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O Dr. António Costa, sempre habilidoso em matéria de propaganda, resolveu criar um mural em plena Baixa, na Rua Augusta 24, na parece do MUDE. Na práctica forrou a fachada do edifício de pequenos papéis adesivos – os vulgares post-it. Empoleirado numa espécie de andaime lá foi fotografado a colocar um papelinho na parede. O exercício destina-se, para além de fazer um pouco de propaganda, a recolher ideias para o orçamento participativo da Câmara Municipal, que tem 2,5 milhões de euros para viabilizar propostas para Lisboa. As melhores, na opinião dos propagandistas, entrarão depois na burocracia do costume para fazer de conta que as ideias dos munícipes contam para alguma coisa – enfim, o exercício é tanto mais tristonho quanto se sabe que António Costa e sua equipa gerem a cidade sem se ralar com o conforto e o bem estar de quem cá vive.
A parte mais curiosa desta operação é a utilização dos post-it como instrumento de agitação e propaganda política – criar uma photo opportunity é cada vez mais difícil mas António Costa tem feito sucessivas pós-graduações na matéria, desde que utilizou uma corrida entre um burro e um carro desportivo numa eleição autárquica. Já sabia que realizadores, como Woody Allen, usam post-its para fazer a ordenação das sequências de um filme, mas nunca tinha pensado que podiam servir para enaltecer a imagem de um Presidente da Câmara. Por acaso tenho algumas ideias para Lisboa: Acabem com a EMEL! Internem num manicómio quem teve a ideia das modificações de trânsito no Marquês de Pombal e Avenida da Liberdade! Avaliem a sanidade mental de quem gere os espaços públicos e os transforma em feiras. A lista era longa – dava mais para um muro de lamentações que para outra coisa.
(Publicado no DIÁRIO Metro de dia 29 DE Maio)
PRESSÃO – Saber o que se passou exactamente nas conversas entre Miguel Relvas, a jornalista Maria José Oliveira e a Direcção do Público é daquelas coisas que dificilmente irá acontecer. Mas uma coisa é certa – este caso vem chamar a atenção para o óbvio: não se brinca com a comunicação e não vale a pena ter demasiados à vontades. Como dizia uma amiga minha é sempre bom manter alguma cerimónia. A propósito reproduzo aqui excertos de uma oportuna fábula escrita por Luis Paixão Martins no blogue «Lugares Comuns» (declaração de interesse – também lá escrevo): «No mesmo dia em que o Público enviou email com perguntas a Miguel Relvas, outro jornal enviou email com perguntas ao presidente de uma grande companhia. Este segundo email foi parar ao diretor de Comunicação dessa empresa. Numa análise rápida este concluiu que as perguntas, embora não fizessem sentido porque partiam de pressupostos falsos, reportavam-se a um tema de grande cobertura mediática e que envolvia sensibilidade. Concluiu ainda que precisava de agir com rapidez e cuidado para evitar um problema de reputação para a sua empresa. Contactou a consultora de Comunicação, descreveu o problema e pediu-lhe ajuda para abordar o assunto junto da editoria e da direção do jornal em causa. Uma pequena equipa de assessores de Imprensa dialogou com os jornalistas argumentando sobre a falta de fundamento das perguntas em causa, circunstância que retirava substância a eventuais respostas. Os editores e a direção do jornal decidiram não insistir na obtenção de respostas às tais perguntas que partiam de pressupostos descabidos. E tomaram essa decisão sem sentirem que estavam a ser pressionados pelos assessores de Imprensa – porque estes não têm nenhum tipo de poder junto dos jornalistas(…) Nas 24 horas em que este processo decorreu o presidente da tal grande companhia esteve empenhado na sua atividade central de gestor – e manteve incólume o seu prestígio junto do jornal que o contactou. Para gerir esse prestígio não precisa de dar o número do telemóvel a jornalistas, atender todos os seus telefonemas e tratá-los com intimidade.»
MARCAS – Aviso: o objectivo desta nota é falar do novo filme da Prada. É realizado por Roman Polanski. E é absolutamente exemplar enquanto trabalho em prol de uma grande marca. Já lá vou, mas agora, deixando o cálculo do valor das marcas aos especialistas nas áreas do branding, gostava de abordar a importância da criatividade, da qualidade, da estética e da consistência no posicionamento de uma marca e na manutenção dos seus valores. Uma marca que se queira posicionar nos segmentos superiores do mercado terá que ter critérios nos conteúdos em que investe, na sua embalagem, na forma dos materiais que usa para a sua marca. É como se uma reunião de especialistas em marketing achasse secundário o grafismo dos seus materiais. Se isso acontecesse, como poderiam esses marketeers acompanhar uma marca que se pretende posicionar acima da média e criar uma moda? A discussão é velha como o próprio marketing – comunicar para o máximo denominador comum ou comunicar por forma a criar um posicionamento determinado? O universo das marcas de luxo é rico em ensinamentos nesta área, mesmo na actual conjuntura de crise. É aliás curioso notar que, apesar da crise na Europa e das suspeitas de abrandamento nos países emergentes, se prevê para este ano um aumento de seis a sete por cento no volume de vendas das marcas de luxo. Um estudo recente dos consultores Bain& Company indica que os mercados emergentes já absorvem mais que 30% do volume total dos produtos de luxo, e que a China sozinha é responsável por 20%. Bom, mas voltemos à Prada, que foi onde esta conversa começou. Se forem ao YouTube e pesquisarem «Prada presents A Therapy», vão direitinhos ao filme de três minutos e meio que Roman Polanski realizou para a marca, com actores como Helena Bonham Carter no papel da paciente e Ben Kingsley no papel do psicanalista. O filme, que tem fotografia do português Eduardo Serra, é um exemplo de um conteúdo ficcionado criado para valorizar uma marca e para utilizar a estratégia viral na internet. E tem o mais improvável dos finais.
SEMANADA – A Presidência do Conselho de Ministros celebrou um contrato anual de fornecimento de flores no valor de 18 mil euros; os portugueses trabalham em média 155 dias só para pagar os seus impostos de 2012, mais cinco dias que no ano passado; 300 pessoas por dia deixam de pagar aos bancos os empréstimos que contraíram; cortes levaram a menos 4 mil cirurgias no primeiro trimestre; 26,5% da população activa imigrante está desempregada; a comissão de inquérito ao BPN está a meio do seu prazo de funcionamento e ainda só ouviu duas pessoas de um total de 40 audições previstas; só 43% dos portugueses confiam em instituições políticas.
ARCO DA VELHA – Um quinto do território nacional é de propriedade desconhecida.
VER – Uma frase de August Sander define aquilo que tem guiado a Estação Imagem, em Mora: «deixem-me honestamente dizer a verdade sobre as nossa época e as pessoas». Criada por iniciativa de um grupo de entusiastas, há uns anos, a Estação Imagem teve o apoio da Câmara Municipal de Mora, que lhe facultou uma antiga estação ferroviária como sede. Muito por força de Luis Vasconcelos, um fotojornalista com larga carreira e que nos últimos anos adoptou Mora como sua terra, a Estação Imagem pôs de pé um prémio anual de fotografia que já se tornou numa referência e tem seguido uma linha de persistente divulgação do melhor fotojornalismo. Entre os prémios que atribui está uma bolsa que permite, ao premiado, dedicar-se a um tema, numa forma de aprofundamento do ensaio fotográfico que hoje em dia vai senso raro em Portugal. Desde esta semana, e até 29 de Julho, estão patentes, no torreão Nascente da Cordoaria Nacional, três exposições de fotografia organizadas pela Estação Imagem, em parceria com a Câmara Municipal de Mora: “O PREC já não mora aqui” de João Pina, “Afeganistão”, de João Silva e os vencedores do Prémio de Fotojornalismo 2011 . A exposição das 50 imagens sobre o Afeganistão, de João Silva, o português que ao serviço do New York Times perdeu as duas pernas no rebentamento de uma mina, é um testemunho único do que é o dia a dia em cenário de guerra. As 24 imagens que integram a exposição de João Pina mostram como ele é um dos mais importantes fotojornalistas portugueses contemporâneos, bom representante de uma geração que mostra uma outra forma de ver Portugal. Finalmente as imagens premiadas do Prémio de Fotojornalismo de 2011 são uma mostra do que de melhor se fez por cá e uma oportunidade para perceber a importância das imagens, mesmo fora das páginas dos jornais e das revistas, como testemunhos de um tempo e de uma época. Há muito tempo que Lisboa não tinha uma exposição de fotografia assim.
OUVIR – Jack White, o mesmo dos White Stripes, é um assumido apreciador de blues. «Blunderbuss», o seu álbum de estreia a solo, é um testemunho disso mesmo e, sobretudo, uma oportunidade para ele se revelar como autor de canções mais intímas, Este «Blunderbuss», que para mim é até agora o melhor disco que ouvi este ano, tem canções absolutamente extraordinárias como «Hip (Eponymous) Poor Boy», «Sixteen Salines», «Love Interruption» e o sublime «Take Me With You When You Go». É um disco de histórias, às vezes confessional, tocado com um rigor e uma simplicidade absolutamente exemplares. Não há muitos talentos na música como Jack White e este disco é prova disso mesmo.
FOLHEAR – Como é que uma mulher que morreu há 50 anos consegue continuar a ser capa de revistas? Marilyn Monroe morreu em 5 de agosto de 1962 e é ela que está na capa da Vanity Fair deste mês de Maio. O pretexto é uma série inédita de imagens suas, na derradeira sessão fotográfica que fez com Lawrence Schiller, durante as filmagens de «Something’s Got To Give», em Maio de 52. Muitas destas fotografias apresentam-na quase nua, à vontade perante o então muito novo Schiller. Embora as sequências de imagens sejam extraordinárias o mais delicioso é o relato que o próprio Larry Schiller faz do relacionamento profissional que estabeleceu com Marilyn até à morte da actriz. É um relato do fascínio que ela irradiava à sua volta e uma descrição desses tempos em Hollywood. Imperdível.
GOSTO – Da nova campanha de publicidade da Santa Casa da Misericórdia «Há Mais Em Jogo», que mostra facetas sociais pouco divulgadas da instituição.
NÃO GOSTO – Das alterações propostas ao trânsito na praça Marquês de Pombal e na Avenida da Liberdade.
BACK TO BASICS – «A longo prazo – e às vezes até em relativamente pouco tempo – as mais audazes ideias acabam por se tornarem ridiculamente conservadoras» - Arthur C. Clarke
(Publicado no Jornal de Negócios de 25 de Maio)
Este foi o que se chama um fim de semana intenso em matéria de emoções futebolísticas. Sábado o Chelsea derrotou o Bayern na final da Liga Europa e, no Domingo, o Sporting cedeu a Taça de Portugal à briosa Académica. A derrota dos alemães projetou um sorriso em muita gente.
Vou centrar-me no jogo de Munique – a vitória, sofrida e disputada, do Chelsea fez sorrir muita gente por essa Europa fora. Houve logo quem dissesse que esta era a vitória da Libra contra o Euro, que era uma derrota de Merkel. Por cá muitos torciam pelo Chelsea – que nos últimos anos acolheu vários portugueses.
Mas o momento do dia foi a fotografia tirada na cimeira do G8, em Camp David, nos Estados Unidos, quando os principais líderes internacionais fizeram um intervalo nos seus trabalhos sobre o estado da economia mundial e assistiram à vitória do Chelsea.
Cameron atirou os braços ao ar no momento da vitória; a seu lado Obama sorria com ar satisfeito. Mas o mais curioso da fotografia está em três outras personagens: Merkel de olhos semi-cerrados não escondia a irritação; a seu lado, Durão Barroso estava tenso, com a mão a apertar o encosto da cadeira, a preocupação marcada no seu rosto – talvez estivesse a pensar que no retomar da conversa a senhora Merkel não estaria bem disposta; e, por fim, sentado, François Hollande, também com ar preocupado, coçava o queixo sem dar mostras de grandes alegrias pela vitória britânica, talvez partilhando com Barroso a ideia de que o desenlace do jogo não ajudava a negociar com Merkel – já chegava uma derrota pública da Alemanha, a chanceler ainda cederia menos nas suas posições depois disto. A fotografia é extraordinária pelo que mostra da preocupação face à alemã. O respeitinho é muito bonito e na imagem vê-se bem o efeito Angela Merkel .
(Publicado no diário Metro de 22 de Maio)
HÁBITOS - Segundo o estudo “One Television Year 2011” da EurodataTV / Mediaediametrie, o consumo de TV na Europa, em 2011, foi de 3 horas e 48 minutos por dia , mais 1 minuto que em 2010. Em Portugal, segundo os dados da Marktest Audimetria, o consumo em 2011 foi de 3h39. Analisando os dados produzidos pela CAEM/GFK entre 1 de Março deste ano e até dia 9 de Maio, o tempo médio visto por pessoa é de 4h29 por dia, 26.3% acima da média europeia e quase uma hora a mais que os dados anteriores de Portugal.
Observando os valores de consumo por pessoa dos 40 países europeus reportados pelo EuroDataTV de 2011, Portugal situou-se a meio da tabela, em 23º lugar. Se compararmos com os valores oficiais da CAEM de 2012, Portugal seria o 4º, apenas ultrapassado pela Sérvia com 5h08 a Macedónica 4h48 e a Hungria com 4h46 e com o mesmo consumo que o Azerbaijão.
Este extraordinário consumo tem uma explicação fácil: segundo os dados da CAEM/GFK, no dia 7 de Maio quase 2 milhões de portugueses viram cerca de 8 horas ou mais de TV. Desses, 34 % são ativos e 70% têm menos de 65 anos. Foram 1.392.000 indivíduos com menos de 65 anos a ver 8 ou mais horas de TV. Dia 7 de Maio, foi a segunda feira com maior consumo de TV desde o início da medição da CAEM. Houve mais portugueses a ver TV e durante mais tempo que em qualquer dia útil não feriado, incluindo dia 30, véspera de feriado. Cada espectador viu em média 5:30 de TV, mais do que qualquer dos dias úteis (não feriados), incluindo os de férias escolares, desde 1 de Março. Mais cómico ainda é este dado: (entre 11 e 15 de Maio) observa-se que 8.500 espectadores viram 114 horas de Televisão (ou seja mais de 22 horas por dia), e 236.600 viram mais de metade do período ou seja mais de 60 horas (ou seja mais do que 12 horas por dia). E todos os dias se tem continuado a repetir esta novela…
XADREZ – As presidenciais norte-americanas estão a transformar-se numa impressionante partida de xadrez. Logo que Obama declarou aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o conservador Romney anunciou que admitia a adopção por casais do mesmo sexo, sem no entanto aprovar o seu casamento. Traduzido por miúdos, o resultado podia ser este: Obama move para ligação e Romney responde com adopção. Dois dias depois a edição norte-americana da Newsweek (na Europa a capa é diferente) titulava «The first gay president» debaixo de uma foto de Obama com um halo arco íris à volta da cabeça. E a revista « The New Yorker» dava a sua capa a uma imagem da Casa Branca com as colunas da frontaria pintadas das cores do arco iris que é o símbolo gay. Esta dinâmica dos políticos e dos media norte-americanos é de facto impressionante. Com uma declaração Obama fez o seu adversário vir a terreno e conseguiu duas «cover opportunities», deslocando o debate da crise para os chamados temas fracturantes da sociedade. Muito engraçado de observar este trabalho de comunicação utilizando capas de revistas.
SEMANADA – António José Seguro declarou-se disposto a encabeçar uma manifestação contra Passos Coelho; foram feitas queixas ao Ministério Público para apurar a responsabilidade de inscrições fraudulentas no PS com o objectivo de manipular as eleições internas das distritais ; começou o julgamento do vice presidente da bancada parlamentar do PS, Ricardo Rodrigues, que em 2010 retirou os gravadores de som a jornalistas da revista «Sábado» que o entrevistavam; Portugal caíu quatro posições no Indíce de Assistência Médica Europeu; estamos na sexta quebra trimestral seguida do PIB; os impostos foram responsáveis por mais de metade da subida dos preços no último ano; a taxa de desemprego real em Portugal atingiu 20% no primeiro trimestre; estão a diminuir as esmolas nas igrejas portuguesas;
ARCO DA VELHA – Facebook vale quase duas vezes a bolsa portuguesa
VER – Hoje escolhi o site de uma galeria de fotografia, de Nova York, dedicada à música e ao espectáculo. Chama-se morrisonhotelgallery.com e o destaque vai para uma belíssima exposição dedicada à carreira dos Rolling Stones, que está na galeria e que pode também ser vista on line. No site há uma área de exposições apenas existentes em ambiente virtual, e a que está activa neste momento mostra o trabalho de Terry O’Neal, que durante 30 anos fotografou nomes como Frank Sinatra, Dean Martin e muitos outros. Também em destaque uma viagem fotográfica com imagens raras dos primeiros tempos dos Beatles, ainda antes de terem ganho fama e notoriedade. No site pode fazer-se uma pesquisa de fotografias pelos nomes das bandas ou dos fotógrafos.
OUVIR – O novo disco do canadiano Rufus Wainright está a causar alguma polémica. Fãs do cantor queixam-se de terem sido atraiçoados e há mesmo quem diga que este é o seu pior disco. Será verdade ou há pessoas para quem a diferença é difícil de suportar? Eu inclino-me mais para a segunda hipótese. As mudanças de estilo em música são como as mudanças de paradigma na política: produzem reacções estranhas. Rufus, neste disco, mudou. Deixou de lado alguma faceta demasiado elaborada – e às vezes um pouco gongórica – dos arranjos muito orquestrais, e simplificou. Arrisco-me a dizer que este é o mais pop de todos os seus discos, com inspiração procurada na música soul e nos rhythm’n’blues - às vezes até com toques de gospel. Aqui está um trabalho onde a simplicidade marca a diferença. E eu gosto do resultado em canções como «Sometimes You Need», «Barbara», «Candles», «Jericho» ou «Rashida», do som dos metais, do baixo acentuado, do piano insistente com que o disco termina numa emotiva balada. (CD Decca Universal, inclui DVD com entrevistas, bastidores da gravação e uma versão do tema «Rashida»).
FOLHEAR – A capa da Wired norte-americana de Maio é dedicada a Marc Andreessen, com o título «The Man Who Makes The Future». O nome pode dizer pouco a alguns e é certamente menos popular que o de Bill Gates, Steve Jobs ou Marc Zuckerberg. No entanto Andreessen é considerado pela “Wired”, como o homem que, nas últimas duas décadas, mais fez para mudar a forma como comunicamos. Aos 22 anos ele foi o inventor do Mosaic, o primeiro browser gráfico da internet que permitiu tornar mais fácil e popular a navegação na net. Depois fundou o Netscape e, mantendo o seu espírito visionário, foi pioneiro na “nuvem”, criando o Loudcloud. Mais recentemente, como investidor, esteve ligado ao lançamento de empresas como o Twitter, o Skype, Instagram ou Groupon. A sua história é fantástica, a e a entrevista da Wired é fascinante – na verdade trata-se da primeira da série que a revista vai fazer para assinalar o seu 20º aniversário sobre as grandes figuras que ajudaram a fazer este novo mundo. 20 anos de Wired – nem queria acreditar quando percebi como o tempo passou – ainda me lembro de ver as edições dos primeiros anos.
ROTEIRO – A edição europeia da «Time» de 21 de Maio, com François Hollande na capa, sugere um programa para quem tenha apenas quatro horas para passar em Lisboa. Vou fazer um resumo, já que achei divertido o roteiro. Na primeira hora passar pelo Solar do Vinho do Porto, tomar uma bica na Brasileira do Chiado e apanhar o elétrico 28 (evitando os carteiristas, digo eu) até ao Largo das Portas do Sol e apreciar a vista do miradouro. Na segunda hora entrar numa pastelaria e provar um pastel de nata ou uma queijada; se for terça ou sábado passar pela Feira da Ladra e ir comer bacalhau ou polvo ao Zé da Mouraria (na Rua João do Outeiro), acompanhado por vinho verde (que eles dizem que se bebe como água…). Na terceira hora, já comido e bebido, e depois de comer uma sobremesa e um galão no Pois café (Rua São João da Praça em Alfama), passar pelo Museu do Fado e, a seguir, apanhar um táxi para o Museu do Oriente – classificado como quase tão bom como uma viagem a sério a Goa ou Macau. Na quarta hora ir à LX Factory, entrar na Ler Devagar, avançar até aos Jerónimos e, tendo energia, apanhar o ferryboat para o outro lado do rio, rumo a Cacilhas e ir ao Ponto Final beber um tinto e petiscar pão com queijo. O mais curioso de tudo isto é que aposto que há muitos lisboetas que ainda não conhecem todos os pontos deste roteiro que a “Time” deu a conhecer por toda essa Europa.
GOSTO – As exportações portuguesas vão com um crescimento acumulado de 11%
NÃO GOSTO – O desemprego jovem atingiu 36,2%
BACK TO BASICS – Quanto mais se proíbe uma determinada coisa, mais popular ela se torna – Mark Twain
Parece que uma colher de pau e um tacho são a nova guitarra elétrica. Quando se quer fama, é mais fácil obtê-la ao pé de um fogão do que numa banda rock ou num filme. As novas estrelas da televisão são cozinheiros. Fazem programas sobre eles próprios, sobre os sítios onde vão, concursos que vitimizam desgraçados que também querem ser estrelas. Em geral têm lindas caras, são elegantes, sem aquela barriguinha nascida à volta da bancada da cozinha. Por este andar qualquer dia os paizinhos vão mandar os filhos para cursos de cozinha em vez de os atolarem em lições de piano.
Os cozinheiros que se transformaram em estrelas são o pilar de uma área do entretenimento televisivo que se está a tornar das mais apetecidas no mundo inteiro – de «Master Chef» a «Hell’s Kitchen», passando por canais como «The Food Network». Cozinhar tornou-se numa moda – um maná para concursos e programas de receitas.
Há uma outra categoria – a dos que fazem viagens e vão provando petiscos. Na semana passada a estreia, nos Estados Unidos, do programa de Anthony Bourdain dedicado a Lisboa teve o curioso efeito de colocar os discos dos portugueses Dead Combo no top dos downloads do iTunes. A razão é simples – o «No Reservations» sobre Lisboa tinha banda sonora do grupo e até incluía uma curta conversa com os músicos. Foi o suficiente para os americanos comprarem downloads dos discos – uma prova de que a TV ainda influencia muitos comportamentos e é um grande veículo comercial. O programa, que só será estreado na Europa daqui a algum tempo, já tem sido sobejamente visto no YouTube – o que coloca por sua vez a questão de evidenciar que os programas de televisão são vistos com cada vez maior frequência fora dos ecrãs de TV e nos ecrãs de tablets ou de computadores.
(Publicado na edição de hoje do diário Metro)
MARKETING - Polémicas ideológicas e sociais à parte, nos dias a seguir à campanha de descontos do Pingo Doce do dia 1 de Maio muita gente apareceu a elogiá-la como uma grande acção de marketing. Tentemos fazer um balanço. O que correu bem? – uma enorme afluência de público, uma primeira imagem positiva de auxílio às bolsas mais fracas na situação actual de crise, captação de novos clientes vindos de outras cadeias de distribuição, vendas e facturação acima de todas as previsões (por acaso a coincidirem com o tradicional período de aperto de algumas tesourarias devido à liquidação do IVA). E, o que correu mal? – incidentes graves em muitas lojas, acusações de eventual dumping, diminuição do efeito positivo antes referido devido à forma como a acção veio colocar em agenda a questão do relacionamento das cadeias de distribuição com os seus fornecedores (nomeadamente com os produtores agrícolas nacionais), noticiário negativo sobre a transferência dos descontos para os fornecedores. E o que surgiu de novo? – na prática uma alteração do posicionamento da marca Pingo Doce, de loja de proximidade acolhedora para uma cadeia de hard discount. Avaliados os prós e os contras eu diria que os aspectos negativos, em termos de imagem da empresa e do sector da distribuição, superaram os positivos. E, claro, resta saber se o posicionamento do Pingo Doce foi modificado intencionalmente ou não. Se não foi, o investimento para anular esse desvio será considerável. E é mais um ponto negativo.
DIGITAL - Tudo indica que estamos a assistir a uma mudança acelerada na paisagem digital, tal como a temos conhecido até aqui. Há dois anos a revista «Wired» titulava a sua capa de forma provocatória com a frase «The Web Is Dead». Algumas pessoas não perceberam na altura o que isso queria dizer – mas agora, aos poucos, começamos todos a perceber como a provocação era mais pequena que a previsão. Trocando por miúdos: a utilização da internet, dos sites web tradicionais, está a diminuir e a utilização de aplicações teve um aumento explosivo. Em França, um estudo que analisa o primeiro trimestre deste ano, indica que 63,4% dos sites web viu a sua utilização descer, enquanto as aplicações registavam um aumento de utilização de 57,5% . No ano passado foram descarregadas 10,7 mil milhões de aplicações e a previsão é que em 2015 se atinjam os 183 mil milhões. Nada que espante: este ano estima-se que sejam vendidos 119 milhões de tablets, um aumento de 98% em relação a 2011.Tudo muda muito depressa à nossa volta quando olhamos para o mundo digital. Na semana passada um especialista norte-americano assinalava que 80% do investimento publicitário em digital é aplicado em display, a publicidade que aparece por exemplo nos sites dos jornais; mas, sublinhava, 80% do tempo das pessoas que navegam na net é agora passado nas redes sociais como o Facebook, o Twitter, o Linkedin , o Google + e o Instagram. Esta é a tendência e é incontornável. Por isso é que a colocação em bolsa do Facebook e a compra do Instagram dão que falar. E a facturação do Facebook cresceu 45% noi primeiro trimestre, em relação a igual período do ano passado.
SEMANADA – 49,1% da população portuguesa já utiliza a internet; mais de 300 famílias entram em incumprimento todos os dias e, destas, uma centena deixa de pagar a prestação da casa; estão a abrir duas lojas de ouro por dia; uma em cada cinco grandes empresas portuguesas tem dívidas em atraso à banca; 1437 alunos universitários pediram empréstimos no valor total de 17 milhões de euros para financiarem os seus estudos; Guimarães Capital da Cultura está sem verbas e vai recorrer à banca para conseguir manter a programação; empresas angolanas reforçaram esta semana as suas posições accionistas no BPI e na ZON; nas eleições francesas a abstenção teve o valor mais baixo dos últimos anos; o tratado de Roma foi assinado há 55 anos, o Tratado de Lisboa foi assinado em 2009 e a Europa está num pantanal.
ARCO DA VELHA – Mário Soares apelou a que o PS rompesse o acordo com a Troika; no mesmo dia Carlos Zorrinho sublinhou que o PS não se desvincularia do acordo. O líder da coligação grega de extrema-esquerda Syriza disse que só participaria num executivo se for rasgado o acordo com a troika.
VER – A Carbono é uma loja de discos, especializada nas edições em vinyl, e que fica no nº 6 da Rua do Telhal, perto da avenida da Liberdade. É um espaço com uma dimensão simpática e promoveu agora uma exposição baseada em capas de LP’s intitulada «Descubra as Diferenças». A exposição fica patente até Agosto e baseia-se na comparação entre capas semelhantes, partindo do princípio que qualquer obra parte sempre de influências e referências. Por exemplo a capa de London Calling dos Clash é claramente inspirada pela capa do primeiro LP de Elvis Presley; os Pearl Jam inspiraram-se uma vez num single dos Jackson 5, os portugueses Tédio Boys seguiram o EP «She Loves You» dos Beatles. Ao todo são 200 capas de discos em exposição que mostram semelhanças, homenagens, referências. Se gosta de discos de vinyl esta é uma boa oportunidade para conjugar uma visita a uma exposição invulgar com a descoberta de uma loja única.
OUVIR – Walter Benjamim foi um crítico literário, ensaísta e filósofo alemão que viveu no início do século XX. É também o nome escolhido pelo português Luís Nunes, que a partir de Londres, onde vive, criou «The Imaginary Life Of Rosemary And Me», um CD surpreendente, com oito canções simples, onde se misturam referências folk, sonoridades que lembram ás vezes Eels, outras vezes Lambchop ou ainda o lirismo de Mazzy Star. Mas não se pense que este é um disco de cópias – é um disco de belas canções pop, como poucos portugueses dos últimos anos. Destaque para «Mary», «Airports And Broken Hearts», «Twenty Four» ou «Our Imaginary House», uma delícia que reza assim: ‘«Our imaginary house/has your paintings on the walls/ and my songs under the doors/you may come in if you like/and be happy for a while/or you may move in next door».
FOLHEAR – Volta e meia gosto de comprar a revista semanal francesa «Les Inrockuptibles». Não se deixem enganar pelo título – há muito mais coisas lá dentro do que rock – cinema, tendências, literatura, exposições, séries de Tv, sociedade, política. Por exemplo uma bela reportagem sobre os efeitos da campanha porta a porta que os estrategas de Hollande decidiram fazer logo a seguir à primeira volta – quase quatro milhões de casas receberam um contacto da campanha e o efeito eleitoral deve ter rondado os 200.000 votos, sobretudo nos abstencionistas. Aqui está uma coisa para fazer pensar os nossos especialistas em marketing político. A revista tinha também um dossier sobre os negócios entre Sarkozy e Kadhafi e uma reportagem sobre o que resta da Al-Qaeda um ano depois da morte de Bem Laden. Aqui está uma coisa para fazer pensar os nossos especialistas em marketing político. Mas a música tem sempre o seu espaço - a edição da semana passada tinha na capa a cantora Beth Ditto, dos Gossip a propósito do seu novo disco. E, como acontece com alguma regularidade, a revista inclui um CD amostra com 15 faixas de outros tantos lançamentos recentes, entre os quais os novos dos Citizens, dos Dandy Warhols, The Temper Trap ou de Patti Smith.
PROVAR – Em tempos idos o AdLib foi uma das discotecas que marcaram a noite lisboeta. Ficava situada no último andar do prédio que hoje acolhe o Guilty e o Sushi Café Avenida. Há vários anos o espaço fechou e pouco tempo depois o Hotel Sofitel, na Avenida da Liberdade resolveu ir buscar a designação Ad Lib para o seu restaurante. Tem feito o seu percurso e está nas mãos do chefe Daniel Schlaipfer, que tem origem alemã. As suas propostas são interessantes e tão invulgares como um belíssimo filete de dourada ao vapor com couscous e espuma de caril, que é uma das estrelas da lista. Outra boa referência é o risotto do mar com camarão, polvo e ameijoas. Ao almoço há um menu executivo a 20 euros, com novidades semanais e que inclui uma entrada, o prato do dia e uma sobremesa. Avenida da Liberdade 127, telef 213 228 350.
GOSTO – Da utilização de cortiça portuguesa para a construção do pavilhão de verão da galeria Serpentiner, em Londres, durante os Jogos Olímpicos.
NÃO GOSTO – Da forma como Vitor Gaspar vai abrindo excepções aos cortes salariais em 2011
BACK TO BASICS – A lógica consegue fazer-nos ir do ponto A ao ponto B; a imaginação leva-nos a qualquer lado – Albert Einstein
(Publicado no Jornal de Negócios de 11 de Maio)
Os defensores do novo sistema de medição de audiências têm tendência a dizer que a situação atual é melhor que a que existia anteriormente. Esquecem-se de dizer que o sistema anterior estava tecnologicamente desatualizado face às modificações ocorridas nos últimos anos no sistema de distribuição do sinal de TV, esquecem-se de dizer que todas as partes sabiam disso e que, por isso mesmo, se avançou para uma nova solução. Mas será o novo sistema melhor? Ao fim de dois meses de efetiva entrega de dados pela GFK continuam muitas perguntas por responder, há atrasos nos dados( ainda na semana passada), há um aumento artificial do consumo de televisão porque não estão a ser convenientemente aplicadas as regras que a indústria aprovou, existe um segmento, designado por «Outros», cujo conteúdo é objetivamente desconhecido e que na semana passada, a nível nacional, se fosse um canal, teria sido o terceiro mais visto, com 13,2% de share, à frente da RTP. Enfim, se isto é melhor, já nem sei o que seria se o sistema estivesse pior…
(Publicado na edição de 11 de Maio do Correio TV)
Não sou muito dado a revivalismos, mas na sexta-feira fui ver o concerto quer assinalava os 30 anos da Sétima Legião, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Foi uma noite extraordinária – de músicas, memórias, sensações.
Nascidos em 1982 os Sétima Legião foram um dos primeiros grupos a projetar uma imagem de Portugal, feita de orgulho no passado e esperança no futuro. É engraçado recordar o que se passava nessa época. Em 1982 Ramalho Eanes era Presidente da República, Pinto Balsemão era primeiro-ministro. Em Portugal aprovava-se a primeira revisão constitucional e realizou-se a primeira greve geral depois do 25 de Abril de 1974. O ano acabou com a queda do Governo Balsemão.
Na música foi o ano de «Thriller» de Michael Jackson, do primeiro single de Madonna e do nascimento de uma banda que havia de dar muito que falar – The Smiths. Nos Estados Unidos a Apple tornou-se na primeira empresa de computadores pessoais a ultrapassar a barreira dos mil milhões de dólares de facturação num só ano.
Na noite de sexta-feira passada dei comigo, no Coliseu, a pensar em como tudo isto se tinha passado. Nessa altura eu escrevia no «Som 80», um suplemento do diário «Portugal Hoje», que deixou de se publicar em Julho desse ano; ainda nesse ano participei na fundação da Agência Notícias de Portugal e o «Blitz» nasceria dois anos depois, em 1984. Foi uma das épocas em que estive mais ligado à música que se fazia e à vibração dos dias, agitados, da política, que noticiava na Agência.
Recordei-me de tudo isto sexta-feira, de cada vez que Pedro Oliveira e os seus companheiros da Sétima Legião me fizerem recordar: «Tem mil anos uma história/ de viver a navegar/ há mil anos de memórias a contar».
(Publicado no diário Metro de 8 de Maio)
COMUNICAÇÃO – O universo dos Media continua agitado em Portugal. A circulação global dos jornais continua a descer, o investimento publicitário no conjunto dos media tradicionais continua a reduzir-se, os próprios canais generalistas estão a captar menos publicidade. Alguns dos grupos de media mais antigos apresentam resultados preocupantes e existe a sensação de que até ao fim do ano ocorrerão alterações consideráveis na organização de todo o sector. Operações como a anunciada privatização de um canal da RTP vão desempenhar um papel importante nesta reorganização. Muito provavelmente vão surgir novos grupos de comunicação, pode haver consolidação de outros, não está afastada a possibilidade de fusões. É certo que vários grupos procuram novos investidores e que há vários investidores, lusófonos, que querem tomar ou reforçar posição em Portugal. Até ao fim do ano alguma coisa vai mudar e a nova realidade que iremos ter pela frente vai ser diferente da que temos hoje. Tudo isto obriga a pensar, a elaborar novas estratégias. E abre também novas oportunidades.
INOVAÇÃO – Felizmente algumas entidades começam a falar da importância que a inovação tem no desenvolvimento do país. Um dos melhores exemplos recentes de inovação é o Meo Kanal – a ferramenta desenvolvida pela equipa do Sapo e que permite que os clientes Meo criem os seus próprios canais de televisão, de uma forma simples. Como sempre acontece, por detrás da simplicidade da utilização está uma investigação complexa e um trabalho que demorou um pouco mais de um ano desde que a ideia surgiu até ser apresentada. A solução do Meo Kanal é única no mundo e é uma verdadeira inovação - as possibilidades de comunicação que apresenta são numerosas. Apresentado no início de Fevereiro, o Meo Kanal já tem cerca de 14.000 canais criados – desde canais pessoais e familiares, até experiências de jornais e rádios locais ou mesmo mini séries de ficção feitas por crianças. Entre os clientes Meo, a audiência total do conjunto dos canais Meo Kanal já criados está frequentemente no top ten dos hábitos dos espectadores. Algumas universidades agarraram logo a ideia e utilizam o Meo Kanal como uma extensão da sua actividade, algumas empresas aproveitam também já a plataforma para comunicação interna ou formação. E muita gente cria o seu canal para brincar à televisão. Na realidade esta ferramenta possibilita que cada um seja director de programas do seu próprio canal – esta é a adaptação aos tempos actuais dos jornais policopiados ou das rádios caseiras gravadas em fita magnética de há décadas atrás. Bem mais recentemente os blogues permitiram criar espaços individuais – mas a tecnologia do Meo Kanal vai mais além pela capacidade que tem de mostrar as imagens, organizá-las e fazer a sua emissão, de forma privada ou pública. Esta é uma nova forma de comunicação e no tempo das redes sociais é um avanço na utilização da televisão como pólo de ligação entre as pessoas. É um enorme passo e, para a PT, que deu luz verde ao avanço do projecto e que o está a suportar, é mais um argumento para a sua afirmação internacional e para o seu posicionamento. Inovação é isto: imaginar, fazer, concretizar e utilizar.
SEMANADA – Mais de 800 farmácias têm os fornecimentos de medicamentos suspensos por falta de pagamentos; a taxa de desemprego ultrapassou os 15%; o número de licenciados no desemprego aumentou 40% no último ano; as multas aplicadas entre 2008 e 2011 por violação da Lei do Tabaco totalizaram milhão e meio de euros; nos tribunais há 1,7 milhões de processos pendentes, o dobro dos que existiam há 15 anos; a bolsa de Lisboa afundou quase 6% em Abril; as vendas dos jornais generalistas caíram 4% nos dois primeiros meses do ano; José Sá Fernandes foi condenado pelo Tribunal da Relação de Lisboa pelo crime de gravação ilícita de uma conversa em 2006 com um dos responsáveis da Bragaparques.
ARCO DA VELHA – Só na zona de Lisboa a acção de promoção do Pingo Doce no dia 1 de Maio provocou 32 ocorrências com intervenção da PSP nas diversas lojas; no Porto um casal foi violentamente agredido na disputa por um carrinho de compras; em Viseu o gerente da loja Pingo Doce sentiu-se mal devido ao caos na loja e teve de ser hospitalizado.
VER – Esta semana dedico atenção à fotografia. Começo pela mostra de 57 imagens do World Press Photo, que está no Museu da Electricidade, em Lisboa. Sugiro, a quem está no Porto, a exposição «Cultura Magra», de Paulo Alegria, que o Centro Português de Fotografia e a Estação Imagem de Mora apresentam no edifício da Cadeia da Relação. A terminar o Arquivo Municipal de Fotografia, de Lisboa, na Rua da Palma 246, tem uma curiosa exposição de Mariana Gomes Gonçalves sobre o universo familiar e, sobretudo, outra, notável, de Isabel Nery e Marcos Borga intitulada «Vida Interrompida» e que, na palavra dos autores, é um trabalho sobre a vivência da hospitalização e uma reportagem sobre a vulnerabilidade humana, inicialmente pensada como uma reportagem para a revista «Visão».
OUVIR – Ahmad Jamal é um dos pianistas de referência do jazz e aos 81 anos continua a ter a capacidade de surpreender. O seu novo álbum, «Blue Moon», foi gravado no final do ano passado em Nova Iorque e além de vários temas do próprio Jamal inclui alguns clássicos, desde logo o «Blue Moon» que dá nome ao álbum, mas também «Gipsy» ou «Invitation» ou ainda «Laura», todos com arranjos surpreendentes – desde a marcação da percussão e bateria até à própria forma inesperada como Ahmad Jamal improvisa. Um disco apaixonante. (CD Jazz Village, na Amazon)
FOLHEAR – A capa da edição de Maio da «Monocle» é dedicada ao crescente negócio que existe no Japão em torno dos cães– desde a criação e venda dos bichos, até aos profissionais que os passeiam, os cabeleireiros que os tratam, os fotógrafos que os mostram, os cozinheiros que lhes fazem ementas ou os designers que lhes criam acessórios. É um mundo cão – mas existe, está próspero e insensível a crises. Outros pontos de interesse são um excelente guia de viagem à Tailândia, um artigo sobre o papel do Goethe Institut e uma reportagem sobre a revista «Paris Match». E, claro, esta é a edição em que está o especial sobre design, um directório de 32 páginas com o que de melhor há a assinalar nesta área. Bem sei que é publicidade mas as duas páginas que a Espanha publica regularmente na «Monocle» sob o título «I Need Spain», e que mostram exemplos de talento e criatividade, são um exemplo de boa comunicação na construção da imagem de marca de um país. Para completar a cidade de Madrid publica também nesta edição uma página de publicidade sobre algumas das próximas exposições que podem ser vistas na cidade – a Arte de Piranesi, uma mostra das obras dos últimos anos de vida de Raphael, outra de Edward Hopper e a Photo Espanã, que começa no fim de Maio. Nem faço comparações. Para salvar a honra da pátria está uma nota sobre Luis Mendonça, um ilustrador de obras infantis que a partir do Porto tem ganho já fama internacional – podem ver o seu trabalho em gemeoluis.com.
PROVAR – Sou assumidamente fã de sanduíches e ao contrário do que se pode pensar não é muito fácil encontrar bons exemplares desta raça em Lisboa. Melhor dizendo, não era – porque desde há uns meses abriu uma padaria Eric Kayser no Amoreiras Plaza e a coisa mudou de figura. Aconselhado por voz amiga, lá fui um dia destes e gostei do que vi e do que provei. A oferta é variável, mas uma coisa é constante – a qualidade do pão . Em matéria de sanduíches, a escolha é ampla, com várias possibilidades, desde o saucisson francês até queijos igualmente franceses, tudo bem servido e acompanhados por folhas de alface fresca, rodelas de tomate ou outros legumes. O pão é estaladiço e saboroso, o recheio não é transparente nem insuficiente. O resultado final é acima da média. O croissant da casa já ganhou fama, o pão com chouriço merece elogio e aos sábados e domingos há brunch que por nove euros traz o suficiente para aconchegar os estômagos.
GOSTO – O restaurante Vila Joya, dirigido pelo chef Dieter Koschina entrou para a lista dos 50 melhores restaurantes do mundo.
NÃO GOSTO – A autarquia de Lisboa demora 96 dias a pagar a fornecedores, mas a do Porto só demora 16 dias.
BACK TO BASICS – Quando não se sabe onde se quer ir, qualquer estrada serve – Lewis Carroll
(Publicado no Jornal de Negócios de 4 de Maio)
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