CORRUPÇÃO – Um dos truques que a política tem para liquidar um assunto é apresentar alguma coisa que se pareça com uma iniciativa; assim, o assunto é falado, o respectivo responsável faz um discurso, e espera-se que as pessoas achem que o tema ficou arrumado. Quando João Cravinho apresentou um pacote anti-corrupção e quando o Presidente da República abordou o tema, aquilo que os (bem) preocupava não era a corruptela na multa de trânsito ou numa repartição pública para acelerar o andamento de um processo. As corruptelas são obviamente péssimas e os cidadãos têm boas razões para desesperar de polícias que perseguem a multa, em vez de fazerem prevenção ou de um Estado que é desesperadamente lento. Alberto Costa, um Ministro da Justiça que ficará recordado pelas más razões, lançou um programa anti-corruptela, com o objectivo de evitar o pacote anti-corrupção – esta é a verdade. A corrupção que interessa combater, por exemplo, é a que faz com que decisões de grandes obras públicas sejam tomadas por razões pouco claras, é a que faz com que surjam enriquecimentos rápidos por essas decisões beneficiarem algumas pessoas; a corrupção que interessa combater é a que faz com que a fortuna de alguns se faça à custa de todos, com o beneplácito do Estado e dos políticos, que persistem em manter para si próprios um regime especial e obscuro, aparentemente modesto e frugal, na realidade cheio de financiamentos escondidos e favores largamente compensados no seu retorno à vida civil. Portugal está cheio de exemplos desses e os últimos meses e semanas só o comprovam.
DISCURSO – Inesperado, inesperado é ver Cavaco Silva a apelar ao inconformismo dos jovens e a desafiá-los a assumir um envolvimento mais activo na vida política. Mais uma vez os discursos do Presidente da República são de uma precisão cirúrgica. São certeiras as suas palavras sobre a ritualização das celebrações do 25 de Abril, quando na prática a nossa sociedade vive num ambiente de condicionamento de liberdade de expressão e de concentração de poderes em matéria de informações e forças de segurança. Dá que pensar, não é?
TÚNEL – Prefiro nem comentar o encerramento do Túnel do Marquês dois dias depois de ser inaugurado. São actos destes que tornam o poder ridículo.
VER – «Eu Explico» é o título de uma exposição de Pedro Portugal, que até 26 de Maio estará na Galeria Fernando Santos, em Lisboa, Rua de São Paulo 98. A exposição está aberta de terça a sábado entre as 13h e as 19h30 e o convite mostrava uma obra de Pedro Portugal onde o artista provocatoriamente escreveu «eu sou uma pintura e faço pinturas. Vejam:”.
OUVIR – Após mais de 30 anos de actividade o Kronos Quartet, uma formação de cordas nova iorquina que desde 1973 trabalha com compositores de referência do século XX (como Bártok), contemporâneos (como Arvo Part), ou de jazz (como Ornette Coleman), tendo mais de 40 discos gravados. A mais recente gravação do grupo é baseada num recente trabalho do compositor polaco Henryk Górecki, mais precisamente no seu Quarteto de Cordas nº3, «…songs are sung». É uma novidade este encontro entre um dos mais aclamados compositores contemporâneos e o Kronos Quartet, e o resultado é um disco perfeito. O site do grupo refere que dia 23 de Maio o Kronos actuará em Portalegre, na digressão europeia que acompanha o lançamento deste CD. Até apetece lá ir.(CD Nonesuch).
COMER – Os dias feriados em Lisboa podem ser terríveis quando se procura um restaurante perto do rio onde simultaneamente não haja demasiada gente e a comidinha seja razoável. Uma boa ideia alternativa aos peixes grelhados do costume é ir ao Clube Naval de Lisboa, junto à doca de Belém, e testar o restaurante que lá funciona, o Barra do Quanza, que se dedica à comida de inspiração angolana e brasileira. A opção foi Casca de Siri seguida de Moqueca de Camarão, acompanhado por imperiais de um lado e caipiroshkas do outro. Foi um belo princípio de tarde de 25 de Abril. Serviço simpático, preço razoável, boas fotos de Angola na parede. Barra do Quanza, Clube Naval de Lisboa, tel. 213 620 697.
BACK TO BASICS – Nada perdura tanto como a mudança, Heraclitus.
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CIDADE - Desde há cerca de dois meses estou a trabalhar nas Avenidas Novas. Para mim esta era sempre uma zona de passagem, e na realidade é dos locais de Lisboa mais bem pensados no passado e mais maltratados no presente. Superfície plana que convida a andar, muitas árvores (há mesmo uma rua inteira com arvoredo, a Conde Valbom), muito comércio local, muitos restaurantes, desde comida vegetariana até especialidades bem portuguesas, a oferta é variada e imensa. Alguma alma peregrina teve aqui há uns anos a ideia de transformar parte das Avenidas Novas em pistas de sentido único, nomeadamente na Marquês de Tomar e na Miguel Bombarda – as quatro faixas pretendidas estão frequentemente reduzidas a uma ou duas por causa dos estacionamentos, descargas e obras. Mas o pior de tudo, o que constitui mesmo um atentado, é a forma como o Metropolitano de Lisboa foi autorizado a fazer obras e a colocar estaleiros na extensão da linha encarnada, que desventrou a Duque de Ávila, a transformou no cenário de um bombardeamento e encravou irremediavelmente a zona da Marquês da Fronteira, no cruzamento com a António Augusto de Aguiar. As obras estão já atrasadas, prazos iniciais excedidos, um inexplicável estaleiro autorizado em pleno cruzamento – as responsabilidades conjuntas do Metropolitano (que é dono da obra) e da CML (que autorizou os estaleiros) são totais neste atentado aos lisboetas. Um atentado continuado, arrogante, sobre o qual, pelos vistos, ninguém é responsabilizado – se a Câmara funcionasse já tinha obrigado o Metropolitano a diminuir as consequências do problema. Simplesmente lamentável.
SEMANA – Continuam as divergências entre o Gabinete do Primeiro Ministro e factos e documentos relacionados com o processo da sua licenciatura…percebe-se agora que aqui há uns anos a Universidade Independente criou um autêntico nicho de mercado, facilitando canudos a políticos activos e figuras públicas em busca de um grau académico…se isto tudo acontecesse há dois anos, não havia de faltar quem dissesse que o Primeiro Ministro se havia enrolado em mais uma trapalhice…nesta história toda o que mais espanta é a falta de ética – de quem se dispôs a obter canudos facilitados, de quem se dispôs a fornecê-los até com exames privados em casa, e de quem quis esconder todo o processo, todos os arranjinhos, toda a fábrica de ilusões montada e encenada.
OUVIR – Nada como o piano para descansar de todo o ruído criado pelo caso da Universidade Independente. Para estes dias de brasa sugiro uma edição recente, gravações ao vivo, em recital, inéditas, de Alfred Brendel, seleccionadas pelo próprio pianista a partir de uma vasta série de gravações da BBC. Brendel considera que aqui estão, do ponto de vista da interpretação, execuções de referência das Variações Diabelli, de Beethoven, da «Grande Polonaise» de Chopin e das «Variations Sérieuses de Mendhelssohn. «Alfred Brendel, Unpublished Live And Rádio Performances 1968-2001», CD duplo Philips, distribuição Universal Music.
VER – Um site delicioso, basicamente sobre ideias invulgares de design, chamado Digital Drops e que, graças a indicação de um bom amigo, localizei em
http://www.digitaldrops.com.br/drops/design/ . Desde estantes com sofás incorporados até novidades em gadgets ou equipamento electrónico variado, tudo se pode aqui encontrar.
COMER – O Pateo Bagatela aloja alguns bons restaurantes, é um sítio simpático para um almoço, a escolha é múltipla, o estacionamento no parque é fácil. Uma proposta relativamente recente é a de um novo restaurante italiano, o «Migari», com aquele conceito italiano muito importado do Brasil. Boa base de matéria prima, confecção cuidada, sabores bem equilibrados, uma tradição italiana mais fiel do que aquela que durante alguns anos dominou em Portugal. Serviço atencioso, mesas amplas, espaço interior simpático, garrafeira razoável, preços a condizer. Ristorante Magari, Pateo Bagatela loja K, tel. 21 383 22 46.
BACK TO BASICS – Assegurem-se que têm os factos na mão e depois distorçam-nos como vos der mais jeito – Mark Twain.
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SEMANA – José Sócrates fez duas declarações diferentes à Assembleia da República sobre as suas habilitações em 13 de Fevereiro de 1992 … Regista-se que, para esclarecer a trapalhada criada, o Primeiro Ministro escolheu um registo de «Conversa Em Família» na RTP a uma sessão parlamentar com transmissão em directo…O Supremo Tribunal de Justiça considerou que publicar uma notícia verdadeira é acto que merece castigo… Se a moda pega os jornais que investigaram as trapalhadas à volta do percurso académico de Sócrates vão ser todos punidos… Se calhar é isso que os juízes do Supremo pretendem…
EXPERIÊNCIAS – O novo site da revista «Wired» (www.wired.com ) , um exemplo para o que pode ser a evolução gráfica na relação entre o papel e o digital…Constatando que os museus do Reino Unido tinham falhado completamente na aquisição de obras de arte contemporânea no século XX, a estrutura independente Art Fund lançou um ambicioso projecto que aplicará cinco milhões de libras em novas aquisições, garantindo que gerações futuras possam ter nos museus britânicos uma selecção do que de mais inovador se produz no mundo inteiro e não apenas localmente – o site do Art Fund tem muitos motivos de interesse e está em www.artfund.org... Para quem gosta de fotografia o site da agência portuguesa Kamera Photo tem uma boa escolha, quer em termos de trabalhos recentes, quer de trabalhos em arquivo – www.kameraphoto.com
AGENDA – Aqui há uns anos a Câmara Municipal de Lisboa começou a editar a «Agenda Lx», uma publicação mensal que elaborava um roteiro do que a cidade tinha para oferecer, desde a cultura a restaurantes, bares, ou sugestões sobre actividades diversas. O grafismo e boa parte dos conteúdos da publicação foram feitos pelo atelier de Jorge Silva, que criou um objecto com a sua marca bem própria, elogiado em diversas ocasiões. Sabe-se agora que a CML deve à Silva!Designers dez meses de produção da revista, o que torna inviável que ela continue a ser feita nos mesmos moldes. Confrontado com a situação o Director Municipal de Cultura Rui Pereira, afirmou aos jornais que a saída de Jorge Silva do projecto pode proporcionar «uma mudança para melhor». Em qualquer lugar os burocratas serão sempre o mesmo: liquidatários de tudo o que se distinga pela diferença e qualidade.
REGISTO – Em cinco anos e meio a Apple vendeu cem milhões dos diversos modelos de iPod, cuja comercialização começou em Novembro de 2001. Hoje em dia a iTunes Store aloja mais de cinco milhões de canções, 350 programas de televisão e mais de 400 filmes, tendo vendido 2,5 mil milhões de downloads de canções, 50 milhões de programas de televisão e 1,3 milhões de filmes. Não foi só a maneira de ouvir e ver que o iPod e Steve Jobs mudaram – o principal reflexo foi na forma de distribuição da indústria do entretenimento, que conseguiu encontrar uma forma de rentabilizar os seus activos no mundo digital.
OUVIR – Uma gravação histórica de jazz, efectuada em três sessões diferentes, entre1961 e 1962 nos estúdios Van Gelder, com John Coltrane no sax tenor, McCoy Tyner no piano, Jimmy Garrison no baixo e Elvin Jones na bateria. Na mesma época em que Coltrane se fazia notar pela sua ousadia e intensidade na exploração de novos caminhos para o jazz, este disco dá-nos um registo mais suave, em torno de baladas muito bluesy, irremediavelmente cativantes. «Ballads», CD Impulse Classics, distribuição Universal Music.
LER – A edição de Março da revista «Egoísta» é dedicada à escrita, com a curiosidade de ter nas imagens, nas fotografias, os seus pontos altos. Destaque para os pessoalíssimos retratos que Daniel Mordzinski fez de ums série de grandes escritores, como Manuel Vázquez Montalban, Zoe Valdês, Enrique Vila-Matas, Agustina Bessa-Luís ou Luís Sepúlveda. Outro grande portfolio sobre escritores vem assinado por Alfredo Cunha e aí destaco dois intensos retratos, de Eugénio de Andrade e de David Mourão Ferreira. E finalmente destaque ainda para um provocador ensaio fotográfico sobre as palavras escritas na noite das cidades, assinado por João Vilhena e outro, belíssimo, sobre locais do livro e da palavra, por Candida Hofer. O menos interessante é uma banal entrevista com José Saramago feita pela previsível Ana Sousa Dias. Os melhores textos são de Hugo Gonçalves e Pedro Mexia.
BACK TO BASICS – Amem a verdade e perdoem o erro, Voltaire.
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A PUBLICIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO
Com as audiências dos três principais canais cada vez mais coladas, há uma questão que vale a pena voltar a colocar: até que ponto é lícito que a RTP tenha publicidade e faça concorrência aos canais privados?
A existência de publicidade na RTP é uma das mais fortes razões para que algumas das razões da existência de um serviço público de televisão, financiado pelo Estado e os cidadãos, se percam pelo meio. A questão é esta: a publicidade só é valiosa, em termos de negócio, se existirem audiências. Sem audiências ela perde o seu valor comercial. Para poder ter publicidade e ela ser rentável, qualquer estação do mundo tem que fazer concessões para captar públicos. Por isso é que o serviço público devia ser uma espécie de regulador indirecto do mercado, assegurando conteúdos complementares (e não concorrenciais…) em relação aos outros canais, fomentando o desenvolvimento da produção independente portuguesa em áreas como a ficção, o documentário, e assegurando serviços noticiosos de referência. Todos sabemos que não é isto exactamente o que acontece.
Em Portugal passa-se um fenómeno estranho: a RTP capta uma fatia do investimento publicitário em televisão, que é complementada, de forma cada vez maior, com o que recebe do Estado em termos de indemnização compensatória e dos cidadãos por via da taxa que recai sobre o consumo de electricidade. Na realidade a RTP captou 13,6% do investimento publicitário em televisão em 2006, contra 44,3% da TVI, 32,9% da SIC e 9,2% de todos os outros canais disponíveis no Cabo. É esta situação que suscita dúvidas: é aceitável que um canal de serviço público acumule as receitas comerciais ao apoio financeiro do Estado e ao dinheiro das taxas cobradas aos cidadãos?
As estações privadas que se queixam de que a RTP faz concorrência desleal têm razão – se a RTP usa os seus meios financeiros para fomentar uma programação que se destina a fazer concorrência de audiência aos privados, então o mercado fica distorcido. Se a RTP ainda por cima concorre no mercado publicitário, está a roubar espaço aos privados – e nomeadamente está a dificultar o aparecimento de um novo operador privado. A introdução próxima da Televisão Digital terrestre vai voltar a colocar esta discussão na ordem do dia.
Agora, uma coisa é certa: quando a RTP cresce de audiências, qualquer Governo sorri e fica tranquilo; o mesmo não se pode dizer quando quem está a subir são os operadores privados.
(Publicado na Revista Atlântico de Abril)
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PENSAMENTOS OCIOSOS
O regime, na sua ânsia reformadora, vai juntar numa só entidade a Companhia Nacional de Bailado e o Teatro Nacional de S. Carlos. A nova companhia estatal de produção artística, estou a crer que de inspiração soviética, vai chamar-se OPART e tem o parto previsto para Junho. Vozes avisadas já chamaram a atenção para os perigos desta manobra aventureira, que se arrisca a deitar por terra o trabalho de duas entidades que estavam a funcionar bem autonomamente.
Penso que a ideia não será criar uma nova forma de expressão artística, o bailado cantado – não estou a ver bailarinos e bailarinas a fazerem de tenores e sopranos, e não me parece que, inversamente, os cantores e as cantoras pulem levemente de nenúfar em nenúfar. Se assim não é, a coisa não se percebe – tal a distância entre os dois tipos de produção: o da Ópera, que é um dos mais complexos (talvez o mais complexo) no mundo do palco; e o do bailado, que exige tempos e ensaios como nenhuma das outras artes cénicas. Por este andar ainda se arrisca a nascer, neste rincão á beira mar plantado, o tal bailado cantado – variante erudita do Vira do Minho, fonte inspiradora da política do Mistério da Cultura.
(Publicado na Revista Atlântico, edição de Abril)
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SEMANA – Depois das maternidades e dos centros de saúde, a febre da extinção vai chegar aos tribunais – agora espera-se que o Estado se auto-extinga por falta de objecto social… Sobre o novo aeroporto, o Ministro da tutela diz estar disposto a ouvir tudo o que lhe disserem, mas esclarece que já decidiu não mudar de opinião… O país está mesmo diferente: no final do primeiro trimestre a TVI é a estação de televisão mais vista, a RTP passou para segundo lugar e a SIC, que durante anos liderou, caiu para a última posição… Alguma coisa vai mal quando o tema político mais falado é o grau académico do Primeiro Ministro…Notícia da semana: em Lisboa dono de pitbull mordeu o polícia que perseguia o cão.
OUVIR –Tito Paris é um dos grandes músicos de Cabo Verde a prova está no seu novo disco, «Acústico», a gravação de um concerto de 2004 na Aula Magna de Lisboa. Para este concerto Tito Paris rodeou-se de uma secção de cordas, para além de um grupo de nove músicos escolhidos a dedo, sob a direcção musical de Tomás Pimentel – que com Tito Paris fez os magníficos arranjos. O resultado é uma sonoridade cheia, envolvente, ainda mais acentuada pelos ritmos e pela forma de cantar de Tito Paris, que aqui interpreta grandes temas como «Morna», «Nha Sina», «Sodade» e «Que Vida». O resultado são versões baseadas na tradição, mas com um pé na descoberta. CD World Connection.
TER – Agora todos podem ter «Um Minuto de Silêncio» - basta comprar o livro com o mesmo nome baseado numa ideia da jornalista Marisa Moura e do fotógrafo António Coelho – ambos juntaram textos, imagens e desenhos de 60 pessoas mais ou menos públicas, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Surdos, que visa financiar a actualização de um dicionário de língua gestual. Destaques para os textos de Francisco Pinto Balsemão, Alexandra Lencastre, Paulo Teixeira Pinto, Olga Roriz, Maria do Céu Guerrae Pedro Bidarra. Por gentileza da organizadora eu também lá tenho um texto, e deu-me muito prazer pensá-lo, escrevê-lo, dedicá-lo. Edição Guerra e Paz
LER – Aqui está ela, a nova revista de Tyler Brulé, o homem que inventou a «Wallpaper». A sua nova criação chama-se «Monocle» e parece inesperadamente fora de moda, mas a ditar o estilo. É um misto de atlas do mundo com as Selecções do Reader’s Digest, tem muito para ler, alguma coisa para ver, subalterniza a imagem e fornece imensa informação. O editor avisa que a revista se dedica à política internacional, aos negócios, à cultura e ao design. O tema de capa na edição número 2 é uma reportagem detalhada sobre a Noruega, a sua riqueza, a sua maneira de ver, o seu posicionamento no mundo. Mas também pode ler um belo artigo sobre telenovelas japoneses para telemóvel, um curioso inventário de necessidades dedicado aos consumistas ferozes e uma história de «manga», a banda desenhada japonesa. Ao todo são 200 páginas com muito que ler, por cerca de 11 euros. A «Monocle» é impressa em papel reciclado e tem um formato cómodo para a leitura. É uma revista para ler e não apenas para ver, uma revista que gosta de observar, e que está feita para se ir descobrindo.
COMER– De entre os restaurantes vegetarianos que apareceram nos últimos tempos em Lisboa, o Paladar Zen merece uma boa nota. Bom buffet de saladas, boas alternativas quentes, muito bem temperadas e saborosas, sumos naturais, mas também cerveja e refrigerantes. Boa escolha de música ambiente, aberto aos almoços e jantares, preço do buffet abaixo dos 10 euros. Av. Barbosa du Bocage 107C, tel. 217950009
VER – Em finais de Fevereiro João Tabarra inaugurou na Galeria Zé dos Bois, no Bairro Alto (Rua da Barroca 59) a primeira parte de uma exposição a que chamou «G». Na semana passada , na Galeria Graça Brandão, também no Bairro Alto (Rua dos Caetanos 26), abriu a segunda parte da mesma ideia. Enquanto na Zé dos Bois se assume um lado mais conceptual, de cruzamento assumido de imagens com sons, na Graça Brandão assume-se a provocação e apela-se ao voyeurismo. A Zé dos Bois fecha às 23 horas, a Graça Brandão às 20. Com esta invulgar dupla exposição – quase um caso de dupla personalidade - João Tabarra atinge a maturidade criativa e afirma-se claramente como um dos melhores artistas da sua geração, que tem feito um percurso iniciado na fotografia e se tem vindo a conceptualizar em torno da exploração da utilização das imagens, fixas ou em movimento, de uma forma cada vez mais elaborada.
BACK TO BASICS – Um visionário mente a si próprio, um mentiroso aos que o rodeiam, Friedrich Nietzsche
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CULTURA – Há uns meses o Ministério da Cultura suspendeu a exumação do que se presume serem os restos mortais de D. Afonso Henriques, iniciativa que estava a ser levada a cabo por uma equipa de cientistas, liderados por Eugénia Cunha. A importância da investigação é evidente, a desculpa para a proibição pareceu esfarrapada e mostrou mais dor de cotovelo e inveja provinciana pelo protagonismo e relevância de um estudo científico que, do Ministério da Cultura, apenas precisava de uma autorização. Apesar de, na altura, o Governo ter criado um enquadramento especial para a situação, o pedido continua sem resposta, o Ministério da Cultura continua sem decidir o que deixar fazer, e ouvi esta semana a cientista Eugénia Cunha dizer aos microfones de uma rádio que continuava sem saber quando poderia prosseguir a sua investigação. Alguém me pode informar que anda a Ministra a fazer, além de perseguir as pessoas que tentam fazer alguma coisa desde os museus à ópera, passando pela investigação?
TEATRO – O edifício do novo Teatro Municipal de Almada, inaugurado no ano passado e desenvolvido pelo arquitecto Manuel Graça Dias é um raro exemplo de um projecto bem conseguido, que teve em linha de conta as necessidades do espaço para a função, muito bem pensado em termos das zonas de trabalho e de apoio, bem pensado em termos do acolhimento e conforto dos espectadores e no prolongamento dos espectáculos (com um café teatro confortável onde se pode ouvir música ao vivo). Acima de tudo o edifício – que não é óbvio nem monótono - surge simples e funcional, embora do ponto de vista técnico e de condições de trabalho seja sofisticado e bem equipado em termos de infra-estruturas – o que mostra como houve colaboração entre Joaquim Benite, que dirige este equipamento, e o arquitecto que concebeu o edifício. Além da sala principal existe uma sala experimental, uma bela sala de ensaios onde grupos de crianças são levadas a descobrir os segredos da produção teatral, uma galeria e uma sala de multimédia. Vê-se que o edifício é vivido e além do Teatro, exposições e colóquios por ali passam concertos, ópera e dança. Neste Domingo, às 16h00 poderá ir lá ouvir o Requiem de Vivaldi e no sábado da próxima semana o Stabat Mater. Pode ver a programação em www.ctalmada.pt .
SEMANA – Graças ao encerramento das maternidades, Portugal está em vias de se tornar recordista europeu de partos em ambulâncias no primeiro semestre deste ano. Em contrapartida a corrupção escasseia: em Portugal só existem oito pessoas detidas por delito de corrupção. Agora até Cravinho vem colocar reservas à Ota como localização do novo Aeroporto – a vida não é fácil para Mário Lino, o Ministro que teve a insensatez de classificar a opção Ota como uma questão pessoal que levaria até ao fim.
COMER – Saladas ricas, sanduíches bem pensadas e pratos tradicionais com um toque de originalidade é a proposta de almoços no City Café, na Av Miguel Bombarda 133 B. Aberto desde manhã até às 20h30, o City Café é um bom sítio para um almoço leve e tranquilo nas Avenidas Novas, ou para uma pausa a meio da tarde. Bom serviço, preços razoáveis, boa decoração, jornais e revistas para ler. Tel. 213 155 282 .
OUVIR – O pianista Brad Mehldau e o guitarrista Pat Metheny juntaram-se de novo, pela segunda vez, num disco invulgar e cativante, e adoptaram a forma de um quarteto, acompanhados por Larry Grenadier no baixo e Jeff Ballard na bateria. O resultado é um daqueles raros discos onde se vão descobrindo novos detalhes em cada nova audição, apesar da simplicidade da produção. A química que se estabeleceu neste novo encontro entre Mehldau e Metheny resulta num disco cativante, exemplo da capacidade de adaptação de grandes músicos quando em prazenteiro confronto. «Metheny, Mehldau, Quartet», CD Nonesuch.
CTT – As minhas duas últimas encomendas à Amazon inglesa foram devolvidas pelos correios portugueses à origem, com a indicação de que a entrega tinha sido impossível de concretizar. Facto: Não foi deixado nenhum aviso, não foi colocado nada na caixa de correio. Usar a Amazon fica mais difícil graças à indigência do serviço dos correios portugueses.
BACK TO BASICS – Para que é que interessa estar a falar de pequenos problemas quando a Antártida está a derreter? – André Gomes.
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