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POESIAS - Estava eu a ouvir Mário Centeno no debate parlamentar desta semana e lembrei-me de um poema de Bertolt Brecht, que começa assim: “Todo os dias os ministros dizem ao povo/Como é difícil governar. Sem os ministros/O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima”. É a segunda vez, em poucos dias, que Brecht me vem à memória. A primeira foi depois desse momento sublime dos conselhos de António Costa, quando recomendou que não se andasse de automóvel, que não se fumasse, estabelecendo regras de bom comportamento. Pensei nessa altura que, por este andar, qualquer dia vai estar a dizer-nos outras coisas que podemos ou não fazer. Ou dizer. E vai daí lembrei-me deste poema, também de Brecht:

“Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro

 

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

 

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável

 

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho o meu emprego

Também não me importei

 

Agora vierem buscar-me

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo”.

 

SEMANADA - Os automobilistas portugueses vão pagar mais 580 milhões de euros este ano; um Renault Mégane é proporcionalmente mais penalizado na nova fiscalidade automóvel que um Lamborghini e os veículos híbridos e eléctricos ficam a perder no novo OE; os técnicos da Unidade Técnica de Apoio Orçamental do Parlamento alertaram para a “elevada incerteza” das estimativas na proposta de Orçamento; Mário Centeno considerou, numa entrevista, que “quem tem 2000 euros de rendimento tem uma posição privilegiada”; metade da consolidação orçamental vem do lado da receita, a despesa continua impune; as gorduras do Estado aumentam 8,6%, ou seja 912 milhões de euros, e batem novo recorde; há 20 mil casos de propinas em atraso em quatro universidades, sendo que a de Coimbra lidera a lista; enquanto estava na oposição António Costa passava a vida a acusar o Governo de ser obediente em relação a Angela Merkel, mas a verdade é que, como Primeiro-Ministro, Costa conseguiu arranjar pretexto para ir ouvir Merkel antes de fechar o processo do Orçamento de Estado; apesar de todas as medidas da CML, tomadas ainda no tempo de Costa, o trânsito na Avenida da Liberdade aumentou 30% em apenas um ano, ao contrário das previsões anunciadas; extrapolamos a eficácia das suas previsões lisboetas para a matéria orçamental?; no último ano duplicou o número de pedidos de asilo político em Portugal, sobretudo de cidadãos da Ucrânia, Mali, China e Paquistão; os turistas chineses gastam em média 600 euros em compras quando visitam Portugal; 65% dos médicos trabalham no Serviço Nacional de Saúde; nenhum hospital público do Norte tem médicos especialistas à noite; em quatro anos saíram do país mil médicos; mais de meio milhão de portugueses não sabe ler; antes de sair de Belém, Cavaco vai condecorar Vitor Gaspar - que mal frequentadas andam as condecorações nacionais.

 

ARCO DA VELHA - Um estudo da OCDE aponta que Portugal é o quarto pior país para se trabalhar, apenas ultrapassado pela Turquia, Espanha e Grécia.

 

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FOLHEAR - “A Ilha do Tesouro” - Há muito tempo que não pegava neste livro. Literalmente, há décadas. E, no entanto, foi um dos meus livros do início da juventude - via-o como o supra sumo dos livros de aventuras. Foi a época em que devorava histórias de piratas umas atrás das outras e que nem sonhava que um dia Indiana Jones havia de tomar conta da minha imaginação. Razão tinha Robert Louis Stevenson, o autor de “A Ilha do Tesouro” quando disse que “a ficção é para o homem adulto o que o brinquedo representa para a criança”. Folheio esta nova edição e vou-me recordando de tudo o que vivi, sonhando a ler este livro -desde os mistérios da arca do marinheiro aos enigmas do mapa do tesouro, e até aos feitos do insuperável Capitão Silver. “A Ilha do Tesouro” foi o primeiro romance de Robert Louis Stevenson e foi o livro que mais fama lhe trouxe. Fiquei fascinado ao redescobri-lo na nova edição da Guerra&Paz, com belíssima tradução de Rui Santana Brito. Na nota de contra-capa o editor diz, com razão, que “esta é a mais popular história de piratas de todos os tempos”. Se Stevenson fosse nosso contemporâneo não lhe havia de faltar matéria prima para falar sobre piratas, olhando para o que se tem passado em Portugal.

 

Andrei Rublev (1966)

VER - Hoje não falo de exposições. Venho apenas recomendar um ciclo de cinema, dedicado à obra do cineasta Andrei Tarkovsky, amaldiçoado por Brejnev e pelo regime soviético, e o maior realizador russo depois de Sergei M. Eisenstein. Este ciclo começa exactamente pelo filme “Andrei Rublev”, que foi a causa da irritação de Brejnev, que manteve o filme proibido de ser exibido na então União Soviética até 1971, acusando-o de mostrar uma visão deturpada da História. O ciclo começou ontem, quinta-feira, no Nimas, em Lisboa, e tem também programação no Porto a partir de dia 12, no cinema Campo Alegre. Além de “Andrei Rublev” (cartaz original na imagem) o ciclo, que se estende até ao início de Março, inclui a longa metragem de estreia “O Pequeno Ivan” (que ganhou um Leão de Ouro em Veneza), “Solaris” (de 1972), “Stalker” (de 1979), “O Espelho” (de 1975), “Nostalgia” (de 1983) e o derradeiro “O Sacrifício” (de 1986). A programação pode ser encontrada no site da Medeia Filmes(http://medeiafilmes.com/eventos/ver/evento/ciclo-cinema-russo-andrei-tarkovsky-espaco-nimas/) e inclui também a curta-metragem “O Rolo Compressor E O Violino”, que foi o trabalho de fim de curso do cineasta e que é exibido nos mesmos dias que “O pequeno Ivan”.

 

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OUVIR - O pianista norueguès Tord Gustavsen é responsável por um dos melhores discos dos últimos anos, “The Well”, de 2012. Interpretado com o seu quarteto, “The Well” teve uma sequência lógica em “Extended Circle”, editado dois anos depois. Entretanto Gustavsen sentiu necessidade de sair do caminho que tão bem tinha trilhado nesses dois discos e regressou à ideia de um álbum onde músicas e palavras se completassem, como já tinha feito no início da sua carreira. Com uma extraordinária cantora, meio alemã, meio afegã,  Simin Tander, fez um CD de canções simples, maioritariamente com temas tradicionais e de raízes religiosas. Aqui estão textos da tradição popular norueguesa, versões inglesas de escritos do século XIII do poeta e místico persa Rumi, mas também o célebre”I Refuse” de Kenneth Rexroth, um poeta da Beat generation. Além de Tord Gustavsen no piano, teclados e baixo sintetizado, e da voz de Simin Tander, o baterista Jaris Vespestad completa a formação que fez este ”What Was Said”, o CD gravado em meados de 2015 e editado em Janeiro deste ano pela ECM. Na Amazon.

 

PROVAR -  Como os meus leitores hão-de já ter reparado ando um pouco enfastiado com os chefs portugueses. Diria mesmo que vai sendo altura de substituir a adoração aos chefs pelo elogio aos restaurateurs - os criadores de restaurantes, os que pensam no seu conceito, na sua arquitetura, no tipo de serviço que querem prestar, na clientela que querem conquistar, em quem se vai ocupar da cozinha e na comida que pretendem servir, bem entendido - ou seja, pensam nos clientes antes de pensarem na sua própria glória. Um restaurador - para usar o termo português (que se presta a alguma confusão) é aquilo a que no linguajar contemporâneo se poderia chamar um curador de comensais. Às vezes são eles próprios chefs, mas não se põem em bicos de pés. Já houve tempo em que havia alguns restauradores dignos de nota, agora a coisa é mais escassa na nova cultura ditada pela moda dos balcões dos mercados virados tascas modernaças - que sinceramente é um conceito que me irrita. Mas voltemos aos restauradores. Há em Lisboa um que merece destaque - é nepalês, veio para Portugal no final dos anos 90 e conseguiu criar ambientes especiais. Chama-se Tanka Sapkota, dedica-se à comida italiana que estudou com afinco e não hesita em fazer  experiências. É conhecido pela qualidade das suas pizzas napolitanas, mas não hesita em misturar massas tradicionais com, por exemplo, perceves ao lado de camarões da costa. E faz isso com tanto à vontade como é dos raros a servir trufa branca na estação e a incluir generosas lâminas de trufa negra nas suas pizzas. Depos de várias casas alheias, a começar pela antiga Trattoria, o Come Prima foi a sua primeira grande experiência e agora tem também o Forno d’Oro, onde dantes era o Mezzaluna. Mas é o Come Prima que merece mais atenção pelos pormenores da decoração, pelo espaço, pelo ambiente e pela qualidade da confecção. O próprio Tanka Sapkota está nas salas dos seus restaurantes, fala com os clientes, permanece atento, como um bom restaurador deve fazer. O Come Prima fica na Rua do Olival 256,  e tem o telefone 213 902 457.

 

DIXIT - “Estou convencido de que queriam evitar que eu apresentasse a minha candidatura à Presidência” - José Sócrates, explicando a sua detenção em entrevista a um jornal holandês.

 

GOSTO - As exportações portuguesas cresceram 33% nos últimos cinco anos.

 

NÃO GOSTO - Um terço dos parlamentares portugueses concilia a sua actividade enquanto deputados com actividades na advocacia ou na consultoria, o que potencia conflitos de interesse - denuncia um relatório do Conselho da Europa.


BACK TO BASICS - É muito perigoso querer ter razão quando o Governo está errado - Voltaire

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publicado às 14:00

O SÓCRATES

por falcao, em 16.04.13

Apresentado pela RTP como um trunfo para combater a queda de audiências, verifica-se no entanto que Sócrates está a perder espectadores desde que voltou à televisão. Na entrevista transmitida dia 27 de Março, e que assinalou o seu regresso à RTP, o ex-Primeiro Ministro teve cerca de 1,61 milhões de espectadores. No Domingo 7 de Abril a estreia de “A Opinião de José Sócrates” alcançou 978 mil espectadores mas neste último Domingo, dia 15, a segunda emissão caíu para 757 mil espectadores, uma queda de cerca de 22,5%.

 

À mesma hora, na TVI, Marcelo mantinha-se firme, sem grandes variações, nos seus habituais 1,6 milhões de espectadores. Tudo isto acontece numa semana em que teoricamente podia haver interesse político em ouvir a opinião de Sócrates: o PS tinha feito eleições directas que reconduziram António José Seguro, tinha havido uma mini-remodelação e o CDS/PP lançou uma ponte ao PS a propósito da reforma do Estado. Mas nem nesta conjuntura política José Sócrates conseguiu aumentar a sua plateia.

 

Confesso que ainda não tinha visto o programa que a RTP emite com José Sócrates na noite de Domingo. Ontem espreitei e uma das coisas que me causa alguma perplexidade no programa é o cenário – baseado numa imagem híper-aumentada que reproduz a silhueta da cara de Sócrates, por trás da sua presença ao vivo. Parece-me de mau gosto e um pouco a puxar ao culto de personalidade. A falta de capacidade de fixar audiências tem também a ver com isto – e com um discurso mais revanchista que virado para o futuro. O estilo de propaganda, que Sócrates escolheu, é derrotado pela conversa bem disposta e mais solta de Marcelo Rebelo de Sousa.

 

(publicado no diário Metro de dia 16 de Abril)

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publicado às 18:16

BOTOX – O PS está a fazer uma operação de recuperação estética acelerada. Primeiro Sócrates reaproxima-se de Alegre, depois decide-se a ouvir vozes divergentes, por fim admite que a maioria absoluta deixou de ser um objectivo. Preparam-se os tempos do diálogo e a nomeação de João Tiago Silveira, uma das poucas vozes sensatas do Governo, é um sinal de que a pesporrência de Vitalino Canas e a arrogância de Santos Silva estão provisoriamente guardadas debaixo do tapete. Contra ele João Silveira tem o facto de estar no Ministério da Justiça, um dos sectores onde o Governo quase nada fez, ainda por cima sendo a Justiça uma das zonas mais degradadas, ineficazes e profundamente injustas da sociedade portuguesa. Mas no meio deste face-lift acelerado fica um gato escondido com o rabo de fora – ao nomear António Vitorino para coordenador do programa eleitoral, espera-se agora que haja o bom senso de a RTP o despedir de comentador, de tão envolvido que está na principal peça que vai modular a propaganda do próximo ciclo eleitoral. Os sorrisos agora beatíficos de José Sócrates são produto de uma pesada derrota eleitoral – e nestas coisas da política, como dos tratamentos estéticos, é bom não esquecer que o botox tem duração limitada e que quando o seu efeito desaparece os defeitos ainda se acentuam mais. 

 


 


TGV – Perder o foco num debate é o pior que pode haver e na questão do TGV convém separar o essencial do acessório. O essencial é garantir que Portugal não fique isolado da rede europeia, que Lisboa fique ligada a outras capitais por uma linha de alta velocidade, nomeadamente a Madrid e a Paris e, daí, a várias outras. É uma obra cara e de retorno difícil – pois é, mas é estratégica e deve avançar. É um investimento público importante para garantir que a fronteira terrestre do país não se transforme num muro. Já outra coisa são as negociatas de política local ou de empreiteiros habilidosos que querem fazer ramais de TGV com paragens de 100 em 100 quilómetros, muitas pontes, viadutos e túneis. Estas são desnecessárias, completamente inúteis e não há razão para que as ligações Lisboa-Porto ou ao novo Aeroporto não sejam feitas por outros sistemas ferroviários rápidos modernos, mais adequados às distâncias entre cada paragem.  

 


 


VER – Maria Beatriz faz parte da geração de artistas portugueses que no final da década de 60 optou por trabalhar no estrangeiro. Uns voltaram após 1974, outros foram ficando nos países que escolheram – ela escolheu a Holanda e desde então tem vivido em Amesterdão. Em Portugal tem exposto com periodicidade irregular e esta semana abriu na Galeria Ratton uma exposição de obras inéditas, «Oisive Jeunesse, à tout asservie», uma citação de Rimbaud que dá o nome a esta série cuja preparação começou em 2007 e que integra desenhos, pinturas e azulejos, todas em torno do corpo feminino. Para além da galeria, o site da artista também merece uma visita: www.mariabeatriz.nl . A Ratton fica na Rua da Academia das Ciências 2C, junto à rua do Século. 

 


 


IR – Se têm seguido a polémica sobre a destruição do Museu de Arte Popular talvez achem interessante a proposta de uma «visita guiada» ao museu encerrado, que sob o título «O Museu Essencial E Incómodo» junta sábado dia 20, Raquel Henriques da Silva, João Leal, Rui Afonso Santos, Vera Marques Alves e Alexandre Pomar, no edifício do Museu, em Belém, pelas 16h00. 

 


 


CELEBRAR – A Bica do Sapato faz dez anos por estes dias, dos quais os primeiros foram de afirmação e resistência (no início a vida foi difícil) e estes últimos de consolidação. A Bica é daqueles restaurantes que oferecem mais que a comida (boa, óptima, diga-se): a decoração do espaço, a localização junto ao rio, a qualidade da garrafeira e das sugestões de vinhos do Chefe de Sala, o ambiente – tudo torna o local num espaço especial, que resiste a modas, simultaneamente íntimo e acolhedor para os frequentadores habituais e inusitado e excitante para quem lá vai pela primeira vez. Quanto à cozinha a inspiração é a gastronomia portuguesa, com uma interpretação contemporânea - dez anos na vida de um restaurante assim, sempre mantendo a qualidade, é uma data que merece aplauso – e é do melhor que Lisboa tem a oferecer a quem visita a cidade. Telefone 218 810 320, Av. Infante D. Henrique, Armazém B, Cais da Pedra, a Santa Apolónia. 

 


 


OUVIR -  «White Works», o novo disco do pianista de jazz João Paulo, é baseado em composições de Carlos Bica e é de um despojamento e contenção notáveis. A solo, no piano, ele consegue aquele exercício extraordinário que é partilhar a solidão. (CD Universal). 

 


 


RECORDAR I – Morreu em Maputo Ricardo Rangel, um dos mais importantes fotógrafos de língua portuguesa. A sua obra, nomeadamente a que foi feita entre os finais dos anos 50 e o princípio deste século, mostra um trabalho baseado no fotojornalismo e numa minuciosa interpretação da realidade, mas sempre com um olhar próprio. Trabalhou nas mais importantes revistas e jornais de Moçambique na fase anterior à independência, aliando a reportagem ao ensaio fotográfico. A pesquisa do seu nome no Google remete para uma série de sites, com destaque para os que mostram um dos seus mais importantes testemunhos, a exposição «Iluminando Vidas», que passou por Portugal. Nos últimos anos dedicou-se ao Centro de Documentação e Formação Fotográfica de Maputo, que fundou e dirigiu.  

 


RECORDAR II – Morreu em Lisboa João Bafo, que fez parte de um núcleo restrito de fotojornalistas portugueses que na década de 70 se empenharam numa nova forma de fazer fotografia «contra a fotografia de salão, concurseira, contra o estilo neo-realista», como recorda outro contemporâneo, Luiz Carvalho, no seu blog. Esse núcleo fez escola e influenciou a edição fotográfica na imprensa nas décadas seguintes. Tive o prazer de trabalhar com ele quando estive no «Se7e», que nessa altura o João também ajudou a mudar. O seu trabalho era verdadeiramente bom, mas nos últimos anos estava afastado da imprensa, em boa parte porque se fartou da forma como as chefias de redacção tratavam a fotografia – foi esse o tema da nossa última conversa, há uns anos. As suas imagens de Portugal na década de 70 e 80 mereciam ser de novo mostradas – aliás é miserável a maneira como matamos a memória do nosso próprio tempo. 

 


 


BACK TO BASICS – A fotografia serve para ajudar as pessoas a ver – Berenice Abbott 

 

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publicado às 13:58

ALERTA – Espera-se que em relação aos polémicos investimentos públicos previstos, e contestados pela maioria dos economistas de referência da área do PS, não sejam assinados à pressa contratos que comprometam o futuro, a seis meses de eleições. O problema é que o caso Freeport chegou onde chegou porque, no mínimo, os timings em que foi aprovado proporcionam que surjam suspeitas.  

 


 


ENTREVISTA – O discurso do Primeiro-Ministro transmitido pela RTP na passada terça-feira resumiu-se a um exercício de propaganda em matéria política e económica e à afirmação de ameaças relativamente ao caso Freeport. Pelo meio ficaram verdadeiras pérolas, como a de considerar como absolutamente normal tratar as opiniões de jornalistas como calúnias passíveis de perseguição criminal. É verdade que existe uma campanha negra em Portugal – mas é a que o Primeiro-Ministro move contra quem o critica, é a campanha negra do Governo contra a liberdade de expressão e de informação, que foi levada ao extremo quando José Sócrates, no exercício do cargo de Primeiro-Ministro se armou em crítico de televisão e analista de comunicação e atacou os noticiários de um canal de televisão pelo simples facto de reportar factos que lhe são pessoalmente incómodos. Nos tempos que correm temos um Primeiro-Ministro que persegue notícias e opiniões publicadas na imprensa e persegue os seus autores, ao mesmo tempo que se veste de vítima. Hugo Chávez, com quem Sócrates tem uma boa relação, também se incomodava com uma estação de televisão e, para resolver o problema, mandou encerrá-la. A cobardia política anda sempre de mãos dadas com a intolerância.


 

 


 


 


LISBOA – A Frente que quer a união à esquerda nas eleições autárquicas da capital procura apenas a junção de interesses espúrios, de circunstância e conveniência, suficientes para assegurar a vitória duvidosa de uma esquerda sem ideias e com uma prática de direita – os dois anos que António Costa leva como Presidente da Câmara são prova disso. Curioso é que esse período de dois anos seja exactamente o mesmo tempo que Santana Lopes levou no exercício efectivo do mesmo cargo, em Lisboa. Basta comparar o que foi feito, em igual tempo, por um e por outro. Costa claramente sai a perder. A sua herança é uma cidade suja, descuidada, agreste para quem a habita. 

 


 


PERGUNTA – O que é feito do processo da Casa Pia que de repente não se ouve falar do caso? Não é estranha a forma como a justiça funciona, ao arrastar casos durante anos até que venham a cair no esquecimento? 

 


 


DESCOBRIR – Se forem ao You Tube e procurarem na barra de canais o da educação poderão aí encontrar gravações vídeos de palestras e aulas de distintos professores de Universidades tão prestigiadas como Harvard, Yale, Carnegie Mellon ou Stanford. Outro bom sítio para procurar apresentações interessantes do ponto de vista profissional e científico é o www.ted.com , neste caso divididas em áreas que vão do entretenimento ao design, passando por tecnologia ou negócios. 

 


OUVIR – Ida Maria é uma norueguesa de 24 anos que canta com raiva e energia, que canta o que lhe vai no espírito sem atender a conveniências. Seguidora dos Pogues no que toca à quantidade de álcool que ingere antes de actuar, do punk no que toca às palavras e ao estilo, e da new wave no que toca a arranjos e produção – o resultado é aliciante e diferente de tudo o que tem surgido nos últimos anos. É fresco, incómodo como só a boa música o é, e perturbante como as belas canções sabem ser. Ouçam «Oh My God», «Louie» ou «I Like You So Much Better When You Are Naked», três das canções que fazerm de «Fortress Round My Heart» um dos albums a reter para o balance deste ano. Comprado na Amazon. 

 


VER – Uma recomendação no Porto: na Galeria Quase (Rua do Vilar 54), desenhos, fotografias e esculturas de Cristina Ataíde. Os desenhos combinam a grafite com o guache e criam ambientes que se prolongam nas esculturas, que combinam árvores, tecido e chumbo. Algumas fotografias completam a visão de Cristina Ataíde, que persistentemente tem operado nesta diversidade de meios, unidos por um fio condutor balizado pela observação, como se fosse a intervenção deliciosa de um voyeur anarquista sobre o que está à sua volta. 

 


 


FOLHEAR – A revista norte-americana «Rolling Stone» diminuíu de formato e perdeu aquele tamanho invulgar que a caracterizava. Passou a gora ao formato típico das revistas americanas – provavelmente porque o seu público tradicional foi envelhecendo e já não consegue abrir os braços o suficiente para o percorrer as páginas do tamanho antigo. Seja como for, tamanhos à parte, a Rolling Stone lá vai dando conta do recado embora com um tom mais cinzento e conformista do que há uns anos atrás. A publicação ainda é boa para ir vendo o que acontece, mas deixou de ser um guia de tendências. 

 


 


EXPERIMENTAR – Sabores orientais no New Wok; Rua Capelo 24, exactamente na esquina com a Rua Anchieta, frente ao Governo Civil. Não é a  melhor das vizinhanças mas a qualidade dos noodles e a diversidade de propostas, assim como a simpatia do serviço, a decoração do local e o atrevimento de algumas combinações inesperadas tornam o New Wok num sítio a conhecer se tiver vontade de experimentar um dos restaurantes de inspiração asiática mais conseguidos de Lisboa. Experimentem o gelado de sésamo na parte das sobremeses. Telefone 213477189. 

 


 


DESCONTRAIR – Este fim de semana o CCB propõe os seus Dias da Música, este ano dedicados a Bach, com algumas incursões na obra do compositor por músicos de outras áreas, como é o caso de Bernardo Sassetti. É uma programação rica e diversificada, prova provada da falta de razão dos velhos do Restelo que se puseram aos uivos quando a velha «Festa da Música», importada de Nantes e da habilidade comercial de René Martin, foi em boa hora abandonada por Mega Ferreira que preferiu investir numa programação própria. 

 


 


BACK TO BASICS - Bota-Abaixismo é o que o Governo tem andado a fazer ao país – ouvido na rua. 

 

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publicado às 13:01

(publicado no diário «Meia Hora» de 12 de Março


Uma das minhas grandes curiosidades desta semana é saber se por acaso vão aparecer agentes da PSP nas sedes do PS, a perguntar quantos militantes socialistas tencionam ir, de cada localidade, à manifestação do Porto. Não acredito que não apareçam – se foram tão empenhados a recolher informações nas manifestações contra o Governo, certamente que também hão-de querer garantir a segurança e a comodidade dos manifestantes pró-governamentais.



Cá para mim esta decisão do PS, em medir apoios na rua, leva-nos de repente até à América do Sul – bem vistas as coisas não é de admirar que Sócrates se dê bem com Hugo Chávez – até lhe copia os métodos do manual de acção política com manifestações espontâneas de celebração dos êxitos da governação.


No Governo há três anos, qual o balanço que o cidadão comum pode fazer? Na saúde as coisas não estão melhores; na justiça e na segurança nem se fala; na educação a crise está instalada; em matéria de defesa dos direitos dos cidadãos retrocedeu-se. Pontos positivos: o défice diminuíu, mas não foi à conta de reformas estruturais, foi sobretudo devido ao aumento de impostos; o desemprego, ao contrário das promessas, não diminuíu; nalgumas questões burocráticas há progresso, sim senhor e registam-se simplificações. Mas é pouco perante os sacrifícios pedidos a todos. Muito pouco.



A política em Portugal está a chegar ao nível zero: No PS e no PSD as fracturas internas aumentam todos os dias; as promessas que o PS fez para ganhar as eleições são desmentidas umas após outras pela prática; a oposição está empenhada em vencer o campeonato nacional de tiros nos pés; o Parlamento limita-se a ser cenário de momentos humorísticos na troca de picardias entre deputados do governo e da oposição.



Não admira que as acções de rua ganhem de repente tanta importância nas estratégias quer da oposição quer do Governo. O resultado de tudo isto vai ser um distanciamento cada vez maior dos eleitores – ou então o surgimento de novas organizações – como aqui e ali já se começa a verificar. Sócrates e Menezes arriscam-se a ficar para a História por proporcionarem a maior contribuição à alteração do espectro partidário – a menos que as coisas mudem, acho que não vai demorar nem dois ciclos eleitorais para que o cenário político partidário fique bem diferente. 
 

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publicado às 19:11

...

por falcao, em 22.02.08
SERÁ BIPOLAR?
(Publicado no diário «Meia Hora» de Quarta 21)

No fim de semana o Secretário Geral do Partido Socialista enervou-se com uns manifestantes que o apuparam à porta da sede do PS no Largo do Rato, em Lisboa, exaltou-se e acusou-os de estarem instrumentalizados e de pertencerem a um partido da oposição, como se isso fosse pecado. Só faltou dizer que eram perigosos comunistas.
Na noite de segunda-feira, na SIC, o Primeiro-Ministro, desfez-se em sorrisos e simpatias para com dois entrevistadores que, nas palavras de Vasco Pulido Valente, «tentaram não incomodar».
Nos últimos tempos, cada vez com maior frequência, parecem existir dois Sócrates: um que diz que qualquer remodelação é especulação jornalística, e outro que convida Ministros a apresentarem carta de demissão; um que veste fatos Boss e calça sapatos Prada, e outro que desenha casas forradas a azulejos multicores; um que promete que não subirá impostos, e outro que os aumenta; um que se exalta e diz inconveniências, e outro que respira tranquilidade e transpira politicamente correcto. Os exemplos são numerosos.
A coisa é séria: um país não deve, em boa teoria, ser governado por alguém com características de ter um comportamento bipolar – gera instabilidade, que diabo!
Até mesmo nessa entrevista nasceu um novo fenómeno: Sócrates, que gosta de se afirmar determinado e sabedor do rumo que quer seguir, mostrou um laivo de enorme indecisão. Talvez inspirado no exemplo de Cavaco Silva, disse que ainda não sabia se concorreria às próximas legislativas. Mostrou-se indeciso, receoso, calculista porventura. É, talvez, mais um dado a ser tido em conta no diagnóstico.
Quando olho para o percurso do Engenheiro José Sócrates, para a forma como ele e a sua «entourage» próxima se comportam face à mais leve crítica, vem-me sempre à memória a mesma citação, do perspicaz Eça de Queiroz: «sob a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia».
De facto parece existir aqui um problema com este Governo e o seu Primeiro-Ministro: o país de que falam, não parece ser aquele onde vivemos. O Governo vê êxitos e maravilhas onde o comum cidadão vê dificuldades e desilusões. Em qualquer crítica o Governo vê um ataque. No jornalismo investigativo vê uma ameaça. Na insatisfação dos cidadãos descobre uma ingratidão. No fundo, é um Governo incompreendido, ao que parece dentro do próprio partido de onde é oriundo.

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publicado às 16:04


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