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ESQUINA 632 - 21 AGOSTO 2015

 

MIXÓRDIAS - Há um espectro que assola as eleições de 4 de Outubro e dá pelo nome de presidenciais. A proximidade das duas eleições - as presidenciais serão em Janeiro próximo - e o termo do derradeiro mandato do actual Presidente da República constituem uma mistura explosiva. Esta semana António Costa, imagino que involuntariamente e sem pensar muito, como é sua característica - veja-se o patético caso dos cartazes - , chamou a função presidencial à baila no que ao resultado das eleições legislativas diz respeito. Num cenário de separação das duas eleições, já de si complicado, veio colocar a questão presidencial em primeiríssimo plano. Este tema vai durar até ao final da campanha eleitoral e não ajuda ninguém. Até ao momento as sondagens indicam um empate técnico entre o PS e a coligação PSD-PP. Por muitas evoluções que se verifiquem o cenário de uma maioria absoluta de qualquer destes intervenientes parece muito improvável. Ambos já recusaram entendimentos um com o outro - apesar de a aliança contra-natura ser o pão nosso de cada dia na Europa Central. Esta semana um alto funcionário português da Comunidade Europeia chamou-me a atenção para isso mesmo, adiantando aliás que essa capacidade de entendimento seria um bom exemplo das melhores práticas políticas que dão consistência à Europa. Muito modestamente acho que essa é a raiz dos males dessa nebulosa de interesses, dessa estranha amálgama de contrários, dessa mixórdia a que alguns chamam União. Não sei qual vai ser o resultado no dia 4 de Outubro - mas tenho a certeza que seja quem fôr que ganhe vai ter de se submeter às imposições de quem nunca foi a votos a em Portugal. Esse é o triste legado de quem nos conduziu a este barco avariado. Para o próximo round deste combate, as presidenciais, provavelmente disputadas em clima de crise institucional, perfilam-se três contendores no canto direito e outros três no canto esquerdo. Talvez seja a altura de revermos como todo o sistema político funciona. 41 anos já chegam para tirar lições. E conclusões.



SEMANADA - A Polícia Judiciária já identificou, desde 2013, 27 menores suspeitos de atear fogos florestais; foram marcadas manifestações de polícias para 31 de Agosto; os únicos partidos que ainda não se pronunciaram sobre as presidencias são o PCP e o Bloco de Esquerda; até 15 de Agosto morreram nas estradas portuguesas mais 31 pessoas que em idêntico período do ano passado; no primeiro semestre de 2015 foram constituidas arguidas 44 pessoas, a maioria homens, por suspeita de pornografia envolvendo menores; as contas na saúde são negativas, mas melhoraram 337 milhões de euros desde 2011; mais de 3000 médicos saíram do serviço nacional de saúde desde 2011; até final de Julho nasceram em Portugal mais 1500 bebés do que em idêntico período do ano passado, o que significa um aumento da natalidade, pela primeira vez desde há cinco anos; o negócio de venda de comida na rua movimenta já 2,5 milhões de euros e tem cerca de 130 tipos de oferta diferentes; os bancos concederam 409 milhões de euros de empréstimos em Junho, um aumento de 21,5%, com o crédito automóvel a registar o maior aumento; durante 2014 foram abandonados 600 cães e gatos por semana; o custo dos manuais escolares para o sétimo ano de escolaridade ultrapassa os 250 euros; o passadiço da Ribeira das Naus, obra emblemática de António Costa, teve que ser fechado um ano depois de ter sido inaugurado, devido a problemas de construção e deficiente previsão de intensidade de utilização; António Costa prevê criar 207 mil empregos se fôr eleito.



ARCO DA VELHA - Enquanto Rui Rio intensifica contactos a Norte, surgiram notícias de movimentações internas no PSD para travar a sua candidatura e, a sul,  Marcelo Rebelo de Sousa avisou os sociais-democratas que não podem abrir brechas.

 

FOLHEAR - Ficar a ler um livro noite fora é quase sempre um exercício que abre o apetite. Quando se trata de um policial escrito pelo italiano Andrea Camilleri, contando as aventuras do seu inspector Montalbano a coisa piora um pouco. Game of Mirrors, originalmente publicado em 2011, traduzido este ano para inglês, é o 18º livro das histórias do inspector Montalbano, como sempre com a Sicília em pano de fundo. À volta do inspector existe sempre uma teia de conspirações que envolvem a Mafia, alguma magistratura tolerante, políticos complacentes, jornalistas exibicionistas e um cocktail de mulheres bonitas e boas comidas.  Este novo livro consegue colocar Montalbano a descrever uma mulher, sua vizinha, e personagem central da intriga, com tanta minúcia e apetite como um dos belos pratos que a sua empregada, Adelina lhe prepara: sartu di riso alla calabresa, paste alla carrettiera, arancini, pasta ‘ncasciata, melanzane alla parmegiana. É terrível ter que ler um livro enquanto se googla pelas receitas dos pratos lá descritos - os que ele petisca em casa e aqueles que todos os dias experimenta no Enzo, a sua trattoria quotidiana. Edição disponível para Kindle, Amazon, a partir da edição original da Penguin.

 

VER - No dia 19, quarta-feira passada, celebrou-se o Dia Mundial da Fotografia. É uma curiosa coincidência que  a revista Time desta semana tenha chamado a capa um dos melhores ensaios fotográficos publicados nos últimos anos na imprensa - “What It’s Like To Be A Cop in America - one year after Ferguson”. A reportagem escrita é de Karl Vick mas o que mais impressiona é a qualidade e autenticidade das fotografias, de Natalie Keyssar. Nas páginas da edição internacional da Time surgem sete imagens poderosas - oito com a que está na capa que aqui se reproduz. No site da Time podem ver uma galeria digital deste e de outros trabalhos que mostram a força da fotografia na imprensa - imagens para além do banal e que ajudam a compreender a realidade. É isto, o fotojornalismo e a Time desta edição é um bom exemplo, infelizmente cada vez menos seguido em Portugal. Ainda em celebração da fotografia aconselho uma visita à cadeia da Relação, no Porto, onde está instalado o Centro Português de Fotografia, que acolhe, entre outras exposições, a mostra “Presente”, projecto vencedor da Bolsa 2014 da Estação Imagem Mora, realizado por Hermínio Noronha e que documenta as memórias da Guerra colonial no Concelho de Mora.

 

OUVIR - Quando uma banda recente é convidada pelos AC/DC e pelos Who para servir de primeira parte nas respectivas digressões é sinal que a coisa cheira a rock. Na realidade os Vintage Trouble são uma mistura de rock com música soul e tanto vão buscar inspiração aos Led Zeppelin, às vezes aos Creedence Clearwater Revival, assim como a Al Greene, a James Brown ou a Otis Reding. Esta aproximação ao soul deve-se muito ao vocalista Ty Taylor, enquanto o guitarrista Nalle Colt é responsável pelas canções mais enérgicas, como o tema de abertura “Run Like The River”. Mais do que um exercício de revisitação de memórias musicais,  o CD “1 Hopeful Rd”, revela uma banda despretenciosa e multifacetada. Editado numa etiqueta clássica do jazz, a Blue Note, este disco é mais uma demonstração dos novos terrenos que Don Was, que agora dirige a editora e produziu ele próprio este trabalho, pretende trilhar no futuro e como vê o cruzamento de diversas tendências musicais. O disco é revivalista? - Sim. É divertido? - Sim. Isso constitui um problema? Não.

 

PROVAR - Passear ao longo de um rio é das melhores experiências que se pode ter. Bem perto de Lisboa há uma localidade onde felizmente a zona marginal se manteve sem grandes estragos e de onde se pode ver a margem norte do Tejo e o casario das colinas lisboetas - estou a falar de Alcochete. A terra tem tradição de bons restaurantes e, além do Alfoz, clássico e um pouco parado no tempo, há o Palmeiro para quem procure peixe de qualidade garantida. Mas no meio das pequenas ruas que desembocam na marginal há boas surpresas. Tenho por hábito em terras assim passear pelas ruas mais pequenas e ver um local onde me pareça que as gentes locais abancam com prazer, sem cara de azia. É um método de diagnóstico que raramente falha. No caso de Alcochete este sistema levou-me até à Tasca do Victor. É um restaurante mais de panela, forno e fritadeira do que de grelha e sai-se muito bem dessa sua opção. Da lista fazem parte clássicos  como o choco frito, enguias fritas ou carne de porco à alentejana. No dia em que lá fui um dos pratos do dia era ovas fritas - pequenas, de fritura impecável, vinham acompanhadas por boa açorda. A esplanada é ampla. O serviço é atento e simpático, o vinho branco da casa é da região de Pegões, um honesto Adega das Passarinhas. Muito boa relação qualidade/preço. Fica na Rua da Quebrada 10, em Alcochete, telefone 212340912.



DIXIT - “Voltar a casa é a maior viagem de todas” - Miguel Esteves Cardoso, no Público.

 

GOSTO - Da iniciativa de dois estudantes dos Açores, que estão a angariar fundos para participar no School At Sea, uma escola que funciona durante meio ano num veleiro e que lhes permitirá alargarem horizontes.

 

NÃO GOSTO - Da sucessão de acidentes rodoviários graves na Estrada Nacional 125, no Algarve.

 

BACK TO BASICS - Mantém os teus amigos por perto e os teus inimigos mais perto ainda - Sun Tsu

 



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publicado às 19:19

No domingo passado, dia de arranque da época futebolística, o conjunto de canais de cabo obteve cerca de 38% de share - enquanto o mais visto dos canais generalistas, a TVI, se ficou pelos 20%. Nesse dia, se contabilizarmos o cabo e o lote de visionamentos diversos catalogados como “outros”, a maioria dos espectadores de televisão, ligeiramente mais de 50%, não viu canais generalistas.  O BTV, nome da Benfica TV na sua guerra com a SportTV,  transmitiu o Benfica-Estoril, mas também jogos da Premier League britânica como o Manchester City - Chelsea (onde o efeito Mourinho funciona nas audiências). Com os jogos do Benfica, a Premier League e os campeonatos de Itália e de França, a Benfica TV este ano vai dar muitas dores de cabeça aos seus concorrentes no cabo. O impacto do primeiro fim de semana da ápoca futabolística está á vista - o conjunto de canais de cabo subiu mais uma vez e já está nos 33,3% de share de média semanal.

Nos outros canais é curioso ver que entre o público dos 4-14 anos quem ganha é “A Única Mulher”, da TVI, mas entre os mais velhos “O Mar Salgado”, da SIC, continua a liderar. Nos canais de séries a FOX esta semana liderou, ultrapassando o AXN e os primeiros lugares continuam do Hollywood e do Disney Channel. Na informação a SIC Notícias continua a ser seguida de muito perto pela TVI 24 e a Correio da Manhã TV já está à frente da RTP Informação.

 

(publicado na Sexta TV & Lazer, do Correio da Manhã de 21 de Agosto)

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publicado às 17:25

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COMUNICAR - A rambóia dos cartazes partidários tem a ver com uma noção desajustada da realidade comunicacional contemporânea, mais do que com questões políticas ou ideológicas. O que aconteceu revela pouco estudo, desprezo pelas possibilidades que hoje se abrem de busca e comparação de imagens, e pelo facto inegável de, no fundo, os partidos e alguns dos seus estrategas considerarem os eleitores uma carneirada disposta a comer tudo em troca de um prato de promessas. Há uns anos atrás nada disto teria acontecido porque a velocidade de reacção era mais lenta, porque seria mais difícil localizar factos, pessoas, imagens e situações e, sobretudo, não existia a capacidade de quase instantaneamente os mais criativos caricaturarem as asneiras dos políticos a partir da sua própria matéria prima, como agora aconteceu. A sucessão de cartazes jocosos inspirados nos cartazes originais destas próximas eleições é enorme e prova sobretudo o descrédito de uma classe política incapaz de ver como a paisagem mediática se alterou. Os graffitis de hoje em dia são os comentários no Facebook ou twitter e o poder do Galo de Barcelos está em qualquer smartphone, não é necessário um spray de tinta. E, por outro lado, os cartazes reflectem a vigarice eleitoral permitida por lei: eles são efectivamente publicidade paga, na quase totalidade dos casos não são propriedade dos partidos mas sim de empresas que alugam o seu espaço e os seus serviços de afixação às campanhas. Os cartazes são um negócio, apesar de a compra de publicidade em período eleitoral ser proibida; no entanto essa compra existe, é tolerada e dá o resultado que tem estado à vista. A CNE, como sempre, assobia para o ar e preocupa-se mais a minutar debates do que a perceber que os abstencionistas já não estão a ver TV e só olham para os cartazes quando se transformam em piadola viral na internet. E aí, muito logicamente, desistem mais uma vez de deitar o voto nos cómicos de serviço.

 

SEMANADA - Mais de um terço dos incêndios de Agosto começaram à noite ; na primeira semana do mês houve 1766 incêndios florestais que destruíram nove mil hectares; a GNR já deteve 48 suspeitos de atearem incêndios; foi detido pela população um madeireiro da região de Penacova, acusado de ter ateado seis incêndios em três dias; há 48 mil pessoas por dia a utilizarem as cantinas sociais; o preço dos livros escolares aumentou 10,4% nos últimos quatro anos; a compra de casas aumentou 25% no decurso deste ano; em 2014 produziram-se em Portugal 1,6 milhões de bicicletas, que geraram exportações no valor de 315 milhões de euros; metade do aumento das exportações portuguesas deste ano teve Espanha como destino; as vendas para o mercado angolano encolheram 367 milhões de euros no primeiro semestre; as exportações para fora do espaço europeu subiram 2,3%; as receitas dos museus, monumentos e palácios nacionais aumentaram 60% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período do ano passado; o mês de Julho bateu o recorde de operações no multibanco, com 310 milhões de utilizações, mais 10 milhões que o recorde anterior, de Dezembro passado; segundo a Marktest no primeiro semestre de 2015 mais de 86% dos internautas portugueses acederam a sites de comércio eletrónico; em Junho o crédito às famílias registou o maior aumento desse novembro de 2004; as empresas públicas tiveram nos primeiros três meses do ano o dobro do prejuízo que estava estimado.

 

ARCO DA VELHA - Vitor Tito, que assegurou os polémicos cartazes do PS sobre o desemprego, recebeu da Câmara Municipal de Lisboa 818 mil euros por trabalhos facturados pela sua empresa BBZ em 16 ajustes directos, enquanto António Costa presidiu à autarquia, entre 2008 e 2014. Os trabalhos para Costa, nas eleições do PS e estes de agora, são um apoio pessoal à causa que tanto o ajudou.

 

FOLHEAR - Francis Ford Coppola ganhou fama como realizador, revelou-se um apaixonado produtor de vinhos na Califórnia, mas o que menos gente sabe é que é também o editor de uma revista, “Zoetrope: All-Story”. A revista é publicada quatro vezes por ano e define-se como uma publicação dedicada às letras e à arte. Criada em 1977, na sua essência está a publicação de pequenos contos. A revista tem ganho uma série de prémios relacionados com a publicação de ficções de novos autores, mas também nomes consagrados como Don DeLillo, Margaret Atwood, Salman Rushdie ou David Mamet, entre outros. Além de inéditos, em cada edição é incluída uma republicação, sempre de short-stories que tenham inspirado o argumento de um filme - com o intuito de mostrar a relação entre a narrativa literária e a cinematográfica. Na edição deste Verão, a republicação é de um conto de Julio Cortazar - “The Southern Thruway”, que o autor diz ter sido uma fonte de inspiração para algumas cenas de “Weekend”, de Jean Luc Godard. Cada edição convida um artista contemporâneo para ilustrar e conceber graficamente esse número da revista - como já aconteceu com Zaha Hadid, Julian Schnabel, Laurie Anderson, Helmut Newton, Ed Ruscha ou David Byrne. A edição deste Verão é concebida e ilustrada por Clare Rojas. A revista organiza também um concurso anual de contos, e outro de argumentos cinematográficos, ambos com um júri de notáveis. Detalhes em www.all-story.com .

 

VER - A aviação militar portuguesa está a comemorar o seu centenário - foi entre 1914 e 1916 que se estabeleceram os pilares do seu funcionamento: formação de pilotos, aquisição de material, instalação, etc. A história da aviação militar portuguesa, e em parte também da aviação civil, pode ser vista no Museu do Ar, que funciona junto á Base Aérea nº1, a Granja do Marquês, perto de Sintra, onde a área expositiva foi completamente reformulada em 2011. O Museu do Ar  possui ainda dois  pólos adicionais, um em Alverca aberto ao público desde 1971, e outro em Ovar no Aeródromo de Manobra Nº1. Em 2013 ganhou o prémio de Museu do Ano, atribuído pela Associação Portuguesa de Museologia. Numa área de 3000 m2, no hangar principal, estão expostas, por ordem cronológica, 42 aeronaves. Há ainda salas dedicadas aos Transportes Aéreos Portugueses (TAP), aos aeroportos portugueses e também aos pioneiros da aviação. Alguns dos aviões expostos são raridades museológicas a nível mundial, casos do Ju-52, do Avro Cadet e do Dragon Rapid. Nesta categoria estão também as réplicas à escala 1:1 do Demoiselle, Caudron G3, Farman e do Blériot XII. O Museu do Ar fica localizado na Granja do Marquês, Pêro Pinheiro, Sintra.

 

OUVIR - No dia 7 de Julho de 1990, em Roma, no cenário das Termas de Caracalla,  Jose Carreras, Placido Domingo e Luciano Pavarotti fizeram um recital que ficou histórico, sob a designação de “Os Três Tenores”. A Orquestra do Teatro da Ópera de Roma e a Orquestra do Maggio Musicale Fiorentino foram dirigidas pelo maestro Zubin Mehta. O repertório escolhido pelos três tenores era variado, incluía temas populares  e peças clássicas e algumas das mais emblemáticas interpretações da carreira de cada um deles. O espectáculo de 1990 foi organizado para angariar fundos para uma Fundação criada por Jose Carreras, destinada a apoiar doentes com leucemia, doença que ele próprio tinha vencido há pouco tempo. Até início deste século os Três Tenores juntaram-se em diversas ocasiões, mas nunca mais se repetiu o momento mágico desse 7 de Julho de 1990. Para assinalar os 25 anos do evento a Decca fez agora uma edição especial, limitada, que para além do CD com a gravação integral do recital, inclui um DVD que inclui o registo video do concerto e também um documentário,feito nos bastidores e intitulado “The Impossible Dream”. À venda na FNAC e El Corte Ingles.

 

PROVAR - A Rua da Saúde está para Setúbal como as Docas de Alcântara estão para Lisboa - é uma fiada de bares e restaurantes à beira de água, uns mais a puxar para o típico, outros para o corriqueiro e outros para o inesperado. Este último é o caso do My - Restaurante do Rio. Com o Sado em frente e Tróia à vista o local é magnífico. A decoração é simpática e mais personalizada que é costume. Também tem melhor serviço que é costume na Rua da Saúde e a qualidade é boa, nalguns casos até melhor. Para mim o destaque foi para as ostras, fresquíssimas, absolutamente impecáveis, a 1,50 euros cada uma. O cantaril, também fresco, estava no ponto certo de grelha e foi uma boa surpresa. O couvert incluía pão decente, azeitonas temperadas e uma pasta de atum bem feita. A garrafeira, embora limitada, tem boas escolhas a preços honestos. O destaque vai para o bom ambiente e o bom serviço, cada vez mais um critério diferenciador. Durante a tarde há uma happy hour com tapas e petiscos e, à noite, volta e meia há fados e DJ’s. Para além dos grelhados e do peixe fresco há outras propostas na lista do chefe António Nascimento, como um risotto de açafrão com vieiras, um arroz negro de choco ou açorda de lagosta e gambas

Rua da Saúde 50-52, telef 265 094 151, facebook.com/myfood.pt .

 

DIXIT - “Não me passa pela cabeça deixar de utilizar a estação de Santa Apolónia” - Manuel Queiró, Presidente da CP:

 

GOSTO - Nos últimos três anos a conta de medicamentos suportados pelas famílias reduziu-se em 90 milhões de euros graças às  revisões de preços e aos novos acordos praticados com a indústria farmacêutica.

 

NÃO GOSTO - Do elevado número de vezes que nos últimos anos uma mesma empresa,  sem grande criatividade nem actividade, é escolhida para a elaboração de campanhas publicitárias de apelo à participação eleitoral lançadas pela Comissão Nacional de Eleições.

 

BACK TO BASICS - Quem toma conta da máquina do poder deve sempre lembrar-se que não ficará para sempre a dirigi-la - P. J O’Rourke

 

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publicado às 17:59

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PERPLEXIDADES  - A campanha eleitoral oficial ainda nem começou e já duas coisas me deixam perplexo. A primeira é a obrigação que o PSD pretende estabelecer de obrigar os seus deputados a votarem obedientemente o que o partido mandar em quaisquer circustâncias. Esta imposição é o assumir formal do papel a que progressivamente os parlamentares têm sido reduzidos - a maioria dos deputados, de quaisquer partidos, diga-se, são apenas verbos de encher, ou eventualmente de votar. Se as coisas se passassem assim nos Estados Unidos Lincoln não teria conseguido abolir a escravatura e as cenas de desvio de votos da lógica partidária, bem mostradas em séries como “House of Cards”, não existiriam. A situação de obediência passiva a que pretendem que os deputados se submetam é depreciativa em primeiro lugar para quem neles vota - porque assim o eleitor fica reduzido a eleger seres que aceitam deixar de ter opiniões e convicções próprias. O caso é um exemplo do estado de podridão do regime e dos partidos e do seu desprezo pelos eleitores, de quem se afastam cada vez mais. O segundo tema, tão grave como este, é a forma como o PS - suspeito que perante a alegria de alguns dirigentes do PSD - pretende impedir Paulo Portas de participar nos debates eleitorais na televisão. O argumento é extraordinário, o objectivo é revoltante e a manobra é um exemplo de oportunismo político na sua expressão mais selvagem. Será que é Portas quem Costa mais teme?

 

SEMANADA - Há 383 candidatos para as dez vagas nos serviços de espionagem portugueses; seis dos 15 ministros do Governo ficaram fora das listas da coligação;  o lucro das empresas cotadas do PSI 20 subiu 70% no primeiro semestre do ano; a carga fiscal já representa 60% do preço de venda do litro de gasolina; entre Janeiro e Julho foram vendidos 135.256 carros, mais 28% face a igual período do ano passado; no mês de Julho os portugueses compraram 553 carros por dia; no início de Agosto a circulação de veículos estrangeiros nas auto-estradas portugueses cresceu 16%; nos cinco primeiros dias a nova versão do filme “Pátio das Cantigas” já teve cem mil espectadores; até Junho os portugueses investiram mais de 1,2 mil milhões de euros em PPR’s; várias cantinas escolares decidiram continuar abertas durante o Verão para que as crianças suas alunas possam ter alimentação nas férias; 26% dos alunos do secundário ainda chumbam a matemática; nos últimos anos fecharam 2 mil cursos de ensino superior; segundo dados compilados pela Cision,  na época desportiva de 2014/2015, o futebol gerou 537.462 notícias relativas a equipas portuguesas;  só em televisão foram emitidas 182.846 notícias, que se traduziram em 11.187 horas de emissão dedicadas ao tema; num total de 310 propostas do Governo chegadas à Assembleia da República, o PS votou em 139 a favor e só em 92 contra; Alexis Tsipras afirmou que Varoufakis tem mau gosto para camisas; o Benfica perdeu a Taça Eusébio no México.

 

ARCO DA VELHA - Durante uma entrevista a um jornal, o gato da candidata à Presidência da República pelo partido dos animais (PAN, Pessoas-Animais-Natureza) mostrou-se indiferente à protecção de outros bichos e comeu um pássaro que ela tinha levado para casa.

 

FOLHEAR - Com pena minha nunca fui a Tóquio - mas já li muito sobre esta cidade, que me fascina. Ao folhear a edição de Verão da revista fotográfica Aperture, a 219, precisamente com o título “Tokyo” na capa, fico com a sensação de estar a passear pela cidade, de conhecer a sua vida, mesmo a mais escondida. A Aperture editada em Nova York pela Fundação com o mesmo nome, é um repositório do que melhor se faz em fotografia actualmente. Como diz o editorial “Toquio existe na nossa cabeça não só como uma imagem mas sobretudo como uma ideia”. “Picture Tokyo”, uma selecção de autores que olharam para a cidade, é o ponto de partida desta edição, onde merecem destaque também a fotografia feita para revistas japonesas nas décadas de 60, 70 e 80 e sobretudo a história de Takuma Nakahira, um dos mais importantes nomes da fotografia nipónica. Vários portfolios mostram o lado mais secreto das pessoas da cidade, outros manipulam paisagens. A selecção de fotógrafos e de imagens é fantástica. Esta edição pode ser comprada na Amazon UK por 16 Libras.

 

VER - Ao longo dos últimos anos têm aberto em Lisboa algumas galerias dedicadas à fotografia mas a nova Barbado Art Gallery é a primeira que se assume com uma vocação eminentemente comercial, dirigida a coleccionadores que queiram ter, além da apreciação da obra, alguma garantia da estabilidade e rentabilidade futura do seu investimento. Por isso mesmo o proprietário da galeria, João Barbado, um jurista que abadonou a advocacia para se dedicar a esta actividade, criou ligações com algumas galerias internacionais por forma a que possa expôr nomes que são presença rara em Portugal e que têm uma cotação sólida no mercado de arte. Assim, até 21 de Agosto, pode ainda ser vista a exposição inaugural que inclui obras de nomes como, entre outros, o chinês Ren Hang, o israelita Nadav Kander (que já ganhou um prémio Pictet precisamente com a série sobre o rio Yang Tze, a que pertence uma das fotografias  em exibição), o alemão Boris Eldagsen, o britânico Marcus Lyon que tem uma téncica muito particular de manipulação de imagem,  Steve McCurry - o autor da célebre fotografia da menina afegã que a National Geographic tornou famosa - e que está exposta, e finalmente uma fotografia de Martin Parr, o reputado fotógrafo da agência Magnum, que terá uma exposição a solo na Barbado a 12 de Setembro. O espaço da galeria é bom, João Barbado é apaixonado pelo que decidiu fazer e percebe-se que estudou o tema a fundo. A Barbado Gallery fica na Rua Ferreira Borges 109-A e tem página no Facebook onde estão todas as indicações úteis.

 

OUVIR - Aqui há uns anos, quando ía de férias, levava umas quantas cassettes, com a música que me apetecia ouvir; uns tempos depois passei a levar uns CD’s; e hoje em dia levo um smartphone onde possa aceder aos serviços de streaming - a transmissão de música on line. O mais conhecido é o Spotify, o melhor em termos de qualidade de som é o Tidal e, recentemente, a Apple entrou no jogo com o seu Apple Music. E há ainda o SoundCloud, que é um espaço dedicado a novos músicos. Eu pessoalmente prefiro o Spotify, sobretudo porque é aquele que proporciona uma selecção mais alargada de música nova, permitindo tanto fazer descobertas de novos músicos como estar a par de novidades de nomes já consagrados. O serviço da Apple, por enquanto pelo menos, é menos interessante deste ponto de vista e também pela sua forma de utilização e manuseamento, que é mais complicada. Assim sendo continuo fiel ao Spotify, que ainda por cima agora me sugere regularmente descobertas da semana personalizadas ao que são os meus gostos. Foi o que aconteceu esta semana quando dei com o novo álbum de Buddy Guy, “Born To Play Guitar” - estes blues não são delico-doces e apresentam-se de forma séria. A  playlist de novidades que o Spotify fez para mim e este novo Buddy Guy têm sido as minhas escutas da semana.

 

PROVAR - Estamos numa daquelas épocas em que todos os dias abrem novos restaurantes em Lisboa, provavelmente impulsionados pelo aumento do número de turistas. Uma das novidades é o “La Pasta Fresca”, na Avenida 5 de Outubro. Como o nome indica faz das massas elaboradas todos os dias na sua cozinha. Além de diversos tipos de pastas simples, algumas pouco divulgadas em Portugal,  há também raviolis, cujo recheio vai variando ao longo dos dias. Devo dizer que a confecção das massas, o seu paladar e a sua textura - e já agora o ponto da sua cozedura, estão perfeitos. Também as receitas tradicionais de molhos com que são acompanhadas fazem lembrar, por vezes, os petiscos que o inspector Montalbano vai degustando nas descrições do seu autor, o escritor Andrea Camilleri. Há surpresas como ravioli de salsicha e batata e nas entradas há sugestões como parmigiana de beringelas. Ainda nas massas provei um irresistível caserecce com pesto de cetara, uma receita da costa amalfitana. Fiquei com curiosidade sobre os  machcheroni verdi com brócolos, anchova e salsicha fresca. A lista de vinhos é curta mas tem uma boa selecção de portugueses e algumas propostas italianas como um interessante tinto de Montepulciano, Le Casalte, servido a copo. Na sobremesa experimentou-se uma cassata, importada de Itália, um pouco doce demais para o meu gosto. Como nem tudo são maravilhas devo no entanto dizer que embora o serviço seja esforçado, é insuficiente. São demasiadas mesas para um só empregado de sala sobretudo quando a dona, mesmo nos momentos de maior aflição, parece mais uma peça decorativa atrás do balcão que alguém disposto a garantir uma boa experiência de serviço aos clientes. Qualquer trattoria em Itália evita situações destas. La Pasta Fresca -Avenida 5 de Outubro, 186A, tel.  21 796 0997.

 

DIXIT - “A vida está mais imbecil, as elites são relapsas e incultas, a escola transformou a leitura numa tortura sem sentido. Vêm aí tempos difíceis e colheitas amargas” - Francisco José Viegas, no Correio da Manhã.

 

GOSTO - Da decisão da Secretaria de Estado da Cultura de levantar os entraves burocráticos à exportação de arte contemporânea e de obras de artistas portugueses vivos, o que facilitará a sua divulgação no mercado internacional.

 

NÃO GOSTO - Os alunos do 9.º ano registaram notas médias de 47% a Português, abaixo dos 50% de 2014, e a taxa de reprovação a Português aumentou dos 19% para os 36%.

 

BACK TO BASICS - O nosso destino nunca é um determinado lugar mas sim uma nova maneira de ver as coisas - Henry Miller

 

 

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publicado às 14:00

TELEVISÃO ESTIVAL

por falcao, em 07.08.15

É Verão, temos eleições daqui a menos de dois meses, mas os conteúdos preferidos da TV na semana passada são novelas, transmissões desportivas e análises das transferências da época. Informação política vem muito depois – foi aliás a semana deste ano em que os telejornais das oito registaram piores indicadores. Os canais informativos também registaram fracos resultados quando se concentraram na política. Na ficção “Mar Salgado” continua a liderar, seguido de “A Única Mulher”, “Jardins Proibidos” e “Poderosas”. Nos canais de cabo o programa mais visto foi mais uma vez da TVI24 com “Mais Transferências”, seguido da “Volta a Portugal em Bicicleta” na RTP Informação e de “Play-Off” na SIC Notícias. Os filmes do canal Hollywood e as séries infantis da Disney continuam a ser grandes agregadores de audiências e nas séries o AXN esteve esta semana à frente da Fox.

Aquilo que era um facto incontornável há uns anos atrás – uma dominuição sensível do consumo de televisão durante a época de férias – é actualmente um fenómeno residual que na maior parte do Verão nem tem mesmo expressão significativa. Vamos ver como se comportam os programas de informação quando as campanhas eleitorais começaram a aquecer, daqui a umas duas semanas. Até lá: novelas e filmes enchem o olho dos espectadores.

 

(Publicado na Sexta TV& Lazer do Correio da Manhã de 7 de Agosto)

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publicado às 12:41


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