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Este não tem sido um ano fácil – daqui a alguns anos se poderá ver como 2009 foi um ano horribilis, para os portugueses, para a economia portuguesa, para a política portuguesa, para a justiça portuguesa. A degradação do país é acentuada, precipitada por actores políticos inconsequentes, por um sistema partidário desfasado da realidade, por um sistema parlamentar em descrédito, por uma justiça absolutamente vergonhosa. A grave e preocupante situação económica a que chegámos – muito mais preocupante que a tradicional bonomia lusitana consegue encarar – coloca-nos à beira do abismo e compromete o futuro. Sucessivas políticas improvisadas destruíram a produção nacional, que reconvertem por temporadas em obras públicas gigantescas de importância, prioridade e necessidade mais que discutíveis.
Talvez alguns leitores se indignem por eu nomear, na lista de prémios e prendas abaixo publicada, tantos nomes do PS. Faço-o não por embirração especial mas porque é o PS que tem estado maioritariamente à frente do Governo desde 1995, com um breve intervalo de três anos do PSD – que, verdade seja dita, também não correu bem. No entanto, nos 15 anos mais recentes, em 12 os Governos do PS desperdiçaram todas as oportunidades, aumentaram a despesa pública, e na maior parte do tempo governaram com maioria absoluta ou com apoio parlamentar maioritário. E nem quero apontar os escândalos, os casos, as corrupções, as perseguições, os compadrios que, nos últimos anos, com Sócrates no poder se tornaram o pão nosso de cada dia.
Portugal piorou nestes últimos quinze anos. Os políticos no activo estão a destruir o capital de confiança na democracia. Os principais partidos políticos ou estão no poder e dividem lugares ou estão na oposição e entram em auto-destruição. Sinceramente gostava de não ter que dar prendas assim – mas a realidade que vejo á minha frente é mesmo esta.
Marcelo Rebelo de Sousa – Prémio «Agora Ainda Não», ao conseguir mais uma vez fintar tudo e todos nas questões do PSD – tivesse a selecção portuguesa de futebol jogadores com esta capacidade de finta e o Mundial da África do Sul poderia ser um passeio tranquilo.
Teixeira dos Santos – Prémio «Não me Agarras» por se ter tornado no Ministro das Finanças mais rápido a fazer aumentar o défice do Estado – actualmente ao ritmo de 39 milhões de euros por dia; o prémio também recompensa a bonito aumento da despesa pública conseguido entre Novembro do ano passado e Novembro deste ano – um recorde de 4,6%. Recebe também um exemplar de «Economics», de Paul Samuelson, para ver se ainda consegue aprender alguma coisa.
Manuel Alegre – Prémio «O Eterno Candidato», pela sua dedicação aos jantares de apoiantes, à carne assada e aos grandes discursos tão redondos, tão redondos, que ninguém consegue perceber o que lhe vai na cabeça.
José Sócrates - Prémio «Aumentador do Ano», por ter conseguido mais défice, mais desemprego, maior endividamento externo e maior instabilidade política. Ainda não foi desta que ganhou uma medalha na maratona da política.
António Costa - Prémio «Viva o Prozac», pela bonomia com que assiste ao degradar de Lisboa, aos desmandos de José Sá Fernandes e às tropelias de Helena Roseta, enquanto espera placidamente sentado a queda de Sócrates.
Noronha do Nascimento – Prémio «O grande Censor» por no seu discurso de posse, depois de reeleito para o Supremo Tribunal de Justiça ter defendido a criação de um órgão especial para julgar jornalistas «composto paritariamente por representantes das próprias classes profissionais e da estrutura política do Estado».
Pinto Monteiro – Um frasco de «speed» e uma lata de Red Bull para ver se a Procuradoria Geral da República consegue funcionar a um ritmo decente .
Sérgio Sousa Pinto – Prémio «Laxante Cerebral», pela diarreia mental que tem espalhado à sua volta desde que regressou de Bruxelas – um típico caso dos efeitos da burocracia comunitária em políticos imberbes. Esteve quase para dividir o prémio com Ricardo Rodrigues, o rotweiller político do PS.
PSD – Um vale de 20 sessões com o Professor Karamba a ver se afasta o bruxedo e consegue sobreviver.
Augusto Santos Silva – um manual do World Of Warcraft, a ver se faz menos asneira como Ministro da Defesa do que no cargo anterior.
Aguiar Branco – Um frasco de vitaminas a ver se consegue ser mais enérgico e mostrar alguma convicção.
Isabel dos Santos – Prémio «Portugal É Nosso» e «Compre Português», pela continuada e activa actividade de compras que tem desenvolvido em Portugal – garantindo recordes de investimento estrangeiro à margem de qualquer organismo oficial especializado no assunto.
BACK TO BASICS – Se não fosse o jornalismo, Portugal era um sítio isento de corrupção, de crimes violentos e de abusos sexuais» - Fernando Sobral.
PORTUGAL – É certo que governar em maioria absoluta é mais fácil, mas também é certo que governar em maioria simples é a situação mais normal por esse mundo fora. Sócrates, que dentro e fora do seu partido gosta de mandar com maioria absoluta, não gosta de compromissos e o seu apregoado talento de negociador só tem expressão prática fora de portas. Melhor seria que utilizasse dentro de fronteiras a paciência e o espírito conciliador que o levou a conseguir o acordo sobre o Tratado de Lisboa. O absolutismo de que Sócrates gosta é um sinal de menoridade política, é um sinal de desprezo pelas opiniões alheias. O exercício do Governo em maioria relativa pressupõe acordos transparentes, um parlamento vivo e actuante - é o que melhor podia acontecer não só ao país, mas também aos partidos, eles próprios habituados a funcionar em regime interno de absolutismo. O triste balanço dos anos de maioria absoluta de Sócrates resume-se a isto: temos mais corrupção, mais desemprego, maior défice, maior endividamento, menos confiança e menos esperança.
MASTRO – O disparate da semana é o mastro de cem metros de altura que a Câmara Municipal de Paredes quer construir, com um custo estimado de um milhão de euros, para pôr a ondular uma bandeira nacional, numa iniciativa comemorativa do centenário desta muito pouco útil República.
LISBOA I – O espaço público degrada-se, as ruas continuam sujas, os estaleiros de obras particulares permanecem a empatar ruas mesmo depois de obras terminadas, os estaleiros do Metro na zona do Saldanha continuam a ser um pesadelo quase seis meses depois de abertas as novas estações, ainda não foi desta que a Duque de Ávila voltou a ter trânsito.
LISBOA II – O que está em causa no jardim do Princípe Real não é uma operação fito-sanitária para tratar de plantas e árvores; o que está a ser feito e não foi discutido nem mostrado à população, é um novo arranjo de todo o antigo Jardim do Princípe Real – que vai ficar irreconhecível.
LISBOA III – Um tribunal arbitral condenou a Câmara Municipal de Lisboa a pagar uma indemnização de 18,5 milhões de euros ao empreiteiro da obra do túnel do marquês, devido à interrupção dos trabalhos causada pela providência cautelar interposta por José Sá Fernandes, antes de ocupar o seu actual ligar na vereação camarária.
RESUMO – As áreas delegadas em Sá Fernandes, espaço público, ambiente urbano e espaços verdes estão cada vez piores – a sua acção como vereador é criticada de forma quase unânime e arrisco dizer que é consensual a sua incapacidade para manter a cidade confortável e agradável. Pior, a sua acção de propaganda política, que contribuíu para o seu actual estatuto (a guerra desencadeada contra o projecto do Túnel do Marquês) saldou-se num enorme prejuízo directo para a autarquia, pago por todos os munícipes por via dos impostos – e isto apesar de hoje em dia todos, excepto o próprio, reconhecerem que o túnel melhorou o ambiente urbano na zona e contribuíu para a qualidade de vida de quem reside naquelas ruas. Face a uma situação destas, em que a incompetência se alia à irresponsabilidade, seria da mais elementar decência que José Sá Fernandes renunciasse ao cargo, que manifestamente não é capaz de desempenhar em condições, e sobretudo porque agora se confirma que ele foi o causador directo de prejuízos avultados. Mas, já que ele não tem a decência de reconhecer os seus erros, seria natural que António Costa, face à sua acção como vereador, e aos efeitos nefastos da sua actividade anterior nas finanças da Câmara, lhe retirasse a confiança política. Nada disto se passa – e é tempo para quem votou em António Costa pense no resultado prático dos seus votos.
OUVIR – Fora de Espanha Luz Casal tornou-se conhecida pela sua interpretação do clássico sul-americano «Piensa En Mi», incluída na banda sonora do filme «Tacones Lejanos», de filmes de Pedro. Este ano Luz Casal voltou a pegar na tradição da melhor música latino-americana, interpretendo 12 clássicos, de «Alma Mia» até«Que Quieres Tu de Mi», passando por « Mar Y Cielo», «Cenizas» ou «no, No y No», entre outras. Os arranjos, de uma elegância notável, são do brasileiro Eumir Deodato, que tem uma longa carreira musical feita nos Estados Unidos desde os anos 70. CD «La Pasión», EMI.
LER I – Muito bem o livro “Xutos & Pontapés - As melhores canções para crescer”, que reúne as letras de 16 temas do grupo, com óptimas ilustrações de Miguel Gabriel para temas como "Contentores”, “N´América”, “Vida Malvada”, “Desemprego”, “Prisão em si”, “Remar, Remar”, “Chuva Dissolvente” e “Homem do leme”, entre outros.
LER II - «As melhores fotografias de Lisboa Desaparecida», uma selecção de imagens raras, organizada por Marina Tavares dias, na sequência da sua série de álbuns sobre a história de Lisboa. A selecção de imagens é muito boa e sugiro um exercício: pegue no livro e leve o seu filho a um dos locais emblemáticos da cidade ali mostrados, ponha-se no mesmo ângulo da imagem e veja as diferenças com o que, no mesmo local, se pode ver hoje.
PETISCAR - Nestes dias pré-natalícios é bom um restaurante de comida portuguesa, ambiente acolhedor, boa garrafeira, preços sensatos. Esta semana regressei a uma casa onde as coisas tem tendência a correr bem. Para aguçar o apetite direi que umas empadinhas de galinha e um queijo de serpa, acompanhado por finas fatias de pão alentejano, serviram para preparar o paladar. O vinho, que entretanto chegou, é o belíssimo Valado tinto 2007, que fez muito boa figura a acompanhar a escolha de perdiz com couve lombarda, que estava superior. A rematar, requeijão com doce de abóbora. Resta dizer que José Duarte, o homem ao leme deste «Salsa & Coentros», continua em boa forma. Para lá ir deve fazer uma reserva pelo telefone 21 8410990. O restaurante fica em Alvalade, na rua Coronel Marques Leitão, que começa frente ao quartel de Bombeiros da Avenida Rio de Janeiro.
BACK TO BASICS - «Dado o character do jornalismo actual, a profissão de espião deixou de fazer sentido» - Oscar Wilde
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