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EM BUSCA DAS REFORMAS POR FAZER

por falcao, em 28.02.14

 

REFORMISMO - Até mais ver a maior e quase única reforma do Estado tem a ver com a forma como foram atingidas as reformas dos cidadãos. É pena, mas é verdade. Até pode haver boas razões para tudo o que tem sido feito, mas o que motivou as decisões foi sempre a facilidade e o cuidado em não atingir as clientelas políticas que vivem directamente do Estado - no aparelho central e nas autarquias.. As alterações feitas até agora - prefiro não lhes chamar reformas - tocaram sobretudo em pontos que não provocavam clivagens políticas profundas nas máquinas partidárias e nas suas centrais de colocação de militantes dedicados e obedientes.. Por isso se pegou nas freguesias e não nos municípios, como António Barreto bem explicou numa entrevista que concedeu esta semana - na verdade quem tem dinheiro e poder são os municípios, que agora, como se vê por estes dias, contrariam o que está decidido a nível nacional, sobre horários e sobre feriados. Quando se olha para o que tinha que se fazer e para o que foi feito tem-se a sensação de que existem duas estradas paralelas, que dificilmente se encontrarão - as reformas que o memorando da troika exigia vão por um lado  e as mudanças feitas na administração pública vão por outro, numa via paralela, noutra velocidade - as duas estradas dificilmente se encontrarão. A grande questão aqui é que, por ter seguido esta via de proteger o sistema partidário vigente e ter desprezado os eleitores, está-se a matar o funcionamento do sistema político. É um assassínio premeditado. Na semana passada, um estrangeiro, na conferência promovida pelo The Economist, perguntava:”Who buys these reforms?” - pois, o problema é esse.

 

SEMANADA - Na ressaca da apresentação do seu livro Vítor Gaspar considerou insultuoso que alguém o pudesse classificar, a ele, como o quarto elemento da Troika; a propósito do lançamento da edição portuguesa de um dos seus livros, o astrofísico Hubert Reeves afirmou que “se um país como Portugal corta o apoio a escolas, professores e alunos, vai ficar a depender mais da tecnologia do exterior”; Portugal caíu mais um lugar no ranking e passou a nono país mais pobre da União Europeia, tendo sido ultrapassado pela Lituânia; no mês de Janeiro o Governo cobrou quase 100 milhões de euros por dia em impostos, um aumento de mais de 10% em relação ao mesmo mês do ano passado; em Espanha os rendimentos até 12 mil euros por ano não pagam IRS; mais de 300 mil portugueses acima dos 60 anos já foram vítimas de violência no ano passado e 160 mil foram alvo de furto ou desapropriação de bens em contexto familiar; em Portugal há 625 mil casas para vender, há 110 mil casas vagas e no total há 15 milhões de habitações para 10,6 milhões de habitantes; a idade de reforma dos funcionários públicos aumentou para os 66 anos; das 18 capitais de distrito apenas duas vão ter os serviços dependentes da autarquia em funcionamento na próxima terça-feira já que os respectivos municípios ignoram as orientações do Governo e dão tolerância de ponto no Carnaval.

 

ARCO DA VELHA - Em Loures um homem de 39 anos matou um vizinho de 35 anos a tiro por causa de uma discussão sobre o lugar de estacionamento do carro da vítima.

 

FOLHEAR - Confesso que a minha edição preferida da revista “Vanity Fair” é a do mês de Março, o célebre “Hollywood Issue”, dedicado aos Oscars do cinema. Desde a produção fotográfica da capa e do interior, até à escolha dos temas e dos intervenientes, esta é sempre uma edição espantosa. A capa, desdobrável, com o triplo do tamanho habitual, é feita mais uma vez, por Annie Leibowitz - que por estes dias vê a Taschem editar a edição especial de uma colectânea de retratos que ela fez ao longo de 40 anos numa edição especial de 476 páginas, com 70 cms de altura, cerca de 25 kgs de peso e que é vendido em conjunto com uma mesa de apoio desenhada por Marc Newson; algumas dessas fotografias estão nesta edição da “Vanity Fair”. Mas voltemos à revista - logo de entrada há quatro dezenas de páginas de fantástica publicidade das melhores marcas de moda. O tradicional retrato do mês mostra Ellen de Generis - e o editor Graydon Carter explica porque é que a escolha não recaíu, por exemplo, em Gwineth Paltrow, numa das suas melhores “Editor’s Letter” que me lembro de ler. Mas o prato forte desta revista é o portfolio do fotógrafo Chuck Close que mostra 20 retratos de estrelas do cinema - eu destaco a maneira como ele mostra Brad Pitt, Robert de Niro, Martin Scorsese,  Julia Roberts, Forest Whitaker, Bruce Willis, Sean Penn, Dustin Hoffman, Jessica Lange, Javier Barden, Herrison Ford e Steven Spielberg. Outro fotógrafo em destaque nesta edição é Sid Avery com as suas fotografias do quotidaino - como Brando a levar o lixo, Paul Newman em casa ou Elisabeth Taylor num intervalo de filmagens.

 

VER - Para mim, Rui Chafes aborda sempre a sua produção artística como uma reflexão filosófica - pelo menos é isso que sinto e é isso que me atrai nele desde que comecei a ver as suas obras - e as primeiras que vi foram as do hall de entrada do então recém inaugurado CCB. Trabalhando a escultura em metal, Rui Chafes paradoxalmente desafia a massa específica do material que usa e dedica-se a criar aparências de leveza. Por isso é tão bem achado o título desta exposição, “O Peso do Paraíso”, que mostra trabalhos feitos ao longo dos 25 anos de carreira de Rui Chafes, e que até 18 de Maio vai estar no interior do centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian e no jardim que rodeia o edifício. São peças notáveis - umas pela dimensão, outras pelo equilíbrio, outras pelo desafio. Não se fica indiferente face a uma obra de Rui Chafes e quem visitar esta exposição perceberá a forma como ele envolve, sem ser exibicionista. O equilíbrio, quando é delicado, fica sempre no pensamento.

 

OUVIR - Beck Hansen vive em Laurel Canyon, estrada de artistas de vários ofícios. O grande bluesman John Mayall fez em tempos, nos final dos anos 60, um álbum com o nome desta estrada. Dali vê-se Los Angeles e vislumbra-se Hollywood. Beck sempre quis ser um trovador moderno mas nunca esteve tão perto de o conseguir como neste seu 12º disco, “Morning Phase”. Há seis anos que não vinham novidades do seu lado, desde “Modern Guilt” de 2008. Mas aqui há de alguma forma um revisitar do seu trabalho de 2002, “Sea Change”. Há neste novo disco rastos mais evidentes e claros dos Byrds, de Neil Young é claro, mas também de Crosby, Stills & Nash ou dos Mamas & The Papas - e arrisco dizer que Buffalo Springfield passou por aqui - este é um revisitar do melhor que a west coast tinha para oferecer na segunda metade dos anos 60 e no início dos anos 70. Destaco “Heart Is A Drum”, “Turn Away” e sobretudo o poderoso “Blue Moon!”, cujo verso inicial resume tudo: “I’m So Tired Of Being Alone”. A primeira canção, “Morning”, conta a origem das coisas: “”Woke up this morning/ from a long night in the storm”. Este é um daqueles discos que vai estar na lista dos melhores deste 2014. (CD Capitol/ Universal)

 

PROVAR - Em Lisboa, nas Avenidas Novas, abriu já este ano uma mercearia e restaurante que é uma tentação a qualquer dieta. Chama-se “Aromas da Beira Baixa” e propõe pratos do dia como maranhos, lombo de porco com arroz de carqueja ou bucho recheado da Sertã - e tudo feito com preceito. Para os apreciadores de petisco há tábuas de queijos e enchidos, tapas variadas e as tradicionais tibornas. Na zona da mercearia, para quem quiser levar os petiscos para casa, estes “Aromas” oferecem uma selecção de queijo e de enchidos, entre os quais o célebre queijo amarelo da Beira Baixa, ainda recentemente louvado pela revista norte-americana “Saveur”. Para acompanhar propõe o afamado pão de Penha Garcia, estando igualmente disponível uma iguaria que é a bica de azeite (noutras regiões conhecido como bolo de azeite). Para rematar há biscoitos, compotas, chás de cultivo biológico da marca Ervas de Zoé, como um de Erva Príncipe. Nas compotas destaque para umas de ginja e de cereja recomendáveis a diabéticos e ainda uma de maçã e castanhas recomendada a todos. Nas prateleiras há ainda vinhos e azeites da região, tudo a preços sensatos. O almoço com o prato do dia, sopa e sobremesa fica por sete euros. A casa é simples e despretenciosa, o serviço é atencioso e simpático, quase familiar. Estes “Aromas da Beira Baixa” estão abertos de segunda a sábado, das 11 às 20, na Av. Marquês de Tomar nº 38.

 

DIXIT -  “Sem ir aos municípios, que são o osso duro de roer, não há reforma do Estado - com as freguesias era só riscar, não se ganha nada porque os municípios continuam a gastar” - António Barreto

 

GOSTO - Da assinatura da nova campanha publicitária da EDP, “a energia que nos une”.

 

NÃO GOSTO - Portugal tem a quarta maior taxa de desemprego da União Europeia


BACK TO BASICS - Não interessa se vamos muito devagar, o que interessa é nunca parar - Confúcio

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publicado às 14:00

COISAS - Esta semana dei comigo a pensar que os sorteios em que o Fisco vai oferecer carros aos contribuintes bem comportados pecam por poderem incorrer num agravar de desigualdades: e se os carrinhos saírem a cidadãos sem carta de condução, que podem eles fazer com os veículos? Estava eu a remoer  nisto dos veículos quando, num destes dias de chuva farta, reparei numa diligente brigada da EMEL bloqueando carros, que estavam bem estacionados, mas já com o tempo da vinheta excedido: de repente fez-se-me luz! O fisco oferece carros para contribuir para o aumento das receitas das multas e, no caso de Lisboa, para ver se consegue melhorar a situação financeira da EMEL.  Ocorreu-me então que se a Câmara Municipal de Lisboa fosse tão diligente a reparar as crateras que infestam as ruas lisboetas, como os esbirros da EMEL são pressurosos a passar multas e a bloquear, seria um prazer confortável andar de automóvel em Lisboa, em vez do presente raid de todo o terreno oferecido pela autarquia: atribulada é a estrada que leva a Belém - metaforicamente falando no caso de António Costa, muito na realidade constantando no caso dos condutores alfacinhas que para lá se queiram dirigir. Estava eu absorto a pensar nestas coisas quando constatei que foi em vésperas do Congresso do PSD que Vitor Gaspar apareceu numa encenação perfeita da recomposição do bloco central: o livro sobre as amarguras de um ex-Ministro das Finanças, designado pelo PSD, foi didaticamente apresentado por António Vitorino, um ex-Ministro socialista que se demitiu por uma questão relacionada com um pagamento de sisa ao Fisco. A plateia estava repleta de ilustres do PSD e sem uma alma próxima do CDS/PP. Olhando para o cenário ocorreu-me que gostava de saber se Rui Rio e António Costa trocarão SMS’s sobre os seus respectivos futuros durante o conclave do PSD que neste fim de semana abrilhanta o cartaz do Coliseu dos Recreios, em Lisboa. A História segue dentro de momentos.



SEMANADA - Uma sondagem do “Correio da Manhã” revela que três em cada quatro portugueses não tem confiança na CRESAP, o organismo que faz a selecção de recrutamentos para a administração pública, dirigido pelo senhor Bilhim; no final de 2013 o Estado totalizava 563 595 funcionários, menos 123 mil que em 2011; diversos tipos de fraudes lesam o Serviço Nacional de Saúde em mais de 200 mil euros por dia; a banca portuguesa eliminou mais de quatro mil postos de trabalho em três anos; Portugal foi o segundo país europeu com maior queda no consumo de energia, uma diminuição de 15,2% entre 2006 e 2012; a entrada de imigrantes indocumentados nos países da União Europeia aumentou 48% no ano passado; foi descoberta uma rede que proporcionava noivas portuguesas a imigantes ilegais a troco de 11 mil euros; perto de 30 municípios precisam de ajuda financeira urgente;  a Câmara de Cascais assinou um acordo para manter o horário de 35 horas semanais, em vez das 40 preconizado pelo Governo; o novo Presidente da Câmara Municipal de Gaia anunciou não dispôr de um milhão de euros para financiar o Mundial de Futebol de Praia em 2015, que tinha sido negociado por Luis Filipe Menezes com a Federação Portuguesa de Futebol; comentando a legislação que estabele a transferência de competências dos municípios para as freguesias, o Presidente da Cãmara de Aveiro, Ribau Esteves, afirmou que “esta lei foi feita de forma desgarrada com aquilo que é a sustentabilidade financeira para a executar”.

 

ARCO DA VELHA - Uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça considerou, num processo de divórcio baseado nas queixas de uma mulher que foi vítima de violência doméstica, que o facto de a mulher não ter saído de casa após o espancamento significa que a vítima perdoou ao marido.

 

FOLHEAR - Henri Cartier-Bresson, um dos maiores nomes da fotografia, morreu em 2004 e agora, no décimo aniversário da sua morte o Centre Georges Pompidou mostra uma exposição sobre toda a sua carreira, desde as primeiras fotografias que fez em finais dos anos 20, até aos desenhos, a que regressou no fim da vida. A exposição tem cerca de 500 trabalhos e documentos e mostra que não existiu apenas um Cartier-Bresson, evidenciando a evolução e as transformações que o seu trabalho foi tendo ao longo dos anos. A exposição estará patente até 9 de Junho e foi o pretexto para uma edição especial, fora-de-série, da revista semanal francesa “Le Nouvel Observateur”. Sob o título “O fotógrafo do século”, esta edição recolhe textos e depoimentos de contemporânneos de Cartier-Bresson, como Raymond Depardon, Sebastião Salgado e Josef Koudelka, evoca algumas das suas grandes reportagens, como nos Estados Unidos, México, União Soviérica e China, percorre a aventura que foi a fundação da agência fotográfica Magnum e fala de outras aspectos mais pessoais da sua vida. A exposição foi comissariada por Clément Chéroux, que dirigiu o catálogo (que pode ser adquirido na Amazon França), assim como o documentário “Le Siécle de Cartier-Bresson”, realizado porPierre Assouline para a ARTE. A edição especial da revista está já disponível em Portugal por €8.20 e tem 106 páginas. Uma edição para guardar.

 

VER - Estamos em época alta de exposições - por exemplo Rui Chafes na Gulbenkian, Ana Jotta na Culturgest, Michaelangelo Pistoletto no BES ART. Menos mediatizada mas muito interessante é a exposição de  Rui Sanches na Fundação Carmona e Costa, “Dentro do Desenho”, comissariada por João Pinharanda. Mais conhecido pelas suas esculturas, Rui Sanches apresenta aqui 60 desenhos, feitos ao longo dos últimos 30 anos. Quem tem seguido a sua obra sabe que o desenho surge naturalmente a par das suas esculturas e recorre a diversas técnicas e materiais que utiliza sobre o papel que lhe serve de base de trabalho. “Como síntese de uma atitude que abrange toda aobra de Rui Sanches, assistimos a uma organização do ver pensada do interior para o exterior” - escreve João Pinharanda no catálogo da exposição, sublinhando: “Tudo passa para dentro do desenho, tudo se passa dentro do desenho, tudo passa de dentro do desenho para fora dele”. A exposição está no Espaço Arte Contemporãnea da Fundação Carmona e Costa até 22 de Março, sempre de quarta a sábado, entre as 15 e as 20 horas. No mesmo local, mas no Espaço Artes Decorativas, fica até final do ano um projecto de Paulo Brighenti, “Pó”, neste caso um desenho de grande escala e uma caixa com cinco desenhos, ambos surpreendentes.

 

OUVIR - O quarteto do pianista de jazz norueguês Tord Gustavsen tornou-se particularmente notado com o seu disco “The Well”, de 2012. Já no início deste ano editou “Extended Circle” e mais uma vez faz da elegância e descrição da sua música o maior argumento. Há algo de tímido na sua sonoridade, entre o gospel e o insinuante funk do piano, há algo de orgulhoso no timbre do saxofone, há algo de magnético no entendimento do baixo e da bateria.  E sobretudo há uma forma apaixonada - e mais jazzística do que nele é costume - de percorrer o piano, desenhando suaves e intensas baladas. Dos 12 temas, nove são originais de Gustavsen, dois são improvisações do quarteto e há uma versão de um tema tradicional norueguês - e todas se sucedem de forna natural, na continuidade uma da outra, formando uma obra única. (CD ECM, na Amazon).

 

PROVAR - Em Lisboa, já se sabe, existem muitas nações e evocações de lugares distantes.  Em plena Pampulha, na intersecção da Infante Santo com o fim da Rua do Sacramento a Alcântara e o início da Rua Presidente Arriaga, há um pequeno restaurante nepalês, com uma escassa dúzia de mesas. A clientela é variada, desde diplomatas fardados de espiões (certamente saídos do vizinho Ministério dos Negócios Estrangeiros), até passantes de ocasião ou orientalistas dedicados. No local há as cores e fragrâncias da Ásia. Os pratos do dia podem incluir um caril de javali ou de veado, o pão com alho é delicioso e feito em forno de carvão, os preços são módicos. A comida é fundamentalista, o arroz é feito ao vapor, vem solto e aromático,  e é perfeito. Está aberto todos os dias, só encerra no Domingo ao almoço. Chama-se Himchuli e fica na Rua do Sacramento a Alcantara nº13, com o telefone 213 901 722.

 

DIXIT - "Quando alguém, no Canal do Panamá, abre a janela, que vê em frente? - Sines, um porto very beautiful" - António José Seguro na conferência da revista The Economist, em Cascais.

 

GOSTO - Do livro “Escrita Íntima”, que recolhe correspondência de Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes, entre 1932 e 1961.

 

NÃO GOSTO - Há 44 autarcas investigados por corrupção pela Procuradoria Geral da República, e há cerca de 80 processos de investigação que envolvem corrupção no poder local

 

BACK TO BASICS - “O que já fiz não me interessa. Só penso no que ainda não fiz” - Pablo Picasso

 

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publicado às 14:00

DISCIPLINA - Quem se coloca na posição de querer exigir disciplina tem que ser um exemplo - deverá dar-se ao respeito, tomar decisões de forma acertada, procurar persuadir em vez de impôr, explicar em vez de obrigar. Estas coisas de senso comum não são no entanto bem entendidas pelos partidos políticos, que desenvolvem e radicalizam um sistema de obediência cega sob o pretexto de conseguir a unidade na acção, nomeadamente quando se entende por acção tomar o poder, mesmo que seja por votos. O sistema de obediência e de seguidismo acentua-se à medida que os partidos se cristalizam no exercício do poder e se tornam máquinas distanciadas dos comuns dos mortais. Como bem se sabe a vida interna da generalidade dos partidos parlamentares resume-se a processos de tomada de poder a nível local, depois regional e, com sorte, a nível nacional. Discussão há pouca, os Congressos são momentos mediáticos e de exaltação dos dogmas e há muito tempo que não proporcionam surpresas. Em todo este processo o sistema de escolha de candidatos é uma das grandes paródias, destinado a alimentar clientelas de apoiantes e a fazer uma distribuição de influências. Em resumo, anulam-se os opositores e promovem-se os apoiantes. Quem não concorda deve ficar calado e obedecer. Quem se rebela tem por destino a excomunhão, que nestas coisas estatutárias recebe o nome de expulsão. Nas mais recentes eleições autárquicas o PSD escolheu, numa série de locais, candidatos que não eram desejados por muita gente do partido, com maior ou menor influência; em resultado disso surgiram diversas listas independentes que arregimentavam apoios diversos e que, em alguns casos politicamente significativos, derrotaram os candidatos oficiais que foram impostos pela direcção nacional. O mais extraordinário desta história é que os responsáveis pelo desaire eleitoral do PSD nesses locais, os que traçaram a estratégia autárquica, e aqueles que impuseram nomes e listas, não são penalizados por terem provocado cisões; mas aqueles que, em nome da sua consciência, agiram contra as ordens partidárias, são agora expulsos. Eu acho que isto é ver o mundo ao contrário, mas pelos vistos isso é o que está a dar nos tempos que correm.

 

SEMANADA - Entre 2019 e 2013 o endividamento público aumentou mais de 71,5 mil milhões de euros, ou seja um crescimento de cerca de 54%; o número de insolvências caíu 10% em 2013; os empréstimos da banca às empresas aumentaram 18%; mais de 16 mil famílias saíram da situação de incumprimento no ano passado; em 2013 entraram em incumprimento 2046 empresas; os tribunais apenas conseguem cobrar 7,6% das dívidas das empresas; a previdência paga subsídios e pensões a quatro milhões de beneficiários; a segurança social perdeu 350 mil contribuintes desde 2008; inquérito a crimes de corrupção cresceu quase 40% em três anos, mas as taxas de acusação estão abaixo dos 25%; em 2013 registaram-se  557 crimes por dia em Lisboa; Vitor Gaspar afirmou, numa entrevista para um livro, que o facto de ter corrigido ideias de Catroga antes das eleições foi uma das razões para ter sido escolhido para Ministro; dias mais tarde Eduardo Catroga desmentiu a versão de Vitor Gaspar sobre o contributo que este teria dado para o programa eleitoral do PSD; Vitor Gaspar classificou Paulo Portas como uma pessoa com “uma enorme ambição”; Fernando Tordo anunciou que irá viver para o Brasil por estar “cansado de ser governado por incompetentes”; segundo a Marktest, ao longo do segundo semestre de 2013, acederam a sites de jornais, revistas e de informação online cerca de 5 milhões de portugueses; uma colecção de uma centena de obras emblemáticas da chamada “arte povera”, pertencentes a um casal de coleccionadores italiano, foi vendida terça-feira passada em Londres pela Christie’s sem escândalo nem polémica.

 

ARCO DA VELHA - Rui Rio apoiou politicamente a eleição de Rui Moreira no Porto, contra um candidato do PSD, e não lhe aconteceu nada; António Capucho fez o mesmo em Sintra e foi expulso do partido.

 

FOLHEAR - A “Aperture” é uma das melhores revistas sobre fotografia. É publicada quatro vezes por ano, cada edição com o nome da estação respectiva. Cada número tem um tema, que lhe dá título, o deste Inverno é “Photography as you don’t know it”. O editorial, com o mesmo título, começa com uma pergunta: “Será que a história da fotografia está a chegar ao fim, ou estará apenas no seu início?”. Com a transição da película para o digital e, depois, com a vulgarização da captação de imegam nos telemóveis e em aparelhos com permanente ligação à internet, a pergunta ganha uma dimensão especial - e ao longo deste número a “Aperture” tenta mostrar exemplos da vitalidade e diversidade da fotografia. Permito-me destacar o artigo de Joel Smith, precisamente sobre a História da Fotografia e destaco ainda a entrevista com Quentin Bajac que deixou Paris e o Centro Pompidou para ser o novo Conservador principal de Fotografia no MOMA, em Nova York. Muito acertadamente sublinha que a grande questão que se lhe coloca hoje em dia é conseguir seleccionar o que vale a pena num fluxo cada vez maior de imagens fotográficas, que todos os dias aumenta. A secção Pictures desta edição mostra o trabalho de dez fotógrafos pouco conhecidos, cada um com um portfolio, acompanhado por um texto que enquadra o autor. Um deles é o fotógrafo moçambicano Ricardo Rangel (1924-2009) e o texto que o apresenta foca a sua importância no contexto da fotografia africana, nomeadamente do fotojornalismo na época colonial. Oito fotografias, da década de 60 e 70 exemplificam o seu trabalho, hoje depositado no Centro de Formação Fotográfica de Maputo.

 

VER - Desde há mais de duas décadas José Maçãs de Carvalho vem fazendo fotografia, primeiro na sua zona de conforto, da terra onde nasceu e cresceu, e depois alargando o olhar, sobretudo a Oriente nos anos mais recentes. Ao mesmo tempo faz incursões no universo de video, mas sempre com o espírito de observação que é a sua imagem de marca. O Arquivo Fotográfico de Lisboa mostra até 8 de Março a exposição “Arquivo e Domicílio”, que percorre a sua carreira, juntando imagens de várias épocas que podem ter leituras comuns ou complementares. Desenvolvendo-se nos dois pisos do Arquivo, a exposição permite ver no piso inferior os mosaicos que compõem a memória de imagens do autor, e, no piso superior, memórias mais pessoais ligadas à história das próprias fotografias mostradas - quase apontamentos visuais. Neste sábado, 15 de Fevereiro, pelas 15h00, José Maçãs de Carvalho apresenta no Arquivo Fotográfico (Rua da Palma 246, quase a chegar ao Martim Moniz), o livro “Unpacking - A Desire For The Archive” que percorre o tema da exposição - o processo de significação das imagens fotográficas do arquivo do autor. Trata-se de uma edição limitada a 50 exemplares, cada um manuscrito, o que os torna em objectos únicos.

 

OUVIR - Se eu entrasse numa sala e estivesse a tocar o álbum “Saturday Morning”, dificilmente diria que o pianista que comanda as operações tem 83 anos - mas essa é a verdade. Ahmad Jamal consegue ainda surpreender - como um jornal norte-americano dizia, depois de anos de aquecimento ele está em grande forma. Em 2011, no álbum “Blue Moon”, Jamal interpretava temas de filmes e de espectáculos da Broadway, mas neste novo registo, efectuado em França, no estúdio La Buissonne, a maioria dos temas - sete em onze - são originais seus (e mesmo os que tinham já sido anteriormente gravados, aparecem aqui em novas versões). Os outros temas incluem três baladas - “I’ll Always Be With You” (numa fantástica interpretação), “I’m In The Mood For Love” e “I Got It Bad Ana That Ain’t Good”, e ainda um dos temas preferidos do pianista, “One”, de Sigidi. Ao longo de todo o disco Ahmad Jamal toca com um à vontade notável, claramente satisfeito com os músicos que o acompanham - Reginald Veal no baixo, Herlin Riley na bateria e Manolo Badrena na percussão. Ainda inesperado, ainda inovador, dando espaço à improvisação, Ahmad Jamal tem aqui um dos discos mais representativos do seu estilo e mais elucidativos sobre o seu talento e técnica.

 

PROVAR - Que fazer numa tarde de fim de semana de chuva e algum vento, quando se quer comer peixe fresco ao pé do mar e não muito longe de Lisboa? Uma boa possibilidade é ir ao Bar do Peixe, em Alfarim, no Meco. Para quem gosta de ver o mar no Inverno, poucos restaurantes da costa portuguesa aliam a localização privilegiada do Bar do Peixe à qualidade da matéria prima - peixe fresco, bem confeccionado, com bom serviço numa sala quente e confortável. Na circunstância as honras da casa foram feitas por umas ameijoas à Bulhão Pato que estavam impecáveis no tamanho e no tempero, seguidas de um pregado delicioso, acompanhado por verduras salteadas. Uma torta de laranja rematou o repasto, bem acompanhado por um branco da região de Azeitão. Eu, por mim, gosto mais de ver o mar sem ser no Verão, de preferência confortávelmente sentado, em boa companhia, com uma boa conversa servida por uma refeição sem mácula. Foi uma bela tarde de sábado. Bar do Peixe, telefone 212 684 732.

 

DIXIT - “Falta cumprir uma reforma do Estado inteligente” - Pedro Reis

 

GOSTO - Da nomeação de José Manuel Costa para a Cinemateca Portuguesa.

 

NÃO GOSTO - Em Lisboa os casos de violência na escola aumentaram 21,6% em 2013.


BACK TO BASICS - Os factos são incontornáveis, as estatísticas são mais maleáveis - Mark Twain

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publicado às 12:44

HABILIDADES - Esta semana tive momentos em que me assaltou uma curiosidade enorme: quantos dos activistas anti-venda dos Mirós, que alguma vez estiveram em Barcelona, foram nessa ocasião visitar a Fundação Juan Miró no Parque de Montjuic e dedicaram verdadeiro interesse ao artista? Quantos destes activistas eram capazes de responder, sem pestanejar, quem desenhou o símbolo que Espanha usa nos seus cartazes turísticos? - sim, foi Miró, mas quantos o sabiam? A única coisa interessante de toda esta polémica é que nunca se falou tanto de Miró em Portugal como agora. Pelos menos alguns deputados são capazes de ter olhado para algumas reproduções e aumentado a sua cultura pictórica.

 

Mas convém recordar a origem destes quadros - um stock de obras, não verdadeiramente uma colecção. A maior parte será proveniente do acervo de uma galeria de Nova York, vendido em bloco quando a galeria encerrou, no início dos anos 80, a uma leiloeira internacional; o lote das obras de Miró terá ido posteriormente para Paris, e depois para o Japão, onde essas obras estiveram a partir do início da década de 90, até serem compradas pelo BPN na primeira metade da primeira década deste século. Pelo meios vários “marchands” esfregaram a mão de contentes, em França e em Portugal e foram fazendo circular e inflaccionar as obras.

 

Muito haveria para contar sobre o processo de constituição da colecção de arte que o BPN então quis fazer - quem aconselhou a compra, que a intermediou e quem ganhou as respectivas comissões. Nada disto releva de amor à arte ou ao coleccionismo, apenas especulação habilidosa que viveu do escasso conhecimento dos compradores sobre obras de arte. O resto, a que assistimos nestes dias, é oportunismo. A deputada Canavilhas, agora ululante, era à época da nacionalização do BPN Ministra da Cultura e há-de ter sabido da colecção - que conste conviveu com o arrolamento dos quadros para pagamento das falcatruas do Banco, e não há indício de ter tomado qualquer iniciativa para expôr as obras sobre as quais agora tantas lágrimas deramou. Alexandre Pomar, um respeitado crítico de arte, escreveu no seu facebook que o acervo de Miró no BPN era de fraca qualidade e que por isso logo se previu a sua venda após a nacionalização do Banco, admitindo, que, quanto muito, haja dois ou três quadros que talvez tivessem algum interesse. João Miguel Tavares, num artigo no Público, pôs o dedo na ferida: "Se tivesse 36 milhões de euros à sua disposição, preferia gastá-los em quadros do mesmo pintor, ou daria algumas oportunidades a outros artistas? E, se assim fosse, estou capaz de apostar que a paixão por Miró esmoreceria num ápice."

 

SEMANADA - Há 81 mil licenciados sem trabalho há mais de um ano, num total de 146 mil desempregados com curso superior; a RTP, a SIC e a TVI disputam a transmissão dos sorteios de automóveis do Fisco, que estão a ser preparados em colaboração com os Jogos da Santa Casa; a televisão por subscrição, vulgo cabo, aumentou de novo em 2013 e já cobre 79% dos lares portugueses; a penetração do Facebook em Portugal duplicou nos quatro últimos anos; nove em cada dez empresas em Portugal, Itália e Grécia dizem que subornos são prática generalizada entre políticos; dos 838 casos de corrupção que chegaram aos tribunais portugueses entre 2004 e 2008 apenas 8,5% tiveram conclusão até 2010 e apenas 6,9% resultaram numa condenação; o sistema judicial deixou prescrever sete mil crimes em cinco anos; os hospitais do serviço Nacional de Saúde terminaram 2013 com menos 1648 camas do que as que estavam instaladas há quatro anos; a população espanhola cresceu sete vezes mais que a portuguesa na última década; o PIB per capita em Portugal é 15.600 euros e em Espanha é de 22.300 euros; cada trabalhador português trabalha em média 42,6 horas por semana e em Espanha o horário médio de trabalho é de 41,6 horas semanais; em dois anos o PSD perdeu mais de 30% dos  seus militantes em Lisboa; a direcção do PS enviou um email a estruturas do partido a garantir não estar assustada com as eleições europeias.

 

ARCO DA VELHA - João Rendeiro disse que os seus clientes que se queixam do Banco Privado Português se sentem lesados por serem gananciosos.

 

FOLHEAR - Há quase 20 anos Edson Athayde, um publicitário que em 1991 havia vindo do Brasil para Portugal, editou “A Publicidade Segundo O Meu Tio Olavo”. O livro foi um sucesso imediato - a foma despretenciosa como estava escrito e a maneira como contava histórias eram irresistíveis e, à época, pouco usuais. Nalgumas escolas onde se ensinava publicidade e comunicação o livro passou a fazer parte do plano de estudos. Desde há muito que estava fora de mercado e o seu autor decidiu agora fazer uma nova edição revista, actualizada com novos exemplos, expurgada de dados que entretanto se desactualizaram. De igual apenas a mesma forma de escrita, o mesmo prazer de contar histórias e de partilhar experiências e conhecimento. Aqui está um novo guia para os próximos anos, destinado a quem gosta da publicidade, a quem vive a comunicação. Como diria o Tio Olavo, citado por Edson Athayde nas primeiras páginas do livro, “Difícil é aprender a ler. O resto está escrito” (Edição Chiado Editora)

 

VER - A galeria João Esteves de Oliveira, de arte moderna e contemporânea, dedica-se a trabalhos sobre papel. É uma das mais simpáticas a acolhedoras galerias lisboetas, em pleno Chiado. Sobretudo depois das obras de ampliação que teve há alguns anos, e que permitiram aumentar a sua área de exposição, ganhou uma outra dimensão. O seu fundador e proprietário, João Esteves de Oliveira, fez boa carreira na Banca mas em 2002 decidiu que esta seria a sua nova vida e desde então juntou um significativo leque de artistas e um público fiel. A especialização em trabalhos sobre papel permitiu-lhe também um posicionamento especial, que tem conseguido manter. Na semana passada inaugurou uma das mais marcantes exposições que lá vi nos últimos anos - “Terra”, de Miguel Branco. Na maioria são desenhos a carvão sobre papel - muito intensos, misturando referências da cultura popular com a história natural, percorrendo lugares diversos e remetendo para memórias de saberes acumulados. Seria simplista dizer que esta é uma viagem pelas teorias de Darwin e pelas polémicas livrescas, académicas e teológicas que elas desencadearam ao longo dos séculos.  É talvez melhor remeter para o título, e para o que ele evoca de história da Terra e de quem a habita. (até 15 de Março, Rua Ivens 38).

 

OUVIR - Existe uma velha discussão sobre se mandolim se deve traduzir por bandolim em português. A origem da palavra é italiana mas a questão tem também a ver com a forma e a sonoridade do instrumento musical - no fundo é um pequeno instrumento com quatro cordas duplas. O bandolim tem uma caixa mais circular, o mandolim é mais oval. Para o caso estou a falar de um músico israelita, Avi Avital, que toca mandolim e que faz adaptações muito livres de temas clássicos. O ano passado fez um disco com arranjos de composições de Bach e este ano aventurou-se em composições de Bela Bartok, Heitor Villa Lobos, Astor Piazzolla, Manuel de Falla, Antonin Dvorak, Sulkhan Tsintsadze, Ernest Bloch, Vittorio Monti, Ora Bat Chaim e temas tradicionais da Bulgária e do País de Gales. Em alguns temas, como na “Aria Cantilena” de Villa Lobos, , em vez da orquestra existe o mandolim, um duplo baixo e um acordeão, no caso tocado por Richard Galliano, que participa em três temas do disco - os outros dois são de Piazzolla e de Vittorio Monti, ambos igualmente surpreendentes. (Between Worlds, Avi Avital, CD Deutsche Grammophon

 

PROVAR - Embora seja um grande apreciador das conservas portuguesas em geral, e das de anchovas em particular, confesso que nesta especialidade as anchovas do Cantábrico, de Espanha, são um caso à parte. Experimentem-nas em cima de um pedaço de bom pão levemente tostado, acompanhem com um branco do Douro, tenham por perto umas azeitonas retalhadas, e está feito um belo petisco. Se quiserem levar a coisa ainda mais a sério incluam também uns boquerones e fica o caso arrumado. Experimentem isto na próxima vez que tiverem amigos em casa e verão o sucesso - em vez de uma entrada clássica, umas tapas destas para picar. Na loja Gourmet do El Corte Ingles encontram estas anchovas do Cantábrico que estão na fotografia e também belíssimos boquerones.

 

DIXIT - “Entre Pessoa e Almada, os portugueses votaram, aliás, em Salazar” - descrição do Portugal do século XX em dez palavras por José Augusto França, no “Expresso”

 

GOSTO - O governo espanhol anunciou que está a estudar uma descida de 11 pontos percentuais do IVA no sector da cultura, que assim poderá ficar nos 10% para bilhetes de teatro e espectáculos musicais. Em Portugal aplica-se nestes casos o IVA de 23%.

 

NÃO GOSTO - A corrupção na zona Euro custa 120 mil milhões de euros por ano aos respectivos Estados, e o financiamento dos partidos e a integridade da classe política estão no topo das suas causas.

 

BACK TO BASICS - “É das coisas mais simples que nascem as melhores ideias” - Juan Miró

 

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