AEROPORTO – No meio de toda a polémica sobre a OTA, um amigo meu, atento observador, interrogava-se: com a polémica e a suspeição instaladas e com o processo já irremediavelmente atrasado, porque não pensar numa solução Portela 2, com uma ampliação do aeroporto existente, e uma preparação mais cuidada da solução de futuro? Tal ampliação, em havendo boa vontade e cooperação intergovernamental, seria por exemplo possível com o recurso à área do aeroporto militar de Figo Maduro, que pega com a Portela, e que tem condições de espaço e pistas construídas suficientes para melhorar radicalmente a Portela e aumentar-lhe a vida útil. A sugestão é boa e parece fazer sentido – e se o Governo conseguir vencer os interesses de grupo e admitir que é melhor estudar mais a fundo o tema da OTA, sairá ganhador de uma contenda que de outra maneira se arrisca a passar por inexplicável teimosia.
SEMANA – É oficial, o Direito é um talento familiar: no Tribunal Constitucional duas juízas que acabaram o mandato vão ser substituídas pelos respectivos maridos; o regresso de Paulo Portas ao PP deixa o cenário de uma batalha campal – seria esta a imagem que ele queria fazer passar? o momento mais alto da semana do líder do PSD foi a sua ida à Costa da Caparica ver os efeitos das marés vivas – já no Parlamento esteve piorzito (não se pode ser bom em tudo…); Salazar lidera votações no programa televisivo sobre os grandes portugueses está 22 mil votos à frente de D. Afonso Henriques, com Álvaro Cunhal em terceiro lugar.
LER – A edição deste mês da revista «Wired» é dedicada às novas formas de entretenimento, que aparecem com o tamanho e a rapidez de uma dentada num biscoito. A nova snack culture cria êxitos de um minuto, e o snack attack, como a revista lhe chama, inclui filmes, programas de televisão, canções e jogos. Na televisão um dos exemplos que está a ganhar mais fama é a micro-série desenvolvida pelo autor de «Hill Sreeet Blues», Steven Bocho, para o site www.metacafe.com. A série, com episódios de um minuto, escritos e produzidos, mas que assumem a forma de depoimentos espontâneos de pessoas anónimas, chama-se «Café Confidential» e dizer que é interessante é subestimar a importância do que ali está. A cultura pop, diz a «Wired», vem agora empacotada como embalagens de doces ou salgados em bocados do tamanho de uma dentada, suficientemente pequenos para permitirem downloads de alta velocidade – o resultado é entretenimento instantâneo e muito saboroso.
OUVIR – No meu top pessoal desta semana esteve mais um disco da coleccção de reedições do catálogo Impulse!, distribuído pela Universal Music, Desta vez o escolhido foi «The Blues And The Abstract Truth», uma histórica gravação de 1961, liderada pelo saxofonista Oliver Nelson (que fez os arranjos) e juntou ao seu lado nomes como Bill Evans, Roy Haynes, Eric Dolphy, Paul Chambers e Freddie Hubbard. Destaque para a faixa de abertura, «Stolen Moments», enérgica, muito bluesy e duas chamadas de atenção suplementares para o irresistível ritmo de «Hoe Down» e para os envolventes «Yearnin’» e «Teenie’s Blues».
VER – O jardim das Amoreiras é dos mais bonitos de Lisboa e convida mesmo, nestes dias, para uma visita à hora de almoço. É lá que fica o Museu da Fundação Arpad Szenes- Vieira da Silva. Para além da colecção permanente, podem ver até dia 17 de Junho próximo uma belíssima exposição sobre a obra de Arpad, esse pintor injustamente pouco reconhecido, que voluntariamente se apagou face a Vieira da Silva. Esta exposição faz-lhe justiça, mostra com detalhe o seu processo criativo, a sua forma intensa de preparar, criar e transformar as imagens até chegar à sua opção final na tela. É uma pena que em Portugal os museus estejam tão desertos como este – e se há exposição que merecia ser mostrada pelas escolas aos seus alunos é esta, precisamente por causa do que se pode ver sobre a forma como um grande pintor prepara o seu trabalho – a criatividade não é fruto do acaso, essa é a grande lição desta exposição.
COMER – Um dos bons sítios para comer pizzas na melhor tradição italiana, com bons igredientes, saborosas no tempero e cuidadas na confecção da massa – fininha e estaladiça – experimente o Lucca, perto da Avenida de Roma, na Travessa Henrique Cardoso 19 B. Encerra às quartas, ambiente simpático, serviço bom, telefone 217972687 ou 217971051.
BACK TO BASICS – A Economia é extremamente útil como uma garantia de emprego para os economistas – John kenneth Galbraith.
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ASNEIRA - O Ministério da Cultura pouco tem feito , mas ganhou ao longo do último ano o estatuto de intermediário de negócios. Esta nova competência ministerial veio de braço dado com o Comendador Berardo e com as regras que ele impôs ao Estado para garantir um bom negócio na venda da sua colecção privada ao Centro Cultural de Belém. É curioso notar que ao mesmo tempo que se tornou ágil nos negócios, o Ministério da Cultura tem-se revelado inábil e incompetente naquilo que devia ser a sua primeira função. Um sinal é o afastamento de Paolo Pinamonte do S. Carlos basicamente porque ele se pronunciou (e bem) contra a aberração de gestão que promete ser a fusão entre a Companhia Nacional de Bailado e o Teatro Nacional de S.Carlos , com a criação da OPART, uma empresa mista de dança e de ópera. Outro sinal, ainda mais preocupante, é a forma como são retirados fundos ao Museu Nacional de Arte Antiga, fundos provenientes de mecenas que queriam apoiar o museu de determinada forma, fundos retirados de forma arbitrária e autoritária pela tutela que os resolveu aplicar noutros locais. O Ministério da Cultura passou dois anos sem nada fazer. Agora começou a fazer asneiras, das grandes, e dando prova de grande teimosia e arrogância
FOGACHO - Depois da operação mediática de colocar uns reboques nas Avenidas Novas a retirar carros mal estacionados, eis que desde há quinze dias nada se passa e tudo está na mesma. A EMEL, essa aberração que persegue os cidadãos de Lisboa, continua exactamente na mesma: passa multas mas não disciplina o estacionamento. Afinal foi tudo fogo de vista, um fogacho para inglês ver.
CLIENTE- Quando queremos subscrever um serviço da TV Cabo basta utilizar o telefone, o mesmo telefone que a empresa usa e abusa para maçar os seus clientes com ofertas e campanhas às horas mais inconvenientes. Mas quando o queremos desligar começa um rosário de dificuldades – tem que ser por fax, por telefone não pode ser, por email também não. Enfim, um compliquex – por alguma razão a TV Cabo é a líder de queixas na DECO.
LER – A edição especial da revista «Egoísta» integralmente dedicada a Agustina Bessa-Luís. Nesta número extra-série, permito-me destacar a entrevista que Inês Pedrosa fez à escritora. Mas merecem também destaque as extraordinárias fotografias de Maria Carapeto e Augusto Brázio, os desenhos e fotografias do marido de Agustina, Alberto Luís, e ainda dois textos, «O Amor É Fácil Demais» , de Francisco José Viegas e «Como Ninguém», de Lídia Jorge. São 88 páginas de excepção que nos são oferecidas graças à generosidade e à visão de Mário Assis Ferreira e ao talento de Patrícia Reis. Não resisto a deixar uma citação de Agustina, destacada na «Egoísta» : «Até ao fim somos amantes uns dos outros»,
OUVIR – Tenho as melhores razões para ter boas memórias dos Heróis do Mar, a banda que nos anos 80 fez Portugal aparecer na imprensa internacional, me fez ver uns concertos divertidos, me pôs a dançar e a cantar. Boas noites passei eu ao som dos Heróis… Coincidindo com a exibição do documentário «Brava Dança», de José Pinheiro e Jorge Pereirinha Pires, a EMI lançou uma colectânea com 16 temas da banda, do «Amor» à «Saudade», passando pela «Paixão», o «Fado» , a injustamente desprezada «Africana» e a sempre muito oportuna «Só Gosto de Ti». CD EMI Music Portugal.
VER – A exposição «Lisboa-Luanda-Maputo», uma iniciativa da Plataforma Revólver que junta na Cordoaria Nacional, até 24 de Abril, artistas plásticos contemporâneos de Portugal, Angola e Moçambique. Aqui está um bom exemplo do que pode ser feito graças ao esforço de uma galeria que tem procurado descobrir novas fronteiras, com o apoio de um patrocinador privado, a Alcatel.
PROVAR – Nestes dias de sol há um sítio simpático para se almoçar, mesmo no meio de Alvalade, mais precisamente por detrás do Liceu Padre António Vieira. O restaurante chama-se «A Giralda» e fica no complexo do Lisboa Racket Centre, Rua Alferes Malheiro, por detrás do Liceu Padre António Vieira. A sala é luminosa , com um varandim amplo a dar para os courts de ténis. A nova gerência assegura um serviço simpático, peixe fresco, um buffet de saladas e de pratos do dia mais substanciais, além de uma lista bem composta. A confecção e o tempero são bons, os preços razoáveis, o telefone é o 969847920, está aberto das nove às nove, só serve almoços e é muito fácil estacionar.
BACK TO BASICS –O segredo da criatividade é saber esconder as suas fontes – Albert Einstein.
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HABILIDADE – Agora é oficial: a utilização das polícias como arma política foi formalmente anunciada pelo Governo. A concentração das várias forças policiais na dependência directa do Primeiro-Ministro é uma preocupante notícia para quem se inquiete com abusos de poder, coisa a que infelizmente o Estado nos tem sobejamente habituado em Portugal.
DESASSOSSEGO – Bastou Paulo Portas anunciar que quer liderar o CDS para o PSD entrar em pré-convulsão. É um estranho fenómeno este que leva o principal partido da oposição a preocupar-se mais com disputas de poder noutros partidos do que em encontrar formas de combater o partido do Governo.
ÚTIL – A Rádio Renascença edita agora diariamente, ao fim da manhã e ao meio da tarde, uma newsletter electrónica chamada «Página Um» (o nome de um dos históricos programas da estação em idos da década de 70), que se destina a fazer a síntese da actualidade. Os assinantes (inscrição fácil no site www.rr.pt) recebem por e-mail, cerca das 12h30 e das 17h30, um ficheiro PDF com noticiário nacional e internacional, previsão metereológica e , no caso da edição da tarde, uma completa agenda dos principais acontecimentos previstos para o dia seguinte. Quem quiser pode imprimir o ficheiro para levar para ler ao almoço ou para folhear no regresso a casa.
CAFÉ-RESTAURANTE – Há poucos dias revisitei um local onde não se pode dizer que se coma muito bem, mas que, em contrapartida, é um belo posto de observação do que é hoje em dia a população de uma zona da cidade famosa nos anos 60, e nessa época bem retratada nos «Verdes Anos», um filme de Paulo Rocha. Falo do café-restaurante «Luanda», num dos prédios simétricos do cruzamento entre a avenida dos Estados Unidos e a avenida de Roma. Cheguei tarde para almoçar ao «Luanda», por volta das três da tarde, já tinha passado a lufa-lufa dos escritórios. A essa hora, percebi, enquanto olhava para a lista, discutem-se os lugares da janela para o chá entre as clientes habituais. E, curioso, mesmo senhoras de grupinhos de lanche diferente, juntam-se na heróica tarefa de guardarem as mesas umas para as outras, tudo com um mapa muito bem definido. Na parte de cima, para além de um pequeno varandim, claramente no final do almoço, um casal dormitava lado a lado, pescoço dobrado, era a sesta – eis então que o «Luanda» é perfeito para uma soneca. À minha frente sentou-se um cavalheiro impecavelmente arranjado, protegido do frio com um sobretudo de gola de astracã, como eu já não via há anos. Foi nessa altura que o meu almoço chegou – e era bem menos agradável que tudo aquilo que se passava à minha volta.
LER – Agora que a noite dos Óscares já dorme, vale a pena devorar a edição especial da Vanity Fair dedicada a Hollywood, um bom hábito que se repete todos os anos. A Vanity Fair de Março é a maior de sempre, com 316 páginas, onde é justo destacar um belíssimo portfolio de quatro dezenas de fotografias de tantos outros nomes grandes do cinema, tudo feito por Annie Leibowitz. Que prazer dá ver/ler uma revista assim onde ainda se encontram imagens do álbum pessoal que Sammy Davis fotografou ao longo da vida, com imagens inéditas de Sinatra, Marilyn ou Robert Kennedy. Ainda na mesma edição portfolios de Mário Testino (o homem que fez a imagem de marca da Benetton) e de Herb Ritts. É difícil ter melhor.
OUVIR – A etiqueta de jazz norte-americana Verve iniciou um programa de reedições do seu catálogo histórico que conta com algumas preciosidades, uma delas a gravação, de estúdio, do encontro de Dizzy Gillespie com Charlie Parker e Thelonius Monk, em 6 de Junho de 1950, encontro que nunca mais se repetiu. Dizzy e Parker tocaram juntos muitas vezes e tinham um enorme respeito mútuo – ambos ajudaram a definir o jazz no pós-guerra. A maior parte dos registos são gravações ao vivo, esta é das raras sessões de estúdio. A presença do piano de Monk (e da bateria de Buddy Rich, já agora), criam um ambiente de swing e uma vivacidade invulgares. O disco levou o título original de «Bird And Diz» e esta reedição da Verve mantém a capa original da Clef Records. CD Verve Classics, distribuição Universal Music.
BACK TO BASICS – O ponto de vista dos Governos sobre a economia é simples: se ela se mexe, apliquem mais impostos; se apesar de tudo ela ainda resiste, implementem regulações; quando ela finalmente pára, preparem a atribuição de subsídios – Ronald Reagan.
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MONOTONIA – O PSD anda a ficar tão politicamente correcto e previsível que mais se parece com um frasco de soporíferos do que com um partido político. Por este andar não há novo programa que chegue para abanar as hostes e despertar entusiasmo. A forma como se gerem as crises é sintomática das capacidades das lideranças – o que se está a passar, no PSD, no caso da Câmara Municipal de Lisboa é um manual do que se deve evitar.
FANTASIA – O balanço do sector da Justiça feito esta semana pelo Governo é um retrato perfeito da essência do socratismo: manipulação da realidade, tomar os desejos por factos, encher um balão de ar e chamar-lhe inovação e progresso.
COBRANÇA – Ainda sem saber se o Director Geral dos Impostos continua no lugar permito-me chamar a atenção para uns detalhes: o que ele fez foi cobrar dívidas ( e não é pouco), mas cobrou-as a quem já pagava impostos, não me consta que tenha tido grande êxito em ir cobrar a quem foge ao fisco, oculta rendimentos e pura e simplesmente não contribui para o Estado; teve os resultados que teve com recurso a perigosas invasões da privacidade dos cidadãos e com recurso a ameaças, das quais a publicação das célebres listas de devedores, são o mais flagrante exemplo de uma prática que levanta as mais sérias dúvidas. Os fins não justificam os meios – pelo menos ensinaram-me que em democracia, entre gente civilizada, era assim que devia ser.
COISAS – Desagrada-me sempre que se usem modas sociais para fazer negócio e temo bem que seja o que se passa na cadeia de supermercados Pingo Doce com a introdução dos novos sacos de plástico. A ideia é que os novos sacos podem ser usados várias vezes e que, portanto, causam menos lixo. Na prática ninguém traz os sacos usados de volta para levar as compras e a esmagadora maioria dos clientes quer novos sacos cada vez que vai às compras: detalhe – os sacos antigos eram oferecidos, os novos custam dois cêntimos cada. Quantos sacos vende o Pingo Doce no total por dia? E quanto dá isso ao fim do ano? Por detrás de uma bela preocupação ecológica lá está uma nova fonte de receitas… ai aquecimento global, serves para muito…
LER – O novo romance de um jornalista bem conhecido destas páginas, Fernando Sobral. Chama-se «O Navio do Ópio» e parte de algumas situações verdadeiras para tecer uma intriga que cruza uma história de amor com uma análise do espírito lusitano. A coisa é feita de forma natural, passando-se no início do século XIX. A história é simples – o Ouvidor de Macau (cargo na época correspondente a Governador), desesperava da indolência da decisão de Lisboa , temia os avanços dos britânicos na região, e urdiu um plano para fazer da Madeira um entreposto entre Macau e o Brasil – uma situação em que todos teriam, a ganhar. Para testar as coisas decidiu fazer uma plantação de papoilas de ópio em Porto Santo, rompendo assim o monopólio do produto, nas mãos dos ingleses. No Brasil, onde estava a Corte portuguesa exilada, o produto seria recebido de braços abertos, esperava ele. O diagnóstico do país, mortífero, está nestas escassas linhas, logo no início: « Portugal não tem uma visão de futuro. A sua única estratégia é a que cada pessoa consegue concretizar. Vive de contactos. De relações pessoais. E de nada mais. Somos pequeninos. A pensar e a fazer». «O Navio do Ópio», de Fernando Sobral, edição «Oficina do Livro», 241 páginas.
OSCARES – A academia de Hollywood resolveu por uma vez abandonar o politicamente correcto e reduziu o anti-bushismo militante do favorito «Babel» ao prémio para uma banda sonora original interessante (já disponível em Portugal via Universal Music). Este ano os Óscares privilegiaram o grande cinema, as grandes produções, as grandes receitas de bilheteira. E assim os triunfadores da noite foram os históricos estúdios da indústria do cinema, os criadores de «The Departed», com Martin Scorsese à cabeça, o musical «Dreamgirls» e o histórico «The Queen». O nicho do politicamente correcto ficou para o powerpoint de Al Gore, mascarado de documentário sobre o aquecimento global, «Uma Verdade Inconveniente». Há muito tempo que uma noite de Óscares não corria tão bem.
OUVIR – Uma inesperada versão das Variações Goldberg, de Bach, para trio de cordas – sim , leram bem – uma peça composta para teclas interpretada por um violinistas (Julian Rachlin), um viola (Nobuko Imai) e um violoncelista (Mischa Maisky). As melodias das Variações ganham nova dimensão neste arranjo para trio de cordas feito pelo maestro e violinista Dmitry Sithovetsky. Edição Deustche Grammophon, distribuição Universal Music.
BACK TO BASICS – Justiça adiada é justiça negada, William Gladstone.
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