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POLÍTICAS - Os parlamento anda há anos a tentar fazer uma nova lei que regule a cobertura das eleições. Num curto espaço de tempo tivemos uma troika de deputados eméritos do PP, PSD e PS a proporem uma comissão de visto prévio à metodologia de cobertura do acto eleitoral por cada redacção. Depois evoluíram e as águas separaram-se - PSD e PP querem privilegiar os partidos com assento parlamentar e o PS lá decidiu não se meter em mais alhadas fomentadas pela sua deputada Medeiros e  fez uma proposta que basicamente permite que sejam critérios editoriais a prevalecer. Esta não é uma questão menor. Em 1975, quando foi feita a Lei ainda em vigor,  a maior parte dos mass media estavam estatizados e o legislador quis impôr normas iguais para todos - a informação era ainda altamente regulada, não havia praticamente orgãos de comunicação privados, muito menos televisões, e a internet era uma coisa inimaginável. Acontece que agora é legitimo perguntar se nas próximas eleições é mais interessante, de um ponto de vista editorial, cobrir o que diz o Bloco de Esquerda, com assento parlamentar, do que o Livre, que está a concorrer pela primeira vez às legislativas - os exemplos podiam ser outros, mas num ambiente de transformação e alargamento do espectro de concorrentes (mais de 20 certamente) é utópico pensar que todos têm que ter tratamento igual - porque a audiência tem alternativas e não ficaria à espera de ver 20 auto-iluminados a debitar promessas. Arrisco dizer que é preciso ter em conta um princípio que deveria nortear toda esta discussão: quando se trata de comunicação e informação os políticos e os partidos em geral, e os orgão de soberania e os governos em particular, são péssimos editores. Não sei se os senhores dos partidos já terão percebido que, agora, há um remédio simples para os evitar: carrega-se no botão e muda-se de canal. Ou então vai-se à internet buscar o que se quer. No fundo não acreditam ainda que os eleitores saibam procurar e escolher o que querem ver - agora já não há só um canal de televisão como há 40 anos atrás. Melhor fariam se garantissem total transparência aos seus actos e se pensassem melhor no que querem propôr aos eleitores. De preferência sem mentiras.

 

SEMANADA - O Partido Democrático Republicano, de Marinho Pinto, não conseguiu proceder à eleição do seu Conselho Nacional devido a alegadas irregularidades e distúrbios internos; 55 motoristas de taxi foram condenados em 2014 por burlas a turistas no aeroporto de Lisboa; os pedidos de vistos gold de chineses caíram 20% após o caso de corrupção descoberto em Novembro passado; neste primeiro trimestre os portugueses dedicaram mais de 8 milhões de horas a sites de comércio electrónico - de viagens a livros - uma média de 1 hora e 45 minutos por utilizador; Sampaio da Nóvoa afirmou-se como “um candidato improvável” e garantiu que, sendo eleiteo Presidente da República, não seria “omisso e ausente”; o défice público desceu 31% entre de Abril de 2014 e Abril desde ano exclusivamente devido ao aumento da receita fiscal; os centros de emprego chegaram ao fim de Abril com 20 849 ofertas de emprego que estão por preencher devido a falta de interessados; o metropolitano de Lisboa realizou a sua sétima greve só este ano - uma média superior a uma por mês; desde 2010 a banca cortou 15% dos balcões e 13% do número de colaboradores; a lista dos contribuintes VIP estava a funcionar 11 dias antes de ser aprovada; existem actualmente 1111 empresas portuguesas a exportar para a China; um relatório da Inspecção Geral das Finanças obriga o Fisco a proteger dados dos contribuintes;  o Hospital de Santa Maria, o maior do país, está minado por uma teia de interesses e lealdades a partidos políticos, à maçonaria e organizações católicas como a Opus Dei, conclui um estudo que avaliou a qualidade e funcionamento de seis instituições nacionais.

 

ARCO DA VELHA - Nesta história da FIFA o que é mais surpreendente é que há uma lista de notáveis, um pouco por todo o mundo, a dizerem que não é surpresa que tenham sido presos tantos dirigentes da organização sob acusações de corrupção, encarando com naturalidade que tudo tivesse continuado na mesma durante anos.

 

FOLHEAR - A edição de Junho da revista “Monocle” é dedicada aos transportes, às novidades que surgiram no sector em todo o mundo, às tendências emergentes e à análise da qualidade de serviço dos principais operadores - desde fabricantes de bicicletas até linhas aéreas, passando por companhias de comboios ou as novas tendências dos carros auto-pilotados. Como sou fã de publicidade não resisto a registar que os primeiros anúncios desta edição, são de marcas como a Rolex, a Cadillac, os jactos privados Bombardier, o novo carro da Lexus,os relógios Panerai e a Nike. A “Monocle” atingiu o estatuto de incontornável suporte de comunicação de marcas em poucos anos graças à determinação e perseverança do seu fundador Tyler Brulé em manter o posicionamento sem cedências. Esta é talvez a maior prova de que em alguns segmentos ainda faz sentido pensar em publicações impressas em papel - a vida digital da Monocle é feita à margem da revista e baseada na rádio em streaming. A qualidade dos conteúdos, o sentido de descoberta e de comunidade que foi criado entre os leitores da revista são a chave do seu sucesso e aquilo que mês após mês me faz voltar a cada nova edição, que dedicadamente folheio ao longo de vários dias, à procura do que não conheço.

 

VER - Vamos a uma síntese do que há para ver, apontando desde já que a curiosidade me impele a descobrir o que José Barrias apresentou esta quinta.feira na Plataforma Revólver - mas a isso regressarei na próxima semana. Esta semana começo por recomendar que se afoitem até Sacavém, ao Museu da Cerâmica, na Praça Manuel Joaquim Afonso, onde poderão descobrir uma exposição sobre os Móveis Olaio, porventura a unidade industrial na área do mobiliário que mais procurou a inspiração modernista e mais se inspirou no design nórdico. Acabou por criar móveis para o Ritz, o Estoril-Sol, o Hotel Tivoli, mas também os teatros Monumental e Éden, o Capitólio e os cafés Império e a Mexicana. Eu, que cresci com móveis da Olaio em casa, e ainda guardo uma estante e um cadeirão, fico sempre entusiasmado com esta memória da marca. Outra exposição a ver , no Museu Berardo, é “O Olhar do Coleccionador”, que mostra algumas das peças da colecção pouco conhecidas, nomeademnte o telão de cena criado por Marc Chagall para a Flauta Mágica, de Mozart, ou a obra Severambia, de Frank Stella . Ainda no Museu Berardo vale a pena ver a obra”Due Ragazzi alla Fonte” de Michaelangelo Pistoletto (na imagem), no ciclo “A Escolha dos Críticos”, uma iniciativa do serviço educativo do museu, aqui comissariada por Sérgio Mah.



OUVIR - Nada melhor que um fim de tarde desta fase da Primavera para pôr a tocar um disco com os standards de Frank Sinatra. Acompanham bem qualquer cocktail, encaixam no pôr-do-sol, apreciam o tempo quente e, em havendo espaço e companhia, desafiam à dança. Sinatra faria cem anos em Dezembro, morreu aos 82 em Maio de 1998. A efeméride foi o motivo para o lançamento de uma compilação, “The Ultimate Sinatra”,  que agrupa 25 das mais importantes interpretações de Sinatra, desde “All Or Nothing At All”,. de 1939, até “New York ,New York” de 1979, passando por temas tão incontornáveis como “”Young At Heart”, “In The Wee Small Hours Of The Morning”, “I’ve Got You Under My Skin”, “The Way You Look Tonight” ou “Fly Me To The Moon” e “My Way” - além de uma versão inédita de “Just In Time”. Este ano promete muitas edições de livros e discos que assinalarão o centenário, mas o fundamental mesmo é recordar a capacidade de interpretação, a forma como pegou em grandes compositores do cancioneiro popular norte-americano e os tornou numa linguagem universal. (CD Universal na FNAC e El Corte Ingles).

 

PROVAR - Mesmo no centro de Azeitão está um daqueles segredos bem guardados que apenas os locais e frequentadores habituais conhecem - a esplanada da Casa das Tortas, coberta e cercada por vegetação. Não há muitos lugares, há mesas e bancos corridos e sobretudo há um grande cuidado com a selecção da matéria prima utilizada para a confecção dos pratos, seja de carne ou peixe. A cozinha é tradicional, de fogão e de grelha, sem concessões. Tudo se joga na frescura do que é apresentado. A comandar as operações está o Sr. Paulo, que não se faz rogado a contar as suas próprias excursões gastronómicas pelo país à demanda da lampreia ou do sável nos dias em que está de folga. Para além dos grelhados, de peixe e carne, é aqui conhecida a arte dos pratos de tacho, como o frango à bordalesa, mas, também no fogão, o peixe assado no forno, das douradas ao pargo, sempre fresquíssimo. Além disso há petiscos, tábuas de queijo e de enchidos, e, para sobremesas, a incomparável A Tarte de amêndoa ou os pastéis de moscatel- acompanhados claro por moscatel roxo. A casa está aberta do pequeno almoço ao jantar. O telefone é o 969 146 996 e a morada é  Praça da República 37, Azeitão.

 

DIXIT - “A nossa democracia está cheia de cáries e, se nada fizermos, daqui a pouco está sem dentes” - Pedro Bidarra

 

GOSTO - Dos 70 anos do Centro Nacional de Cultura, uma instituição única em Portugal.

 

NÃO GOSTO - O Parlamento continua sem conseguir legislar sobre o enriquecimento ilícito, qualquer dia está igual à FIFA.

 

BACK TO BASICS - “Quando se educa uma pessoa muda-se uma vida mas quando se educam muitas podemos mudar o mundo” - Shai Reshf, fundador da University Of The People, Tel Aviv, Israel.

 

 

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publicado às 14:00

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PROMESSAS - Daqui a menos de cinco meses teremos eleições legislativas. Todos conhecemos o nível de abstenção, que tem aumentado, da mesma forma que tem aumentado o número de partidos presentes nos boletins de voto. Em quatro décadas, desde 1974, o regime conseguiu descredibilizar-se e foi progressivamente afastando as pessoas da participação. Chegámos onde chegámos apesar de promessas mirabolantes, de programas político-partidários detalhadíssimos, de proclamações de intenções irrepreensíveis. Tornou-se um nefasto hábito prometer durante a campanha eleitoral o que se renega quando se chega ao Governo. Tomar uma decisão de voto com base nesses programas e nessas promessas tem-se revelado uma péssima opção. Melhor seria que cada um votasse avaliando o que tem sido a actuação de cada partido, quando tem poder e quando está na oposição, avaliando o comportamento dos seus dirigentes em questões como por exemplo a corrupção. Vamos eleger deputados - vigiemos então o que fizeram.  O regime de presenças e faltas faltas da Assembleia da República diz que a palavra do deputado faz fé, não carecendo por isso de comprovativos adicionais. Acontece que, como se tem demonstrado, a palavra dos políticos não é de fiar. A palavra dos políticos faz fé de muito pouca coisa e as faltas dos deputados são caso que merecia ser investigado e divulgado em ano eleitoral. Se a palavra dos políticos fizesse fé não estávamos na crise em que estamos. Chegámos a um ponto onde o dilema é votar no mal menor - olhar para trás e ver quem perante a realidade criou problemas e quem procurou soluções.

 

SEMANADA - O Estado gasta 3,5 milhões por ano com o policiamento dos jogos da I Liga; a Câmara Municipal de Lisboa ignorou o parecer da PSP sobre os riscos das celebrações no Marquês do Pombal; a Ministra da Administração Interna manifestou-se incomodada com as acusações ao oficial da polícia que em Guimarães teve um comportamento selvagem; o próprio oficial da PSP, segundo a imprensa, está consciente que exagerou; o referido oficial da PSP utilizou um bastão de aço que só pode ser utilizado em cenários de grande violência; o mesmo oficial já foi referenciado como um dos envolvidos nos excessos policiais em S. Bento, a 14 de Novembro de 2012; o comandante distrital de Braga da PSP afirmou, já depois dos incidentes, que o oficial em causa nas agressões “é um profisssional exemplar”; existem 3204 processos disciplinares a agentes e oficiais da PSP por motivos que vão da insubordinação ao abuso de autoridade ou uso excessivo da força; Portugal tem três milhões de pensionistas; desde 2010 reformaram-se 3000 médicos e metade saíu dos centros de saúde; o Governo quer contratar até 400 médicos reformados para o Serviço Nacional de Saúde; faltam 800 médicos de família em todo o país;  90% do investimento privado nas florestas portuguesas é feito em plantações de eucaliptos; 4% da subida das exportações veio de novas empresas;; as dívidas incobráveis atingiam 418 milhões de euros no final de Maio; o grupo de trabalho do Parlamento sobre enriquecimento ilícito nunca reuniu;  Portugal é o país da União Europeia com maior aumento percentual na venda de carros novos com um aumento de 32,3% nos primeiros quatro meses do ano, contra uma média de 8,2%.

 

ARCO DA VELHA - Segundo um estudo da Entidade Reguladora da Comunicação apenas 14% dos portugueses se afirmam muito interessados em notícias de política, mas nunca estiveram registados tantos partidos como para as próximas legislativas - pelo menos 22.

 

FOLHEAR - Ansel Adams foi um dos grandes e inovadores nomes da fotografia norte-americana do século XX. Não só criou uma estética própria, como investigou e utilizou técnicas fotográficas, no alquimista tempo da película, que alteraram a maneira de muita gente trabalhar na câmara cscura, desde a revelação dos negativos até à sua impressão em papel fotográfico. Adams, que sempre teve preocupações ambientais bem antes de elas serem moda, foi um dos grandes divulgadores das paisagens americanas - as suas séries de imagens do Yosemite National Park ainda hoje são uma referência; a sua teoria das zonas, na exposição e impressão, proporcionou imagens de uma qualidade rara, baseadas na interpretação e manipulação do negativo através da impressão, em papel. A sua criatividade, paciência e a sua sensibilidade criaram momentos únicos como uma das suas mais célebres imagens, “Moonrise”, feita em 1941, em Hernandez, no Novo México. Mary Street Alinder foi sua assistente e nos últimos cinco anos de vida do fotógrafo era o seu braço direito. É dela esta biografia de Ansel Adams, originalmente lançada em 1966 e agora revista e reeditada. “Ansel Adams - a biography”, é um livro publicado pela Bloomsbury e em Portugal pode ser encontrado na FNAC ou através da Amazon.

 

VER - Aproveitando as viagens low cost aos Açores começo por uma galeria em Ponta Delgada, a Fonseca Macedo, que é um exemplo do que se pode fazer longe dos grandes centros. Os seus responsáveis cultivam uma relação próxima com os artistas que expõem e são incontornáveis na vida cultural dos Açores - até 4 de Julho lá estará a “Inquitação” de Ana Vieira. Passando para a Madeira destaque para a exposição de desenhos de Teresa Gonçalves Lobo no Museu de Arte Contemporânea do Funchal, obras feitas entre 2005 e 2015 sob o título genérico “Parte de Mim”. Regressando a Lisboa destaco na Galeria João Esteves de Oliveira (Rua Ivens 38), “O Regresso de um Fauve” de André Derain e, na Galeria Belo-Galsterer (Rua Castilho 71- r/c esq), e até 31 de Julho, duas mostras: o novo projecto SALA de Teresa Pavão (na imagem) e o lançamento da nova série de múltiplos de Pedro Calapez: "5 Espaços em OPENSPACE", 2015, cinco impressões a cores sobre papel de algodão, em formato A3, numa edição de 20. Hoje em dia as galerias são lugares vivos, pulsantes, que acolhem os artistas contemporâneos, arriscam e dão oportunidade. Mas nem sempre foi assim - quis o destino que no espaço de menos de um mês desaparecessem dois dos nomes que mais contribuíram para o que hoje achamos natural - descobrir obras novas, bem apresentadas em programações coerentes - foi o que o Luís Serpa e Maria Nobre Franco fizeram, cada um na sua galeria, a partir da segunda metade dos anos 80 - pondo em confronto artistas portugueses novos e consagrados com artistas estrangeiros. Ambos, cada um de sua maneira, desempenharam um papel único que abriu terreno a que outras galerias surgissem e a que novos artistas expusessem.

 

OUVIR - Tó Trips é hoje em dia sobretudo conhecido pela sua vertente Dead Combo - mas tem boa discografia a solo e é nela que o seu talento de guitarrista mais se faz sentir. Confesso-me fã de Tó Trips desde que, há muitos anos, o ouvi pela primeira vez. É dos poucos músicos portugueses que vindos da área do rock tem uma abordagem virtuosa e pessoal com a guitarra, primeiro a guitarra eléctrica, mas também a clássica, acústica. Não é só o facto de ser um virtuoso: o mundo está cheio de virtuosos, malabaristas sem imaginação nem talento criativo. Tó Trips tem esse talento, essa explosão de ideias que se traduz nas cordas de uma guitarra - sobretudo numa guitarra eléctrica. Em Janeiro deste ano gravou o disco que agora está em distribuição nos formatos de CD e vinil - “Guitarra Makaka - Danças A Um Deus Desconhecido”. Nas 12 faixas do disco faz questão de mostrar, em duas, que se sente tão à vontade com a guitarra clássica como com a guitarra eléctrica. Todas as composições são originais seus e permito-me destacar “Danças”, “Baía das Negras”, “Briza” ou “Makaka” - mas sei estar a ser injusto porque neste disco não há maus temas. Para quem gosta de guitarra, de a sentir tocada, este é um trabalho incontornável. Edição Mbari Música.



PROVAR - Estamos no verão, época de saladas, peixes grelhados, refeições simples e frescas. Para tudo isto se exigem vinhos leves mas coerentes, vinhos que sejam frescos mas não sejam vazios. Vinhos destes, exemplares, são os brancos e rosés da Quinta do Monte d’Oiro, vinhos da região de Lisboa, em vinhas feitas por José Bento dos Santos. Uma das marcas da casa é a Lybra, que serve de ponto de entrada na extensa gama disponível. Para estes dias quentes recomendo duas opções da colheita de 2014: o Lybra Rosé, elaborado a partir da casta Syrah, levemente rosado, seco, boa acidez e frescura com 12º; e o Lybra Branco, 13º, feito a partir das castas Viognier, Marsanne e Arinto, aromático, fresco, a acompanhar muito bem carnes brancas e peixe. A relação quaildade-preço é muito boa.

 

DIXIT - “As vítimas e os alvos dos conspiradores do Acordo Ortográfico não somos nós, são as criancinhas que não sabem defender-se. Deseducando-as sistematicamente, conseguirão enganá-las facilmente. A ignorância é a inocência. Pensarão, a partir deste ano, que só existe aquela maneira de escrever a língua portuguesa” - Miguel Esteves Cardoso

 

GOSTO - O português Cláudio Fontes foi eleito o investigador do ano por cem mil engenheiros químicos de toda a Europa.

 

NÃO GOSTO - Os taxistas de Lisboa querem estabelecer um preço fixo de 20 euros desde o aeroporto até qualquer destino no centro de Lisboa, em média o dobro do que era até aqui.

 

BACK TO BASICS - “Todos os grandes avanços no conhecimento implicaram a rejeição da autoridade estabelecida” - Thomas H. Huxley

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publicado às 14:00

HÁBITOS DE TV EM MUDANÇA

por falcao, em 22.05.15

Em média ligeiramente mais de 40% dos telespectadores portugueses não vê nenhum dos canais generalistas – estão a ver canais de cabo, a assistir a progtramas em diferido ou a dar outras utilizações aos televisores, como jodos por exemplo. A mudança é enorme em relação há meia dúzia de anos. O canal generalist mais visto, e que tem sido a TVI, anda pelos 24-25% do total da audiência de televisão e a SIC fica-se nos 19% e a RTP1 nos 14,4%. Os novos canais de cabo cativam audiência – e um dos melhores exemplos disso mesmo é o CMTV – na semana passada, na região Sul do país, o CMTVfoi o 5º canal mais visto, à frente da RTP2, SIC Notícias, TVI 24 e RTP Informação. O resultado é ainda mais relevante quando nos lembramos que o CMTV é apenas distribuído na MEO, que grosso modo representa metade do Mercado. Vai ser curioso ver o que se passa quando o CMTV estiver em todas as plataformas.
De resto o programa mais visto foi o jogo Real Madrid-Juventus na TVI, que foi visto por quase dois milhões de pessoas – mas a SIC já não conseguiu resultados tão bons com o Fiorentina-Sevilha que foi visto por cerca de 900 mil espectadores.
Fora do desporto e da informação a SIC e TVI brilharam com as respectivas novelas. Dança com Estrelas foi o 3º programa amsi visto da TVI, e Shark Tank foi o 8º mais visto da SIC. Na RTP1 o programa mais visto fora da área de informação foi Bem-Vindos a Beirais.


(publicado hoje no SEXTA TV&LAZER do Correio da Manhã)

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publicado às 10:28

UM HORIZONTE À VELOCIDADE DO CARACOL

por falcao, em 15.05.15

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HORIZONTE - Passou um ano sobre a saída da troika mas não se notou ainda verdadeiramente uma mudança na questão de fundo da política dos últimos anos: desde o início desta legislatura tem sido a política externa a condicionar a política interna. Mesmo que tivéssemos conseguido evitar a presença física da troika, na situação em que o país estava, seria impossível evitar, permanecendo no Euro, que as coisas não fossem ditadas do exterior - mas podiam ter sido diferentes, como em Espanha. O desafio para a próxima legislatura é passar do domínio da política externa para o primado das políticas internas. O grande problema é que a propaganda das reformas é maior que a substância das mesmas. A grande questão é que se agiu basicamente da maneira mais fácil - o aumento da receita fiscal foi bem superior ao corte da despesa do Estado e esse é o factor crítico - a gorda máquina que suga o país e condiciona reformas estruturais através do peso que tem nos aparelhos partidários. Não temos tido políticas internas, apenas ajustes pontuais ditados pelas circunstâncias que criámos nas últimas décadas e por aquelas que nos impuseram. O resultado é um crescimento raquítico e confusões constantes sobre qual deve ser o papel do Estado, sobretudo em sectores como a saúde, a educação e a justiça.  Qual o nosso horizonte daqui a 20 anos, quando estivermos em 2035 e as mudanças na economia mundial, na tecnologia, nos hábitos e comportamentos forem diferentes a um ponto que nem imaginamos? Claro que me faz impressão pensar sequer que nas próximas eleições podemos voltar ao laxismo que nos levou à situação em que estamos. Mas a realidade é que olho para o panorama eleitoral e não vejo nada que me agrade. Não me revejo em nenhuma política e considero prudente ignorar as promessas - porque já todos percebemos que em política elas não são para cumprir. O eleitorado tem uma tarefa difícil pela frente. Muito mais difícil que a clientela dos partidos.

 

SEMANADA - Angola deixou de estar entre os cinco maiores parceiros de Portugal no primeiro trimestre deste ano; alteração da lei eleitoral continua a causar polemica entre responsáveis editoriais e responsáveis da propaganda partidária; nos primeiros três meses do ano os empréstimos para compra de casa atingiram o valor mais alto dos últimos três anos; o número de famílias com os pagamentos de crédito ao consumo e habitação em atraso aumentou no primeiro trimestre deste ano; no ano passado os encargos com as PPP subiram 60%; o PIB português cresceu 0,4% nos primeiros três meses de 2015 ; o PIB espanhol cresceu 0,9% nos mesmos três meses; as vendas de produtos portugueses para Espanha cresce a um ritmo que é o dobro do das exportações para outros países; mais de metade dos portugueses vai à igreja uma vez por semana; os despedimentos colectivos mantêm-se acima dos níveis anteriores à troika; as penhoras das Finanças duplicaram em apenas três anos graças à implementação das penhoras automáticas; cada português bebe 10,6 litros de alcoól por ano; a OCDE fez um relatório onde conclui que as mulheres com ensino superior e que têm maiores remunerações são as que consomem mais bebidas alcoólicas - e Portugal ocupa mesmo o segundo lugar do ranking dessas mulheres, atrás da Finlândia e antes da Alemanha; o acordo ortográfico tornou-se obrigatório em actos oficiais o que implicou que deixassem de existir arquitectas, que passaram a arquitetas.

 

ARCO DA VELHA - “Esta pega, feia, gorda, invejosa, nojenta, salazarenta, cretina e complexada” - termos em que Sofia Fava, ex-mulher de Sócrates, se referiu no facebook a Joana Marques Vidal, procuradora geral da República.

 

FOLHEAR - Um livro interessante para ler neste ciclo eleitoral da vida política portuguesa é “A Quarta Revolução - A corrida global para reinventar o Estado”. Os seus autores são dois jornalistas, um da Bloomberg (John Micklethwait) e outro da Economist e que é um dos colunistas da imprescindível página “Schumpeter” ( Adrian Wooldridge). Os autores reflectem sobre a crise dos modelos partidários e de organização dos estados ocidentais, as respectivaas crises de governação , a ineficácia do Estado e o descrédito do sistema político. O livro não se limita a ser um inventário pessimista de problemas, traça também caminhos que são propostas de melhoria da sociedade. Muitos não serão consensuais mas a obra tem o mérito de pôr o dedo bem fundo na ferida, fazendo-a sangrar em abundância, para depois propôr vários tratamentos. O título do livro sugere que após o Estado Nação do século XVII, do Estado Liberal do secúlo XVIII e XIX e do Estado Social do século XX é inevitável que surja uma Quarta Revolução - e desta vez pode acontecer que não seja o Ocidente a traçar o caminho do futuro. (Editado pela D. Quixote/ Leya).

 

VER - Por estes dias uma das coisas que gosto mais de fazer é seguir o trabalho de algumas pessoas no Instagram. Por exemplo, o músico Legendary Tigerman (Paulo Furtado) tem uma série que evoca os lugares por onde passa em digressão em Portugal e no estrangeiro (na imagem); o americano Matt Eich vai publicando a fabulosa série que está a fazer sobre a vida e os habitantes de pequenas cidades dos Estados Unidos; David Guttenfelder, um fotógrafo da National Geographic Magazine apenas publica no Instagram imagens feitas com i Phone. Mas há também Luisa Ferreira, Pauliana Valente Pimentel, ou Clara Azevedo que vão anotando no Instagram o que vêm nos seus universos pessoais e nos locais por onde passam, ou Maria João Pavão Serra que no seu Turista Acidental nos revela o que descobre em viagem.  Ou então casos como o de Pedro Norton que no Instagram como que prolonga o trabalho que fez com o livro “As Flores do Mal”, editado no ano passado.E, finalmente, revistas como a New Yorker, a Time ou a Vanity Fair. Um mundo de imagens. Cá para mim o Instagram está para a fotografia como os graffitti para as artes plásticas há uns anos atrás.

 

OUVIR - O novo disco de Aldina Duarte tem dois discos: um preto e outro vermelho. O preto é o tradicional; o vermelho tem os mesmos fados mas não é tradicional. Tendo os mesmos fados, não são discos iguais: num e noutro os mesmos fados parecem diferentes. O negro é conservador; o vermelho é reformista. O negro é uma paixão; o vermelho é uma escapadela. Convivem bem os dois, é engraçado ouvi-los um após o outro, ficar encantado com o primeiro, ficar surpreendido pelo segundo. Os romances podem ser assim. Uns são paixão, outros ocasião. Não me lembro de um disco como este: fado tradicional de um lado, guitarra eléctrica do outro, o antes e o depois. No meio, sempre, um encanto. “Romance(s)” não é um disco, é uma aventura em dois actos. De um lado está servido por uma história construída em versos por Maria do Rosário Pedreira, cuja escrita mais uma vez surpreende; do outro lado pelo desafio das vozes, pela experimentação e pelas portas que abre. É a mesma história cantada de maneiras diferentes. Se calhar gosto mais do disco vermelho. É atrevido. Mas não tinha sido feito sem o outro. Que tem a tradição. (CD Sony Music)

 

PROVAR - Uma das coisas mais difíceis de encontrar em Lisboa é uma sanduíche feita como deve ser. A maior parte dos estabelecimentos comerciais pensa que uma sanduiche é uma carcaça aberta ao meio para dentro da qual se atira um pedaço de fiambre mal cortado ou uma transparência de queijo flamengo. Inevitavelmente no momento prévio ao lançamento do conduto surge a pergunta: “com ou sem manteiga?”. A prudência manda evitar gorduras rançosas. Há variantes: a tosta em pão alentejano, que é a mesma coisa, mas carregada de manteiga de ambos os lados das fatias, sem direito a opção, e que é impossível comer sem os dedos ficarem numa lambuzice, geralmente demasiado torradas e duras , com o flamengo a derreter e a escaldar; ou então a velha tosta mista em pão de forma da véspera, igualmente carregada de manteiga do lado de fora das fatias. Numa sanduíche de carcaça a míngua de fiambre ou de queijo é quase sempre notória, deve ser para se provar bem o pão que há muito deixou de ser estaladiço. Se falamos de presunto o caso ainda é pior porque vem geralmente mal cortado, grosso e sensaborão, com os bordos secos. Existem algumas variantes modernas da sanduíche com toque cosmopolita, mas igualmente desinspiradas - como os famosos hamburgueres do Honorato que provavelmente já terão sido bons mas agora são desinteressantes. Outro caso estranho de sucesso é o prego da peixaria, que vem num bolo de caco insípido - que poderia ter passado por uma torradeira para abrilhantar o preparo. Estou para encontrar uma sanduíche que incopore verduras frescas (folhas de espinafre, agrião, fatias finas de pepino ou mesmo alface que não tenha sido rejeitada pelos grilos), um chutney ou mostarda, um dos nossos bons queijos, presunto ou paio do lombo bem cortados, tudo em pão decente e levemente torrado. Se alguém souber onde há, agradeço.



DIXIT - “Grande parte da imprensa (que festeja sempre as vitórias da esquerda e há pouco tempo pisou o ridículo com a do Syriza na Grécia) deu pouco destaque às eleições britânicas - a maior parte fê-lo por motivos ideológicos (caso contrário seria indigência jornalística) e preconceito” - Francisco José Viegas, no Correio da Manhã.

 

GOSTO - Da série de selos dos CTT com ilustrações do lince ibérico e das etiquetas postais com dinossauros que viveram no território português durante o Jurássico.

 

NÃO GOSTO - Do que aconteceu às árvores na avenida Guerra Junqueiro que ficaram reduzidas a galhos por obra de um poda que foi “longe demais” nas palavras da própria Junta de Freguesia que era responsável pela sua manutenção.

 

BACK TO BASICS - “As Universidades não gostam dos génios, tal como os conventos odeiam acolher santos” - Ralph Waldo Emerson

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publicado às 14:00

O PAÌS QUE VÊ TV

por falcao, em 15.05.15

É interessante ver como se faz o consumo de televisão nas regiões do país – o norte é quem entrega maior número de espectadores a qualquer canal generalista. No caso da RTP1 o norte garante uma media de  97 mil espectadores, que comparam com os 73 mil da região centro, os 63 mil da Grande Lisboa e os 29 mil da região sul. Na TVI o norte garante 145 mil, o centro 120 mil, Lisboa 124 mil e o sul 48 mil. E na SIC o norte apresenta 141 mil espectadores, contra 94 mil do centro, 88 mil de Lisboa e 34 mil do sul.

Os numeros relativamente fracos de Lisboa têm uma explicação: é nessa região que existe maior número de espectadores do cabo, o que explica que seja também a região onde os canais generalistas de sinal aberto sejam mais penalizados. Uma tendência, tudo indica, que aos poucos se irá estendendo a outras zonas do país.

Esta foi uma semana TVI – programa mais visto no global (a transmissão do Juventus-Real Madrid), programa mais visto nos canais de cabo (os comentários ao Barcelona-Bayern na TVI24), vitória em acesso a prime time e em todo o horário nobre.

Nos dez programas mais vistos da semana a TVI colocou seis e a SIC quatro – qualquer um dos canais contou com a ajuda do futebol, embora em moldes bem diferentes – o Barcelona-Bayern na TVI foi o momento de televisão mais visto de toda a semana e o Juventus-Real Madrid ficou atrás embora tenha feito um bom resultado na SIC.

(Publicado na revista TV & LAZER do Correio da Manhã de Sexta)

 

 

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publicado às 11:51

Políticas esquizofrénicas

por falcao, em 08.05.15

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ESQUINA 617 - 6 MAIO 2015

 

ESQUIZOFRENIA - Nestes tempos que correm a vida política resume-se a isto: de um lado, numa semana coliga-se e noutra logo a seguir intriga-se; do outro lado, num dia mostram-se previsões em folhas de Excel e noutro fazem-se promessas de panfleto de campanha eleitoral. Não é o mundo que anda estranho, é a política que virou esquizofrénica. Se calhar não é novidade, mas agora nota-se mais. Na coligação passa-se o curioso fenómeno de o Primeiro Ministro se referir ao seu Vice Primeiro Ministro como líder da oposição, na mesma semana em que uma colaboradora do núcleo central do PSD publica uma biografia autorizada onde conta episódios da crise da governação - a célebre demissão irrevogável - com detalhes prontamente desmentidos pela outra parte. Tudo se passa entre sorrisos com a propagandista de Passos Coelho a menorizar as dúvidas sobre a veracidade do seu relato. Tenho cá para mim que estes episódios não dão muita confiança aos eleitores - sejam aos dos partidos do Governo, sejam aos do PS. Às vezes tenho a sensação de que toda a gente procura constantemente um motivo para fabricar uma crisezinha. Será falta de ideias? Ou apenas falta de jeito? A narrativa política está rasca - trata os eleitores como se eles fossem apenas mudar de canal, em vez de valorizarem que o sentido do voto é obter mudanças no parlamento, no Governo  e nas políticas. E, em última análise, no bem-estar das pessoas e no progresso do país.

 

SEMANADA - A Ryanair declarou-se muito satisfeita com o aumento das suas reservas e do seu negócio em Portugal, verificado em consequência da greve de alguns pilotos da TAP; outras companhias aéreas low cost viram também o seu negócio aumentar em consequência desta greve; João Cravinho afirmou que a TAP está a correr “um forte risco de inviabilidade na sua forma actual”; Portugal cria 78 novos alojamentos por dia para turistas; o bacalhau dominou a visita oficial de Cavaco Silva à Noruega; o poder de compra dos portugueses é 79% da média da União Europeia; a Câmara Municipal de Lisboa foi acusada de favorecer um projecto do GES na zona do Parque das Nações, cujo plano de pormenor foi feito pelo arquitecto Manuel Salgado, antes ainda de ser vereador, mas que depois tomou decisões sobre o processo; está a aumentar o número de juízes afastados dos tribunais; um juiz do Tribunal de Torres Novas chamou burra a uma escrivã; o Juiz Carlos Alexandre afirmou temer estar a ser espiado por uma organização secreta; em cinco anos desapareceram das igrejas e capelas portuguesas 150 peças de arte sacra; Marcelo Rebelo de Sousa considerou que Marques Mendes exerce sobre ele uma pressão  “doentia e obsessiva”  para que se candidate à Presidência da República; Sampaio da Nóvoa disse numa entrevista que se sente “preparadíssimo” para ser Presidente; Alfredo Barroso afirmou que o documento “Uma Década Para Portugal” “diz aquilo que querem ouvir tanto a actual direcção do PS como a ala mais à direita do partido”; António Costa disse que o PS não faz promessas impossíveis; António Costa prometeu esta quarta-feira mexer nos atuais escalões do IRS e com isso promover uma redução “da carga fiscal sobre o trabalho”; já são efectuadas mais pesquisas através de telemóveis do que de computadores e tablets.

 

ARCO DA VELHA - Marianne Thyssen, comissária europeia do Emprego e dos Assuntos Sociais, cancelou a visita a Portugal, para reuniões com o Ministro Mota Soares,  devido à greve na TAP.

 

FOLHEAR - António Pinto Ribeiro, recentemente afastado da Gulbenkian onde tinha criado o programa “Próximo Futuro”, tem tido uma persistente actividade de crítico e ensaísta na imprensa, procurando sempre comunicar de forma clara questões que não são simples. Fomenta o gosto pelo debate e pelo raciocínio provocador e a série de artigos que escreveu para o ”Público” entre Março de 2011 e Dezembro de  2014 é particularmente rica. 32 desses artigos foram agora publicados pelos Livros da Cotovia, na colecção Três Razões, sob o título “Miscelânea”. Passam por aqui temas que vão da política cultural aos desafios com que defrontam os museus, passando pela gastronomia e a moda. Há títulos de alguns destes artigos que são todo um programa, como “A cultura é cara? Experimentem a ignorância”, “Sem pêlos”, “Para acabar de vez com a lusofonia” ou “Ode ao conflito”, que encerra a recolha e de onde não resisto a extrair este segmento: “ Importa não confundir compromisso com consenso. O primeiro resulta de negociação cultural na mais abrangente definição do termo; o segundo - o consenso - é o adiamento de um conflito, modo cínico de enfraquecer a energia potencial e criadora que existe no conflito quando este está longe de ser guerra”.

 

VER - Miguel Justino mudou a sua Galeria da Rodrigo da Fonseca, frente ao Hotel Ritz, para um primerio andar da Rua Rodrigues Sampaio - é no 1º Esq do número 31, um prédio magnífico. Para a exposição que ficará até final de Maio, Miguel Justino convidou o crítico Miguel Matos para curador do “Projecto Sinistesia”, de Gabriel Garcia, e “Per Fummum” de Teresa Gonçalves Lobo. Gabriel Garcia aceitou o desafio de trabalhar sobre imagens que lhe foram sugeridas pelo cheiro de determinados perfumes - o ponto de partida que o curador lhe estabeleceu. Teresa Gonçalves Lobo, que tem vindo a afirmar a coerência do seu trabalho, apresenta novos desenhos, já mostrando uma evolução em relação a obras ainda recentes. Como diz Miguel Matos na apresentação da exposição, os desenhos de Teresa Gonçalves Lobo (na imagem) “são de carácter abstracto mas possuem poderes evocativos subjectivos”. O seu traço, agora progressivamente mais trabalhado com novas técnicas, cria uma noção de especial do espaço, particularmente visível nesta selecção que apresenta na Galeria Miguel Justino.

 

OUVIR - Há poucos portugueses a fazer bandas sonoras e menos ainda a editá-las. Valia a pena por exemplo editar as bandas sonoras que José Mário Branco já fez e que permanecem esquecidas da memória, mesmo daqueles que permanentemente o louvam e premeiam. Mas adiante. André Neves, com o seu disco “Soundtracks Vol 1”, é a razão de ser destas linhas. Começou a estudar Direito mas as leis foram vencidas pelo piano e, depois, pela paixão do trabalho em estúdio que o envolveu na Islândia, nos Sundlaugin Studio, construídos pelos Sigu Rós - o seu disco de estreia, “Circunstances”, foi lá finalizado. Este “Soundtracks Vol 1” recolhe trabalhos que fez em 2014 para uma dezena de filmes de realizadores de países como os Estados Unidos, Japão, Índia, Alemanha, Islândia e Espanha - entre eles a banda sonora de “Our Father”, de Linda Palmer, que ganhou o prémio de melhor banda sonora no Los Angeles Independent Film Festival. Além das bandas sonoras está incluída uma peça escrita para uma coreografia de dança contemporânea (por sinal um dos melhores momentos do disco). A destoar da qualidade geral deste registo está “Gambiarra”,  uma composição interessante infelizmente estragada por um arremedo de poesia para jogos florais, mal escrita e mal lida pelo seu autor, Valter Hugo Mãe - em suma uma foleirice pretenciosa,  que no final do CD estraga o prazer anterior.

 

PROVAR - Não gosto de frequentar restaurantes que entram de repente na moda e que são lidos em todo o lado. Prefiro casas mais simples que não recorrem aos préstimos de relações públicas para criarem nome. Por isso mesmo demorei largos meses a aventurar-me na “Casa de Pasto”, muito badalada porque o seu cozinheiro é Diogo Noronha, que ganhou nome de chef no falecido “Pedro E O Lobo”, ao Princípe Real. Voltando ao Pasto, vale a pena destacar a decoração, feita de uma mistura confortável de objectos e mobílias de várias épocas. Vale ainda a pena destacar o serviço, bom, exemplar: num restaurante, por melhor que seja a comida, um mau serviço arruína o prazer da refeição - e ainda há muita gente por aí que ignora este ponto essencial. Resolvidas as questões do conforto e do serviço, passemos ao essencial: a cozinha. As propostas são variadas, desde as entradas até aos pratos de substãncia. Há uma clara dedicação na interpretação, respeitosa e  comedida, da cozinha tradicional portuguesa - nos petiscos de entrada, nos peixes e nas carnes.. Para servir de entretém a mesa oferece azeitonas marinadas e umas deliciosas cenouras de conserva, à algarvia. O petisco inicial foi uma salada russa com puntillitas, seguido de uns filetes de peixe galo de impecável preparo e fritura e um arroz de lagostim, com açafrão, tomate e tobiko irrepreensível. Tudo foi acompanhado de um branco Quinta das Bageiras. O repasto terminou em beleza com um duchesse improvável de morangos com ruibarbo que resultou muito bem. Rua de S. Paulo 20-1º, ao Cais do Sodré. Telefone 963 739 979.

 

DIXIT - “Eu diria que onde a língua portuguesa se depara com maiores dificuldades, adversidades e pouca capacidade de luta é na Europa” - José Ribeiro e Castro.

 

GOSTO - Da sugestão de Teresa Garcia, uma professora do ISEG, para que se faça um estudo sobre a carreira contributiva dos políticos.

 

NÃO GOSTO - De dirigentes partidários que enviam SMS agressivos a jornalistas que criticaram acções políticas, dizendo que estão apenas a exercer o direito de protesto.

 

BACK TO BASICS - “Tenho por certo que durante o horário de expediente nunca se diz a verdade” - Hunter S. Thompson

 

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