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ROTUNDAS – Durante as viagens de férias constatei a súbita proliferação de rotundas em vias de conclusão ou de obra recente. A rotundomania domina o país, o grande problema é que muitas das rotundas não têm indicações de direcção claras e quem não conhece os locais anda autenticamente às voltas, perdendo-se com frequência. Assim as rotundas servem para confundir e baralhar e não simplificam – a não ser para os partidos políticos: é que as rotundas parecem mesmo ser o local ideal para afixar os cartazes de propaganda eleitoral. Nos tempos que correm esta é a sua mais imediata utilidade.
PORTUGAL – O despudor com que o Governo se desdobra em acções de propaganda não tem precedentes próximos em Portugal – todos os dias se vêem exemplos de anúncios de iniciativas ainda não concluídas, sugestões de obras futuras, tudo com um despudor inacreditável. A demagogia moderna é isto: mostrar o que ainda não existe como se estivesse feito, dizer que se vai fazer o que já se sabe ser impossível concretizar. Nesta matéria José Sócrates é de facto campeão.
LISBOA – Regresso de férias – recomeçam os problemas no trânsito, continuam as obras de Metro do Saldanha, atrasadas quase dois anos, as avenidas novas permanecem bem sujas (parece não verem água há meses), a Fontes Pereira de Melo ainda continua com faixas reduzidas, o Campo Grande lá está triste e degradado. Ao contrário do que diz a propaganda, a casa não está arrumada, está mesmo muito desarrumada.
DESCOBRIR – A programação Allgarve incluía este ano uma área dedicada à arte contemporânea, intitulada Art Algarve, que se espalhava por vários locais. O meu destaque vai para as exposições existentes em Loulé e, destas, sobretudo para as fotografias de Patrícia Almeida (uma das nomeadas para a próxima edição do BES Photo). Mas verdadeiramente o que achei mais interessante foi o facto de a Art Algarve ter conseguido colocar as exposições em locais como o Convento de Santo António ou na maravilhosa descoberta que é a Quinta da Fonte da Pipa, ambas em Loulé. Só para conhecer estes locais e ver como eles convivem com arte contemporânea, valeu a pena a deslocação. Destaque ainda para as exposições de Faro, quer no Museu Municipal, quer na Galeria Arco. Todas as exposições aqui referidas podem ser vistas até 27 de Setembro e estão garantidas duas tardes bem passadas. Informações complementares em www.allgarve.pt. Atenção – a sinalização dos locais por vezes é deficiente, os números de telefone indicados nalguns casos estão errados ou não dão sinal e os horários, sobretudo de abertura, são inconstantes.
OUVIR – A formação é pouco usual: um quinteto liderado por um trompetista e que inclui ainda tuba, trombone, trompa e bateria. O grupo chama-se Brass Ecstasy e é liderado pelo trompetista Dave Douglas, um seguidor de Lester Bowie.. O resultado é invulgar, baseado no jazz mas a meio caminho entre a soul e a pop, e inclui versões de temas de Rufus Wainwright (“This Love Affair”), de Otis Redding (“Mr Pitiful”) ou de Hank Williams (“I’m So Lonesome I Could Cry”). As versões são extraordinárias, a começar pela de Wainwright, que inicia o disco, com uma sonoridade roubada às ruas de New Orleans. Noutra faixa, «Fats», Dave Douglas homenageia Fats Navarro num tema cheio de swing. Mas há originais, como «The View Of The Blue Mountains», que provam o talento de Dave Douglas naquele que é considerado um dos seus melhores trabalhos na já extensa discografia – este «Spirit Moves», agora editado entre nós pela Universal.
LER – A edição de Setembro da Monocle» dedica 15 páginas a uma reportagem e ensaio fotográfico sobre os Jogos da Lusofonia, que decorreram em Lisboa entre 11 e 19 de Julho passado. O trabalho da revista mostra a importância que pode ter para Lisboa um papel de acolhimento de eventos que potenciem a cultura e o entretenimento populares dos vários países lusófonos, nas suas várias componentes – das quais faz parte o desporto. Independentemente do apoio que pode ser dado a opções criativas mais experimentalistas, como as que são actualmente defendidas no caso de África por este Governo, são eventos abrangentes e populares que nos permitem ganhar notoriedade e posicionamento europeu enquanto local de excelência para uma plataforma multicultural – como este exemplo da «Monocle» bem demonstra. Destaque para as fotos que John Balson fez dos Jogos e dos atletas.
PETISCO – Nada como um bom azeite e um bom pão para iniciar uma refeição. Recentemente experimentei alguma da produção da Azal (Azeites do Alentejo) e fiquei conquistado sobretudo pelo Azal Terra e pelo Azal DOP. O primeiro foi feito através de modos de produção biológicos e o segundo é da região do norte alentejano – ambos foram já premiados e têm uma qualidade verdadeiramente invulgar. Sediada no Redondo, mas a trabalhar a partir de azeitonas recolhidas em diversas zonas do Alentejo, a Azal criou também uma Academia do Olival, que continuamente procura aconselhar o aperfeiçoamento dos olivais.
PROVAR – O local tem vasta fama e boa reputação desde 1996. Situado perto de Albufeira e de Olhos de Água, numa pequena estrada interior, o «Retiro do Isca» é o exemplo de cozinha regional bem pensada, séria, sem truques fáceis e apego à tradição. No centro da operação está uma grande grelha a carvão, manuseada com mestria. O peixe é fresco e de qualidade como se esperaria no local, mas se a opção fôr para umas lulas grelhadas a surpresa vem do cuidado posto na sua apresentação e tempero, feito depois de saída da grelha. Na realidade estas foram, em frescura, textura e sabor, as melhores lulas grelhadas de que tenho memória desde há anos. Do outro lado da mesa estava um sério linguado, tudo aprimorado com legumes e saladas como deve ser. A rematar uma tarte de alfarroba deliciosa, acompanhada a pedido com uma especialidade local em matéria de digestivos. Preço razoável e honesto, serviço atento e simpático. A casa tem boa fama, reservar é mesmo necessário – Retiro do Isca, Vale Carro, Tel. 289502668.
BACK TO BASICS – Tudo o que peço aos políticos é que se contentem em mudar o mundo sem começar por mudar a verdade (Jean Paulhan)
REGISTO DE INTERESSE – Sou cabeça da lista para a Assembleias Municipal de Lisboa proposta por Pedro Santana Lopes. Espero que a coligação «Lisboa Com Sentido» vença estas eleições, na Câmara, na Assembleia Municipal e nas Juntas de Freguesia. Dito isto, se o Director quiser, continuarei a falar do que aqui sempre tenho falado – a ERC não tem muito que se lamuriar – quer Baptista-Bastos, quer Leonel Moura são rapazes para me fazerem boa oposição e alto contraditório.
CAMPANHA – António Costa é que devia ligar um pouco às recomendações pluralistas básicas da ética republicana – pegou em 1,6 milhões de euros do orçamento camarário e montou uma festa permanente no Parque Mayer, que é uma bela oportunidade de auto-propaganda. Por um daqueles acasos do destino o programa da propaganda festeira vai exactamente até 11 de Outubro, o dia das autárquicas. Mais conveniente era difícil.
DARTH VADER – A invasão da política portuguesa pela saga da Guerra das Estrelas e pela figura de Darth Vader é o caso do Verão – uma acção bem humorada, com base numa das mais activas e antigas equipa de bloggers – do 31 da Armada - conseguiu fazer com que o vereador Manuel Salgado se metesse numa embrulhada sobre a segurança, ridicularizou o aparelho da Câmara, que se apressou a chamar a polícia para prender os inssurectos quando estes foram devolver, limpa e arranjada, a bandeira da autarquia, que havia sido substituída no varandim dos Paços do Concelho pela bandeira monárquica azul e branca – uma outra forma de assinalar o centenário da República, mais divertida, inofensiva e barata que os atropelos cometidos no Terreiro do Paço. Para cúmulo do ridículo a máscara de Darth Vader foi apreendida pelos investigadores como importante prova do processo – a gastar energias e recursos com casos de humor, como hão-de as polícias conseguir combater os casos de crime ?
SILLY SEASON I– Este ano PS e PSD resolveram fazer blogues partidários com as próximas legislativas na mira. Os nomes são bem humorados – «Simplex» do lado do PS (www.simplex.blogs.sapo.pt) ,«Jamais» do lado do PSD (www.jamais.blogs.sapo.pt). Ambos reúnem nomes sonantes de um e outro lado, com José Pacheco Pereira no «Jamais» a comentar a actualidade política como há algum tempo não fazia no seu »Abrupto». De certa forma estas são as versões modernas, mais livres e desabridas, do «Acção Socialista» e do «Povo Livre» - infelizmente bastante previsíveis portanto – um diz mal do outro e por aí adiante. Tudo estava assim quando João Galamba, do «Simplex» insultou em vérnaculo puro e duro João Gonçalves do «Jamais» - o que parace comprovar que do lado do PS o exemplo do argumento chifrudo de Manuel Pinho na Assembleia da República ganhou novos adeptos. Cada um fica com os actos que pratica e ao PS já ninguém tira a fama de perder as estribeiras com facilidade.
SILLY SEASON II – Sócrates reduziu a actividade política a visitar, anunciar, inaugurar e intrigar. Governar deixou de existir. Até às eleições isto promete…
EXEMPLAR - O New York Times dedicou um extenso artigo na sua edição de terça-feira passada às investigações de uma equipa da Universidade do Minho, liderada por Nuno de Sousa, sobre o stress e as alterações de comportamento que ele induz. O artigo do diário norte-americano reproduzia excertos do artigo de Nuno de Sousa para a revista «Science». Se quiserem ler o New York Times vão aqui: http://bit.ly/3C3Kv5 .
PETISCAR – Quando se vai à praia o objectivo, regra geral, é descontrair e descansar. Não há portanto razão para que uma ida a um bar ou restaurante de praia seja uma canseira; não há razão, mas muita vez isso acontece mesmo. Felizmente não é o que se passa em Alfarim no restaurante Onda Azul. O Onda Azul é injustamente subalternizado pelo mais conhecido Bar do Peixe, mas cá para mim até anda melhor, sobretudo no petisco. A salada de polvo é muito melhor no Onda Azul e umas cadelinhas e uns mexilhões que experimentei estavam absolutamente irrepreensíveis. Serviço rápido., simpático, um óptimo pão de uma localidade ali perto, Caixas, bem cozido, estaladiço, miolo denso, bom para ensopar no molho dos mexilhões. Ainda por cima preços comedidos e imperial bem fresca.
OUVIR – Banda sonora oficial do verão (ainda válida até finais de Setembro) – a nova colectânea «!Salsa! » da Putumayo, uma editora especializada em World Music dançável, assumidamente pop e divertida. Aqui estão alguns clássicos interpretados por grupos como o do colombiano Diego Galé, do mexicano Poncho Sanchez, do cubano Chico Alvarez ou do americano Eddie Palmieri, entre outros. As capas da Putumayo são sempre fantásticas e coloridas, os alinhamentos são pensados para divertir quem ouve – esta é das minhas editoras preferidas, felizmente a FNAC tem geralmente uma boa selecção das suas edições.
LER – De Peter Carey havia lido há pouco um genial relato de uma viagem ao Japão, «O Japão é Um Lugar Estranho». Quando este novo livro apareceu aí fui eu comprá-lo e dou por muito empregue o dinheiro que paguei por «Roubo – Uma História de Amor». A escrita de Carey, já sabia, é arrebatadora; mas um romance é muito diferente de um relato de viagem, e aqui Carey dá largas à sua imaginação delirante, com um enredo onde as situações inesperadas se sucedem. «Roubo – Uma História de Amor» é um romance divertido, com a acção a decorrer a um ritmo empolgante, com situações francamente inesperadas que se sucedem . É irresistível e prende a atenção do princípio ao fim das suas 300 e poucas páginas.
BACK TO BASICS – A verdadeira vida de uma pessoa é, frequentemente, a que ela não comanda (Oscar Wilde).
Gosto de estar na lista «Lisboa Com Sentido». Porquê.? http://bit.ly/4bapyV
(Publicado no «i» de 15 de Agosto)
POLÍTICA – À medida que a campanha eleitoral avança começa a perceber-se que, com elevada probabilidade, não vai existir nenhuma maioria natural nas legislativas. Portanto vai ser preciso fazer alianças, compromissos, negociações. Não deixa de ser curioso, neste contexto, verificar que António Capucho, Conselheiro de Estado, disse há dias, preto no branco, que «o bloco central não tem nada de pecaminoso». E não deixa de ser também curioso ver que Morais Sarmento é o número 2 da lista de Lisboa do PSD. No cenário de serem chamados ao Governo outras figuras que não os líderes partidários em exercício, é uma nomeação interessante.
LISBOA, CONTAS – A questão das contas de Lisboa tem um pano de fundo que convém reter – com as receitas fiscais da autarquia a caírem (por numerosas razões), falar de deficit é pura demagogia. Só por ser a capital do país, Lisboa tem custos estruturais – até aqueles que advêem da entrada de milhares de pessoas/dia na cidade, vindas da periferia – superiores ao de outras autarquias. É urgente uma revisão do Código Administrativo que coloque a gestão da capital numa perspectiva realista. A Câmara Municipal de Lisboa não pode ser penalizada e é-o há anos. É de soluções de futuro que interessa falar e não apenas de problemas do passado, que aliás tocam a todos. Para termos uma cidade diferente é necessário uma atitude diferente. Velhos do Restelo nunca trouxeram nada de bom.
LISBOA, TRÂNSITO – As decisões sobre o trânsito de Lisboa não podem andar ao sabor dos caprichos nem podem ter variações estratégicas súbitas, sob pena de causarem um enorme desconforto à cidade. Vejamos: há cerca de dez anos, João Soares, face à Expo e aos planos para Alcântara, resolveu, e provavelmente bem, que a ligação Expo-centro-Alcântara, era uma prioridade se existia a intenção de tornar a parte oriental de Lisboa num novo pólo de urbanização. Uma década depois não é justo que António Costa penalize quem lá comprou casa, impondo severas limitações ao acesso ao centro e à zona ocidental de Lisboa. Recordo: João Soares, com o apoio de Mega Ferreira na Expo, construíu uma avenida ribeirinha larga, com viadutos, que fez dinamizar toda a zona de Santa Aoplónia, Beato e Expo. António Costa, agora, estrangula tudo na Ribeira das Naus, tornando um martírio a circulação nesse eixo antes considerado prioritário. Ainda por cima passou o trânsito dos autocarros para um dos topos, o norte, do Terreiro do Paço, comprometendo a única esplanada fixa que existe na praça e que de repente ficou num corredor de «Bus» – o Martinho da Arcada. No meio disto o responsável do trânsito da Câmara diz que não fazia ideia do número de autocarros que, por via das alterações, ali iria começar a circular. Isto não é sério, nem decente e muito menos agradável para quem vive em Lisboa. Ao contrário do que se apregoa o estrangulamento atinge quem vive na cidade e não quem vem de fora.
COMIDAS – Alguns chefes de cozinha portugueses parece que perdem a mão quando acham que já ganharam o estatuto de estrelas. Não sei se é por atingirem o Princípio de Peter, se é por se atirarem para voos e diversificações que não controlam, a verdade é que de repente as coisas começam a não correr bem. Luís Suspiro, que tem alguns pergaminhos no activo, começou em forma no Campo Pequeno, no petisqueiro «Torricado», mas das últimas vezes que lá tenho ido senti que a coisa estava a piorar. Na semana passada experimentei outro restaurante dele, que abriu no mesmo local, e a coisa correu mal. O serviço é desatento e isso é logo aflitivo – quando é que estes chefes da moda se convencem que o bom serviço, atento, é fundamental? Depois a qualidade do que se comeu não correspondeu à expectativa – na lista estavam pastéis de massa tenra acompanhados por migas e a desilusão foi grande: as migas tinham uma consistência estranha, de papa; e os pastéis de massa tenra tinha uma dose de criatividade desnecessária no recheio – tempero a mais, paladar a menos, gosto final desagradável – nada a ver com as melhores receitas tradicionais. Em resumo: tão cedo não me apanham em nenhum dos restaurantes de Luís Suspiro no Campo Pequeno. Portucalidade, Praça de Touros do Campo Pequeno, Loja 66.
OUVIR – Regina Spektor é uma cantora russa (nascida em Moscovo em 1980), há 20 anos radicada nos Estados Unidos. Estudou música clássica, piano principalmente, e no final da adolescência começou a interessar-se pela música contemporânea, com o hip hop, o jazz e a folk no centro das preferências. Descendente de uma família judia também se interessou pela música judaica. É deste caldeirão de interesses e de formações diversas que nasceu a sua faceta de compositora, no sentido de «songwriter» – e não é exagero dizer-se que ela é actualmente das melhores autoras de canções. O seu novo disco, «Far», o quinto editado, é o mais maduro do ponto de vista musical, o mais cuidado em produção (Mike Elizondo), mas absolutamente cheio de vitalidade na força e envolvimento de canções como «The Calculation», «Blue Lips», «One More Time With Feeling» ou o divertido «Dance Anthem Of The 80’s». Este é um daqueles registos em que se percebe logo a diferença na qualidade das canções, do seu conteúdo, mas também o grande talento e criatividade, quer musical, quer vocal, de Regina Spektor. E é candidato à lista dos melhores do ano. CD «Far», Regina Spektor, Sire Records.
LER – Um dos melhores artigos sobre os bastidores da política que li nos últimos anos está na edição desta semana da revista «Time», que tem a foto de George Bush e de Dick Cheney na capa. Se não a encontrarem é fácil ver o artigo na edição on line (www.time.com). Trata-se de uma investigação, feita por dois grandes jornalistas da revista, sobre a tensão crescente nos últimos dias do final do mandato entre o Presidente Goeorge Bush e o seu vice-Presidente, George Cheney. Por detrás da progressiva ruptura entre os dois homens estava a forma como Bush encarava a revisão do precesso de Scooter Libby, que tinha sido chefe de gabinete de Cheney até ser condenado por obstruir uma investigação sobre a revelação da identidade de um agente da CIA por parte de responsáveis da Casa Branca. É um artigo revelador dos jogos de poder, dos mecanimos de influência e do funcionamento do sistema político e judicial. Exemplar.
BACK TO BASICS – O homem que olha para o seu passado não merece ter futuro a esperar, Oscar Wilde.
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