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por falcao, em 10.08.04
Faço minhas as palavras de Vicente Jorge Silva sobre Henri Cartier-Bresson: Nenhum fotógrafo foi tão decisivo como ele, nenhum como ele soube captar o mistério do «instante decisivo»: a coincidência mágica entre o pulsar da vida e a geometria do real. Como se por detrás de cada situação surpreendida em flagrante pela câmara houvesse sempre uma ordem geométrica misteriosa que lhe emprestava um sentido único e a resgatava do caos. Nunca a mais extrema simplicidade, o mais genuíno despojamento, a recusa do artifício, se conjugaram, de modo tão perfeito como em Cartier-Bresson, com a arquitectura do único enquadramento possível.



Tal como Antonioni no cinema, Cartier-Bresson foi quem, na fotografia, me ensinou a olhar. O rigor e a elegância com que compunha espontaneamente as suas imagens eram atributos de um caçador que apanha a presa no momento exacto e faz desse momento um instante de beleza fulgurante. Uma beleza que perdura para além da fracção de segundo em que foi surpreendida e que a deixou suspensa para sempre.



Cartier-Bresson foi um dos meus heróis. Como fotógrafo, como fotojornalista, como referência humana, ele que tornava absurda a separação entre estética e ética, entre forma e conteúdo. E que, por isso, repudiava vigorosamente a instrumentalização da imagem por legendas retóricas que alterassem a evidência singela do que estava lá e se oferecia à liberdade dos nossos olhos. Bastava apenas que soubéssemos olhar. Como ele.



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publicado às 11:26

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por falcao, em 09.08.04
INDEPENDÊNCIA

INFORMAÇÃO A MENOS



Um dos mais curiosos exercícios que se pode fazer é ler jornais com um mês de atraso. Assim sempre se pode confrontar a diferença entre as crónicas anunciadas e a realidade. O «Expresso», por exemplo, noticiava há cerca de um mês que o Presidente da República estava a ficar mais próximo da convocação de eleições e anunciava que o Comissário Europeu António Vitorino se preparava para regressar à vida política activa e, talvez, a tomar conta do PS a partir de 1 de Novembro. Ambas as notícias vinham na capa da edição do passado dia 3 de Julho. Escassos dias depois ambas as peças estavam desmentidas pela realidade e à distância de um mês parecem atrozmente ridículas.

Nalgumas estações de televisão alguns jornalistas tecem declaradamente comentários pessoais a meio do relato dos acontecimentos, por vezes chegam ao ponto de insinuar agrado ou desagrado perante determinadas posições de alguns políticos e não se coíbem de utilizar a expressão facial ou trejeitos para acentuar o que pensam. Não viria mal ao mundo se fossem comentadores, analistas e se se apresentassem como tal: mas não, são repórteres em S. Bento, Belém ou nas sedes dos partidos e até «pivots» noticiários.

Porque é que isto acontece? Porque em vez de relatarem, reportarem, alguns orgãos de comunicação preferem deitar-se a adivinhar, preferem utilizar fontes não identificadas para espalharem rumores, preferem fazer passar opinião por informação – de uma forma aliás que se aproxima muito da manipulação da opinião pública. O jornalismo político em Portugal é carregado de insinuações e pequenas manobras e muito parco em boa informação. Quando manobristas políticos são utilizados como «fonte fidedigna» há pouca coisa que possa correr bem.



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publicado às 12:48

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por falcao, em 09.08.04
A ESQUINA DO RIO

resumo dos dias que passam



CÁ DENTRO: Nos exames do 12º ano, 18 em 21 disciplinas tiveram médias negativas e mais de metade dos alunos chumbaram. Em Junho foram multados mais de 11000 automobilistas por excesso de velocidade. No PS, Vicente Jorge Silva apoiou a candidatura de Manuel Alegre a Secretário-Geral; José Sócrates apresentou a sua alternativa baseada num objectivo estratégico de desenvolvimento centrado no lançamento de um Plano Tecnológico; João Soares alertou para a eventualidade de resultados manipulados, disse desejar que o PS volte a ser revolucionário, e em relação à campanha interna afirmou: «não estamos num concurso de misses»; O ex-ministro José Lello disse duvidar da «sanidade mental de João Soares». Na última sessão legislativa os Deputados baixaram a produção legislativa em 55% em relação à anterior sessão, do ano passado. Jorge Miranda defendeu num artigo de opinião que a decisão de Jorge Sampaio na recente crise política preservou o sistema de governo semi-presidencialista e evitou a degradação do Parlamento. O Governo apresenta a nova Lei das Rendas em Setembro, com o objectivo de assegurar actualizações progressivas – a responsabilidade será de José Luis Arnaut. António Mexia prometeu que até ao final do ano ficará pronta uma base de dados sobre o estado de seis mil pontes, viadutos e túneis. Uma investigadora portuguesa na área da biomedicina, Maria Mota, ganhou um dos prémios European Young Investigatores Award. O engenheiro Sagadães Tavares, responsável pela pala do Pavilhão de Portugal, ganhou o oscar mundial da engenharia, o Outstanding Structures Award, especificamentepela sua obra de ampliação da pista do Aeroporto Internacional da Madeira, no Funchal. De Abril até final de Julho foram vendidos em Portugal mais de 110 000 exemplares do livro «O Código Da Vinci».





LÁ FORA: Nos Estados Unidos a convenção democrata organizou 200 eventos marginais, desde torneios de golfe a recepções, passando por festas e seminários. A Estátua da Liberdade, em Nova York, reabriu pela primeira vez depois do 11 de Setembro, na mesma semana em que os Estados Unidos puseram em acção medidas especiais de segurança com receio de novos atentados terroristas. Os REM, Pearl Jam e Bruce Springsteen actuarão numa digressão a realizar nos Estados Unidos, no início de Outubro, com 34 espectáculos em 28 cidades, sob a designação genérica de «Vote For Change», um apelo a mudanças políticas no país e contra Bush..O barril de crude atingiu novo máximo, superando a barreira dos 40,99 dolares estabelecida em 10 de Outubro de 1990, em vésperas da 1º Guerra do Golfo. As comemorações dos 300 anos da presença britânica em Gibraltar provocaram polémica e Jose Luis Zapatero considerou como « não adequada» a posição da Grã-Bretanha sobre o rochedo. O Governo Regional da Catalunha vai permitir a venda médica de Cannabis a partir de 2005. José Manuel Barroso já formou a sua equipa de comissários com um terço de mulheres: oito em 24. A União Europeia começou a rever o embargo de armas imposto à China em 1989 após os incidentes da Praça Tiananmen. O australiano Eric Bona, conhecido como o actor de deu corpo a Hulk, é o mais sério candidato a ser o próximo James Bond, no 21º filme da série. Morreu o sax tenor Illinois Jacquet, autor de um célebre solo em «Flying Home», de Lionel Hampton. Henri Cartier-Bresson, o homem que mudou a maneira de fazer foto-jornalismo, morreu aos 95 anos. A sonda Messenger partiu 3ª feira para Mercúrio, onde deve chegar em 2008 depois de percorrer 7 900 milhões de quilómetros. É a primeira missão científica em três décadas ao planeta mais próximo do Sol. Muitos dos principais jornais internacionais de referência deram a esta epopeia honra de primeira página, em Portugal não houve um jornal que o fizesse.



O MELHOR DA SEMANA: filetes de pescada com puré de grão, na Cafetaria da Bica do Sapato.



O PIOR DA SEMANA: Ficar sentado num restaurante ao lado de duas brasileiras que discutem dietas.



PERGUNTA: Porque é que os nomes das ruas das cidades e vilas são tão mal sinalizados?



SUGESTÃO: A exposição de Keith Haring, na Culturgest.



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publicado às 12:47

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por falcao, em 06.08.04
ESQUINA IMPRESSA

Hoje a Esquina impressa, no «Jornal de Negócios», tem nova forma. Pedem-se reacções.

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publicado às 13:29

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por falcao, em 02.08.04
O RETRATO DA SEMANA

A melhor síntese do que se passa vem na revista britânica The Spectator. Leiam o que é o kit de emergência proposto pelo governo de Sua Majestade.

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publicado às 16:12

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por falcao, em 02.08.04
NOVIDADES DA RÁDIO

Se gosta de ouvir rádio na internet e não tem paciência para escolher as canções que quer ouvir, experimente ler este artigo da

Wired

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publicado às 16:09

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por falcao, em 02.08.04
A ESQUINA DE SEXTA FEIRA PASSADA, ENTÃO AINDA A SUL



O CÉU FICA NEGRO com o fumo dos incêndios. Os fins de tarde na praia têm uma luz estranha, o sol a pôr-se detrás dos sinais de fogo. É uma luz terrível, ao mesmo tempo estranha e cativante. Olhamos para as coisas com outros olhos. Olhamos para os outros com um sentir diverso. O calor muda a face da terra e muda-nos a nós todos. Uma semana de calor abrasador e ficamos todos diferentes.



OS INCÊNDIOS fazem parte do ciclo de vida das florestas. Por mais que o saibamos eles continuam a aterrorizar-nos. Todas as noites vejo nos telejornais as caras exaustas dos bombeiros, num rodopio de norte a sul de Portugal, a combaterem as chamas no meio de um calor tórrido. Ano após ano os bombeiros mostram o sacrifício que fazem, são repetidamente heróis que muitas vezes descuramos - mais de cem já ficaram feridos desde Junho. A sua coragem quase que faz parte das rotinas. E nestas alturas percebemos como muitas vezes não os estimamos como merecem. O esforço que têm nunca é uma rotina. É um permanente desafio,



O DEBATE DO PROGRAMA DO GOVERNO correu de acordo com as expectativas: a oposição atacou (já tinha aliás dito que ía atacar mesmo antes de o Programa ser conhecido), a coligação defendeu. Passei a terça-feira a andar de carro de um lado para o outro e segui quase todo o debate pela rádio. Acho que todos os líderes partidários deviam escutar a gravação integral do debate – era educativo e podia ser que percebessem porque cada vez menos gente se interessa pela política. No debate foi tudo muito previsível, porquê? Porque cada um vai afirmar uma posição em vez de discutir, argumentar, sugerir. A mediatização dos debates transforma-os nos palcos de excelência para a amplificação das posições de princípio, em vez de serem o local onde se trocam ideias. Às vezes acho que os senhores deputados devem viver noutro país. Falam das coisas de uma maneira que faz parecer que não se lembram do que se passou nos anos recentes, de quem fez o quê, de quem disse o quê. Pode parecer utópico dito assim, mas parece-me que a ideia original dos parlamentos era que várias cabeças juntas trocassem ideias que permitissem ir melhorando o estado das coisas. Em vez disso cada grupo parlamentar limita-se a repetir slogans. Não há debate. Não houve debate.





DUAS RECOMENDAÇÕES PARA AGOSTO EM VILAMOURA: 1- O Tabuínhas, bar da Praia da Falésia, cumpre o seu papel na canícula: cerveja fresca durante o dia, saladas simpáticas. Mas onde ele se revela melhor é mesmo ao fim da tarde, frente a um gin tónico com boa música gravada em pano de fundo; ou então, mais tarde, para uma jantarada de amigos com um peixe fresco grelhado; e, às vezes noite fora, nas festas que de vez em quando lá acontecem e se espalham pelo areal. O bar parece a sociedade das nações: uma empregada checa, outras brasileiras, outras indianas, e a coisa lá vai funcionando. 2- O Jazz Clube na praça do cinema é uma boa ideia para começar as noites de quinta,sexta e sábado, com música ao vivo geralmente interessante e uma bela selecção de música gravada, dos blues ao jazz. Cerveja fresca,ambiente simpático e despretencioso.



NO REGRESSO DE FÉRIAS, a partir da próxima semana, a «Esquina do Rio» vai mudar de forma e conteúdo, deixando o comentário político, para passar a fazer uma revista semanal, escolhida, de notícias, novidades, curiosidades. Já agora era bom de saber o que os leitores gostavam de ver por aqui, nesta revista semanal – ideias e sugestões para aesquinadorio@hotmail.com

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publicado às 11:15

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