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ESTE VAI SER UM ANO DE GUERRILHA

por falcao, em 30.05.14

GUERRILHA _ Vamos ter um ano bem agitado em matéria de política até às próximas legislativas, em 2015 - guerrilhas internas nos partidos, mudanças nas suas direcções, a começar pelo que já está à vista no PS, e alguma conversa de ocasião sobre a necessidade de mudanças no sistema político, provavelmente uma remodelação estival do Governo. O movimento vai ser contagiante a todo o espectro e a reunião do Conselho Nacional do PSD mostrou que Passos Coelho preferiu ser o primeiro a falar de necessidade de proceder a alterações, pelo menos na forma de agir.  Desta vez os partidos do chamado arco da governação, ou o Bloco Central se preferirem, apanharam um susto: a abstenção foi maior do que temiam e aqui, como noutros países, movimentos à margem dos sistema foram os únicos a poder verdadeiramente reclamar vitória - é o caso de Marinho Pinto. Se juntarmos a abstenção, os votos brancos e os nulos chegamos à conclusão que só 26,5% dos eleitores votaram num dos concorrentes. O que se passa no fundo é simples: muitos eleitores preferiram não votar a votarem contrariados e isso atingiu de forma dura o PS, a coligação e o Bloco de Esquerda que, cada um à sua maneira, se tornaram incómodos para a sua própria base eleitoral. O que se passa é que com o andar dos anos os partidos viraram-se para dentro e vivem centrados nos seus umbigos - preocupam-se mais com as eleições internas, com o apoio das distritais e do aparelho, do que com a relação com os eleitores, com os seus simpatizantes e votantes. No fundo os partidos desprezam o regime e só se lembram dele quando os votos se tornam num bem escasso. Nas legislativas, ao contrário do que se podia pensar há uns meses, está tudo em aberto e a única certeza que pode agora existir é que vão ser renhidas e a campanha vai ser longa - começa já agora.

 

SEMANADA - A transmissão da final da Champions League na TVI teve mais espectadores que a noite eleitoral nos três canais (RTP, SIC e TVI) em conjunto; a análise de algumas sondagens indicia que a entrada de Sócrates na campanha do PS teve por efeito uma queda nas intenções de voto nos socialistas; Marinho Pinto admite ser candidato presidencial; Miguel Relvas voltou a intervir no Conselho Nacional do PSD, disse que nas eleições de domingo “perderam todos” e defendeu a reforma do sistema político; no domingo o PS falava em vitória, e segunda já tinha começado a discutir a convocação de um congresso extraordinário;  Manuel Alegre diz que Seguro “não tem que ter medo do congresso”; Edite Estrela diz que “é necessário que haja um congresso”; Francisco Assis diz que “não se deve colocar a questão da liderança”; Carlos Zorrinho diz que se revê no que disse Francisco Assis; Ana Gomes diz ser “inoportuna e desajustada” a disputa pela liderança do PS; António Galamba diz que não há condições “para andar todos os dias a brincar aos congressos”; Vieira da Silva diz desejar que se clarifiquem as posições; João Galamba sublinhou que nas eleições “o povo disse que este PS não chega, é preciso mais”; Mário Soares considerou o resultado do PS nas europeias uma “vitória de Pirro”; João Soares disse no Facebook que “o PS português teve uma clara e boa vitoria nas eleições europeias de domingo” e considerou a possibilidade de um congresso extraordinário “um disparate total”; Jorge Lacão demitiu-se da direcção do PS, defendendo a realização de um Congresso extraordinário; No Rato António José recebeu António Luís, que llhe solicitou a convocação de um Congresso e, em resposta, Seguro emitiu um comunicado onde diz que “o Secretário Geral do PS registou a posição do Dr. António Costa”.

 

ARCO DA VELHA - Em Lisboa um carro da PJ, identificado e em serviço, cujos agentes iam fazer uma detenção, foi considerado mal estacionado e rebocado pela PSP; uma casa de alterne, na região de Felgueiras, que esta semana foi alvo de uma acção policial, era o patrocinador oficial das camadas jovens de futebol da Lixa, localidade onde estava instalado o Impetus Bar.

 

FOLHEAR - Editado originalmente em 1918, e agora reeditado, o livro  “A Malta das Trincheiras” é um espantoso documento sobre a  I Grande Guerra, escrito por André Brun, um português de origem francesa que foi levado a combater em França. André Brun foi um cronista da sua época, assinou como dramaturgo obras como ”A Maluquinha de Arroios”, foi argumentista de filmes como “A Vizinha do Lado” e foi um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Autores. André Brun foi ainda um dos combatentes do corpo expedicionário português, onde ganhou a medalha da Cruz de Guerra. O título original do livro é “A Malta das Trincheiras - Migalhas da Grande Guerra: 1917-1918”. É  um livro de relatos de guerra, que vive de um grande poder de observação, feito em pequenos capítulos, cada um deles uma história,  reconstituindo o ambiente das trincheiras. Mais que uma reportagem, relata numa prosa elegante episódios do quotidiano, a convivência com soldados de outras nacionalidades, mas também a vida nas pequenas quintas que serviam de abrigoa, ou as dificuldades do diálogo em línguas diferentes. Não são escondidos os mortos nem os feridos, são relatados os problemas e os casos, é contado o medo e o humor em tempo de guerra, a aventura de manter a vida em cidades e terras transformadas em lugares mortos por onde se sobrevive. Uma edição Guerra & Paz.

 

OUVIR - Depois de três álbuns de inspiração clássica, o 14º registo de estúdio de Tori Amos volta ao formato que lhe deu notoriedade, baseado na sua voz e no piano, que alterna entre momentos de uma grande intensidade, outros de uma enorme melancolia e outros de uma desarmante intimidade. “Unrepentant Geraldines”, agora editado, parte de ambientes inspirados pelas artes visuais, para abordar temas como a religião, ou o envelhecimento e o sexo, com a elegância da fantasia. A canção título, “Unrepentant Geraldines” é uma viagem ao passado musical de Tori Amos e as canções mais simples, baseadas na voz e piano, como “Oysters”, “Invisible Boy” e “Selkie” são bem conseguidas, e “Wild Way” ou “Wedding Day” são marcantes, confessionais quase, enquanto “16 Shades of Blue” ou “Giant’s Rollin Pin” são de um experimentalismo inesperado. Em qualquer dos casos há um ponto comum - a qualidade das interpretações vocais mostra que Tori Amos, a cantora, está em grande forma.

 

VER - De entre os trabalhos de Délio Jasse, José Pedro Cortes e de Letícia Ramos sairá o vencedor deste ano do BES PHOTO, que vai na sua décima edição -  e a respectiva exposição inaugurou esta semana no Museu Berardo. No MUDE, Rua Augusta 24, apresenta-se a moda dos anos 80  Estão representadas criações de  Vivienne Westwood e Malcom McLaren, empresário dos Sex Pistols, mas também de John Galliano, Claude Montana. Thierry Mugler, Alain Mikli, Azedine Alaïa, Romeo Gigli, Sonia Rykiel, Comme des Garçons, Issey Miyake e Jean-Charles de Castelbajac. “Os Iconoclastas dos Anos 80", a exposição que reúne estas peças exibidas em conjunto pela primeira vez em Lisboa, pode ser vista no piso 1 do Museu do Design e da Moda, até ao dia 31 de agosto. Finalmente neste fim de semana inaugura na Galeria das Salgadeiras (Bairro Alto, Rua das Salgadeiras 24, até 31 de Julho) a exposição “Leve Linha” de Teresa Gonçalves Lobo, composta por desenhos a tinta da china (aqui mostrado na imagem) , que são uma imagem de marca da artista.

 

PROVAR - Eu gosto de iscas, de iscas bem temperadas, cortadas finas, às vezes com elas tradicionais, às vezes com elas fritas. Elas, claro, são as batatas - cozidas aos quartos ou fritas aos palitos. As iscas são um prato oriundo das velhas casas de pasto, finas fatias de fígado, inicialmente de bovinos e , depois das vacas loucas, apenas de fígado de porco. Têm que ser finas em toda a extensão , não se aceitam iscas aos zigue-zagues com pedaços mais grossos. O molho há-de levar o toque certo de vinagre, que realça o paladar e terá que ser espesso. As iscas, bem temperadas, são um coisa única, um petisco. Os restaurantes populares com boa cozinha são os que melhor as confeccionam. Vou dar dois exemplos diferentes, mas afamados. Um fica nas Avenidas Novas e outro em Campo de Ourique. Na Avenida Conde de Valbom 87, em boa hora fechada ao trânsito no tempo em que João Soares era Presidente da Câmara, fica o Jaguar, casa afamada, sala estreita de entrada, ampla no final, agora também com esplanada convidativa. O Jaguar é uma referência das avenidas novas, local manda a tradição culinária e onde as iscas existem sempre e são dos pratos mais procurados. O outro, na Rua Coelho da Rocha 91, é o Bar Venezuela, casa mais pequena, interclassista assumida, com cozinha bem portuguesa e familiar, com um inesperado mas interessante toque de piri-piri no tempero das iscas, servidas como prato do dia às segundas-feiras. Os dois restaurantes vivem de receitas populares e tradicionais e primam pela boa confecção. E são módicos no preço e abastados na simpatia.

 

DIXIT - “Lá vamos ter novamente António José Seguro a ficar António José Inseguro” - Morais Sarmento nos comentários da noite eleitoral.

 

GOSTO - Da abstenção tomada como um aviso

 

NÃO GOSTO - Da indiferença dos partidos face aos resultados eleitorais, como se a culpa fosse dos eleitores


BACK TO BASICS - “O linguajar dos políticos é feito de forma a fazer parecer que as mentiras são verdades e o assassínio algo de respeitável, e também para dar um ar de solidez a coisas que mais não são que vento” - George Orwell

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publicado às 14:05

SOBRE A AGITAÇÃO DO FIM DE SEMANA

por falcao, em 23.05.14

ABSTENÇÕES - Neste fim de semana os portugueses vão dividir-se entre os que seguirão a final da Champions League nas suas várias vertentes, no sábado,  e os que seguirão o acto eleitoral de domingo. Aposto que o futebol vai ganhar às eleições. Não me surpreendo graças a uma campanha sem ideias, feita de chavões e lugares comuns. Se fizermos bem as contas, apenas nove dos 18 partidos que se apresentam nas eleições têm alguma espécie de existência e, destes, pouco mais de metade tem alguma actividade política e cívica regular - nos outros há de tudo, até barrigas de aluguer que é aquilo em que o MPT se transformou. As campanhas eleitorais foram miseráveis - a propaganda política desceu a níveis ainda mais baixos que aquilo que se podia imaginar. A Comissão Nacional de Eleições continuou a cumprir o seu papel de guardiã do absurdo: num cenário em que apenas meia dúzia de concorrentes têm alguma existência palpável, como é que se pode defender debates entre todos os participantes? Como se pode defender a igualdade de tratamento a quem não tem igualdade de presença na sociedade nem igualdade de comportamento? Tudo isto é criminosamente ridículo - ainda para mais com o completo desfasamento entre a realidade dos media actuais e a lei existente. Prova disso é que houve mais debate em meios exclusivamente digitais do que nos media tradicionais.  Quando se fizer a contabilidade das abstenções no próximo Domingo os políticos e os partidos escusam de se lamentar - a culpa do desinteresse das pessoas é deles, é estimulada por eles e dá-lhes jeito para que o círculo fique cada vez mais estreito. Como dizia Vasco Pulido Valente, “para a generalidade dos portugueses uma cara é uma cara e um político é um intruso que nos fala sem razão ou autorização”.

 

SEMANADA - António Capucho apoia o PS; Joana Amaral Dias saíu do Bloco de Esquerda para apoiar o PS; O tal Zé que fazia falta ao Bloco de Esquerda, foi agora plantar papoilas, que é como quem diz, apoia o Livre de Rui Tavares; a candidata do Bloco de Esquerda às eleições europeias defendeu que o surf devia ser incluído nos currículos escolares; um partido anti União Europeia aparece à frente nas sondagens da Grã Bretanha, onde se prevê que a abstenção possa chegar aos 75%; em 2013 a carga fiscal chegou aos 34,9% do PIB, contra 32,4 em 2012; a carga fiscal sobre as famílias aumentou 35% desde 2010; António José Seguro divulgou 80 promessas para o caso de vir a ser Governo que significam um aumento de despesa de 830 milhões de euros por ano; o ajustamento da troika estava previsto vir dois terços do lado da despesa e um terço da receita mas acabou com quatro quintos do lado da receita e um quinto do lado da despesa; em cinco anos fecharam nove mil reatuarantes; 300 mil portugueses emigraram: a taxa de desemprego subiu para 16,3%; o Conselho de Estado não reúne há um ano; metade das famílias ganha menos de 835 euros por mês; em Portugal, 41% do IRS é pago por 13% das famílias; metade do IRS foi pago por quem tem salário até 1500 euros; só uma em cada quatro famílias ganha mais de 19.000 euros por ano; 44% das receitas de cinema são feitas na zona da Grande Lisboa, segundo a Marktest; Mick Jagger tornou-se bisavô a poucos dias de actuar de novo em Lisboa.

 

ARCO DA VELHA - Em nove meses, entre Julho de 2013 e Março deste ano o comboio Celta, que assegura a ligação directa entre Porto e Vigo duas vezes por dia transportou uma média de 26 passageiros em  cada viagem, o que significa uma taxa de ocupação de 12% em relação aos 228 lugares disponíveis. O prejuízo registado nestes nove meses foi de 1,2 milhões de euros.

 

FOLHEAR - Tenho um palpite que os responsáveis da TAP devem andar todos contentes a comprar exemplares da edição de Junho da “Monocle”, tal é o elogio que lá é feito à companhia aérea portuguesa. Na razão do elogio está o número de ligações para o Brasil, que cresceu para 12 rotas com 82 vôos semanais incluindo, sublinha a revista,  destinos pouco usuais noutras linhas aéreas como Manaus e Belém. A TAP é caracterizada pela “Monocle” como a companhia que liga um continente do norte, a Europa, a dois continentes a sul, África e América do Sul. Para além da TAP, Portugal aparece referido mais duas vezes: no bem concebido especial de 12 páginas sobre a Taça do Mundo no Brasil há um destaque sobre a cobertura de TV e Rui Tovar aparece bem apresentado como uns decanos do jornalismo desportivo. Finalmente uma oficina de marcenaria artesanal no Porto, dedicada à produção de exemplares únicos de cadeiras pela mão de Alípio de Sousa, completa o leque de referências lusitanas. Outros pontos de interesse são a Feira de Arte Contemporânea de Silicon Valley, o novo conceito de centro comercial surgido no remodelado Bikini Berlim e, para rematar, uma bela conversa entre o produtor Jeremy Thomas e o realizador Ben Wheatley sobre o estado do Cinema.

 

VER - Até 28 de Setembro pode descobrir os “Olhares Contemporâneos” que o colectivo de fotografia kameraphoto fez sobre o acervo do Museu Nacional de Arte Antiga. O projecto insere-se numa residência feita sob a égide da Fundação EDP. Os elementos da Kameraphoto tiveram oportunidade de contactar com os conservadores e técnicos do Museu, de descobrir o acervo e as diversas colecções, percorrendo o dia a dia dos bastidores do Museu Nacional de Arte Antiga, fazendo o papel de visitantes. Nelson D’Aires, Augusto Brázio, Valter Vinagre, Pauliana Valente Pimentel, Céu Guarda, Alexandre Almeida, Guillaume Pazat e Jordi Burch.

 

OUVIR - Na criação artística existe um talento inato e existe o talento adquirido. Os melhores artistas são os que surpreendem no princípio da carreira e depois continuam a procurar formas de exprimir a sua criatividade, procurando sempre surpreender. São os que se preocupam com a evolução da sua obra, que amadurecem ideias e continuam inconformistas, evitando acomodarem-se. Isto acontece com escritores, actores, realizadores, pintores… e músicos. Rita Red Shoes mostra os seus progressos neste seu terceiro disco, “Life Is A Second Love”, uma prova da sua evolução que também se evidencia na escolha do produtor, o brasileiro Gui Amabis que assina a única canção que não é da própria Rita Red Shoes, “Curve Dance Dreams”. É certo que eu pessoalmente desejaria que o amadurecer de Rita a levasse a cantar em português para que todos percebam como ela não gosta de ficar sentada à espera que as coisas sucedam. Enquanto issso não acontece vale a pena ouvir este disco musicalmente tão interessante e parar um pouco em torno de canções como “No Matter What”,  “Words Words”, “Floret” ou “In This White Room”.

 

PROVAR - Restaurantes com boa vista são já de si raros; com boa vista e boa comida ainda mais; com boa vista, boa comida e boa garrafeira a coisa torna-se inusitada; se juntarmos a isto uma cozinha capaz de preparar uma refeição em condições para duas dezenas de pessoas em simultâneo tudo fica mais invulgar. Esta semana regressei ao Claro, no Hotel das Palmeiras, em Paço de Arcos, onde há pouco mais de dois anos o chefe Vitor Claro vem ganhando cada vez melhor reputação. Tratava-se de um aniversário e a celebração gastronómica correu bem - desde os aperitivos iniciais (pequenas sanduíches de pataniscas e pimentos que alternavam com outras, de salmão fumado) até ao pudim de água, simples e perfeito, passando por uns ovos mexidos com cogumelos que estavam superiores. Mas confesso que o que mais me espantou foi a forma perfeita como o robalo do mar, cozinhado ao vapor, apareceu no ponto perfeito, fresquíssimo e saborossíssimo, em simultâneo para 20 pessoas. Já em anteriores ocasiões tinha gostado do local, onde na varanda o sol se põe sobre o mar, na marginal, com uma luminosidade única. Mas a verdade é que a cozinha supera a vista e acreditem que neste caso o desafio não é fácil. Restaurante Claro, Avenida Marginal, Curva dos Pinheiros, telefone 214 414 231. Já agora fiquem a saber que o afamado pão do chef Claro, assim como alguns dos vinhos que o excanção Ricardo Morais recomenda, e petiscos diversos, de queijos a compotas, podem ser encontrados na loja Momentos do Paço, no centro histórico de Paço de Arcos, na Rua Costa Pinto 27.

 

DIXIT - “Só para dizer que, se me obrigarem a escolher, prefiro o Jorge Jesus a falar da Paula Rego do que o Sócrates a falar de Rimbaud” - Ana Cristina Leonardo, no Facebook.

 

GOSTO - De recordar que a liberdade de voto inclui a liberdade de abstenção

 

NÃO GOSTO - Da existência de eleições europeias para eleger um largamente inútil parlamento europeu.


BACK TO BASICS - “Aparentemente a democracia é uma situação em que são realizadas numerosas eleições, com custos elevados, sem temas evidentes e com candidatos que passam a vida a saltar de um lugar para outro”  Gore Vidal

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publicado às 17:59

DIÁRIO - Estamos em plena campanha eleitoral e quando chego ao fim do dia gostava de saber o que se passa por aí - o que os governantes disseram em campanha, o que o Presidente disse na China (no Facebook é mais fácil segui-lo), o que alguns Ministros fizeram - se governaram ou se campanharam. Vamos imaginar que uma pessoa acaba de trabalhar por volta das sete e meia. Dá uma volta antes de ir para casa, fica a apreciar o pôr do sol e não segue a missa dos noticiários das oito.  Quando chega a casa faz um jantar simples, come devagar a ouvir uma música, conversa, conta o seu dia e ouve como foi o outro dia; um pouco antes das dez, acende a televisão para ver se há notícias nalgum dos vários canais informativos -  Portugal, por acaso, é o país europeu que tem mais canais informativos para o número de espectadores que possui. Percorre um canal após outro e constata que pelas dez da noite não há notícias - a RTP2 deu-as às nove, por cima do final dos outros noticiários, e SIC Notícias, TVI 24 e até RTP Informação estão todas elas empolgadas a falar sobre o jogo do Benfica com o Sevilha que vai acontecer. No dia a seguir estarão a falar do jogo que aconteceu, e por aí fora. É certo que posso ir à internet espreitar os sites - mas é por isso que os meios tradicionais perdem destaque noticioso e o entregam de bandeja a outros ecrãs. Espartilhados entre uma legislação absurda que regulamenta da pior forma a cobertura eleitoral e canais que se copiam uns aos outros, resta pouco de informação. Depois admiram-se da abstenção e de os candidatos enfrentarem ruas e salas vazias. As maiores manifestações deste ano celebraram vitórias desportivas e qualquer clube não precisa de oferecer jantares para ter gente a assistir mesmo aos treinos. Quando perceberem o tamanho da abstenção escusam de pensar muito nas causas. Elas estão à vista. A participação cívica na efeméride das célebres quatro décadas resume-se a ouvir os intelectuais da bola e pouco mais.

 

SEMANADA - 16 listas candidatas às eleições para o Parlamento Europeu disputam 21 lugares, menos um que nas anteriores; desde 1994 que a abstenção nas eleições europeias não baixa de 60% e há indicadores que apontam para que este ano posa aumentar bem além dos 65%; mais de um terço dos eleitores portugueses têm uma conta activa no Facebook; 53% dos italianos dizem não se sentir cidadãos da União Europeia; 47% dos cidadãos da União Europeia consideram que em matéria de dificuldades o pior ainda está para vir; o consumo anual per capita de bebidas alcoólicas em Portugal é de 12,9 litros, acima da média europeia de 10,9 litros; na administração central, regional e local há 563 595 funcionários, o que quer dizer que uma em cada dez pessoas que constituerm a população activa portuguesa tem empregio no Estado; António Guterres admitiu poder vir a concorrer à Presidência da República; Armando Vara, ex-governante no tempo de Guterres, foi condenado a pagar multa por causa de créditos a clientes para investimentos bolsistas que aprovou quando, anos mais tarde, foi graduado a vice-presidente da CGD; um assessor do Primeiro Ministro, num post escrito no Facebook, aconselhou “juízo e recato” a Mira Amaral e a Bagão Felix; o Estado está com dificuldades em encontrar quem o represente no duelo jurídico com a GALP porque a empresa contratou alguns dos maiores escritórios de advogados; soube-se que agora são as próprias Finanças a travarem a classificação de imóveis do Estado como monumentos nacionais para os poderem vender sem problemas.

ARCO DA VELHA - A revista “Risk”, especializada em mercados financeiros, considerou o swap vendido pelo Santander ao Metro do Porto como um exemplo de venda enganosa e candidato a pior contrato swap de todos os tempos.

 

FOLHEAR - Hoje recomendo um livro particularmente adequado aos tempos que correm e que tem passado despercebido, de incómodo que pode ser para quem gosta de ideias feitas. É, na conjuntura nacional, uma lufada de ar fresco - trata-se de um ensaio político, género raro nesta terra onde o pensamento é destratado. Ainda por cima este livro é muito bem escrito, porque o seu autor escreve muito bem, sem muletas nem complicações desnecessárias. Lê-se como se lê um bom livro de História - e na verdade é em parte disso que se trata. Falo de “Conservadorismo”, de João Pereira Coutinho, editado primeiro no Brasil e,  agora a seguir, em Portugal. No Brasil, onde escreve para a Folha de São Paulo, João Pereira Coutinho é talvez mais conhecido e estimado que em Portugal. É pena, e tenho a secreta esperança que esta História de ideias conservadoras que agora publicou ajude a rectificar essa injustiça. Existe infelizmente a absurda ideia de que o conservadorismo é uma coisa antiga e fora destes tempos - e um dos grandes méritos deste livro é precisamente o de nos levar a visitar o pensamento conservador contemporâneo. João Pereira Coutinho mostra como é possível “ser um conservador em política e um radical em tudo o resto” e sublinha que “ a actividade política não pode ser o pretexto ideal para cumprir um projecto particular, qualquer que ele seja e por mais nobre- em teoria - que ele seja” (edição Dom Quixote, Leya).

 

VER - É muito engraçado como uma ideia fora do que é rotina pode criar milagres de afluência de público que raramente visita galerias de arte contemporânea - foi o que aconteceu na inauguração de “Alice do Outro Lado da Passerelle” na  Galeria Luis Serpa Projectos, que apresenta até 19 de Junho uma exposição de uma centena de fotografias de João Bacelar, realizadas nos bastidores da Moda Lisboa. Esta é a terceira exposição do ciclo “Olho por olho, mente por mente”, comissariado por António Cerveira Pinto para os 30 anos da Galeria Luís Serpa (Rua Tenente Raul Cascais nº1, ao lado do Teatro da Cornucópia). Mais para cima, no Chiado, a Galeria João Esteves de Oliveira (Rua Ivens 38, frente ao Grémio Literário), apresenta até 27 de Junho uma exposição de desenhos de João Jacinto, “S&M e Outras Histórias”, à qual pertence a imagem aqui mostrada, e que promete também agitar as águas com as suas referências ao universo sado-masoquista.

 

OUVIR - O compositor Max Richter tornou-se conhecido com as suas obras para cinema, sobretudo com o trabalho para “Prometheus”, de Ridley Scott. Nascido na Alemanha, estudou composição no Reino Unido e em Itália. Recentemente a Deutsche Grammophon reeditou as suas primeiras obras a solo - “Infra”, “24 Postcards in Full Colour”, “Songs from Before and The Blue Notebooks”, inicialmente lançadas numa editora independente. Em simultâneo a Deutsche Grammophon editou a recomposição efectuada por Max Richetr sobre as “Quatro Estações”, de Vivaldi, aqui executadas com violino, orquestra de câmara e um sintetizador moog, tocado pelo próprio Richter. A coisa, em palavras, pode parecer estranha, mas o resultado final é surpreendente e mostra a capacidade criativa de Richter que aplica o seu talento encarando as composições clássicas como base de trabalho e território de misturas. Além do CD, esta edição de “Vivaldi Recomposed” inclui um DVD com uma performance de Max Richter e do violinista Daniel Hope, filmada em Berlim. Está ainda disponível uma app para iPhone que permite comprara o original de Vivaldi com a recomposição de Richter e seguir comentários, assim como ter acesso aos ensaios que levaram a esta obra. (Edição de CD e DVD disponível na FNAC e El Corte Ingles).



PROVAR - Nestes dias de primavera, quando o sol começa a aquecer, é bom encontrar uma esplanada no centro de Lisboa onde a sombra é dada por árvores e ramadas de arbustos que se envolvem entre si. Existe um lugar assim na Praça de Espanha, no restaurante Gondola.  Nos últimos tempos a casa evoluiu da quase decandência em que esteve há uns anos, modernizou-se sem perder a tradição e melhorou substancialmente. A lista continua a ser um reflexo das influências italianas que sempre teve, com algumas incursões à tradição gastronómica portuguesa. Na mesa, no couvert, além das boas azeitonas, o tomate seco mergulhado em bom azeite a acompanhar o queijo fresco é uma excelente ideia. Vale sempre a pena perguntar o prato do dia - coube-me  raviolaci frescos de robalo com um molho de tomate leve. Estava perfeito e funcionou muito bem com um branco seco. O serviço é atento, o ambiente é tranquilo e fica a apetecer ficar por ali mais um bocado da tarde. O estacionamento é fácil.

 

DIXIT - Reformar é ter melhores serviços públicos com menos impostos, e não cortá-los enquanto se aumenta impostos - Fernando Sobral

 

GOSTO -  A Católica Lisbon School of Business & Economics volta a integrar a lista das 50 melhores business schools do mundo na formação de executivos no ranking do "Financial Times" .

 

NÃO GOSTO - A grande maioria dos organismos da administração pública, mais de 80%, continua a não prestar contas sobre a sua actividade, violando a legislação.

 

BACK TO BASICS - Fazer política é como ser treinador de futebol: tem que se compreender o jogo e tem que se ser suficientemente idiota para se achar que é importante - Eugene McCarthy.

 

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publicado às 14:15

SINAIS - Uma síntese séria dos últimos dias resume-se a isto: os problemas do costume (excesso de despesa) foram resolvidos pelo método do costume (aumento de impostos). O resto, é folclore. À falta de ideias políticas, os protagonistas da vida nacional, num amplo espectro, aproveitaram também estes dias para provar que o ridículo não tem fronteiras ideológicas. Começo pelas “selfies” ao pé da estátua de Pessoa no Chiado tiradas por essa conjugação de interesses que incluíu Francisco Assis, António José Seguro, António Costa e Martin Schulz, um grupo que há-de ter feito o poeta dar saltos na tumba. E, claro, não posso deixar de referir a nau catrineta, essa extraordinária imagem da epopeia das descobertas recriada pelo poder contemporâneo. Eu, ao princípio, achei que aquilo devia ser um trabalho de photoshop. Depois garantiram que não. Eu não queria acreditar que os 40 anos do PSD fossem marcados por uma imagem destas - mas foi isso que aconteceu. Não encontro melhores palavras que as de Ferreira Fernandes, no “Diário de Notícias”, para descrever o momento: “Seis homens e outras tantas gravatas, entre empresário, primeiro-ministro, secretário de Estado da Cultura. guarda-costas e desconhecidos, encafuados numa caravela do tamanho de um táxi não dão boa imagem” . Sinceramente não consigo entender esta vontade e esta persistência de todos estes políticos em criarem caricaturas de si próprios. Termino com outra citação, que resume o que é, provavelmente o sentimento de muitos: “Francamente, não faz sentido condenar o programa de ajustamento com o argumento de que "Portugal está pior do que antes", pois isso era inevitável, em consequência do aperto de cinto orçamental e da recessão económica. Nenhum Governo poderia ter evitado isso. O que se pode questionar, sim, é, por um lado, saber se a gestão do programa de ajustamento não poderia ter sido melhor, menos penosa e mais equitativa”. As palavras são de Vital Moreira, que sobre esta matéria tem sido lúcido e partidariamente desapaixonado.

 

SEMANADA - Mais de 400 farmácias estão alvo de penhoras ou insolventes; mais de 1500 farmácias estão com o fornecimento de medicamentos suspensos por pagamentos em atraso; a mortalidade materna em Portugal caíu 44% desde 1990; há 58 agressores de mulheres internados por ordem judicial; em Estremoz um homem matou à pancada a advogada que estava a tratar do divórcio da sua ex mulher; em Lisboa alugam-se quartos a 2200 euros por uma noite na final da Liga dos Campeões; o fisco vai disfarçar inspectores na caça aos arrendamentos ilegais no turismo; o concurso para director-geral do fisco vai ser repetido por falta de “candidatos com mérito” para a função entre as 11 pessoas que concorreram; em Portugal as remunerações recebidas por cada cidadão até 6 de Junho destinam-se integralmente ao fisco, mais oito dias que em 2011 e mais 3 que no ano passado; o Ministro da Defesa classificiou de “maligno” o aumento de impostos; o Presidente da República utilizou o Facebook do cidadão Cavaco Silva para comentar, em tom satisfeito com a solução obtida, o anúncio de saída limpa de Portugal do programa de ajustamento; Pacheco Pereira perguntou, na “Sábado”, “porque razão toda a gente, inclusive vários membros do Governo, o Presidente, os principais responsáveis económicos nacionais e europeus e as agências de rating, defendia a existência de um plano cautelar, mesmo quando os juros já estavam baixo, e tal acabou por não acontecer?”; segundo a Marktest, no mês de Março 3 milhões e 683 mil portugueses acederam a sites de jornais e revistas, com um tempo médio diário de navegação nesses sites, por utilizador, de uma hora e sete minutos; a transmissão do Juventus-Benfica pela SIC foi vista por quase três milhões de pessoas.

 

ARCO DA VELHA - A junta de freguesia de Arruda dos Vinhos deve 114 mil euros à Caixa Geral de Aposentações, por descontos efectuados a funcionários entre 2000 e 2013 que não foram entregues à CGA,  e arrisca-se a ver o seu edifício sede penhorado e vendido em hasta pública.

 

FOLHEAR - A edição de Maio da revista “Wallpaper” é dedicada ao salão do móvel e do design de Milão mas verdadeiramente a parte mais interessante é uma reportagem sobre o que está a acontecer numa zona de Paris, em torno de uma rua, que está a ser inteiramente recuperada e a atrair uma nova geração de lojiistas. A iniciativa chama-se La Jeune Rue e desde restaurantes, pastelarias, cafés, um cinema, lojas de roupa, uma loja de vinhos e outra de queijos, livrarias, papelarias a geladarias, há de tudo um pouco. A ideia partiu de Cédric Naudon, um financeiro francês que depois de trabalhar nos Estados Unidos decidiu voltar a Paria e abrir um restaurante, “Le Sergent Recruteur”, que rapidamente ganhou uma estrela Michelin. A seguir abriu uma trattoria e depois começou a comprar lojas que estavam livres na rue de Vertbois - chegou às três dezenas. Naudon  decidiu apostar que as remodelações urbanas que deixam marcas partem da junção de pequenos projectos, uma ideia defendida pelo arquitecto italiano Andrea Brazi. Antes desta intervenção, o local onde tudo se vai passar era uma zona de comércio de roupa barata. La Jeune Rue vai bucar o seu nome a um poema de Guillaume Apollinaire e até a Wallpaper vai ter ali a sua primera loja. A reconversão  foi sempre feita por arquitectos escolhidos a dedo e em muitos casos este novo comércio vai vender produtos naturais, a partir de uma rede de 450 fornecedores escolhidos pela equipa de Naudon. La Jeune Rue está a estabelecer um novo conceito de comércio, animando toda uma zona e proporcionando aos seus habitantes uma oferta qualificada que antes não tinham. Aqui está um bom exemplo e uma boa razão para ler esta “Wallpaper” com atenção.

 

VER -  Semana preenchida com novas exposições para ver. Começo por “Passagem Para Um Outro Lado”, inesperadas marionetas construídas pela designer de jóias Teresa Milheiro e que vão estar no Sala do Claustro do Museu da Marioneta (Convento das Bernardas, Rua da Esperança 146) até 31 de Agosto. Inserida nas actividades do 30º aniversário da Galeria Luis Serpa Projectos (Rua Tenente Cascais 1B), João Bacelar apresenta “Alice do outro lado da passerelle” até 19 de Junho. Em “A Pequena Galeria” (Av 24 de Julho 4C), José M. Rodrigues apresenta, sob a forma de uma instalação pensada para o local, uma série de imagens fotográficas. Ainda na 24 de Julho, mas no 54 1º esq, a Vera Cortês Art Agency inaugura este sábado  a exposição “Shadow Piece” de Sophie Whettnall, que fica até 27 de Junho. Finalmente a partir da quinta-feira da próxima semana, nova série de exposições na Transboavista, Rua da Boavista 84, com exposições de João Fonte Santa, João Pina e Ana Rosa Hopkins, além de duas colectivas. Depois disto quem pode dizer que nada se passa nesta terra?

 

OUVIR - Vale a pena ouvir o inesperado “Taming The Dragon”, dos Mehliana. E o que é isso? Pois é a junção do pianista de jazz  Brad Mehldau com o baterista de jazz mas também percussionista de hip-hop e drum’n’bass Mark Guiliana. Com Mehldau a trocar o piano acústico pela electrónica dos teclados e Guiliana a trocar a bateria por máquinas de ritmo, em certos momentos, quando o ambiente do Fender Rhodes é dominante, como em “Luxe”, é impossível não pensar nas sonoridades de fusão dos Weather Report: Este disco mistura evocações de melodias pop com improvisações arrebatadoras e com temas densos como “Hungry Ghost” ou “Just Call Me Nige”. Os dois músicos entendem-se bem nesta inesperada reunião que já leva um ano de concertos ao vivo. Há uma década atrás Mehldau tinha-se aventurado pela electrónica com “Largo”, mas aqui o exercício não é uma aventura, é um manifesto de diferença.

 

PROVAR - Com o verão nasce a vontade de um vinho que possa acompanhar bem peixe e carne, que seja leve e fresco, de graduação moderada. Um vinho assim é o Quinta do Monte d’Oiro Lybra Rosé, saboroso, com leves aromas de frutos e com uma cuidada acidez,  feito a partir de uvas da casta Syrah, bonito de cor e com 11,5%. Não o encontrarão em supermercados, mas em garrafeiras escolhidas, a um preço que rondará os 8 euros. É extraordinário para acompanhar petiscos, saladas e até, já agora, algumas das novas conservas da marca José Gourmet e que incluem moelas de pato, caril de lulas, ventresca de atum ou petingas fumadas em azeite, e que se podem encontrar nas lojas de A Vida Portuguesa (Chiado e Intendente), no Delicatu - Avenida de Berna 42 A ( frente à Fundação Gulbenkian) e no Gourmet do El Corte Ingles, por exemplo.

 

DIXIT - “A posição do Bloco (de Esquerda) é fácil de explicar mas não sei se é percebida” - Marisa Matias, candidata bloquista ao Parlamento Europeu

 

GOSTO - Na semana em que Lisboa foi invadida por grandes navios de cruzeiros realiza-se no Campo Pequeno, de 9 a 11 de Maio, a Feira das Viagens.

 

NÃO GOSTO - As previsões apontam para que em 2014 e 2015 o PIB português cresça menos 0,4% do que a média da zona Euro

 

BACK TO BASICS - “A melhor forma de conseguir prever o futuro é sermos nós próprios a criá-lo” - Peter Drucker

 

 

 

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publicado às 14:00

POLÉMICA - Uma estranha polémica consome desde há algumas semanas dois sectores do Governo : de um lado aqueles que querem aplicar taxas sobre alimentos considerados poucos saudáveis e, do outro, entre os quais os Ministros da Economia e da Agricultura, aqueles que consideram tais taxas um perfeito disparate. Se outra coisa não houvesse, esta polémica aparentemente esotérica, serviria para mostrar as clivagens que existem no executivo em torno de questões que têm a ver com a forma como o Estado se posiciona face às opções dos cidadãos. Não vou elaborar muito sobre esta questão, até porque acho mais interessante sublinhar que em grande parte das civilizações orientais o equilíbrio perfeito entre o sal e  o açucar é o segredo para explorar sabores e assegurar uma vida harmoniosa, Recordo apenas que para os chineses, numa refeição, um prato deve ser doce (yin) e o outro salgado (yang); um quente (yang) e o outro frio (yin); um macio (yin) e outro crocante (yang). Na realidade os chineses acreditam que o equilíbrio entre esses dois elementos garante não apenas uma boa refeição, mas uma boa saúde. Pode ser que com estas notas se consiga uma maior unidade na acção do Governo. Ou então estamos perante um caso de equilíbrio entre opostos no governo, com um lado a fazer de yang e outro de yin. Resta saber quem, a seguir, vai saborear o repasto.

SEMANADA - Os tribunais penhoraram 181 mil reformas no ano passado; as dividas por cobrar nos tribunais já atingem 7,2 mil milhoes de euros; três juízas foram acusadas de forçarem insolvências de famílias, sob suspeita de que essas decisões são tomadas em benefício dos administradores de insolvência; piratas informáticos entraram no sistema do Ministério Público e publicaram na net os contactos pessoais de todos os procuradores numa operação a que chamaram “Apagão Nacional”; a criação de novas empresas caíu 12% no primeiro trimestre deste ano; a factura da austeridade aplicada nos últimos três anos ascende a 30 mil milhões de euros e apesar disso o défice e a dívida pública estão longe das metas definidas no início do programa da troika; segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2012, cerca de 24% das crianças estavam em risco de pobreza; em Portugal há 4.522.552 empréstimos concedidos a famílias; António Nogueira Leite considerou que era muito importante que Portugal tivesse um programa cautelar, e defendeu que Portugal não deve ser considerado pelo FMI como uma espécie de Vietname da Europa; o Ministro da Economia disse no início da semana que a descida de impostos deve ser uma das metas do Governo para o próximo ano; a Ministra das Finanças anunciou quarta-feira um aumento de impostos para 2015; a Albania decidiu fazer um rebranding; a freguesia de Alvalade, em Lisboa, também.

 

ARCO DA VELHA - O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa foi o responsável directo pela ocultação, ao longo de dois anos e meio, de relatórios internos da autarquia que descreviam práticas irregulares de serviços da câmara no domínio da adjudicação de obras, e isto apesar da existência de várias decisões judiciais estabelecendo que os documentos deviam ser facultados ao jornalista do “Público” que os solicitou.

 

FOLHEAR - A Monocle de Maio é a edição anual da revista que é dedicada ao Design - quem se interessa pela área tem muito que ler, desde o design aplicado a casas ou lojas até àquele que é aplicado em objectos de utilização quotidiana. Mas os encantos desta edição não se esgotam aí - há uma curiosa reportagem sobre o reino do Butão, um bom artigo sobre o que agências de publicidade brasileiras estão a fazer à volta do Mundial de Futebol, uma auscultação das novas tendências gastronómicas dos bistrots parisienses e uma elucidatava visita a uma estação de televisão que molda a imagem actual da Rússia e dos políticos de  Moscovo, o canal noticioso RT (Russia Tday), que já alcança uma centena de países, explicando os porquês de qualque acto de Putin..Num outro campo há uma boa conversa entre os criadores de duas séries emblemáticas da ficação televisiva - “House Of Cards” e a dinamarquesa “Borgen”. Como curiosidade refira-se que a sempre interessante rubrica dedicada aos meios de deslocação de governantes de diversos países é nesta edição dedicada a Xanana Gusmão (que usa um Toyota Land Cruiser nas viagens oficiais em Timor). O portfolio fotográfico que encerra cada edição é dedicado aos clubes de correspondentes estrangeiros de Toquio e Banguecoque.

 

VER - José Manuel dos Santos, director cultural da Fundação EDP, apresentou a exposição da edição deste ano do World Press Photo como “uma espécie de retrato do mundo dos nossos tempos”. É uma boa descrição não só desta exposição, mas também do que é o fotojornalismo. A fotografia vencedora deste ano, e que correu mundo, é “Signal”, de John Stanmeyer e mostra migrantes africanos na costa do Djibouti a tentar apanhar a rede de telemóvel mais barata da vizinha Somália. A exposição tem perto de 130 fotografias de 51 fotógrafos e mostra deste a actualidade - da guerra, de desastres naturais ou do desporto - até ensaios fotográficos, passando por retratos e fotografia de viagem. Ano após ano conseguem detectar-se no World Press Photo as tendências dos editores fotográficos, a evolução dos diversos géneros da fotografia e, no fundo, aquilo que os jornais e revistas procuram e publicam. Este ano a exposição é paga, a dois euros o ingresso, e todas as receitas revertem para  as Unidades Móveis de Apoio ao Domícilio da Fundação do Gil, que apoia crianças vítimas de doença prolongada. A exposição fica no Museu da Electricidade até 25 de Maio e, se tem um iPad ou iPhone pode fazer download da aplicação que está disponível e ver a exposição, ouvindo os autores das imagens a falarem sobre o seu trabalho.

 

OUVIR - Parece que Caetano Veloso deu um concerto fora de série, há alguns dias, no Coliseu. Quem não foi lá pode ter uma ideia do que se passou graças à recente edição de  "Multishow Ao Vivo - Caetano Veloso - Abraçaço" , que reproduz o concerto criado para a digressão de “Abraçaço”, o disco de originais de Caetano editado em 2102 e que no ano seguinte ganhou o Grammy Latino de melhor álbum de cantor-compositor. “Abraçaço” era um disco excepcional, ouso dizer quase a síntese de uma carreira onde a inovação tem estado sempre presente. Para o registo ao vivo, efectuado no final do ano passado no Vivo Rio, com a sua Banda Cê, Caetano retoma os temas de “Abraçaço”, mas vai buscar também, e reinventar, temas seus clássicos e incontornáveis, como “Triste Bahia”, “Reconvexo”, “Alguem Cantando” ou “Você Não Entende Nada”. A captação de som (e de imagem, porque e xiste um DVD) são muito boas e reproduzem bem o ambiente de um concerto. Aqui está uma maneira de sentir Caetano ao vivo, mesmo que o não tenha visto nos Coliseus. (CD Universal)

 

PROVAR - Nesta altura do ano Sesimbra é um magnífico local para passear à beira mar. Andando na marginal, a seguir ao forte e em direcção à doca dos pescadores, encontra-se o restaurante “Mar e Sol”. O interior tem uma sala ampla e no exterior fica uma esplanada simpática, resguardada, com uma vista óptima sobre o mar. Para a mesa vieram como entradas uma sapateira recheada que estava honesta e uma salada de mexilhão que estava muito boa, mais pão fresco da região e azeitonas bem temperadas. Nos pedidos seguiu-se a recomendação da casa e provou-se um salongo grelhado, que estava no ponto e foi muito apreciado - relativamente pouco conhecido o salongo é um peixe suave, de cor avermelhada, de carne saborosa, abundante na região. Este estava fresquíssimo e bem preparado. O outro pedido foi um arroz de robalo, com o peixe também no ponto certo, com o arroz cozinhado por forma a não tapar o sabor do robalo e a deixá~lo brilhar - coisa que nos arrozes muito refogados e temperados nem sempre se consegue. Este estava suave e deixava o primeiro plano, como compete, para o saboroso peixinho. A refeição foi acompanhada por Catarina, um branco da região de Azeitão, baseado nas castas Fernão Pires, Chardonnay e Arinto. A conta foi equilibrada e um passeio pela marginal que se lhe seguiu rematou bem a refeição.

 

DIXIT - "A Portugal está a faltar muita poesia. Não enche a barriga, mas pode ajudar a encher o espírito" - Vasco Graça Moura.

 

GOSTO - Da escultura “Liberdade”, de Cristina Ataíde, colocada há dias num jardim de Sesimbra (ver a fotografia que ilustra a “semanada” aqui ao lado).

 

NÃO GOSTO - O Ministério Público confessou-se impotente para combater crimes na net.

 

BACK TO BASICS - “A política é a arte de simular e dissimular” - Cardeal Mazzarino

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