O PAPEL DOS INDEPENDENTES
Para mal dos nossos pecados, tentar imaginar a política sem partidos é como imaginar um campeonato de futebol sem equipas. Essencialmente a política é um jogo disputado por partidos rivais e alguém que queira entrar nesse jogo de uma forma independente em relação aos partidos está condenado à irrelevância. E, no entanto, à medida que se caminha para uma bipolarização mais evidente, torna-se também mais claro que um número crescente de pessoas não se revê na organização partidária à sua volta.
As recentes eleições portuguesas mostram uma coisa muito curiosa: existe uma massa cada vez maior de eleitorado que não se revê claramente em nenhum partido e vai alterando o seu voto, de um partido para outro, conforme as circunstâncias. Este eleitorado central parece comportar-se muitas vezes mais à direita em questões fiscais e económicas e mais à esquerda em matéria de políticas sociais.
De facto existe um número crescente de eleitores desencantados com um sistema partidário envelhecido e fechado. E existe um número crescente de pessoas, entre as quais me incluo, interessadas pela actividade política e por políticas sectoriais, que prefere viver à margem dos partidos existentes e que por isso mesmo tem dificuldade em encontrar espaço de acção fora dos grupos organizados.
Os partidos, sobretudo os dois maiores, gostam de colocar independentes na sua órbita, mas resistem a permitir uma maior participação efectiva dos independentes no sistema, fora das baias partidárias. Fazer uma reforma do sistema político que fomente o surgimento de candidaturas independentes a todos os níveis poderá trazer à actividade política muitos que hoje não se querem submeter às lógicas partidárias – ora aqui está um tema que podia ser patrocinado pelo Presidente da República.
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QUALQUER DIA
VAMOS AO NIMAS NO TELEMÓVEL
INVEJA – Excertos do novo filme da saga «Star Wars», o «Revenge Of The Sith», podem já ser vistos pelos clientes do operador de telemóveis norte-americano Cingular Wireless, que assegurou também downloads exclusivos de temas musicais do filme, assim como screensavers.
FILMES – A Motion Picture Association Of America anunciou esta semana que a indústria cinematográfica se encontra de boa saúde. As vendas de bilhetes de cinema nos Estados Unidos em 2004 atingiram 9,54 mil milhões de dólares, o terceiro ano seguido acima do dígito 9, assim como pelo terceiro ano consecutivo o número de bilhetes vendidos ultrapassou os 1 500 milhões de unidades. O custo de produção de um filme de primeira linha foi em média de 63,6 milhões de dólares e os custos médios de marketing por lançamento foram de 34,4 milhões, o que significa um orçamento médio de 98 milhões de dólares por filme – aqui se explica muita coisa quando se comparam estes valores mesmo com as produções europeias mais ambiciosas.
TESTES – Na Finlândia começaram os testes para experimentar a oferta de serviços de TV para telemóveis com a participação de várias companhias locais, entre elas inevitavelmente a Nokia. Os consumidores do painel de teste, que pertencem a dois operadores locais de telemóveis, podem receber programas de rádio e TV nos telefones Nokia 7710, equipados com um acessório especial que permite captar as emissões de televisão. Os testes, que permitem, para além do acesso a estações locais, a canais como o Euronews, CNN, MTV, Eurosport, Viva Plus e Fashion TV, além de acesso on line a diversas informações. O sistema vai estar em teste até final de Junho após o que deverá ser comercializado se tudo correr bem.
UNICIDADE – A coisa que mais me irrita num bar ou restaurante é dizerem-me que só têm cerveja de uma marca apenas. Ainda fico mais irritado quando a cerveja é Super-Bock – não gosto do líquido adocicado, insípido, vulgarote. Esta unicidade cervejeira, invenção marketeira de desprezo pelo cliente, é muito irritante: alguém suportaria que num restaurante médio não existisse uma escolha de vinhos nem de lista de comidas? Então porque é que em tanto sítio temos que gramar a existência de apenas uma cerveja, as mais das vezes mázota?
LEITURA – Resisti a comprar o livro uma semana mas, pronto, rendi-me. «O Canto da Sereia» de Nelson Motta é uma grande novela policial. O assassínio de uma cantora pop em pleno desfile do Carnaval da Bahia, em directo para as televisões, frente ao guarda-costas que era suposto protegê-la, mas escrevia umas notícias de crime como passatempo. Estão a ver a história que isto dá? Nem imaginem porque será pouco o que podem pensar. É mesmo preciso ler. Ponham quatro horas de lado e deliciem-se com este belo livro. Escritor, jornalista, compositor musical e produtor artístico, Nelson Motta era uma das figuras do programa «Manhattan Connection», da GNT. Edição Palavra, 254 páginas.
BANDA SONORA – Este artigo foi escrito tendo como pano de fundo musical o disco que no último fim de semana mais me animou, «Di Korpu Com Alma», da cantora Lura, de Cabo Verde. Festiva e sentida, Lura é menina-senhora de uma voz invulgar, arrebatadora e sentida, maestra de uma forma de arrastar sílabas que enrola os nossos sentidos. Este é o seu terceiro CD, edição Lusáfrica.
COMIDINHA – O país está em contenção, dedico-me a honestas casas de pasto onde se come bem e barato, onde o vinho da casa é bom em vez de ser uma zurrapa engarrafada em produto branco. Aqui o caso é leitão, assado de fresco para as bandas de Moscavide. Chama-se «Casa Bota Feijão» e fica por trás do Hotel Tryp, no Parque das Nações, para além da linha de caminho de ferro, na Rua Conselheiro Lopo Vaz nº5. O leitão é importado do centro do país e assado no local. As batatas fritas que acompanham são do melhor. O restaurante tem poucas mesas, habita numa velha casa, e a prudência manda reservar pelo telefone 218 532 489. Há espumante da casa, singelo e honesto, branco ou tinto, a rematar uma baba de camelo hiper-calórica como é suposto.
REMATE – Não basta parecer estar sossegado. É preciso não dar nas vistas.
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EXCESSO - O jornalista brasileiro Ricardo A. Setti publicou no site «Observatório da Imprensa», um artigo notável sobre a desproporção entre o noticiário político e a realidade, apropriadamente intitulado «Quem Aguenta Tanto Noticiário Político?». Com a devida vénia não resito a fazer a transcrição de dois parágrafos: «Tem cabimento esse massacrante espaço conferido à política num momento em que vários fenômenos – a globalização da economia, o desenvolvimento científico, os saltos da medicina, a generalização do uso da internet, as novidades tecnológicas, a questão ambiental, o acesso ao lazer, as novas tendências de comportamento, o redespertar das religiões, a atuação do terceiro setor – ampliam extraordinariamente a área de interesses das pessoas? Não será por problemas como esse que certos veículos, como os grandes jornais, perdem público continuamente, mais no Brasil do que em outros países? Os jornais, sobretudo, não estariam, por essas e outras, ficando distantes do interesse dos leitores? Não estariam ficando chatos demais?».
RECOMENDAÇÃO – O «Green Paper» sobre a BBC do Secretário da Cultura do Governo britânico merece ser lido e estudado por todos os que se interessam pelas questões relativas á rádio e televisão públicas, nomeadamente na parte tocante à organização e orgãos dirigentes da empresa, ao tipo de emissões que deve privilegiar e ao que deve ser a sua estratégia. O documento pode ser consultado no site criado para fomentar a sua discussão pública, um local aliás de referência para se ver o que pode ser a utilização de novas tecnologias para facilitar a participação dos cidadãos no processo de decisão política:
http://www.bbccharterreview.org.uk/RECORD - Os websites da BBC registaram sete milhões de utilizadores em Janeiro deste ano, o que significa um aumento de 70 por cento em relação a janeiro de 2004. Os utilizadores das estações preferiram a BBC Radio 1 e a BBC Radio 4 e ouviram 4,2 milhões de horas de programas. Estes são os melhores números de sempre obtidos pelas emissões da BBC na internet.
ESPIONAGEM - Se precisam de informações sobre um país, não hesitem em recorrer à CIA. É o que faço com regularidade quando preciso de saber informações detalhadas sobre população, estrutura demográfica, recursos naturais, relações intewnacionais. A resposta é simples e não é conspirativa: basta aceder ao «The World Factbook», o mais completo almanque on-line que conheço e que é elaborado pela CIA. Pode ser acedido em
http://www.cia.gov/cia/publications/factbook/PRÉMIO - Rem Koolhaas, o arquitecto da casa da Música no Porto, foi o vencedor do prémio «Wired» deste ano na categoria de arquitectura, pelo edifício da nova biblioteca pública de Seattle. Outros finalistas foram Santiago Calatrava e Frank Gehry, respectivamente pelos edifícios do World Trade Center PATH Terminal em Nova York e o Stata Center no MIT.
BACK TO BASICS – Não se volta a um lugar onde se foi feliz à procura de nova felicidade.
PARA OUVIR – Os blues de Robert Johnson por Eric Clapton , CD e DVD com 14 canções do grande mestre dos blues, interpretadas por Eric Clapton. Sessions for Robert J., edição Reprise Records.
PARA LER – «A Imprensa em Portugal, Transformações e Tendências», de Paulo Faustino, uma edição Media XXI que é um dos mais completos estudos sobre a evolução dos media em Portugal nos últimos anos, conjugando análises de audi~encias com receitas comerciais e com evoluções editoriais.
COMIDINHA – Bifes tradicionais e petiscos lusitanos num clássico lisboeta, a Tasca do João, Estrada do Lumiar 122, telefone 217 590 311.
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O FIM DE UM TEMPO
Tenho alguma tendência para acreditar que os rituais e os símbolos são sinais que nos guiam e ajudam a balizar os comportamentos e as coisas à nossa volta.
Para mim, e para muitos que durante anos acreditaram ser possível que o centro-direita concretizasse um ciclo de reformas e mudanças e transformasse o país para melhor , estes últimos tempos foram um constante pôr em causa de referências e de símbolos. Quando daqui a uns anos se olhar com distanciamento suficiente para tudo o que se passou nestes últimos 10-12 meses, suspeito que a imagem não vai ser bonita de se ver.
De certa forma é a derrota de uma geração – ou pelo menos da parte de uma geração que achou que o caminho era esse, um caminho que passava por determinadas ideias e determinados protagonistas. O que me custa mais é que nestes três anos não se conseguiu mostrar que o centro-direita podia desenvolver e modernizar, nem se conseguiu mostrar que tinha preocupações sociais e culturais. A imagem dominante que fica é cinzenta, austera, com a contenção como quase único objectivo.
Continuo a achar que os fins não justificam os meios, continuo a pensar que o poder pessoal não se pode sobrepôr ao interesse colectivo, e continuo a pensar que muita coisa precisa de mudar para o país funcionar de outra maneira e todos poderem viver melhor.
A forma do exercício do poder é uma delas. Os primeiros rituais e símbolos do novo poder foram uma lufada de ar fresco na forma de fazer política.
A forma, como se sabe, não é tudo. Mas, no estado a que as coisas tinham chegado, ganhou uma súbita importância. Talvez seja este o sinal do fim de um tempo.
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RÁDIO – No Reino Unido a venda de aparelhos de rádio digitais (DAB- Digital Áudio Broadcasting) ultrapassou a venda de aparelhos analógicos pela primeira vez em Janeiro deste ano e a proporção é de dois digitais para um analógico. Um bom modelo portátil custa cerca de 70 euros. Os principais retalhistas ingleses esperam que a procura de rádios digital aumente substancialmente já que os conteúdos disponíveis são atraentes, a qualidade de som impecável e as possibilidades técnicas revolucionárias. Segundo as estatísticas britânicas, no final de 2004 existiam 1,3 milhões de rádios DAB e as previsões apontam para que em finais de 2005 se alcancem os 2,4 milhões e em 2008 os 8,3 milhões. A BBC tem cinco estações DAB.
A RDP foi também pioneira na instalação das infraestruturas do sistema.
MOURINHO – Fez a capa do «The Times» e do «The Independent». Provocou polémica. E num artigo de página inteira do «The Times» de quarta-feira passada, o jornalista Martin Samuel não hesita em dizer que Mourinho mudou o futebol no Reino Unido: «injectou ar fresco naquilo que se estava a tornar numa competição desagradavelmente previsível».
O MELHOR – O artigo de Miguel Esteves Cardoso sobre os resultados eleitorais no «Diário de Notícias» do Domingo passado: «Os Números Somos Nós», que é o mais vibrante testemunho de confiança na democracia escrito em Portugal nos últimos anos. Acreditem no resultado das eleições: os eleitores decidiram – deixem-se de interpretações e respeitem os resultados é a mensagem que fica deste texto. As eleições fizeram-se para cada um escolher o que quer. A soma das opções individuais é o resultado.
DATA – O nylon fez 70 anos no dia 28 de Fevereiro. O imaginário do cinema e da lingerie não seriam os mesmos sem esta descoberta que democratizou o baby doll.
OUVIR – Os Super Áudio CDs (SACD) tocam perfeito nos sistemas de surround. A Verve pegou em alguns dos seus clássicos e deu-lhes a mistura SACD. Ouvir o clássico «Lush Life» do saxofonista Joe Henderson neste sistema é um momento de prazer em temas como «Drawing Room Blues», «Johnny Comes Lately» ou «Take The A Train». As gravações originais são de 1991 e têm mistura do mago Rudy Van Gelder e a participação de músicos como Wynton Marsalis (trompete), Stephen Scott (piano), Christian McBride (baixo) e Gregory Hutchinson (bateria). CD Verve, distribuído por Universal Records.
LER – É bem certo que beber um grande vinho é um prazer que tem poucos pontos de comparação – talvez ler um bom livro seja um deles. A boa notícia é que estes dois prazeres podem juntar-se graças à iniciativa de Ana Sofia Fonseca, que decidiu reconstituir a história do Barca Velha, com passagens por histórias do Douro, do Vinho do Porto, da Casa Ferreirinha. O livro traça as origens do mais célebre vinho português desde os tempos em que D. Antónia criou a reputação da casa Ferreirinha, atravessa os anos 60 e 70 e conta a história de pessoas como Fernando Nicolau de Almeida e José Maria Soares Franco. «Barca Velha, Histórias de Um Vinho», Ana Sofia Fonseca, Colecção Cadernos de Reportagem, 193 páginas, 2ªa edição, um livro D. Quixote.
COMER – Esta é a altura do sável, um dos melhores peixes de rio que temos neste rectângulo. Cortado em postas muito finas e frito com sabedoria é um petisco dos deuses. Acompanhado de açorda de ovas é uma tentação irresistível. O local onde esta maravilha existe é no clássico Papa Açorda, que continua a servir os melhores almoços de Lisboa, na Rua da Atalaia 57, telef. 213464811.
EXPERIMENTAR – A selecção de chás da Chá Q.B., na Rua Silva Carvalho 116, Campo de Ourique. Chás e acessórios para o vícios (bules e chávenas) de todo o mundo. Eu por mim ainda estou a acabar de saborear o Ceilão que fez os encantos destes últimos dias. Geleias (de chá) e biscoitos para acompanhar, sempre no mesmo local.
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OS NÚMEROS – Só para termos uma ideia da proporção das coisas, a Sky One, o mais importante dos canais do pacote satélite da Sky no Reino Unido, teve uma queda de audiências no ano passado: dos 2,9% de share em 2003, caíu para 2,4% em 2004 e o seu share de 4,1% no decisivo grupo etário 16-34 caíu para 3,4% no mesmo período.
UPA UPA – O Ministro Russo da Defesa lançou um canal de televisão destinado a melhorar a imagem dos militares e a fomentar o orgulho nacional. O «Zvezda» (Estrela), assim se chama o canal, teve a sua primeira emissão experimental Domingo passado, por enquanto apenas na região de Moscovo e nos próximos meses deverá cobrir o resto do país. O objectivo do canal, segundo os seus promotores, «é aumentar o orgulho nacional entre os cidadãos russos e mostrar que o futuro do país é promissor».
MOL – John de Mol, um dos fundadores da Endemol, vai lançar um canal de televisão em sinal aberto na segunda metade deste ano, em Agosto, no seu país natal, a Holanda. O futebol será um dos pratos fortes e a Talpa, a holding de John de Mol, conseguiu obter os direitos de resumos dos melhores momentos dos jogos da liga holandesa, retirando-os à estação pública NOS, que os detinha há 40 anos. O negócio valeu 36 milhões de euros por três épocas. O novo canal, ainda sem nome vai emitir entre as 18 horas e a uma da manhã, com produção local de entretenimento, reality shows, humor e ficção. Ao fim de semana existirão dois resumos da jornada nas noites de sábado e domingo e ainda um magazine sobre futebol na noite de um dia de semana. O novo canal desenvolverá os seus próprios formatos, mas não os produzirá, contratando externamente toda a produção, tal como o Channel 4 no Reino Unido. Parte da produção de reality shows virá da Strix, o gigante sueco que criou as versões originais dos formatos «Survivor» e «The Farm» (por cá a Quinta das Celebridades).
CONSTATAÇÃO – O número de votos brancos duplicou nestas eleições em relação às legislativas de 2002, e ultrapassa já os cem mil boletins.
LEITURA – É um estranho e cativante thriller, escrito por um jovem jornalista. Tem um estilo seguro, personangens aliciantes, tudo em quatro histórias invulgares e que prendem da primeira à ultima linha. «O Livro dos Homens Sem Luz», de João Tordo, edição Temas e Debates, 201 páginas.
ESCUTA – O cantor negro Johnny Hartman morreu cedo e gravou pouco. Mesmo assim foi o único vocalista com quem o saxofonista John Coltrane acedeu a gravar. O histórico disco, que conta ainda com McCoy Tyner no piano, Jimmy Garrison no baixo e Elvin Jones na bateria, foi gravado em 1963. Surge agora uma reedição que coloca em CD pela primeira vez as versões originais mono e as versões stereo subsequentes, ambas masterizadas digitalmente por um mago do som, Rudy Van Gelder. «Autumn Serenade», «You Are Too Beautiful», «My One And Only Love» e «Dedicated to You» são alguns dos temas incluídos neste Super Audio CD da Impulse, distribuído pela Universal.
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