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ONG – Admiro as pessoas que se entregam a causas e que têm a capacidade de fazer, em Organizações Não Governamentais, aquilo que os Governos se mostram incapazes, insensíveis ou desinteressados em fazer. Mostram uma capacidade de mobilização , uma capacidade de atingir objectivos e de alcançar resultados que fazem inveja a muitos gestores. É uma forma de intervenção cívica que vive do princípio de juntar vontades, juntar esforços e evitar a tradicional armadilha da política e políticos tradicionais – dividir para reinar. Espanto-me por isso que Fernando Nobre surja agora no papel de político, forçosamente a provocar divisões entre quem o tem apoiado na AMI, e a meter-se numa luta de facções no mínimo exótica. Resta esperar que no fim desta aventura não seja a AMI a prejudicada – o que é um risco considerável. Ganhar notoriedade no bem comum para depois a gastar no poder pessoal é no mínimo uma coisa desagradável.
EXEMPLO – Onde é que a arrogância do Governo e a inoperância da Câmara Municipal de Lisboa se cruzam? - Na devastação criada frente à Torre de Belém, que viu a sua área envolvente destruída pelas festividades da assinatura do Tratado de Lisboa. Uma operação de imagem de Sócrates devastou um dos emblemas da cidade e do país e a Câmara lá tem ficado parada a ver o lamaçal adensar-se, nada fazendo em quase três meses para resolver a situação. É mais ou menos desde essa altura que anda a destruir o Jardim do Princípe Real. ESTUDO – Na semana passada o semanário «Expresso» publicou um bom estudo elaborado pela empresa de consultoria de Augusto Mateus sobre o peso económico das indústrias culturais e criativas na economia portuguesa. Muito resumidamente conclui-se que este sector já vale mais que os têxteis e quase tanto como o sector automóvel. O bom senso mandaria que os amáveis políticos, que nos governam ou querem governar, se dedicassem a estudar o tema e a apresentar políticas. Mas quase nada surge, muitas vezes o que aparece é meramente rotineiro e bastante ultrapassado, pouco passando de vagas declarações de princípio. Há pouco estudo de bons exemplos internacionais, há pouco conhecimento de tendências, há ignorância na aplicação de vantagens fiscais, continua a preferir-se subsidiar a incentivar. E, na realidade, as indústrias culturais e criativas fortes, para além das vantagens económicas, são um factor de atractividade, de competitividade e de imagem – e menos sujeitas a deslocalizações que as quimondas desta vida. FICA – O Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual foi uma das grandes bandeiras do primeiro Governo de Sócrates na área da Cultura. A ideia em si era boa – mas precisava de dinheiro. Ora nos últimos tempos o FICA tem-se deparado com falta de fundos – o Estado não pagou durante muito tempo (quase dois anos), depois utilizou verbas do CREN para pagar o que devia – solução que levanta dúvidas – e na sequência dos atrasos do Estado claro que as televisões também não entregaram a fatia que lhes competia. Em resumo, o FICA está numa crise de financiamento e de gestão, algumas produtoras já estão a sofrer com o assunto e nalguns casos já se verificam despedimentos. Sobre este assunto – precisamente na área das indústrias criativas e da inovação, que tem o Governo a dizer? LER – A revista norte-americana «Wired» foi considerada a «revista da década» pela «Adweek», uma publicação especializada na análise de media. A edição de Fevereiro inclui um artigo muito interessante, que podem também ser consultados na edição on line. O artigo mais interessante diz respeito ao novo conceito de revolução industrial no século XXI – uma revolução que muda os paradigmas das grandes instalações industriais para a criatividade individual, desenvolvida em poucos espaços e muitas vezes apenas com recursos próprios. Dá que pensar e vale a pena ler.- «The New Industrial Revolution», por Chris Anderson. VER – A programação do Museu Berardo, em Lisboa, no CCB, continua verdadeiramente exemplar. Desde o início do mês já inauguraram três exposições dignas de nota e, para a semana, na segunda-feira, arranca uma retrospectiva da obra de Joana Vasconcelos – mas isso ficará para outra ocasião. Das exposições que já estão a funcionar destaco «Body Without Limits» de Judith Barry, surpreendente de criatividade e originalidade na forma de utilizar o vídeo e com uma montagem excepcional – um projecto que teve curadoria de Luis Serpa. Quase tão entusiasmante como a exposição de Judith Barry é a retrospectiva de Robert Longo, um artista norte-americano muito influenciado pela pop (fez vários videoclips para os New Order e REM por exemplo), e que mais tarde se dedicou à escultura e ao desenho. Finalmente, num registo diferente, as fotografias de viagem de Annemarie Schwarzenbach mostram um olhar de época sobre destinos exóticos para uma suíça – entre os quais Portugal. Mas o que interessa reter é a dinâmica da programação, a agitação do local com públicos de várias idades, a variedade de propostas e o empenho em divulgar artistas e as suas obras. OUVIR – Depois de um interregno de oito anos Peter Gabriel regressa com um surpreendente disco, onde reinventa o conceito de versões – reconstrói os originais e com a ajuda de John Metcalfe cria novos arranjos, recorre a instrumentações pouco usuais, alterações de ritmos e harmonias e, finalmente, arrisca interpretações vocais que propositadamente se afastam do que podia ser esperado. Aqui estão canções, de David Bowie, Arcade Five, Magnetic Fields, Regina Spektor, Neil Young mas também de Paul Simon, Talking Heads e Lou Reed, entre outros, numa curiosa recolha de preferências do próprio Gabriel – que nas interessantes notas de capa do disco confessa que o processo de escrita de uma canção foi o que o atraiu para a música. Sublinha que escolheu algumas das suas canções favoritas e focou-se no lado da interpretação e não na criação original. O resultado é um exemplo de criatividade aplicada à reinvenção, muitas vezes mais complexa do que o processo criativo original. «Scratch My Back» é o título do projecto, a que se seguirá um outro disco, com os autores das canções aqui utilizadas a recriarem canções de Gabriel que eles escolherão – e o novo trabalho continua o título deste - «And I’ll Scratch Yours». (CD Real World). BACK TO BASICS – Quanto maior o poder, maiores as responsabilidades e maiores as consequências - juiz americano, ao condenar a prisão um alto funcionário por mentir em inquéritos oficiais.
UMA LINHA POLÍTICA – O caso das tentativas de ingerência do Governo, do PS e, em especial, de José Sócrates na comunicação não são um caso de violação de segredo de justiça – desde que Sócrates, em pleno Congresso do PS, apontou a dedo os alvos a abater em matéria de informação criou uma linha política. A actuação do PS e do seu Governo nesta matéria tem-se limitado a seguir essa linha com o objectivo de, sempre que possível, combater a divergência, castigar quem critica, querer assegurar a manipulação e uniformizar a informação. Os relatos sobre estas malfeitorias são numerosos e oriundos de várias procedências.
O PS E A IMPRENSA – O Partido Socialista gosta de ostentar galardões em prol da liberdade de imprensa e Mário Soares veio em defesa de Sócrates agitar os seus pergaminhos. Como a luta pela liberdade de expressão e de imprensa não era um monopólio do PS antes de 1974, proponho que se analisem as coisas ocorridas depois do 25 de Abril. Ao ataque de que a «República», próxima do PS, foi alvo em 1975, por forças à sua esquerda, respondeu o PS, anos depois, com o encerramento de todo o grupo «Século», pela mão de Manuel Alegre, então com funções governativas nessa área – foi o primeiro caso em que o PS resolveu acabar com um voz que lhe era incómoda, não se preocupando nem com o desemprego causado, nem com o facto de estar a encerrar um dos grupos de imprensa com maior História em Portugal. A geração de dirigentes do PS dessa época passou, depois, a querer criar jornais que seguissem a cartilha do partido, sempre com assinalável dose de insucesso comercial – desde o extinto «Portugal Hoje» que se esboroou a combater Eanes, até à aventura com Robert Maxwell, que acabou no meio da trapalhada do caso Emaudio. Ao longo destes vários casos o PS sacrificou jornalistas, fez e desfez empresas e postos de trabalho. A geração pós-Soares, esta que agora está no poder, é muito mais profissional e eficaz nesta matéria: usa-se o aparelho de Estado, a pressão, a influência e se necessário for o dinheiro para alcançar os objectivos.
O CASO TVI – Um dia ainda alguém há-de fazer a história da entrada da Prisa em Portugal, da forma como a vida lhe foi facilitada, das primeiras nomeações que fizeram (na Administração e na rádio, por exemplo) e dos apoios, dentro do actual PS, que tiveram em relação aos seus primeiros anos em Portugal, no início do primeiro Governo Sócrates e com um empurrão de Zapatero. Quem seguir a linha dos acontecimentos no sector dos media perceberá que o que se está a passar no país não pode ser discutido apenas à luz da justiça, mas sobretudo à luz da política. Na realidade a única coisa que todo o processo Face Oculta mostra é que uma investigação sobre corrupção se cruzou com uma conspiração política, que acabou por tocar o núcleo central do regime.
ELEIÇÕES – Hoje em dia fica claro que o objectivo de uma sucessão de movimentações desencadeadas por figuras próximas de Sócrates no sector dos Media era condicionar a opinião pública num ciclo de sucessivos períodos eleitorais. Na realidade o que é politicamente relevante é que o núcleo duro de José Sócrates agiu em nome de um conceito absolutista de poder, através do qual se habituou a mandar no país, e criou um plano que apenas abortou porque foi conhecido antes de finalizado. Mas, mesmo assim, acabou por atingir a maior parte dos seus objectivos, tal enunciados por Sócrates no Congresso do PS – mudou direcções no «Público» e na TVI.
PERGUNTINHA – As figuras do PS que se insurgiram contra a inger~encia nos media, que vão fazer agora?
LISBOA – António Costa, neste seu segundo mandato, está a ter a característica de andar razoavelmente ausente dos grandes problemas da cidade. Não se lhe vê nem a energia nem a vontade de tomar conta dos grandes dossiers que podem fazer Lisboa mudar, nem tão pouco a capacidade de evitar situações como a do Principe Real. Quem assiste às reuniões da Câmara dá conta do seu ar frequentemente enfadado. Na Assembleia Municipal tornou-se maioritariamente ausente – desde que foi reeleito já são em maior número as reuniões em que não esteve do que aquelas a que se dignou comparecer. E entretanto, vai sendo cada vez mais habitual o PS não conseguir ganhar votações na Assembleia Municipal, que esta semana recomendou à Câmara que não se envolvesse na Red Bull Air Race.
LER – A edição de Fevereiro da «Monocle» é um número perfeito para viajantes. O tema de capa é a importância da hospitalidade na capacidade de atracção turística de países, cidades, linhas aéreas e hotéis – muito didáctico para a realidade nacional. Outros bons artigos – uma perspectiva diferente sobre o balanço do primeiro ano de Obama como Presidente, uma bela reportagem sobre a realidade do Nepal, um artigo sobre a aposta dos correios suíços na produção e distribuição de conteúdos como nova área de negócio, uma avaliação de alguns dos hotéis que vale a pena conhecer e, a terminar, um guia de Banguecoque e um portfolio sobre uma das fronteiras de Israel.
OUVIR – Electro-folk-pop: sabem o que é? Se não sabem descubram o novo disco de Charlotte Gainsbourg, «IRM», que deve muito da sua eficácia à produção certeira e elegante de Beck. Mas a produção não faria nada sem as canções simples, intimistas e muitas vezes surpreendentes que são todas assinadas ou co-assinadas pelo próprio Beck Hansen. A minha dúvida é se hei-de considerar este o melhor disco de Beck dos últimos anos ou se, como me parece neste momento, se trata de um trabalho a quatro mãos em que Charlotte Gainsbourg serviu de inspiradora e veículo para nos trazer uma outra faceta desse génio às vezes meio desaparecido que é Beck. De qualquer das formas «IRM» é um disco absolutamente arrebatador, por vezes erótico, por vezes dramático, sempre com a sobrevivência e a busca da vida como pano de fundo. CD
DESCOBRIR – Todos os espectadores de teatro têm agora à disposição uma eficaz agenda com indicações úteis sobre estreias, peças em cena, horários e preços. Vale a pena conferir em www.agendadeteatro.com .
BACK TO BASICS – Se alguém diz a verdade, é certo que, mais cedo ou mais tarde, será descoberta – Oscar Wilde
(Publicado no jornal "Metro" de 9 de Fevereiro)
O novo tablet da Apple, o iPad, é mais do que uma novidade tecnológica para maluquinhos da internet – é um novo tipo de aparelho que abre uma nova área de desenvolvimento na indústria de conteúdos. Na realidade o iPad não é um computador - é um centro de entretenimento móvel. Se quiserem uma comparação, o iPad está para o mundo actual como os rádios portáteis a transístores estiveram para o mundo do início dos anos 60. Com o iPad pode transportar-se tudo para todo o lado, desde música e jogos a filmes, passando por livros, jornais e revistas, ou pelo acesso ao email e a visualização de programas de televisão – para já não falar das estações de rádio que habitam a internet. O iPad – e outras máquinas semelhantes que inevitavelmente se lhe seguirão – vai de facto mudar a nossa forma de viver, de nos relacionarmos e de consumir conteúdos. Quando o iPad estiver na sua idade madura, digamos daqui a uns dois anos, meados de 2012, a primeira geração que já cresceu num ambiente digital estará a sair das faculdades e a começar a trabalhar. Pare eles, máquinas como o iPad serão tão familiares como as consolas portáteis de jogos e serão um acessório incontornável no dia-a-dia. Isto coloca um enorme desafio ao nosso país: Portugal é subdesenvolvido em matéria de produção audiovisual e de conteúdos digitais. Isto quer dizer que, a menos que exista uma esforço sério de criar conteúdos audiovisuais de nova geração – jogos, aplicações, micro séries, revistas virtuais – os utilizadores portugueses destas máquinas terão pouca escolha de conteúdos nacionais. Ou seja, o português corre o risco de se extinguir no novo mundo digital. Numa altura em que se discute muito a sobrevivência da nossa língua e a reforma ortográfica vale a pena dizer que tudo isso não servirá para nada se a língua não existir nas plataformas de conteúdos audiovisuais e digitais. Um país que não exista neste domínio será um país esquecido, uma cultura inexistente e uma língua morta.
(Publicado no diário Metro de 2 de Fevereiro)
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