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FIADO - Todos os dias aparecem nos jornais relatos de dívidas acumuladas em todo o género de organismos públicos – da saúde à segurança, passando pelos próprios serviços centrais dos ministérios. Ao longo dos últimos anos é como se alguém se tivesse esquecido de fazer contas ou, então, tivesse decidido passar a viver fiado.  Esta estranha forma de vida depressa passou do Estado para a sociedade e o resultado está à vista. Wimpy, uma personagem das histórias de Popey, parece ter sido o inspirador da maneira de viver do Estado nos últimos anos. Uma das frases preferidas de Wimpy era : terei todo o prazer em te pagar para a semana o hambúrguer que quero comer hoje. Tirar o síndroma Wimpy da vida portuguesa, e sobretudo do Estado, vai demorar tempo mas é fundamental. Popey comia espinafres para ficar mais forte – reduzir custos no Estado todos os dias é a dose de espinafres que se recomenda ao Governo.


 


MEMÓRIA - Acho muita graça a todos os que agora aparecem cheios de pruridos em relação à Caixa Geral de Depósitos. Não me recordo de ver esses notáveis críticos de hoje muito preocupados quando a Caixa tinha Armando Vara como figura de destaque, quando a CGD financiou especuladores bolsistas, quando financiou o ataque ao BCP – para onde Santos Ferreira, então presidente da Caixa, havia de transitar, ou quando se meteu como parceira financeira de negócios mais que privados. No tempo da especulação andaram muito caladinhos, agora que se prepara o arrumar da casa apareceram logo aos gritinhos.


 


FIDELIDADES - Uma coisa extraordinária nestas recentes eleições do PS é a forma como nenhum dos candidatos ousou sequer fazer o balanço da última década do partido a cuja liderança ambicionavam ascender. De Seguro e Assis não ouvi uma palavra sobre Sócrates. Apesar das loas tecidas ao anterior Primeiro Ministro e ao seu estilo de governação no último congresso do PS, não ouvi nenhum dos candidatos a líder proclamar-se como sucessor de José Sócrates. Não ouvi nenhum dos candidatos elogiar nada do que o anterior chefe do governo tenha feito. Não ouvi nenhum dizer que quereria retomar o seu projecto para Portugal – aliás não ouvi nenhum falar de qualquer projecto que não fosse fazer oposição. Mas já ouvi, esta semana, depois de ser eleito, António José Seguro a atacar as medidas do Governo e a distanciar-se dos planos de austeridade. Pareceu-me um discurso muito parecido com os momentos de desvario, afastados da realidade , a que Sócrates nos habituou. E é sempre curioso verificar como Seguro opta por nada dizer do que Sócrates fez e estar já todo entusiasmado a atacar o que se começa a fazer. Seguro vai mostrando como prefere a politiquice à política. Nada que me espante.


 


FACILIDADES - Um dos mistérios do processo da recomposição do mapa das freguesias de Lisboa é descobrir como é que António Costa se conseguiu entender com a distrital do PSD de Lisboa, mas não conseguiu um entendimento com os seus camaradas de partido, de Loures, para a criação da necessária freguesia da Expo. Será que não a acha necessária ou esqueceu-se que aqueles que lá vivem, na sua maioria, são lisboetas que votam aqui? Tenho para mim que há uma explicação – mais vale uma negociata partidária debaixo da mesa do que uma discussão séria sobre matérias importantes. 


 


ARCO DA VELHA – Alfredo Barroso, muito enfastiado e aborrecido, considerando-se ofendido por não ser tratado por «Dr.» num debate televisivo.


 


VER – Muito interessante a exposição «New World Parkville» de Margarida Correia, que estará até 18 de Setembro no Museu da Electricidade. Através de fotografias e objectos Margarida Correia revisita a comunidade portuguesa em Parkville, Hartford,  no Connecticut. O projecto começou em 2009 como um projecto de arte pública encomendado pela Real Art Ways, uma organização alternativa de artes de Hartford. Margarida Correia mergulhou na comunidade emigrante portuguesa, fotografou-a, recolheu objectos, copiou documentos e no fim deteve-se em algumas figuras marcantes, como o locutor de uma rádio local, Manuel Gaspar, ou o filho da fadista Maria Alves. A fotografia é neste projecto apenas um parte dos meios utilizados para retratar a memória desta comunidade, numa exposição que, no fundo, mostra um dos lados da saudade.


 


LER – Quem financiou o ataque às Torres Gémeas de Nova York? A revista «Vanity Fair» de Agosto dedica 13 páginas ao assunto e explora detalhadamente as várias possibilidades, na pré-publicação do livro «The Eleventh Day» de Anthony Summers e Robbyn Swan. Os autores falam dos estados árabes que ao longo dos anos foram dando dinheiro a Bin Laden, e revelam que um relatório de 28 páginas da comissão de inquérito do senado continua a ter partes censuradas e secretas, dez anos depois do atentado. Já para não falar dos expedientes da casa Branca, nessa altura habitada por George Bush, para afastar algumas provas levantadas pelos investigadores.


 


OUVIR – Neste caso a melhor palavra seria OUVER – porque o destaque desta semana vai para um DVD que agrupa o melhor das três históricas exibições de Elvis Presley, em 1956 e 57, no célebre programa de televisão norte-americano «The Ed Sullivan Show». Foi aí que Elvis passou a ser um fenómeno – no primeiro dos programas de Ed Sullivan em que apareceu Elvis teve uma audiência de 80% do total dos espectadores, aproximadamente um em cada três americanos seguiu a apresentação. Transmitido no Domingo à noite o programa era destinado às famílias –e a sensualidade de Elvis chocou puritanos e ganhou-lhe o reconhecimento de toda uma geração. Um mês e pouco depois, a 28 de Outubro, repetiu a dose e mostrou como as suas ancas se moviam, ao som de «Hound Dog». Rebentou a escala das audiências e nos Estados mais conservadores queimaram-se retratos de Elvis. A sua derradeira presença no «The Ed Sullivan Show» foi a 6 de Janeiro de 1957 e o realizador teve o cuidado de filmar Elvis Presley apenas da cintura para cima – só não contou com os trejeitos que ele fez com a boca. «Elvis – The Ed Sullivan Show Classic Performances» agrupa ainda imagens inéditas de uma das primeiras actuações do cantor em 1955 e alguns filmes que o mostram, anos depois, com Priscilla e vários amigos.


ound Dog ou Heartbreak HotelH


 


NAVEGAR – Já imaginou o que é estar na praia, num belo banho de mar, e passar ao pé de si um carrinho de gelados anfíbio? Naqueles dias de muito calor nada como um magnum sem ter que ir ao areal, não é? Se folhearem a mais deliciosa revista portuguesa online – www.magneticamagazine.com – poderão ler o especial sobre gelados e esta geladaria anfíbia.


 


PROVAR – Numa destas noites de Agosto vale a pena ir ao Faz Gostos, o restaurante que Duval Pestana fez em Lisboa para mostrar o que é a melhor cozinha do Algarve. Baseado em peixe e mariscos fresquíssimos, o Faz Gostos, nesta época do Verão, só funciona aos jantares. Se  gostam de frituras de peixe, experimentem os filetes de peixe galo com arroz de amêijoas e peixinhos da horta, ou as lasquinhas de pescada com açorda, uma verdadeira especialidade. Nas entradas deixem-se levar por um cone de massa folhada finíssima recheado de sapateira fresca e, na sobremesa, experimentem o semi frio de alfarroba. Seguramente este é hoje em dia dos melhores sítios em Lisboa para comer bom peixe muito bem cozinhado. Serviço eficaz, sala muito confortável e bonita. Rua Nova da Trindade nº11 (frente à Cervejaria Trindade), telefone 213 472 249


 


BACK TO BASICS – Só podemos realmente ter opiniões imparciais quando se trata de coisas que não nos interessam – Oscar Wilde


 


(Publicado no Jornal de Negócios de 29 de Julho)


 

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publicado às 14:10

REINVENTAR O FUTURO

por falcao, em 28.07.11

À minha volta vejo que vários amigos meus este ano optaram por não fazer as férias que nos últimos anos faziam. Vários tiveram diminuições consideráveis de rendimento – ou pelo desemprego ou simplesmente porque a crise lhes tocou à porta.  Alguns optam por praias perto de Lisboa e outros redescobriram as suas origens no interior - e em vez de partirem para fora, resolvem ir mostrar Portugal aos seus filhos. Alguns voltam mesmo às aldeias que eram dos seus pais ou avós.


 


Este é o lado positivo da crise – as pessoas agarram-se ao que têm e não se deixam deslumbrar com fantasias. Andámos anos demais a imitar as telenovelas – e as telenovelas não são a vida real. Portugal criou um padrão de consumo que nos era estranho. Começámos a importar frutas tropicais e esquecemos a pêra rocha, os abrunhos, as laranjas do Algarve. O Miguel Esteves Cardoso fala muito destes prazeres portugueses a que virámos costas. Na edição de ontem do Público um produtor das belas laranjas do Algarve, José Mendonça, fazia uma boa descrição do que se passa: «O problema deste país não é produzir, que nós sabemos fazê-lo, o problema é comercializar, é vender. Os grandes grupos - Sonae, Jerónimo Martins, Auchan - abafaram tudo o que havia de retalho, as mercearias de bairro. Morreu tudo. São eles que ditam as regras. E nós temos que produzir como eles querem e ao preço a que querem».


 


Crescemos de forma desequilibrada – permitimos demasiados centros comercias dentro das cidades, ajudámos a destruir o comércio tradicional e deixámos de querer os produtos nacionais, preferindo laranjas envernizadas e sensaboronas às da nossa própria produção. Também isto tem que mudar – e o regresso às raízes, que aos poucos se nota, pode ajudar-nos a pensar como é importante mudarmos alguns dos nossos hábitos de vida. Algumas pessoas, como este produtor de laranjas, mostram que é possível voltar a trabalhar a terra. E que é nas coisas simples que se pode reinventar o futuro.


 


(publicado no diário Metro de 27 de Julho)

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publicado às 18:22

POLÍTICA – As eleições no PS são um bom pretexto para reflectir sobre a política, sobre a relação dos cidadãos com os partidos e sobre a forma destes se relacionarem com a sociedade. No caso do PS, no início deste processo eleitoral para escolher o novo secretário-geral, percebeu-se que existia um número relativamente reduzido de militantes de facto activos e com quotas pagas e, por outro lado, percebeu-se que foram liminarmente rejeitadas duas propostas de Francisco Assis que visavam uma tentativa de maior ligação do aparelho partidário à sociedade civil  – uma espécie de primárias em que pudessem votar simpatizantes (e não apenas militantes) e a presença de jornalistas nos debates internos. Nestas eleições tudo segue como habitualmente, a arregimentar apoios de responsáveis distritais, de dirigentes do aparelho e de notáveis. O maior argumento de eleições internas – no PS e no PSD – é de facto o bom uso do telemóvel para conquistar os votos da máquina do aparelho. Não vislumbrei (apesar do esforço de Assis, diga-se em abono da verdade), nenhum esforço sério para discutir ideias ou estratégias para o país e não apenas para a forma de fazer oposição e politiquice.


 


Um outro sinal dos novos tempos políticos tem sido dado por dois comentadores da área do PSD – Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa, que estão a passar por uma fase em que gostam de ser portadores de notícias e não apenas de opinião. É o reflexo, ao espelho, daqueles jornalistas que escrevem notícias com opiniões em vez de factos. Agora, é de bom tom que nas notícias haja opinião e que na opinião haja notícias – esta é a verdadeira tabloidização da comunicação em Portugal.


 


LISBOA – António Costa foi eleito pela primeira vez Presidente da Câmara há quatro anos, completados no dia 15 de Julho. A cidade não está melhor; na realidade está mais degradada. Vou dar um exemplo do que é incompreensível: a Elias Garcia está interrompida no sentido Av. 5 de Outubro- Av da República, devido a um prédio em ruína, mas, desde Dezembro, altura em que a faixa foi encerrada, ainda não foi colocado um único sinal a avisar do sucedido à entrada do troço interrompido. No cruzamento têm sido frequentes as travagens bruscas e os acidentes.


 


Os cidadãos deixaram de ser a prioridade, que tem sido a reforma administrativa da cidade, feita aliás de forma polémica, desde o conteúdo até aos nomes escolhidos para as novas freguesias. Lisboa está paralisada, à excepção das manifestações folclóricas dinamizadas pelo vereador Zé que não faz falta.  Em quatro anos António Costa fez muito pouco pela cidade e pelos munícipes que aqui pagam impostos. A cidade está mais desconfortável para quem cá vive, ele tem sido um mau Presidente.


 


SEMANADA – A Secretaria de Estado da Cultura conseguiu resolver, em poucas semanas, o diferendo que se arrastava desde há mais de um ano entre os herdeiros de Jorge de Brito e o Estado, a propósito da obras de Vieira da Silva depositadas na fundação Arpad Szenes- Vieira da Silva, uma coisa que o Ministério de Canavilhas não conseguiu durante mais de um ano - caso para dizer que mais vale uma Secretaria de Estado que decida, que um Ministério indeciso. 


 


Noutro contexto, a imprensa relatou que, numa reunião de organismos distritais do PSD, na semana passada, pelo menos três líderes distritais chamaram a atenção para a necessidade de ter um interlocutor que "agilize" os contactos, não só do partido, mas também dos presidentes de câmara eleitos pelo PSD, com os ministérios, em especial aqueles que são tutelados por independentes ou pelo CDS.  Julgava que o Governo devia falar com eleitos de todos os partidos de forma igual, mas pelos vistos enganei-me.


 


ARCO DA VELHA – As transferências que a Segurança Social faz para o fundo que garante o pagamento das pensões no futuro pararam há quatro meses. Que mais iremos descobrir escondido debaixo dos tapetes?


 


LER – Muito oportuno o livro «A Televisão e o Serviço Público», na colecção Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos. O seu autor , Eduardo Cintra Torres, investigador universitário e crítico de televisão, foi um dos redactores do Relatório elaborado em 2002 sobre o serviço Público de Televisão (declaração de interesse: também integrei o mesmo grupo de trabalho). Numa centena de páginas o autor faz uma boa resenha histórica da evolução da televisão em Portugal, nalguns momentos com comparações com o cenário internacional; a parte final é mais focada no conceito do serviço público e chega mesmo a apresentar uma proposta programática para um funcionamento futuro da RTP.


 


Pessoalmente gostaria de ver reflectido, neste contexto, qual deve ser o papel estratégico do Serviço Público no fomento de uma indústria audiovisual, sobretudo na área do desenvolvimento da produção independente – por exemplo não se analisa o facto de em Portugal as estações serem elas próprias, ou através de empresas instrumentais em que participam, as produtoras da maior parte dos conteúdos nacionais de ficção, ao contrário do que acontece nos países mais desenvolvidos do ponto de vista da indústria audiovisual.  No essencial o livro é um bom levantamento da situação e um contributo para um debate que vai aquecer os ânimos daqui a algum tempo, mesmo que nalgumas questões de audiometria e de programação tenha pequenas falhas ou omissões.


 


OUVIR – A colecção Original Jazz Masters Remastered, que a Concord/Universal edita, acaba de disponibilizar uma versão remasterizada a 24 bits do disco «Something Else!!!», a gravação de 1958 que colocou o saxofonista  Ornette Coleman definitivamente no primeiro plano dos músicos de jazz. A acompanhá-lo, outros quatro grandes músicos: Don Cherry no trompete, Walter Norris no piano, Don Payne no baixo e Billy Higgins na bateria. Este disco, o primeiro da carreira de Ornette Coleman, foi considerado na altura algo de muito inovador e surpreendente, através das ligações que retomava, de forma livre, dos blues com o jazz  -  é mesmo considerado um dos trabalhos que mais contribuíu para abrir novos caminhos na música. Todos os temas são originais do próprio Coleman, que tinha 28 anos e cujo trabalho principal, na época, era ser ascensorista num dos grandes armazéns comerciais de Nova Iorque.


 


VER – Desde o passado dia 4 de Julho é possível ver a nova proposta de exposição permanente do Museu Berardo, baseada na sua própria colecção.  Ao todo são 250 obras, de nomes como Picasso, Duchamp, Dali ou Francis Bacon, entre outros, e que permitem fazer uma viagem pelas principais tendências das artes plásticas ao longo do século XX. Esta é a primeira selecção de peças da colecção já orientada pelo novo responsável do Museu, Pedro Lapa. Além desta, permanente, existem mais três exposições temporárias patentes até finais de Agosto ou início de Setembro: «Five Rings», de Olga Barry e Rui Chafes; «Cem Vezes Nguyen», de Alfredo Jaar; e «One After Another, a Few Silent Steps», de Pedro cabrita Reis – todas têm entrada gratuita, domingo a sexta das 10h00 às 19h00 e sábados das 10 às 22h00. Até ao fim de Julho, às sextas, sábados e domingos, assinalando o 4º aniversário, o Museu Berardo fica aberto até às 24h00 com bar esplanada, DJ’s, no terraço do Piso 2.


 


PROVAR – Encontrar um bom bitoque, ainda por cima sem batatas fritas pré-congeladas, não é coisa fácil. Há casas que fazem gala em utilizar uma peça da carne de vaca derivada da sola de sapato para a confecção do referido prato; outras têm acessos súbitos de criatividade nos molhos, destinados a esconder a falta de qualidade dos ingredientes. Na Marisqueira Roma o bitoque é de lombo, confeccionado como deve ser, com gordura q.b., alho e louro, e a carne vem cozinhada como se pede. O corte da carne é apropriado e a altura e dimensão do naco são adequados ao preço, razoável e simpático. A acompanhar vêm batatas fritas às rodelas, finas e caseiras, sem óleo a mais, estaladiças. A casa tem fama de ter umas boas amêijoas e há quem lhe elogie a sapateira e a imperial é bem tirada. Num destes almoços de verão outonal constatou-se a qualidade do bitoque do lombo, e o conforto da pequena esplanada,  abrigada do sol e do vento. Para sobremesa recomenda-se uma visita à Casa do Gelado, mesmo ao lado, no número 28. A Marisqueira Roma fica na sempre agradável Avenida de Roma, 30-A , tel. 218446100


 


BACK TO BASICS – Todos os impostos pagos por um cidadão, de rendimento médio, ao longo de toda a sua vida, são consumidos pelo Governo enquanto o diabo esfrega um olho – vox pop


 

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publicado às 18:52

DESEMPREGO: SOLUÇÕES PRECISAM-SE

por falcao, em 19.07.11
Este ano tem sido frequente encontrar pessoas entre os 50 e os 60 anos que, por uma razão ou por outra, se encontram subitamente no desemprego. Muitos fazem parte de um novo grupo de desempregados - são pessoas qualificadas, com experiência, e que não conseguem encontrar trabalho. Alguns estão numa situação em que nem conseguem trabalho, nem têm qualquer espécie de apoio e não atingiram a idade da reforma. Estão a viver de algumas poupanças que tinham de lado e que um dia destes acabarão. Olham para o futuro com apreensão, depois de terem trabalhado muitos anos. Sentem que a sociedade não aproveita o que sabem fazer.

Nos últimos anos tem crescido este tipo de desemprego qualificado e o nosso sistema de apoio aos desempregados não está preparado para os receber e para conseguir dar-lhes ajuda. O sistema que temos está vocacionado para empregos pouco diferenciados, com níveis de instrução baixos.


 


Quando aparece alguém com 20 anos de experiência em cargos de coordenação ou direcção, formação superior e diversas especializações, não sabe o que fazer e é incapaz de dar qualquer resposta - e não tem sequer enquadramento possível. Com o que aí vem e já começou – insolvências, fusões, redução de custos – este leque de desempregados da classe média vai crescer de forma rápida.


 


Nos próximos meses vamos começar a assistir ao drama de algumas destas pessoas – e às vezes famílias inteiras -  que deixam de ter subsídio de desemprego, não conseguem mesmo encontrar trabalho, porventura podem ainda estar acima dos limiares de continuar a receber apoio, e não sabem o que hão-de fazer. Estes novos desempregados são atirados para a inactividade forçada, até porque as leis laborais que temos não facilitam a contratação de pessoas assim – de forma temporária, sem contratos a termo. Se a sociedade não criar formas de os enquadrar – com vantagens especiais aos empregadores e outros mecanismos de incentivo – os próximos tempos vão ser terríveis.


 


(publicado no Metro de 19 de Julho)


 

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publicado às 15:33

CRISE – A crise é o que é e nasceu como todos sabemos. Mas mesmo assim seria curioso saber que notação seria dada à Moodys e a outras agências de rating pelo seu desempenho na avaliação dos riscos do subprime e de tudo o que se lhe seguiu. As agências de rating são um fruto do sistema e replicam os comportamentos especulativos alimentados pelo próprio sistema. Se o sistema não ganhar racionalidade, não serão certamente as agências de rating a implementar essa racionalidade, que em boa verdade é contrária à sua razão de ser. Mas também é escusado imputar todas as culpas da crise a organismos como essas agências, que na realidade funcionam mais como grupos de pressão do que como barómetros da realidade.


 


Gostava de deixar aqui uma nota. O foco no comportamento das agências de rating é certamente importante – mas não pode obscurecer nem desviar as atenções de uma outra coisa:  actualmente vivemos, sofrendo, o resultado dos disparates de uma geração de políticos deslumbrados que colocaram a Europa, e os negócios que ela proporcionou, à frente de Portugal. São os mesmos políticos que hoje se queixam que a Europa é mal governada porque já não são eles nem os seus contemporâneos que lá estão – e sobretudo não querem assumir que foram ingénuos ao acreditar que a Alemanha e a França seriam solidárias quando nunca o foram na História. A Europa, como hoje está, é fruto da forma como foi construída, para beneficiar a ambição da Alemanha e o posicionamento da França. O problema foi que por cá se espalhou a ideia de que seríamos os grandes beneficiários – sem ninguém verdadeiramente se ter preocupado em fazer bem as contas.


 


LISBOA – A gestão do espaço público em Lisboa começa a ser um caso de polícia. Já nem vou falar do despudor com que se aluga a Avenida da Liberdade a uma cadeia de supermercados. Vou-me limitar a falar sobre a forma arbitrária como se trata da questão das esplanadas. Aparentemente há critérios diferentes em vários pontos da cidade; os regulamentos, quando existem, são confusos e por vezes contraditórios; os tempos de resposta da Câmara, no pelouro do vereador Sá Fernandes, a pedidos e licenciamentos ultrapassam o razoável; há decisões que parecem persecutórias e baseadas em critérios pessoais.


 


O resultado de tudo isto é que o espaço público da cidade está transformado num caos onde nalguns sítios as esplanadas são apenas suporte publicitário a marcas de refrigerantes ou de cerveja, e noutros locais, onde até há cuidado com o mobiliário utilizado, tudo é proibido e dificultado. As coisas não estão a funcionar bem e há suspeitas, legítimas, de parcialidade ou perseguição na apreciação e nas decisões tomadas. O Presidente da Câmara de Lisboa faria bem em retirar a Sá Fernandes a gestão dos espaços públicos da cidade, antes que ele faça mais estragos e comece a provocar situações graves do ponto de vista da vida económica de Lisboa.


 


 


SEMANADA – A Moody’s desceu o rating de Portugal; a Moody’s desceu o rating de empresas e bancos portugueses; a Moody’s desceu o rating da Irlanda; os bons espíritos só se começaram a preocupar por essa Europa fora quando Espanha e Itália começaram a aparecer como potenciais futuros alvos; os dirigentes Europeus continuaram, após meses de degradação da situação, sem ser capazes de tomar uma posição política ou sequer de chegarem a um acordo sobre medidas conjuntas a tomar.


 


ARCO DA VELHA – O Provedor de Justiça recebeu desde 2009 até agora tantas queixas contra a EMEL como nos seis anos anteriores.


 


LER – Quem deve gerir uma empresa? Aqueles que sabem do produto que origina a facturação da empresa, ou aqueles que contam os feijões? A discussão é antiga mas é o tema central de um livro de Robert Lutz, « Car guys vs bean counters - the battle for the soul of american business». Lutz foi vice-presidente da General Motors, da Ford, da BMW e da Chrysler e esteve 47 anos na indústria automóvel, sempre com bons resultados. No livro defende a tese de que os contadores de feijões, oriundos dos MBA’s (sim, chama os bois pelos nomes…), estão apenas focados nos resultados de curto prazo, em vez de se preocuparem com o produto e os consumidores – e que a corrida à obtenção de resultados trimestrais está a destruir o tecido produtivo sem criar nada de valor. Lutz aponta Sillicon Valley como um local onde se criam empregos, se aumenta a produtividade e riqueza, exactamente porque o foco está na criação da relação entre os produtos desenvolvidos e os consumidores. E cita, a propósito, o caso da Apple, que há uns anos atrás ía sendo levada ao tapete quando foi gerida essencialmente por MBA’s e que foi salva com base na criação de novos produtos e na relação com os consumidores, os sagrados mandamentos de Steve Jobs. O livro pode ser polémico, mas nestes tempos em que toda a gente se queixa da falta de crescimento económico, tem a vantagem de voltar a colocar na ordem do dia a velha questão de saber quem pode melhor desenvolver o negócio.


 


 


VER – As galerias da Rua da Boavista 84 são um dos melhores locais de Lisboa onde, em matéria de arte, se podem vislumbrar pistas diversas para ver o mundo e a criação artística. Por estes dias a Plataforma Revólver espalhou-se por dois espaços do edifício Transboavista. No primeiro está a exposição «At The Edge Of Logic», que agrupa obras de sete artistas com utilizações muito diversas da fotografia, com destaque para Ania Dabrowska, Benjamin Baker, Rita Soromenho e Tess Hurrell. Um piso acima, no mesmo edifício, a fotografia é de novo o tema de «Quinze Ensaios», uma mostra de trabalhos realizados na primeira edição da pós graduação «Fotografia, projecto e arte contemporânea», de alunos do Instituto Superior de Estudos Politécnicos. São trabalhos estimulantes, com destaque para Cátia Mingote, Cláudia Rita Oliveira, Jorge Gonçalves e Diogo Simões. Finalmente este ciclo de exposições tem o ponto alto, na VPF Creamarte, com uma instalação de Gustavo Sumpta, «Um Sopro na Valeta», que é um trabalho verdadeiramente surpreendente, intimamente ligado com os tempos que vivemos e com a imposição de normas cada vez mais apertadas.


 


OUVIR – A ideia de partida era arriscada: Aldina Duarte pediu a uma série de autores, como Manuela de Freitas, Maria do Rosário Pedreira, José Mário Branco e José Luis Gordo, para construírem letras escritas a partir de obras literárias, mas que obedecessem á métrica e à rima das estruturas poéticas das melodias do fado tradicional.  Aldina Duarte, que também se meteu à escrita, seleccionou as melodias para as letras entretanto criadas a partir de obras de Eurípedes, Tennesse Williams, Herman Hesse ou Eugene O’Neill, para citar apenas algumas das inspirações. O resultado é que nasceram alguns belos novos fados e permito-me destacar «Fogo Sem Fumo», de José Mário Branco e «Ainda Mais Triste», de Manuela de Freitas. Desde 2008 que Aldina Duarte não gravava e este CD «Contos de Fado» mostra uma voz mais segura e contida, exemplarmente sóbria numa época em que, nos mais recentes discos de fado, abunda a exuberância excessiva e desnecessária.



PROVAR – Finalmente fui experimentar o Darwin Café, o restaurante da Fundação Champallimaud, junto ao rio, antes da antiga Docapesca. Este é um daqueles locais que começa por se comer com os olhos - a arquitectura do edifício, a forma como se relaciona com o rio e com a Torre de Belém, mas também a arquitectura da sala, com o pé direito imponente e a luminosidade ribeirinha. A sala é confortável e ampla, a decoração é inspirada – desde os candeeiros às paredes falsas. Uma vez bem sentados (desde que tenha sido feita reserva atempada), passamos à comida. Nada é excepcional, mas tudo pareceu bem – nomeadamente o lombo de bacalhau fresco em crosta de broa e os tentáculos de polvo com échalottes. Nos doces a torta de cenoura com gengibre estava acima da média. A carta de vinhos é puxadota no preço, nalguns casos de forma desproporcionada. O serviço é hesitante, às vezes distraído, mas o local é tão agradável e confortável que o sofrimento é minorado. Tel. 210 480 222


 


BACK TO BASICS – Neste mundo circulam muitas mentiras, mas o pior de tudo é que metade delas são de facto verdades – Winston Churchill

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publicado às 12:17

E os peões, Dr. António Costa?

por falcao, em 12.07.11

(publicado no diário Metro de 12 de Julho)


 


Aqui há umas semanas um artigo que escrevi sobre a forma como a utilização de bicicletas em Lisboa é desproporcionalmente protegida gerou alguns protestos, uma boa parte deles em tom de fanatismo fundamentalista. Sendo os fundamentalistas o que são – a começar pelo vereador José que não faz falta – esclareço já que este texto não lhes é dirigido. É dirigido áqueles que na Câmara Municipal de Lisboa ainda tenham algum bom senso.


 


Nada me move contra a utilização de bicicletas – cada um é livre de pedalar como quiser. O que não me parece muito curial é que pelo facto de pedalar tenham mais direitos que outros.


 


Peguemos no caso dos peões – aposto que o investimento feito em ciclovias é menor do que aquele feito para melhorar a conservação e segurança dos passeios pedonais. Todos sabemos que a nossa linda calçada lisboeta é tão bonita de ver como incómoda, e por vezes perigosa. Podia falar dos passeios que abatem e fazem covas que são autênticas armadilhas, dos passeios que desnivelam e se tornam escorregas de difícil equilíbrio, podia falar das pessoas que vejo cair porque a calçada é escorregadia e muitas vezes é complicado manter o equilíbrio, sobretudo em ruas inclinadas.


 


Sobre estes temas não vejo ninguém levantar-se a pedir mais direitos para os peões. Em vez disso constato que há uma nova ciclovia, na Marquês da Fronteira, que vai da zona do El Corte Ingles até ao Palácio da Justiça, que notoriamente tirou espaço ao passeio pedonal e remeteu os peões para um zigue zague entre candeeiros. Essa pista, onde passo quase todos os dias, e bastantes vezes a pé, é na realidade mais usada por pessoas que fazem corrida do que por bicicletas.


 


Mas quando um ciclista se cruza com um peão numa ciclovia o mais frequente é ouvir, do ciclista, um raspanete, nem sempre muito polido. E já nem falo da forma como circulam, sem cuidado com os peões, como atravessam sinais vermelhos pedalando por cima das passadeiras e ignorando o mundo à sua volta. 

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publicado às 17:22

DUELO - Aquilo a que temos assistido nos últimos meses é a uma guerra entre o dólar e o euro, entre os Estados Unidos e a Europa. Aqui há uns anos a Europa teve a veleidade de atacar a hegemonia do dólar e dos Estados Unidos, por trás de uma construção chamada União Europeia e de uma moeda única decretada e criada com base em economias muito diferentes entre si. O objectivo desta moeda, impulsionada pela França e a Alemanha, velhas inimigas dos Estados Unidos, era chamar para os dois países europeus o controlo de um novo modelo económico internacional, alternativo ao modelo americano e à margem do sistema financeiro norte-americano. A montagem burocrática da conspiração está a falhar porque é isso mesmo: uma montagem burocrática que parte dos egoísmos nacionalistas de Paris e de Berlim. Como qualquer maquinação de burocratas, esta baseia-se num projecto sem rumo, com falta de liderança, ao sabor das conveniências e do equilíbrio do momento. A Europa, solidária e bondosa, de que nos falam os velhos sábios ou os ingénuos, com um misto de saudade e desgosto, era uma lamentável ficção, como hoje se vê. O resultado desta perigosa aventura em que fomos envolvidos está à vista: a Alemanha está de óptima saúde e os países periféricos do sul da Europa estão péssimos.


 


Há quase dois anos que assistimos à contínua forma de actuação das agências de rating americanas e ao desenvolvimento da crise das dívidas soberanas, e a Europa ainda não foi capaz de dar uma resposta, as mais das vezes devido à oposição alemã, e por vezes francesa, em criar mecanismos alternativos e eficazes. Foram os estados, as cidades, organismos públicos até, que durante anos deram força às agências de rating, ao utilizarem então as suas optimistas avaliações, para conseguirem ir aumentando a dívida. Agora queixam-se, com razão aliás, dos seus métodos. É capaz de ser um bocado tarde. As agências de rating olham para os países europeus em crise e têm um argumento difícil de combater – mesmo quando esses países conseguem, com mais impostos, aumentar as receitas, nunca conseguem um ritmo de diminuição da despesa que permita fazer voltar o contador a zeros. Passos Coelho foi sincero quando comparou a avaliação da Moody’s a Portugal a um murro no estômago. O problema é que neste ringue de boxe ninguém consegue pôr as agências de rating em KO técnico.


 


SEMANADA – Na semana passada o então deputado Fernando Nobre não esteve no debate do programa do Governo; na altura fez saber que estava indisposto, febril; segunda feira soube-se que na sexta-feira havia enviado à direcção do PSD carta a anunciar a renúncia ao mandato, ao contrário daquilo a que se havia comprometido antes das eleições; terça-feira soube-se que decidiu renunciar sem sequer ter avisado o grupo parlamentar pelo qual foi eleito; o PSD não teve uma palavra para comentar o assunto.


 


ARCO DA VELHA – Deve estar em alta a procura de estádios de futebol vazios: o de Leiria ficou esta semana à venda pela módica quantia de 63 milhões de euros. Tinha custado 83,2 milhões quando foi construído para o Euro 2004. Assim se foi construindo a dívida…


 


MEMÓRIA – Quando dirigi a equipa que começou a construir a 2:, na RTP, numa tentativa ainda hoje mal compreendida de colaboração entre o serviço público de televisão e a sociedade civil, Maria José Nogueira Pinto, então Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, foi das primeiras que, com gestos e não apenas com palavras, acreditou no projecto, separando de forma franca o essencial, que era a 2:, das várias divergências que tínhamos. Falámos muito sobre a forma como instituições, como a que ela então dirigia, podiam colaborar – e das suas palavras saíram bons conselhos. Gosto de recordar o entusiasmo que ela colocava no que dizia e no que fazia e na abertura que manifestava para além das suas convicções pessoais.


 


LER – Volta e meia a revista francesa «Les Inrockuptibles», vulgo «Les Inrocks», publica umas edições especiais dedicadas a temas da história da cultura popular contemporânea. Em Junho saíu uma destas edições – ainda em banca nas lojas especializadas – dedicada aos 50 anos de rock em Nova York. Na capa estão, triunfantes, os Ramones, em 1995. Lá dentro, repartidos por quatro capítulos, abordam-se as quatro décadas desde 1961, com enfoque nos principais artistas, de Bob Dylan a TV on the Radio, passando por Velvet Undergground, Patti Smith, Talking Heads ou LCD Soundsystem. Muitas histórias de bastidores, muitas boas fotografias, a relação entre estilos e épocas constituem um belo trabalho para guardar. Em brinde um CD com 14 faixas do catálogo da ZE Records nos anos 80 – de Bill Laswell com os Material a Kid Creole, passando por Alan Vega, Arto Lindsay e John Cale. Tudo isto por 12 euros.


 


VER – Pedro Cabrita Reis é um dos maiores artistas plásticos da sua geração - criativo, excessivo, provocador, arrojado, cosmopolita. Além disso é um dos que melhor sabe trabalhar a sua obra enquanto marca - prova disto mesmo são as duas exposições diferentes e complementares, mas simultâneas, com cerca de 700 obras suas, agora inauguradas. Quase quatro centenas, todas desenhos, estão na Fundação Carmona e Costa, no antigo edifício da Bolsa, ao Rego, sob o título «The Whispering Paper». Nesta exposição, em cada uma das salas estão misturadas as diversas fases da sua carreira num aparente caos, cheio de humor, que nos encaminha para coincidências e ajuda a perceber rumos. No Museu Berardo estão cerca de três centenas de peças, pinturas, esculturas e instalações rigorosamente ordenadas por épocas cronológicas e fases criativas. Esta exposição, "One after another, a few silent steps", tem por base uma retrospectiva do artista, que desde 2009 está em itinerância pela Europa, tendo já passado pela Kunsthalle de Hamburgo, na Alemanha, pelo museu Carré d'Art de Nîmes, em França, e pelo museu M de Lovaina, na Bélgica. Em Lisboa há mais peças, duas delas inéditas. As duas exposições mostram a diversidade da sua obra, a constante evolução, a permanente experiência. Pela forma como foram pensadas e executadas, em simultâneo, estas exposições ganham outra dimensão e outra repercussão - e marcam o verão lisboeta. Ambas estarão até aos primeiros dias de Outubro.


 


OUVIR – Gosto muito de ouvir guitarra eléctrica no jazz e um dos mestres deste instrumento é Joe Pass, que alia a imaginação ao virtuosismo, fazendo esquecer, graças ao improviso, que tudo é baseado num superior domínio técnico da guitarra. Nos anos 80 ele gravou pelo menos em duas ocasiões com Ella Fitzgerald, então já com 50 anos, e no auge da sua carreira e das suas capacidades vocais. «Easy Living» é o álbum que resultou dessas gravações e cuja edição original data de 1986 – e que há muito se encontrava esgotado. O programa «Original Jazz Masters Remasters», que a Universal Music tem estado a fazer nos seus diversos selos editoriais, foi buscar este disco à Pablo Records e voltou agora a disponibilizá-lo, numa remasterização de 24 bits. Grande parte dos temas são standards dos anos 30 e 40 e neles está marca da autenticidade de Joe Pass e de Ella Fitzgerald.


 


PROVAR – Perto da porta lateral do Museu Nacional de Arte Antiga, ao fundo do jardim, fica um dos melhores locais para ver o pôr do sol em Lisboa, com uma vista de rio completamente aberta. É um bar, construído com base num cubo de vidro, no terraço de um edifício, e que dá pelo nome de Le Chat Qui Pêche. Oferece cocktails variados, alguns originais, e tem também propostas de refeições rápidas, mas interessantes – destaco os mini-burguers, feitos na chapa, carne de boa qualidade, e cozinhados no ponto, que podem ser acompanhados de vários molhos e recheios à escolha. Também há tostas diversas (uma muito elogiada é a de lombo de porco fumado), saladas e alguns petiscos avulsos. Encerra à segunda-feira e está aberto do meio dia à meia noite, mas às quintas, sextas e sábado a coisa prolonga-se mais um bocado. É o ideal para um copo ao fim da tarde, para um lanche tardio ou para um jantar ligeiro antes de partir para outro destino. Rua das Janelas Verdes, Jardim 9 de Abril, telefone 917797155.


 


BACK TO BASICS – Governar é sempre escolher entre várias desvantagens – Charles De Gaulle


 

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publicado às 17:20

PAGADORES DE PROMESSAS

por falcao, em 05.07.11

(publicado no jornal Metro de 5 de Julho)


 


Vamos levar com mais impostos. Ninguém gosta de uma notícia destas. Já pagamos muito e vamos pagar ainda mais – e o equilíbrio das contas é sempre a razão invocada. Durante anos gastámos demais e durante anos foram-nos sempre aumentando os impostos. Cada vez que nos apetecer protestar contra novas medidas de austeridade é por isso saudável que todos nos lembremos de como aqui chegámos e quem nos trouxe – quem ajudou ao crescimento do Estado, ao romance das grandes obras públicas de utilidade duvidosa, quem fomentou parcerias público-privadas e quem preferiu ignorar a realidade das contas.


 


Sabemos agora que o défice orçamental no primeiro trimestre foi afinal de 7,7%, acima dos 5,9% que constam do memorando de entendimento com a troika e daquilo que em vésperas de deixar o Governo o Ministério das Finanças afirmava. Continuo a achar que os responsáveis políticos devem ser criminalmente responsabilizados pela má gestão da coisa pública – um exemplo nesta matéria seria bem vindo. Mas em vez disso vemos os dois candidatos à liderança do PS a abrigarem-se da chuva e a criticarem um imposto cujo efeito prático é igual a uma medida que Mário Soares tomou ele próprio, há uns anos, em circunstâncias semelhantes. Em política a falta de memória ou a irresponsabilidade devem ser punidas – o PS fez muito mal as contas enquanto governou e pelos vistos não se arrepende do assunto.


 


Temos pela frente um novo imposto extraordinário, que vai permitir arrecadar cerca de 800 milhões de euros – um considerável aumento de receita que vai sair do bolso de todos. Eu gostava muito que este pedido de sacrifício fosse acompanhado de um corte de despesa também significativo. De cada vez que o Governo nos carrega de taxas e impostos, devia apresentar um plano de redução de despesa idêntico, a curto prazo e calendarizado.


 


Este Governo podia dar o exemplo nessa matéria – cortar primeiro e pedir depois. Se isso não começar a acontecer ficamos com a sensação de que o Governo serve para vender ilusões e os contribuintes cá estarão para serem pagadores de promessas.

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publicado às 11:34

...

por falcao, em 04.07.11

PROGRAMA – Um programa de Governo é uma declaração de intenções. O programa apresentado esta semana é uma declaração bem intencionada. Como qualquer programa bem intencionado, o que interessa é ver como as coisas se passarão, nomeadamente em áreas como a justiça, a saúde, a educação e a solidariedade social. A vontade reformista dos dois partidos da coligação é grande e isso, além de bom, é necessário.


 


O facto deste ser um programa de uma coligação é também, como agora já se pode ver claramente, um avanço em relação ao programa isolado de qualquer dos dois partidos do Governo. Por isto mesmo é que as coligações são importantes, e bem melhores que um Governo de maioria absoluta de partido único. O facto de ser um programa negociado entre parceiros de coligação permitiu introduzir algum realismo e pragmatismo, sem tirar clareza de objectivos e sem deixar de definir metas concretas. Mas sobretudo evidenciou que um programa de governo não pode ser entendido como uma cartilha imutável, como uma declaração dogmática de uma qualquer fé.


 


Um programa de Governo, fundamentalmente, não pode ser encarado como um business plan de uma empresa – porque aqui os resultados não são só medidos do ponto de vista dos resultados quantitativos, mas também, e fundamentalmente, dos resultados qualitativos alcançados na vida das pessoas e no país. Mobilizar os portugueses para os maus momentos que aí vêm passa por demonstrar que as medidas duras se destinam a criar condições para podermos, daqui a uns anos, voltar a estar de cabeça erguida e com menos dificuldades. A importância da política de comunicação, verdadeira e constante, nestes tempos difíceis, é enorme. O mundo está cheio de exemplos de boas e más práticas em circunstâncias destas. Esperemos que por aqui o Governo saiba separar o trigo do joio e escolha as boas práticas, sem sorrisos de conveniência, nem mentiras, nem desfasamento da realidade. Disso, já estamos todos fartos.


 


AUDIOVISUAL– O Programa do XIX Governo consagra um capítulo de 275 palavras para a Comunicação Social e a principal novidade é que a privatização de um dos canais da RTP será feita «oportunamente e em modelo a definir face às condições de mercado», o que exclui, aparentemente, um cenário de privatização a curto prazo, que chegou a ser anunciada já para este ano. Para o assunto em causa a dimensão é adequada e o abandono de ideias feitas é louvável.


 


Mais adiante, no Programa de Governo da área da Cultura, é feita uma referência à ligação do cinema ao serviço público e privado de televisão em Portugal. Mas ainda não foi desta que, em vez de se pensar apenas numa redutora política de cinema, se passou a falar de uma necessária política de audiovisual que integre as várias componentes que utilizam imagem em movimento e que são, no mundo contemporâneo, fundamentais para a preservação da Cultura e da língua.


 


SEMANADA – No Domingo Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que Bernardo Bairrão seria Secretário de Estado; na segunda-feira de manhã o indigitado anunciou a sua renúncia aos cargo de Administrador na Media Capital, para assumir um cargo no Governo; na segunda-feira à tarde o seu nome não aparecia na lista oficial dos novos secretários de Estado; na terça-feira o Ministro Miguel Macedo confirmou que o tinha convidado e lamentou que ele não integrasse o elenco do executivo; começaram os rumores de que teria sido excluído por ser contrário à privatização da RTP; na terça-feira à tarde é conhecido o programa do Governo, que não aponta modelo nem datas para a dita privatização.


 


ARCO DA VELHA – O mundo está a mudar: em apenas quinze dias Marcelo Rebelo de Sousa falhou palpites políticos duas vezes seguidas: quando vaticinou como certa a eleição de Fernando Nobre para a presidência da assembleia da República e quando deu como certo Bernardo Bairrão no cargo de Secretário de Estado da Administração Interna. Ficarei sempre na dúvida se foi uma falha ou uma ilusão de óptica.


 


LER – A edição britânica da revista «Wired» está a ficar mais interessante para os europeus que a sua congénere americana. Por um lado aborda temáticas que nos são mais próximas, por outro, mesmo a nível das informações sobre novas tendências ou produtos, tem claramente em conta o mercado europeu. A edição de Julho, que recomendo, tem vários pontos de interesse mas o maior de todos é um levantamento das características e métodos acção que fazem de Steve Jobs um dirigente excepcional. A «Wired» chama a este conjunto de artigos «The Steve Jobs MBA». Os seus autores vêm de diversas áreas, da filosofia à gestão, passando pelo design, a invenção ou o marketing e incluem nomes como Alain de Botton, Richard Seymour, Guy Kawasaki, Tim Wu e Leander Kahey, além de citações do próprio Jobs. São 37 observações que constituem os pontos fulcrais da forma de agir de Jobs ao longo de 12 páginas que incluem ainda um cronograma da evolução da Apple no mundo digital.


 


OUVIR – Bill Evans gravou em 1961 o disco «Explorations», o seu segundo registo sob a designação Bill Evans Trio, que integrava o contrabaixista Scott LaFaro e o baterista Paul Motian – uma formação de uma qualidade superior. Evans tinha 32 anos e tinha ganho reputação como músico de estúdio(por exemplo em «Kind Of Blue», de Miles Davis) e dava os primeiros passos para se afirmar como o intérprete que em pouco tempo se afirmaria como um dos mais talentosos e criativos pianistas de jazz. No ano que antecedeu esta gravação os três músicos trabalharam intensamente e estabeleceram a base do que seria uma nova forma de interagir em trio,  abrindo o campo à improvisação individual, mas mantendo uma sólida base de grupo. La Faro e Motian, eles próprios também músicos geniais, compreendiam exactamente o que Bill Evans pretendia e este disco é um histórico registo de um momento de rara criatividade, em torno de originais de Irving Berlin, Miles Davis e Dizzie Gillespie, entre outros. Para além dos oito temas que constituíam o LP original, este CD, inclui quatro temas extras, dois dos quais permaneciam inéditos até agora, tudo integralmente remasterizado digitalmente a partir das fitas originais. «Explorations», CD Original Jazz Classics Remasters, da Riverside/Universal.


 


VER – A ideia é engraçadíssima  - dar a um conjunto de fotógrafos uma consola de jogos portátil, com capacidade de fazer fotografias a três dimensões e desafiá-los a usarem o brinquedo para mostrarem como é o mundo visto por eles sem ser através de uma máquina fotográfica normal. A ideia foi da Nintendo, que desafiou  cinco fotógrafos profissionais a trocarem as suas máquinas habituais por uma consola Nintendo 3DS. O resultado dos trabalhos feitos por Mário Princípe (Moda), António Luis de Campos (Natureza), José Carlos Carvalho (Família) , Rodrigo Cabrita (Fotojornalismo) e Miguel Barreira (Desporto), podem ser vistos até 10 de Julho no MUDE, na Rua Augusta 24. Em mero dez anos a fotografia deixou de ser um resultado das máquinas fotográficas – que passaram de objectos independentes para funções incorporadas em outros aparelhos, como telemóveis e estas consolas de jogos. Fascinante.


 


PROVAR- No género salgados ao balcão há uma pequena maravilha que é um ex- libris do Chiado e de Lisboa. Falo da pequena empada de vitela da Pastelaria Bénard, na Rua Garrett 104. Por apenas um euro e vinte podem avaliar se estou a exagerar. Não conheço outro salgadinho igual em qualidade e sabor como este. Quanto ao resto, sobre a Bénard, limito-me a reproduzir esta deliciosa história contada por Lourenço Viegas, que já escreveu neste jornal:  «Tinha um amigo que fazia o seguinte número: telefonava a perguntar “não te está a apetecer ir comer um bife à Bénard?”. Era normalmente no Inverno e raramente recuso propostas. Quando lá chegávamos, eu pedia um bife e ele dizia que não queria nada, só uma água das pedras, por favor, mas que me fazia companhia. Ele gostava de ir à Bénard. Não de almoçar na Bénard. Era um sábio.».


 


BACK TO BASICS – O fundamental não é discutir se devemos ter um Governo grande ou um Governo pequeno, mas sim como conseguiremos que governe melhor e com mais inteligência – Barack Obama


 

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publicado às 15:39


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