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UM EPISÓDIO DE ABUSO

por falcao, em 30.10.12

Aqui há umas semanas recebi uma notificação, oriunda de um departamento do DIAP,  para ser testemunha num processo, que é identificado apenas por uma referência numérica e não tem nenhuma indicação nem sobre os envolvidos nem sobre o assunto em causa. Enviei, no próprio dia que recebi a carta, por email, para o endereço eletrónico apontado na notificação, um pedido de informação que permitisse esclarecer minimamente ao que ía. Passadas duas semanas recebi, paradoxalmente por correio tradicional e não por email, uma nova carta, com uma fotocópia anexada, que reproduzia um despacho, de assinatura ilegível e sem referência à qualidade de quem proferia o dito despacho, que dizia isto: “Informo que o requerente assume a qualidade de testemunha e no momento da inquirição será informado dos factos em investigação”.

 

Parece uma anedota, parece um absurdo, mas na realidade é um exemplo do triste estado do funcionamento da nossa justiça e do total desprezo pelos cidadãos. Eu tenho o direito de ser informado ao que vou sem ser por um despacho absurdo como este. E o pior é que nem sei quem foi o responsável por isto – porque se esconde atrás de uma fotocópia sem assinatura ou cargo legível.

 

Isto é o abuso do Estado e o absurdo da Justiça, tudo em simultâneo. Indicam-me uma hora e um dia em que tenho de me deslocar, sob ameaça de multa e outras punições, e não me explicam minimamente o que pretendem de mim. Quem emite a notificação julga-se dono de um poder absoluto, isento de dar explicações e senhor do destino dos outros. Tem funcionários ao seu serviço que fazem fotocópias e enviam cartas por correio, em vez de ser o próprio a responder a um mail. É neste momento que temos a certeza de que falta fazer muito em matéria de reforma do Estado – e, já agora, de reforma da Justiça.

 

(Publicado na edição do Metro de dia 30 de Outubro) 

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publicado às 18:19

PROVOCAÇÕES - Vítor Gaspar notoriamente é um homem informado, atento e estudioso; e é igualmente teimoso, insistente e orgulhoso. Todos sabemos como se tem enganado nas previsões (até as agências de rating o fizeram notar), como insiste em receitas rígidas e como nunca vê nem ouve o que não lhe interessa. A teimosia em demasia é muitas vezes confundida com estupidez; no caso de Vitor Gaspar, a teimosia parece ser também uma forma de provocação. Escolhe as palavras que ficam na memória, como o célebre “enorme aumento”. Conhece o peso político das palavras e frases que utiliza em momentos mediatizados. É o maior especialista em sound-bytes deste Governo. Nas últimas semanas fez, com uma regularidade espantosa, sucessivas provocações, sempre com o ar mais tranquilo do mundo – ao parceiro da coligação, ao Parlamento, a colegas seus Ministros. Até a declaração sobre a nota de Cavaco Silva no Facebook tem um travo incontornável de humor negro. Eu acho que o homem é um exímio provocador que tem prazer em pisar o risco com as palavras – vê-se- lhe isso nos olhos, na expressão. Ao princípio ainda se dizia que Gaspar era politicamente ingénuo; agora já se percebeu que é intencionalmente provocador. Por exemplo, esta semana anunciou que os portugueses querem mais do Estado do que os impostos que pagam, mas esqueceu-se de referir que o Estado é especialista em tirar aos contribuintes aquilo que eles já pagaram – nas reformas e pensões, para as quais descontaram durante a sua vida profissional. Já se sabe que o Estado não é pessoa de bem – e nessa matéria fica muito bem representado por Vitor Gaspar. Os burocratas, como cada vez mais se constata, acham sempre que baixar na despesa é difícil e que só se pode mexer nos apoios sociais – nem pensar em reduzir o peso do Estado já que é a sua enorme dimensão que garante o poder dos burocratas. Mas o mais aflitivo no Governo, e creio que o problema começa em Vitor Gaspar porque faz parte do seu perfil provocador, é o desprezo pela negociação – internamente e com a Comissão Europeia. Vitor Gaspar saberá o que é negociar? Terá ideia de que há outros países que têm conseguido negociar – nos prazos, nos juros, nos apoios, na flexibilização de algumas metas e que mesmo assim têm continuado abrangidos pelos auxílios da Troika? Mais valia Vitor Gaspar dizer que não gosta - ou não sabe – negociar e que prefere provocar. Negociar obriga a alterar modelos e dogmas – e provocar, não. Já me ocorreu que pode ser que Vitor Gaspar não saiba negociar ou que se incomode a pedir descontos. No dia a dia pedir descontos e ajustes faz parte da negociação. Eu gostava de ter um Governo que negociasse, em vez de ter um Governo que obedecesse. Preferia um Governo flexível, inteligente e hábil a um Governo marrão, inflexível e sem raciocínio.

 

COLIGAÇÃO - Nestas últimas semanas tenho estado inquieto com as pessoas que integram um Conselho de Coordenação da Coligação. Será que estão acamados e não têm podido agir, trabalhar, enfim, coordenar? Desde que esse Conselho foi criado há notícia de uma reunião inócua – aquilo a que se chama uma photo opportunity. Mas o Conselho conseguiu a proeza de passar invisível sobre toda novela orçamental, com as medidas anunciadas e retiradas, com os cortes e contra-cortes, com declarações públicas contraditórias de dirigentes e o rol de descoordenação a que se tem podido assistir nos últimos dias. Tenho uma ideia para esclarecer este assunto: de facto a Coligação já é apenas virtual, uma espécie de holograma político, e por isso nem faz sentido coordená-la.

 

SEMANADA – Um espião do SIS foi apanhado numa rede de lavagem de dinheiro; agências de rating duvidam dos números do orçamento de Vitor Gaspar; a receita com impostos recuou 4,7% entre Janeiro e Setembro; a contribuição per capita do IRS subiu 54% em dez anos; no final de Junho as contas da segurança social registaram o primeiro défice desde 2002; a dívida pública continua a crescer e aproxima-se dos 200 mil milhões de euros; o número de famílias que pediu insolvência aumentou 500% entre 2007 e este ano; mais de 200 famílias de guardas da GNR pediram insolvência; o número de portugueses que emigram deverá ultrapassar os 100 mil este ano; No espaço de dois dias o Governo cortou o subsídio mínimo de desemprego e depois recuou no corte; a receita com impostos recuou quase 4,7% entre Janeiro e Setembro, cerca de 1240 milhões de euros; o Banco de Portugal investiu mais de 40 milhões de euros em obras na sua sede, incluindo a criação do Museu do Dinheiro; uma manifestação contra o FMI em Lisboa registou mais polícias do que manifestantes junto aos escritórios da representação daquele organismo;

 

ARCO DA VELHA – Eis o regresso aos mercados: a banca portuguesa cortou o financiamento às empresas em 6,8 mil milhões de euros este ano, mas investiu, no mesmo período, 7,4 mil milhões em dívida pública. Como dizia o outro, o dinheiro não chega para tudo…

 

VER – Três sugestões esta semana: a primeira é uma visita à Carpe Diem (Rua Do Século 79) onde gostei especialmente de ver os desenhos “Lar Doce Lar…” de Cristina Ataíde, o vídeo “Cruzada” de Cinthia Marcelle, a instalação “Variações da Fé” de Hélène Vieira Gomes e Carlos Gomese a “Pintura Descolada” de Rosana Ricalde e Filipoe Barbosa; a segunda é a exposição de Maria Beatriz que assinala os 25 anos da Galeria Ratton (Rua da Academia das Ci~encias 2C), e que recolhe obras do final dos anos 70 e princípio dos anos 80 – desenhos e um belíssimo painel de azulejos – sob o título genérico “Um Lugar À Mesa”; finalmente até Domingo não percam a oportunidade de ver a exposição Blind Date, inserida na Lisbon Week, e que permite também descobrir o espaço, supreendente, da Biblioteca dos Paulistas - Igreja de Santa Catarina - Calçada do Combro, 82 - além de proporcionar um jogo de adivinhas sobre quem é o autor de cada obra exposta, todas do mesmo formato, mas não identificadas.

 

OUVIR – A carreira discográfica de Tori Amos começou há 20 anos com “Little Earthquakes”, na altura um disco surpreendente. Depois de incursões em várias áreas, da electronica à dança e até, pontualmente, ao hip-hop, Tori Amos como que fecha um círculo com “Gold Dust”, o seu novo álbum, agora editado pela Deutsch Grammophon – é uma revisitação de 14 temas feitos ao longo da sua carreira, provenientes de 10 dos seus 12 discos, aqui com novos arranjos e com o acompanhamento da holandesa Metropole Orchestra. Este não é um “best of”, no sentido que não são as canções mais conhecidas de Amos que ela escolheu – mas aquelas que por alguma razão são mais autobiográficas ou marcantes do seu ponto de vista pessoal. Na realidade este é um belíssimo cartão de visita para quem quiser conhecer ou revisitar a obra de Tori Amos.

 

FOLHEAR – Já aqui tenho dito que sou fã e colecionador do “Próximo Futuro”, um jornal editado pelo programa, do mesmo nome, criado pela Fundação Gulbenkian. A edição agora distribuída (nº11, Outubro/Novembro) – e que pode ser recolhida gratuitamente na Fundação e numa série de locais em Lisboa – tem um excelente artigo de António Pinto Ribeiro (que é o programador da iniciativa) intitulado “O Choque Civilizacional É No Interior De Cada País”, um bom portfolio fotográfico de Adonis Flores, uma ilustração com o traço inconfundível de Pedro Zamith e uma série de poemas de Fairdooz Tamini. Mais informações em www.proximofuturo.gulbenkian.pt.

 

PROVAR – Aqui e ali começam a ser reinventadas as padarias – que além de venderem pão, proporcionam pequenas refeições. Uma das mais recentes é “ O Pão Nosso”, que fica na Rua Marquês Sá da Bandeira 46B, perto da Fundação Gulbenkian. Lá provei um destes dias uma belíssima e tradicional tiborna de presunto e uma broa de mel que me trouxe sabores da infância. Na mesma ocasião levei para casa uns belos bagels, e fiquei com olho num bolo levedo, na broa de milho e na broa de avintes. Muito território a explorar. Mais informações e www.opaonosso.pt.

 

GOSTO – Da iniciativa de Zeinal Bava, na PT, que vai trazer a Portugal alguns dos maiores investidores mundiais para lhes apresentar soluções tecnológicas portuguesas.

 

NÃO GOSTO – De saber que a EMEL remunera os seus fiscais em função da quantidade de multas passadas.

 

BACK TO BASICS – Em Portugal a emigração não é a transbordação de uma população que sobra, mas a fuga de uma população que sofre” – Eça de Queiroz.

 

(Publicado no Jornal de Negócios de dia 26 de Outubro)

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publicado às 12:14

A PRODUTIVIDADE DAS MULTAS

por falcao, em 23.10.12

Por estes dias ficámos a saber que os fiscais da EMEL ganham à multa. A administração da empresa chama-lhe incentivos à produtividade e elogia o bom desempenho dos funcionários que conseguem melhores resultados. Ora acontece que o bom desempenho dos funcionários da EMEL não se verifica na diminuição de carros estacionados em segunda fila nem em outras anomalias que prejudicam de facto a circulação. É sabido que há locais em que os funcionários estão praticamente escondidos à espera que algum incauto se coloque em posição de ser multado – ou porque foi trocar dinheiro, ou porque parou numa situação de urgência ou alguns outros motivos relevantes. Estes zelosos funcionários são pepe rápidos – aparecem, multam e fogem do local para não terem que ouvir os protestos dos cidadãos.

O problema é que a missão da EMEL evoluiu de um regulador do estacionamento para uma empresa caçadora de multas – não lhe interessando grande coisa resolver os problemas mas sim aumentar as receitas das coimas.

Era curioso que a EMEL disponibilizasse uma tipologia de multas aplicadas: quantas correspondem a segunda fila; quantas correspondem a estacionamento em zonas proibidas; quantos correspondem a ausência de ticket de parqueamento e quantas correspondem a estacionamento para além do tempo pago. A resposta a estas questões permitiria avaliar a natureza do serviço prestado pela EMEL. E já agora, qual o tempo médio de resposta a pedidos de desbloqueamentos – para se avaliar se é proporcional ao tempo que demora a bloquear.

A escandaleira é tal que até o atual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa veio recentemente admitir que havia muita coisa no funcionamento da empresa que o preocupava. Talvez pudesse, em ações, ser coerente com o que diz. Nós, lisboetas, agradecíamos.


(Publicado no Metro de 23 de Outubro)

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publicado às 10:54

O NOVO RITMO DO TEMPO

por falcao, em 16.10.12

O mundo agora anda muito depressa. Tudo muda mais rápido que há uns anos. Vou dar um exemplo: no passado dia 5 de Outubro o Presidente da República tinha duas preocupações: fazer as celebrações da implantação da República à porta fechada; e evitar falar da situação do país. Escolheu falar da educação, louvando as suas qualidades. Fugiu assim de temas mais abrangentes e prementes, como a austeridade e os impostos.

 

No entanto, apenas poucos dias depois, de repente, no fim-de-semana passado, resolveu colocar no seu Facebook, o local onde passou a fazer as declarações verdadeiramente importantes, uma crítica à forma como a austeridade e  a política fiscal do Governo têm sido conduzidas.

 

Sabendo-se que Jorge Sampaio ía falar do assunto numa entrevista à SIC Notícias, onde iria abordar o tema da austeridade e dos impostos, restam duas possibilidades: ou combinaram ambos ter um discurso sincronizado, ou Cavaco – que já tinha ouvido palavras críticas em relação à situação, vindas de Ramalho Eanes e Mário Soares – resolveu alinhar no discurso para não estragar a festa – e para não parecer ser o único que não entendia a gravidade da situação.

 

Este modernismo facebookiano de Cavaco Silva é coisa recente – por exemplo no tempo que que tolerou que Sócrates fizesse as malfeitorias que se conhecem, nunca o Presidente da República deu pública nota de estar atento e vigilante. É certo que nessa época estava mais preocupado em não fazer nada que pudesse prejudicar a sua reeleição.

 

Aqueles que se habituaram à velocidade de resposta e evolução na internet e nas redes sociais olham com desconfiança para políticos que não reagem e – como Edson Athayde fazia bem notar esta semana – não entendem ciclos de tempo tão longos como legislaturas de quatro anos. Dá que pensar.

 

(Publicado no Metro de 16 de Outubro)

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publicado às 17:25

AS IMAGENS DE GASPAR

por falcao, em 12.10.12

RETRATOS - Esta semana fiquei impressionado com duas fotografias de Vítor Gaspar: a primeira, na conferência de imprensa, do enorme aumento de impostos, de olhar alucinado; na segunda, no Eurogrupo, de sorriso satisfeito e matreiro, entre os seus pares. As duas imagens são o retrato perturbante de um homem que se tem enganado em todas as suas previsões, que tem falhado a maioria dos objectivos que estabeleceu para justificar as medidas que tomou, e que até agora nunca teve a capacidade de reconhecer que se enganou. Passei a semana à espera que ele dissesse que tinha errado, que algures se tinha enganado. Nada. Não justifica sequer porque é que calculou tão mal o efeito das medidas que tomou, sem restrições – note-se -  no decurso do último ano. Até o FMI já veio dizer que calculou mal o impacto da austeridade e mesmo Catroga veio distanciar-se das novas medidas fiscais anunciadas. E para onde vai todo o dinheiro dos impostos? De tudo o que é colectado, nada vai para pagar a dívida, mas no Governo não se fala disto. Continuamos, como se sabe, a acumular défices. Continua a ser tudo para o Estado gastar e mesmo assim não chega. Todo o esforço não é suficiente para equilibrar as contas. O que se passa no Governo é o retrato do país: Só o Ministro das Finanças pode falhar e nada lhe acontece; mas contribuinte que falhe, é executado.

Há dias, no Facebook, li um relato que me fez pensar: “Hoje, em conversa com uma alemã comum, perguntei-lhe como olham os alemães comuns para Portugal. Esperando uma resposta do tipo "passam o tempo na praia" obtive " o que vemos é sobretudo um país com muita corrupção, parece ser o vosso maior problema". É verdade: temos um monte de PPP’s, de escândalos como o BPN, de negócios sucateiros, que são a face evidente da pior das ineficiências, que é a falência de uma justiça que favorece objectivamente a corrupção porque, ao não funcionar, garante a impunidade. Portugal é, aos olhos de quem nos visita, uma república das bananas onde os habilidosos se safam e o Estado continua sem nada fazer a não ser gastar o que não tem.

 

 

SEMANADA – A quebra de receita do Estado provocada pelos efeitos da subida do IVA na restauração é estimada em 947 milhões de euros; 11 mil policias estão em trabalhos de secretaria, fora de funções operacionais, o que significa cerca de 25% dos agentes da autoridade; nos primeiros seis meses do ano aumentaram 33% os casos de assassinato que já ultrapassam a centena até final do mês passado; no hospital da Guarda os vivos dormem com os mortos nas enfermarias porque a morgue fecha durante a noite; uma das razões da perca de competitividade das nossas empresas reside nisto: o financiamento das pequenas empresas na banca em Portugal é o mais caro da zona euro – 7,79% contra 4,15% ; o crédito malparado atinge 15,6 mil milhões de euros; o desemprego de longa duração sobe 14%; 300 mil inscritos nos centros de emprego não estão a receber qualquer subsidio; os impostos pagos sobre a gasolina e o gasóleo já são praticamente o dobro do custo do combustível propriamente dito; o Governo quer aumentar tabaco de enrolar em 30%; Portugal está em segundo lugar, a seguir à Argentina, na lista dos países com maiores subidas de impostos; figuras do PS lançaram o nome de José Luís Judas para candidato à Câmara Municipal de Cascais; no 5 de Outubro António Costa parecia já o líder da oposição e não o Presidente da Câmara de Lisboa.

 

ARCO DA VELHA – Um livro de poesia para adultos, de Alice Vieira, sobre o amor, foi incluído numa lista de leituras recomendadas para alunos do 2º ano de escolaridade e foi preciso a autora vir alertar para o facto.

 

GOSTO – A Universidade de Limerick, na Irlanda, vai organizar uma conferência, intitulada “Strange Fascination”, para estudar o impacto cultural da obra de David Bowie.

 

NÃO GOSTO - No final do terceiro ano do programa de ajustamento, Portugal terá menos 500 mil empregos do que tinha quando pediu ajuda externa.

 

VER – Pedro Cabrita Reis inspirou-se em coisas simples da terra para uma nova série de desenhos que expõe na Galeria João Esteves de Oliveira (Rua Ivens 38, ao Chiado). Com o título “D’Après Nature (possibly...)” estão reunidas obras em que, entre os materiais usados nestes desenhos sobre papel, estão café, azeite, vinho, beterraba ou mel, alem, claro de grafite. Os produtos são maioritariamente oriundos da quinta que Cabrita Reis tem perto de Tavira –  as paisagens locais têm aparecido por diversas vezes na sua obra mais recente. “Trago-vos ainda o mutismo das árvores que aos poucos apaziguamos em febre dourada,  sanguínea e, por fim, negra, que verte dos cachos e flui, purificando os sentidos dessa outra inútil pureza, a do pensamento” – escreve o artista no texto que acompanha a exposição. São cores do Outono estas que percorrem as imagens da natureza assim desenhadas por Cabrita Reis – tranquilas, por vezes provocantemente tranquilas.

 

OUVIR – Confesso que gosto de discos pop, simples e delicados, uma raridade hoje em dia, perdidos que estamos entre produtos pré-fabricados com vozes muito bem afinadinhas e corpos a condizer, feitos para a fotografia, ou o vídeo, mais que para os ouvidos. Felizmente de vez em quando aparece um disco que recupera o prazer da música popular, o prazer de partilhar a diversão, como este “Coexist”, dos XX. Depois do enorme êxito do disco inicial, “The XX”, e da respectiva digressão, o grupo esteve afastado dos palcos e entreteve-se a ir a clubes e a dançar. Parece que daí nasceu uma atracção pela música e os ritmos de dança e Jamie Smith, um dos elementos da banda, desenvolveu uma carreira paralela de DJ. “Coexist”, o novo álbum, vai buscar ambientes e inspiração por exemplo à house-music em temas como “Sunset”. Mas a essência de “Coexist” continua a ser o despojamento e a simplicidade, tão evidente e atraente em canções como “Our Song”, “Missing” ou “Tides” – onde a guitarra de Romy Madley Croft tem um simples e incontornável diálogo com o baixo de Oliver Sim, uma extensão dos diálogos vocais que ela e ele tecem canção após canção. A guitarra de Rodley Madley Croft, quase que me arrisco a dizer a evocar Vini Reilly nos Durutti Column de há anos atrás, é um ponto incontornável dos XX e é para esse tempo - dos Durutti Column, dos Young Marble Giants ou dos Cocteau Twins de então.

 

 

FOLHEAR – A revista “Wallpaper” foi fundada em 1996 por Tyler Brulé, e o êxito foi tão imediato que um ano depois a estava a vender à Time Warner. Brulé continuou como editor até 2002 e, cinco anos depois, lançou a “Monocle”, que continua a dirigir. Nestes últimos anos a “Wallpaper”, sob a direcção de Tony Chambers, que sempre foi marcada pelo forte uso da imagem, dedicou-se cada vez mais ao design, à arquitectura, à moda mas também às viagens – a sua colecção de guias de cidades é célebre (alguns títulos estão editados em português). De vez em quado surge uma edição especial, quase para coleccionadores, como esta de Outubro, que tem três capas diferentes, cada um feita por um dos editores convidados: a fotógrafa Taryn Simon, o arquitecto Ole Scheeren e o pianista Lang Lang (e cada um deles tem direito a um extenso portfolio no interior). Escolhi a capa de Taryn sSiom, “The Picture Collection”, e as 16 páginas que ela criou para a revista são verdadeiramente arrebatadoras. Curiosidades adicionais: um artigo sobre novas tendências do design brasileiro, o guia dos melhores novos hotéis para viagens de trabalho, e a sugestão culinária do mês: ameijoas à Bulhão Pato, numa receita dada e preparada pelo português Pedro Cabrita Reis

 

PROVAR – Volta e meia apetece-me um bife. Um clássico, com batatas fritas. Carne bem cortada, cozinhada no ponto, obviamente com ovo a cavalo. Mão sabedora levou-me, em Aveiro, a um local que depois vim a saber tratar-se de um templo do bom bife. Adequadamente chama-se Alexandre dos Bifes e fica no nº 14 do Cais do Alboi (telefone             234 420 494       ). Que distingue este bife dos outros? Alem da qualidade da substância, a excelência do tempero: parece levemente marinado, os sabores bem entranhados na carne, não é uma coisa feita à pressa na frigideira. As batatas fritas não saíram do congelador para o óleo – são às rodelas, cortadas à mão, deliciosamente irregulares. O pão, fresquíssimo, para tratar do ovo, vem aos nacos suculentos. Ao almoço é um corrupio, mas vale a pena esperar por uma mesa.

 

BACK TO BASICS – Um fanático é alguém que não muda nem de pensamento nem de assunto – Winston Churchill


(A ESQUINA DO RIO 481 - Publicada dia 12 de Outubro no Jornal de Negócios)

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publicado às 16:06

UMA ESTUPIDEZ SEM LIMITES

por falcao, em 09.10.12

Continuo estarrecido com as alterações ao trânsito no Marquês de Pombal e na Avenida. Quanto ao Marquês registo que às horas de ponta continuam os engarrafamentos no Marquês, que se repercutem pelos diversos acessos e a situação é agravada porque a temporização dos semáforos em Lisboa anda perfeitamente enlouquecida. Quem entra na rotunda do Marquês de Pombal vindo do túnel e queira subir a Duque de Loulé, não pode fazê-lo. Tudo a bem da fluidez e conforto, claro.

 

Eu fico estarrecido com a forma como funcionam os responsáveis do trânsito em Lisboa, a começar pela cabeça do vereador que inventou esta experiência. Será que depois não controlam os efeitos do que fazem? Não fazem estudos a várias horas e em vários dias dos efeitos das suas ações? Ou faz parte do estilo e do objetivo estarem-se nas tintas para os lisboetas que, apesar da perseguição e da evidente má vontade, persistem em utilizar o seu automóvel ou motociclo, pelo qual pagam aliás taxas à cidade? A Avenida da Liberdade é um engarrafamento constante no sentido ascendente, a qualquer hora.

 

A circulação nas faixas laterais é ainda pior. Um caso extraordinário é o de quem desça a Rua do Salitre e queira entrar na Avenida da Liberdade. Depois das transformações deixou de se poder prosseguir em direção aos Restauradores – a menos que se vá dar uma volta à Praça da Alegria, transformada em circuito para gincanas. Enfim , uma pequena experiência para moer a paciência e tornar a vida um pouco mais stressante e desconfortável.

 

As alterações feitas, a título experimental, custaram até agora mais de 800.000 euros. Provocam autênticas gincanas, mal sinalizadas. Os efeitos estão à vista – será que na Câmara Municipal de Lisboa a estupidez não tem limites? Será que não existiam outras prioridades para gastar o dinheiro? 

 

(Publicado no Metro de 9 de Outubro)

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publicado às 17:42

O PROBLEMA DA REMODELAÇÃO TEM NOME

por falcao, em 04.10.12

PROBLEMA – Aqui há umas semanas alguns Ministros tinham-se tornado num problema potencial. Eram, na gíria corrente, remodeláveis. De repente aconteceu uma coisa extraordinária: o Primeiro Ministro tornou-se ele próprio num problema, maior que qualquer dos candidatos a remodelação. Isto coloca uma questão terrível que está, aliás, no centro da crise política clandestina – aquela que continua a existir, larvar, a desenvolver-se em surdina, sem ninguém a ver. Como remodelar o Primeiro Ministro? É este problema que está a minar o funcionamento do Governo e das instituições. As divergências públicas com o Primeiro Ministro são numerosas dentro do seu partido, são abundantes no seu parceiro de coligação e são naturalmente constantes na oposição. Por isso mesmo não falta quem defenda uma solução à italiana – arredar quem deixou de poder mandar e ir buscar alguém não eleito. É um caminho perigosíssimo, mas que vai ganhando peso até entre os mais insuspeitos. Ninguém quer eleições, ninguém vê a possibilidade de uma alternativa no actual espectro político-partidário, já poucos acreditam, inclusivamente, que Passos Coelho tenha capacidade de encontrar pessoal politico credível para uma remodelação. Basta ver a forma como os mais recentes dislates tiveram tão pouca gente, no núcleo duro do PSD e do Governo, disposta a defender a honra do convento.

A situação é agravada pelo falhanço objectivo das politicas seguidas – a despesa efectiva do Estado não foi reduzida, a receita fiscal diminuiu apesar dos aumentos de impostos, o défice não foi controlado e ultrapassou todas as previsões. As estimativas saíram furadas.  Objectivamente houve incompetência e desconhecimento da realidade, e aqui as culpas são da equipa de Vítor Gaspar.

Mas pior que isso, a actuação do Primeiro Ministro e dos seus mais próximos, que oscila entre a ocultação de factos e o insulto a quem deles discorda, minou a credibilidade do executivo. Passos Coelho começou a fazer, em matéria de ocultação, aquilo que há pouco mais de um ano criticava a Sócrates. Os dados agora conhecidos sobre a apresentação, esta semana, em Bruxelas, de um conjunto de medidas alternativas à TSU, mais uma vez baseadas no aumento da carga fiscal, veio repetir o desprezo pelo diálogo com os parceiros socais e  o líder da oposição. Ou seja, uma falta de respeito pelo país e pelas instituições. A confiança está abalada. Sabe-se que, antes do anúncio das medidas da TSU, o Primeiro Ministro falou com vários anteriores dirigentes do PSD que, maioritariamente, lhe fizeram ver os perigos do que ele preparava. Fez ouvidos de mercador e assim conseguiu que o seu Governo deixasse de ser respeitado, mesmo no seu próprio campo politico. Há Ministros e Secretários de Estado que deixaram de frequentar os seus restaurantes habituais para não serem mais hostilizados. Refugiam-se numa torre de marfim e perdem, ainda mais, o contacto com a realidade. Hoje em dia o Governo existe apenas por falta de alternativa, que é a pior das mortes lentas. No estado em que as coisas estão o Governo perdeu autoridade e resta-lhe o autoritarismo, que de resto, aqui e ali, ensaia aparecer.

 

SEMANADA – Desde Janeiro a economia portuguesa já destruíu 71 mil empregos, uma média de 858 por dia; o desemprego atingiu os15,9% e cresce quatro vezes mais rápido que na União Europeia;  a papa Nestum cresceu 7% de vendas no primeiros semestre, mais 140 toneladas; três mil advogados têm quotas em atraso à respectiva Ordem; criou-se um impasse na escolha do novo Procurador Geral da República; O Ministro das Finanças recusou mais uma vez ir ao Parlamento; o Ministro das Finanças informou a Comissão Europeia e o FMI sobre as medidas de austeridade alternativas à Taxa Social Única, antes de as comunicar a quem devia, em Portugal; Politicamente a semana que passou pode ser resumida numa frase postada no Facebook: “o novo porta-voz do Governo chama-se Durão Barroso”.

 

ARCO DA VELHA – Esta frase é de 15 de Março de 2011 e foi, nessa altura, proferida por Passos Coelho e nos últimos dias tem sido partilhada nas redes sociais: “O líder do PSD acusou hoje o Governo de «deslealdade e falta de respeito pelo país» por ter ocultado as medidas que estava a negociar com Bruxelas, considerando que isso põe em causa a confiança dos portugueses no executivo... Considero isso de uma deslealdade e de uma falta de respeito pelo país, pelos portugueses, pelas instituições, suficientemente grave para pôr em causa a confiança que o país tem em quem o governa”.

 

VER –Da nova série de exposições  que na semana passada abriu no edifício Transboavista (Rua da Boavista 84), destaco a colecção de desenhos “Roger Uttama” de Joana Rosa, os trabalhos de Hugo Barata na colectiva “DIG DIG: Digging For Culture in a Crashing Economy” e, sobretudo, as obras de Inez Teixeira, Lluis Hortalà, e Pauliana Pimentel na colectiva “O Sonho De Wagner”. Nos quatro espaços do edifício vai estar até 4 de Novembro um conjunto alargado de obras que, exposição após exposição, são como um manifesto do estado da nação em matéria da criação artística contemporânea. Polémicas às vezes, surpreendentes noutras, previsíveis em algumas, as exposições da Transboavista são no entanto incontornáveis no panorama das galerias lisboetas.

 

OUVIR – Cecilia Bartoli é um caso à parte no mundo da música. Os seus últimos discos têm sido trabalhos de investigação, sobre repertórios pouco conhecidos, em vez das habituais colectâneas de árias famosas ou interpretações das óperas mais clássicas e procuradas pelos melómanos. Assim, em 2007, editou “Maria”, uma homenagem a Maria Malibran, uma soprano célebre no século XIX que se destacou a interpretar Rossini. Depois, em 2009, editou “Sacrificium”, recolhendo árias propositadamente escritas para castrati. E agora lança “Mission”, um trabalho dedicado às óperas de Agostino Steffani, uma figura enigmática do século XVII que fez nome na igreja,  na politica e na música. Como nos anteriores trabalhos a pesquisa histórica é rigorosa, o cuidado na produção musical é exemplar e o disco é apenas uma das peças de um conjunto de edições, que incluem um livro e um documentário. Bartoli, além da excelência da interpretação, impõe-se a si própria um novo patamar, de produtor multimédia. E sempre com uma qualidade intocável – e ouvindo este “Mission”, adivinha-se, com um prazer e intensidade que a música barroca de Steffani tão bem exprime. (CD Decca/Universal)

 

FOLHEAR – Na “Vanity Fair” de Outubro destaco um excelente artigo sobre os 50 anos de 007 – na realidade , como a capa da revista diz, a história inédita de como a saga de James Bond nasceu e cresceu. Outros  motivos de interesse são uma reportagem sobre os bastidores da igreja da Cientologia , uma antevisão de quem serão as próximas estrelas da economia digital de Silicon Valley e, em época de presidenciais norte-americanas, uma entrevista/ reportagem sobre Obama na casa Branca, assinada por Michael Lewis.

 

PROVAR – O Rubro é um restaurante na Praça de Touros do Campo Pequeno, onde se pode ir petiscar com a certeza de sair bem servido. Gostei muito do pica-pau de entrecôte, do revuelto de ovos com farinheira, dos espargos verdes na chapa (mesmo no ponto) e dos indispensáveis pimentos padron. A imperial é bem tirada e a lista de vinhos é interessante – nas opções a copo e à garrafa. O funcionamento é em mesas compridas com bancos corridos de um lado e outro e o serviço é atento. Para a qualidade do que se picou o preço é razoável. Telefone             210 191 191      .

 

GOSTO – Título da semana: “Eu tenho uma vida fora do facebook, só não me lembro da password”.

 

NÃO GOSTO – Nos ultimos dez anos o concelho de Lisboa continuou a perder habitantes para os concelhos vizinhos e acentuou-se a desertificação de zonas do centro da cidade.

 

BACK TO BASICS –  Por mais entusiasmante e atraente que seja uma determinada estratégia, convém de vez em quando olhar para os resultados – Winston Churchill

 

(publicado no Jornal de Negócios de 4 de Outubro)

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publicado às 15:41

AVALIAR QUEM GOVERNA A CIDADE

por falcao, em 02.10.12

Mais ou menos daqui a um ano vamos ter eleições autárquicas. Inevitavelmente vai existir uma componente política, que tem a ver com a reação dos eleitores à política do Governo e é previsível que o PSD seja penalizado.

 

No entanto, se olharmos para a política autárquica, faz mais sentido ver o que o partido no poder, em cada caso, conseguiu fazer. Peguemos no caso de Lisboa. Qual o balanço de António Costa na cidade? Conseguiu estancar a hemorragia de gente que abandona Lisboa? Reduziu os impostos aos habitantes na cidade? Criou incentivos para trazer habitantes para o despovoado centro? A cidade ficou mais confortável para quem cá vive de facto? António Costa está a trabalhar para quem visita Lisboa ou para quem cá paga impostos?

 

Estas perguntas não são insignificantes  e as respostas que elas suscitarem deve nortear o voto das pessoas daqui a um ano. O sentido do voto é fazer a avaliação do mandato executado. No caso de Lisboa é o mandato de António Costa que deve ser avaliado e votado, e não o de Passos Coelho, no Governo.

 

As pessoas concordam com a prioridade dada ao investimento em  ciclovias? Estão de acordo com os custos incorridos com as alterações ao trânsito na Avenida e no Marquês? As pessoas que pagam impostos em Lisboa estão satisfeitas com o estado de limpeza das ruas? Acham que a Câmara tem velado pelos seus interesses? Acham que tem protegido o comércio de rua e fomentado o emprego na cidade? Estão de acordo com a forma como a EMEL funciona, com as multas, com os quantitativos que cobra, com a forma como atua?

 

Quem vota em Lisboa deve pensar no que tem ganho com o que se passou na cidade nestes anos em que Costa e a sua coligação têm tido o poder. Querem continuar com a política que ele desenvolveu, ou querem mudá-la? Eu gostaria de a mudar.

 

(Publicado no Metro de hoje)

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publicado às 15:39


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