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CULTURA & SERVIÇO PÚBLICO - Num país com a dimensāo de Portugal, qual o sentido de existir um serviço público de televisāo, suportado pelos cidadāos, neste caso por uma taxa obrigatoriamente paga por todos os consumidores de electricidade? Numa sociedade onde felizmente existem vários operadores privados de televisāo e de rádio, e numa época em que o digital veio proporcionar novas formas de emissāo, difusāo e recepçāo - para nāo falar já profunda alteraçāo dos hábitos e formas de  consumo de televisāo, sobretudo entre os mais novos - para que serve um serviço público?

Nesta conjuntura, porque deve existir um serviço público financiado pelos cidadāos, quando três quartos das casas têm cabo e acesso a mais de 50 canais de todo o mundo? O serviço público deve fazer concorrência aos privados, disputando com eles audiências e publicidade? Ou deve proporcionar programaçāo alternativa e formativa? O serviço público deve ser comprador concorrencial de direitos de exibiçâo de futebol, um conteúdo comercial especialmente apetecível, contribuindo para inflacionar o seu preço? Ou deve privilegiar o fomento da produçāo de ficção e dos documentários sobre a realidade portuguesa? Deve fomentar a criatividade ou a boçalidade? Deve fazer programaçāo infantil em português, que possa ser difundida noutros países lusófonos, ou deve gastar recursos a fazer formatos internacionais de concursos e de entertenimento? Deve privilegiar a co-produção com outros países do universo cultural lusófono, ou adquirir séries que passam nos canais de cabo emitidos em Portugal? As perguntas são numerosas, mas no fim resumem-se a isto: o serviço público deve investir em produção de stock, que possa ser reutilizada, emitida diversas vezes, ou, como tem predominantemente feito, investir em produção de fluxo que se esgota na primeira emissão? Bem sei que um canal que se focasse na nossa cultura e na nossa história, que fizesse uma informação de referência, abdicando da espectacularidade do sensacionalismo e da chicana política, teria menos audiência e menor influência na luta partidária. Mas, ao nível a que já caíram as audiências da RTP, a diferença não seria grande e até poderiam surgir surpresas. Mais vale um serviço público sério, rigoroso e dinamizador do tecido industrial audiovisual que um serviço incaracterístico, concorrencial com os privados e que tenha por missão disputar audiências. Um serviço público pensado sobre uma matriz cultural nma acepção mais ampla da palavra, seria uma alternativa verdadeira, teria um carácter complementar, e um papel maior e mais importante a longo prazo na defesa da presença da nossa língua no mundo. Um serviço público assim, que dinamizasse a indústria audiovisual, que apostasse na produção externa, seria um investimento com retorno em vez de um problema a fundo perdido - como a RTP tem maioritariamente sido nos últimos 20 anos. Um país que não tiver produção audiovisual de referência, que não apostar em conteúdos duradouros, não terá existência futura no mundo digital, o seu idioma não existirá para geração futuras, não terá presença nem influência internacional. Infelizmente a estratégia é esta, a da dissolução da nossa presença no mundo contemporâneo - bem diferente de outros países com idiomas menos falados, como a Noruega, a Finlândia ou a Islândia, onde no entanto se pensa numa estratégia nacional de conteúdos - que tem sabido cativar audiências onde menos se espera.


SEMANADA - A Biblioteca Nacional contava em 2010 com 46.502 leitores presenciais, uma redução em relação aos 69.341 de 2000; Em 1997 existiam 164 bibliotecas escolares, em 2011 o total era de 2490, das quais 2069 no ensino básico público e 36 no ensino privado; em 2007 foram registados 17.097 novos títulos de livros, em 2011 o número desceu para 16.839, o valor mais baixo dos últimos anos; em 1960 existiam 437 recintos de espectáculos, em 2011 o número era de 165; em 1960 a percentagem de espectadores de cinema era de 2,9% por mil habitantes e em 2011 era de 1,5%; 2011 foi o ano com menor número de filmes portugueses exibidos desde 2000; o número de exibições de filmes de origem norte americana quadriplicou entre 1980 e 2011; o número médio de espectadores de cinema por sessão era de 334 em 1960, passou para 179 em 1980, reduziu para 56 em 1990 e caíu para 23 em 2011; em 2009 o Teatro Nacional de S. Carlos registou 46.272 espectadores de ópera e em 2011 desceu para 23.838, um numero ainda menor que os 27.675 de 1986; os gastos familiares com cultura e lazer desceram 9,5% no último ano.


ARCO DA VELHA - O número de exemplares vendidos de publicações de imprensa periódica em 2011 foi o mais baixo desde o início do milénio

VER - Na galeria Ratton (Rua da Academia das Ciências 2C, 2ª a 6ª, das 15 às 19h30), está uma mostra do trabalho realizado nos últimos 25 anos por Júlio Pomar sobre o suporte azulejo - como as figuras de convite, evocação dos painéis que eram colocados na entrada de edifícios numa atitude de cortesia. Na exposição, “Que Procura Vmê” estão também cerâmicas -  por exemplo  cinco peças  feitas a partir dos moldes de Bordallo Pinheriro, que resultaram de um desafio feito pela galerista, Ana Viegas, a Júlio Pomar, a propósito da comemoração do centenário da morte de Bordallo Pinheiro, em 2005.


OUVIR- O jazz é um território de cruzamentos, de fusões, de encontros inesperados, de desafios. Jason Moran, 38 anos, é um dos mais interessantes pianistas da nova geração do jazz americano, um contraste com o saxofonista Charles Lloyd, de 75 anos. São duas gerações de músicos, com influências diferentes. Moran integra a formação regular de Lloyd, mas em “Hagar’s Song” decidiram juntar-se apenas os dois. Charles Lloyd assegura o sax alto e tenor e flautas e Jason Moran o piano e tamborim. O título do álbum, e um dos seus temas, “Hagar Suite”, representam uma homenagem à avó de Lloyd, que foi uma escrava negra. Para além dos temas originais, intensos, aqui estão versões inesperadas e cativantes de Mood Indigo, de Duke Ellington, de “Bess You Are My Woman Now” de Gershwin, de “I Shall Be Released” de Bob Dylan e de “God Only Knows”, dos Beach Boyes, com quem aliás Lloyd tocou na California nos anos 70. CD ECM, na Amazon..


FOLHEAR - Como era o mundo do jazz na Lisboa entre os anos 20 e 50 do século passado? João Moreira dos Santos, um dos homens que mais se tem dedicado á investigação da história do jazz em Portugal, fez um curioso roteiro do que foi o despontar do jazz em Lisboa, desde clubes como o Bristol, a cabarets como o Maxim (que era no Palácio Foz), clubes como o Magestic ou o Nina (onde tocou Louis Armstrong), passando por cafés como o Negresco, o Hot Clube, ou salas como o Teatro Apolo, o Condes ou o Coliseu dos Recreios, não esquecendo o São Carlos onde já em 1925 se tocava jazz. Ao longo de uma centena de páginas compilam-se informações, pequenas histórias e curiosidades que ajudam a fazer o retrato de uma Lisboa cosmopolita - como se diz na capa, este é um “guia ilustrado de 40 espaços históricos dos primórdios do jazz em Portugal”. Edição Casa Sassetti.

 

PROVAR - O pastel de Chaves é uma especialidade tradicional constituída por uma espécie de folhado finíssimo de carne picada no interior, com tempero transmontano. A receita original foi inventada há 150 anos e em 2012 passou a ser um produto de indicação geográfica protegida. Desde há algum tempo passou a ser possível prová-los em Lisboa, na loja Prazeres da Terra, que fica no nº6 do Largo Dona Estefãnia. Lá estão eles fresquinhos todos os dias, prontos a comer ou a levar, ou ainda congelados para fazer em casa á medida das necessidades - e na versão congelados há também um belo formato mini.A casa tem muitos e bons produtos transmontanos, de enchidos a azeite, passando por vinhos, queijos, compotas e o célebre pão de Gimonde, pitos de Santa Luzia, corvilhetes (umas empadas...) de Vila Real, ou o folar de Chaves. Um mundo de bons petiscos.


GOSTO- Na Islândia o sector das indústrias criativas tem uma receita que é o dobro da riqueza produzida pela agricultura e quase igual à receita das pescas.


NÂO GOSTO -  A receita produzida pelas  industrias criativas na economia, em Portugal, tem vindo a diminuir nos últimos cinco anos.


BACK TO BASICS - "Se tiveres a impressão de que és pequeno demais para poder mudar alguma coisa neste mundo, tenta dormir com um mosquito e verás qual dos dois impede o outro de dormir” - Dalai Lama


(Publicado no Jornal de Negócios de 28 de Abril)

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publicado às 16:12

Ò TEMPO VOLTA PARA TRÁS?

por falcao, em 26.03.13

A notícia do regresso de José Sócrates à actividade política tem sido um dos motivos de grande animação nos últimos dias – a evocação do passado é sempre uma tentação.  Ninguém em seu perfeito juízo acredita que a intenção de Sócrates seja apenas observar e reflectir sobre o que se passa em Portugal e  na Europa, para mostrar o que aprendeu nestes quase dois anos de estudo de Ciência Política, em Paris. Obviamente ele quer ter espaço para se promover e o convite caíu-lhe no regaço em boa altura, ajudando-o na construção do puzzle que é o seu regresso à política. Marques Mendes  visou alto quando apontou que o objectivo de Sócrates seria preparar uma candidatura presidencial.  

 

A mim não me interessa particularmente se Sócrates já se decidiu a querer ser Presidente da República ou se está apenas a fazer tiro ao alvo a António José Seguro. Interessa-me mais saber porque é que um canal de serviço público considera importante e relevante usar a chicana política na luta de audiências com canais privados em torno do comentário político.

 

O meu ponto é sobretudo este: qual o sentido de todos andarmos a pagar um serviço público de televisão, que mensalmente nos é debitado na factura da electricidade, se o objectivo desse canal é fazer guerra de audiências? Isto faz algum sentido para o desenvolvimento do serviço público? Produz conteúdos relevantes no futuro? Ajuda a desenvolver a indústria do audiovisual? Claro que Sócrates tem todo o direito de escrever, falar, comentar. Escusa é de ser convidado para o fazer, como foi dito,  apenas porque ajuda a uma guerra de audiências da RTP com a SIC e a TVI.

 

(Publicado no diário METRO de 26 de Março)

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publicado às 12:28

SUSPENSE - Existe uma contagem decrescente que está a agitar o país, a que conta os dias que faltam para ser divulgado o parecer do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento de Estado. Os sintomas estão à vista na radicalização das declaraçōes políticas dos mais diversos sectores. Esta semana os pedidos de mudança de executivo vieram de dentro do próprio PSD, o que para alguns foi entendido como um sinal de que circulariam já indícios de que os juízes do Palácio Ratton poderiam colocar o Governo em situação delicada. O Presidente da República, que tem cultivado demais o silêncio, também fez subitamente ouvir críticas sobre o rumo não só do país, mas também da Europa. Se juntarmos todas as peças começam a criar-se as condições para uma crise política. Mais do que provenientes das oposições, os mais preocupantes sinais de crise são aqueles que emanam do agudizar de contradições no ecosistema do poder - ou seja na base política do Governo. De Ângelo Correia a Pires de Lima sucederam-se reparos às opções que têm sido seguidas. Estas contradições, tão públicas e notórias, são a maior ameaça a Passos Coelho. Não deixa de ser espantoso que a oposição interna do PSD esteja a conseguir ser politicamente mais hábil que o aparelho do partido - que anda enredado na complicada teia das próximas autárquicas e da confusão criada em torno da lei de limitação de mandatos. Num clima destes tudo pode acontecer. E, de alguma forma, parte do aparelho prefere que mudanças, a ocorrerem, sucedam depressa. Pode ser que assim ainda se salve a honra do convento a tempo da ida às urnas.


RETORNADO - Fiquei a saber que Sócrates regressa à política, ao local onde já esteve - no caso um comentário semanal na RTP. Não sei se é pesadelo ou se é apenas notório mau-gosto. Mas é completamente absurdo. Não se trata de uma questão partidária, trata-se de bom senso. Sócrates fez o que fez, desapareceu como se sabe. É premiado com um programa onde comentará o que os outros políticos fazem - os do Governo e os do seu partido. Cá para mim António José Seguro deve ter dado saltos de contentamento quando leu a notícia nesta quinta-feira. Imagino, enternecido, Silva Pereira de mão dada com José Lello, embevecidos a olharem para o ecrã enquanto o chefe vai perorando. Vislumbro filas imensas de patrocinadores para o programa de Sócrates, todos interessados em associar as suas marcas ao grande líder. Quanto mais penso nisto, mais certeza tenho que o ridículo mata. E a falta de bom senso tem morto o serviço público.


SEMANADA - A dívida pública directa do Estado ultrapassou os 200 mil milhões de euros e aumenta a um ritmo de quase 100 mil euros por dia; em Portugal existem 735 mil casas vazias e há concelhos onde há mais alojamentos do que habitantes; em 40 concelhos nascem menos de dois bébés por mês; nos últimos três meses foram nomeadas mais de 250 pessoas para vários grupos de trabalho; Angelo Correia, que durante anos apoiou Passos Coelho na sua ascensão política, afirmou esta semana que são necessárias “mudanças profundas no Governo”; António Capucho e Angelo Correia apelaram à convocação do Conselho de Estado; António Pires de Lima disse-se chocado com o estilo do Governo e principalmente com o comportamento de Vitor Gaspar; Alberto João Jardim e Freitas do Amaral defenderam a mudança de Governo, mas sem eleições, e dentro do actual quadro parlamentar; maioria teme crise política depois de conhecida a decisão do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento de Estado; em Chipre há cerca de 200 futebolistas portugueses nos diversos escalões da modalidade, dos quais 51 na 1ª divisão; a utilização de vales de desconto cresceu 40% num só ano.


ARCO DA VELHA - A canção “Cacei o Grilo”, do bracarense Miguel Costa, com o refrão “cacei o grilo na toquinha/cacei o grilo à Zirinha”, levou uma vizinha do artista, de nome Alzira, a processá-lo e a exigir uma indeminização de seis mil euros, por entender que a cantiga lhe é dirigida e que a tornou alvo de chacota popular.

VER - Teresa Gonçalves Lobo desenha com um traço muito particular e o resultado produz um dos efeitos mais complicados de obter: criatividade com simplicidade e elegância. Isto é particularmente evidente na sua nova exposição patente na Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva até 24 de Junho próximo - “i em pessoa”. Além de 42 desenhos originais, estão em destaque duas peças de mobiliário basedas na ideia matriz desta exposição, que é a forma da letra i. As peças de mobiliário, uma cadeira e uma chaise longue, foram executadas pelos mestres artífices da Fundação, seguindo os desenhos da artista, e acrescentam uma inesperada tridimensionalidade à obra. A ideia da Fundação é conseguir juntar artistas contemporâneos com os técnicos e os mestres das oficinas da FRESS, num processo integrado de trabalho. Na mesma linha surge um álbum, que agrupa 10 gravuras, assinadas e feitas sobre papel japonês pela artistas, mas depois acabado nas oficinas de encadernação e passamanaria da Fundação.


OUVIR- Quando encontro a expressão “Great American Songbook” penso logo em canções célebres da Broadway ou da idade de ouro de Hollywood - de qualquer forma alguma coisa feita antes do advento do rock. Quando olho para a ficha técnica penso em compositores com nomes como Gershwin, Rodgers, Hart ou Hammerstein. Tony Bennett é o último dos sobreviventes de um grupo que incluía Frank Siantra, Dean Martin ou Sammy Davis, por exemplo. Mantém-se igual a si próprio e nunca precisou de mudar o estilo para permanecer popular. “As Time Goes By - Great American Songbook Classics”, a colectânea agora editada, reúne na maior parte gravações originalmente feitas nos anos 70, quando o cantor resistiu a modernizar o seu estilo. Hoje, estas interpretações, são verdadeiros clássicos, como se constata logo em “Blue Moon”, mas também em “Reflections”, ou “As Time Goes By” - para falar só de alghuns temas de um lote que inclui também “The Lady Is A Tramp” ou “This Can’t Be Love”, por exemplo. Não vejo melhor maneira de começar a Primavera que ouvir este disco ao fim da tarde.


FOLHEAR - Conhecer a história recente nem sempre é fácil, escrever com perspectiva e  distância sobre  assuntos contemporâneos, mais ainda. Evitar que o relato seja enfadonho e conseguir que a história seja atraente é  ainda mais difícil.

“A Cimeira das Lajes: Portugal, Espanha e a Guerra do Iraque”, é um exemplo raro do que pode e deve ser a história recente vista, recordada e interpretada - neste caso por  Bernardo Pires de Lima. Este é um género raro em Portugal mas que fica com um standard estabelecido depois deste livro. As divergências entre Sampaio e Durão  Barroso em matéria de política externa lançam nova luz sobre o errático comportamento do então Presidente e sobre o princípio do fim do regime, a que hoje assistimos com clareza. Percebe-se agora o que levou Bush a manter  o comando da Nato em Oeiras, que concessões foram feitas, o que estava em cima da mesa. Esta é uma visão do que foram as manobras, alianças e guerras internas no Portugal desse tempo. Fica claro que Durão começou então a sua campanha para Presidente da Comissão Europeia. Com a proverbial paciência que se lhe reconhece jogou xadrez melhor que os outros, irritou Sampaio,  contrariou-o e, no fim, literalmente ficou na fotografia. O tempo dirá se ficou bem. Edições Tinta da China.


PROVAR - Uma das mais deliciosas conservas que experimentei nos últimos tempos é o mexilhão fumado, em azeite, produzido pela Tricana. Cada lata custa 3,10 euros e posso garantir que duas latas fazem uma bela entrada para quatro pessoas com uns toques de uma salada apropriada. Em alternativa podem ser bem usadas para tapear, sobre rodelas de batata doce assada. A conjugação de sabores funciona bem, o mexilhão fumado tem um travo delicioso e viciante, e um bom vinho branco levemente frutado, como o magnífico Altano, da Symington, acompanha na perfeição. A Conserveira de Lisboa (Rua dos Bacalhoeiros 34) tem normalmente a gama de produtos da Tricana.


PALAVRAS - “Se Merkel pensasse e ouvisse, antes de agir e exigir, não teria criado tantos problemas” - Luis Campos e Cunha


GOSTO - Nasceu uma nova casa para ver fotografia em Lisboa - A Pequena Galeria, na 24 de Julho, 4C.


NÂO GOSTO - Vitor Gaspar prevê mais cem mil desempregados até final deste ano

BACK TO BASICS -  A minha noção de activismo político não é bem carregar num botão para assinar uma petição online - Jody Williams


(Publicado no Jornal de negócios de 22 de Março)

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publicado às 11:20

O ADIVINHO

por falcao, em 19.03.13

Eu, se fosse aos astrólogos, irritava-me com a comparação que o Professor Marcelo Rebelo de Sousa fez entre eles e o Ministro Gaspar. Eu acho a afirmação do professor Marcelo muito maldosa para os astrólogos – eles aliás não têm culpa nenhuma do que está a acontecer. Passo a explicar: é que os astrólogos já provaram que são bem mais certeiros nas suas  previsões do que aquilo que o Ministro Gaspar faz.

Neste espaço de dois anos que leva de Governo o Ministro Gaspar ainda não acertou uma previsão – já viram bem? Tudo aquilo que se mete a adivinhar, sai furado. Se o homem tivesse bom senso, deixava de fazer previsões e passava apenas a relatar ocorrências. Sempre ouvi dizer que a astrologia é um caso de estudo, preparação e rigor – não é apenas lançar palpites ao ar, ao sabor das circunstâncias, que é a especialidade do Ministro Gaspar.

 

Por isso os verdadeiros astrólogos têm razão quando se aborrecem com a comparação entre eles e o Ministro. O próprio Fernando Pessoa, que reconheceu em tempos ter havido uma época em que se dedicou a interpretar os astros, havia de dar saltos se o comparassem a Gaspar.  Tudo seria mais simples se Vitor Gaspar  tivesse o título de “Ministro do Erro” em vez de “Ministro das Finanças”. Voltando ao Professor Marcelo a única coisa que me faz sorrir é imaginar Gaspar frente a uma bola de cristal, com olhar intrigado, a querer perceber porque erra tanto; sem encontrar a resposta, acabou por dar uma martelada na bola, para a ver por dentro. Ficou com um monte de cacos à sua frente – mais ou menos o mesmo que está a fazer ao país.

 

(Publicado no Metro de hoje)

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publicado às 17:22

SISTEMA - A história recente resume-se a isto: sai um partido, entra outro; sai este, regressa o anterior; os eleitores vivem cada vez pior e o país afunda-se. O sistema não funciona - está feito não para resolver problemas e tomar medidas, mas para votar promessas e pagar favores. Não favorece rupturas, privilegia a continuidade. Quando o mal se instala uma vez, perpetua-se. Em consequência, as pessoas deixam de acreditar nos políticos e nos partidos. Esta semana um grupo de figuras, muito maioritariamente do mesmo lado do espectro político, lançou um “Manifesto Pela Democratização do Regime” que, espero, não se transforme numa espécie de Frente Popular dos desiludidos do PS, Bloco e de algum PC. No entanto, reconheço que dizem coisas com sentido desde o processo de escolha dos candidatos, até ao processo de criação de listas independentes. Afirmam, com razão, que  “a Assembleia da República representa hoje sobretudo – com honrosas excepções – um emprego garantido, conseguido por anos de subserviência às direcções partidárias e de onde desapareceu a vontade de ajuizar e de controlar os actos dos governos.” Mas noutros pontos o Manifesto é conservador ao extremo, ao não admitir que o mundo mudou, que muitos erros foram feitos e têm que ser corrigidos mesmo que isso provoque alterações na vida das pessoas. De um lado propõe mudanças, do outro defende o que existe e, na Europa, persegue ainda a perigosa fantasia que se vai cada vez mais transformando em pesadelo. No fundo é inconsequente. É pena, porque a discussão da mudança da Lei Eleitoral e do funcionamento do sistema é fundamental, e deve incluir o anacrónico semipresidencialismo - levado ao extremo por Cavaco - cujos custos hoje estão bem à vista. Se não conseguirmos mudar o funcionamento, não mudaremos o sistema, que se alimenta da credulidade dos eleitores e do esmagamento dos contribuintes.


SEMANADA - Segundo dados da PSP, no último ano ocorreram em Lisboa  1,5 manifestações por dia, em média; a recessão está a destruir 535 empregos por dia ao longo do último ano; a procura interna registou uma quebra de 6,8%; estão a sair do país, em busca de trabalho no estrangeiro, 180 pessoas por dia; a PSP do Porto tem 200 viaturas paradas à espera de reparação, quase metade da sua frota; uma mulher de 30 anos foi detida em Barcelos quando levava a filha à escola às 9 da manhã, com uma taxa de alcoolémia de 2,85; a Câmara Municipal de Lisboa pretende concessionar o Pavilhão dos Desportos para instalação de uma discoteca; o Ministério da Educação já perdeu 150 acções judiciais por não pagar a professores; no sector da construção o crédito malparado já atinge 19,3% do volume dos empréstimos; Fronteira, Vidigueira e Alvito são as zonas do país onde se verificam taxas mais altas de insucesso escolar; a administração pública está a demorar, em média, 140 dias a liquidar as facturas aos fornecedores - contra os 61 dias da média comunitária.


ARCO DA VELHA - A China produz 85 mil milhões de pauzinhos de madeira, o que significa o abate de pelo menos 20 milhões de árvores para os fabricar;.


VER - Uma boa surpresa é o que chamo à  exposição “Fotógrafos do Mundo Português, 1940”, que até 26 de Maio está no Padrão dos Descobrimentos, em Belém. Gostei de, num domingo destes, ver o Padrão cheio de visitantes, portugueses e estrangeiros , e de ver esta exposição seguida com atenção. Tem imagens hoje surpreendentes, que acompanham a construção e a realização da “Exposição do Mundo Português”, que foi inaugurada a 23 de Junho de 1940. esta exposição do Padrão recolhe o trabalho de nove destacados fotógrafos da época ao longo dos dois anos que demorou a pôr de pé a Exposição do Mundo Português, culminando na sua abertura ao público - Horácio e Mário Novais, Eduardo Portugal, Paulo Guedes, Kurt Pinto, António Passaporte, Ferreira da Cunha, Abreu Nunes e Casimiro Vinagre são os autores representados. Bem enquadrada por um texto de Margarida Acciaiuoli sobre a época e os trabalhos apresentados, cito como ela sublinha o poder da fotografia nestas imagens - “a fotografia de um evento ultrapassa sempre o próprio evento”. A entrada custa três euros mas além das exposições dá direito a subir ao alto do Padrão, de onde se tem uma vista única sobre Lisboa e o estuário do Tejo.


OUVIR- De repente, e de forma algo inesperada, David Bowie colocou a circular em Janeiro, na altura do seu 67º aniversário,  a primeira canção de um novo disco. A canção, intitulada “Where Are We Now”, é uma evocação dos seus álbuns na época em que viveu em Berlim. A capa do novo CD, uma destruição da capa de “Heroes”, o segundo dos discos da trilogia berlinense, evoca esse olhar, destacado pela frase “The Next Day”, que é o título do álbum e também da primeira canção, um olhar sobre a mortalidade e transitoriedade da vida. A mortalidade é aliás o tema que percorre este 24º disco de Bowie, no ano em que uma exposição no Vistoria & Albert Museum de Londres (até 11 de Agosto) lhe dá um estatuto invulgar no panorama da cultura popular. Primeiro disco de originais dos últimos 10 anos, surge numa altura que em muitos podiam bem pensar que David Bowie se encontrava a gozar uma tranquila reforma. Mas a energia e qualidade deste trabalho voltam a colocar em questão a ideia feita de que as estrelas da cultura popular  desaparecem rápido. Os últimos anos têm assistido à demonstração do contrário e Bowie mostra como está ao seu melhor nível em canções como as já referidas, ou ainda “Dirty Boys”, “You Feel So Lonely You Could Die”, “If You Can See Me”, “Love Is Lost”, “I’d Rather Be High” ou a belíssima “Heat” que encerra o disco, e que é um manual de tudo o que fascina na criatividade de Bowie. Um crítico inglês resumiu bem a situação, descrevendo “The Next Day” como “inovativo, sombrio, arrojado e criativo - um álbum como apenas Bowie podia fazer”. (CD Sony Music na Amazon ou iTunes).


FOLHEAR - A revista “Intelligent Life”, do grupo “The Economist”, tem uma bela edição para iPad totalmente gratuita, financiada por publicidade exclusiva do Crédit Suisse. Na edição de Março/Abril a capa é dedicada ao maestro venezuelano Gustavo Dudamel, cuja história é bem contada, percebendo-se o impacto que ele está a ter na forma de divulgar a música clássica. Numa área completamente diferente há uma recolha da opinião de seis escritores sobre quais são os melhores cheiros do mundo - de rosas a bacon a fritar, passando pelo cheiro do pão a fazer ou da chuva no meio do campo. O guia da cidade nesta edição é dedicado a Copenhague, há uma bela história sobre fechos éclair e outra sobre o surgimento do novo Jaguar F, traçando o paralelo com o nascimento do jaguar E em 1961. A terminar, destaque para um artigo sobre a cultura do cacau em São Tomé e Princípe ao longo da história, da escravidão aos tempos actuais - com citações de Claudio Corrallo, o italiano que tem ajudado a recolocar o arquipélago no mapa como o produtor do melhor cacau - e do melhor chocolate do mundo. Na música, uma lista imperdível de canções para dias de chuva, uma pérola nos tempos húmidos que correm.


PROVAR - Já aqui tenho dito que o Salsa & Coentros, em Alvalade, é dos meus restaurantes preferidos em Lisboa. Em matéria de restauração estou cada vez menos inclinado a experimentar extravagâncias e mais inclinado a manter-me fiel aos clássicos. E uma coisa engraçada é que no Salsa & Coentros, que desde 2006 é um porto seguro, além das sólidas propostas tradicionais da ementa, existem volta e meia umas novidades - e tudo funciona a preços sensatos. Já  elogiei a empada de cozido que me deram a experimentar há uns meses e desta vez venho partilhar o arroz de tordos. Aqui está um petisco que não me passava á frente há muitos anos. Estava impecável, no tempero, no ponto da carne, na cozedura do arroz. Nada a dizer. Soube-me mesmo muito bem. Quando lá forem perguntem sempre o que há, e que não esteja na lista - o Sr. Duarte tem sempre umas surpresas guardadas.  Rua Coronel Marques Leitão, 12, telef 218 410 990.


GOSTO- Da recolha de música portuguesa “Deem-me duas velhinhas, Eu Dou-vos o Universo” que agrupa 26 temas populares feita por Tiago Pereira, com o apoio da Optimus.


NÂO GOSTO - Lisboa está outra vez toda suja e esburacada e não vejo António Costa a fazer nada sobre o assunto.

BACK TO BASICS - O verdadeiro mistério do mundo está no que é visível, não naquilo que é invisível - Oscar Wilde

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publicado às 11:11

POR UMA CANDIDATURA ANTI- EMEL

por falcao, em 12.03.13

Uma das coisas que falta nas próximas autárquicas de Lisboa é uma posição clara, dos vários candidatos, sobre essa aberração chamada EMEL, uma entidade especializada em dar cabo da vida dos lisboetas – dos contribuintes que aqui pagam imposto automóvel, que aqui vivem, que aqui pagam taxas municipais de esgotos e de tudo o resto, que aqui pagam IMI e que por persistirem em continuar a viver em Lisboa, apesar de todos os atropelas, são penalizados.

 

Em Abril de 2011, na sequência de alterações solicitadas pela EMEL e patrocinadas pelo executivo municipal, a Assembleia Municipal lamentavelmente aprovou alterações à atribuição do cartão de estacionamento de residente, que dificultam ainda mais a vida dos lisboetas e permitem a intromissão abusiva na sua esfera privada.  As alterações são uma maneira de, a coberto de pretextos burocráticos, interferir na vida pessoal dos cidadãos. De facto, se um cidadão residir em Lisboa, estiver registado na sua morada, mas se por uma qualquer razão – vida em comum por exemplo -  viver noutro local da cidade mantendo no entanto a residência anterior, fica proibido de pedir estacionamento na nova morada, ao contrário do que acontecia anteriormente.

 

Qualquer cidadão com residência em Lisboa, eleitor e contribuinte registado na cidade, devia poder, enquanto mantiver essa qualidade, solicitar o seu direito a estacionamento noutro local se a vida o levar a isso e anulando a localização anterior, bem entendido. Tudo o resto é absoluta intromissão na esfera privada e é um abuso burocrático – daqueles que os inventores das rotundas anacrónicas e da caça cega às multas gostam de fazer para verem se conseguem que Lisboa fica ainda com menos habitantes. Quem avança contra  a EMEL?


(Publicado no Metro de dia 12 de Março)

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publicado às 12:07

LISBOA - Quando um partido chama para candidato autárquico o ex-trunfo eleitoral trágico-cómico de um candidato derrotado a um clube de futebol, está tudo dito. Seara fica o equivalente PSD do sportinguista Dias Ferreira ao convidar Paulo Futre para presidente da Junta de Freguesia de Campolide. E quem, nos partidos que apoiam a candidatura de Seara, assobia para o ar enquanto a avançada de Futre se desenrola, fica potencialmente fora de jogo por melhores intenções que tenha. Assim já temos um cómico nas autárquicas em Lisboa - e ainda a procissão vai no adro. O autismo dos protagonistas políticos é aquilo que mais facilita o discurso contra os partidos. E quando um discurso nasce por isto, não é um discurso contra a democracia, mas apenas uma chamada de atenção para a tentar salvar. A democracia não se fortalece com a indiferença face a imbecilidades.

ITÁLIA - Não resisto a transcrever este excerto que dá o mote a um brilhante artigo de um colunista do Corriere Della Sera, Beppe Severgnini, publicado esta semana na revista Time: “Em Roma não há Papa, o Primeiro Ministro Mario Monti está de saída, o recém eleito Parlamento parece irremediavelmente comprometido, e o Presidente Giorgio Napolitano está a dez semanas de se reformar, o que quer dizer que já não tem poderes constitucionais para convocar novas eleições - e pode até acontecer que saia de cena mais cedo que planeado, deixando a Itália completamente sem liderança.”

SEMANADA - A venda de casas já caíu cerca de 50%; o valor médio das transacções de imobiliário caíu 20% em 2011 e cerca de 25% no ano passado; Lisboa registou a maior queda, com 61% de queda, seguida do Algarve com 57%; o Estado tem já mais pensionistas que funcionários activos; actualmente, em Portugal, há 16 vezes mais pessoas insolventes que em 2008; a A5 teve uma quebra de circulação de 6 mil veículos por dia em 2012; o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana recebe cerca de 300 pedidos de esclarecimento diários, de inquilinos e senhorios, sobre a nova Lei das Rendas; Merkel vai ter de defrontar nas próximas eleições um partido anti-euro, “Alternativa Para a Alemanha”, criado à volta das figuras que quiseram vetar a participação do país no primeiro resgate à Grécia; Vitor Gaspar defende que o esforço de Portugal no pagamento da dívida à troika deve ser maior que o da Irlanda; pelas contas do Governo, Portugal vai levar quatro décadas a colocar a dívida pública em 60% do PIB; numa feira industrial de calçado em Milão estão 114 marcas portuguesas, que exportam 500 milhões de euros e empregam 6000 pessoas.

ARCO DA VELHA - Em Tomar um advogado levou uma arma para a sala de audiências, na leitura de uma sentença, afirmanndo que não sente confiança na segurança dos tribunais portugueses.

VER - Nestes tempos conturbados há uma exposição que merece uma visita: “Cartazes de Propaganda Chinesa - A Arte Ao Serviço da Política”. A exposição está no Museu do Oriente até final de Outubro e mostra uma centena de cartazes de propaganda política chinesa, produzidos entre 1959 e 1981 e que constituem um documento histórico da celebração da agitação e propaganda, no período que vai do Grande Salto em Frente e da criação das Comunas Populares ao fim da Revolução Cultural. Esta centena de cartazes integra a Colecção Kwok On da Fundação Oriente e mostra os temas mais correntemente abordados à época, como a glorificação do presidente Mao Zedong e dos heróis comunistas, a prosperidade da economia, a luta contra o imperialismo, a felicidade do povo e o poder do exército. Alguns destes cartazes tinham tiragens enormes, da ordem das dezenas de milhar de exemplares e integravam o quotidiano das cidades chinesas. Eram na realidade peças de arte ao serviço da política, evidenciando o impacto que a imagem pode ter na comunicação. É curioso também notar a influência do grafismo destes cartazes na propaganda portuguesa nos anos a seguir a 1974 e, já agora, é muito curioso comparar com o que é feito hoje em dia - graficamente mais pobre, predomínio da palavra sobre a imagem, desaparecimento de figuras heróicas ou exemplares. Como quase tudo na vida, a tendência ressurgirá um dia destes. Imperdível para quem se interesse por comunicação política. E pela agitação que deve inspirar a propaganda.

OUVIR- “Apetece-me tanto ouvir Schubert”, dizia ela num Domingo de manhã. Por sorte estava aqui o disco - o novo trabalho de Maria João Pires, onde  interpreta  duas das sonatas mais célebres de Schubert . A Sonata n.º 16, em Lá menor, foi apresentada pelo próprio compositor como a sua “Primeira Grande Sonata”; e  a Sonata n.º 21 em Si Bemol maior, a derradeira do compositor, concluída pouco tempo antes da sua morte, considerada uma das mais substanciais obras para piano da última fase de Schubert. As gravações foram feitas em estúdio, em Hamburgo, em 2011, e são um exercício de maturidade da pianista, ao preferir, nas suas próprias palavras, "não tomar cada obra como um todo, mas simplesmente tocá-la tal como ela é dada” pelo compositor. O exercício resulta, e é uma prova de comedimento e de modéstia, coisas que os intérpretes exuberantes não apreciam. Felizmente Maria João Pires não alinha nessa categoria. A sua interpretação mostra a expressividade da música de Schubert, mas respeita as suas nuances, o seu colorido. Sobretudo no final da segunda sonata percebe-se a sensibilidade de Maria João Pires, a sua técnica colocada ao serviço do respeito pela música, tal como ela foi imaginada. CD Deutsche Grammophon.

FOLHEAR - Em plena hecatombe europeia, este é um dos números mais provocantes da revista mensal Monocle. O título diz tudo: “Why The World Needs The New Germans”. Em destaque estão 12 personalidades alemãs contemporâneas que “o mundo deve conhecer”, desde arquitectos a apresentadores de televisão, passando por designers de automóveis, artistas, cientistas, directores de museus e até uma jogadora de futebol. Mas esta “Monocle” dedica-se também a contar a história de ícones alemães, como os lápis da Faber ou os ursos doces da Haribo. Há também um portfolio que representa empresas industriais de pequena e média dimensão, que se distinguem pelo contributo que dão para a economia - desde um fabricante de orgãos para igrejas, até material científico para escolas, máquinas tipográficas como a histórica Heidelberg ou, até, uma fábrica de trelas para cães e outra de torneiras. Claro que há muito mais para ler, desde propostas culinárias e gastronómicas até às obrigaçōes e estratégia das emissões internacionais da televisão pública alemã (um artigo bem engraçado na nossa conjuntura...) ou, finalmente, o movimento de ressurgimento das artes na Baviera.

PROVAR - Em Lisboa, ao contrário de outras cidades, não há muitos bares equipados com vários ecrãs para nas noites europeias se verem os diversos jogos ao mesmo tempo. Pois fiquem, sabendo que agora existe um lugar assim no Hotel Real Parque, na Avenida Luis Bivar 67. Em tempos já aqui elogiei o restaurante deste hotel, louvaminhando em especial o cozido à portuguesa das terças-feiras. Mas hoje o assunto é como passar um fim de tarde com  amigos a olhar para o ecrã- O Real Sports Bar é um sítio raro, onde tanto se pode comer um belo prego em bolo do caco, prego do lombo acondicionado em manteiga de alho - uma coisa pecaminosa. Ou, então, um belo de um um hamburguer feito de carne da vazia com bacon, bom queijo, cebola, alface, servidos numa simples focaccia, com toques de rúcula e o natural acompamnhamento da batata frita. Se nada disto atrai peçam uma tábiua de queijos ou um prato de carnes frias e um copo de vimnho. Get ready. Esta cidade anda pasmada e sítios assim ajudam a recuperar da crise. A bons preços, esclareço.

GOSTO - Várias marcas de luxo, nos têxteis e calçados, abandonaram as fábricas da Ásia e voltaram a produzir em Portugal, não pelo preço, mas pela qualidade;

NÃO GOSTO - Da atitude de laxismo do Estado na recuperação dos créditos do antigo BPN;

PALAVREADO - Mais vale cavalo na lasanha que asnos no poder - cartaz de uma manifestação recente em França

BACK TO BASICS - A pobreza apadrinha a revolução e o crime - Aristóteles


(Publicado no Jornal de Negócios de 8 de Março)

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publicado às 13:45

TRAGICOMÉDIA POLÍTICA

por falcao, em 05.03.13

Quando um cómico tem bom resultado eleitoral  fica provado que a política se transformou por completo em comédia. A culpa disso não é do cómico, neste caso de Beppe Grillo, e do seu movimento “Cinco Estrelas”. A culpa é dos políticos que desacreditaram o funcionamento do sistema até ao ponto em que as pessoas ou deixam de votar ou votam de uma forma cáustica, para mostrarem a sua distância em relação aos partidos tradicionais.

 

Beppe Grillo, que ganhou fama na televisão, desde há anos que faz da crítica à corrupção na política o tema do seu humor cáustico, mas foi a sua intervenção, primeiro num blogue, e, depois, no facebook  e noutras redes sociais que massificou verdadeiramente o seu posicionamento político e o do seu movimento.

 

Mais cedo ou mais tarde um fenómeno semelhante repetir-se-à noutros países – e o sucesso obtido nestas eleições italianas vai servir de catalisador para surgirem localmente candidatos a assumirem o papel de Beppe Grillo. Não me admiraria se nestas autárquicas alguma coisa surgisse já – aliás foi precisamente pelas eleições autárquicas de há uns anos atrás que o movimento de Grillo iniciou a sua intervenção política em actos eleitorais.

 

Durante uns anos o Bloco de Esquerda foi o refúgio dos descrentes, mas ele acabou por se institucionalizar e existe um vazio no espectro partidário – com a particularidade de poder ser abrangente em termos ideológicos,  já que o protesto contra a desgraça do sistema e dos partidos que existem é o ponto de partida de tudo. Vamos ver quem assumirá o papel de Beppe Grillo na tragicomédia em que se tem transformado a política em Portugal.

 

(Publicado no diário Metro de 5 de Março)

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publicado às 12:41

DESCARAMENTO - A afirmação mais extraordinária desta semana vem do Sr. Seguro: diz ele que o Sr. Coelho tem que pedir desculpa pelo que anda a fazer. Gostaria de ter ouvido o Sr. Seguro dizer o mesmo ao Sr. Sócrates - ou pelo menos não ter a desfaçatez de exigir desculpas sem antes ter reconhecido os erros. A súbita determinação do Sr. Seguro surge na semana em que a oposição se junta para se manifestar contra as medidas que o PS subscreveu quando chamou a Troika. Eu não gosto especialmente de muito do que este Governo tem feito - e admito que até me desagrada mais a forma que o conteúdo. Mas desagrada-me ainda mais aqueles que não querem mudar a situação que nos trouxe até aqui e não fazem uma só proposta concreta. O Sr. Seguro só me faz pensar que são verdadeiras as minhas piores suspeitas sobre a falta de decoro dos políticos. A amnésia. na política, é o veneno que mata a democracia. Por falar nisso registemos, para memória futura, o que o Sr. Sócrates anda a fazer na sua nova vida profissional, como facilitador de compras de medicamentos por estados sul-americanos.


CAVALAR - Pelo andar que as coisas levam, qualquer dia arriscamo-nos a que comece a ser retirada do mercado carne de cavalo devidamente identificada por nela terem sido encontrados vestígios da carne de burro. Este episódio da mistela de carnes é uma bom retrato da Europa da Política Agrícola Comum - talvez fosse melhor chamar-lhe da máxima aldrabice comum. Há duas certezas nisto: os sistemas de regulação não funcionam e os fabricantes e vendedores não se preocupam em ter a certeza daquilo que utilizam e vendem. Acessoriamente percebe-se que nunca foi tão verdade o princípio de vender gato por lebre, garantindo a utilização de matéria prima mais barata, aldrabando os consumidores sobre a sua origem. Por cá o extraordinário Sr. Nunes da ASAE, que durante meses perseguiu as colheres de pau e as chouriças, acordou pressuroso a levantar autos que são a confirmação de que antes não fez o trabalho de casa nem se preocupou. Preferiu sempre o mais fácil e espalhafatoso, ao mais necessário. Por isso mesmo é que estamos a comer almondegas de cavalo em lojas de mobiliário. É um sinal dos tempos e uma boa descrição da Europa.  

SEMANADA - Em dois anos Portugal foi o país da Europa que mais cortou na despesa social, tendo feito uma redução de 3,7 mil milhões de euros; a massa salarial do Estado deve cair 2,4% no próximo ano, a maior redução na Europa; as previsões da Comissão Europeia sobre o défice orçamental português são maiores que aquelas que o Governo assume; em 2012 o custo dos juros da dívida do Estado vai ser de 732 euros por cada cidadão português; em 2012 a nacionalidade portuguesa foi atribuída a 84 mil pessoas; 24% da população lisboeta tem mais de 65 anos de idade;  a capital tem a população mais idosa do país; 16% do parque habitacional de Lisboa está vazio; Lisboa tem hoje menos de um terço dos habitantes que tinha em 1960; 90 por cento do corpo de segurança especial da PSP passou a estar destacado para proteger membros do Governo e Presidente da República; 58 agentes da GNR e PSP foram expulsos por corrupção (a maioria), violência doméstica e até homicídio; antigos para-quedistas vão entregar uma providência cautelar para suspender um concurso de compra de 11 mil boinas verdes para a GNR, considerando que a escolha da cor pela GNR é uma ofensa à sua honra.

ARCO DA VELHA - Portugal é o único país em que quase se abre uma crise política em torno de uma diferença numa letra escrita numa Lei.  Saber se essa Lei se refere a “de” ou a “da” seria cómico, se não fosse trágico. Espantosamente a descoberta da diferença na letra veio do Presidente da República, mas todos os partidos ficaram insensíveis à novidade.

VER - A nova exposição de Inez Teixeira propõe uma viagem pelo mundo do fantástico, com referências pop e à banda desenhada. A definição pode parecer simplista, mas revela o que senti. E senti-me muito bem a ver estes trabalhos, feitos de um imenso pormenor e da exploração dos limites da  imaginação, desafiando a realidade. No trabalho de Inez Teixeira fascina-me esse pormenor, o detalhe, o sentido insinuado da fantasia que surge para além das aparências. Se puderem não a percam, nas salas Cinzeiro 8 do Museu da Electricidade até 26 de Maio.

DESCOBRIR - Manuel João Vieira pegou na sua casa e levou-a para a Cordoaria. Não estou a exagerar - levou o recheio do seu apartamento e replicou o seu espaço doméstico, encenando-o com um a teia complexa de paredes simuladas por carpintaria, onde agora reside o que tinha na sua casa num pacato bairro lisboeta. Levou tudo - as guitarras, os bandolins, os amplificadores, o piano. Levou a cama, o fogão e o frigorífico. Levou os discos, os livros, as roupas e os chinelos. Levou-se também a ele próprio, que agora lá vive, à vista de todos. Os visitantes passeiam-se nesta exposição como na sua casa - quer dizer, visitam a sua vida. É uma instalação radical, de íntima e exposta que fica.  Há muito que não via uma imaginação assim em movimento, provocadora, estimulante. Exposição mais interactiva que esta, não há.

OUVIR- Ben Harper tem feito os seus melhores discos sempre na companhia de alguém. Agora chamou para o seu lado Charlie Musselwhite, um lendário bluesman, que acompanhou com a sua harmónica nomes como John Lee Hooker. A BBC chamou a este novo disco de Ben Harper, “Get Up!”, um exemplo de blues do século XXI. A coisa pode parecer exagero mas na realidade há muito que não sentia os blues assim tocados. O dueto entre a harmónica de Musselwhite e a voz e guitarra de Ben Harper é um exemplo de entusiasmo e do melhor que se pode fazer na música popular quando o tema é reinterpretar a tradição, inovando-a - algo que se tem tornado a especialidade de Ben Harper ao longo das duas décadas que já leva de carreira.

FOLHEAR -  A edição especial de Março da revista norte-americana “Vanity Fair” é sempre dedicada a Hollywood, tendo por pretexto a atribuição anual dos Oscars. Não interessa aqui quem ganhou - o objectivo é dar uma outra visão de tudo o que rodeia o mundo do cinema norte-americano, que culmina naquela cerimónia de prémios. Na capa estão Ben Affleck, Emma Stone e Bradley Cooper, fotografados por Bruce Weber, que assina o portfolio desta edição especial. Destaque também para a história da vida de Merv Adelson, um dos grandes produtores de televisão (Dallas por exemplo) e da forma como esteve ligado à Mafia - curiosa reportagem numa edição dedicada a Hollywood. Para além do cinema, destaque para um perfil de Rahm Emanuel, que de braço direito do Presidente passou para mayor de Chicago e se posiciona como um dos mais importantes políticos americanos.Robert de Niro responde ao tradiciopnal questionário de Proust que encerra a revista e o desenhador português André Carrilho tem honras de convidado especial para desenhar quem é quem hoje em dia em Hollywood.

PROVAR - Durante meses tentei, sem sucesso, ir jantar ao Cantinho do Avilez, no Chiado - esbarrei sempre na exigência irritante dos dois turnos - um às oito, cedo demais, outro às dez, demasiado tarde. Por um golpe de sorte, um dia destes, passava no local à hora de almoço num fim de semana e havia mesa para dois. Valeu bem a pena - logo no começo, desde as azeitonas (tão bem temperadas), às tostas finíssimas, quase rendilhadas, até ao creme de tomate com azeite e alho que também vem no couvert. Na mesa ao lado havia uns peixinhos da horta que faziam água na boca, mas ajuizadamente ficámos por uma vieiras na frigideira com batata doce (que me disseram estar soberbas) e eu por um bife à portuguesa com batata frita - tudo honestíssimo - do tempero à qualidade da carne, passando pela impecável fritura das batatas. Fritar bem é coisa rara e este Cantinho sabe do que fala. A escolha dos vinhos a copo é ampla e o tinto de José Avilez em parceria com Bento dos Santos, que surge como a recomendação da casa, tem uma excelente relação de qualidade-preço. O serviço é simpático e atento, e na mesa ao lado um americano bonacheirão deliciava-se com petiscos, bem explicados em inglês pelos empregados.Enquanto o americano se espantava com o preço módico do copo de vinho, eu finalizava em beleza com um sorvete de limão com mangericão. O Cantinho do Avilez fica na Rua dos Duques de Bragança nº7 e tem o telefone  211 992 369. Hei-de lá voltar, se tiver a sorte de arranjar lugar.

GOSTO - Mais de 500 mil visitantes chegam anualmente ao Porto de Lisboa em cruzeiros turísticos.

NÂO GOSTO - De ver militares, oficiais e generais, em jantares de pressão política.

BACK TO BASICS - O maior medo que se pode ter na vida é temer constantemente que se possa errar - Elbert Hubbard


(Publicado no Jornal de Negócios de dia 1 de Março)

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publicado às 16:30


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