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LISBOA - Um estudo recente mostra que, entre 1991 e 2008, Lisboa perdeu 26,3% dos seus habitantes. Deste total de 18 anos, em quase 13 a Câmara Municipal foi governada pelo PS, nomeadamente de forma ininterrupta até final de 2001. Ao longo de todo este período Lisboa perdeu uma média de 10.000 habitantes por ano, não conseguiu reter os mais novos, está envelhecida, perdeu competitividade, não foi capaz de atrair as indústrias não poluentes de alta tecnologia, as empresas de software ou de promover um programa de desenvolvimento e atracção das indústrias criativas (que em Nova Iorque significam 7% do total de postos de trabalho da cidade). Vítima de uma total ausência de estratégia, vítima de uma perspectiva conservadora de planeamento e de um caldeirão de interesses que na realidade tem tido poder e capacidade de influência, Lisboa perdeu peso e influência política, perdeu autonomia face ao poder central e descaracterizou-se. Na realidade, nesta campanha, assistimos a um facto insólito: a principal linha programática de António Costa é deixar o Governo mandar em Lisboa - na zona ribeirinha, no aeroporto, nas acessibilidades, nos transportes públicos. A perder equipamentos e a ficar com sectores antiquados, quase a viver só da máquina do Estado, a queda de receitas é inevitável e a perca de competitividade. É preciso ter ambição para inverter o ciclo de decadência e fazer Lisboa reencontrar-se com o futuro.
VISITAR – Amália domina o panorama das inaugurações. Em primeiro lugar destaque para «Amália – Coração Independente», a exposição que se divide entre o Museu da Electricidade-Fundação EDP e o Museu Berardo, no CCB. Na EDP está a pouco conhecida e extraordinária colecção pessoal de jóias da artista e alguns dos fatos que usou em palco. E no CCB está uma enorme exposição, que cruza a história e documentação da carreira de Amália com criações contemporâneas que reinterpretam a sua obra, como acontece com Joana Vasconcelos ou, no vídeo, com o trabalho apresentado por Bruno de Almeida, por exemplo. Na parte histórica e documental, para além dos numerosos cartazes, capas de discos e revistas, destaque para as fotografias, em especial de Mestre Augusto Cabrita e do fotógrafo Silva Nogueira, que entre 1942 e 1954 mais e melhor a retratou. Destaque ainda para o excelente catálogo desta exposição, uma verdadeira peça imprescindível para quem se interessa por Fado e, naturalmente, por Amália Rodrigues. Estas duas exposições estarão patentes até 31 de Janeiro. Uma nota final para uma outra exposição, das iconográficas imagens de Amália, elaboradas por Leonel Moura (sim o senhor aqui ao lado, nesta página) a partir de fotografias da fadista e patentes na galeria António Prates em Lisboa (até 7 de Novembro). Finalmente gostaria de chamar a atenção para uma outra exposição, no Teatro de S. Luiz, «As Mãos Que Trago», dedicada ao compositor Alain Oulman, um nome decisivo da fase mais marcante e criativa da carreira de Amália (até 31 de Dezembro).
OUVIR – Paulo Furtado é um dos mais criativos e interessantes músicos portugueses contemporâneos. Depois de ter sido um dos fundadores dos Tédioboys, a sua actividade divide-se hoje entre ser o vocalista e principal compositor dos Wraygunn – uma das poucas bandas rock portuguesas a ter algum sucesso internacional e carreira regular além fronteiras nos últimos anos. Sob a designação Legendary Tigerman, Paulo Furtado dá largas à sua atracção pelos blues e tem também uma curiosa carreira independente nos Estados Unidos. Compositor criativo, com um raro sentido rítmico, é um instrumentista polifacetado, tocando guitarra, bateria e muitas vezes harmónica. O seu novo álbum, o quinto da carreira, tem a particulariedade de incluir nove cantoras convidadas que dividem com Paulo Furtado a interpretação das quinze canções do CD «Femina». Sem cair em exageros este é dos discos que mais gôzo me deu ouvir neste ano e é provavelmente um dos melhores discos portugueses da década. Destaco temas como «Life Ain’t Enough For You» com Ásia Arento, «She’s a Hellcat», com Peaches; «No Way To Leave On A Sunday Night» com Becky Lee, «Light Me Up Twice» com Cláudia Efe e, acima de todos os outros, «Lonesome Town», um clássico de Baker Knight, numa interpretação mágica de Rita Red Shoes. A edição inclui ainda um DVD – já que Paulo Furtado é tembém relizador e mostra curtas metragens feitas propositadamente para esta edição. CD e DVD «Femina», Legendary Tigerman, Edição EMI.
LER – A nova edição da revista «Monocle» (nº27, de Outubro) tem um interessante artigo sobre os serviços militares em diversos países europeus, mas o prato forte é mesmo um especial Tóquio que faz ter vontade de descobrir aquela cidade. Outros pontos de interesse: um guia para o norte de Espanha, à descoberta da cidade australiana de Darwin e, sobretudo, um curioso artigo sobre a vitalidade da produção de documentários na Noruega (uma coisa exemplar que a RTP tinha obrigação de estudar e seguir…). Em www.monocle.com uma novidade: uma coluna diária sobre os mais variados temas, quase sempre interessante.
PETISCAR – Em pleno Saldanha, no centro de Lisboa, com uma magnífica vista sobre a praça, existe um bar-restaurante que merece alguma atenção. Ao almoço está cheio de gente dos escritórios vizinhos (ali estão algumas grandes empresas de consultoria), o bar ao fim da tarde é animado e o restaurante à noite é sossegado mas não mortiço. Da ementa consta um leque apreciável de saladas, diversas massas, alguns pratos vegetarianos, umas inesperadas gambas à Brás, várias possibilidades de Bacalhau, peixes grelhados triviais, uma boa lista de bifes (boa carne, bem cozinhada) além de várias propostas de porco preto. O serviço é atencioso, as mesas são muito confortáveis, os preços razoáveis. Uma boa alternativa nesta zona da cidade. Entrada pela Av. Casal Ribeiro 63, Tel. 213528242
FUTURO – A próxima semana promete ser muito agitada: que maioria vai sair das eleições? Como é que o método de Hondt pode influenciar o resultado em número de deputados – quer nos pequenos partidos, quer em alguns círculos eleitorais? Qual a atitude que o Presidente da República tomará na interpretação dos resultados, depois da forma como agiu antes das eleições?
RECORDAR – As eleições servem para fazer o julgamento de quem está no Governo. Por isso vale a pena recordar que nos últimos quatro anos se assistiu a um aumento da carga fiscal; vale a pena recordar como as reformas dos trabalhadores por conta de outrem ficaram penalizadas; vale a pena recordar o clima de tensão na educação; vale a pena recordar as reformas não executadas na saúde; vale a pena recordar os abusos de entidades tão diversas como a ASAE e a ERC; vale a pena recordar o falhanço das entidades reguladoras em sectores como a energia e a banca; vale a pena recordar que a política cultural foi inexistente; e vale a pena recordar que no ano passado Portugal foi o país que mais fundos comunitários perdeu por atrasos na sua utilização, a maioria dos quais na agricultura, um sector arruinado nestes quatro anos.
ESCUTAS – Uma coisa é certa: na opinião pública ficou a ideia de que a Presidência da República armou uma tempestade, impossível de criar sem o conhecimento do próprio Presidente da República. Por isso, o seu silêncio, por vezes ruidoso, não ajuda nada a perceber o que se passa. Como se sabe, Cavaco Silva gosta de criar tabus e nem sempre se sai bem deles. Sobre a essência dos factos nada desmentiu até hoje e, antes pelo contrário, nas curtas palavras que sobre o assunto proferiu, deu a entender que tencionaria investigar o sucedido. A forma como tudo se passou vai ter custos políticos, graves. E este será certamente um dos casos de que se vai voltar a falar quando houver nova eleição presidencial, daqui a dois anos. Claro que por esclarecer fica outra coisa: como é que alguém teve acesso a correspondência interna de um jornal e a passou primeiro a um semanário e, depois, a outro diário? Se isto não é uma história de espionagem, o que é?
FOTO – O momento fotográfico da semana foi a imagem que vários jornais utilizaram para ilustrar uma visita de José Sócrates aos emigrantes portugueses em Paris: Manuel Maria Carrilho e Ferro Rodrigues a acompanharem Sócrates ao TGV. O ridículo por vezes é fatal.
TRÂNSITO – Há 15 dias voltei a andar de scooter pelas ruas de Lisboa, coisa que já não fazia há uns anos. No caos dos engarrafamentos constantes é a única solução para circular de um lado para o outro na cidade sem perder muito tempo. Mas constato que a mesma Câmara de António Costa e Ricardo Sá Fernandes, que faz à pressa ciclovias de estranho traçado como a de Telheiras, não tem cuidado com a segurança de quem se desloca em duas rodas: não usa tinta anti-derrapante nas marcações; nada faz para remover os carris de eléctricos que já não estão em utilização; nada faz para nivelar as tampas de esgotos – muitas autênticas armadilhas; permite que o pavimento de grande parte das ruas seja uma montanha russa de remendos e não obriga os autores dos constantes buracos que se abrem a deixar o piso em boas condições. Para garantir a segurança de quem usa veículos de duas rodas – com ou sem motor – é que não se vê nada feito em Lisboa. O resto é obra eleiçoeira.
VISITAR – A Casa das Histórias Paula Rego, inaugurada a semana passada em Cascais, é um exemplo de bom equipamento cultural, construído de raiz. A arquitectura, no exterior, é uma boa surpresa e, no interior, é de uma eficácia enorme para o objectivo de mostrar artes plásticas – no caso quadros e desenhos. Depois, há muito mais pintura do que aquela que inicialmente se sabia ir existir. Paula Rego entusiasmou-se com o projecto e para além de esboços, estudos e desenhos, trouxe peças importantes da sua obra. Adicionalmente, a área de exposições temporárias da Casa, tem um conjunto de obras da artista cedidas pela Galeria Marlborough, verdadeiramente a não perder. Por último a loja da Casa das Histórias é do melhor que nesta matéria se tem feito em Portugal, graças a uma série de peças de merchandising, desde pens para computador até figuras de louça da Fábrica Bordallo, tudo inspirado na obra de Paula Rego.
FOLHEAR – Muito boa a edição comemorativa do 4º aniversário da revista «N*Style». Sob o tema das tendências de moda para este Outono, a revista é um exemplo de boa fotografia, bom alinhamento editorial e boa paginação. Destaque ainda para as entrevistas com Eduarda Abondanza sobre a Moda Lisboa e com José António Tenente.
PETISCAR – Confesso que iscas à portuguesa é um dos meus petiscos preferidos. Esta semana revisitei a Cave Real e provei umas magníficas iscas, temperadas no ponto certo, cortadas bem finas, como deve ser. A Cave Real é um restaurante onde a cozinha tradicional portuguesa domina, baseada em ingredientes de qualidade e numa confecção sólida e conservadora. Aqui não há grandes rasgos de imaginação, mas o serviço é acolhedor e eficaz, o ambiente é simpático (apesar da presença ocasional do Ministro das Finanças…) e as mesas são confortáveis. Cave Real, Av. 5 de Outubro 13-15 (junto à Maternidade Alfredo da Costa), tel. 213 544 065.
OUVIR – Pete Yorn é um compositor e guitarrista Americano, autor de grandes canções, cuja carreira começou em 2001. Em 2006 pegou em nove canções da sua autoria e fechou-se em estúdio com a actriz Scarlett Johansson, que vai fazendo incursões na música (por exemplo gravou uma série de versões suas de canções de Tom Waits e de Jeff Buckley) . O resultado desta parceria entre Pete Yorn e Scarlett Johansson é o álbum «Break Up», agora editado. São nove canções pop, deliciosas, num disco despretencioso e envolvente, que vai fazendo a narrativa de alguns episódios de uma relação imaginada.. Destaques para «Relator», «Search Your Heart», «Shampoo» e «Someday». Ao princípio o contraste entre a voz de Yorn e a de Johansson parece estranho, mas depois esse contraste torna-se num dos motivos de atracção deste disco.
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