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POIS… – A capa da revista «The Economist» desta semana era a imagem de uma ave, caída, morta, de patas para o ar, com a bandeira europeia desenhada no ventre, trespassada por uma flecha, sob o título «O Futuro da União Europeia – Agora enterrem-na!». Lá dentro o artigo começava assim: «Os eleitores atiraram mais uma seta direita ao coração do tratado da União Europeia. Desta vez foram os Irlandeses a votar não ao tratado de Lisboa no passado dia 12, por 53-47% numa votação concorrida. Eles seguem-se aos Franceses e aos Holandeses, que rejeitaram em 2005 o predecessor do tratado de Lisboa, a constituição da EU. Já em 2001 os irlandeses haviam recusado o tratado de Nice, mas na realidade foram os Dinamarqueses a iniciar este jogo quando votaram contra o tratado de Maastricht em 1992». E o mesmo artigo termina assim: «Os eleitores disseram por três vezes não a esta caldeirada confusa. Vai sendo tempo de respeitar a sua opinião». Se pudesse oferecia exemplares da revista a Sócrates, a Durão Barroso, a Cavaco Silva e aos seus seguidores no coro que reivindica a ratificação do tratado de Lisboa a todo o custo.


 


LISBOA – A edição de Julho/Agosto da imprescindível revista «Monocle» traz a sua selecção das 25 melhores cidades do mundo para viver. Lisboa entra na lista, conseguindo o 24º lugar, elogiada pela animação, os cafés, o sol, o clima, a paisagem, as praias próximas e pela vida nocturna. Ou seja, a cidade tem sobrevivido à incúria, ao desleixo, até à falta de uma estratégia de inovação e criatividade. A única conclusão é que nem o mau governo da cidade consegue eliminar as suas vantagens naturais. Imaginem que a cidade era bem governada – devia ser fantástico. Num brilhante artigo publicado na mesma edição da revista, Richard Florida propõe que o conceito de qualidade de vida seja alterado pelo de qualidade do lugar, assente em três avaliações: o que lá existe (seja natural ou construído), quem lá está (as pessoas) e o que lá se passa ( o que as pessoas fazem, a sua relação com o ambiente natural e com o espaço construído).  

 


 


 


 


MUNDO – A revista «Wired» fez 15 anos e publica uma edição especial onde mostra as previsões em que acertou e aquelas em que falhou. Dedicada ao mundo digital desde 1993, a «Wired» foi pioneira na divulgação de tecnologias, novas culturas, novas formas de expressão e criatividade, novos aparelhos e tendências. O seu slogan é «Ideas With Impact» - nada podia ser mais simples e verdadeiro. O seu site (www.wired.com) tornou-se um local de referência, para mim de consulta diária. 

 


 


MÚSICA – Duas reedições extraordinárias da editora Riverside, a partir de gravações e edições originais de finais dos anos 50, dois discos excepcionais de Bill Evans. Em 1958 Bill Evans no piano, Sam Jones no baixo e Philly Joe Jones na bateria gravavam os temas que haviam de integrar o álbum «Everybody Digs Bill Evans», o segundo álbum do pianista, com uma capa invulgar, feita de citações elogiosas a Evans, assinadas por Miles Davis, George Shearing, Ahmad Jamal e Cannonball Adderley. Um ano mais tarde, e já depois de ter participado na gravação de «Kind Of Blue» de Miles Davis, Bill Evans voltou ao estúdio com um novo trio – a seu lado estavam agora Scott Lafaro no baixo e Paul Motian na bateria. Destas sessões resultou o álbum «Portrait In Jazz», uma pequena obra prima de criatividade e frescura na abordagem de temas clássicos do jazz, além de uma revelação nos caminhos que Evans trilhava na composição. Estes dois álbuns foram remasterizados digitalmente para 24 bits e estão agora disponíveis graças a uma série de reedições da Riverside/Universal. 

 


 


VER – O fotógrafo britânico Martin Parr ganhou o prémio Photo España 2008, pelo seu percurso profissional e influência na fotografia contemporânea. É uma boa notícia porque Parr é um fotojornalista, da prestigiada agência Magnum, e não apenas um observador académico e diletante a cruzar texturas com formas. As suas fotografias são cáusticas, de ângulos inesperados, críticas, mordazes muitas vezes, irónicas com frequência. Podem ter uma bela ideia da sua obra (que inclui livros e filmes além da fotografia) no seu site www.martinparr.com . Que bom é ver um prémio de fotografia bem atribuído. 

 


 


PROVAR – Por detrás do Hotel Tivoli, da Avenida da Liberdade, fica o Hotel Tivoli-Jardim. É um hotel mais pequeno, um pouco mais modesto, mas de qualidade, que sempre teve no rés do chão um restaurante simpático, de que aliás aqui falei há tempos. Agora o Hotel decidiu concessionar o espaço a um dos mais activos chefes e restauradores da nova geração portuguesa – Olivier. A decoração foi mexida para tornar o local mais moderno e o Olivier Avenida propõe uma lista que inclui surpresas como os mini-hamburguers com foie gras fresco e cebola caramelizada em vinho do porto ou uma bela salada de vieiras. O serviço é simpático, a lista é variada, o ambiente é bom e o preço não é exagerado. Um bom local no centro de Lisboa , telefone 213174105. 

 

 


BACK TO BASICS – Em vez de dar a um político as chaves da cidade, o melhor seria mandar mudar as fechaduras - Doug Larson. 

 

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publicado às 12:56

A ARTE DE NADA FAZER

por falcao, em 29.06.08

(Publicado no diário Meia Hora de 25 de Junho)

 


Uma das especialidades da acção política é conseguir parecer que se faz muito, sem nada fazer de facto. Por exemplo José Sócrates e António Costa, um no país e outro em Lisboa, são mestres desse enredo. Falam, falam, prometem, prometem, inauguram, inauguram, mas depois vai-se a ver o que mudou e a coisa é bem pouca.


Dentro do mesmo género, mas menos elaborados, são por exemplo Mário Lino no Governo e Manuel Salgado em Lisboa. Os projectos que Mário Lino empenhadamente defende já se percebeu que não avançam, da mesma forma que Manuel Salgado gasta mais energias e recursos em exposições e no encerramento do Terreiro do Paço aos Domingos, que propriamente na reforma dos serviços de urbanismo e em medidas de recuperação da cidade.


Depois, há todo um outro género, que é o que vive de fazer o menos possível de acção política nas respectivas áreas, não se vá dar o caso de alguma coisa poder acontecer – é o que se passa com a Cultura, no país e em Lisboa (e no Porto também, mas isso é um caso de terrorismo do respectivo edil). No Palácio da Ajuda, onde fica o Ministério da Cultura, basta visitar o respectivo site da Internet para se perceber a ausência de definição de políticas, estratégias, prioridades ou reformas e nota-se que a acção mais pública do respectivo titular foi a inauguração de um museu dedicado aos comboios, que nem sequer está debaixo da sua tutela. Da mesma forma, a Vereadora da Cultura de Lisboa prima pela inexistência de qualquer actividade que não seja acabar com iniciativas que existiam e não se lhe conhece um pensamento sobre como tornar Lisboa uma cidade que acolha e promova a criatividade.


Poder-se-ia dizer que é falta de capacidade de comunicação. Não creio, é inacção. É não querer aparecer a tomar medidas, é não estar convicto do que se faz, é evitar tomar posição. Em política, cada vez mais, o que está a dar é não fazer nada, dizer o menos possível, esconder projectos, evitar concretizar.


A actual retórica política destina-se a afastar os cidadãos do debate, procura  fechar o círculo da participação cívica, esforça-se por reduzir o número de protagonistas. O processo político em Portugal é cada vez mais autista, cada vez menos interessado no que fica para o futuro. Não é de estranhar que Portugal seja o mais pessismista dos 27 países da moribunda União Europeia. 

 

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publicado às 12:56

CELEBRAR – Gosto muito de cerveja Guinness. Tem um corpo e um travo únicos, fruto de uma receita original. Criada em meados do século XVIII na Irlanda, a Guinness é daqueles produtos diferentes e com um método de fabrico inusitado ( a suavidade vem do facto de  a gaseificação ser criada com nitrogénio, além do habitual dióxido de carbono), por cima de uma preparação e mistura única dos cereais – tratados - que são fermentados. A Guinness é um produto da diversidade, para ser saboreada. Esta semana brindei várias vezes ao NÃO irlandês com cerveja Guinness. Brindei pelo direito ao voto, pelo direito ao referendo e pelo direito à diferença. Eu gosto dos irlandeses, mais do que dos franceses e dos alemães. E acho que nos devíamos entender mais com os irlandeses do que com países que têm pouco a ver connosco. Resta dizer que, acima de tudo, apreciei a independência dos eleitores irlandeses – não cederam à chantagem dos financiamentos comunitários.


 


 


EUROPA – Se há coisa que o processo do Tratado de Lisboa prova é que a Europa, tal como está, gosta pouco de votos e tem uma noção muito estranha de democracia: nesta Europa, pelos vistos, uma votação só serve se puder ser repetida até sair o resultado desejado. Se a moda pega, a coisa vai ser curiosa – imaginem esta ideia nas mãos de Sarkozy, Berlusconi ou dos gémeos polacos... Mas o pior de todos os argumentos é aquele que pretende opôr as centenas de milhões de cidadãos de vários Estados que não fizeram referendo, aos poucos milhões de Irlandeses que tiveram a coragem de, votando, dizer não a um modelo centralista. Tivesse havido referendo em mais Estados, outro galo cantaria. Houvesse mais democracia e a Europa talvez pudesse ser um ideal simpático, em vez de um poço de burocracias. Portugal, como pequeno país periférico, faria bem em ouvir os argumentos do NÃO irlandês, em vez de aceitar as falácias dos grandes países que mandam em Bruxelas. Já repararam como o «não» da França há uns anos foi tratado com simpatia e desvelo (e obrigou a repetir todo o processo) e o «não» irlandês é tratado com insultos e desprezo? Esta diferença é a matriz do poder burocrata da Europa. E é isso que muitos, como eu, não desejam que aconteça. Devia ter tido a coragem de ir a votos sobre esta matéria senhor Sócrates, em vez da cobardia de se refugiar no Parlamento. 

 


 


LER – Esse belíssimo objecto editorial que é a revista «Egoísta» fez mais um número especial, desta vez dedicado aos 120 anos de Fernando Pessoa. Para além das palavras do poeta, destaco algumas ilustrações – nomeadamente as baseadas em fotografias de Cláudio Garrudo e desenhos de Rodrigo Saias. Destaque também para as reproduções de páginas de volumes anotados da biblioteca do próprio Pessoa com algumas imagens inéditas. Belos textos de Hélia Correia, Teresa Rita Lopes e António Tabuchi (mais previsível, mas enfim…). Mas o melhor de tudo é o ensaio sobre Fernando Pessoa e as suas ligações a contemporâneos como Walt Whitman e Oscar Wilde, trazido pelo seu tradutor Richard Zenith – que também propõe uma revisitação de quatro textos de Wilde, traduzidos por Pessoa e que Zenith transcreveu e anotou. De longe esta é a melhor parte desta edição e só por si vale a pena guardá-la. Não havia era necessidade de um desajeitado texto de Inês Pedrosa, a ensaiar uma réplica a um texto do próprio Pessoa – há dias em que a ausência da noção de ridículo mata mesmo.  

 


 


OUVIR – A britânica Minnie Driver tornou-se sobretudo conhecida como actriz de cinema, mas ao longo dos últimos anos desenvolveu uma carreira musical paralela. Neste seu segundo disco as canções são todas da sua autoria, a maioria baladas com um toque de blues. A atmosfera é inesperada, as canções são ricas, os arranjos são precisos e discretos, a voz é envolvente – permitam-me destacar a faixa «Love Is Love». No disco colaboram nomes como Ryan Adams (dos Cardinals), na guitarra em «Beloved», a grande Liz Phair que faz coros em «Sorry Baby» e Rami Jaffee (dos Wallflowers) Minnie Driver, presenças de Liz Phair, Rami Jaffee dos Wallflowers em «London Skies». Belas canções tem este «Seastories» de Minnie Driver, uma edição Decca. 

 


 


 


 


SABOREAR– Confesso que sou mais partidário dos chefes que trabalham com base na tradição culinária portuguesa do que dos seguidores de modelos importados. Por isso mesmo uma casa onde volto sempre com gosto é ao «Nobre», que ao longo dos últimos anos tem tido várias vicissitudes mas que, agora, estabilizou bem no Montijo, mesmo à saída da Ponte Vasco da Gama. Num espaço amplo, com um serviço impecável (que falta em tanto sítio…), Justa Nobre continua a mostrar como é possível manter a qualidade, introduzindo pequenas e bem achadas inovações, nomeadamente na forma de trabalhar o peixe. A comandar as operações, como sempre, está o seu marido José Nobre. Avenida de Olivença, junto à praça de touros do Montijo, telefone 212317511. 

 


 


BACK TO BASICS «Uma nação que habitualmente pense mal de si mesma acabará por merecer o conceito de si que anteformou. Envenena-se mentalmente.  

O primeiro passo passou para uma regeneração, económica ou outra, de Portugal é criarmos um estado de espírito de confiança - mais, de certeza, nessa regeneração.» - Fernando Pessoa, em «Teoria e Prática do Comércio».
 

 


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publicado às 18:46

ONDE ESTÁ O ZÉ?

por falcao, em 23.06.08

(Publicado no diário «Meia Hora» do dia 18 de Junho) 

 


Nas últimas eleições para a Câmara Municipal de Lisboa o Bloco de Esquerda fez campanha com o slogan «O Zé Faz Falta», para defender a eleição de José Sá Fernandes. O objectivo foi cumprido e o tal Zé foi eleito.


Vamos aqui fazer um pequeno exercício de memória: nas vereações anteriores, de que não fez parte, o Dr. Zé teve uma persistente e constante atitude de batalha jurídica contra as decisões dos então responsáveis, quer no caso do elevador para o Castelo de S. Jorge no tempo de João Soares, quer no caso do Túnel do Marquês no tempo de Santana Lopes e, mais tarde, sobre o Parque Mayer,  no tempo de Carmona Rodrigues. Em todos os casos argumentou com o interesse público e esgrimiu providências cautelares e denúncias avulsas, para impedir políticas, atrasar obras, causar prejuízos variados (o caso do Túnel do Marquês é o mais flagrante e os milhões de custos suplementares que as suas diatribes causaram deviam ser objecto de atribuição de responsabilidades).


Pois eis que agora o Senhor Vereador Zé resolveu permitir o abuso do espaço público, o incómodo dos munícipes, a diminuição dos seus direitos de movimento dentro da cidade onde pagam impostos – estou a falar do aberrante caso da cedência de uma praça no centro da cidade para uma operação privada  (o lançamento de um carro) que durante cerca de duas dezenas de dias vai prejudicar a vida de todos os que habitam ou normalmente frequentam a Praça das Flores.


Não está aqui em causa a acção em si – os responsáveis de marketing da Skoda tiveram uma ideia original e aproveitaram a fraqueza e complacência da Câmara para a porem em prática. Merecem palmas.  O que está em causa é que o Sr. Zé, dantes, nunca via vantagens nem benefícios naquilo que os outros propunham, e agora só vê vantagens e receitas na perturbação da vida dos lisboetas. Na verdade, o que fazia falta, neste caso, era alguém que tivesse interposto uma providência cautelar à ocupação da Praça das Flores, apoiada pelo tal Zé, que, vê-se agora, não era preciso para nada.


A hipocrisia é o pão nosso dos políticos, mas o tal Zé abusa. E, já agora, em todo este assunto estranha-se o diáfano silêncio do Senhor Presidente da Câmara. Quem cala, consente. Ao menos ficamos a saber do que a casa gasta. 

 

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publicado às 18:45

ASAE I – Gostava de saber em que vão ficar as dúvidas sobre a constitucionalidade da ASAE, levantadas por alguns distintos Constitucionalistas. A quem cabe promover o esclarecimento das dúvidas? Irá o Presidente da República averiguar o que se passa? Irá o Tribunal Constitucional ter a ousdadia de agir? 

 


 


ASAE II – O inconfundível senhor Nunes, produto acabado do que pode acontecer num Governo de maioria absoluta, continua a fazer das suas: agora a responsável da ASAE no Norte foi levada a abandonar o cargo, por coincidência depois de ter criticado a forma como a ASAE por vezes actua. A ASAE não só actua de forma descricionária (e vamos ver se inconstitucional…), como não tolera discussões nem críticas. O senhor Nunes está cada vez mais parecido com um déspota muito mal iluminado. 

 


 


CRISE I – Primeiro a Europa combateu a produção agrícola nos países periféricos para satisfazer a Alemanha e a França, depois condicionou a pesca para satisfazer os países do Norte. A crise que hoje vivemos é fruto de décadas de políticas erradas dos responsáveis europeus, é fruto da obsessão pela construção de um mega-estado capaz de bater pé a americanos e russos, custasse o que custasse. O custo, vê-se agora, é altíssimo. A guerra fria continua, só que agora as armas são os sempre escalantes juros do Euribor , o preço do petróleo, o estrangulamento das especificidades nacionais. Eu não sou europeísta, eu sou contra o tratado de Lisboa, e tenho muita pena de ser obrigado a aceitá-lo por um Governo que despreza a auscultação da vontade dos seus cidadãos. 

 


 


 


 


 


CRISE II – Os juros do crédito à  habitação subiram a níveis históricos, o preço dos bens de consumo essenciais sobe como nunca nos anos mais recentes, a inflação dispara, o Estado perde receitas fiscais cada dia que passa porque em Espanha as coisas são mais baratas e quem pode vai lá abastecer-se. E é em nome da necessidade da receita fiscal que essa receita vai diminuindo, porque o  consumo está a retrair-se. É em nome da estabilização do deficit que a classe média é sufocada pelo peso do Estado. Nada disto é lógico, nada disto é produtivo, nada disto faz sentido. Vivemos num reino de faz de conta. 

 


 


 


PAÍS – Este país irrita-me, irrita-me muito. No mesmo dia em que a taxa do Euribor passa os 5%, nos restaurantes, à hora do almoço, só se ouve falar de futebol. Todos os jornais têm páginas e páginas sobre o circo do Euro. O ruído do futebol contrasta com o silêncio apurado de Sócrates, encolhido a esperar que a crise seja arredada pelo esférico rolando sobre os relvados da Suiça e Áustria.  

 


 


RESTAURANTES – A Avenida da Liberdade está de repente a ganhar uma enorme vida em matéria de restaurantes. Entre o Zeno e o Ad Lib, aparecem novas propostas. A Brasserie Flo, no Hotel Tivoli, é já um êxito e decididamente o almoço mais empresarial de Lisboa, depois de décadas de prevalência da Varanda do Ritz. Um pouco atrás, no Tivoli Jardim, está o Olivier Avenida, que vai dando que falar E agora o Terraço do Tivoli está para abrir pela mão de Luís Baena. Este é o movimento que me levanta mais dúvidas, nunca comi bem na Quinta de Catralvos, numa me senti lá bem porque o serviço era péssimo. Para mim, Luís Baena é daqueles chefes que se refugia na tecnologia – um dos grandes chefes espanhóis, Santi Santamaría, denunciou há poucos dias o abuso de químicos e aditivos para compor os pratos e preconizou o regresso à pureza das boas matérias primas locais. Até prova em contrário acho que Luís Baena tem mais ego que talento e, absolutamente, tem uma imperdoável falta de atenção ao serviço. Espero que se corrija a tempo de não estragar mais um restaurante. 

 


 


LER – A propósito disto de restaurantes, recomendo vivamente a leitura de «A Ferver – Aventuras e desventuras de um cozinheiro amador», pelo jornalista e escritor americano Bill Buford, o homem que refundou e criou a revista «Granta», célebre publicação dedicada à literatura. Este livro de Buford, nascido em 1954, é como um deliciosa sucessão entre reportagens e short-stories, todas dedicadas à cozinha – desde as peripécias como aprendiz de cozinha num restaura italiano célebre, até à aprendizagem das  massas  frescas italianas, passando pelas dificuldades em aprender a nobre arte dos talhantes. Mais do que isso, quase em cada página encontra-se um conselho, uma sugestão, um truque. Nunca a palavra DELÍCIA se aplicou tão bem a um livro como a este. 

 


 


OUVIR – Na Ópera contemporânea existe uma dupla mágica: Anna Netrebko e Rolando Villazón. Juntos cantaram «La Traviata» em Munique, depois «Roméo et Juliette» em Los Angeles, «Lélisir d’amore» em Viena, «Manon» de novo em Los Angeles. Finalmente, em 2006, interpretaram juntos «La Bohème», primeiro em São Petersburgo e depois em Nova Iorque e finalmente, em 2007, em Munique, onde a ópera foi gravada, quer para disco, quer numa versão de Cinema e noutra de televisão. É a gravação áudio dessa apresentação, com a Orquestra Sinfónica da Rádio da Bavária, dirigida por Bertrand de Billy, que agora é editada pela Deutsche Grammophon, Netrebko é Mimi e Villazón é o poeta Rodolfo. O resultado merece ser descoberto. 

 


 


BACK TO BASICS – «A minha mãe teve algumas dificuldades comigo, mas no fundo acho que gostou de as resolver» - Mark Twain.  

 

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publicado às 13:17

SAUDADES DA RÁDIO

por falcao, em 16.06.08

(publicado no diário «Meia Hora» de 11 de Junho)

 


 


Hoje estou um bocadinho sentimental. Estou com saudades da rádio, da rádio que me acompanha desde miúdo, de ouvir emissões e programas, de sentir variedade e diferença, sem ser apenas uma enorme e monótona lista de discos que se repetem dia após dia, ou uma algazarra de conversas sem sentido nem utilidade


Lembro-me de quando ouvia rádio, ao pé da minha mãe, ela a querer que eu estudasse e fizesse os trabalhos de casa, e eu à procura das estações que tivessem música nova. Lembro-me de noites na casa dos meus avós, no Alto Alentejo, a procurar distantes rádios estrangeiras em onda curta e onda longa. Anos mais tarde lembro-me de ter gravado partes do álbum branco dos Beatles a partir de uma emissão em onda curta da BBC, no exacto dia em que ele foi apresentado em Londres.. Nesse tempo, não se espantem, não existia Internet, nem My Space. nem You Tube. As ondas curtas e longas eram o nosso terreno de exploração numa época em que o único computador que conhecíamos era o que aparecia em «2001-Odisseia No Espaço», o filme de Kubrick entretanto largamente ultrapassado pelos acontecimentos.


A rádio foi progressivamente sendo morta por programas que queriam ter graça mas não tinham nenhuma, por notícias ansiosas, por gravações de declarações a favor e contra repetidas vezes sem fim, a propósito de tudo e de nada. O estilo editorial «procura a reacção» deu cabo das notícias e, em boa parte, da rádio..A tentação de a rádio concorrer com a TV matou a própria rádio que hoje precisa de se reinventar.


Há pouco tempo voltei a ouvir rádio pela manhã para ouvir como o dia se desenha, Gosto da rádio que não se repete, que é capaz de me dar as duas primeiras horas do meu dia de forma diferente. Primeiro fartei-me das emissões de rádio que pareciam más emissões de televisão, depois fartei-me das emissões de televisão, sempre como mesmo bloco de notícias repetido vezes demais.


Acredito que a rádio se vai reinventar, acredito que é na diversidade, nos programas e nas diferenças, que a rádio vai ressurgir. Se calhar com programas mais curtos, entre os podcasts e blogs radiofónicos, utilizando redes sociais, facultando preferências  personalizadas, se calhar com maior atenção ao que é local e de interesse para as pessoas, se calhar menos presa à agenda política de Ministros e de partidos. Eu gostava que fosse assim. 

 


 

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publicado às 13:16

CURIOSIDADE – A frota automóvel do município de Tavira passou a ser abastecida em Espanha porque é mais barato. Quem é que diz que as comparações com Espanha não interessam para nada? 

 


MÉDIA – Recomendo aos governantes que gostam de citar médias europeias que atentem neste subtítulo de capa um jornal desta semana: «os pescadores portugueses pagam taxas mais baixas nas lotas espanholas, recebem mais pelo mesmo peixe e atestam os barcos com combustível mais barato». 

 


 


PONTARIA – Li num jornal da semana passada que os agentes da ASAE foram os que, de entre as várias polícias, maior treino de tiro tiveram nos últimos tempos. Dá que pensar, não é? Será que vão invadir os arraiais de Lisboa com o aparato que costumam utilizar em feiras e mercados? 

 


 


FUTEBOL I – Antes que a palhaçada comece, o melhor é declarar isto desde já: embirro com Scolari, com as espertalhices e teimosias que alarda, com o patriotismo de meia tigela que fomenta, com a maneira como algumas marcas se colam a ele. Por mim passo ao lado de qualquer coisa que tenha o carimbo desse senhor. 

 


 


 


 


FUTEBOL II – Não gosto do espírito de união nacional que a participação da selecção nacional induz. Irrita-me que os responsáveis nacionais usem a selecção e o futebol para terem um interregno nos problemas. Não gosto de pensar que há quem pense que a grandeza do futebol é a solução de todos os problemas do país.  

 


 


ANÁLISE – «O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela – em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz. O síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade da ironia». Escrito por Fernando Pessoa nos anos 20, imaginem este texto escrito agora e façam as necessárias adaptações às sutuações actuais. 

 


 


LER – Este certeiro e oportuno texto de Fernando Pessoa pertence a uma pequena mas muito interessantes publicação, da Editorial Nova Ática: «O Provincianismo Português», incluindo ainda um outro texto, «O Caso Mental Português . Do mesmo autor e pela mesma editora vale também a pena ler «Um Grande Português ou A Origem do Conto do Vigário». Todos são curtos ensaios originalmente publicados por Pessoa na imprensa da sua época. Ainda um dia destes vou tirar mais umas belas citações destes textos, quer-me parecer. Estes deliciosos livrinhos estão disponíveis no renovado espaço da Livraria Guimarães (Rua da Misericórdia 68, um pouco acima do Teatro da Trindade), onde se conseguem encontrar textos clássicos e algumas edições fundamentais de autores portugueses, uma raridade nos tempos que correm.  

 


 


VER – Ir até Belém e de uma assentada só ver a peça que Pedro Cabrita Reis tem no Mosteiro dos Jerónimos e dar um pulinho ao CCB para ver no Museu Berardo a exposição sobre a obra do arquitecto Le Corbusier.  

 


 


OUVIR AO FIM DA TARDE – O novo volume da série Verve/Remixed, que já vai na quarta compilação. Aqui são revisitados temas como «Cry Me A River» de Dinah Washington, «Gimme Some» e «Take Care Of Business» de Nina Simone, «There Was A Time» de James Brown, «Tea For Two» de Sarah Vaughan, «Bim Bom» de Astrud Gilberto» e «I Get A Kick Out Of You» de Ella Fitzgerald, entre outros. Ao todo doze clássicos reinventados em tantas outras remixes de outros tantos DJ’s. Um disco ideal para acompanhar estes longos fins de tarde, depois do trabalho, já na fase de descontracção. CD Verve/ Universal. 

 


 


OUVIR À  NOITE– A banda sonora do filme «Sex In The City» já está disponível e merece atenção. Mistura sons da cidade de Nova Iorque, entre o rock, o pop e o hip-hop. Destaque para «Labels Of Love» de Fergie, «Mercy» de Duffy, o remix de «The Look Of Love» a partir de uma versão de Nina Simone, uma belíssima canção - «It’s Amazing» - de Jem, uma versão de «How Deep Is Your Love» (um original dos Bee Gees), aqui interpretado por The Bird & The Bee. Há mais Bee Gees numa versão de «How Can You Mend A Broken Heart» por Al Green e Joss Stone e a coisa remata com o sempre brilhante «Walk This Way» dos Aerosmith pelos RUN DMC com a participação dos autores Steve Tyler e Joe Perry. CD Decca/Universal Music.  

 


 


PETISCAR – Pastéis de bacalhau com salada de feijão frade ou outra combinação qualquer de salgados com saladas, de entre as várias que estão disponíveis na «Versailles». Uma maneira fresca de fazer um almoço leve numa sala simpática. Mas além de saladas tem bons pratos do dia e honestíssimos bifes. Às vezes até me esqueço que a Versailles é um muito decente restaurante. Av da República 15ª, quase a chegar ao Saldanha, não é pior marcar mesa ao almoço se quiser mesmo uma refeção como deve ser. Telefone 213546340. 

 


 


BACK TO BASICS - «Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão» - Eça de Queiroz. 

 

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publicado às 13:41

CRIATIVIDADE CONGELADA

por falcao, em 04.06.08

(Publicado no diário Meia-Hora de 4 de Junho)


Nos últimos tempos fala-se bastante da importância de atrair e fomentar a criatividade e há poucas semanas esteve em Lisboa, para uma conferência, o economista norte-americano Richard Florida que se tornou conhecido exactamente por defender a necessidade de cidades e países se posicionarem enquanto pólos de criatividade, como factor de desenvolvimento económico e social.


Numa conjuntura destas seria de esperar que os maiores municípios do país e o Governo andassem de mãos dadas para tentar criar uma estratégia de actuação concertada. E seria natural que fossem os vereadores dos pelouros autárquicos da Cultura e o Ministro da Cultura os dinamizadores dessas acções.


Pois então não se passa nada disso. A área da Cultura continua a ser sistematicamente subalternizada, e em primeiro lugar por Presidentes de Câmara e por Primeiros Ministros, que olham para o sector e não conseguem ver mais do que a política de subsídios e a gestão de favores a grupos de interesse, para posterior utilização nos ramalhetes de apoios em épocas eleitorais.


A actividade cultural – no sentido lato do entretenimento e das indústrias criativas – é hoje em dia um factor decisivo para fazer desenvolver a economia. Duvidam? Pois ouçam estas palavras do Mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg: «O sector criativo dá à nossa cidade a sua vantagem estratégica e a margem competitiva que lhe permite ter êxito na economia globalizada. O diversificado e criativo ambiente de Nova Iorque não só atrai empresários, homens de negócio e turistas de todo o mundo, como influencia cada um dos nossos mais pequenos gestos. Na realidade este ambiente melhora permanentemente a qualidade de vida em Nova Iorque, cria empregos, atrai estudantes, contribui para manter na região empresas e negócios e ajuda a transformar e requalificar os nossos bairros. A influência das artes e da cultura na cidade é extraordinária.»


Dito isto, pensem lá um bocadinho: que andam a fazer, por exemplo, os vereadores da cultura do Porto e de Lisboa? Que anda a fazer o Ministério da Cultura? Não se sente nenhum esforço em tornar esta área uma prioridade, mas a maior responsabilidade cabe aos titulares governamentais da pasta da Cultura que nunca se bateram pela definição de uma estratégia nacional para o desenvolvimento económico do sector.

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publicado às 17:55


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