Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
IMPRENSA – Este jornal de papel que temos nas mãos é um bom modelo de segmentação. Não é por acaso que a imprensa económica conseguiu manter a sua circulação – é uma informação especializada, numa época em que a crise leva mais pessoas a quererem ter um conhecimento mais detalhado de todo o universos empresarial e económico. Portugal é um caso interessante deste ponto de vista, em termos de estudo dos comportamentos dos leitores. Olhamos à volta e vemos uma imprensa desportiva sólida, liderada pelo “Record”, porque trata em profundidade um tema específico que é o desporto; vemos uma imprensa económica que mantém e reforça audiências porque trata de uma area bem segmentada; e na imprensa diária a liderança pertence a um jornal que publica informação sobre todas as áreas mas que é, curiosamente, o que mais atenção dedica a noticiário local de diversas regiões – para mim continua a ser essa a chave do sucesso do “Correio da Manhã” (nota – pertence ao mesmo grupo de media que, entre outros, edita este “Jornal de Negócios” e o “Record”). Ao mesmo tempo assistimos a um declínio dos jornais diários de referência, que não têm sido capazes de estudar e seguir o comportamento dos seus públicos-alvo, e à manutenção de um jornal semanal de referência (o “Expresso”), que tem até reforçado o seu papel institucional. Finalmente temos as duas principais revistas semanais de informação com números que há uns anos seriam considerados demasiado optimistas. Serve tudo isto para dizer que em Portugal o papel continua a ser um suporte de informação com peso e valor, mais acentuado quando a segmentação de cada produto está bem conseguida. Mas como será o futuro?
Um estudo publicado esta semana na Austrália considera que naquele país os jornais, na sua forma actual, estarão condenados na próxima década. Surgem cenários de e-readers, sucessores do actual ipad e dos tablet PC, à venda por dez euros daqui a uma dúzia de anos. Em todo o mundo, e não só na Austrália, em 2020 estarão a entrar na vida activa todos os que já nasceram num mundo digital – que sempre usaram computadores, que sempre procuraram programas de televisão for a das estações tradicionais, que procuram, usam e convivem desde sempre com a informação e os dispositivos digitais. A mudança geracional vai ter enormes consequências nos próximos dez anos e há especialistas que dizem que a partir de 2015 (quando os nascidos em 1990 tiverem 25 anos), a aceleração das alterações de padrões de consumo e comportamento sera brutal e com consequências ainda agora ignoradas. Seja como fôr é certo que a informação irá ser cada vez mais segmentada, procurando ir de encontro aos gostos individuais das pessoas, terá que ter cada vez mais um âmbito local para poder responder aos interesses práticos dos consumidores e será cada vez mais feita de forma interactiva com os leitores ou espectadores. Parece também seguro que a próprio modelo de negócio dos media reforçará nos próximos anos a importância dos conteúdos, da sua utilização em diversas plataformas e também a forma como utilizam as redes sociais. O futuro próximo na area dos media irá conhecer grandes transformações, mas a procura pela informação continuará. É uma questão de as empresas de media conseguirem alterar o seu modelo de negócio sabendo que no final da presente década o mundo terá mesmo mudado. E, por muito que isto custe, não é certo que o papel sobreviva nestes processos de mudança. A mudança de geração em idade activa e de consumo vai trazer esta mudança inevitável. Mais vale prepararmo-nos para ela.
PRESIDENCIAIS – Tudo indica que vamos ter uma presidenciais animadíssimas: entre quatro a seis candidatos à esquerda e um ou dois à direita. Se Cavaco fôr sózinho, à direita, pode bem acontecer que ganhe logo à primeira volta. Se houver outro candidato no seu terreno político é quase certo que teremos uma disputada segunda volta. Já aqui o escrevi uma vez – surgirem vários candidatos é natural, é positivo e é uma consequência da democracia. Da mesma forma que não gosto de um regime de partido único também não me apetece uma eleição de candidato único, seja de que lado fôr. O actual cenário politico desgasta quer Cavaco quer Alegre; Cavaco porque o seu imobilismo e a sua visão restritiva dos poderes presidenciais face à crise arrastada deixa dúvidas na sua base de apoio sobre a utilidade da sua reeleição; e Alegre porque terá pela frente uma governação do PS que em matéria orçamental e de reformas colide com as suas propostas políticas mais emblemáticas. Cavaco e Alegre estão prisioneiros da crise e dos compromissos do regime. Os outros candidatos não, e esse é um factor certo de perturbação na primeira volta - que bem pode vir a ter efeitos na definição de quem fica apurado para a segunda volta das presidenciais.
ARCO DA VELHA – Primeiro surgiram as questões sobre o que devia ou não devia estar no Orçamento de Estado; depois retomou-se a polémica sobre a revisão constitucional. Pelo meio foram surgindo intrigas e, dos dois lados, o tom de voz foi subindo. A crise política existe e o único calmante que tem é o facto de o governo estar paralisado e inoperante o o PSD ainda não se sentir em condições para ir a votos. De modo que é uma crise sem resultado à vista. Ir-se-ão atacando até se acabar naquele final bem português: agarrem-me senão eu bato-lhe.
OUVIR – O mais recente disco do pianista Ahamad Jamal, “A Quiet Time”, é um exemplo de como a criatividade e a invenção se podem ir desenvolvendo ao longo da vida de um artista. Jamal tem agora 80 anos e a sua carreira de músico de jazz começou no início da década de 50 do século passado, há 60 anos. É impressionante ouvir este disco, maioritariamente de composições originais do próprio Ahmad Jamal, e observar a sua frescura e a intensidade com que continua a tocar piano, e sobretudo a integridade do seu estilo, sempre acompanhado por um trio. Os meus temas favoritos são “Paris After Dark”, “Poetry”, “My Inspiration”, “A Quiet Time” e a versao de “I Hear A Rapsody”, um tema popularizado por Jimmy Dorsey. CD Dreyfus Records, na FNAC
VER – O fotojornalista Alfredo Cunha apresenta no Arquivo Fotográfico de Lisboa uma exposição retrospectiva intitulada “Estamos no Mesmo Sítio 1970-2010”, que assinala os seus 40 anos de trabalho enquanto reporter fotográfico e a doação do seu espólio ao arquivo. Alfredo Cunha começou no Século, trabalhou em diversos jornais diários, passou pela agência noticiosa, e trabalhou para numerosos jornais e revistas, sempre acompanhando a actualidade com um olhar muito particular e próprio. As suas imagens são de um observador, não neutral, com capacidade de contar uma história numa imagem. A exposição está até 8 de Setembro e o Arquivo Fotográfico fica na Rua da Palma 246 com um horário pouco prático: de terça a sexta das 10 às 18h30 e dois sábados por mês até às 17h00
PETISCAR – O Xica Bia, em Setúbal, oferece petiscos de origem alentejana numa cidade onde o peixe costuma ser rei. Aqui também há peixe, mas o interesse está noutras coisas, como uma sopinha de beldruegas, uma açorda de bacalhau ou um muito simples e superiormente confeccionado cozido de grão. Ao comando das operações, há mais de uma década, está António Saião, natural de Serpa, que orienta a sala de forma atenta, procurando sempre ver se algum cliente precisa de mais alguma coisa. As entradas são muito boas, desde os enchidos fatiados até uma pasta de linguiça, passando por uma saladinha de orelha de porco. A garrafeira é sólida e a preços sensatos. A sala é confortável, espaçosa, bem recuperada para a função. Decididamente um sítio a manter em agenda. Avenida Luisa Todi 131 (junto ao Pingo Doce), telefone 265 522 559.
BACK TO BASICS – Estudem o passado se querem saber definir o futuro – Confúcio
O PONTAL – A política faz-se com emoção, faz-se com comunicação, faz-se com paixão e entusiasmo. Só lógica não chega. O discurso de Pedro Passos Coelho no Pontal foi um exemplo de lógica e um desastre de comunicação – à meia noite de um sábado a meio de Agosto esteve mais de dez minutos a falar do enquadramento geral das coisas e o resultado é que a parte mais importante do discurso já não foi transmitida em directo pelas televisões. Se o objectivo era colocar a posição sobre o orçamento de Estado nos jornais e nos telejornais posteriores, mais valia tê-lo feito logo no início. Falou, bem, da justiça, mas esqueceu a educação. Saltou demasiados temas. Em termos televisivos a entrada do líder podia ser um bom momento, mas aqui, na sua ânsia de unificar o PSD e não perder apoios internos, Pedro Passos Coelho resolveu dividir a sua entrada com Mendes Bota, que para muito eleitorado próximo do PSD é um exemplo daquilo que não se deseja. Mas acima de tudo o comício esteve mal encenado e Passos Coelho tem pela frente o desafio de ser capaz dedar emoção a boas ideias. Se quer disputar eleições, o que acontecerá mais cedo ou mais tarde, mais vale começar já a pensar que precisa de sair das fronteiras do seu partido para ganhar, precisa de entusiasmar as pessoas. Não é fácil, mas sem essa capacidade de comunicação que a emoção proporciona, será muito difícil mobilizar eleitores para o seu projecto. Até agora Pedro Passos Coelho federou as facções internas, mas como adiante provavelmente se verá, é uma unidade fraca, que tem o ónus de tornar desconfiados os que não pertencem ao PSD. Há demasiada confusão dentro do caldeirão, e todos estes pequenos incidentes, desde o atabalhoamento da proposta de revisão Constitucional, à encenação escolhida para o Pontal, mostram isso mesmo. Os independentes nunca gostam do aparelho. Os líderes precisam dele. Gerir o equilíbrio de forma eficaz é o que tem faltado a este PSD e isso é preocupante e um mau sinal de como se encara a participação dos cidadãos que não querem estar nos partidos.
AUDIÊNCIAS TV – A TVI desencadeou uma tempestade sobre a medição de audiências. Convém recordar que a medição é feita da forma que actualmente existe porque os canais generalistas de sinal aberto assim diligenciaram há uns anos. Está em curso, desde há meses, um processo de revisão do sistema de audiometria, que tenha em conta a nova realidade do cabo, das caixas digitais que já estão num número significativo de casas, a eventualidade da proximidade e expansão da TV via internet e, claro, a atrasadíssima e já quase inútil televisão digital terrestre. A TVI veio a terreiro gritar que o rei vai nu porque ficou com o corpinho a descoberto – José Eduardo Moniz nem há um ano saíu e, nesta altura, em termos de share, a TVI já tem muitos dias em que não se pode gabar de ser líder. Mas tirando as dores de alma da TVI, o que verdadeiramente interessa é assegurar que o futuro sistema de medição de audiências tenha em conta o peso crescente dos canais por assinatura, que claramente são os mais prejudicados no sistema actual. Há quem diga que uma medição rigorosa daria aos canais comerciais em sinal aberto um share conjunto que andaria entre os 55 a 65% do número efectivo de telespectadores, contra os cerca de 75 a 80% actuais. O que se deseja é uma amostra maior, melhor, que permita segmentar e estudar de forma mais precisa quem vê TV. A televisão, em Portugal, entrou na era da segmentação de públicos e, se o próximo modelo de estudos de audiência não tomar isto em conta, toda a gente vai continuar a viver num grande engano.
ARRÁBIDA – Não percebo como se deixou chegar a Arrábida ao ponto em que está. Entre os fundamentalismos dos responsáveis do Parque Natural – que como este ano se tornou dolorosamente evidente têm um efeito contrário ao pretendido – e a total inoperância do Instituto de Conservação da Natureza , a Arrábida é actualmente o espelho não de uma protecção ambiental bem sucedida, mas de medidas administrativas que por acção, omissão e negligência provocaram uma situação de facto que é de abandono do património natural, histórico e cultural da região. A incompetência dos responsáveis, aliada a uma leitura messiânica da protecção baseada no afastamento de visitantes levou à penalização e perseguição da utilização pública de espaços naturais. Na Arrábida as autoridades preocupam-se em perseguir as populações e as suas actividades tradicionais, enquanto implicitamente defendem as actividades agressoras do ambiente, como a cimenteira, dando-lhe o aval do Estado através dos contratos de co-incineração. Na Arrábida o Estado nem sequer assegura vigilância e limpeza eficazes – como este ano dolorosamente está à vista de todos. Para quando um inquérito aos responsáveis do Parque Natural da Arrábida?
REALIDADE - Um mês de floresta a arder, um mês de aflições, mortes, prejuízos, esforços. Um país virado para a floresta e de costas voltadas para o mar. O mar, que não arde, podia ser a nossa riqueza maior, gerava mais emprego e criava riqueza, numa zona económica exclusiva maritima extensa cuja exploração nunca mais é encarada como deve ser. Uma das más heranças para as próximas gerações é a forma como temos desprezado o mar. O nosso mar.
LER – Muito útil nesta encruzilhada em que estamos, “Portugal em Números”, o terceiro volume da colecção “Ensaios da Fundação” (Fundação Francisco Manuel dos Santos). Da responsabilidade de Maria João Valente Rosa e Paulo Chitas, “Portugal em Números” faz uma compilação útil e actualizada dos principais indicadores, que nos permtem ter uma noção do que é a nossa verdadeira situação para além da demagogia dos politicos.
OUVIR – Decididamente o disco deste verão é “The Suburbs” dos canadianos Arcade Fire. Canções simples e eficazes, letras que são mini narrativas do quotidiano, arranjos simples e criativos, de que são bons exemplos os temas “Half Light” e “Spraw”, divididos em duas partes, cada um, numa invulgar e bem conseguida exploração de novas fornteiras formais da canção. Há canções excepcionais, desde logo “The Suburbs” ou “City With No Children”, mas na realidade este album dos Arcade Fire é uma colecção de temas que se podem ouvir, vezes a fio, sempre com um sentimento de descoberta. Claramente um dos melhores discos deste ano.
PETISCAR – As sardinhas, este ano, estão como os melões – andam incertas e parece que lhes falta qualquer coisa. Mas mesmo assim, esta semana comi as melhores sardinhas deste Verão num restaurante, simpático, à beira da estrada, entre Palmela e Azeitão. Chama-se “Retiro do Gama” e tem no comando das operações Carlos Gama. Eis um caso em que o dono está atento aos comensais, a ver o que pode faltar em cada mesa, a orientar o serviço dos empregados. Um exemplo para outros locais de restauração onde o serviço ao cliente é coisa ignorada. As sardinhas vinham perfeitas, pele estaladiça, a saltar, fresquíssimas, assadas no ponto. Grelhadores há muitos, bons mestres de grelha há poucos e o “Retiro do Gama” tem uma boa grelha. Ao longo do último ano tenho assistido à transformação do espaço. Carlos Gama nestes tempos de crise é um exemplo: aos poucos foi reinvestindo no espaço – melhorou e ampliou a esplanada, de tal maneira que agora quase se esquece estarmos à beira da estrada. Mas como nem só de grelha vive um restaurante ha opções como uma caldeirada à antiga, um ensopado de enguias e um arroz de lingueirão que também dá que falar. Aberto aos almoços de terça e domingo e aos jantares de quinta a domingo. Retiro do Gama , Avenida Visconde de Tojal, Cabanas, Quinta do Anjo, telefone 937841997.
ARCO DA VELHA – Um país que fecha escolas primárias em vez de fazer uma reforma do ensino médio, técnico e superior está a brincar com o futuro à custa dos nossos impostos.
BACK TO BASICS – A História da Humanidade é cada vez mais um confronto entre a educação e a catástrofe, H.G. Wells
LISBOA -Este ano o trânsito nas entradas e saídas de Lisboa diminuíu menos do que é costume nos meses de Agosto. A cidade tem menos gente e está mais inactiva – apesar da quantidade de turistas que se vêem em todo o lado. A programação de actividades de entretenimento tem outra vez maior incidência em Junho e Julho – às vezes demais – e de menos em Agosto. A cidade – a sua Câmara e os organismos a ela ligados – preferem ir de ferias no mês quente e esquecem quem fica – ou visita – a cidade. O Terreiro do Paço é um deserto deplorável que nestes dias de calor parece um grelhador. Uma praça lindíssima apresenta-se como um vazio inóspito e insuportável, fruto de incompetências variadas e do eterno deixa andar desta autarquia. A programação das actividades na cidade podia ter em conta as modificaç\oes da sua população residente e visitante – mas não faz isso por puro desleixo ou, admito, por crassa incompetência. Mesmo aquilo que existe e vale a pena conhecer está mal divulgado – a actividade de comunicação e de publicidade das entidades públicas é um exemplo de como se estraga muitas vezes o bom trabalho de concepção e programação por falta de ousadia e aposta em mostrar de facto o que existe. Lisboa tem em numerosas instituições coisas a acontecer que ficam apenas para os iniciados – o desprezo pela captação de públicos é sistemático. Ninguém perceberá que assim o investimento de produção é deitado ao lixo? Que se investiu a pôr de pé iniciativas que depois não são publicitadas devidamente?
PARIS - Durante este ano cerca de 20 filmes estrangeiros estão a ser rodados em Paris e a isto devem ser acrescentadas algumas séries de televisão. O facto não se deve às belezas da cidade nem à elegância dos seus habitantes. A resposta é simples: incentivos fiscais. A FilmCommission local conseguiu um desconto de 20 por cento nos impostos aplicáveis – à semelhança do que existe em algumas outras cidades europeias. Paris conseguiu assim tornar-se tão competitiva que este ano decorrrerão filmagens em 330 dias, gerando uma facturação de 100 milhões de euros em técnicos e empresas especializadas locais. O objectivo dos responsáveis é conseguir atingir 200 milhões de facturação nas equipas e empresas locais por parte dos produtores estrangeiros. A isto devem acrescentar-se todas as facturações realizadas em hoteis e restaurantes, que nem sequer são contabilizadas para este efeito. Quando dentro de meses o realizador francês Luc Besson inaugurar o seu novo estúdio de grandes dimensões, Paris ficará, em termos de facilidades técnicas, em pé de igualdade com Londres ou Berlim. Para o registo é bom que fique ditto que em Portugal tem sido sempre impossível de montar uma Film Commission que tenha para oferecer incentivos fiscais porque nos últimos 25 anos todos os titulares dos Ministérios das Finanças recusaram sequer discutir esse assunto. Já agora Portugal tem a melhor luz, o melhor clima e tinha (porque entretanto algumas se desfizeram) grandes equipas técnicas. Portugal – e Lisboa em particular – tinha tudo para poder ser um polo de atracção para produções internacionais. Só não tem visao – na Câmara e no Governo.
ESTRANHO – De tudo o que se vai lendo e sabendo a actuação de Cândida Almeida no processo Freeport merecia ser investigada. Com os dados que existem é lícito questionar se ela manipulou e condicionou as investigações, se o fez por razões políticas, se escolheu esse caminho por instruções governamentais ou por simpatias pessoais. Cândida Almeida colocou-se a ela, e pior ainda, à justiça, na posição de não ser credível e de ser suspeita de parcialidade no seu juízo.
PETISCAR – Nestes dias quentes, se estiver em Lisboa, aventire-se ao Lumiar, perto da Alameda das Linhas de Torrres, e vá experimentar o restaurante Quinta dos Frades. A sala é acolhedora e bem fresca, o serviço é absolutamente impecável e a orientação culinária é do chefe Chakall. Destaque positivo para a qualidade do serviço dos vinhos, com os tintos à temperatura perfeita para esta altura do ano.
Num destes dias ao almoço resolvi experimentar o Bife Amália, um belo pedaço de lombo, competentemente temperado e confeccionado, serviço com um ovo de codorniz a cavalo, um pouco de presunto de boa qualidade, esparregado belíssimo e umas batatas épicas. Durante o mês de Agosto há uma oferta de degustação de champagne Gosset, acompanhado por umas tapas soberbas. No fim a conta não é pequena, mas tendo em conta a qualidade geral, é ajustada. O Quinta dos Frades fica na Rua Luis de Freitas Branco 5D, telefone 21 759 89m80, tem área para fumadores e informações complementares em www.quintadosfrades.com
DESCOBRIR – A edição de verão da Monocle deixou o seu formato habitual e é um belo jornal, de 64 páginas, em bom papel, dedicado ao Mediterrâneo. Tyler Brulé, o fundador e editor da Monocle, explica que tomou a decisão de fazer ium jornal para as pessoas o poderem levar para a praia ou a piscineasem medo de lhe cair água em cima. É convenientemente agrafado, tem numerosos artigos de interesse, de sugestões de visita até gastronomia (receitas incluídas) ou até memorias históricas dos vícios das civilizações mediterrânicas. Tyler Brulé diz que com esta edição se consegue fazer o que é imposssível com um iPad – lê-lo em qualquer local ao sol, dentro de água, sem medo de estragar nada. Pelo menos ele merece um elogio pela forma como nesta época digital se agarra ao papel de jornal.
LER – Kjell Askildsen é um escritor norueguês que se tornou conhecido pelos seus contos, curtos, minimalistas, cheios de humor e ironia. “Um Repentino Pensamento Libertador”, é uma recolha de contos de diversas épocas da sua carreira literária e é um livro absolutamente delicioso para ler nestes dias quentes. Uma dúzia de contos, cada um deles com dez a 15 páginas, todas as histórias deliciosas. Lê-se um conto entre dois mergulhos, e vai-se para o mar sorridente.
OUVIR – Wynton Marsalis convidou Paco de Lucia para embarcar com ele numa experiência, partilhada com a Orquestra Jazz At The Lincoln Center , baseada na exploração das possibilidades de cruzamento do jazz com música tradicional espanhola , do flamenco ao folklore basco. Claro que podemos pensar que “Sketeches of Spain”de Miles Davis teve alguma influência nesta experiência, mas a verdade é que este “Vitoria Suite” é um disco arrebatador e um exempçlo de que o jazz continua a estar aberto a fazer experio~encias. Duplo CD com um DVD suplementar – 2Vitoria Suite”, Jazz At Lincoln Center, with Wynton Marsalis, featuring Paco de Lucia” Edição Universal/ Emarcy, na FNAC.
ARCO DA VELHA –nPinto da Costa defende Carlos Queiroz; O PS vai expulsar uma centena de militantes por actos praticados nas ultimas eleições; Documentos sobre o Freeeport em que aparece o nome de José Sócrates não estão no processo e encontram-se no cofre da PJ de Setubal.
BACK TO BASICS – A Europa foi criada pela História; a América pela filosofia – Margaret Thatcher
BANANAS - Em pleno ano das comemorações do centenário da regime republicano devo aqui agradecer ao Procurador-Geral Pinto Monteiro o facto de ter demonstrado cabalmente que, afinal, somos uma República das Bananas. Agora, apropriadamente, pode dizer-se que vivemos sem rei nem roque. A entrevista que o Procurador-Geral deu esta semana é elucidativa da degeneração do sistema judicial – na realidade depois desta entrevista, e sem exagerar, percebe-se que estamos perigosamente em vias de deixar de ser um Estado de Direito.
Os problemas na Procuradoria vêm de longe e são anteriores a Pinto Monteiro. Tudo o que ele descreve na referida entrevista pode ser repescado ao longo dos anos – as guerras internas de poder e de protagonismo, as fugas selectivas de informação, os conflitos com a Polícia Judiciária, a politização da justiça e a judicialização da política. Na realidade a Procuradoria tem servido para tudo isto, tem sido uma espécie de viveiro de atentados ao Estado de Direito, de desrespeito pelos cidadãos. Como se pode resumir o que tem acontecido ao longo dos anos? - investigações longuíssimas, muitas vezes espalhafatosas demais, que numa percentagem acima do que é aceitável resultam em quase nada. O efeito disto é simples: descredibiliza a justiça, faz os cidadãos ficarem mais desconfiados e torna evidente que por detrás de tudo isto há jogos de poder e manobras políticas. Arrisco-me a dizer que este caso ainda pode vir a abrir uma crise política de contornos e consequências imprevisíveis. Num momento em que todos os actores do regime tinham decidido entrar em pausa na sucessão de crisezinhas que desde as últimas eleições marcam a política portuguesa, esta caso traz para primeiro plano a absoluta falência do sistema judicial e as interferências da política na magistratura e vice-versa. O Primeiro Ministro veio-se gabar do fim do processo Freeport. Falou cedo demais, como agora se comprova.
CLIENTE – Ser cliente em Portugal, de empresas em regime prático de monopólio, é uma grande maçada. Nesta semana tive ocasião de sentir a atenção que a EDP dedica aos seus estimados clientes. Por volta das cinco e meia da tarde fiquei sem energia eléctrica em casa. Do número de atendimento das avarias disseram-me que existia um corte de energia naquela zona, devido a um problema num posto de transformação, onde já estava um piquete. Afirmaram que cerca das 19h00 contavam ter a avaria resolvida. Na realidade nada disso aconteceu e, a partir de cerca das 21h30, já noite portanto, tornou-se impossível contactar o número de informações sobre avarias – um número que é anunciado estar disponível 24 horas por dia. Fiz numerosas tentativas que esbarraram sempre numa gravação do género «este número não pode de momento ser contactado». Já passava das 23h30 quando a energia eléctrica finalmente voltou. A avaria durou sensivelmente seis horas, um terço das quais sem possibilidade de obter informação, três vezes mais que o tempo inicial estimado de reparação. Tweettei diversas vezes sobre o assunto e, um dos comentários de resposta dizia isto: o grande problema é que uma boa parte dos postos de transformação já devia ter sido substituído face aos aumentos de consumo, só que o plano de renovação é tímido para não influenciar negativamente os resultados da empresa. Pois, assim a opção é prejudicar os consumidores… Cá para mim o regulador do sector também devia analisar estas questões – forma de atender os clientes, estado de conservação dos equipamentos, exigências de cumprimento de horários e dos deveres de fornecedor.
CONTEÚDOS – Todas as empresas de media que se queixam de quebras em publicidade deviam olhar com cuidado para os conteúdos que estão a produzir. Todas as empresas que editam imprensa deviam pensar que os seus clientes são de facto, em primeiro lugar, os leitores e assinantes e não os anunciantes. A frase não é minha, é de Charles Townsend, CEO da Condé Nast, um dos maiores editores americanos de revistas que explicava como a missão do novo presidente da empresa, Robert Sauerberg, é fazer com que a empresa dependa menos das receitas de publicidade e mais das vendas de banca, das assinaturas digitais e, em geral, da venda de conteúdos. Os leitores são a razão de ser das publicações. Parece óbvio mas às vezes não se liga muito ao assunto.
EVITAR – O restaurante do Clube de Jornalistas dispõe de um agradável jardim , protegido do vento, que é o ideal para jantares nestas noites quentes de Lisboa. Animado e bem disposto avancei rumo ao local, de que me diziam dispor agora de uma cozinha interessante. De facto a cozinha é interessante, embora não esplendorosa. Se o balanço da noite se medisse penas pelo local e pela confecção culinária o resultado seria nota 3 num máximo de 5 e a coisa teria sido simpática. O problema é que o serviço de mesa é cada vez mais parte importante de uma refeição e esse, ali deixa muito a desejar. Comecei a suspeitar que as coisas não iriam correr bem quando percebi que o vinho não era deixado na mesa, mas sim colocado a uma considerável distância – esta finura só é possível quando existem empregados muito atentos e experientes, senão mais vale deixar o vinho convenientemente colocado junto aos comensais. A culpa não será dos jovens, certamente estagiários – os copos não eram adequados ao vinho em causa, uma nova garrafa entretanto pedida era diferente da original e encontrava-se a uma temperatura impossível. Tudo isto poderia evitar-se se os responsáveis do restaurante estivessem atentos à sala e às operações e instruíssem os estagiários. De forma que aquilo que prometia ser uma agradável noite de conversa com amigos ficou estragada pelo mau serviço. Como agora tweeto quando me aborreço, logo recebi várias mensagens a confirmar que naquele local o serviço, de facto, é para esquecer. É uma pena – o cozinheiro merecia melhor sorte. Clube de Jornalistas, Ruya das Trinas 129, telef 213977138.
LER – Por perfeito acaso descobri uma revista sobre música que é um verdadeiro achado. Chama-se «The Believer», uma publicação originária de São Francisco. Na edição de Julho/Agosto estava incluindo um CD com uma compilação de novas bandas, desde os sul africanos BLK JKS, até rappers como Spree Wilson ou exercícios em torno da soul, dos Tendaberry e até M.I.A, por estes dias no Sudoeste. O disco vale mesmo a pena e só por si justifica a compra da revista – que por cá está á venda a 17,50€. Além do disco, outros motivos de interesse: um belo artigo sobre os diários de Nina Simone com algumas revelações curiosas, uma entrevista com Robert Forster, ex-Go-Betweens, vários artigos sobre cultura urbana e uma coluna de Nick Hornby com sugestões de leitura. Podem ter uma ideia digital da coisa em www.believermag.com e entretanto já reparei que a revista apareceu à venda noutros pontos seleccionados especializados em revistas estrangeiras.
VER – Vale a pena descobrir os cruzamentos de Andy Warhol com a imagem fotoigrafada e filmada e, em particular, com a televisão – desde filmes que ele produziu e realizou, até um episódio da série «Love Boat» em que foi actor, passando por um videclip dos Cars ou a sua passagem pelo histórico programa «Saturday Night Live». A exposição está bem montada, é ao mesmo tempo divertida e informativa e, no fundo mostra como ele era um artista do seu tempo. Um grande e descomplexado artista pop. «Warhol TV», até 14 de Novembro, no Museu Berardo, CCB.
ARCO DA VELHA – O PSD caiu cerca de dez por cento em duas recentes sondagens. Será que os líderes do partido vão começar a fazer propostas em função dos resultados de estudos de opinião?
BACK TO BASICS – As sondagens são uma colecção de estatísticas que mostram como as pessoas realmente pensam – Stephen Colbert
INCERTEZAS – Neste país tudo parece incerto. Nada é dado por adquirido. Os políticos dizem uma coisa num dia e negam tudo no dia seguinte. A incoerência e a incerteza andam de mãos dadas na cartilha que os políticos aprenderam e que usam no dia a dia. A mentira tornou-se parte da relação entre políticos e cidadãos – o rol é imenso desde promessas eleitorais não cumpridas a anúncios de medidas que nunca se cumprem, passando por zigue zagues permanentes. A realidade portuguesa dos últimos anos podia sintetizar-se assim: tudo é incerto, a única coisa certa é que Sócrates, para mal dos nossos pecados, lá continua a piorar as nossas incertezas.
A nossa justiça é incerta – é tão demorada que quando termina qualquer coisa fica sempre uma desconfortável sensação de incerteza, de desconfiança. O Freeport demorou cinco anos a instruir porque teve pressões e foi manobrado, ou só porque a máquina judicial é uma porcaria? O julgamento da Casa Pia tinha mesmo que demorar cinco anos, ou foi assim para diluir as coisas no tempo?
Os nossos impostos são incertos – se a inflação fosse medida com base no aumento da carga fiscal estávamos a rebentar a escala.
A nossa produção de bens essenciais é incerta e estranha – vejam os dados estatísticos do que importamos e espantem-se em como de repente importamos tudo e mais alguma coisa em termos agrícolas – até alhos.
Aos poucos estamos a deixar de ser um país e estabelecemo-nos como mero entreposto. A incerteza não podia ser maior.
ESPANTO – Foi com total perplexidade que assisti ao empenho do Ministro Jorge Lacão no anúncio da criação de um canal de televisão lusófono, feito em parceria com o Brasil e com outros países, envolvendo os respectivos serviços públicos. O homem saberá do que está a falar? Imaginará a camisa de onze varas em que se coloca? Terá alguma noção do caldeirão esquizofrénico que esse hipotético canal será? No primeiro semestre deste ano a RTP recebeu a títulos diversos do Estado 142 milhões de euros, já para não falar do que cobrou nas contas da EDP aos cidadãos. O Ministro acha que isto é pouco e quer colocar ainda mais dinheiro neste sorvedouro? O Ministro achará normal colocar mais comunicação na dependência do Estado? Alguém pode explicar ao Ministro que, para defender a lusofonia, em matéria audiovisual, é mais importante promover e estimular conteúdos audiovisuais interessantes, na área do documentário e da ficção, do que financiar plataformas de distribuição de duvidosa eficácia e discutível oportunidade?
VER – A exposição retrospectiva de Ana Vidigal, no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, é absolutamente imperdível. Com uma montagem muito conseguida, que permite seguir a evolução do trabalho da artista ao longo do tempo, «menina Limpa, Menina Suja», assim se chama a exposição, é um bom exemplo daquilo que se deve fazer com os artistas portugueses, por forma a divulgar a sua obra. Isabel Carlos, que agora dirige o CAM, entrou com o pé direito e com um resultado de uma força invulgar. Cheia de referências pessoais, relacionadas com o contexto da história recente portuguesa, a obra de Ana Vidigal, percebe-se bem aqui, é um belo retrato das últimas quatro décadas portuguesas. NO CAM até 26 de Setembro
PERCORRER – Fazer uma exposição de veículos antigos pode não ter grande graça – ou pode ser um pretexto para um exercício criativo. Foi isto que a equipa do MUDE conseguiu de forma exemplar. A partir da colecção de scooters de um particular, João Seixas, que para o efeito a cedeu ao Museu, foi feita uma montagem exemplar. No primeiro andar do MUDE a exposição foi montada com base numa cenografia que evoca as estradas e o movimento. A colecção, mostra a evolução das scooters, por marca e nacionalidade, entre o fim da Segunda Guerra e os anos 70. Não pensem que isto é só Vespas: há de tudo, desde as históricas e potentes NSU e Heinkel, passando pelas Lambrettas ou pela muito portuguesa Carina. São dezenas de scooters, impecavelmente restauradas e todas em ordem de marcha. O MUDE teve o cuidado de fazer acompanhar a evolução das máquinas ao longo do tempo por uma série de manequins com roupa desses anos, proveniente da colecção de Moda do Museu. O comissariado é do coleccionador João Seixas e de Pedro Teotónio Pereira, da equipa do MUDE, e o título da exposição, que estará patente até 24 de Outubro, é, «Lá Vai Ela, Formosa e Segura». Termino com uma citação de um poema de António Gedeão, de 1961, evocado no catálogo da exposição: «voando para a praia, na estrada preta/ vai na brasa, de lambreta».
LER – Neste momento em que se fala da necessidade de reformar o Estado Social é particularmente útil ler o ensaio da autoria do historiador Luciano Amaral, «Economia Portuguesa – As Últimas Décadas», publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. São cerca de cem páginas onde se faz o retrato da evolução da economia portuguesa dos anos 50 até agora e se analisa com algum detalhe o estado providência e os reflexos no mercado de trabalho e na educação da situação geral económica do país. «Nos últimos dez anos, em comparação com os países mais ricos, perdemos um terço do caminho que havíamos recuperado até ao ano 2000». O livro está escrito de forma acessível e a experiência de Luciano Amaral na investigação da história da economia proporciona enquadramentos fundamentais. Uma leitura absolutamente indispensável no contexto em que estamos.
OUVIR –Um dos melhores discos da carreira do saxofonista Art Pepper foi gravado numa sessão de estúdio inesperada, pouco depois de ter saído da prisão por consumo de droga, e num período muito conturbado da sua vida. A gravação decorreu em 19 de Janeiro de 1957 e Pepper foi acompanhado por Red Garland no piano, Paul Chambers no baixo e Philly Joe Jones na bateria, três músicos que na época tocavam regularmente com Miles Davis e que eram uma das melhores secções rítmicas da época – daí o nome do disco: «Art Pepper meets The Rhythm Section». Destaque para uma versão arrebatadora de um tema de Cole Porter, «You’d Be So Nice To Come Home To» e para os temas «Jazz Me Blues» e «Tin Tin Deo», onde se sente a extraordinária sintonia dos músicos. A reedição do disco está incluída na série «Original Jazz Classics Remasters» da Concord- Universal Music e aqui surge uma registo até agora inédito, feito na mesma sessão, do tema «The Man I Love». CD disponível na FNAC.
PETISCAR – É sempre um prazer regressar ao La Moneda, um restaurante que combina um ar «trendy», com uma cozinha e ambiente despretensioso e preços acessíveis. Desta vez optei pelo prato do dia, que eram filetes com molho de amêndoa, e que estavam fantásticos de estaladiço e de sabor. A sobremesa foi um inusitado mas muito agradável gelado de manjericão e a acompanhar o vinho branco da casa, um belo arinto Casal D’Além. Tudo junto somou 12,75€. Rua da Moeda 1C, telefone 213 908 012.
ARCO DA VELHA – Apesar da contenção o troço Poceirão-Caia do TGV arranca afinal em Setembro, anunciou esta semana o Ministro das Obras Públicas, António Mendonça.
BACK TO BASICS – O mais importante é nunca deixarmos de nos interrogarmos – Albert Einstein
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.