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(DES) POLÍTICA - A um escasso mês das eleições autárquicas continua sem se saber exactamente o que irá acontecer em relação a uma série de candidaturas, suspensas de uma decisão do Tribunal Constitucional sobre a lei de acumulação de mandatos. Não vou tecer comentários sobre a posição dos privilegiados juízes do Palácio Ratton, que estão, na maioria, a banhos em parte incerta e sem sinais de quererem interromper o seu lazer - a coisa é apenas um retrato de um sistema completamente caduco. Mas o que me deixa estarrecido neste processo, desde o início, é a forma como os políticos abdicaram de fazer política e passaram esta responsabilidade para os tribunais. As dúvidas sobre a Lei, feita pelo PS, PSD e CDS na Assembleia da República, deviam ter sido esclarecidas e eventualmente corrigidas pelos seus autores no mesmo sítio onde essa legislação nasceu - o Parlamento. Mas em vez de chamarem a si a responsabilidade, no que parecia uma decisão política óbvia, os nossos políticos, os seus partidos e os respectivos líderes parlamentares deram uma tristíssima imagem de si próprios ao abdicarem da sua qualidade de legisladores, remetendo uma decisão política para os tribunais. Quando isto acontece numa época em que tanto se fala - com preocupação e razão - da judicialização da política, é elucidativo o facto de serem os próprios políticos a, abstendo-se de cumprirem o seu mandato e aquilo que deles se espera, surgirem a promover essa judicialização numa questão básica do regime como é uma Lei Eleitoral. Em vez de política frontal preferiu-se a vergonha dos arranjos de interesses, da criação de confusão na mais vergonhosa demonstração de cobardia política generalizada de que tenho memória. Não se queixem agora os políticos das férias dos juízes do Constitucional - são eles, os políticos, que deixaram de fazer o que deviam.
SEMANADA - Nas cerca de três centenas de municípios há 80 candidaturas independentes, não apresentadas por partidos, totalizando cerca de 25% do total e representando cerca de 33% do número de eleitores; mais de 80 candidatos têm canais pessoais no Meo Kanal, e o PS é o partido que mais usa esta plataforma tecnológica; Manuela Moura Guedes foi escolhida pela RTP para apresentar a nova série do concurso “Quem quer Ser Milionário”; 27 por cento dos trabalhadores por conta de outrem tiveram cortes salariais em 2012; nos últimos 25 anos o número de casamentos diminuíu 40%; cerca de ⅓ dos serviços do Estado falharam o prazo para a entrega nas Finanças das propostas de orçamento para o próximo ano e o Ministério da Educação foi o recordista nos atrasos; encargos com a saúde na ADSE diminuíram 100 milhões de 2011 para 2012; a circulação de veículos nas auto-estradas caíu 6,3 por cento no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado; a polícia russa confiscou na segunda-feira um quadro satírico em que o Presidente Vladimir Putin surgia a pentear o primeiro-ministro Dmitry Medvedev, ambos vestidos apenas com roupa interior feminina; o Skype fez dez anos e liga 300 milhões de pessoas.
ARCO DA VELHA - No meio do inferno dos incêndios soube-se que um homem ateou uma dezena de fogos ao saber-se traído pela mulher.
VER - Apenas a carolice e a dedicação de uma pessoa, José Delgado Martins, explicam a persistência de um local como a “Casa das Artes de Tavira”. Delgado Martins, que há quase 30 anos é responsável por este espaço, fez com que ele se afirmasse como um porto seguro onde se pode ir vendo, em Tavira, obras de artistas contemporâneos portugueses. O horário de verão é pensado em função dos hábitos estivais, o que faz com que a Galeria esteja encerrada nas horas do calor e que à noite esteja disponível para visitas. Por estes dias, até 7 de Setembro, podem ali descobrir obras recentes de Pedro Calapez sob o título “Espaço Moldado”, numa montagem ritmada e cativante nas três salas por onde as peças se distribuem. Tudo isto se passa na rua João Vaz Corte Real 96, em Tavira.
OUVIR- Rokia Traoré, guitarrista e cantora do Mali, da etnia Bambara, é um dos nomes grandes da música africana contemporânea, tendo começado a sua carreira no final dos anos 90. Desde cedo se interessou por utilizar a tradição musical do seu país em fusão com a música popular de origem anglo-americana. “Beautiful Africa”, o seu novo disco, o quinto, é aquele que mais influências rock aparenta em toda a sua obra, foi produzido por John Parish, que fez carreira e ganhou fama ao lado de nomes como P.J. Harvey, desempenha aqui a função de guitarrista convidado e, sobretudo, como produtor, tem uma influência decisiva na sonoridade final do disco. Traoré canta em inglês, mas também em bambara, e tanto usa instrumentos ocidentais como o tradicional n.gori e, além de Parish, é acompanhada por um grupo de músicos africanos. O resultado é um conjunto de canções de invulgar qualidade e onde me permito destacar os temas Kuama, Melancolie e, sobretudo, a faixa título, sobre a situação no Mali, “Beautiful Africa”. CD Nonesuch, na Amazon.
FOLHEAR - Todos os anos, por esta altura, a revista semanal norte-americana “Time” publica um número duplo, de Verão. Este ano o tema escolhido foi o aniversário dos 50 anos da marcha pelos direitos cívicos dos negros norte-americanos, em Washington, liderada por Martin Luther King. Este número da revista, ainda em distribuição, é um exemplo - da capa à escolha das fotografias ou à concepção de toda a edição - a escolha dos artigos, a forma como são paginados, a sequência com que são publicados - tudo é um exemplo de grande jornalismo e de grande imprensa. Esta edição da “Time” é a prova de que em nenhum outro media se consegue fazer o que se faz na imprensa - seja hoje em papel ou amanhã em digital. A capacidade de contar histórias, escritas e mostradas nas fotografias, é bem maior aqui que num flash rápido de qualquer estação de televisão. Basta ler a descrição de como nasceu o célebre discurso “I Have A Dream” para se perceber como a maneira de bem contar uma história faz toda a diferença.
PROVAR - O restaurante “O Cesteiro” vive em Vilamoura há mais de duas décadas, constantemente a dar provas de qualidade nos produtos que apresenta e confecciona. Logo na entrada há um balcão onde o fresquíssimo pescado do dia se apresenta à escolha dos clientes. A casa tem uma varanda larga, com vista sobre a Marina de Vilamoura (o restaurante é num primeiro andar), e uma sala ampla e confortável, com uma decoração intemporal que tem resistido bem ao passar dos anos. A relação de qualidade/preço de “O Cesteiro” é assinalável e é certamente uma das razões que levam a casa a manter-se. Mas ficaria mal com a minha consciência se não louvasse a competência do grelhador que, sem escalar o peixe, desempenhou a sua função acima da média: o resultado foi uma dourada fresquíssima bem grelhada, suculenta, sem perder nada do seu sabor ou textura. Antes tinham vindo para a mesa umas honestas ameijoas e umas lulinhas fritas absolutamente sublimes. O telefone do local, no Edifício Vilamarina, é 289 312 961.
DIXIT - “Magistrados do Constitucional deixam-se influenciar por motivações políticas" - Daniel Proença de Carvalho.
GOSTO- Da determinação e do esforço dos Bombeiros
NÃO GOSTO - Da ideia de, em plena época de fogos, ter assinalado os 25 anos do incêndio do Chiado com um simulacro da sua repetição.
CONCURSOS PÚBLICOS - A Comissão Nacional de Eleições (CNE) lançou em Março passado um concurso público para escolher quem asseguraria uma campanha publicitária para apelar à participação dos cidadãos no próximo acto eleitoral, as autárquicas. Após meses de impugações e atribulações diversas, a decisão foi tomada apenas na semana passada. Este concurso público previa inicialmente, em Março, 3.4 milhões de euros destinados à criatividade e a plano de meios em simultâneo. O objectivo era então criar uma campanha que apelasse ao recenseamento e à participação no acto eleitoral e explicasse a reorganização administrativa das freguesias. A primeira campanha arrancaria em Maio mas o concurso foi impugnado, no meio de numerosas acusações de que o caderno de encargos estaria feito para uma determinada entidade. O montante acabou por ser reduzido e nesta fase foi apenas adjudicada, e com polémica, a criatividade, existindo alguma dúvida sobre o que se passará com o plano de meios - isto a cerca de dois meses das eleições às quais a iniciativa se destinava. Este é apenas um dos casos de concursos, no âmbito da actividade publicitária, lançados por organismos públicos, e que claramente partem, do ponto de vista técnico, de bases erradas, sem nenhuma relação com a realidade de funcionamento do mercado - a primeira das quais é persistir ainda hoje em juntar a criatividade com a planificação de meios. Depois, e cada vez mais frequentemente, há concursos públicos que determinam a utilização, paga pelo Estado português, de empresas internacionais que são alvo de reparos na Europa por utilizarem esquemas fiscais que as livram de pagar impostos nos países onde actuam - o Google é uma dessas empresas, que surge repetidamente como de utilização recomendada ou obrigatória em concursos que envolvem fundos públicos, dinheiro dos contribuintes que, eles sim, pagam aqui os seus impostos que assim esvoaçam... Ainda em relação aos Concursos Públicos, a série de plataformas privadas que foram criadas para os acolher, e cuja utilização é paga pelas empresas que pretendem participar nas consultas, é demasiado alargada - quem quiser estar a par dos concursos lançados tem que subscrever os serviços de uma meia dúzia de entidades, todas elas com um funcionamento com diversas falhas, demoras e problemas técnicos que dificultam e tornam o processo muito pouco transparente. Este caso da Comissão Nacional de Eleições - que já teve consultas anteriores no mínimo polémicas - é o exemplo de como um orgão que está no coração do regime, que é essencial à participação dos cidadãos em eleições, e que devia estar acima de qualquer suspeita, se torna num elemento perturbador e gerador de desconfianças sobre o funcionamento do Estado.
SEMANADA - Os cadernos eleitorais para as autárquicas de setembro contam com mais de 9,4 milhões de inscritos, enquanto os dados dos últimos Censos indicam que, em 2011, residiam em Portugal apenas 8,6 milhões de pessoas; continua a barafunda em torno da aplicação da Lei de Limitação de Mandatos Autárquicos, com uns candidatos a serem autorizados por uns juízes e, outros, a serem recusados por outros juízes; a Segurança Social gastou 55,6 milhões de euros no primeiro semestre deste ano para pagar salários e compensações em atraso a trabalhadores de empresas em situação económica difícil ou que encerraram; a nova versão do Código de Processo Civil, que entra em vigor daqui a cerca de três semanas, já teve 14 rectificações, apenas mês e meio depois de ter sido inicialmente aprovada no Parlamento; a Banca cortou quatro mil funcionários desde a chegada da Troika; as seguradoras lucraram 464 milhões no primeiro semestre do ano, mais 176% do que no período homólogo do ano passado; o custo dos seguros para despesas com tratamentos de bombeiros poderá duplicar jé em 2014; a provedora dos animais de Lisboa, Marta Rebelo, nomeada por António Costa há dois meses, demitiu-se alegando falta de condições para actuar.
ARCO DA VELHA - A ERC - Entidade Reguladora da Comunicação - edita uma newsletter em formato digital, para informar sobre as suas actividades. As newsletters 70, 71 e 72, respectivamente de Janeiro-Fevereiro, Março-Abril e Maio Junho, foram enviadas por email, em simultâneo, no passado dia 5 de Agosto. Qual a eficácia desta comunicação e desta ERC?
VER - Estão com vontade de ver boas exposições de arte contemporânea e não sabem como? Experimentem visitar http://www.saatchigallery.com/ e poderão descobrir a actividade daquele que é considerado um dos cinco melhores museus no Facebook e Twitter. Criado a partir da colecção privada dos irmãos Saatchi, localizado no centro de Londres, junto a Sloane Square, numa antiga instalação militar, a Saatchi Gallery apresenta sempre obras provocantes e procura desbravar caminhos. É o caso da exposição “New Order”, sobre artistas emergentes do Reino Unido ou de “Paper”, que apresenta obras, em diversos formatos e conceitos, mas sempre como papel como suporte.
OUVIR- Andava há uns meses para escrever sobre este disco, uma compra ainda primaveril na Amazon e que me deu boas alegrias nestes tempos recentes. Trata-se de um disco de blues, assinado pelo lendário Dr. John, que aos seus 71 anos nos mostra o que é sentir e tocar Rythm’n’Blues. A produção é de um outro apaixonado pelos blues, o guitarrista dos Black Keys, Dan Auerbach. Malcolm John Rebennack Jr., assim se chama de facto Dr. John, fez com este disco a sua melhor gravação dos últimos anos. Fundamentalmente esta é uma jam session onde brilham tanto a criatividade de Dr. John, como a capacidade técnica de Auerbach. A forma como Dr. Joh toca piano eléctrico e com ele imprime uma personalidade própria a canções como “Revolution” , “Getaway”, “Big Shot” ou “Ice Age” não deixa de me espantar, quase que diria década pós década.
FOLHEAR - A edição de Verão da Monocle em formato jornal, a “Monocle Mediterraneo” vem cheia de boas ideias e de algumas referências a Portugal. É engraçado notar que a empresa editora da Monocle deixou de ser apenas uma editora de imprensa e passou a ser uma empresa de media com conteúdos em papel, na webradio e no digital. Arrisco dizer que é a primeira companhia nascida já nesta década a assumir-se desta forma e não deixa de ser extraordinário que os seus anunciantes de maior destaque sejam cada vez mais marcas tecnológicas - de carros a telemóveis. Nesta edição gostei do ponto de situação sobre a Grécia, menos catastrofista do que é habitual sobre o mesmo tema - é aliás curioso notar que a “Monocle” fala quase sempre de forma positiva sobre as coisas, estimula, dá bons exemplos - nos negócios, na cultura. na criatividade e, sobretudo, no desenvolvimento de pequenos negócios auto sustentáveis. Uma das boas peças desta edição é dedicada à indústria italiana de construção de iates e de barcos de recreio. Nós, que temos uma das maiores costas europeias, que temos tradição de construção naval, porque é que nunca desenvolvemos esta vertente, nos estaleiros que vivem em dificuldades? É um mistério que ainda hoje me persegue. Adiante: Madrid continua a investir forte na “Monocle” e esta edição não é excepção com uma página inteira de publicidade, com conteúdos, da gastronomia à música. Portugal é falado por causa das boas conservas Nero, por causa da já inevitável Comporta e duas suas CasasNaAreia e, claro, por causa do potencial surfista da Ericeira. Tudo isto, se não se recordam, se desenvolveu já nesta década.
PROVAR - Prossigo nas minhas refeições leves de verão. Desta vez foram filetes de cavala fumados em azeite, da marca Tricana, disponível desde há 80 anos na Conserveira de Lisboa. Estas conservas de fumados da Tricana são qualquer coisa de especial (já aqui falei, há umas semanas, dos belíssimos mexilhões fumados). Duas latas desta cavala (um peixa injustamente pouco considerado) e uma endívia bem cortada em salada deram um excelente jantar para duas pessoas. Uma garrafa de vinho verde Muralhas fez as honras da casa a pleno contento e uma melancia aos cubos, refrescada, completou o assunto.
DIXIT - “A política, ao pé do desporto, é um convento de freiras” - Pedro Santana Lopes
GOSTO- Dos concertos do Meo Out Jazz, que acontecem aos domingos a partir das 17h00 no Parque Eduardo VII, em Lisboa.
NÃO GOSTO - De quem vai para a política depois de ter feito carreira em negociatas que lesam os contribuintes.
DESAFIO A ANTÓNIO COSTA - Já que não vejo razão para votar em Reboredo Seara, assumo desde já que estou disposto a votar António Costa se ele vier dar uma volta de moto comigo e uns amigos meus (pode vir escoltado pela Polícia Municipal desde que de moto), num trajecto urbano não superior a 25 kms, onde se vejam e sintam os perigos e incomodidades que os motociclistas sofrem em Lisboa, e se ele fizer um compromisso escrito de reparação de dez situações graves no espaço de um ano; reafirmo que voto Costa se, a José Sá Fernandes, fôr retirado o pelouro dos espaços públicos da cidade; voto António Costa se a EMEL admitir que cada cidadão residente e contribuinte em Lisboa pode ter direito a duas zonas de estacionamento não contínguas, com definição pelo próprio de qual a principal e qual a secundária, que poderá ter um pagamento anual equivalente ao valor actual de uma segunda viatura na mesma morada; voto António Costa se a EMEL garantir um tempo de resposta ao desbloqueamento não superior a 15 minutos após contacto telefónico, sob pena de não cobrança de custos de desbloqueamento nem de multa - o equivalente à tolerância que a empresa dá. A mim parecem-me propostas razoáveis. O desafio é público, espero a resposta do candidato, que não deixarei de divulgar se - e - quando surgir.
VERÃO QUENTE - Citando o que João Gonçalves escreveu no Facebook, “o apodrecimento do regime não tira férias”, constato que este ano voltámos aos verões quentes da política. Olho para o Ministério das Finanças e vejo uma sucessão de bonecas matrioshkas, daquelas que se encaixam umas nas outras, mas que têm “swaps” escrito na testa. A Ministra, que não é isenta de ocorrências em matéria de swaps, tem juntado à sua volta, com notável falta de bom senso, um clã de swapistas. Nunca hei-de perceber o que leva alguém a escolher para o Governo um cidadão, por mais honesto e boa pessoa que se assuma, que na sua vida, por um só momento que seja, tenha sido parte de uma venda de aldrabices aos contribuintes - e não me parece que o caso possa ser analisado por quem esteve envolvido na operação. O Ministério das Finanças continua a precisar de uma limpeza - e não será o Ministério Público, essa instituição de carácter humanitário que arquiva os processos todos, citando uma feliz expressão que também li no facebook, que poderá resolver o assunto. A questão de fundo é esta: Joaquim Pais Jorge será certamente um excelente profissional na área da banca e uma boa pessoa. Acontece que, certamente por razões profissionais, esteve, mesmo que indirectamente, ligado a uma operação que visava iludir os contribuintes portugueses - no montante do défice e em custos financeiros, a proveito da instituição para a qual trabalhava. Na posição que ocupava, era difícil não saber, e avalizar, os detalhes da operação. Mesmo que não tenha sido ele a escrever, tinha que saber o que foi escrito. Dou de barato que até pode não ter estado presente nalguns momentos. Mas, a menos que não cumprisse as suas funções, não pode negar conhecimento e co-responsabilidade nas propostas apresentadas. E é de responsabilidade que estamos a falar. Ao demitir-se demonstrou que tem carácter e, nos tempos que correm, reconheço que lhe sobra aquilo que a outros falta.
SEMANADA - As pensões do Estado acima dos 600 euros sofrem um corte de 10% a partir de 2014; a medida vai abranger 500 mil reformados; no entanto, juízes e diplomatas jubilados são considerados caso excepcional e escapam a este corte das pensões; Portugal é o quarto país mais envelhecido da União Europeia; o Governo anunciou querer aumentar a idade da reforma para 66 anos já em 2014; o Presidente da República tem o estatuto de reformado, assim como a Presidente da Assembleia da República é reformada, e também os presidentes de três bancos privados, que por acaso são reformados da Caixa Geral de Depósitos; os presos VIP da cadeia da Carregueira fizeram acções de protesto contra a greve dos guardas prisionais; em Amarante um casal em que ambos eram candidatos por listas diferentes entrou em divergência política e separou-se - rompeu-se a coligação que os unia; nos ultimos
três anos foram detectadas em casas particulares cinco jibóias e seis cobras pitão e foram apreendidos a particulares seis tigres, dois leões e um hipopótamo.
ARCO DA VELHA -O Presidente da Liga de Clubes de Futebol Profissional, Mário Figueredo, foi acusado de, num acesso de fúria, ter atirado um telemóvel a um funcionário da FNAC do Norte Shopping, provocando-lhe um hematoma.
VER - Nesta semana em que se tornou patente que existe uma ruptura sobre o sistema de financiamento da nova Lei do Cinema, é particularmente interessante ver “A Gaiola Dourada”, de Ruben Alves, um filme sobre portugueses, maioritariamente filmado em França, maioritariamente com financiamento francês. Hesito em dizer que se trata de uma comédia, porque aborda assuntos sérios - um olhar cáustico sobre Portugal, particularmente actual com o aumento que a nova emigração tem tido. Mas também certeiro porque mostra a nossa complacência e brandos costumes e revela a imagem que projectamos além fronteiras. Eu gostei do filme, tecnicamente escorreito, com boas interpretações - sobretudo de Rita Blanco e de Joaquim de Almeida - dois actores que não receiam sê-lo em vez de parecer, como infelizmemte se tornou prática, por ignorância ou arrogância. E, gostei da realização e da montagem. Se mais filmes assim existissem, com princípio, meio e fim e uma ideia bem comunicada, menos guerra existiria para que o financiamento do cinema português se concretizasse. Grave mesmo, é impôr cobrança sem definir para que serve o dinheiro cobrado - sobretudo garantindo um princípio básico: o primado do produtor e a adequação da obra ao meio que a financia.
OUVIR- Pega-se no disco e saltam nomes à vista: George Duke, Stanley Clarke, Kurt Elling, Dave Grusin, Marcus Miller, Chick Corea e Nathan East são apenas alguns dos mais de 20 músicos envolvidos nestas “Rhythm Sessions”, que se desenvolvem à volta de Lee Ritenour, um dos grandes nomes da guitarra eléctrica no jazz. Todo o disco é um exercício de virtuosismo dos diversos instrumentistas, qualquer deles pronto a figurar na lista dos melhores músicos que compreendem - e executam - a música contemporânea. Permito-me destacar uma das faixas cantadas, “River Man”, um original de Nick Drake, aqui numa extraordinária interpretação de Kurt Elling. Se por mais não fosse, este tema valia para guardar este disco na memória. (CD Concorde, na Amazon).
FOLHEAR - A revista NAU XXI passa para papel a conversa abundante sobre a vocação marítima que volta e meia assola o país. Oriunda de um destino atlântico, açoreana, consegue concretizar essa atracção pelo mar - nos conteúdos, bem servidos por um grafismo envolvente e a um ritmo de paginação que, infelizmente, hoje em dia é uma raridade. Gosto deste desafios, de revistas que nascem contra o tempo e a contra a lógica das coisas, que desafiam as ideias feitas e surgem como propostas inesperadas. Este número 2 da NAU XXI tem o peixe português como tema e muito que ler - e bastante por descobrir. Gosto disto, que mais vos posso dizer?
PROVAR - Nas noites em que escrevo esta coluna gosto de petiscar alguma coisa simples, em casa. Quis o acaso que esta semana me defrontasse num supermercado com esta belíssima caixa de conservas, filetes de chaputa em escabeche. Desde o tempo em que havia uns magníficos anúncios radiofónicos do peixe congelado, que apregoavam as qualidade da chaputa, que o raio do peixe me persegue. Assim, quando vi uma embalagem de chaputas em escabeche à mão de semear, não hesitei. A confecção vem das conservas La Gondola, que aqui assinam Luças, de Matosinhos, anunciando no grafismo irresistível que desde 1920 dão o seu melhor no preparo do peixe. Este escabeche é leve e deixa solto o bom sabor da chaputa. Acompanhei com uma salada e regalei-me com um branco D. Ermelinda bem fresquinho. Rematei com um pêssego, da região de Palmela. Fiquei satisfeito, vim escrever.
DIXIT - “Tubo de ensaio é pouco, fomos um esgoto de ensaio” - Helena Sacadura Cabral sobre a intervenção da troika em Portugal.
GOSTO - As listas apartidárias às autárquicas cresceram 35% em relação a 2009
NÃO GOSTO - As mulheres representam apenas 10% do total de candidatos a cargos dirigentes em autarquias.
BACK TO BASICS - Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo- provérbio popular
LISBOA - Se há coisa que não percebo é o que se passa em Lisboa, em termos autárquicos. Enquanto o PSD optou por uma espécie de candidato mistério, já se percebeu que António Costa fez uma lista à medida para se poder ir embora tratar do PS, quando as querelas entre Mário Soares e António José Seguro se tornarem insuportáveis. O mais engraçado desta crispação socialista é o facto de ter sido a crise na coligação que levou ao forte agudizar das divergências e tensões internas no PS. A nova equipa anunciada pela coligação “Juntos Fazemos Lisboa”, que agrupa gente do PS, simpatizantes do PS e penduras do PS, dá o palco a Fernando Medina, considerado um delfim de António Costa, capaz de o substituir se ele tiver que trocar o Intendente ou a Praça do Município pelo Largo do Rato. A Costa, vontade não lhe falta, a lista apresentada comprova que será apenas uma questão de oportunidade. Há saídas curiosas como a de Nunes da Silva, o homem que fez o caos do Marquês de Pombal e deu rédea solta à EMEL, ou de Helena Roseta, a mulher que muito fala e pouco fez na área da habitação e do desenvolvimento social. Há também manutenções estranhas, como a do cómico de serviço aos espaços públicos e ambiente urbano, o Zé que não faz falta. A única surpresa desta lista do PS é o facto de ela confirmar que António Costa se colocou com meio pé fora da Câmara – o que transforma o acto eleitoral numa farsa: se escolherem Costa, os eleitores arriscam-se a votar em alguém que sairá do governo da cidade mal receba um SOS do PS.
SEMANADA - Prosseguiu o folhetim dos swaps; Vitor Gaspar contou uma história diferente da que foi contada por Maria Luis Albuquerque; Rui Rio criticou a forma como Maria Luis Albuquerque tem agido; Rui Rio criticou a candidatura de Luis Filipe Menezes; Rui Rio considerou que Maria Luis Albuquerque é uma pedra no sapato do Governo; Rui Rio disse que Luis Filipe Menezes “fez pior a Gaia do que o PS ao país”; os partidos da maioria aprovaram uma moção de confiança ao Governo remodelado; a troika também foi remodelada; disseram-me que uma boa parte dos contratos de swaps surgiram porque as empresas públicas precisavam de empréstimos e alguns bancos só os concediam se também se celebrassem contratos de swaps tóxicos- coisa que na época foi considerada um mal menor; se os estupefacientes são punidos por lei porque é que produtos financeiros tóxicos também não são?; a CGD pediu à Polícia Judiciária que investigasse negócios imobiliários do grupo; o Tribunal de Contas considera que os PPP na saúde vão custar mais seis mil milhoes de euros do que o previsto; os tribunais portugueses declararam, na primeira metade do ano, 3311 empresas insolventes, das quais 26% eram da construção, 18% dos serviços e 17% do retalho; Silva Carvalho diz que a nova lei das secretas “é um projecto silly, feito por gente silly”; o investimento directo estrangeiro caíu 65% no primeiro trimestre do ano.
ARCO DA VELHA - “Vamos convir que o trabalho não é agradável”, escreveram os desembargadores Eduardo Petersen Silva, Frias Rodrigues e Paula Ferreira Roberto no seu acordão, salientando: “Note-se que, com álcool, o trabalhador pode esquecer as agruras da vida e empenhar-se muito mais a lançar frigoríficos sobre camiões, e por isso, na alegria da imensa diversidade da vida, o público servido até pode achar que aquele trabalhador alegre é muito produtivo e um excelente e rápido removedor de electrodomésticos” - excertos de um acordão do Tribunal da Relação do Porto, sobre o despedimento de um trabalhador etilizado de uma empresa de recolha do lixo, alvo de um processo após um acidente.
VER - Uma exposição que vale a pena ver é “Sob o Signo de Amadeo, Um Século de Arte”, a peça forte da celebração dos 30 anos do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Gulbenkian. Pela primeira vez é exposta a totalidade do acervo de Amadeo Souza-Cardoso, uma obra pioneira na história do modernismo em Portugal - evocando aliás a mostra inaugural do CAM há 30 anos atrás. Ocupando todo o espaço do edifício do CAM, entre 26 de Julho de 2013 e 19 de Janeiro de 2014, encontra-se exposta cinco por cento da coleção de arte moderna e arte contemporânea da Gulbenkian, que, trinta anos depois da inauguração do CAM , conta com mais de dez mil obras. Destaque também para uma exposição que se desenrola em simultâneo, na Biblioteca de Arte, intitulada “CAM - 30 Anos de Catálogos e Posters”.
OUVIR- Silvia Pérez Cruz é uma daquelas cantoras que, á primeira audição, ficam retidas na memória. A forma de cantar, o despojamento, a capacidade de dizer as palavras ultrapassam aquela mania das boas vozes. Costumo dizer que de boas vozes está o mundo cheio, cantores que saibam cantar há que há poucos. Felizmente esta catalã sabe o que faz, e faz muito bem o seu cantar. Às vezes, faz-me Maria del Mar Bonnet - como ela é intrigante, elegante e sedutora. “11 de Novembre”, editado em 2012 e agora distribuído em Portugal pela Universal, é o seu primeiro disco. Tem canções em catalão, português, castelhano e galego. Em “Não Sei”, que ela própria escreveu, canta com António Zambujo, que reincide em “Meu Meniño”. Este é um daqueles discos que nos acompanha umas horas depois de acabarmos de o ouvir - dei comigo a pensar que Silvia Pérez Cruz é catalã, mas também tropical. Pelo meio cruza influências, uma jogada sempre arriscada, e sai-se bem do assunto.
FOLHEAR - Já houve uma altura em que gostaria de poder ter feito uma revista como a “Vanity Fair”, essa combinação subtil de conteúdos entre a evidente futilidade e a profundidade de uma grande reportagem. A capa da revista, fotografia de piscina, é dada a Kerry Washington, a actiz que fez de mulher de Ray Charles e de Idi Amin, mas também de escrava em Django Unchained e, ainda, de Olivia Pope, na muito politizada série televisiva “Scandal”. No seu sempre incontornável editorial, Graydon Carter, o editor da revista, reflecte como Washington mudou de forma acentuada nos últimos anos, como se pode ver na forma como foi evoluindo a sua presença, enquanto cenário de intrigas em filmes e séries de televisão - uma análise bem mostrada numa das grandes peças desta edição de Agosto da Vanity Fair, “Washington Noir”, a estabelecer múltiplos paralelos entre a política, o poder e o cinema e televisão, de uma forma que de repente me fez lembrar alguns dos grandes editoriais de Vicente Jorge Silva na forma primitiva da Revista do Expresso. Outro artigo curioso é a história da biografia do presidente Wilson, escrita por Scott Berg - o que nos coloca a questão de ser legítimo querermos saber porque em Portugal trabalhamos tão pouco sobre as figuras da nossa História recente. A terminar, o questionário de Proust é com John Malkovich que diz sem rodeios que mente, sempre que precisa de o fazer. Como bem sabemos, não é o único.
PROVAR - Num dia em que estão 30 graus, que fazer? Que tal ir a um local com bom ar condicionado e onde exista um belíssimo cozido à portuguesa? Pois foi o que me aconteceu nesta quarta-feira, no Solar dos Presuntos. O começo foi um queijo da ilha, de S. Jorge, na maturação certa e muito bem fatiado, ao lado de umas azeitonas verdes carnudas e saborosas. O cozido que se lhe seguiu, de carnes magras, a pedido, e com reforço das couves, nabo e farinheira, cumpriu superiormente a missão de nos criar ânimo para um jejum até Setembro - que em Agosto ali não há cozido. A refeição rematou com um melão em condições e foi acompanhada por vinho do Douro, bem achado e por sugestão da casa. Companhia amiga, conversa solta. Bom sítio, onde vale sempre a pena voltar. Solar dos Presuntos - Telefone 21 342 42 53, Rua das Portas de Santo Antão, 150.
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DIXIT - Quando penso na RTP e no serviço público audiovisual, e no dinheiro que todos pagamos para que ele exista, vem-me à mente esta citação de Steve Jobs que, tendo sido dita noutro contexto, se pode aplicar que nem uma luva ao que o serviço público devia ser: “A minha paixão tem sido pôr de pé uma empresa que resista ao tempo e onde as pessoas estejam motivadas para fazer grandes produtos. Tudo o resto foi secundário. É claro que é fantástico conseguir lucro, porque é ele que nos permite fazer esses grandes produtos. Mas foram sempre os produtos, e não o lucro, a minha motivação”.
GOSTO- Do festival de arte de rua Walk & Talk, nos Açores - um bom exemplo de descentralização, criatividade e ousadia, a romper convenções, em território arriscado - um exemplo para o país, a começar por Lisboa e o Porto.
NÃO GOSTO - Do slogan “Em Lisboa Com os Dois Pés” escolhido pela lista de Fernando Seara a Lisboa. Deve ser fruto do pendor futebolista do eventual candidato e da maneira como ele entra em campo nos debates clubísticos.
BACK TO BASICS - “É muito perigoso para qualquer político dizer coisas de que as pessoas se venham a recordar” - Eugene McCarthy
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