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PAGAR PARA ENTRAR EM CASA

por falcao, em 29.09.10

(Publicado no jornal Metro de dia 28 de Setembro)


 


O discurso oficial de António Costa e de alguns seus estrategas é o de voltar a trazer moradores para Lisboa, promover a reabilitação em vez de construção e conseguir impedir a desertificação das zonas do centro histórico da cidade. A realidade é bem diferente - um regulamento de circulação e estacionamento nessas zonas históricas que penaliza os seus residentes. Um grupo de moradores da Costa do Castelo, indignados com que se está a passar, elaborou um documento, protestando contra as imposições da EMEL em matéria de estacionamento e da Câmara em matéria de circulação. Excertos (e declaro desde já que não resido no local nem lá costumo ir):


«A proposta de regulamento em discussão não mostra qualquer respeito pelas preocupações e interesses dos moradores, que assim se vêem cada vez mais isolados e onerados pelos custos de acesso ao bairro. De facto, esta proposta de regulamento baseia-se no princípio geral, que entendemos absurdo, de que todas as pessoas ou instituições com quem os moradores tenham relacionamento pessoal ou profissional, são obrigadas a comprar cartões de acesso temporário, e, no caso de necessitarem justificadamente de permanecer mais do que 30 minutos na Zona, estão sujeitas ao pagamento de tarifas de estacionamento extorsivas (30 euros por 2 horas de estacionamento, até 90 euros por 4h!) ou para a realização de cargas e descargas, sujeitarem-se a obrigações kafkianas para a prévia obtenção de cartão de acesso, deixando de lado todas as necessidades de apoio quotidiano esporádico que tantas vezes são necessárias. Permite-se (naturalmente) a quem tem garagens particulares que deixe estacionar veículos de visitantes nos seus lugares, quando os mesmos estejam disponíveis, mas obriga-se a que os mesmos sejam pagos e o interessado vá ao início da rua receber os visitantes com um cartão de acesso a garagem... Genericamente não faz sentido que paguemos para ter acesso às nossas casas, muito menos ainda ter que pagar um título de estacionamento para estacionar na nossa propriedade.»


Então Sr. Costa – isto é que é defender os lisboetas e combater a desertificação do centro histórico da cidade?


 

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publicado às 11:56

O CHÃO DE LISBOA

por falcao, em 27.09.10

(Publicado no diário Metro de 21 de Setembro)


 


No dia 29 de Agosto de 2009, há cerca de um ano portanto, foram inauguradas as novas estações do metropolitano de São Sebastião e do Saldanha, depois de anos de obras e de corte de trânsito em quase toda a extensão da Avenida Duque de Ávila. A inauguração foi convenientemente feita para dar palco ao Dr. António Costa, associando-o à conclusão dos trabalhos, a mês e meio das eleições autárquicas.


Mas será que os trabalhos estão concluídos? A verdade, um ano depois das inaugurações e das eleições, é que  a Duque de Ávila continua em boa parte da sua extensão com circulação condicionada, com estaleiros ainda montados, com o pavimento ainda por reparar. Uma das principais artérias comerciais das Avenidas Novas está votada ao abandono pela Câmara, tornando-se num dramático emblema do que tem sido a actividade do executivo camarário desde que foi eleito a 11 de Outubro do ano passado. É uma vergonha – um ano depois da inauguração das estações subterrâneas, continua  à superfície o caos que durante anos ali se instalou.


O estado em que a Duque de Ávila está é a demonstração da incapacidade e do imobilismo do executivo de António Costa, é a prova do desrespeito pelos lisboetas, é a prova de como as actividades económicas da cidade não lhe interessam para nada – já para não falar do bem estar ou do conforto dos habitantes da cidade.


O estado de sujidade e de porcaria em que andam as ruas de Lisboa é de bradar aos céus – na semana passada bastou uma leva chuvinha para que os passeios se transformassem em perigosas pistas de patinagem – porque o efeito da chuva sobre a porcaria incrustada no chão é desagradavelmente escorregadio.


Desafio-vos a um passatempo – andem de olhos bem focados no chão que pisam nas ruas de Lisboa e verão se não se assustam com o que vêem, com as porcarias que estão por todo o lado, com a falta de limpeza, com a alteração da cor dos passeios por força da sujidade. Eu acho que Lisboa nunca esteve assim, nunca esteve tão mal, tão votada ao abandono.

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publicado às 16:50

LISBOA – Esta semana a EMEL decidiu lançar uma campanha para captar a simpatia dos lisboetas que, queixa-se a empresa, a olham com antipatia. Custa-me um pouco que uma empresa, que para todos os efeitos é de inspiração municipal, invista em campanhas desta natureza. Talvez fosse mais útil perceber as razões da antipatia –  se telefonarem para o call centre da EMEL depois de terem sido bloqueados perceberão um pouco as razões desse sentimento. Com automatismos a mais e respostas a menos, o call centre é desesperante quando se tem um carro bloqueado e não se consegue perceber quando será desbloqueado. Talvez fosse também mais interessante, para combater a antipatia, que a empresa estabelecesse um prazo máximo para o desbloqueamento, depois de solicitado. Talvez também contribuísse para diminuir a antipatia que os fiscais da EMEL tivessem critérios uniformes, e se em vez de multarem quem excedeu a validade do talão de estacionamento por pouco tempo perseguissem as duplas filas. A mim um funcionário da EMEL já me disse que tendo eu sido bloqueado não tinha que refilar pela demora, insinuando que fazia parte da punição. E já nem vou falar da forma como os próprios veículos da EMEL estacionam – por vezes até em passagens de peões.


Se a EMEL tem disponibilidade para fazer investimentos como os da campanha acima referida, mais valia que o fizesse na formação dos seus funcionários, num call centre útil, na melhoria de processos, num serviço capaz aos seus clientes e no estender da acção em defesa dos moradores da cidade.


Por razões que me escapam, a EMEL não actua numa série de zonas residenciais, transformadas em parques de estacionamento de stands de automóveis usados e de visitantes da cidade, que nela não vivem.


Não iludamos a questão: Lisboa tem um problema de despovoamento e os que ainda persistem em viver na cidade são de facto prejudicados pela acção da EMEL. Quem vive em Lisboa paga aqui os seus impostos, quem tem carro registado em Lisboa paga aqui o seu Imposto de Circulação. Uma lógica de serviço aos munícipes devia fazer criar um sistema que trate de forma preferencial quem vive na cidade. E por muito que queiramos, o serviço de transportes públicos em Lisboa funciona de forma deficiente – o Presidente da Câmara, António Costa, critica ele próprio com frequência  a Carris e o Metropolitano pelas opções que tomam e que não servem aos lisboetas.


A nível automóvel o grande problema é evitar a entrada de carros de não residentes – o que a EMEL e a autarquia não têm conseguido. Por isso defendo que os residentes em Lisboa devem ter liberdade de estacionamento em toda a área municipal, mediante um sistema de controlo eficaz, e que os não residentes devem ter taxas de estacionamento fortemente dissuasoras. Essa é a única forma de defender os residentes da cidade e de evitar que os bairros residenciais sejam invadidos por viaturas de fora. Por outro lado a autarquia devia regulamentar a questão dos estacionamentos em massa – nomeadamente os relativos a stands de automóveis e estacionamentos de longa duração em bairros residenciais. Um dístico de residente, um único por contribuinte e eleitor registado no município,  seria uma solução possível. Era curioso que a EMEL fizesse um estudo sobre as situações de incumprimento – provêem mais de lisboetas ou de pessoas que vivem fora da cidade?


O que se deseja é que menos carros entrem na cidade, é que os cidadãos de Lisboa tenham direitos que são uma extensão da forma como contribuem para a cidade – e que por isso mesmo não podem ser vistos em pé de igualdade com os outros. Viver em Lisboa não pode ser um castigo.


Por isso a EMEL, nos termos em que existe, não tem razão de ser. É feita para punir cegamente, e não para proteger a cidade – o que quer dizer proteger quem a habita de facto. E ou se modifica, ou as suas campanhas para granjear simpatia serão apenas um desperdício de dinheiro, que afinal é de todos os que vivem em Lisboa.


 


ESTADO – Uma ex-esperança do PS, Francisco Assis, insurgiu-se esta semana contra o que designou por ataques do PSD ao Estado Social. Deixemos de lado o facto de o processo de revisão constitucional lançado pela actual direcção do PSD ter sido um gigantesco tiro no pé que parece um trabalho de contra-espionagem do PS. Passemos à substância da argumentação do PS sobre o Estado Social, mas tenhamos em conta dois períodos: os Governos Guterres entre 1995 e 2002 (sete anos) e os Governos Sócrates entre 2005 e a actualidade (quase seis anos). Nos Governos Guterres foi alargado de forma significativa o conjunto de apoios sociais do Estado, muito para além do que era razoável. O resultado foi um brutal aumento da despesa, que não foi compensado por cortes noutros sectores ou por mais receitas. A má gestão de Guterres, feita de boas intenções, mas cheia de deficientes cálculos, já se sabe que foi culpada em grande parte pela situação actual de desequilíbrio das contas públicas. E nos dois – três primeiros anos de Sócrates a imprudência nesta matéria continuou. Em contrapartida, como se tem visto no último ano e meio, quem está a cortar no Estado Social, e de forma abundante, é o próprio PS e não o PSD. A questão é clara: o PS atabalhoadamente instituíu medidas que desequilibraram o sistema – e agora – Bruxelas dixit - é o primeiro a fazer cortes, às vezes cegos como na educação e saúde, mas sendo incapaz de noutras áreas controlar o aumento da despesa pública. Por isso o palavreado socialista sobre o Estado Social é de uma enorme demagogia. Na realidade, pelo que fez e pelo que não fez, o PS tem sido o seu principal coveiro.


 


ARCO DA VELHA – O Secretário de Estado Laurentino Dias é acusado de ter instigado o imbróglio Queiroz; O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Amado, disse que o assunto prejudicava a imagem do país; O Ministro Pedro Silva Pereira, que tutela Laurentino Dias, acha que a polémica não prejudica nada Portugal. Ninguém se entende numa casa destas?


 


VER – Imagens fotográficas de André Gomes e de Duarte Amaral Netto estão, a partir desta semana ,na Galeria Baginski, mostrando duas formas bem diferentes de encarar a utilização deste meio. Duarte Amaral Netto percorre memórias pessoais e André Gomes explora a forma como os espelhos reflectem imagens à sua volta, questionando a simplicidade do olhar . É um contraste curioso. Rua Capitão Leitão 51 e 53, no Beato.


 


LER – «Instruções Para o Cozinheiro Zen» é um texto de um monge japonês, Tenzo Kyôkun, escrito na primavera de 1237. Não se iludam sobre o título – na realidade é uma lição de vida, de organização de trabalho, de forma de pensar e agir, e é também uma delicada introdução ao pensamento Zen. A edição, da Assírio e Alvim, colecção Gato Maltês, é completada por um interessantíssimo texto de Yves Shoshin Crettaz, um monge suíço que é responsável pelo Dojo Zen, de Lisboa e que nos ajuda a enquadrar a obra original.


 


OUVIR – Belíssimo o novo CD do pianista de jazz belga Jef Neve, acompanhado pelo cantor norte-americano José James. Juntos  percorrem clássicos como «Autumn in New York», «Embraceable You», «Body And Soul» ou «For All We Know», entre outros. Neve é um pianista sensível e James é um cantor felizmente atrevido, nascido no hip-hop e que evoluiu para os blues e o jazz.


 


PROVAR – No Guarda Mor há duas coisas imbatíveis: a simpatia de Sofia Carvalho, a comandar o restaurante, e a arte da cozinheira Matilde Campos em clássicos como peixinhos da horta ou pataniscas de bacalhau. Mas tudo o resto é bom – do patê de pato com chutney que está no couvert, aos filetes de peixe galo com arroz de grelos. Ao longo dos anos o Guarda Mor tem sabido manter a qualidade, o que nem sempre acontece nesta Lisboa.   Rua do Guarda Mor 8, em Santos O Velho,  telefone 213 978 663.


 


BACK TO BASICS – A maneira de se conseguir boa reputação reside no esforço em se ser aquilo que se deseja parecer – Sócrates (469-399 a.C.)


 

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publicado às 16:49

UM ANO EM INTERVALO

por falcao, em 14.09.10

(Publicado no diário Metro de dia 14 de Setembro)


 


Há um ano, a 27 de Setembro, José Sócrates venceu pela segunda vez as eleições legislativas. Lembram-se das promessas que então fez? Lembram-se do programa do PS? Lembram-se dos discursos de campanha dos socialistas? Lembram-se do horizonte radioso prometido para o país?


Um ano depois a realidade é sombria – aumentou o desemprego, diminuem os apoios sociais,  aumentam os impostos e continua a crescer a despesa pública – apesar da série de cortes no estado social que o PS já foi fazendo.


Tudo indica que os próximos 12 meses vão ser um período de vazio, um intervalo onde se irá fazer muito pouco,  num governo ainda recente mas já desgastado e incapaz de promover as reformas necessárias, incapaz de definir uma estratégia, um Governo que irá continuar mero seguidor das imposições orçamentais da União Europeia.


O pretexto para este dramático interlúdio de inacção é a próxima eleição do Presidente da República, que acabou por servir de tampão para a crise. Graças às normas constitucionais entrou-se naquele período em que,  por pior que o Governo governe, nada se pode fazer. Na prática durante um ano Sócrates tem um seguro de vida garantido pelos prazos constitucionais. Na apresentação do Orçamento de Estado de 2012, que se fará daqui a um ano, veremos qual o estado do país.


Estes 12 meses que aí vêm não vão ser fáceis. Quase de certeza existirá um agravamento – directo ou indirecto – de impostos, a classe média será mais uma vez penalizada, a despesa pública continuará a aumentar, e o Estado terá cada vez maior dificuldade em se financiar.


Em Setembro de2011 estaremos pior. Viveremos pior. Teremos menos perspectivas. O Governo, a continuar assim, continuará cada vez mais autista, incapaz de perceber a necessidade de fazer um pacto de regime claro e transparente, com objectivos, que garanta uma efectiva estabilidade, em vez desta paz poder que consome os nossos recursos e a nossa paciência. Não ter utilizado os mecanismos possíveis para assegurar um pacto de regime e um governo de maioria alargada, é uma herança que este Presidente deixa e que sairá caríssima.

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publicado às 16:10

PRESIDENCIAIS- Cavaco Silva entreteve a última semana em que podia pôr o Governo na ordem com recados à oposição. Fez uma espécie de conselho político a Passos Coelho, em matéria de orçamento, e um conselho táctico ao relembrar que o desemprego é o tema que deve ser falado e combatido na acção política. Sugeriu, portanto, uma espécie de um manual de instruções ao PSD. Pelo caminho deixou cair a dúvida sobre a não redução dos valores salariais dos gabinetes do Primeiro Ministro e do Presidente da Assembleia da República, que não foram incluídos entre aqueles que iriam sofrer cortes; depressa os visados vieram aceder ao desejo Presidencial.


No entretanto vê-se de forma cada vez mais clara que a direita não tem candidato – e não me interessam nada os motivos de origem religiosa invocados por alguns. Cavaco, como os tempos, mesmo os mais recentes, têm mostrado, é o melhor Presidente da República para Sócrates, apesar das divergências pontuais e da alguma acrimónia pontual entre os dois . E Sócrates é o Primeiro Ministro que Cavaco estima, porque lhe dá oportunidade de tomar umas posições e o poupa a recomendações impopulares.


Cada vez mais se observa como Cavaco é, de facto, o candidato do regime. Por exemplo, se fosse Alegre a estar em Belém o Plano de Estabilidade e Crescimento seria mais difícil e Sócrates começaria rapidamente a arrancar cabelos. Na realidade, não havendo candidato de direita, Cavaco Silva parece ao senso comum da grande massa central do eleitorado como o menos mau – pelo menos tendo em conta o resto do folclore indígena. Manuel Alegre é um conservador com paleio social e um lunático em matéria prática, que na verdade é o candidato do Bloco de Esquerda levemente apoiado pelo PS. Fernando Nobre foi lançado às feras, não tem programa nem bases, apenas umas vagas promessas de notáveis que muito provavelmente não se cumprirão. Na realidade Fernando Nobre é o candidato soarista sem apoio do PS nem de nenhum partido e não se percebe porque não se retira enquanto é tempo. Neste cenário Cavaco Silva está perigosamente perto de ser o candidato  que Sócrates quererá suportar , mesmo que tenha o apoio do PSD e PP. Estas presidenciais vão ser um jogo de aparências e uma prova mais da falência do regime em matéria de clareza de opções. E, claro, com Cavaco eleito Sócrates espera que o eleitorado não vote nas próximas legislativas naqueles que o levaram a Belém.


 


FUTEBOL – O caso Queiroz é um mistério que dava para escrever um policial dos bons. A Selecção Nacional foi abatida na praça pública para servir os interesses e as guerrilhas de órgãos institucionais, apadrinhados pelo Governo, caso da Federação Portuguesa de Futebol. Em vez de tomarem decisões e serem frontais, escolheram o método da conspiração como forma de actuação. Quem manda no Futebol destruíu neste último mês o pouco que restava da Selecção. Tudo isto é um espectáculo triste de mentira, hipocrisia e cobardia – nada daquilo que se espera do desporto.


 


PUBLICIDADE – Neste momento existe uma elevada probabilidade de que, no final deste ano, os valores globais do investimento publicitário em meios digitais se aproximem muito dos valores do investimento na imprensa diária. As estimativas actuais apontam para que a publicidade em canais de cabo e na rádio já tenha ultrapassado o montante dos jornais diários e a internet está muito mais próxima do que na mesma altura do ano passado. O panorama geral dos estudos e estimativas actuais é este: as estações de televisão RTP, SIC e TVI captam ligeiramente acima de metade do total do investimento e não sofrem grande alteração, os canais de cabo sobem quase 30%, os meios digitais também andam num crescimento de 30% e a imprensa diária cai cerca de 15%, depois de já ter caído no ano passado cerca de 28% em relação a 2008. Vamos ver o que os números do último trimestre do ano trazem, mas tudo indica que a paisagem do investimento publicitário no final de 2010 será bastante diferente, na repartição de volume pelos vários media, que no ano passado.


 


ARCO DA VELHA – Invocando um grande apoio a boas práticas ecológicas, a EMEL colocou 12 bicicletas para alugar que, no entanto, só podem ser usadas pelos assinantes dos seus parques e mesmo assim mediante pagamento suplementar. Sá Fernandes já pode dizer que há 12 bicicletas de aluguer em Lisboa. O ridículo mata e a EMEL cada vez se assume mais como uma empresa de fretes ao executivo camarário, cuja missão é penalizar os lisboetas.


 


VER – A retrospectiva da obra do pintor  inglês Victor Willing inaugurou esta semana na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, em simultâneo com outra exposição da pintora, «Paula Rego Anos 70 – Contos Populares e outras histórias». Willing foi casado com Paula Rego e tem uma importante e curiosa obra. Morreu em 1988 e a sua pintura tem vindo a ganhar progressivo reconhecimento. Se ainda não conhecem a casa das Histórias não percam esta oportunidade – até porque ficarão surpreendidos pelo trabalho de Victor Willing – que ficará exposto até ao dia 2 de Janeiro.


 


LER – Fantástico o número de Setembro da edição americana da revista Wired (já disponível em Portugal e no site da revista). O título de capa é uma deliciosa provocação: «The Web Is Dead» - mas lá dentro explica-se em detalhe que isto quer dizer que a Internet está bem viva. Paradoxo? – nem por isso. Levanto uma ponta do véu – a vida da internet baseia-se na tendência para cada vez existirem mais aplicações e serem elas de facto que são utilizadas e geram movimento – a Web aberta está a ser trocada por serviços mais simples e direccionados que cumprem de forma eficaz o seu objectivo  e que aliciam milhões de utilizadores. Acessoriamente existe um excelente artigo sobre a evolução provável da televisão nos próximos anos – a questão não é tanto o que se pode ver, mas como os espectadores vão ver o que quiserem. E, aqui, a internet, aposta a Wired, vai ter um papel decisivo. São dois artigos imperdíveis.


 


OUVIR – Surpreendente e inesperado o novo disco de Lloyd Cole, «Broken Record», é cheio de influências norte-americanas já que é nos Estados Unidos que ele vive hoje em dia. Longe vão os tempos de «Rattlesnakes» o álbum que em 1984 colocou no mapa Lloyd Cole e os seus Commotions. Com forte inspiração da «country» americana, Broken Record assume de forma clara o lado pop que fez a fama e a fortuna de Cole. Boas canções, produção cuidada, uma voz inesperadamente fresca. Aqui está um bom momento discográfico.


 


PROVAR – No regresso à cidade um restaurante popular com uma qualidade inesperada e uma dimensão apreciável. Fica nas traseiras da Avenida de Roma, no Largo Machado de Assis, ao fundo da Conde de Sabugosa – o Dom Feijão localiza-se no pátio de uma série de prédios novos que ali foram construídos nos últimos anos. O destaque vai para a qualidade do peixe, que permite grelhados recomendáveis e algumas boas frituras. Nas carnes umas honestas iscas e um bom cabrito assado são opções recomendáveis. Ao sábado há cozido. O restaurante tem 100 lugares, o preço é comedido, a garrafeira é extensa. É bom local para juntar vários amigos numa mesa.


Dom Feijão, Largo Machado de Assis 7D, telefone 218464038, fecha aos domingos.


 


BACK TO BASICS – Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar os que fazem algo – Oscar Wilde

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publicado às 16:08

SENHOR COSTA EXTINGA A EMEL!

por falcao, em 07.09.10

(Publicado hoje no diário Metro)


 


O semanário «Expresso» noticiava esta semana que Lisboa é a cidade europeia onde é mais caro estacionar um automóvel nos parquímetros de rua. Ou seja, é mais caro que Londres, Madrid, Milão ou Amesterdão. Os automobilistas lisboetas, que vivem na cidade, pagam os seus impostos na cidade e trabalham na cidade, são penalizados e perseguidos.


A EMEL, uma entidade que a Câmara Municipal de Lisboa devia ter a coragem de extinguir, gaba-se de ir ter lucros record, à custa dessas tarifas altas e de abusos de poder sistemáticos – que passam por ser rápida e muitas vezes abusiva a bloquear e a multar e muito lenta a desbloquear ou a responder a queixas e protestos dos utentes. A EMEL é uma empresa que maltrata os clientes, que despreza os  munícipes e que faz campanhas de publicidade absolutamente enganosas sobre os seus métodos e fins. Basta olhar para o recente devaneio de José Sá Fernandes, que queria à viva força introduzir bicicletas de aluguer em Lisboa, talvez na tentativa de ter alguém a circular nas ciclovias que construíu de forma absurda. Quem lhe satisfez o capricho? A EMEL, claro, que lançou com parangonas o existência de doze – reparem bem no astronómico número – DOZE bicicletas para os utentes dos parques de estacionamento. E que utentes são esses? Apenas os clientes dos parques com assinatura mensal. Se isto não fosse risível seria um dramático sinal de incompetência e saloice.


Na zona onde trabalho, nas Avenidas Novas, é frequente ver os esbirros da EMEL a bloquearem carros que não estão mal estacionados, apenas excederam o tempo, enquanto assobiam perante as duplas filas. E com alguma frequência os carros da EMEL estão mal estacionados em cima de passagens de peões. Uma vez enviei uma foto de uma situação destas para a própria EMEL, protestando, e explicaram-me que os infractores estavam apenas a trabalhar e tinha sido por pouco tempo. Senhor António Costa, e não se pode extinguir esta empresa parasita? Vá lá, faça alguma coisa por Lisboa, já que tão pouco tem feito.


 

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publicado às 14:49

MUDAR – Uma das coisas que mais estraga a imagem de um político (e de um partido), é a sucessiva alteração de propostas, é a falta de uma linha clara. Modificações em relação ao que é inicialmente apresentado, confusão na explicação de ideias, atropelos e zigue-zagues na respectiva comunicação, são tudo factores que levam à desconfiança e, pior, ao descrédito. José Sócrates tem sido vítima disto mesmo – prometeu muito, fez pouco, todos os dias dá o dito por não dito e apregoa o contrário se necessário for. A simples análise do percurso do actual Primeiro Ministro devia levar futuros candidatos ao lugar a terem os maiores cuidados nestas questões. Como Confúcio dizia, «estudem o passado se querem saber definir o futuro» - eis um ensinamento que os aspirantes ao poder deviam ter sempre em conta.


Contrariamente às expectativas, a nova direcção do PSD tem tido, nesta matéria,  um percurso sinuoso e que tem prejudicado a sua imagem. Primeiro, na forma como acordou com o PS  o seu apoio ao plano de restrições económicas; depois, na questão da revisão constitucional – anunciando o que se pretendia fazer para depois ir recuando numa série de pontos; e agora no tema da viabilização do orçamento – entre o discurso do Pontal e os discursos da Universidade de Verão sobre esta matéria há diferenças sensíveis.


É sempre interessante fazer testes utilizando focus groups bem estruturados para avaliar a reacção a algumas propostas e, eventualmente, face aos resultados, afiná-las. Só que o jogo de utilizar a opinião pública e o eleitorado em geral para testes pode ser fatal. Ninguém gosta de indecisos e o PSD está perigosamente a repetir a indefinição, o ajuste,  a correcção.


O fundamental seria ter uma estratégia linear simples, feita de pontos fundamentais, claros e perceptíveis, com medidas claras e exequíveis, que não tivessem que ser demasiado explicadas nem alteradas conforme a situação. Assim dá ideia de que se está a disparar um bocado à toa em diversas direcções. Este não é certamente o caminho mais seguro para construir uma alternativa credível a um Governo que, desde o primeiro dia, fez da demagogia a sua forma de comunicar: O PS prometeu mais emprego e deu mais desemprego, prometeu menos impostos e aumentou a carga fiscal, prometeu reduzir a despesa pública e aumentou-a – tudo, sempre, com o argumento de se adequar à realidade e às circunstâncias. Quem quer ser Governo, como o PSD, não devia correr o risco de, em matéria de adequação às circunstâncias, se parecer com o PS na flutuação e variação de declarações e objectivos


 


REGIME – Armindo Monteiro, que tem trabalho feito no associativismo empresarial e que dirige a Compta, deu esta semana uma entrevista a este jornal onde disse uma das coisas mais importantes colocadas na praça pública desde há muitos meses: «Gostava que em Portugal não existissem empresas de regime». Por outras palavras Armindo Monteiro veio dizer que em Portugal há empresas que se vão encostando aos partidos, e depois aos Governos, para em troca de apoios e favores, terem facilidade nas adjudicações, nos contratos e nas encomendas. Todos sabemos as numerosas histórias que sobre esta matéria se têm passado em sucessivos Governos, mas com grande peso nestes últimos anos. Cada vez que o poder está em vias de mudar de mãos, como acontecerá a médio prazo, vê-se logo uma procissão de futuros apoiantes, que vão facilitando tudo na expectativa de que mais à frente possam fazer parte do círculo dos eleitos para os bons contratos. Estas são as empresa do regime de que fala Armindo Monteiro. São uma praga, favorecida pela forma como os partidos continuam a ser financiados, como as suas campanhas, estudos e actividades se desenrolam. Quando Armindo Monteiro diz que gostava que o Estado escolhesse em função da competitividade, e não dos apoios de regime, diz uma coisa mais importante que qualquer proposta de revisão constitucional. Estas são as mudanças que interessam.


 


INCÊNDIOS – Seguindo com alguma atenção o que se passou este ano em matéria de incêndios chega-se a uma conclusão quase cristalina: bombeiros, Protecção Civil e autarcas esforçaram-se em todas as circunstâncias, estiveram na primeira linha da acção e concentraram todos os meios que podiam. É justo reconhecer que o Ministro da Administração Interna se envolveu ele próprio nos casos mais complicados e desbloqueou meios e apoios. Mas também se nota como em todo este processo os Governos Civis são de uma total inutilidade, que culminou com a extraordinária reacção do Governador Civil de Vila Real aos protestos de autarcas sobre o que estava a acontecer no incêndio que esta semana consumiu a zona do Gardunho, Boticas e Ribeira da Pena. Alexandre Chaves, o Governador Civil de Vila Real, disse em declarações à rádio, que os autarcas não tinham razão porque haviam de compreender que à noite, não se conseguia fazer trabalho de coordenação – ou seja, que à noite era impossível trabalhar e cumprir a sua missão. Os Governadores Civis são hoje meros cargos honoríficos, que se limitam a cobrar umas taxas e a estar presentes em cerimónias oficiais. A sua utilidade é mais que discutível. Extingui-los, passar muitas das suas competências para as autarquias, era uma boa forma de contribuir para diminuir a despesa pública. E não me parece que seja preciso fazer uma revisão constitucional para isso – embora possa afectar a distribuição das benesses partidárias…


 


EXEMPLO – Num recente artigo Tyler Brulé, colunista do« Financial Times» e editor da revista «Monocle», disse mais ou menos isto: As empresas de energia e telecomunicações no Brasil podem ser o motor para a economia do país, mas são coisas como a música, a moda, a hotelaria e o design que fazem com que a marca Brasil seja cada vez mais apelativa e sexy, comparando com os outros países BRIC – China, Rússia e Índia. O resumo é simples: criatividade, criatividade, criatividade; ligação da indústria com os criadores; cultura contemporânea e popular – é  isto que faz a marca de um país. Brulé tem razão.  A imagem de um país hoje passa por estes pontos – a política cultural contemporânea é isto que deve estudar, é isto que deve procurar incentivar. Quem ficar nas rotinas e burocracias antigas acaba a morder o pó.


 


ARCO DA VELHA – O caso Queiroz é todo ele um bruxedo do princípio ao fim. Mas uma coisa é certa: Ricardo Araújo Pereira é quem melhor resumiu a situação, comentando que Carlos Queiroz só joga ao ataque em entrevistas e declarações a órgãos de comunicação.


 


LER – A edição de Setembro da «Monocle» tem como tema de capa o rebranding que a revista entende ser necessário fazer à Grã-Bretanha. Vale a pena ler porque muito do que lá está escrito se podia aplicar a outros locais, Portugal incluído. Só por curiosidade esta edição da revista tem artigos sobre o Brasil, Angola,  Moçambique e  Macau, mas a única referência a Portugal , meio lateral, vem do elogio ao novo disco dos Walkmen, intitulado «Lisbon».


 


OUVIR – A mais recente criação de Keith Jarrett com Charlie Haden é o CD «Jasmine», por acaso o primeiro disco de ambos que é exclusivamente para piano e baixo. O disco é também o primeiro registo de estúdio de Jarrett nos últimos 12 anos. O repertório para este duo piano/baixo é baseado em standards norte-americanos e baladas, de diferentes épocas. O entendimento entre os dois músicos, cuja ultima gravação em conjunto tinha sido há cerca de três décadas, é perfeito mas nada rotineiro – na realidade a improvisação joga um papel importante e há momentos em que se torna evidente o gôzo que os dois estavam a sentir com a música que estavam a tocar. (CD ECM, na FNAC).


 


BACK TO BASICS – O único encanto do passado é que já passou – Oscar Wilde


 

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publicado às 14:48


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