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POBRE CULTURA

por falcao, em 22.10.08

(Publicado no diário MeiaHora de 21 de Outubro)


 


A estimativa de execução orçamental do Ministério da Cultura para 2008 é de 217,7 milhões de euros. Na proposta de Orçamento de Estado para 2009 a despesa prevista no Ministério da Cultura é de 212,6 milhões de euros, cerca de cinco milhões de euros a menos, um decréscimo, de facto, de 2,3 por cento. No programa do actual executivo, aprovado na Assembleia da República, dizia-se: «O compromisso do Governo, em matéria de financiamento público da cultura, é claro: reafirmar o sector como prioridade na afectação dos recursos disponíveis. Neste sentido, a meta de 1% do Orçamento de Estado dedicada à despesa cultural continua a servir-nos de referência de médio prazo». Na realidade, como apontava em Setembro a Deputada Ana Drago na Assembleia da República, a percentagem do investimento na Cultura no Orçamento de Estado tem sempre vindo a diminuir e não a aumentar – em 2001 era de 0,7% e em 2008 já tinha caído para 0,2%. Este ano, pelos vistos, mantém-se o pobre panorama. O mesmo Programa de Governo afirmava que uma das prioridades do executivo PS seria «retirar o sector da cultura da asfixia financeira». Não é isso que se tem passado – o sector hoje está mais débil, as estruturas independentes existentes vivem com maiores dificuldades, continua a não se fazerem investimentos necessários na internacionalização de criadores portugueses e a conservação do Património foi várias vezes notícia ao longo deste ano pelas piores razões – falta de verbas. No meio deste panorama o Ministro da Cultura faz uma habilidade para defender politicamente o Governo: em vez de comparar a estimativa de execução orçamental com o orçamento proposto para o próximo ano, pega no valor que estava indicado na primeira versão do Orçamento para 2008 para encontrar forma de dizer que o sector cresce – feitas as contas dessa estranha maneira (ai que mal vai o ensino da matemática…) o Ministro encontrou um crescimento de 0,4 por cento. Já agora vale a pena comparar esta afirmação do Ministro Pinto Ribeiro, com a da sua antecessora, Isabel Pires de Lima, há um ano: nessa altura reivindicava ela um aumento de 9,2 por cento no Orçamento da Cultura. A ser assim só se pode concluir que, seja qual fôr a forma de fazer as contas, o peso político e a importância dada pelo Governo á Cultura está em queda livre.

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publicado às 18:49

ELEIÇÕES – A notícia do arranque formal da campanha eleitoral do Governo foi dada com a proposta de Orçamento de Estado para 2009, que contempla o catálogo de medidas eleitoralistas a aplicar no decurso da campanha. Na mesma semana o Primeiro Ministro sublinhou a importância da manutenção do calendário das grandes obras públicas previstas e mereceu logo um significativo coro de aplausos daqueles empresários portugueses que gostam mais de trabalhar para o Estado do que de procurar clientes no mercado. É engraçado comparar o esforço do Estado nessas obras com incentivos à exportação ou estímulos à criação de novas empresas. Recordo aqui que ainda há pouco tempo o Presidente da República chamou a atenção para o facto de os empresários deverem ter em conta o mercado real dos consumidores e não o mercado manipulado das encomendas do Estado e das obras públicas. O desenvolvimento de um país é o resultado não da capacidade de lobby no aparelho de Estado, mas sim do êxito no mercado. Confundir Estado com mercado é um vício penoso que se tornou numa praga em Portugal.


 


CRISE – Nestas semanas de crise a mais completa e elucidativa cobertura, entre as revistas generalistas, tem sido a da «Newsweek», e isto porque procura perceber as razões do que sucedeu e avançar pistas para o futuro. Na edição de dia 13 a revista publicava um artigo do historiador Francis Fukuyama, «The Fall of America Inc» (pode ser visto em http://www.newsweek.com/id/162401 ), que analisava o que ao longo dos anos levou à situação actual, em que uma certa forma de capitalismo colapsou. Será possível restaurar a confiança na marca «América»? - pergunta Fukuyama provocatoriamente. Vale a pena ler o artigo, é absolutamente brilhante. Também imperdíveis têm sido os artigos do redactor-estrela da revista, Fareed Zakaria, cheios de dados, recordando a sucessão de factos que levaram ao colapso do sistema financeiro, mas também sugerindo soluções para ultrapassar a crise e mostrando que todas as crises têm um lado positivo.


 


BOATARIA – Passadas duas semanas, vale a pena lembrar que, segundo o «Expresso», a primeira referência sobre problemas «em dois pequenos bancos» terá sido criada a partir de uma declaração do Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, numa reunião com os cinco maiores bancos portugueses. O mais curioso é que na semana seguinte foi o mesmo Vítor Constâncio quem veio atacar a boataria sobre problemas na Banca portuguesa. É de mim ou isto é tudo um bocadinho esquisito?


 


PETISCAR – As reconciliações são sempre momentos felizes. Foi o que me aconteceu um destes dias quando me reconciliei com o Salsa e Coentros, um restaurante marcado pela gastronomia alentejana e que, há uns largos meses, me tinha desiludido no serviço, na forma como os clientes eram tratados, no ambiente geral. Passado um patamar médio da qualidade da cozinha, a forma como um restaurante recebe, a simpatia no atendimento de marcações, a forma como se processa o serviço na refeição, são tudo coisas que contam. Comer fora não é encher o bandulho, é suposto ser um momento de prazer e não um castigo ou sacrifício. Alguns restaurantes portugueses gostam de tratar os clientes como uns meros maçadores e assumem uma postura arrogante. Deste mal me queixava eu em relação ao Salsa e Coentros, mas a situação mudou e desta vez senti-me bem e comi melhor. A escolha foi uma perdiz de fricassé que estava perfeita. Roubando uma garfada ao vizinho do lado conatatei que a empada de perdiz estava igualmente boa. As batatas fritas às rodelas, finíssimas e no ponto, estavam perfeitas. Aqui está um sítio onde terei gosto em voltar. Rua Coronel Marques Leitão nº12 (perto da Avenida Rio de Janeiro, Alvalade). O telefone é o218410990.


 


OUVIR – David Oistrakh (1908-1974) foi um dos mais extraordinários violinistas de sempre. Por ocasião do centenário do seu nascimento a Deutsche Grammophon juntou algumas das suas gravações mais representativas, interpretações emocionantes de obras de Mendhelsson, Bruch, Prokofiev, Chausson, Ravel, Glazunov e Kabalevski, registadas entre 1948 e 1961, numa selecção cuidada de registos de origens e épocas muito diversas. A edição inclui ainda um CD extra, com gravações raras, de 1952, em que Oistrakh é acompanhado ao piano por Vladimir Yampolsky. Triplo CD «Concertos And Encores», Deutsche Grammophon.


 


LER – Os conflitos religiosos, a condição humana, a fé, as guerras em que os Estados Unidos se envolvem no exterior e, claro, o conflito entre a moral e o sexo, são os temas do novo livro de Philip Roth, «Indignation», a sua 29ª obra. Considerado com um dos grandes escritores contemporâneos, Roth localiza a acção em 1951, na época da Guerra da Coreia e num jovem estudante universitário, Marcus Messner, proveniente de uma família judia ortodoxa, em conflito com a religião, inadaptado no ambiente que descobre na universidade. O livro contém descrições brilhantes de lugares e de situações – à mistura com considerações e formas de ver o mundo - e desenrola-se num ambiente de crescentes conflitos, que culmina numa irreversível ruptura – com a vida. «Indignation», 233 páginas, edição Houghton Mifflin, comprado na Amazon.


 


BACK TO BASICS – Um político pensa apenas no seu próximo acto eleitoral, um estadista pensa na próxima geração (James Clark).

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publicado às 18:47

ESQUECIMENTOS

por falcao, em 22.10.08

 


(Publicado no diário Meia Hora de 14 de Outubro)

 

Ele há dias em que não se sabe muito bem o que se passa neste estimado rectângulo à beira-mar plantado. Dizem-se umas coisas, atribuem-se umas responsabilidades, clamam-se por louros, mas depois nada se passa e ninguém gosta de exercitar a memória. Querem exemplos? Aí vai.

Durante meses e meses falou-se do Tratado de Lisboa como se o mundo dele dependesse. Há um ano o Governo considerava o documento uma importante vitória diplomática portuguesa. O Tratado esvaíu-se, ninguém fala dele - muito menos no meio desta crise – e o mais certo é que dele não fique rasto na História.

Durante os primeiros dois anos deste Governo a Cultura andou em bolandas sem se perceber o que a Ministra fazia no Palácio da Ajuda. Depois mudou-se o inquilino mas ele só dá sinal de vida em algumas cerimónias oficiais. Para uma série de efeitos práticos o Ministro que desenvolve acções na área da Cultura é o da Economia. Exemplos? Basta ver o que está agendado para Serralves, um programa em torno da Criatividade, em que o protagonista governamental é Manuel Pinho.

O campeão do jogo de cintura é no entanto Mário Lino, o homem que garante que tudo vai avançar e se tornou especializado em guiar em marcha-atrás. Confrontado com a necessidade de dar trabalho aos empreiteiros, desdobra-se em projectos que vão sendo adiados, modificados, e lá vai permanecendo com um ar bonacheirão a estreitar a influência francófona em Portugal, marcando as suas mais bombásticas declarações com palavras francesas – para todos os efeitos ele ficará conhecido como Monsieur Jamais.

Outro sector que sofre de amnésia galopante e tem esquecimentos frequentes é o Ministério da Educação. Se confrontarmos as intenções anunciadas com as realidades actuais, as diferenças são enormes. Pelo meio esqueceu-se de fazer avaliações rigorosas aos alunos, optando por nivelar por baixo, e abandonou as avaliações aos professores. Mas o campeão do esquecimento é Sócrates, o mais legítimo herdeiro do cognome «O Promessas», surgido nos últimos anos. Das dezenas de promessas de reformas anunciadas vai chegar ao fim da legislatura com uma taxa de execução pobre e percentualmente diminuta. Espero que alguém lhe lembre, nessa altura, aquilo que ele vai ter tendência em esquecer – tudo o que falhou.

 

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publicado às 18:44

 


POLÍTICA - É muito curioso ver como os norte-americanos encaram e debatem as eleições presidenciais. Mesmo publicações científicas não hesitam em dar conselhos aos seus leitores sobre a forma como devem analisar os candidatos. A edição de 26 de Setembro da prestigiada «Science» sugere que cada leitor faça a sua análise a partir deste raciocínio: « como encara cada um dos candidatos a Ciência? Quais são as suas prováveis nomeações para os cargos científicos de designação presidencial?» E vai mais longe: é bom aconselhar os candidatos, questioná-los em debates com perguntas concretas sobre políticas concretas na área da ciência. E o circunspecto «New England Journal Of Medicine», de 2 de Outubro, não hesita: «Devemos ver quais os pensamentos dos candidatos sobre políticas de saúde, sobre a reforma do sistema e que soluções criativas trazem para esta área». Que bom seria se em Portugal as instituições e as pessoas começassem a pensar e a agir assim.

 

SARAMAGO – Curioso e educativo o comunicado da Federação dos Invisuais dos Estados Unidos sobre o filme «Blindness», baseado no romance «Ensaio Sobre a Cegueira», do Nobel José Saramago. Excertos: «Condenamos e deploramos este filme, mau para a causa dos invisuais. Os invisuais, neste filme, são retratados como incompetentes, sujos, viciosos e depravados. Aparecem retratados como sendo incapazes de fazer as coisas mais simples como vestirem-se e tomarem banho ou até encontrarem o WC. A verdade é que os invisuais geralmente podem fazer quase tudo o que as pessoas com visão fazem». Ora que dirá Saramago desta politicamente correctíssima análise do seu romance?

 

COISAS - Pragmatismo, pragmatismo é o Estado encomendar milhares de computadores a um fabricante que anda às voltas com um processo de incumprimento fiscal. Esta semana soube-se que os fabricantes do «Classmate» da Intel em Portugal, baptizado como «Magalhães» pelo Governo, têm sérios problemas com o fisco e assistiu-se a uma muralha de silêncio do Eng Sócrates, que até aqui tem sempre elogiado fartamente a empresa. Ora aqui está o caso de um fabricante que gosta de ter o Estado como principal cliente…e pelos vistos financiador…

 

TELEVISÃO - Olho para os últimos números de audiências dos três principais canais e constato a persistência da SIC no terceiro lugar. Olho para a programação destes três canais e vejo demasiados pontos de contacto e falta de uma oferta diversificada. Olho para os resultados e vejo uma TVI triunfante, a aumentar a sua distância na liderança. Ponho-me a olhar para a Impresa e os seus sinas de instabilidade (por exemplo na área comercial) e começo a pensar: será que o total dos leitores da «Visão» e do «Expresso» - um total de 1,3 milhões de pessoas - se revêem na programação da televisão do grupo? Poderá existir um canal generalista para públicos mais exigentes em termos de conteúdos? Como é que o futuro 5º canal se irá implantar, em termos de tipologia de programação, neste universo saturado de novelas, concursos e entretenimento corriqueiro? Num mundo que começa a questionar a eficácia dos sistemas tradicionais de planeamento publicitário e compra de espaço comercial em televisão -. o que quer dizer começar a pôr em dúvida o critério único dos GRP’s - a questão da qualidade das audiências volta a estar em cima da mesa. Fará sentido anunciar em simultâneo o mesmo produto, por exemplo, na «Visão», «Expresso» e «Sic»? Uma metodologia relativamente recente, que analisa os pontos de contacto dos públicos com os media, defende que esse tipo de planeamento é um desperdício numa sociedade em que o consumo da comunicação é cada vez mais fragmentado.

 

LER – Mais um debate lançado na edição de Outubro da revista »Monocle», cada vez mais indispensável para pensar o futuro das cidades. A revista defende que não basta ser criativo, é preciso ser produtivo e sublinha a importância das pequenas indústrias, das pequenas manufacturas e do comércio especializado para dinamizar e tornar únicos os centros urbanos. Quem se passeia nas animadas ruas de cidades como Nova Iorque é isso mesmo que constata – comércio diversificado sempre aberto, abundante escolha, pequenas oficinas ou ateliers um pouco por todo o lado mesmo no centro de Manhattan. É isso que faz a vida de uma cidade. Qualquer candidato às próximas autárquicas numa cidade devia folhear com atenção as edições deste ano da «Monocle» - poderia fazer um manifesto eleitoral diferente e bastante mais inteligente que o habitual somatório de lugares comuns. Nesta edição por acaso a revista recomenda cinco locais lisboetas: o Hotel Heritage Solar no Castelo de S. Jorge, o restaurante Galito, a loja «A Vida Portuguesa» (abundante sortido de galos de Barcelos com decorações inesperadas), os gelados de «A Veneziana» e o terraço do Bairro Alto Hotel. Boas escolhas.

 

OUVIR – O disco é surpreendente: mistura interpretações orquestrais com duetos entre guitarra e plano, recupera as vozes de James Taylor ou Renée Fleming em temas tradicionais e clássicos. A ideia veio de dois músicos de jazz, do pianista Dave Grusin e do guitarrista Lee Ritenour e inclui originais dos próprios e versões de obras de Fauré, António Carlos Jobim, Ravel ou Handel, entre outros. «Amparo» é dos discos mais surpreendentes e excitantes deste ano. CD edição Decca/Universal Music.

 

COMER – Regresso ao velho «Pote», no número7 D da Avenida João XXI, já a chegar ao Areeiro. Ao jantar, a meio da semana, sala meio cheia, serviço simpático – algumas caras que me lembram rostos de há uns 30 anos. O «Pote» é um clássico da zona da Avenida de Roma e mantém-se em grande forma – tal como as favas que nesse dia me serviram. Do outro lado da mesa o salmão grelhado estava suculento e no final um pudim flan à fatia, sem ar sintético, e um melão honesto, tudo a preços simpáticos. Telefone 218 486 397.

 

BACK TO BASICS – Num mundo cheio de opiniões em segunda mão, o importante é conhecer os factos em primeiro lugar – lema do «New York Times».

 

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publicado às 18:42

OS INIMIGOS DO SERVIÇO PÚBLICO

por falcao, em 09.10.08

(publicado no diário Meia Hora de 8 de Outubro)

 


Quando os papéis de propagandista e de controlador da comunicação coexistem na mesma figura o resultado nunca é brilhante. A História está cheia de exemplos terríveis – do qual o do nazi Goebbels é o mais tristemente célebre. Mesmo algumas democracias não escapam à tentação de misturar propaganda com controlo e condicionamento da informação.


Lamentavelmente é isso que se passa em Portugal e os protagonistas são o Ministro Santos Silva e a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC), que ele criou. O acréscimo de poderes que agora o Governo, pela mão do Ministro, quer dar à ERC levanta as maiores preocupações – sobretudo atendendo ao histórico desta Entidade, curto no tempo mas largo em exemplos de más práticas no relacionamento com os Media.


As recentes tomadas de posição da ERC a propósito dos comentários políticos no Serviço Público de televisão são exemplos acabados de uma actuação que conjuga interesse político (condicionar a opinião) com oportunismo partidário (em vésperas de ano eleitoral o melhor será deixar os comentários fora da RTP, sobretudo aqueles que têm maiores audiências – no caso Marcelo Rebelo de Sousa). O incidente apenas confirma a total governamentalização da ERC.


A forma como a ERC entende actuar vai no sentido de condicionar o funcionamento das Direcções de Informação e das redacções do operador de serviço público: ao critério da oportunidade editorial, ao critério do interesse noticioso, sobrepõe-se um cínico princípio de igualdade de acesso à antena por parte dos vários agentes políticos e partidários que é a mais falaciosa e enganadora forma de manipulação – torna as emissões ilegíveis e desinteressantes, privilegia os que têm meios de comunicar de outra forma e, em vez de proporcionar igualdade, agrava de facto as desigualdades.


Existe no entanto outro ponto que o método adoptado pela ERC suscita: se a informação de serviço público é para ser governada por um cronómetro, em vez de ser dirigida por critérios jornalísticos e editoriais, se quem diz o que se deve fazer é o Governo, pela mão da ERC, então mais valerá que não exista Serviço Público. Neste momento a maior ameaça ao Serviço Público de Televisão vem da forma como ele é tratado pelo Ministro Santos Silva e pela ERC. Ambos estão apostados em manipulá-lo e descredibilizá-lo. 

 


 

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publicado às 17:18

CINISMO - Num daqueles supremos exercícios de ironia o Governo prepara-se para votar nos primeiros dias de Outubro um diploma intitulado «Lei do Pluralismo e da não concentração nos meios de comunicação social». O diploma visa - na realidade e de facto - limitar o pluralismo e, ao mesmo tempo, reforçar os poderes da Entidade Reguladora da Comunicação, cujo balanço de actividade é uma mancha negra na liberdade de imprensa em Portugal e no descarado proteccionismo às ingerências governamentais no sector (de que é exemplo o recente e caricato episódio da divulgação pública dos documentos sobre o caso da licenciatura de Sócrates, que estiveram escondidas durante meses e apenas foram reveladas depois de o «Expresso» as ter publicado) . Claro que a autoria da Lei vem das mãos do Ministro Santos Silva.  

 


 


AUDIOVISUAL - A alteração progressiva da matriz de serviço público na RTP ao longo dos últimos anos, conjugada com o aumento da capacidade de produção instalada da empresa e com a grande diminuição de produção de documentários e magazines na RTP 2, teve uma consequência terrível num conjunto de pequenas empresas de produção audiovisual independentes que mantinham elevados padrões de qualidade na produção, tinham desenvolvido competências  e especialização precisamente na produção de documentários e que, de uma forma geral, viram desaparecer a relação de continuidade que permitia a existência de equipas e de um «cluster» criativo específico nesta área. Por isso é importante discutir o papel do serviço público e dos operadores de televisão (através da obrigações das respectivas concessões) na criação e desenvolvimento da produção audiovisual nacional. A realidade é que sob as orientações políticas de Santos Silva em matéria de serviço público têm desaparecido produtores e a paisagem audiovisual portuguesa tem empobrecido. É aliás espantoso que, da área da Cultura, que tem a tutela do audiovisual , nada se diga sobre esta situação. 

 


 


 


ECONOMIA- Para além deste jornal, há uma outra maneira interessante de ler economia – trata-se da revista «Portfolio», editada nos Estados Unidos pelo grupo Conde Nast. Apresentada como uma publicação de informação confidencial sobre negócios, a «Portfolio» tem de facto uma abordagem inovadora na forma como apresenta as questões – na edição de Setembro analisava a crise que a cadeia de televisão NBC estava a passar, ao mesmo tempo apontava as oito medidas que as grandes estações de televisão terão que adoptar se quiserem manter-se vivas num negócio que está a mudar a velocidade acelerada, e – entre vários outros artigos e secções interessantes - entrevistava o CEO da Renault, Carlos Ghosn. A revista encontra-se à venda em Portugal e pode ter uma ideia de como ela é no site www.portfolio.com – por acaso muito interessante na actual conjuntura de crise. 

 


 


OUVIR - Sou fã de Burt Bacharach e garanto que isto não tem nada a ver com o facto de ele ter sido o pianista e maestro de eleição de Marlene Dietrich. Bacharach é um dos grandes compositores da música popular norte-americana e a sua carreira é marcada pelas canções que fez com Hal David, composições tornadas célebres pelas vozes de Dionne Warwick, os Carpenters, Tom Jones, Dusty Springfield ou Aretha Franklin. Da sua extensa lista de colaborações constam nomes como Elvis Costello ou ainda bandas sonoras de filmes como «Casino Royale». Por outro lado sou fã de Steve Tyrell porque ele tem uma vox fora de série e , sobretudo, uma capacidade de interpretação absolutamente extraordinária. De modo que quando vi um disco chamado «Back To Bacharach» assinado por Steve Tyrell, o impulso de o descobrir foi imediato. É um disco absolutamente extraordinário, com uma qualidade de interpretação musical e vocal invulgares – Tyrell trabalhou com Bacharach na produção e finalização do disco, percebe-se que este foi um projecto longamente pensado. Aqui estão temas como «Walk On By», «The Look Of Love», «What The World Needs Now», «I Say A Little Prayer For You», «Always Something There To Remind Me» e «Raindrops Keep Falling On My Head», entre outros. CD Koch Records, disponível na Amazon. 

 


 


VER - Na rua da Boavista 84, ao Cais de Sodré, fica a Transboavista, um edifício dedicado à arte contemporânea e que engloba três espaços de características diferentes. A VPF Cream art gallery é destinada a nomes já com obra produzida e reconhecida e apresenta novos trabalhos de Ana Cardoso sob o título «Sans Image». Na Rock Gallery, destinada a mostrar o trabalho de novos artistas, está Cristina Robalo e na Plataforma Revólver, um espaço mais experimental, está uma colectiva, comissariada por Luísa Especial e que inclui obras de Ana Telhado, Catarina Patrício, Eduardo Guerra, Jorge Siganier Castro, Pedro Vaz e Rita Sá. 

 


 


COMER - Um daqueles locais de Lisboa a que apetece sempre voltar é o «La Moneda». Eu, que o costumava geralmente frequentar á hora de almoço, tive há pouco tempo um jantar de um grupo de amigos – numeroso grupo de amigos – e a coisa correu absolutamente sobre rodas, em termos de serviço e de qualidade da comida. Não é fácil cozinhar bem para um grupo grande mas o «La Moneda» sai-se bem do desafio, sob a batuta do seu dono, o chileno Leo Guzman que dirige as operações na cozinha – sempre com novas surpresas – o menu está longe de ser uma coisa estática, o que é mais uma razão para lá voltar. Fica na Rua da Moeda 1C, à Praça D. Luís, telefone 21 390 8012. 

 


 


BACK TO BASICS – Na América o sexo é uma obsessão, no resto do mundo é apenas uma coisa que acontece – Marlene Dietrich 

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publicado às 17:13

UM SONO TRANQUILO

por falcao, em 09.10.08

(Publicado no diário «Meia Hora»)


Ele há dias em que até me apetecia simpatizar com o Governo. No início pensei que Sócrates teria uma genuína intenção reformista, mas ao longo destes anos fui perdendo as ilusões. Cada vez que uma crise grave sobreveio e a dureza das reformas propostas provocou desgaste na opinião publica, Sócrates resolveu o problema livrando-se das políticas e, se necessário, dos membros dos governo que se propunham executá-las. Correia de Campos, como bem recentemente confirmou, foi vencido pelo desgaste dos protestos. Mário Lino, que e um animal político, percebeu a tempo que mais valia engolir todas as patacuadas que disse sobre a inevitabilidade da Ota para assumir a opção que ele próprio classificou de impossivel, Alcochete. Mas o que interessa, no fundo, é a  falta de determinação de Sócrates em manter-se solidário com políticas quando elas ameaçam os votos que sao o seu oxigénio. No recente comício de Guimarães percebeu-se que daqui até às eleições o que interessa é conseguir segurar votos.

O mais curioso neste cenário é que a decisão de voltar atrás nas reformas mais complicadas se deu um ambiente de maioria absoluta, com uma assembleia domesticada e uma oposição esfrangalhada e paralisada. Mesmo assim  em vários sectores fundamentais as coisas ficaram por metade -  saúde e educação - e noutros nem isso - como acontece de forma gritante na Justica, porventura o mais ineficaz de todos os Ministérios do Governo de Sócrates. É verdade que a modernização administrativa - e os vários derivados do simplex -  avançou e hoje ,numa série de áreas, a vida é mais fácil. Mas as melhorias verificadas neste sector são, por exemplo, apagadas pelos abusos e excessos contra os cidadãos no gritante caso das Finanças, com os automatismos das punições fiscais a deixarem muita gente revoltada. Feitas as contas não é certo que este Governo tenha na sua matriz o respeito pelos direitos dos cidadãos.

Com eleições a um ano e com as propbabilidades de voltar a obter a maioria absoluta bastante ameaçadas, Sócrates encontra-se num dilema: não pode continuar a alimentar polémicas, vai precisar de muitas cedências para manter Manuel Alegre sossegado e tudo isso, por outro lado, vai fazer a erosão do centro direita que acreditou nele nas ultimas eleições.

Se com maioria absoluta o resultado está a ser o que se viu, sem maioria absoluta Sócrates arrisca-se a ser uma caricatura de si próprio e, pior que isso, o futuro nao augura nada de bom em termos de governação. Se a oposicao existisse e desse conta do que pretende fazer, esta podia ser uma ocasião de ouro. Mas como a oposição anda enredada em mostrar como tem um sono tranquilo, quer me bem parecer que temos pela frente um longo período de oportunidades perdidas, de reformas metidas no saco e de progresso adiado.

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publicado às 17:05

Publicado no Jornal de Negócios

por falcao, em 09.10.08

ADIVINHOS - A recente crise dos bancos de investimento chamou a atenção para as recomendações feitas por analistas com muito pouca experiência, que acabaram por jogar um papel determinante no aconselhamento dos investidores, na criação de expectativas e no semear de ilusões No mercado português assisti, ao longo dos últimos anos, a recomendações feitas por analistas financeiros sobre empresas de media cuja ligeireza – e ignorância - eram de estarrecer. Alguns, mais atrevidos, chegavam a opinar sobre grelhas de programas de estações de televisão ainda antes de elas serem estreadas, projectando rentabilidades sobre formatos que nunca tinham sido testados. A ignorância é geralmente má conselheira, mas quando ainda por cima é arrogante, como foi muitas vezes o caso desses analistas, o resultado só pode ser desastroso. Quem lhes deu ouvidos não se pode vir queixar agora: qualquer especialista lhes poderia ter dito em que pontos as análises eram incorrectas. Só que preferiram adivinhos e vendedores de promessas vestidos de analistas a especialistas - e o resultado está à vista. 

 


 


LISBOA- A corrida às autárquicas em Lisboa já vai mexendo. Alguém destapou a panela das cedências de habitações camarárias, sem se lembrar que o assunto queima muito mais o partido que mais anos esteve no poder em Lisboa, e que foi o PS – aliás é curioso que ninguém faça um trabalho sério sobre as consequências e culpas da gestão socialista de Jorge Sampaio e de João Soares no deficit geral da autarquia, na sua má situação financeira e também nas corruptelas instaladas.  

 


 


CAFÉ – Na proximidade da abertura da Starbucks em Portugal, deixo aqui dito que cada vez gosto mais do velho comércio tradicional que funciona bem. Gosto da qualidade, delicadeza e preço do meu velho café de esquina, do atendimento sabedor do livreiro aqui da rua – em contraste com cadeias mais baseadas no marketing que na qualidade e com muito pouca atenção aos interesses dos consumidores.  

 


 


DESAPARECIDO - Por estes dias dou comigo a apensar onde andará o célebre Tratado de Lisboa, essa peça de força da diplomacia socrática – esse enorme triunfo propagandístico que ocupou páginas e páginas de jornal há um ano atrás. O tratado não está em vigor, deixou de se ouvir falar dele, apesar de ter sido dado como facto consumado. O que é facto é que, de peça fundamental e necessária sem a qual nada se faria, se passou para o extremo oposto de ser uma recordação de um falhanço de que ninguém quer falar. O tratado de Lisboa parece desaparecido, onde está? 

 


 


OUVIR - Em 1972, em Berlim, uma extraordinária reunião de talentos criou aquela que por muitos é ainda considerada como a melhor gravação de sempre da ópera «La Bohème». Herbert Von Karajan dirigiu a Orquestra Filarmónica de Berlim e um naipe de vozes extraordinárias: Mirella Freni, Luciano Pavarotti, Elizabeth Harwood, Rolando Panerai, Gianni Maffeo e Nicolai Ghiaurov, entre outros. «La Bohème», uma das mais populares óperas de sempre, foi escrita por Giacomo Puccini em 1896, no início da fase mais brilhante da sua carreira. De entre as gravações feitas ao longo dos anos, os críticos são unânimes em destacar duas – uma dirigida por Sir Thomas Beecham em 1956 e outra, este registo berlinense dirigido por Karajan e editado pela Decca . Por ocasião das celebrações do centésimo aniversário do nascimento de Karajan, a Decca promoveu uma reedição, magnífica, agora à venda, que inclui a transcrição integral do libretto e uma série de textos sobre a gravação e sobre todos os seus intervenientes, para além de um disco extra com o registo de uma divertida conversa de Mirella Freni com Catherine Bott.


A gravação original foi remasterizada digitalmente a 24 bits. Edição Decca, distribuição Universal Music. 

 


 


LER - A edição deste mês da revista «Vanity Fair» celebra o 25º aniversário desta segunda fase da revista, iniciada em 1983. A «Vanity Fair» tinha tido uma vida anterior, com início em 1913, e que acompanhou o nascer o jazz e do cinema. A segunda fase, dos anos 80, acompanhou as carreiras de nomes como Madonna e Demi Moore – algumas das caras mais presentes nas 309 capas desta fase da revista e que são todas reproduzidas neste número de Outubro – cuja capa é dedicada a Marilyn Monroe e a uma nova investigação aos últimos tempos da sua vida, com novos documentos e fotografias. Outros pontos de interesse nesta edição são o habitual «Questionário de Proust», desta vez respondido por Michael Bloomberg. Uma conversa com a fotógrafa Annie Leibowitz sobre o seu método de trabalho e uma bela entrevista a Rupert Murdoch são ainda outros pontos altos. No entretanto deliciem-se com o site da edição inglesa, www.vanityfair.co.uk  ou da edição americana www.vanityfair.com 

 


 


VER – Uma das mais marcantes exposições que me foi dado ver abriu esta semana em Lisboa na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa (Edifício de Espanha, Rua Soeiro Pereira Gomes Lote 1, 6º, no Bairro de Santos). A exposição chama-se «Aquilo sou eu» e agrupa obras da vasta colecção de Safira e Luis Serpa, centrada em auto-retratos de artistas contemporânos portugueses e estrangeiros. As peças expostas resultam de um desafio feito em tempos para que os artistas se retratassem a eles próprios independentemente do suporte e da forma como o fizessem. O resultado é impressionante de diversidade, cativante pela relação de cumplicidade e proximidade que o casal de coleccionadores manteve com os artistas. A exposição estava programada e a ser preparada há meses, mas o facto de ter surgido após a morte de Safira Serpa dá-lhe uma carga emocional e simbólica invulgares – uma homenagem a uma forma muito especial e delicada de estar na vida. A exposição pode ser vista às 4ªas, 5ªas e 6ªas entre as 14 e as 20 horas e aos sábados entre as 14 e as 19 horas. 

 


 


BACK TO BASICS – Hollywood é o local onde nos pagam mil dólares para terem um beijo e cinquenta cêntimos para ficarem com a alma – Marylin Monroe. 

 

 

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publicado às 17:04

UMA ENTIDADE OBEDIENTE

por falcao, em 09.10.08

(publicado no diário «Meia Hora»)


Neste ultimo fim-de-semana soube-se que a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) colocou entraves ao acesso à documentação sobre a investigação às tentativas de pressão do Primeiro-Ministro a vários orgãos de comunicação, no caso da conclusão da licenciatura de José Sócrates.


Sabe-se agora – segundo o «Expresso» noticiou - que o relatório que sobre este assunto a ERC elaborou minimiza todos os depoimentos e dados que indicavam a existência de pressões do Gabinete do Primeiro Ministro, e do próprio José Sócrates, para tentar impedir o surgimento de notícias sobre a licenciatura que obteve na Universidade Independente.


A ERC entendeu há cerca de um ano que devia arquivar o caso, apenas com um voto contra, dando assim provimento à tese Governamental que não teriam existido pressões. Sabe-se agora que os membros da ERC trocaram entre si «insultos, ameaças e intimidações» a propósito do relatório, e, em especial, da possibilidade de chamar o Primeiro-Ministro a depor. Sabe-se que essa extraordinária figura da política à portuguesa, chamada Estrela Serrano, e que integra a ERC, achou por bem dizer a jornalistas que noutros países é pior e recomendar aos seus pares que o Primeiro Ministro deve ser respeitado. Ora eu acho que, na realidade, a ideia subjacente é que o Primeiro Ministro não deveria ser incomodado com estas questões de estar a fomentar o condicionamento da informação. Isto é de uma enorme gravidade: quando se fala de respeito a altas individualidades num caso em que a liberdade de imprensa é posta em causa por elas próprias, estamos perante a mais indigna das posições – quem pensa assim não pode estar num órgão regulador.


Com este relatório e tudo o que sobre ele agora se conhece, esta ERC perdeu os últimos laivos de credibilidade que tinha. A composição desta entidade foi cozinhada nos corredores da Assembleia pelo fatídico Bloco Central em depois de tudo o que agora se sabe, os membros do Conselho da ERC deviam ter a dignidade de se demitirem.


Cada regime tem os órgãos que merece e a Entidade Reguladora da Comunicação é bem o exemplo do que vai mal na actividade política, do primado da ocultação dos podres sobre a divulgação da verdade, de nomeações de conveniência e não de competência, de transferência da guerrilha partidária para órgãos que deviam ser reguladores. Sócrates gosta de ser obedecido. A ERC tem-lhe obedecido. 

 

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