A SICIALIZAÇÃO DO PAÍS
Há uma semelhança entre o cinema e a política. Para se conseguir sucesso tem que se ter um argumento credível e bons protagonistas. Um mau argumento pode dar cabo de uma boa história, erro na escolha das figuras principais pode demolir um projecto que parecia bom. Digam lá se o caso português não está cheio de situações destas, quer no Governo, quer na oposição?
Do lider da oposição esperar-se-ía que já tivesse perguntado ao Presidente da Republica se não acha que as tensões na área da justiça, da polícia, das forças armadas, dos professores e na Função Pública em geral não o preocupam. Está a fazer um ano que o PR resolveu dissolver o Parlamento depois de uma conversa com meia dúzia de banqueiros e financeiros, mas agora é que existe um clima de conflitualidade social como há muitos anos se não via, acompanhado de uma ainda maior degradação dos principais indices económicos e do agravamento do desemprego. Do líder da oposição esperar-se-ia apenas uma pergunta: «E agora, Senhor Presidente?».
As «Noites à Direita- Um Projecto Liberal» de quinta-feira passada foram dedicadas à economia, com uma bela conversa entre António Borges e Daniel Bessa e ambos coincidiram num retrato, semelhante, do país: dificuldade em fazer mudança, pouco debate ideológico, pouca abertura à inovação, elevado proteccionismo, pouca dinâmica social. Daniel Bessa, que curiosamente se classificou como um mero «consumidor de política» chegou a dizer que Portugal caminhava no sentido de se tornar semelhante à Sicília. Feito o diagnóstico, bem feito, diga-se, fica inevitavelmente uma pergunta: no actual quadro político-partidário será possível alterar as coisas? Os partidos que existem e o modo de funcionamento do regime não são eles próprios os pilares desta sicialização?
A AOL e a Warner anunciaram um novo serviço de Internet, In2TV, que permitirá aos utilizadores verem episódios inteiros de séries de televisão em «qualidade próxima da do DVD». O arranque do serviço está previsto para o início de 2006 e terá seis canais temáticos diferentes, acessíveis em banda larga normal com um software especial desenvolvido pela AOL e que para já será seu exclusivo. Quer dizer, está a nascer o novo universo dos canais exclusivamente pensados e programados para banda larga, sem necessidades de redes de emissão ou dos distribuidores de cabo pelo meio. A televisão, na realidade, está a deixar de ser o que era. E até por cá, mais dia menos dia, se há-de dar por isso.
VER – A próxima semana promete muita animação visual. Dia 23 inaugura mais uma edição da Arte Lisboa – Feira de Arte Contemporânea, que fica na FIL até dia 28 e integra as principais galerias nacionais e algumas espanholas. Entretanto na Estufa Fria, em Lisboa, já está a Anteciparte, que apresenta até dia 27 uma selecção da mais jovem expressão artística nacional.
DEVORAR – Misto de ler e de comer com os olhos, o livro «Na Roça Com Os Tachos» de João Carlos Silva, que, a partir de São Tomé e Principe, se tornou num caso raro de comunicação na televisão. As fotografias são de Adriana Freire, as receitas vão dos petiscos aos doces. Para as cozinhas, e em força!
OUVIR – Duas maneiras de ouvir uma nova e elogiada versão de «La Traviatta», dirigida por Carlo Rizzi à frente da Filarmónica de Viena e com as participações de Anna Trebenko como Violetta, Rolando Villazón como Alfredo e Thomas Hampson como Germont. Estreada em Salzburgo, esta nova versão da obra de Verdi tem sido elogiada. A Deustche Grammophon teve uma ideia editorial interessante: de um lado a edição da integral desta «La Traviatta», num CD duplo; do outro, e sob o título «Violetta», um CD que reúne as árias e duetos mais populares que percorrem a história de Violetta, com a voz de Anna Trebenko em particular destaque. Distribuição Universal Music.
BACK TO BASICS – Quando se aumenta o fosso entre as elites e as massas está a comprar-se um problema. Bem grande – basta ver o que se passa em França.
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