016; no final de Junho o endividamento público era de 317,7 mil milhões, um aumento de 9,9 mil milhões em relação ao início do ano;  os gastos dos turistas estrangeiros em Portugal subiram 21,1% no primeiro semestre deste ano; o valor do IMI cobrado pelas Câmaras Municipais cresceu 632 milhões de euros nos últimos dez anos; cerca de oito milhões de euros por dia é o valor das apostas nos jogos da Santa Casa nos primeiros meses deste ano; segundo a DECO um quarto dos utentes do Serviço Nacional de Saúde recebe tratamento fora do prazo legal;  segundo a Marktest há agora  6,5 milhões de pessoas em Portugal que possuem smartphone, o que representa mais de dois terços do total de possuidores de telemóvel; a Festa do Avante! vai abrir este ano com música clássica russa para celebrar os 100 anos da revolução bolchevique de 1917.

ARCO DA VELHA - Centenas de candidaturas a fundos comunitários, de projectos de defesa da floresta e de prevenção contra incêndios, foram rejeitados por falta de dotação orçamental no Ministério da Agricultura, o tal onde Capoula Santos se comparou a D. Dinis.

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FOLHEAR - Tyler Brulé, o fundador da Wallpaper e da Monocle é um  convicto defensor do papel impresso. A Monocle, lançada há dez anos, nunca teve  uma versão para iPad e, embora tenha uma forte actividade digital, no streaming de áudio e vídeo, assim como em newsletters, permanece contrária a edições on line. Para além da revista, que se publica dez vezes por ano há duas publicações sazonais - The Escapist no verão e The Forecast no inverno. Este ano Tyler Brulé decidiu voltar ao formato de jornal que já tinha ensaiado em 2010, e criou Monocle - The Summer Weekly Edition. O primeiro jornal saíu dia 10 de Agosto e todas as semanas deste mês sairá mais um - o projecto tem data de encerramento com a última edição, em 31 de Agosto, mas Brulé já disse que o projecto é para continuar. O novo jornal está dividido em três cadernos - o principal onde se falam de assuntos correntes de interesse geral, o segundo que é dedicado às artes, cultura, media, arquitectura, design e desporto e o terceiro que aborda moda, viagens, comida e bebida. O alinhamento é curioso, a utilização gráfica do formato jornal é conservadora mas muito sóbria e elegante. O resultado final é um misto de actualidade com sugestões concretas. Na primeira edição do semanário era abordado o excesso de turistas em algumas cidades europeias e um artigo falava do boom imobiliário em Lisboa e do investimento francês nessa área; na segunda edição semanal um dos destaques vai para a cortiça portuguesa e as novas aplicações que tem, enquanto se elogiavam o design das cadeiras de ferro tradicionais ADICO nas esplanadas lisboetas; na revista de Setembro, a primeira pós-férias, o tema de capa é como  conseguir alcançar o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho. “Escape The Office” é o título principal.

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VER - O Arquivo Municipal de Fotografia é uma das instituições com um trabalho mais interessante de entre as várias que estão sob a alçada da autarquia na área da Cultura - e isto vem desde que foi criado, nos anos 40, e, sobretudo, quando foi instalado em 1994 na Rua da Palma, onde continua. O que se perdeu entretanto, no início desta década, foi a autonomia de que gozou - a sua integração como um mero departamento dos Arquivos Municipais é algo de incompreensível, sobretudo se atendermos a que este arquivo fotográfico transcende em muito o âmbito municipal, devido às colecções, de vários autores e fotógrafos, que lá foram colocadas em depósito e que hoje integram o seu acervo. O Arquivo Fotográfico merecia maior autonomia e a sua equipa bem se esforça por conseguir manter uma actividade regular, através de exposições, do serviço educativo e também da sala de leitura. De entre as suas numerosas colecções, o Arquivo dispõe de um grande inventário de imagens documentais sobre o mundo do espectáculo, desde retratos de actores até registos de ensaios de peças de teatro, de rodagens de filmes, imagens de montagens, etc. Presentemente o Arquivo Fotográfico apresenta a segunda parte da série (ANTE)câmara, dedicado à actriz Amélia Rey Colaço (na imagem), exposição que foi montada a partir da colecção da família Rey Colaço, e que inclui fotografias do convívio familiar, da preparação para a sua primeira representação teatral na peça Marianela, de 1917, e um pequeno conjunto de fotogramas do filme O Primo Basílio, de 1923. Vale bem a pena ver esta exposição, que está patente até 14 de Outubro na Rua da Palma 246.

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OUVIR - June Tabor é um dos nomes - e vozes - incontornáveis da folk britânica. Para além de uma extensa carreira a solo, trabalhou com Maddy Prior e com a Oyster Band e participou pontualmente em registos de nomes como Fairport Convention. Em 2013 criou um trio com o pianista Huw Warren e o saxofonista Iain Ballamy, músicos de jazz com quem já tinha colaborado pontualmente ao longo dos anos. O trio recebeu o nome de Quercus e o seu primeiro álbum foi editado em 2013, pela ECM. Este ano surgiu o segundo disco do projecto Quercus, “Nightfall”. O novo trabalho inclui uma abordagem musical inesperada a temas tradicionais do folk inglês  (The Manchester Angel, Once I Loved You Dear (The Irish Girl), The Cuckoo), e também a  temas da tradição popular como Auld Lang Syne ou On Berrow Sands, onde o diálogo entre a voz de Tabor e o saxofone de Ballamy tem um ponto alto. Um dos momentos mais curiosos é a versão de um tema de Dylan, Don’t Think Twice It’s Alright. O mais interessante é a combinação de repertório popular com a improvisação que os dois músicos de jazz imprimem ao som de Quercus. Destaque ainda para o standard "You Don't Know What Love Is" e para “Somewhere” (de West Side Story). CD ECM, na Amazon.

 

PROVAR -   Com o verão ainda no activo deixo aqui a sugestão de uma das minhas saladas preferidas deste ano: laranja às rodelas com filetes de cavala, aromatizada com hortelã e salpicada de nozes sobre uma cama de rúcula, temperada com azeite e balsâmico. Primeiro abro e escorro a lata dos filetes de cavala em azeite, no prato coloco algumas folhas de rúcula temperadas com flor de sal, azeite de boa qualidade e vinagre balsâmico. Por cima disponho as rodelas de laranja descascada, cada uma com um filete de cavala. Algumas folhas de hortelã dão bom aroma e gosto, meia dúzia de nozes grosseiramente partidas complementam. No final um fio de azeite e fica pronta a salada. Os meus preferidos são os filetes de cavala fumada em azeite da Comur mas os simples, em azeite, de La Gondola nunca desapontam. E agora um pouco de enquadramento: da família da sarda e do atum, a cavala tem um sabor intenso, é um peixe azul, rico em ácidos gordos benéficos para a saúde e, ainda por cima, sendo muito abundante na costa atlântica portuguesa, tem bom preço. Acrescento outro argumento: é muito saboroso e os seus filetes em conserva podem ser utilizados de múltiplas formas - até há quem faça sanduíches, misturando-os, cortados, com maionese ou então sob a forma de bruschetta, em cima de um pão grelhado, previamente temperado de azeite, ervas e tomate.

 

DIXIT - As candidaturas independentes nas autárquicas são um factor de renovação do pessoal político e aumentam a competitividade eleitoral” - José Pacheco Pereira, na Sábado.

 

GOSTO - O Turismo Centro de Portugal fez um grande filme promocional da sua região, que já ganhou dois prémios, o mais recente há dias em Los Angeles.

 

NÃO GOSTO - Fiz uma encomenda de dois livros à Wook a 2 de Agosto,  que ainda não recebi, e só soube as razões do atraso depois de reclamar. No entretanto já cobraram o pagamento.

 

BACK TO BASICS - “Não quero ser recordado - prefiro receber os elogios enquanto os puder ouvir” - Jerry Lewis



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publicado às 13:47

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A FALTA - Prometi a mim mesmo não falar das teorias e teses sobre os incêndios e o que se passou. Mas depois de já quase duas semanas de duelos florentinos, da erupção palavrosa de especialistas de meia tigela e de conspirações diversas, não consigo deixar de dizer uma coisa: fazer política partidária sobre o tema das mortes numa situação de catástrofe é de péssimo gosto, é um macabro exercício de oportunismo político. Nas últimas décadas todos os partidos que passaram pelo poder têm culpas no cartório da política florestal, da prevenção e da segurança. Por isso mesmo penso que o dever elementar de todos, do governo à oposição, seria terem pedido desculpa aos portugueses. Não fizeram tudo o que podiam, infelizmente as evidências provam-no. E ninguém apareceu nos primeiros dias a dizer o que era evidente: “Desculpem, os partidos, os líderes dos governos e dos partidos falharam!  Desculpem, o Estado falhou e não protegeu os cidadãos.” Era simples dizer isto e significava muito, mais que mil despachos e relatórios feitos a quente e à pressa. É claro que é fundamental vir a compreender as causas e as culpas, e sobretudo as soluções para o futuro, mais do que andar à procura de causadores e culpados da situação concreta do dia 17 de Junho - mas um pedido de desculpas ficou a faltar e era devido. A reacção da classe política à catástrofe mostra um regime que ardeu, que primeiro faliu e que agora está a matar. Aqueles que têm tido poder podiam perceber a dimensão da besta que deixaram crescer. Parece que o bom-senso, a humildade e a responsabilidade desapareceram da política. 

 

SEMANADA - A segurança social tem 21 mil pagamentos em atraso a grávidas e doentes; as despesas familiares com saúde cresceram para 438 euros por ano por pessoa um valor superior ao da maioria dos europeus; o Observatório da saúde indica que utentes com menores rendimentos têm mais dificuldade em aceder ao Serviço Nacional de Saúde;  Fernando Medina anunciou esta semana ser o candidato do PS à Câmara de Lisboa - é a primeira vez que lidera uma lista eleitoral; os outros candidatos andam em modo invisível;  apesar dos incentivos apenas 81 médicos se disponibilizaram a ir para zonas mais periféricas e do interior;  domingo é o dia da semana em que nascem menos bebés e um estudo recente aponta como causa possível o aumento da percentagem de cesarianas nos partos totais;  em todo o país, na rede do Estado, só há 41 examinadores para as provas da carta de condução e os candidatos estão meses à espera de realizarem o exame enquanto que no sistema privado o tempo médio de espera é de cinco dias; nos meses de férias a GNR regista 38 queixas por dia de casos de violência doméstica; o mecanismo que penaliza o SIRESP por eventuais falhas nunca foi accionado pelo Estado, que é o seu único cliente; durante o período crítico do incêndio em Pedrogão cinco estações do sistema estiveram em baixo e 22% das chamadas falharam; comentário da semana no facebook: “numa crise o sirep falha; desligado, funciona”.

 

ARCO DA VELHA -  Dois reclusos da cadeia de Matosinhos queriam organizar uma festa na véspera de São João e foram apanhados na prisão com três chouriços, três garrafas de alcool, uma barra de haxixe, dois balões de São João e três telemóveis, tudo recebido ilegalmente.

 

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FOLHEAR -  Todos os anos, na edição dupla de Verão, que cobre os meses de Julho e de Agosto, a revista “Monocle” faz um levantamento das 25 cidades que considera os locais ideais para se viver. Depois de anos a subir neste ranking, Lisboa este ano ficou com a mesma posição de 2016 - a 16ª. No ano passado a revista já tinha chamado a atenção para o trânsito caótico na cidade e este ano a “Monocle” deixa um recado directo: “A Câmara Municipal deve encontrar o equilíbrio entre atrair investidores e visitantes estrangeiros e corresponder às necessidades dos habitantes nacionais da cidade - salários baixos combinados com o aumento do custo de vida significa que os residentes mais antigos podem ser marginalizados”. A cidade vencedora foi Tóquio, seguida por Viena, Berlim (que recebeu um destaque graças aos espaços públicos), Munique e Copenhaga. Madrid aparece na 10ª posição, Barcelona na 17ª. Lisboa está ainda em destaque com um artigo sobre a nova sede da EDP e os seus vários espaços, sublinhando que o investimento em boa arquitectura se reflecte de forma positiva na cidade. Outros destaques desta edição: uma visita à cidade espanhola de Valencia, uma conversa sobre gastronomia peruana com o fotógrafo Mário Testino, uma entrevista com o mayor de Los Angeles. O portfolio fotográfico, fresco e delicioso, é dedicado aos gelados, em várias formas, feitios e circunstâncias…

 

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VER - O ponto ideal ao equilíbrio alcança-se quando a obra de um artista se identifica tanto com o local onde é exposta que parece ter chegado a casa. Foi essa a sensação que tive ao ver “Voltar De Vez Em Quando”, de Cristina Ataíde, que está na Ermida, uma pequena e atraente galeria em Belém, na Travessa do Marta Pinto. O espaço é o da Ermida de Nossa Senhora da Conceição, uma capela do século XVIII, muitos anos abandonada. Foi trazida para a sua nova função por um médico, Eduardo Fernandes, apaixonado pelas artes plásticas, que em 2008 recuperou o espaço e aí começou a promover exposições regulares com artistas contemporâneos. As peças de Cristina Ataíde, na imagem, mostram como a escultura continua a ser o seu território de eleição, numa demonstração de equilíbrio visual e espacial. Como é frequente na obra da artista a apresentação das peças principais conjuga-se com o cuidado posto na sua instalação e nas frases que circundam, manuscritas numa fita, as paredes do espaço, como este fragmento, que afinal conta quase tudo o que esta exposição revela: “volto a  voar para longe”. Até 19 de Agosto, com curadoria de Ana Cristina Cachola. Outros destaques - prossegue o projecto “A Arte Chegou ao Colombo” , desta vez com obras de Paula Rego até 27 de Setembro, na praça central do centro comercial; na Galeria Módulo, Calçada dos Mestres 34, Ana Mata mostra “Árvores” e n’a  Pequena Galeria está “f8 - do retrato ao infinito” uma mostra de fotografia com trabalhos de  Alice WR, Carvalho, Isabel Costa, Carlos Almeida, Jackson Távora, Jorge Coimbra André Ricardo e Joaquim Young.

 

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OUVIR -  Chuck Berry morreu em Março deste ano, com 90 anos. Até bem pouco tempo antes da morte andou a trabalhar num álbum de originais que recuperava material escrito entre 1991 e 2014, em muitos casos refazendo gravações - já que os originais foram destruídos num incêndio no seu estúdio pessoal. Há 38 anos que não havia um novo disco de Chuck Berry, o homem que criou êxitos como “Maybelline” ou “Come On” e que até aos 88 anos,  nos 21 anos anteriores, continuou a tocar uma vez por mês, ao vivo, num bar da sua cidade, St. Louis, o Blueberry Hill. “Chuck”, o novo disco, não é uma colectânea de êxitos passados - é de facto um somatório de novas canções, com algumas brincadeiras pelo meio - como uma versão de “Johnny B. Goode”, de 1955, refeita para ser “Lady B. Goode” ou ainda a transformação de “Havana Moon” em “Jamaica Moon”. “Chuck” não tem covers, nem duetos, nem produtores de luxo convidados como se tornou habitual nos discos de fim de carreira -  é fiel às origens de Berry nos blues, à sua paixão pela guitarra e à seu interminável dedicação ao rock’n’roll, como o segundo tema do CD, “Big Boys” bem demonstra. O disco abre com “Wonderful Woman”, uma declaração de amor a Themetta Berry, a sua mulher. Há outros momentos marcantes como “Darlin”, “She Still Loves You”, “Dutchman” ou “Eyes Of A Man”  -  no fundo um testamento de dois minutos com as opiniões de Chuck Berry sobre o sentido da vida. Ele, que poderia ter gravado um disco de despedida com os maiores nomes do rock (que para o efeito se teriam deslocado a correr a St. Louis), escolheu gravar com  a família - o filho e o neto nas guitarras e a filha Ingrid na voz. Foi uma boa despedida. Obrigado Chuck.  

 

PROVAR -  Quando o regresso a um restaurante, passados uns anos, corre ainda melhor que a estreia, é caso para bater palmas. Foi o que aconteceu com nova visita à Padaria, em Sesimbra. Embora ali haja peixe para grelhar da melhor qualidade e a grelha seja competente, é nos pratos mais elaborados que está a diferença desta Padaria em relação a muitos outros locais de Sesimbra. Mas sobre o peixe deixem dizer que aqui só há peixe do mar, pescado na região e só há bivalves quando são garantidamente bons - de maneira que não esperem encontrar pré-fabricados à bulhão pato. Por detrás das operações está José Rasteiro, homem da terra, apaixonado pelo que faz -  isso nota-se na forma como fala dos pratos que propõe. A localização do restaurante é numa das pequenas ruas que desce até à marginal. A esplanada tem vista sobre o mar e é protegida dos ventos - a visita anterior tinha sido no Inverno e não deu para aproveitar a boa localização. Passemos ao que interessa: o pão de Sesimbra fatiado fino vem acompanhado com azeitonas e azeite, saboroso e intenso. O amuse-bouche oferecido pelo Chef é um achado: requeijão texturizado e enformado como se fosse um pequeno mozarella, com cubos de tomate e pão de especiarias. Nas entradas provaram-se uns filetes de cavala fresca, enrolados, simpáticos, e um excepcional tártaro de atum com coco fresco e salicórnia. A seguir, de um lado da mesa ficou um filete de salmonete com puré de aipo e, do outro, espadarte rosa fumado a quente com ervas da serra da Arrábida, puré de couve flor e molho de caldeirada. Ambos estavam excepcionais na qualidade dos produtos e na preparação. A acompanhar esteve um vinho branco de Colares, feito nas vinhas da Fundação Oriente  a partir da casta  Malvasia. Excelente. A Padaria fica na Rua da Paz nº5, em Sesimbra, e tem o telefone 212 280 381.

 

DIXIT -  “Como é bom ler bom” - Ferreira Fernandes

 

GOSTO - O Centro Português de Fotografia completou 20 anos durante os quais realizou 500 exposições e guarda 575 mil imagens em arquivo.

 

NÃO GOSTO - Das explicações do SIRESP e da teia de contradições criadas.

 

BACK TO BASICS - O Presidente não é mais que um privilegiado relações públicas, que passa o seu tempo a elogiar, beijar e a abanar as pessoas para que elas façam aquilo que é a sua obrigação - Harry S. Truman

 

 

 

 

 

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publicado às 14:00

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PISTAS - Esta semana Nuno Garoupa, o professor de Direito (actrualmente numa universidade americana) que durante anos recentes dirigiu a Fundação Francisco Manuel dos Santos, deu uma entrevista ao jornal i onde traça um retrato certeiro do país. Com a devida vénia, aqui vão excertos:  “De 1995 a 2015, quase meio milhão de pessoas deixaram de votar. Em 1995 votavam em partidos 5,8 milhões, hoje estão a votar à volta de 5,2. Se continuarmos neste padrão e a este ritmo, dentro de uns dez anos estarão a votar nos partidos cerca de 4,5 milhões de pessoas. E quem são esses 4,5 milhões? São os eleitores que votam sempre nos mesmos partidos: o sistema, os militantes, os simpatizantes e os caciques. Estaremos reduzidos à mobilização desse núcleo e sem qualquer sociedade civil. Dois milhões da direita e dois milhões e meio de esquerda, e aí está.” (...) “Olhando todos os estudos, o votante mediano não está à direita, está à esquerda. E mais do que isso, a renovação geracional, em que a camada dos 20 aos 30 anos está mais à direita que a camada dos 70 aos 80 porque já ninguém se lembra do Estado Novo, tem um problema. É que as pessoas dos 20 aos 30 não votam. O eleitorado está envelhecido e cacicado. Não votam porquê? Porque a direita não encara esse desafio de mobilizar abstencionistas.” Raras vezes vi um retrato tão perfeito do que se passa em termos da degradação do sistema político e partidário.

 

SEMANADA - Seis antigos presidentes de municípios do distrito de Viseu foram acusados pelo Ministério Público de combinarem um esquema que lhes permitiu cobrar senhas de presença e ajudas de custo indevidas, durante cinco anos, no total de cerca de meio milhão de euros; um sargento da GNR de Vila Real recebia mil euros por avisar a realização de rusgas em casas de alterne; as penhoras de automóveis pelo Fisco aumentaram 28% em 2016; quase 30 mil famílias pediram ajuda em 2016 ao Gabinete de Apoio ao Sobreendividado, da DECO; nas cadeias portuguesas, para 14 mil presos, há 30 psicólogos - um para cada 466 detidos; nos vinte tribunais reabertos no início do ano só foi efectuado, até agora, um único julgamento; entre 2014 e 2016 as compras a empresas farmacêuticas registaram uma subida de 200 por cento e os gastos do Estado com medicamentos atingiram no ano passado os 527 milhões de euros; os hospitais públicos realizaram menos 5626 cirurgias entre janeiro e novembro de 2016, face ao período homólogo de 2015; há 30 mil pessoas sem médico de família no litoral alentejano, entre Odemira e Alcácer do Sal; Portugal tem a segunda maior dívida pública da zona euro - 133,4% do PIB; enquanto Portugal colocou recentemente dívida a um juro de 4,2% a Espanha, na mesma altura, conseguiu colocar dívida a 1,5%; o gasto do Estado com parcerias público-privadas rodoviárias aumentou 77% no terceiro trimestre do ano passado; o Tribunal da Relação de Évora considerou que agarrar uma pessoa pelo pescoço não constitui violência doméstica.

 

ARCO DA VELHA - Filipe Silva, o subcomissário que agrediu em maio de 2015 um adepto do Benfica em Guimarães à frente dos dois filhos menores, continua a exercer as mesmas funções e recebeu um louvor do Comando de Braga da PSP porque "prestigia a polícia".

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FOLHEAR - A revista “Monocle” está prestes a comemorar o seu 10º aniversário, com uma edição especial e algumas mudanças, que são já ventiladas no editorial da edição nº100, agora publicada. Nesse editorial o fundador e Director da “Monocle”, Tyler Brulé,  conta que o projecto começou a ser pensado em 2004, para nascer três anos depois. Durante esse período de tempo preparatório, que serviu para definir o modelo, angariar capital e escolher a equipa, o nome de código da nova publicação era “Project Europa”. A equipa dirigente da revista, conta Brulé, está agora na fase de colocar questões: o desenho de capa e o formato devem ser mantidos? Os leitores que seguem a revista entretanto envelheceram 10 anos - deverá isso levar a usar um tipo de letra e um espacejamento entre linhas maiores? Ao fim de uma década há uma geração de potenciais leitores que não lêem edições em papel - deve a “Monocle” entrar no formato digital que sempre evitou?  Deliberadamente a “Monocle” tem apenas um arquivo digital exclusivamente acessível a assinantes e uma operação audiovisual integralmente online centrada na rádio Monocle24 e nos mini-documentários video que acompanham o seu site e a sua newsletter diária  - mas os conteúdos da edição impressa não são disponibilizados on line de forma gratuita nem avulsa. Ao longo desta década a “Monocle” desenvolveu lojas e cafés em algumas cidades, criou produtos próprios em acessórios, roupa, perfumes e até editou duas dezenas de livros. Começou como uma revista graficamente surpreendente, dos 19 colaboradores iniciais passou para mais de 100, com escritórios em nove países, evoluíu para uma marca global e um guia para um fiel grupo de seguidores urbanos e cosmopolitas. E nos próximos dez anos? Dentro de pouco tempo saberemos, mas Tyler Brulé promete que a edição impressa continuará a ser o motor da “Monocle”.

 

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VER - O pintor japonês Jun Shirasu passou três meses, numa residência artística da Oficina Ratton, na Arrábida, a pintar um painel de azulejo a que deu o título “A Viagem da Camélia”  que mostra, numa narrativa visual, como essa planta veio do Japão para Portugal e, também, a história cruzada dos dois países nos séculos XVI e XVII. Trata-se de um impressionante mural azulejar de 0,98 x 19,60 metros; a exposição apresenta ainda um conjunto de azulejos avulso intitulado “Diário Gráfico” e 4 painéis onde o imaginário e as memórias de viagem estão presentes. Uma outra série, de ” falsos azulejos”, leva-nos às origens dos primeiros trabalhos do artista enquanto gravador. No painel Jun Shirasu utilizou o azul cobalto sobre esmalte branco (na imagem) numa técnica inspirada na sua experiência enquanto gravador. A presente exposição, que ficará patente até 28 de Abril, inicia a comemoração do 30º aniversário da Galeria Ratton (Rua da Academia das Ciências 2C). Outras sugestões: na Barbado Gallery (Rua Ferreira Borges 109A) está patente até 4 de Março a exposição “The Americans”, do fotógrafo norte-americano Christopher Morris, que mostra imagens do livro com o mesmo nome editado originalmente em 2012, com o propósito de fazer um retrato antropológico da América, num trabalho que decorreu ao longo de oito anos; finalmente, na Galeria Belo Galsterer (Rua Castilho 71-1º), até 25 de Março, a colectiva “Paperworks IV - Portadores de Ideias”, que mostra edições de múltiplos de, entre outros,  Pedro Calapez, Pedro Proença,  Jorge Molder, Alexandre Conefrey, Mário Macilau e até do criador da ideia de múltiplo, Joseph Beuys.

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OUVIR - Hope Sandoval tornou-se conhecida como a voz dos Mazzy Star, uma banda que fez história nos anos 90. “Until The Hunter” é o terceiro álbum que ela faz com os Warm Inventions, o duo que criou com o baterista dos Bloody Valentine, Colm O’Ciosoig, no início deste século. Ao longo dos anos colaborou também, entre outros,  com os Massive Attack e com Jesus & Mary Chain e, inesperadamente, em 2013 apresentou novo trabalho no projecto Mazzy Star. Mas em finais do ano passado regressou à forma Warm Inventions com este novo disco onde a sua voz é mais uma vez a marca dominante. “Until The Hunter”, que já é considerado como o seu melhor trabalho nos Warm Inventions, tem muitas influências - desde logo da canção dos Mazzy Star que a tornou conhecida, “Fade Into You”, e que aqui é evocada em temas como “Peasant” e “Isn’t It True”. Há claras influências folk em “A Wonderful Seed” e “The Hiking Song” e o seu lado psicadélico sobressai na forma como voz e percussão combinam ao longo dos nove minutos da faixa de abertura, “Into The Trees”. Destaque ainda para o dueto com Kurt Vile em “Let Me Get There”, e para os temas “Day Disguise” e “Treasure” e, sobretudo, para um surpreendente tema final, um blues poderoso, “Liquid Lady” que simbolicamente contrasta de forma evidente com a faixa de abertura, parecendo uma espécie de promessa de algo que pode ser retomado no futuro. Hope Sandoval usa a voz, toca vibrafone e teclas e Colm O’Ciosoig toca bateria, percussões e guitarra. Disponível no Spotify.

 

PROVAR -  No dia a dia há muitos casos em que se aplica a máxima “não se deve voltar onde se foi feliz”. Creio, no entanto, que este princípio não se deve aplicar a restaurantes. É salutar de vez em quando ver como estão as coisas, analisar, avaliar se há variações na qualidade dos ingredientes, da cozinha ou do serviço. Um bom restaurante quer-se um garante da regularidade. Não é de esperar que, à mesma mesa, um dia os pastéis de bacalhau sejam bons e na semana seguinte sejam maus. Se isto é importante em relação a pratos que se podem repetir ao longo de todo o ano, é ainda mais importante quando falamos de pratos que só se servem em determinadas estações de ano - porque a matéria prima é sazonal. Pratos de caça, uma das delícias do Inverno, entram nesta categoria. O “Apuradinho”, em Campolide, é um dos bons sítios onde se pode comer uma perdiz de caça, num tradicional estufado, acompanhada de batatas novas, cebola e fatias de pão frito. Ano após ano não tenho más surpresas nas perdizes que vou comendo no Apuradinho. Para rematar, e apesar da boa lista de doces conventuais da casa, a minha opção, nestes dias, vai para uma pera bêbada em vinho tinto - primorosamente confeccionada. No inverno, de 15 em 15 dias, há cozido às quintas. E a lampreia está quase a chegar… Apuradinho, Rua de Campolide 209, telefone 213 880 501.

 

DIXIT - “Faz parte da função presidencial chegar a todos” - Marcelo Rebelo de Sousa.

 

GOSTO - Em Leiria foi criada a primeira biblioteca para invisuais com obras em braille.

 

NÃO GOSTO - Do veto do Conselho de Opinião da RTP à indicação de João Paulo Guerra como Provedor do Ouvinte da rádio pública.

 

BACK TO BASICS - «O mundo estaria salvo se os homens de bem tivessem a ousadia dos canalhas»  - Nelson Rodrigues

 

 

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publicado às 13:30

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ABUSOS - A Comissão de Protecção de Dados alertou que a ineficácia dos serviços públicos está a ser compensada com “sacrifício da privacidade dos cidadãos” e alerta para o facto de o Orçamento de Estado prever novos acessos à base de dados do Fisco que”colocam em risco” a segurança da informação. Este alerta, conhecido esta semana e de que este jornal se fez eco, é apenas a parte mais visível da situação de crescente impotência dos cidadãos face à máquina fiscal e aos seus serviços. Escudados na lentidão dos tribunais (mais de uma dezena de anos em média para que se chegue ao fim de um processo), os serviços do Fisco fazem tudo o que podem - e algumas coisas que não podem - para considerar os cidadãos culpados desde o primeiro minuto. Os argumentos apresentados em Tribunal não contam, os factos e provas compilados são ignorados. A lentidão e ineficácia dos tribunais que julgam estes processos criam uma situação duplamente injusta: beneficiam os que são efectivamente prevaricadores e que assim vêem afastadas para as calendas decisões sobre as penas aplicáveis; e prejudicam os inocentes, que vêem os seus direitos reduzidos, o seu património ameaçado e o seu dia a dia penalizado quando o Estado retém montantes sem fundamento. A culpa não é deste Governo evidentemente, vem de longe. Mas esta é uma situação que está a ultrapassar todas as marcas. É preciso um simplex na administração da justiça no âmbito fiscal e sobretudo é necessário que quem de direito tome um conjunto de medidas que impeçam automatismos, travem decisões administrativas sobre casos não julgados e impeçam o expediente do recurso sistemático das decisões dos tribunais pela Autoridade Tributária com o único fito de prolongar os processos e evitar a sua conclusão, mantendo assim penalizações abusivas. E, sobretudo, é urgente que o Estado faça a mais elementar das coisas: que até existir sentença os cidadãos sejam considerados inocentes e não se sintam permanentemente alvo de medidas persecutórias do fisco. Esta é uma responsabilidade do Estado e, em vez de agravar a situação, como agora alerta a Comissão de Protecção de Dados, seria bom que os Ministérios da Justiça e das Finanças tomassem medidas concretas em defesa do Estado de Direito.

 

SEMANADA - Há dois milhões de lâmpadas nas iluminações de Natal de Lisboa, que este ano custaram 700 mil euros, o dobro do custo do ano passado; Fernando Medina disse numa entrevista que no futuro devem ser reforçados os laços entre o PS, PCP e BE; uma sondagem da Universidade Católica indica que 42% dos inquiridos consideram que Rui Rio faria melhor que Passos Coelho à frente do PSD; há sinais de que Rui Rio poderia querer um congresso extraordinário do PSD antes das autárquicas; o Presidente da República sinalizou pretender “que se mantenha a estabilidade que é desejável na área do Governo e na área da oposição, no plano dos partidos como no plano das suas lideranças”; a falta de médicos em alguns hospitais está a dificultar as escalas dos serviços de urgência no Natal e Ano Novo;  nos primeiros meses do ano as vendas de automóveis eléctricos aumentaram 48% em relação a igual período do ano passado; a partir do próximo ano os carros eléctricos pagarão os carregamentos de energia que realizarem na via pública; há 14 mil detidos nas 49 cadeias portuguesas; o Futebol Clube do Porto já gastou 146 milhões de euros no reforço do plantel desde Junho de 2014; os contribuintes suportaram 74% do esforço inicial para salvar a banca privada.

 

ARCO DA VELHA - Um organismo público, o Compete,  divulgou que a execução dos fundos comunitários era de 12% , quando afinal é de 4,3%.

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FOLHEAR - António Mexia, o CEO da EDP, surge em destaque nas personalidades de todo o mundo alinhadas na resenha anual “Who’s Next” da revista MONOCLE, na sua edição de Dezembro/Janeiro. Apresentado como um lutador nas áreas da energia e cultura, Mexia explica porque gosta de trabalhar com grandes arquitectos e porque entende que a EDP deve estar associada a edifícios que assinalem mudanças na cidade - em Lisboa, no caso - como acontece com a nova sede da empresa e com o MAAT: “Queremos contribuir para criar uma sociedade mais cosmopolita e mais aberta”  - explica o CEO da EDP. Como é hábito esta edição de fim de ano da MONOCLE tem a lista dos países que conseguem fazer-se notar pelas suas capacidades (a “soft power survey”)  e Portugal subiu para a 15ª posição, graças aos resultados obtidos no Europeu de Futebol e na jogo diplomático que conduziu Guterres à liderança das Nações Unidas, nomeadamente na obtenção do apoio da China. Mas esta edição da revista destaca também start ups portuguesas e a aposta em instalações turísticas como o hotel Casa Mãe, de Lagos, baseadas numa utilização certeira do design português ou o projecto das Casas Caiadas, no Sabugueiro. Outros motivos de interesse desta edição são o especial sobre a forma como a pequena cidade de Utrecht conseguiu dinamizar a sua economia e uma deliciosa narrativa sobre a criação de uma livraria numa cidade periférica de Nova Iorque. A Monocle ajuda-nos a ir descobrindo bons exemplos.

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VER - É muito interessante que em Lisboa, ao mesmo tempo, estejam duas exposições que mostram as ruas da cidade de perspectivas diferentes - a começar pelos materiais utilizados e a terminar nas épocas que mostram. Vou começar por “Lisboa - Uma Grande Surpresa”, um impressionante trabalho de registo fotográfico da cidade feito entre 1898 e 1908, por Arthur Júlio Machado e José Candido d’Assumpção e Souza, ambos desenhadores da Cãmara Municipal de Lisboa e que propuseram à edilidade fotografar os prédios da cidade para memória futura. É um impressionante conjunto de imagens, exposto no Arquivo Municipal, na Rua da Palma 246, sob a direcção de José Luis Neto - vai estar até 23 de Janeiro. Aqui se pode ver a cidade como ela foi pensada e existia no virar do século XIX para o século XX - uma cidade noutra escala, e que foi muito mal conservada nos 100 anos seguintes. A outra exposição, “Cidade Gráfica, Letreiros e Reclames de Lisboa no Século XX” (na imagem) mostra décadas de letreiros de lojas, cartazes de publicidade, anúncios luminosos de néon e fachadas diversas - está no Convento da Trindade, Rua da Trindade, ao Chiado, até 18 de Março. Inserido na programação do MUDE fora de portas esta exposição é fruto de um exemplar trabalho de pesquisa, recolha, restauro e preservação de Rita Múrias e Paulo Barata. Aqui se observa a técnica dos reclames luminosos, a arte de desenhar tubos de néon, o humor de alguns slogans do início da publicidade e a evolução gráfica que se fez ao longo dos anos. As duas exposições são peças essenciais para rever a História de Lisboa, cidade que tão maltratada tem sido.

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OUVIR - Uma das maiores dificuldades da carreira de um músico é fazer um segundo disco, depois de um primeiro que tenha sido um êxito. Na música portuguesa isto é particularmente difícil, por causa da dimensão do mercado e do provincianismo local que normalmente castiga o êxito. Gisela João gravou o seu primeiro disco em 2013 e foi muito aplaudida. Dela se disse, e bem, que tinha do Fado um sentir diferente daquilo a que se chama a nova geração de fadistas. Gisela João, neste sentido, não é desta geração - canta Fado, que é um género sem tempo. É muito raro, num segundo disco, fugir da tentação da complicação e da produção exagerada. Gisela João, que agora lançou “Nua”, teve a inteligência de evitar as armadilhas habituais. Em vez de fazer truques sonoros, preferiu dedicar-se a escolher um repertório diversificado, que vai de clássicos de Alberto Janes, Ferrer Trindade ou Alain Oulman, até canções pop de Carlos Paião ou poemas de David Mourão Ferreira , Pedro Homem de Melo ou Franciso Ribeirinho, passando pelo brasileiro Cartola ou pela contemporânea Capicua. O tema que encerra o disco, o tradicional mexicano “Llorona”, vem aqui interpretado de uma maneira invulgar e arrebatadora. Gisela João, neste seu segundo disco, arriscou e deu um salto. Não se acomodou, desinquietou-se e isso está na alma do Fado. Uma nota final para o excelente trabalho fotográfico de Estelle Valente. Gisela João, Nua, Edição Valentim de Carvalho.

 

PROVAR - Um dos melhores bifes que provei nos últimos tempos foi no restaurante e cervejaria Valbom, situado ao fundo da rua do mesmo nome, quase a chegar ao cruzamento com a Elias Garcia. Este é um daqueles tradicionais restaurantes lisboetas, com pratos fixos semanais, como o cozido e que se mantém fiel a sólidos princípios: boa matéria prima, preços razoáveis, serviço atencioso, mesas espaçosas. É um restaurante onde o vocabulário da pós-verdade não entra e é um local onde é frequente encontrar mesas de amigos a conviverem, outras com conversas de trabalho ou negócios e não poucas mesas de pessoas que gostam de almoçar sozinhas. Para além do cozido, destaque para os filetes de pescada e o cabrito no forno. A garrafeira é ampla e vale a pena pedir conselho sobre os vinhos. que são a preço honesto. A escolha de cervejas é também acima do habitual. Mas voltemos ao bife. A especialidade da casa passa pela grelha a carvão e aí, o meio bife do lombo é algo de muito recomendável. Quantidade suficiente de boa carne, bem cortada, cozinhada no ponto, acompanhada por batatas fritas exemplares e, a pedido, um ovo estrelado que está entre os melhores que me foi dado provar num restaurante. Avenida Conde de Valbom 104-112. Telefone 217 970 410

 

DIXIT -  “É o orçamento possível, mas não o desejável. Não devia aumentar a despesa pública nem os impostos porque isso já temos em excesso” - Eduardo Catroga

 

GOSTO - Da exposição que celebra os 100 anos das máquinas fotográficas Leica, na Galeria Municipal do Porto. A marca tem uma das suas fábricas em Famalicão.

 

NÃO GOSTO - Este ano já morreram 114 pessoas em acidentes de trabalho em Portugal.

 

BACK TO BASICS - “Nunca devemos confundir pensamento com uma inscrição lida num autocolante” - Charles M. Schulz

 

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publicado às 13:50

DR. COSTA, E DEPOIS DO VAZIO?

por falcao, em 26.08.16

VAZIO - Este verão tem sido politicamente muito educativo. Ficámos a saber que a economia persiste em não crescer, que Catarina Martins está desgostosa com as tropelias que o PS faz na geringonça, que Costa continua optimista. Tudo indica que a rentrée política vai ser muito interessante: uma preparação do Orçamento de Estado que promete agudizar as divergências na coligação, um agudizar das tensões com Bruxelas e uma degradação geral do panorama do país. Há membros do Governo desgastados, em boa parte por culpa própria, e começa agora a ver-se que a equipa maravilha que Costa reuniu à sua volta está a meter água em vários lados. Se a geringonça fosse um barco, o melhor seria instalarem rapidamente uma bomba de água potente para evitar que se afundasse. O episódio da CGD, que, sabe-se agora, levará  a um orçamento rectificativo, ainda vai provocar mais fissuras na coligação - PCP e Bloco já disseram o que queriam, e o que querem não é o que o PS acordou em Bruxelas. O cenário está preto: olhamos à volta e não vemos criação de empregos duradouros, não se vislumbram políticas de desenvolvimento regional e nacional coerentes - em vez disso as cidades estão entregues a obras de jardinagem e embelezamento, fruto do esbanjamento em função das eleições autárquicas do próximo ano; a balança comercial está frágil, a reputação das finanças de Portugal nos mercados tem piorado e os juros que pagamos ressentem-se. como se viu na última semana. Costa encontrou um país em recuperação quando chegou a S. Bento. Vamos ver o que deixa, quando sair - no entretanto tudo indica que se prepara para provocar umas eleições antecipadas e tentar ficar a governar sozinho.

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SEMANADA - O Presidente da República veio de férias e forçou explicações do Governo sobre a Caixa; Bruxelas disse como queria a Administração da CGD, reduzindo os seus membros de 19 para 15; Bruxelas mandou que alguns dos nomes propostos pelo Governo para a CGD fossem estudar; Bruxelas aprovou uma recapitalização da CGD até 4,6 mil milhões de euros e fez incluir financiamento privado no pacote; Bruxelas quer redução do número de balcões e de funcionários da Caixa; a intenção governamental de mudar a lei bancária para encaixar as propostas do Governo, vetadas pelo BCE, foi travada por uma convergência de opiniões do Presidente da República, do PCP e do Bloco de Esquerda; Catarina Martins afirmou arrepender-se todos os dias do acordo que permitiu ao seu partido apoiar o Governo do PS, devido às limitações que cria; os filhos de um embaixador de um país árabe envolveram-se numa zaragata, um português de 15 anos foi espancado por eles, e os agressores disseram estar “humilhados e zangados” ; neste assunto o ocupante do Ministério dos Negócios Estrangeiros mostrou mais uma vez ser um mero verbo de encher; na PSP há entre 7 a 10 mil agentes desperdiçados em tarefas burocráticas; o Governo disse que não podia fazer mais no combate aos fogos; a Ministra da Administração Interna deu uma entrevista à revista Flash a explicar como as suas férias foram interrompidas pelos incêndios.

 

ARCO DA VELHA - Os encargos do Estado com as parcerias público-privadas no primeiro trimestre aumentaram 5% face a igual período de 2015 e as receitas das portagens para os cofres públicos caíram 2%.

 

 

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OUVIR - Este ano tenho feito umas férias um pouco diferentes do que é habitual e lancei-me à estrada, em Portugal e Espanha. De vez em quando ouvia as minhas listas no Spotify, mas na maior parte do tempo, em Portugal, sintonizei a Antena 1, 2 ou 3. Devo dizer que por razões profissionais sou um saltitão na escuta das rádios, mas pelo menos uma vez por semana sigo a emissão da manhã da Antena 1. Eu gosto muito de rádio, acho que é um dos media mais fascinantes e daqueles que melhor se tem conseguido adaptar às mudanças - de tal forma que tem ganho ouvintes em vez de os perder. Um estudo recente indicava que a rádio superava a imprensa em termos de confiança quanto à informação transmitida. Ao contrário do que acontece com a televisão, o horário nobre da rádio está no início da manhã, entre as sete e as dez, quando a maior parte das pessoas se deslocam para o trabalho, nomeadamente nos seus veículos particulares. Até há uns dois anos o carro era o sítio por excelência para ouvir rádio, mas, de repente, olhado-se para os números de consumo de internet, constata-se que começou a existir uma dispersão de horários - a audiência de rádios online, em streaming, já é significativa durante o período laboral. Regressando ao início do parágrafo, venho aqui dizer que gosto da Antena 1, gosto às vezes da Antena 2 e acho que a Antena 3 cumpre bem a sua função, embora não lhe ficasse mal um choque de vitaminas. O bom estado do serviço público de rádio deve-se a Rui Pêgo, que há anos o dirige. É impressionante o contraste entre a qualidade e utilidade do serviço público de rádio e a vacuidade da maioria do  serviço público de televisão - quer em termos de programas, quer em termos de informação. Bem sei que os meios necessários são diferentes, mas aqui, o que conta, é a atitude. Rui Pêgo faz serviço público. Outros, na RTP televisão, não. É isto. Deixo também um elogio ao facto de a rádio pública ter desenvolvido programas de autor sobre os mais variados temas. Estes programas de autor são, hoje em dia,  a matéria prima para a mais valiosa propriedade da rádio no mundo digital - os podcasts. E nesta matéria a rádio pública dá cartas.

 

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VER - A Condé Nast Traveller considerou este ano o Guggenheim de Bilbao, desenhado por Frank Gehry, como o mais bonito museu do Mundo. Bilbao saía de um período difícil quando se decidiu avançar para a construção do museu, que decorreu entre 1993 e 1997. O projecto ajudou claramente a mudar a imagem da cidade e voltou a colocar Bilbao no mapa. Lisboa podia ter um polo de atracção assim se o projecto de Gehry para o Parque Mayer tivesse ido em frente - infelizmente esse azar da democracia chamado Jorge Sampaio impediu-o, vetando, quando era Presidente da República, um diploma que permitiria fazer a obra. Ao fim destes anos todos o Parque Mayer continua sem solução, abandonado e sem plano coerente. Mas regressemos ao Guggenheim de Bilbao - além de ter um museu fantástico, tem um site na internet fabuloso e um conjunto de presenças nas redes sociais que permite visitar o projecto de arquitectura, a história da sua construção, o trabalho de Gehry e uma visita ao exterior e ao interior do edifício. É também possível percorrer a colecção própria do museu, fazendo uma visita virtual. Enquanto não se encontra tempo para lá ir, a visita virtual, cada vez mais acessível em numerosos museus de referência, é uma boa forma de nos informarmos, conhecermos e escolhermos aquilo que queremos ver. Era engraçado que o projecto de Gehry para o Parque Mayer estivesse também assim acessível. Pode ser que a história recente de Lisboa não se resumisse no futuro aos desvarios a que vamos assistindo.

 

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FOLHEAR - A edição de Setembro da “Monocle”, já distribuída em Portugal, é dedicada ao empreendedorismo, e sugere muitas ideias e casos para seguir. Berlim, Tel Aviv, Oslo e Auckland são cidades recomendáveis para novos negócios, segundo a revista. Kasrin Wanngard, a Mayor de Estocolmo, olha para os  resultados conseguidos pela sua cidade nos anos mais recentes e destaca a importância da educação, dos transportes públicos, de apoios familiares e de alojamento acessível como aquilo que permitiu atrair e reter talentos. Foi um esforço continuado de inovação, de promoção da diversidade, de educação em todos os níveis escolares e na criação de uma rede de infantários municipais disponíveis para todas as famílias, sejam estudantes ou já trabalhadores. Uma das prioridades da cidade é dar condições para combinar a família com a carreira e Karin sublinha que quando as cidades funcionam em termos de atracção de talentos, funcionam em termos de atracção de negócios, e está garantido que terão sólidas instituições culturais e desportivas. Outros artigos interessantes nesta edição têm a ver com as novas tendências de produção de televisão e diversos ensaios sobre as razões de sucesso de bons negócios. Portugal tem três referências - uma página de publicidade da trienal de arquitectura, um elogio às novas capacidades na industria aeronáutica que a Embraer aqui criou, e finalmente, no Guia do Empreendedorismo, o primeiro destaque vai logo para Nuno Carvalho, que explica como construíu a sua Padaria Portuguesa.

 

PROVAR - Já se sabe que o norte de Portugal é uma região onde se come bem. Mas mesmo assim, às vezes fica-se bem surpreendido. Foi o que me aconteceu na “Muralha de Caminha”. Trata-se de uma casa que é simultaneamente restaurante e alojamento local, situada em sítio privilegiado, frente à foz do rio Minho. Tem uma zona interior e uma belíssima esplanada que nestes dias merece ser vivida. À partida há três coisas a destacar - a frescura dos produtos (mariscos, peixe ou carne), a simpatia do pessoal e o saber da cozinha. No meio das voltas que dei não vi robalo de pesca local tão fresco como o que chegou à mesa da Muralha. Espreitei para  a mesa do lado, onde um cliente notoriamente habitual se deliciava com um lavagante “da nossa costa”, grelhado e flamejado em aguardente velha. Eu fiquei-me com meia dose de posta de novilho, feita com um tempero habilidoso de alho, louro e pimenta e que estava verdadeiramente delicioso. A acompanhar vinham batatinhas novas salteadas e feijão verde, mas o pedido de umas batatas fritas - feito por inveja do que via passar  - foi prontamente satisfeito. Antes de o repasto começar tinham vindo dois pastéis de bacalhau daqueles que já é raro encontrar, com mais bacalhau que batata, e dois rissóis de carne, impecáveis. A lista de vinhos é boa e tem em conta a produção local. A broa de milho era exemplar. Muralha de Caminha, Rua Barão de São Roque 69, telefone 258 728 199.


DIXIT - O facto de querer sempre concorrer com os privados, o facto de não ter uma elite com coragem para fazer diferente, tornam a RTP pouco relevante e muitas vezes irrelevante no que toca ao serviço público” - Eduardo Cintra Torres.

 

GOSTO - Da apresentação da integral das nove sinfonias de Beethoven, pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, em várias cidades, como vai acontecer em quatro dias seguidos, no Terreiro do Paço, no fim do mês de Setembro.

 

NÃO GOSTO - Da decisão sobre a permanência dos Mirós em Portugal. Como Jorge Calado escrevia na Revista do Expresso: “Em vez de ficar com dois ou três razoáveis e vender o resto para comprar obras para as colecções existentes, vai-se criar o pior museu Miró do mundo para mostrar o rebotalho de uns restos de colecção. “

 

BACK TO BASICS - “Depois de saber tudo, estará sempre tudo por saber” - Alexandre O’Neill

 

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publicado às 14:09

SOBRE OS REGIMES E OS VOTOS

por falcao, em 01.07.16

BREXIT - Eu percebo que os britânicos que votaram pela permanência na União Europeia se sintam incomodados com o resultado do referendo. Mas já não entendo que os burocratas de Bruxelas, com Juncker à cabeça se armem em carpideiras do brexit. Durante anos fizeram a Europa adoecer, permitiram que entrasse em estado comatoso e incentivaram que ficasse moribunda. Desde a data do referendo sucedem-se, a partir de Bruxelas, os disparates, as ameças, as pressões contra os cidadãos britânicos que votaram pela saída e instiga-se a revolta dos que quiseram ficar, numa ingerência intolerável sobre o resultado de um voto. As carpideiras de Bruxelas não esperavam este resultado porque nunca percebem o que se passa e porque a realidade, para eles, é turvada pelos cocktails que frequentam em círculo fechado. Não foi o Reino Unido que perdeu, foi a Alemanha, com as posições que forçou a Europa a tomar, frequentemante com a ajuda do governo francês (como aconteceu em outros momentos da História), que venceu o primeiro round. Mas, na verdade, isto só agora começou e daqui a uns tempos há-de haver quem pergunte se preferimos ser aliados da Alemanha ou do Reino Unido, se queremos estar com a mais antiga democracia da Europa e com o país onde a criatividade é uma da maiores indústrias nacionais, ou se queremos ficar do lado de quem provocou duas guerras e tem no sangue interferir noutros países. O que se vê dos votos de Juncker e dos seus semelhantes, pelas declarações que proferem, é que os votos afinal valem pouco na Europa. Não admira - um parlamento europeu que é um verbo de encher e não passa de um pesado centro de custos que irradia directivas absurdas, tem sido um dos mais fortes destruidores da utopia europeísta.  Os líderes da UE devem considerar seriamente fazer o que não conseguiram fazer desde 2008: resolver as suas múltiplas crises em vez de tentar saídas improvisadas (...) O Reino Unido não é a causa de tudo isto. A zona euro e os seus líderes assustadoramente fracos são os culpados” -  as palavras são de Wolfgang Münchau, no Financial Times.

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SEMANADA - Em dois anos ataques terroristas mataram 10 pessoas por dia em todo o mundo; o Ministro das Finanças, Mário Centeno, admitiu numa entrevista que as previsões sobre o crescimento da economia nacional podem ser revistas em baixa em outubro; António Costa veio pouco depois contradizê-lo, afirmando que para 2016 "os dados estão lançados e dão contas certas"; há escolas do ensino básico a passar alunos com sete negativas; o preço da água em Olhão subiu 35%; o Chefe do Estado Maior do Exército decidiu substituir o subdirector do Colégio Militar e o Director de Educação e Doutrina do Exército; há poucos dias o Exército tinha anunciado que um inquérito realizado em Maio ao Colégio Militar “não identificou quaisquer evidências da existência de situações discriminatórias, motivadas por questões raciais, religiosas, sexuais, com base na orientação sexual ou por outros fatores”; desde o início do Euro já foram difundidas mais de 30 mil notícias sobre a competição, 70% das quais sobre a Selecção Nacional; segundo a Marktest 40.2% dos residentes no Continente com 15 e mais anos ouve música gravada ou online através do computador, o telemóvel é o segundo suporte mais usado com 31.7% de referências, seguido do auto-rádio com 25.0% e só depois a aparelhagem Hi-Fi, com 17.7%, o Tablet, com 15.7%, e os leitores de formatos digitais, com 8.1%.; Manuel Sebastião, ex-presidente da Autoridade das Concorrência, estima que a “soma simples dos custos dos quatro desastres” bancários,  BPN, BPP, BES e Banif, entre 2010 e 2015, aponta para 17,1 mil milhões de euros, o que se traduz num igual aumento da dívida pública, o equivalente a 9,5 % do PIB.

 

ARCO DA VELHA - Vitor Constâncio, na carta que dirigiu à Assembleia da República sobre o caso Banif, disse ter hoje uma “memória muito lacunar” dos assuntos em torno desse tema, que analisou enquanto governador do Banco de Portugal.

 

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FOLHEAR - A revista “Monocle”, que aqui tenho elogiado várias vezes, está a chegar a um momento difícil. Muita da frescura e inovação que apresentou quando foi lançada, em 2007, desvaneceu-se com o tempo. Instalou-se a rotina - de temas, de grafismo, editorial. A qualidade da fotografia baixou mas, pior que tudo, a proliferação de conteúdos, patrocinados ou apoiados, não identificados como tal, está a chegar a um ponto de desiquilíbrio. Há demasiada troca de interesses e favores recíprocos que se adivinha lendo as páginas de sucessivas edições. Sente-se cada vez mais que a redacção da revista fala sobre locais que aborda com reduzido conhecimento, ouvindo fontes pouco diversificadas e, muitas vezes, fazendo passar mensagens desfocadas da realidade. A edição de Julho /Agosto, como é hábito, tem a lista das 25 cidades que a “Monocle” considera as melhores para se viver. Tokyo continuou no primeiro lugar, seguida de Berlim, Viena, Copenhague e Munique. Madrid aparece na 14ª posição e Lisboa na 16ª, tendo subido dois lugares desde o ano passado - mas com alertas para temas como o trânsito caótico e a dificuldade de estacionamento que diz deverem ser melhorados. Lisboa aparece ainda com um destaque, sobre os seus parques e jardins, um pretexto para o vereador Sá Fernandes fazer um dos seus exercícios de propaganda demagógica com pouco correspondência com a verdade, infelizmente sem contraditório. Lisboa pode ser muito curiosa para um estrangeiro que nos visite dois ou três dias, mas está cada vez pior para se viver. Os seus habitantes e contribuintes são cada vez mais acossados por um executivo camarário em desvario de obras eleitoralistas. Não deixa de ser curioso que Sá Fernandes se declare satisfeito por ser considerado um inimigo dos automobilistas e que no editorial de última página, o director da Monocle, Tyler Brulé sublinhe: “Acreditamos firmemente que os veículos pessoais (táxis e outros) ainda têm cabimento nos centros das cidades e suas periferias.”

 

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 VER - O novo museu da EDP, o maat (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia) começou a desvendar a sua actividade esta semana. Criado dentro da Fundação EDP, a partir do espaço da Central Tejo, em Belém, o maat abriu a primeira fase, fruto da remodelação de espaços do edifício da Central Tejo, já concluída, com um sensível aumento da área expositiva. O novo edifício, em fase adiantada de construção, abrirá no Outono e será o novo pólo de desenvolvimento das actividades da Fundação EDP na área da arte contemporânea. A partir desta semana ficaram patentes quatro exposições, de que me permito destacar “Solilóquios e solilóquios sobre a Morte, A Vida e outros interlúdios” (na imagem). É um trabalho de Edgar Martins. um dos poucos fotógrafos portugueses que tem feito uma carreira internacional. Foi um dos vencedores do BES Photo e tem numerosos projectos, que combinam um lado documental com uma visão muito pessoal, estudada e criativa. A exposição que agora é apresentada no maat é o seu mais  recente projecto, fruto de uma pesquisa no Instituto de Medicina Legal de Lisboa, feita ao longo de três anos. É um trabalho sobre o universo e o imaginário da morte, em especial da morte violenta, e sobre o papel que a fotografia tem exercido na sua percepção.  “Lightopia”, a segunda exposição, resulta de  uma parceria com o Vitra Design Museum e aborda a forma como a luz eléctrica revolucionou o nosso ambiente.  A terceira exposição assinala o facto de o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia ser a mais recente instituição a integrar o Artists’ Film International, um programa dedicado à exibição de vídeos, filmes e animações realizadas por artistas de todo o mundo. Integra agora 16 entidades e foi iniciado em 2008 pela Whitechapel Gallery, de Londres.  Finalmente, a quarta exposição desta série, “Segunda Natureza” visita o acervo da colecção de Arte da Fundação EDP e apresenta cerca de cinquenta obras realizadas por vinte e seis artistas, que datam desde os anos de 1970 até ao presente e onde me permito destacar uma peça poderosa, de Manuel Baptista, “Falésia”. Na Central Tejo, Avenida Brasília, todos os dias até Outubro, excepto às terças, entre as 12 e as 20h.

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OUVIR - O pianista Bruce Brubaker escolheu algumas das obras mais conhecidas de Philip Glass e interpretou-as de uma forma que faz com que mesmo os apreciadores mais dedicados de Glass possam aqui sentir algumas novidades. Brubaker é um dos mais interessantes pianistas norte-americanos, que combina uma sólida formação clássica com o prazer da reinterpretação de compositores contemporâneos - aliás já gravou várias obras de Glass e também de John Cage ou Meredith Monk . Neste “Glass Piano” Brubaker baseou-se no repertório que o próprio Philip Glass escolheu para o seu  disco “Solo Piano” de 1989. Aqui estão peças bem conhecidas como “Mad Rush”, os cinco movimentos de “Metamorphosis”, “Knee Play” e o incontornável “Wichita Vortex Sutra”, que Glass compôs inspirado num poema de Allen Ginsberg. E é precisamente em “Wichita” que Brubaker atinge o seu melhor momento nestas reinterpretações. CD In Finé, no Spotify, onde também pode ouvir as remixes feitas para “Mad Rush”, “Metamorphosis” e “Knee For Thought”.

 

PROVAR -  João Portugal Ramos tornou-se conhecido como um dos primeiros enólogos a iniciar a grande mudança dos vinhos no Alentejo - primeiro trabalhando para vários produtores, depois, a partir das suas próprias vinhas, criando marcas próprias que fizeram nome. Mais tarde lançou-se, com sucesso, ao desafio do Douro, das Beiras, da região de Lisboa e do Vinho Verde. Alguns dos seus vinhos, como o Duorum e o Foz do Arouce ganharam importantes prémios de revistas norte-americanas. Pelo caminho surgiu um projecto de Enoturismo, a adega Vila Santa, e, agora, um azeite - o Oliveira Ramos Extra Virgem, a partir de olivais de Estremoz, com colheita tradicional e extracção a frio. O azeite assim obtido tem uma acidez de 0,2, bastante frutado de azeitonas, sabor cheio. Um bom teste para qualquer azeite é prová-lo no pão e este passa essa prova com distinção.

 

DIXIT - “É a última vez que aplaudem aqui. (...) O povo britânico votou a favor da saída. Porque estão aqui?” - Jean Claude Juncker, Presidente da Comissão Europeia, dirigindo-se a deputados do Reino Unido no Parlamento Europeu.

 

GOSTO - Ramalho Eanes pediu a fiscalização das promessas dos políticos e da exiquibilidade financeira de certas promessas eleitorais.

 

NÃO GOSTO - Do comportamento de ingerência do Ministro das Fianças alemão, Wolfgang Schäuble.

 

BACK TO BASICS - “A democracia é a pior das formas de Governo, à excepção de todas as outras que foram ensaiadas” - Winston Churchill



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