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INCOMPETÊNCIA OU CORRUPÇÃO?

por falcao, em 30.04.13

Uma das curiosidades  mais intrigantes dos últimos dias é a forma como as operações de swaps que mais prejuízos causaram em empresas públicas estão  concentradas em número apreciável ligadas ao sector dos transportes.  Podia ter acontecido noutras áreas, mas a verdade é que desde os Metros de Porto e Lisboa até à Carris ou Refer, é grande a concentração  destas operações em empresas públicas tuteladas pelo Ministério dos Transportes, decisões tomadas praticamente em simultâneo, na época do Governo Sócrates.  Por acaso foi também nos Transportes que surgiram as negociatas com as sucatas e as pressões para que fossem tomadas decisões de favor. No caso dos swaps alguns responsáveis financeiros dessas empresas, à época, já estão identificados.


A mim quer parecer-me que falta contar muita coisa: quem apareceu com o negócio? Quem fomentou o negócio? Quem trouxe os bancos e os seus contratos? Foram os directores financeiros ou eles limitaram-se a obedecer a instruções das suas administrações?  A ideia de fazer do dinheiro dos contribuintes material para apostas arriscadas veio dessas administrações ou através da tutela? Quem montou um jogo de apostas ruinoso nas empresas públicas de transportes?


Quando o dinheiro dos contribuintes se envolve em negócios privados, que terminam com um prejuízo colossal para o Estado e um lucro desproporcionado para os privados, a coisa merece atenção. Pode ter sido incompetência; pode ter sido ambição; mas também pode ter sido corrupção. E convinha esclarecer isso – é que no fim do dia quem toma as decisões e gera prejuízos acaba olhando para a paisagem com ar intrigado – mas os contribuintes são sempre quem tem de  pagar a factura dos disparates que outros fizeram em seu nome.


(publicado no diário Metro de  30 de Abril)

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publicado às 10:56

 

OS RESTOS - É certo que os enganos fazem parte da vida e que só quem nada faz nunca se engana ou se erra. Mas o caso do estudo de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, “Growth in a time of debt”, que nos últimos anos moldou o pensamento de instituições internacionais e responsáveis políticos, é um pouco mais que isso. É um estudo que veio a calhar para servir de guarda-chuva à adopção de medidas e que foi adoptado de forma tão cega, como se de um dogma se tratasse, sem pelos vistos ter sido suficientemente escrutinado. Quando um estudante mais atento descobriu os erros de análise e tratamento dos dados em que o estudo se baseia para chegar às suas conclusões abre-se caminho para colocar uma dúvida: as falhas foram acidentais, ou foram deliberadas, para permitir chegar às conclusões que todos conhecemos? Nunca se saberá a resposta a esta questão, mas é perturbante perceber que as políticas de austeridade, nos moldes que conhecemos, aproveitaram bem a circunstância e o erro para conseguirem uma cobertura teórica. Mais perturbante ainda é a forma como pessoas desde António Borges a Durão Barroso começaram a mudar de opinião sobre as políticas de austeridade precisamente na semana em que o erro - ou a fraude - se descobriu. Quando percebemos que o sistema - e a política da União Europeia - se baseia num equívoco, teme-se o pior. Retive o que o economista Felix Ribeiro, uma voz infelizmente pouco ouvida, disse esta semana na TVI: «a união europeia já acabou e agora discute-se apenas quem manda nos restos».


SEMANADA - Continuou a remodelação de secretários de Estado, a quinta deste Governo, também conhecida por remodelação Swap; Durão Barroso diz que a austeridade “atingiu o limite”; Angela Merkel considera que os Estados da Zona Euro têm de estar preparados para ceder mais soberania  às instituições europeias; comparando números de 2011 com 2012, dos países da zona Euro, Portugal diminuíu no PIB e aumentou na dívida pública e no défice; em 2012 houve 17 Estados da União Europeia com défices acima dos 3% e 14 Estados com dívida pública acima dos 60% do PIB - ou seja, em violação das regras do pacto de Estabilidade; mais de 55% dos desempregados não recebem qualquer apoio do Estado; o Governo reviu em baixa a taxa de crescimento da economia portuguesa, que passou para -2,3%, a seguir a uma revisão provocada pelo abrandamento das exportações;  nos primeiros três meses do ano os portugueses compraram 101 milhões de raspadinhas, que deram 8,2 milhões de euros de prémios; até o programa “Governo Sombra”, na TVI 24, derrotou “A Opinião de José Sócrates” na repetição emitida à uma da manhã de Domingo para Segunda.


ARCO DA VELHA - Luis Filipe Menezes considerou Pedro Passos Coelho “o Primeiro Ministro mais sério desde o 25 de Abril”, sem mencionar sequer Sá Carneiro.

VER - Volta e meia há filmes assim, que nos fazem pensar no país que somos, nas pessoas que somos, no estado da nação neste ano da graça de 2013. «É O Amor”, de João Canijo, é um filme assim. Mostra o que frequentemente não queremos ver - sobretudo mostra um Portugal que às vezes as grandes cidades não querem saber que existe. Não é um filme “voyeur” sobre uma outra realidade, é um retrato cúmplice de uma descoberta. A ideia base é seguir o dia a dia de uma comunidade de pescadores, de Caxinas, Vila do Conde, na qual Anabela Moreira (que foi a cabeleireira de “Sangue do Meu Sangue”) surge como uma actriz em conflito interno que vai procurar perceber o que é a vida das mulheres dos pescadores nestes tempos actuais. Vou recorrer às palavras do próprio realizador : «A mulher das Caxinas é um modelo da portuguesa moderna. Esta afirmação contradiz a imagem tradicional de uma peixeira enlutada do Norte de Portugal. Mas foi isso o que descobrimos durante a investigação para este filme. E foi isso que nos encantou. A força romântica e vital daquelas mulheres, capazes de amar e lutar pela vida - delas e dos maridos -, fez com que se lhes dedicasse um filme. » 
«É O Amor» é um manual de como combater ideias feitas e de como saber olhar para a realidade e, com poucos meios, fazer um filme que não é uma excursão veraneante fora das grandes cidades, mas um documento sobre o nosso tempo.


OUVIR- “Overgrown”, o segundo disco de James Blake, agora editado, mostra uma sensível evolução desde o álbum estreia de 2011. Os ingredientes base - uma mistura equilibrada de jazz e soul - mantêm-se aqui, mas mais vigorosos, ou, se quisermos, com uma mais acentuada presença dos rhythm ‘n’blues, logo bem evidenciada no primeiro single deste novo trabalho, “Retrogade”. Mas logo a seguir, “DLM” é um tema marcado por um piano envolvente em diálogo com a voz de Blake. O primeiro tema do disco, “Overgrown”, faz a declaração de intenções: “I don’t want to be a star, or a stone on the shore, or a doorframe in a wall when everything’s overgrown”. Blake, que compôs todos os temas e toca todos os intrumentos no álbum, faz questão em evidenciar com este disco que não vai passar a vida a repetir a fórmula de sucesso que obteve na sua estreia. Muda, evolui, arrisca, às vezes entra em ruptura. O disco é mais directo, as canções são mais variadas entre si e curiosamente aquela cuja sonoridade se aproxima mais do primeiro disco é “Digital Lion”, que foi produzida por Brian Eno. Os sinais mais fortes são dados em “Voyeur”, com o seu ritmo marcado, e no tema “Take A Fall For Me”, o único a incluir um convidado, o rapper RZA dos Wu-Tang, a marcar as palavras por cima de uma escapadela de Blake pelo hip hop. (CD Atlas/Universal)


FOLHEAR - A edição de Maio da “Vanity Fair” tem uma capa lindíssima - Audrey Hepburn, em 1957, fotografada por Bud Fraker para o filme “Funny Face”. Mas o artigo não é sobre este filme, mas sim sobre os tempos em que a actriz viveu em Roma, depois do êxito que “Roman Holiday”, o seu filme de 1953. A “Vanity Fair” recorre a um novo livro do filho da actriz para mostrar imagens e contar episódios dos tempos em que ela viveu La Dolce Vita, em que descobriu a liberdade de Roma. Outro artigo fantástico é a história da ascensão e queda da revista “Holiday”, que nos anos 50 e início dos anos 60 foi o magazine de viagens por excelência e um exemplo de trabalho editorial, nos textos e nas imagens, um daqueles relatos que nos faz ter saudades das revistas a sério. Finalmente há uma bela reportagem sobre o crescimento do Facebook - não no número de utilizadores, mas como um novo media, como um novo suporte de publicidade. Neste artigo a Vanity Fair recorda como os meios são efémeros e, no início, parecem estranhos - a rádio gratuita nos anos 20 não parecia um negócio possível até transmitir o primeiro anúncio em 1923, o tempo que demorou a surgir o primeiro spot publicitário na televisão, em 1941, a maneira como a Nielsen começou a medir audiências nos anos 50, a internet a surgir em 1991 mas a primeira publicidade digital a aparecer em 1994 - e o Google adwords a surgir apenas em 2000. E, agora, o Facebook, algo mais do que aquilo que já se conhecia.


PROVAR - Durante os últimos anos o restaurante do Teatro S.Luiz foi o Spot S. Luiz, uma casa onde nos primeiros anos existiam algumas experiências curiosas, um quase percursor dos hamburgueres gourmet e de refeições leves e bem elaboradas - uma cafetaria como até então não existia naquela zona da cidade. Nos últimos tempos a qualidade foi decaindo, até encerrar. Agora, no mesmo local, surgiu o Café São Luiz, pela mão da equipa que está desde há uns anos no Café no Chiado. A decoração foi mudada, a carta foi completamente refeita e a garrafeira também. Na cozinha estão os “chefs” Nuno Bandeira de Lima e Luís Barros, que trabalharam juntos no Lapa Palace. A inspiração é da culinária portuguesa mas com toques de surpresa - como um risotto de cogumelos porto bello e rabo de boi ou um osso buco com batatinhas na chapa e molho de iogurte. Nas entradas há uma tentadora cavala em escabeche com broa de milho, azeite, hortelã e agrião. Nas sobremesas o destaque vai para o creme brulée de abóbora e requeijão com praliné de amendoa e tomilho. Pronto, a seguir, dieta... Rua António Maria Cardoso, 58, telefone 213 460 898.


DIXIT - “João Capela tem grande futuro” - Pinto da Costa, referindo-se à actuação do árbitro do Benfica-Sporting


GOSTO- Da iniciativa de fazer uma Vila Literária em Óbidos.


NÃO GOSTO - Do abate de árvores, contra as regulamentações camarárias, na Avenida da Ribeira das Naus.


BACK TO BASICS - Não sou um grande humorista nem invento piadas: limito-me a observar o que o Governo faz e a reportar os factos - Will Rogers

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publicado às 13:30

Vai uma voltinha, Dr. Costa ?

por falcao, em 23.04.13

Hoje vou aqui deixar um convite ao Presidente da Câmara Municipal de Lisboa: venha comigo dar um passeio de moto nas ruas da cidade para ver o estado em que elas estão, para perceber o perigo que os buracos e os pavimentos ondulados representam para os motociclistas. Prometo ir devagar, mas gostava que visse – e sentisse nos solavancos -  o que se passa.

 

O efeito, para os turistas que nos visitam, do desleixo na conservação dos pavimentos da cidade, é péssimo – basta ver o estado calamitoso da Avenida Brasília, junto ao rio, que parece uma pista de todo o terreno. Por todo o lado há exemplos destes – até em pavimentações recentes.

 

Este ano vai haver eleições e qualquer dia começa o regabofe da caça aos votos. Imagino até que inventem umas repavimentações. Mas o importante seria existir um trabalho de manutenção sério, alguém na Câmara que se preocupe em prevenir em vez de ficar imóvel a assistir á degradação da cidade. Já nem falo da sinalização no pavimento, que na maior parte das zonas mal se vê, criando fatores adicionais de perigo.

 

Choca-me  ver que se investe em tanta coisa e na segurança dos cidadãos que circulam em Lisboa se investe tão pouco. Quanto significaria, em melhorias na segurança nas ruas da cidade, o custo das obras sucessivas na rotunda do Marquês de Pombal?

 

Aqueles que por opção preferem andar de motociclo em Lisboa, aliviando o trânsito, a poluição e o estacionamento, são penalizados em comparação com outros lisboetas. São o parente pobre das atenções da autarquia. Há uns 40 anos que circulo em duas rodas na cidade e nunca a vi em tão mau estado como agora. Faz pena.

 

(Publicado no diário metro de  23 de Abril)

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publicado às 10:48

FANTASIA - Às vezes a política não é uma encenação, mas é raro tal acontecer; às vezes a política consegue ser coerente, mas não é nada frequente; às vezes os políticos são sinceros, mas não é costume. A semana que agora acabou foi pródiga em tudo isto. Por momentos parecia um ensaio de bailado entre Passos Coelho e Seguro - só que ambos escorregavam e caíam, sem conseguirem completar os movimentos. Na época da comunicação digital, o Primeiro Ministro e o líder do maior partido da oposição correspondem-se por carta para criar um ambiente de romance - uma coisa para inglês ver, melhor dizendo para troika observar. Nesta última semana não houve dia em que Passos e Seguro não falassem. Falaram demais - dias de cacofonia, de simulações e de muito poucos actos. Até a cena final - a conferência de imprensa matinal de quinta-feira, depois da dramatização de um Conselho de Ministros ao longo da madrugada, foi um triste espectáculo de vazio, uma ilusão de óptica. No fim da conferência de imprensa fiquei com a certeza que a troika vai saber, antes dos cidadãos, os cortes orçamentais que não foram revelados. Fecho os olhos e imagino tudo isto como se fosse um filme: o Governo retocou-se, escolheu uma nova maquilhagem, até fez um casting interessante para novos personagens. Mas mesmo bons actores podem aparecer em maus filmes, quando o realizador falha o seu serviço e o produtor está apenas interessado em tapar as evidências de que as coisas não vão bem. Olho para o Governo e tenho a sensação de que estou a ver um filme que é uma produção falhada, um filme que ultrapassou o orçamento, falhou a história, um filme onde os actores não se entendem e realizador e produtor não conseguem concretizar o projecto. Vítor Gaspar falhou estrondosamente no orçamento de produçāo, e Passos Coelho é um realizador que deixa a história degradar-se, por causa das dificuldades do produtor, e que nāo consegue dirigir os seus actores. Espero que nunca se candidatem a um subsídio à produção de cinema.


SEMANADA - Pinto da Costa anunciou ir avançar para o 13º mandato no FCP; Paulo Portas ainda não confirmou se vai ser candidato à liderança do CDS-PP;  George Soros defendeu uma zona Euro sem a Alemanha; Miguel Relvas renunciou ao cargo de Deputado na sequência da sua saída do Governo; o Governo foi retocado; António José Seguro foi reeleito líder do PS com 96,53% dos votos expressos; o Secretário Geral do Parlamento demitiu-se ao fim de 10 meses na função por questões relacionadas com o controlo das despesas dos partidos; a Assembleia da República tem pago o funcionamento da Comissão Nacional de Eleições e dos seus funcionários à margem das normas legais; trabalhadores com salários em atraso triplicaram em 2012; Mário Soares, falando sobre a situação presente, avisou Cavaco que, “por menos, houve o regicídio” que matou D. Carlos; no início da sua actuação em Portugal a troika previa uma taxa de desemprego de 13,5%, agora a previsão já vai em 18,5%; a procura por novos automóveis caiu 9,8% no primeiro trimestre em toda a Europa e em Portugal aumentou 2,7%; na Alemanha nasceu um partido político cujo programa defende o fim do Euro; várias empresas públicas perderam mais de três mil milhões de euros com contratações de produtos financeiros de risco - entre elas as dos Metropolitanos de Lisboa e Porto, que, juntas,  perderam dois mil milhões de euros a brincarem à especulação financeira.


ARCO DA VELHA -  A ASAE só detectou 12 infracções de menores a beber em locais públicos em 2012.


VER - No Museu Berardo, no CCB, está patente mais uma edição do  BES Photo: quatro exposições de outros tantos autores, num critério de escolha que continua polémico. Dois dos escolhidos - Pedro Motta e Sofia Borges - são brasileiros e usam apenas a fotografia como vago suporte de manipulações, não se entendendo de todo o sentido da sua presença, ainda por cima com ambos num mesmo registo pós-fotográfico. O português Albano da Silva Pereira, que ganhou reputação a fazer os Encontros de Fotografia de Coimbra, mostra fotografias da sua vida de viajante, intercaladas com recordações, numa montagem que evoca um “cabinet d’artiste” encenado como um caderno de viagem e com um recurso, desnecessário, a um video. Resta o moçambicano Filipe Branquinho, o único a apresentar uma ideia fotográfica, que como ele próprio refere, evoca o trabalho de Ricardo Rangel ou José Cabral, nomes maiores da fotografia do seu país. Tenho desde há muito grande dificuldade em compreender os critérios do BES Photo, que insiste em misturar meios e processos que usam apenas a fixação da imagem fotográfica como uma das etapas do processo, em detrimento do registo da forma de ver. O estreito corredor onde os trabalhos de Filipe Branquinho estão presentes vale uma deslocação ao CCB. E, noutro registo, as memórias de Albano da Silva Pereira introduzem um espírito coleccionista que remete para a descoberta e a memória.


FOLHEAR - Enquanto não chega a nova encomenda, de Primavera, tenho nas mãos a edição de Inverno de 2012 da “Aperture”, uma revista que se edita quatro vezes por ano, destinada a mostrar os caminhos da fotografia, fundada por Minor White e que pertence à Aperture Foundation, de Nova York. A “Aperture” é a minha maneira de me manter ligado ao que se faz, aos melhores trabalhos no campo da fotografia. É, de alguma maneira,  a minha galeria privada de fotografia que, graças à Amazon, recebo em casa. Vive da imagem fotográfica e não liga muito às modas passageiras. Sinto que os curadores que, por cá, vivem dos equívocos de imagens de jogos florais têm pouco interesse nesta publicação, até porque contraria o pensamento dominante por estas bandas. Nesta edição gostei muito dos retratos da holandesa Rineke Dijkstra, do trabalho, algo revivalista, de Alec Soth em busca dos subúrbios num misto de técnica datada e factos contemporâneos, e das paisagens urbanas de Tim Davis. Mas a peça de reflexão é um excelente trabalho sobre cinco livros de fotografia que marcam a história da América, feitos por Walker Evans, Robert Frank, Joel Sternfeld, Jacob Holdt e Doug Rickard. Dei por mim a pensar que, por cá, muito pouco trabalho, como o que está em qualquer destes livros, foi feito e editado.


OUVIR- José James podia ser considerado simplesmente um músico de jazz. Mas vale a pena pensar que a música soul que lhe corre nas veias e impulsiona a voz é de facto o seu toque diferenciador, mesmo quando ronda o hip-hop. Neste seu novo álbum, “No Beginning, No End”, o primeiro para a Blue Note, ele deixa de lado sonoridades mais electrónicas do trabalho anterior, “Blackmagic” e percorre arranjos mais acústicos e, de alguma forma, mais genuínos e o efeito final é mais intimista, mais intenso. Temas como “Trouble”, “Vanguard”, “No Beginning, No End”, “Tomorrow” ou a versão de “Come To My Door” com Emily King, são provas do talento de José James. E razões mais que suficientes para ouvir este disco.


PROVAR - Há uma razão líquida para ir ao Vélocité Café na Duque de Ávila - é a cerveja artesanal “Sovina”, na variedade Bock. Combina muito bem com o hamburguer de bacalhau com, aioli em pão pita, uma das especialidades da casa. Outra é o prego em bolo de caco de alfarroba e uma outra é a tosta de broa de milho com pasta de chouriço. A lista é razoavelmente extensa, enmtre saladas e snacks e alguns pratos do dia, muitas vezes com uma opção vegetariana. Se gosta de cerveja não hesite em provar esta “Sovina”, feita no Porto e ainda uma raridade em Lisboa. Tem um paladar único - e apesar dos seus 7,5 graus de alcool, o que exige prudência, é de uma grande leveza. O estabelecimento onde tudo isto se passa é um misto de restaurante e cafetaria com oficina de bicicletas, loja de acessórios e, claro, também de diversos modelos de bicicletas para várias idades. Boa decoração, boa onda, bom espaço e, ainda por cima uma cozinha simples mas bem cuidada. Para os adeptos do petisco a tábua de queijos com doces da estação é também uma boa experiência e ao fim de semana há brunch. O Vélocité Café fica na  Avenida Duque de Ávila 120, mesmo ao pé da ciclovia, e tem o telefone 213 545 252.


DIXIT - Paulo Portas sabe mais de táctica sózinho que a direcção do PSD por atacado - José Eduardo Martins


GOSTO- Código do processo civil vai dar prazo máximo de 30 dias a juízes para proferirem sentenças


NÂO GOSTO - Três dos quatro bancos que tiveram ajuda do Estado reduziram mais o crédito às empresas do que a média do sector.


BACK TO BASICS -  A invocação da necessidade é o argumento mais utilizado para se justificar a limitação da liberdade -William Pitt


(Publicado dia 19 de Abril no Jornal de Negócios)

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publicado às 15:53

O SÓCRATES

por falcao, em 16.04.13

Apresentado pela RTP como um trunfo para combater a queda de audiências, verifica-se no entanto que Sócrates está a perder espectadores desde que voltou à televisão. Na entrevista transmitida dia 27 de Março, e que assinalou o seu regresso à RTP, o ex-Primeiro Ministro teve cerca de 1,61 milhões de espectadores. No Domingo 7 de Abril a estreia de “A Opinião de José Sócrates” alcançou 978 mil espectadores mas neste último Domingo, dia 15, a segunda emissão caíu para 757 mil espectadores, uma queda de cerca de 22,5%.

 

À mesma hora, na TVI, Marcelo mantinha-se firme, sem grandes variações, nos seus habituais 1,6 milhões de espectadores. Tudo isto acontece numa semana em que teoricamente podia haver interesse político em ouvir a opinião de Sócrates: o PS tinha feito eleições directas que reconduziram António José Seguro, tinha havido uma mini-remodelação e o CDS/PP lançou uma ponte ao PS a propósito da reforma do Estado. Mas nem nesta conjuntura política José Sócrates conseguiu aumentar a sua plateia.

 

Confesso que ainda não tinha visto o programa que a RTP emite com José Sócrates na noite de Domingo. Ontem espreitei e uma das coisas que me causa alguma perplexidade no programa é o cenário – baseado numa imagem híper-aumentada que reproduz a silhueta da cara de Sócrates, por trás da sua presença ao vivo. Parece-me de mau gosto e um pouco a puxar ao culto de personalidade. A falta de capacidade de fixar audiências tem também a ver com isto – e com um discurso mais revanchista que virado para o futuro. O estilo de propaganda, que Sócrates escolheu, é derrotado pela conversa bem disposta e mais solta de Marcelo Rebelo de Sousa.

 

(publicado no diário Metro de dia 16 de Abril)

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publicado às 18:16

Como criar saturação nos públicos?

por falcao, em 12.04.13

 

ANÁLISES - No Domingo passado José Sócrates, na RTP1, teve uma audiência média de 978 mil telespectadores, enquanto Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI, alcançou 1,6 milhões. Os números nāo mentem e, nesta semana em particular, evidenciam uma coisa, que voz amiga bem me sublinhou: estamos numa fase em que as pessoas nāo querem ouvir comícios, nem ataques, nem vinganças; querem quem as ajude a pensar e a compreender, querem quem aponte algum optimismo com espírito construtivo. É isto que Marcelo faz, e é o contrário do que Sócrates proporciona. Mesmo o universo anónimo e heterogéneo das audiências televisivas consegue separar o trigo do joio.


POLÍTICA - Chego ao meio da semana um pouco perplexo. Será possível que o Governo verdadeiramente nāo equacionasse um “chumbo” do Tribunal Constitucional? Os juristas que estāo no Governo e nos gabinetes nāo se pronunciaram? Os políticos nāo previram? Os constitucionalistas da área do PSD nāo disseram ao Primeiro-Ministro aquilo que nestes dias mais recentes têm escrito, comentando a situaçāo? Ou pura e simplesmente o Governo nāo quis ouvir? Nāo consigo deixar de pensar que, ou o Governo previu o que ía acontecerr e estudou alternativas,  ou não previu - e aí o caso revela inconsciência. Nem quero pensar que o Governo soubesse, desde o início do processo do Orçamento que isto iria acontecer, e que voluntariamente deixasse a panela ao lume, para,quando fervesse, poder dramatizar a situaçāo. Qanto maior a dramatizaçāo, já se sabe, maiores os argumentos para justificar o que aí vem - os cortes na despesa. Os mesmos cortes que há muito deviam ter sido estudados, preparados e anunciados, para poderem ser implementados de acordo com um plano gradual que tivesse apoio político para além da coligaçāo. Infelizmente o Governo preferiu fechar-se cada vez mais dentro de si próprio, criando divergências nos próprios partidos que o apoiam e menosprezando a necessidade de conseguir alianças. No fundo, o desprezo pela negociaçāo política, que é a única coisa que nos pode salvar.


SEMANADA - Miguel Relvas à quinta, Tribunal Constitucional à sexta, Conselho de Ministros ao sábado, Passos Coelho, José Sócrates e Marcelo Rebelo de Sousa ao Domingo, António José Seguro à segunda; ainda no Domingo o Nobel da Economia Paul Krugman, referindo-se a Portugal e a novas medidas de austerirdade, comentou “Just say Nao”; o Financial Times escreveu em editorial que os sacrifícios dos portugueses serāo em vāo se nāo houver um plano europeu para impulsionar o crescimento; António Lobo Xavier afirmou no início da semana que “este é o momento da remodelação do Governo”; Vitor Bento afirmou que o acordão do Tribunal Constitucional “estreitou o caminho de permanência no euro”; Num artigo de opinião, Ângelo Correia sublinhou: “só se reforma ou refunde um Estado, se se reformar ou refundar os principais atores, ou seja, os partidos”; o economista João Ferreira do Amaral propôs que o melhor para as contas públicas seria diminuir a carga fiscal para que a economia voltasse a crescer; Eduardo Catroga disse que o Governo desperdiçou ano e meio para reduzir a despesa pública; o chumbo do Tribunal Constitucional a quatro artigo do Orçamento de Estado para 2013 não terá efeitos imediatos no 'rating' da dívida soberana de Portugal, considera a agência de 'rating' Standard & Poor's; a troika anunciou que na próxima semana fará uma visita de urgência a Portugal.


ARCO DA VELHA - Título da semana, sobre a saída de Miguel Relvas do Governo: “Passos perde pára-raios”.


VER - Carlos Correia é um dos mais interessantes artistas portugueses contemporâneos e desde há alguns anos tem vindo a mostrar um olhar muito peculiar em relação ao que se passa à sua volta, evocando momentos que misturam a realidade com referências a obras clássicas da pintura (nomeadamente Manet) ou situações de imagem quase noticiosa. Mas em todas elas há um peculiar sentido de observação, um sentido de humor elegante e o estabelecimento de uma cumplicidade entre o artistas e o espectador da sua obra, que se revela aliás no título que retoma para a sua nova exposição - “La Place Du Spectateur II”, e que estará patente desde quinta-feira 18 de Abril na Galeria  Baginsky, em Lisboa, na Rua Capitão Leitão 51 a 53, ao Beato, em Lisboa.


OUVIR- Mesmo num disco com muita produção, como é este, Madeleine  Peyroux consegue transmitir a ideia de que estamos num clube de jazz a falar com amigos e a beber um copo quando surge uma cantora que nos começa a seduzir. Essa faceta, digamos, de cabaret, sempre me atraíu em Peyroux. Quando começou a trabalhar em “The Blue Room”, o novo álbum, a ideia seria fazer um disco de homenagem a Ray Charles, baseado no repertório de “Modern Songs”, dois álbuns que se tornaram referência na obra do cantor. Mas a meio do percurso a coisa evoluíu para incluir outras canções modernas, como “Bird On The Wire” de Leonard Cohen, “Desperadoes Under The Eaves” de Warren Zevon, ou “Guilty” de Randy Newman. As interpretações de Peyroux de temas cantados por Ray Charles, como “Take These Chains”, “I Can’t Stop Loving You”, “Bye Bye Love” ou “Born To Lose” são exemplos de contenção e criatividade, ajudados pelos arranjos de Larry Klein. O disco inclui ainda um DVD com uma versão acústica, ao vivo, de “I Can’t Stop Loving You”, um documentário sobre o processo de produção do trabalho, e o teledico de “Changing All Those Changes”, uma das interpretaçōes clássicas de Ray Charles, uma canção de Buddy Holly, que Madeleine Peyroux resgatou para este “The Blue Room”.


FOLHEAR - A revista “Photography” (melhor dizendo, British Journal of Photography) é uma das melhores publicações que podemos encontrar sobre os caminhos percorridos pela imagem fotográfica, novidades técnicas e exemplos do trabalho de fotógrafos de diversas sensibilidades. Não mostra apenas fine art, nem apenas foto-jornalismo. Abre as páginas a ensaios e a novos criadores, e assim torna-se uma das poucas publicações do género a dar uma imagem ampla do que se faz pelo mundo - como prova o artigo sobre novos fotógrafos orientais. Além disso reporta iniciativas como o “The Commons”, resultado de um acordo entre a Library of Congress dos Estados Unidos e o Flickr, destinado a recuperar e a trabalhar arquivos antigos e geralmente esquecidos. Mas o prato forte desta edição é o especial de 16 páginas sobre “Genesis”, o novo trabalho de Sebastião Salgado que ele desenvolveu ao longo dos últimos oito anos. Além de várias imagens da série (que vai dar um livro e uma exposição), o artigo mostra o processo de trabalho de Salgado, da preparação à impressão das imagens, fala do material que usa desde 2008 (Canon 1Ds Mk III, digital) e revela que no final as fotografias são processadas através de um programa de software, DxO que, a partir de imagens digitais, consegue reproduzir o aspecto característico do filme a preto e branco Kodak Tri-X de 35 mm. O artigo é fascinante e só por si vale os 12 euros que a revista custa em Portugal. Podem ter uma ideia da coisa em www.bjp-online.com ou na aplicação para iPad.


PROVAR - Nos últimos tempos começa a surgir uma nova geração de restaurantes que apostam na comida portuguesa de qualidade, ementa diária limitada mas variada e serviço atencioso. O S- Restaurante & Petiscos, está neste campo. Abre de segunda a sexta ao almoço e à sexta, à noite, serve petiscos. Fica nas antigas instalações da “Bruschetta”, ao Rato, uma bela sala de arcos de pedra, agora dividida em duas áreas, uma delas, ao fundo, para fumadores. A ementa diária tem quatro pratos cozinhados e alguns grelhados, o vinho da casa, branco e tinto, é servido em jarros e vem da Casa Ermelinda Freitas; o couvert inclui um honesto paio fatiado e um queijo simpático. Panadinhos de frango com arroz de coentros, bola de cozido, polvo com batata doce, galo de cabidela ou arroz de pato são alguns dos pratos que fazem a marca da casa. Pode ser reservada para graupos ao jantar. S - Rua de S. Filipe Nery 14, telefone 213 866 372. Chegue cedo, que a casa enche depressa com uma clientela fiel.


GOSTO - Da aplicação “wunderlist” , para me ajudar a organizar os dias.


NĀO GOSTO - Da absurda situação de confusão a que o silêncio do parlamento remeteu as candidaturas autárquicas.


BACK TO BASICS - “Aquilo que é ilegal pode fazer-se imediatamente. O que é inconstitucional demora um pouco mais de tempo” - Henry Kissinger em, 1973, ao New York Times.


(Publicado no Jornal de Negócios de dia 12 de Abril)

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publicado às 18:26

À ESPERA...

por falcao, em 09.04.13

Temos todos passado estes dias à espera. Na sexta-feira, depois de esperarmos meses, o Tribunal Constitucional ainda nos fez esperar um bom bocado para além da hora anunciada. A partir daí passámos a esperar pelo Conselho de Ministros extraordinário de sábado; depois esperámos pelo comunicado do Presidente da República; a seguir passámos a esperar pela comunicação oficial do Primeiro Ministro, no Domingo, que por sua vez criou expectativa por aquilo que Sócrates e Marcelo Rebelo de Sousa iriam dizer à noite. À hora a que escrevo aguarda-se que Seguro fale, à mesma hora que Passos falou na véspera, e que seja anunciado um novo Conselho de Ministros extraordinário para terça-feira.

 

No entretanto, olhando para as audiências de televisão da semana passada, constata-se que  o futebol derrotou completamente a política. Os dois programas de televisão mais vistos na semana passada foram as transmissões dos jogos Benfica-Newcastle e do Real Madrid-Galatasaray. O terceiro lugar coube à novela "Dancin'Days" e em quarto lugar ficou o "Jornal das 8" de Domingo da TVI, que inclui o comentário de Marcelo Rebelo de Sousa - que teve 34,1% de share. "A Opinião de José Sócrates" limitou-se ao 14º lugar de audiências com 19,5% de share - enfim , coisa pouca para quem esperava que isto voltasse a colocar a RTP no pódio.


Parece que agora, finalmente, se vai olhar para a despesa. Só por causa das coisas recordo as palavras de Eduardo Catroga, num artigo de opinião: “O Governo desperdiçou ano e meio para reduzir a despesa pública (...) O Governo devia, na segunda metade de 2011, ter confrontado a troika (...) ter criado capital de queixa para utilizar no momento oportuno.” Pelos vistos o Governo ficou à espera - infelizmente andamos sempre demasiado tempo à espera.


(publicado no diário METRO de 9 de Abril)

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publicado às 07:28

PESADELO - Na mesma semana em que o PS apresentou, como puro gesto de retórica, uma moção de censura ao Governo, sem conseguir detalhar uma única medida alternativa plausível para conseguirmos sair da crise, soube-se que aumenta o número de Ministros que desejam sair do executivo e o número daqueles que não se sabe bem o que lá andam a fazer. Miguel Relvas já saíu pelo seu pé mas Vitor Gaspar continua ao leme, autêntico Primeiro Ministro sombra, alimentando-se de previsões falhadas, entre ministros até aqui imobilizados como Nuno Crato, ou um Santos Pereira que não consegue encontrar espaço para fazer o que quer que seja. O comportamento de uma parte cada vez maior do Governo e de uma parte cada vez maior dos partidos que o integram é um sinal de perigo mais evidente que a moção de Seguro. No meio disto continua a obsessão por mudar o nome às coisas sem cuidar da substância - é assim que depois de se terem enterrado as Novas Oportunidades se dá uma dose de vitaminas a um Impulso Jovem que se arrisca a ser o maior exemplo de política espectáculo dos últimos anos. Não estou certo que mais política espectáculo seja aquilo que nos faz falta, e inclino-me para pensar que o Governo e o Presidente da República fariam bem melhor em estudar como se pode mudar de politicas e como é absolutamente necessário alterar a forma de fazer política. E, no entretanto, estamos todos à espera de um Tribunal Constitucional que desenha a sua própria táctica politiqueira. Isto tem todos os ingredientes para acabar mal.


SEMANADA - Entre 2010 e 2012 as dívidas das famílias e das empresas tiveram uma pequena diminuição, mas a do Estado teve um aumento de 25%; os impostos indirectos caíram 6,4% em Fevereiro, mas a previsão do Governo era um aumento de 0,2%; as contribuições para a segurança social subiram 1,8% mas as previsões do Governo eram de uma subida de 8,1%; os gastos com o subsídio de desemprego aumentaram 21,1% em Fevereiro face ao período homólogo de 2012, mas o Governo só previa um aumento de 3,8%; prevê-se agora uma redução do PIB nominal  de 1,1 mil milhões de euros face a 2012, quando no Orçamento de Estado estava previsto um aumento de 0,4 mil milhões de euros; um estudo da Goldman-Sachs sobre o acesso das empresas ao crédito em diversos países europeus, mostra que em Portugal o custo dos financiamentos bancários é de 6,68% e na Alemanha é de menos de 3%; as queixas sobre a conta da electricidade duplicaram este ano em relação a igual período do ano passado; no hospital de West Suffolk, em Inglaterra, 40 dos 55 enfermeiros são portugueses; a série norte-americana “A Bíblia”, exibida pela SIC na Páscoa, e que tinha como protagonista o actor português Diogo Morgado no papel de Jesus Cristo, foi vista no total por 2,5 milhões de espectadores, batendo largamente o reality-show do serviço público de televisão protagonizado por José Sócrates.


ARCO DA VELHA - O piso do novo passeio da Ribeira das Naus teve que ser reparado três dias depois da inauguração oficial.


VER - O início de actividade de A Pequena Galeria (Av 24 de Julho 4c, à Praça D. Luis) é o pretexto para hoje sugerirmos uma incursão pela fotografia. Obra de sete sócios, A Pequena Galeria foi buscar o seu nome a The Little Galleries of the Photo Secession, de Alfred Stieglitz, fundada em 1905 na Quinta Avenida, em Nova Iorque. A Pequena Galeria é uma bela ideia, que promete actividade e variedade - abriu a 21 de Março com a colectiva #Salão1 e quinta-feira 4 de Abril inaugurou a sua segunda exposição, Flâneur Noir,  de um dos sócios, Guilherme Godinho, que tem a particularidade de fotografar a preto e branco com um Blackberry 9700 Bold, o que, em tempos de Instagram e iPhone não deixa de ter a sua graça. Na K Galeria (Rua das Vinhas 43A, ao Bairro Alto), Pedro Letria comissariou a primeira mostra de imagens do colectivo Kameraphoto tiradas em 2012 no âmbito do projecto DR - Um Diário da República. A exposição tem edição em livro, sob o título Please Hold e, ao mesmo tempo, inaugurou também, no mesmo local, Volto Já, de Augusto Brázio. A Galeria Quadrado Azul mudou-se do Largo Stephens, ao Cais do Sodré, para Alvalade, na Rua Reinaldo Ferreira 20-A (perto da Padre António Vieira). "Gloom", uma exposição individual de Paulo Nozolino, formada por um conjunto de 10 imagens verticais, a preto e branco, todas da Bretanha. E, finalmente, Rita Barros mostra na Loja da Atalaia (ao lado do restaurante Bica do Sapato), a  série, Displacement 2, que foi iniciada no final do verão de 2012 e que mostra o processo de desconstrução do Chelsea Hotel, em Nova Iorque, onde ela viveu durante vários anos e que tem sido uma inspiração recorrente na sua obra.


OUVIR- O fado, por estes dias, desenvolve-se entre a moda e a poluição, que na música andam de mãos dadas. Hélder Moutinho não é moda porque não tem época nem tempo. É diferente dos imitadores e das poluições porque a voz anda a par com o sentir - o sentir do peso das palavras e o sentir das músicas. Esta combinação não é frequente, é rara. Quando acontece, devemos ouvir. Quem canta assim, quem conjuga a voz com as guitarras e as violas, quem diz o que sente e pronuncia as palavras a fazerem poema, merece ser ouvido - embora, no meio das modas e poluições, não seja fácil conseguir voltar a ouvir. Mas, mal começa a tocar este “1987”, percebe-se que Hélder Moutinho é diferente. Precisa mesmo de ser ouvido. Bem ouvido. Sente-se como ele e Frederico Pereira, que assegurou a direcção musical e a produção, fizeram equipa. Dá gozo ouvir este disco, sentir o trabalho, a dedicação, o conceito, a imaginação. De certa forma este álbum é conceptual - desenvolve-se em cinco momentos - cada um deles escrito de forma diferente - por Hélder Moutinho ele próprio, José Fialho Gouveia, João Monge, Pedro Campos e Fernando Tordo, que fez um fado absolutamente surpreendente, de homenagem a Beatriz da Conceição, o culminar perfeito de um disco que é uma história de Amor e de Lisboa. Não por acaso o primeiro fado do disco explica tudo: “Venho De Um Tempo”. Daqui a um mês, dia 3 de Maio, Hélder Coutinho apresenta estes fados, ao vivo, no Teatro de S. Luiz. (CD “1987”, de Hélder Moutinho,  HM Música/ Valentim de Carvalho).


FOLHEAR - Foi preciso folhear com atenção a Monocle de Abril para descobrir uma marca de armações de óculos portuguesa exemplarmente desenhada - Paulino Spectacles, criada por Ramiro Pereira, e fabricada à mão em Portugal. Outra referência lusitana na mesma edição vai para o restaurante Can The Can, no Terreiro do Paço, onde se criam delícias a partir de conservas portuguesas, um projecto de Rui Pragal da Cunha que foi buscar o nome de uma canção de Suzi Quatro, a rainha do Glam Rock, para designar a casa. Logo por acaso o Can the Can está na mesma edição em que a Monocle fala do St John em Londres, do Vivant Table em Paris ou do célebre Noma em Copenhaga - isto além de um completo guia de viagem a Tanger. Mas a história mais deliciosa desta edição da Monocle é sobre o grande negócio que representa para os museus a venda de postais com reproduções de obras das suas exposições.O Nezu, um dos mais célebres museus japoneses, em Tóquio, recebe 180 000 visitantes por ano e vende cerca de um milhão de postais e o departamento de postais da Tate Modern, de Londres, vende 750.000 libras de postais por ano a 65 pence cada um, todos cuidadosamente impressos em  papel de 330 gramas. O mais vendido é o que reproduz uma obra de Salvador Dali e outro, de Roy Lichtenstein, segue a curta distância.


PROVAR - Mercearia do Peixe é um nome invulgar para um restaurante, mas ele funciona bem - e se o peixe é fresco e bem grelhado a carne não lhe fica atrás. Aqui exercem com perfeição o exercício dos bons grelhados, feitos a partir de boa matéria prima, seja tirada do mar, seja crescida em terra como um belo naco de boa carne. O serviço é simpático e eficiente, a sala é ampla com uma boa esplanada (agora coberta) que quando chegar finalmente o bom tempo deve ser bem agradável. Este é um daqueles restaurantes onde os preços são comedidos sem que isso signifique sacrifício na qualidade. Fica em Caxias, por trás do Jardim da Cascata Real, na Avenida António Florêncio dos Santos 7, telefone 214 420 678.


GOSTO- A editora portuguesa Planeta Tangerina foi considerada a melhor da Europa em livros para a infância

NÂO GOSTO - As fraudes em reformas e em subsídios da segurança social atingem cerca de cinco mil milhões de euros

BACK TO BASICS - Governo e sorte são necessários à vida, mas apenas um louco confia plenamente no Governo e na sorte - P.J. O’ Rourke


(Publicado no Jornal de Negócios de 5 de Abril)


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publicado às 14:56

O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DO IVA

por falcao, em 02.04.13

Parece que os rapazes da troika andam muito surpreendidos com o facto de a electricidade estar cara e não ter tido grandes reduções de preço. Por mim falo, mas na realidade eu pago bem mais electricidade desde que se lembraram de aplicar o IVA a 23% a este consumo. Mas o IVA não se aplica apenas à energia que eu efectivamente consumo.

 

A EDP fez o favor de este mês incluir nas facturas um esclarecimento aos consumidores sobre a composição do preço. Fiquei a saber que cerca de 30% do total do valor que a EDP me factura, antes de IVA, vem das rendas pagas a municípios pela passagem da rede de abastecimento e dos subsídios à produção dos vários tipos de energia - atenção: dos subsídios e não dos custos de produção e comercialização que são outra coisa e estão indicados à parte.

 

Este apoio obrigatório que os consumidores têm que dar a mais de 30% do que lhes é cobrado, está também sujeito a IVA – apesar de, para todos os efeitos, ser uma espécie de taxa. Mas além de pagarmos IVA sobre estes subsídios, também pagamos IVA sobre a contribuição audiovisual obrigatória (que é o que alimenta a RTP para supostamente ela prestar serviço público), também pagamos IVA sobre o Imposto Especial de Consumo de Electricidade e também pagamos IVA sobre a Taxa de Exploração que se destina a pagar a existência da Direcção Geral de Energia.

 

Praticamente um terço do valor da factura de electricidade reflecte taxas e subsídios, também sujeitos a IVA – uma espécie de dupla tributação. Isto é um bocadinho de roubalheira, ou é impressão minha? Se o IVA, mesmo continuando a 23%, só fosse aplicado à parte correspondente à energia e à distribuição, aquilo que cada um de nós paga desceria quase sete por cento.

 

(Publicado no diário METRO de dia 2 de Abril)

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publicado às 12:27


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