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PAISAGEM - Quando olho para o que se passa à minha volta fico com a sensação que os loucos tomaram conta do manicómio e o fenómeno varre todos os escalões do sistema. Por exemplo, o Bloco e o PCP, que em Lisboa parecem anjos de Botticelli nas reuniões com o PS,  chegam a Estrasburgo, ao Parlamento Europeu, e apresentam propostas conjuntas de rejeição do tratado orçamental europeu e de apoios à saída do Euro, enquanto aqui continuam a fazer juras à estabilidade com a maior cara de pau. Um dos nossos grandes problemas é que, em geral, os políticos que temos dedicam-se com afinco à nobre arte de desenvolver o espírito de seita, defendendo o interesse das respectivas clientelas partidárias e os seus poderzinhos pessoais, acima de qualquer outra coisa. O sistema partidário português sofre dos vícios do futebol - tem clubismo a mais e racionalidade a menos. Exarceba-se o que divide e evita-se o que une. Não está habituado a conversar e a dialogar, o parlamento reduziu-se a um circo que serve apenas para cada um arengar e atacar as outras bancadas. Na política parece só haver bem e mal, como se fosse uma religião maniqueísta. E, consequentemente, há uns que são pecadores e outros que são devotos cumnpridores. Da nossa paisagem política e partidária está ausente o pensamento sobre o país e exacerbado o ego de cada grupo rival. Nada disto faz sentido e tudo isto nos levará para dificuldades maiores do que aquelas por onde ainda estamos a passar.

 

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SEMANADA - Os juros da dívida pública de Portugal estão a subir em todos os prazos, ao contrário do que se passa com Espanha e Itália; Teixeira dos Santos, ex-Ministro das Finanças de Sócrates, alertou Bruxelas para a estagnação de crescimento da zona Euro; há 700 mil pessoas com contratos a prazo; metade das famílias portuguesas vive com menos de mil euros por mês; o Estado deve 170 milhões de euros de IVA às empresas; 16% das exportações nacionais são asseguradas por cinco empresas; o crescimento das empresas exportadoras recuou 70,7% em 2014; o crédito às famílias, nomeadamente o crédito à habitação, subiu em Setembro, o que já não acontecia desde Abril de 2011; Fernando Medina, Presidente da Câmara de Lisboa, quer que os lisboetas paguem no próximo ano mais 148 euros em taxas e impostos; cada português consome 108 quilos de carne por ano; um terço dos enfermeiros portugueses licenciados em 2013 foi trabalhar para o Reino Unido; no ano passado, houve cerca de 110 mil portugueses que emigraram, o mesmo que em 2013; Portugal é o 8º país do mundo com maior número de idosos (+65 anos) por 100 indivíduos em idade activa (dos 15 aos 64 anos); o acordo do PS com os partidos à sua esquerda continua secreto; António Costa almoçou com Freitas do Amaral na terça-feira passada; Capoulas Santos disse que Cavaco fez mais pela unidade do PS em 24 horas que o próprio PS no último ano.

 

ARCO DA VELHA - A Direcção Geral do Património Cultural abriu novo processo de classificação do Cinema São Jorge porque o anterior, de 1989, se extraviou e não se encontra.

 

FOLHEAR - Só o título já é uma história: “Tinha Tudo Para Correr Mal (memórias de um comunicador acidental)”. No livro Luis Paixão Martins fala da sua vida, da paixão de comunicar desde os bancos do Liceu Camões (onde fomos contemporâneos) até à sua LPM, passando pela escola que foi a Rádio Universidade, a Renascença, as agências de notícias - e aí voltei a cruzar-me com ele. Amigos, cruzámo-nos várias vezes ao longo dos anos, umas vezes por razões profissionais, outras em escritas para que ele me desafiou. E agora, de novo a seu convite, cruzamo-nos no Newsmuseum que nascerá em 2016 por sua iniciativa - e este livro faz parte desse projecto. Na história das agências de comunicação em Portugal há uma época antes do Luis Paixão Martins ter começado a trabalhar no sector e, depois, há uma estratégia e um método de actuação que fazem toda a diferença. Ele é, aliás, o profissional do sector que mais escreveu sobre a actividade que desenvolve, partilhando conhecimentos, relatando experiências, um caso raro no panorama português onde muita gente guarda para si tudo o que pode. Na badana deste “Tinha Tudo para Correr Mal” explica-se que estas são as memórias de um consultor de imagem que aconselhou José Sócrates, Aníbal Cavaco Silva, Ricardo Salgado, Jorge Nuno Pinto da Costa e Isabel dos Santos. Luis Paixão Martins tem um humor cortante e é um contador de histórias. Sabe-se isso da sua actividade profissional, quer como jornalista, quer como consultor de comunicação. E, como este livro mostra, ele é capaz de fazer uma reportagem sobre a sua própria vida sem perder o espírito de observação e humor que o caracteriza.

 

VER - Há livros que além de lidos merecem ser vistos, apalpados, observados, folheados para a frente e para trás, à procura dos pormenores que podem ter escapado. Eu sou um apaixonado pelo design gráfico, pelas maravilhas que se podem fazer me papel impresso. Manuel S. Fonseca, da Guerra e Paz, é um editor atrevido que aposta em obras especiais e é um apaixonado por Fernando Pessoa. No ano passado fez uma edição de “As Flores do Mal”, com capa em madeira gravada a fogo e fotografias de Pedro Norton. Este ano surpreende de novo com a edição de “Minha Mulher, A Solidão”, uma recolha de 47 textos de Pessoa nos seus diversos heterónimos em que a mulher e o amor são centrais - e que leva por subtítulo o delicioso “Conselhos A Casadas, Malcasadas e Algumas Solteiras”.

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Manuel S. Fonseca faz anteceder a selecção dos textos sobre “o casamento, a intriga amorosa e a desregulação sexual”, num prefácio que intitulou “Toda a Volúpia É Mental”. Antes vem um poema de Eugénia de Vasconcellos , “Ele Falava Em Voz Baixa”, e, antes ainda, logo no início, surge a reprodução de uma obra original de Ana Vidigal, uma técnica mista sobre papel.O livro tem capa dura, lombada solta, três tipos de papel da melhor qualidade, mais outro papel de jornal que em seis pequenos cadernos espalhados pela edição, tudo isto mobilizando as artes de três impressoras diferentes - uma delas a fazer o acabamento manual e o encadernamento. O grafismo vem assinado por Ilídio Vasco, que trabalhou com afinco neste projecto com  Manuel S. Fonseca. São 1800 exemplares, numerados, com um preço de venda de 55 euros. É preciso abri-lo, para se perceber a obra que aqui está. É preciso vê-lo para se perceber como esta é uma espécie de exposição ilustrada de uma parte da obra de Fernando Pessoa

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OUVIR - Frederico Santiago, que tem feito um notável trabalho nos arquivos de gravações da Valentim de Carvalho, descobriu o registo de um concerto de homenagem a Filipe Pinto, que aconteceu em 28 de Novembro de 1962 no Teatro Tivoli em Lisboa. Filipe Pinto foi fadista, mas foi sobretudo um “mestre de cerimónias do meio fadista”, um animador de vários retiros onde o fado era rei, compositor ocasional, amigo de uma geração única de intérpretes e, diz-se o autor da célebre frase “silêncio, que se vai cantar o fado”. O registo, agora editado em CD, recupera esse concerto de 1962, que se diz ter sido organizado pela própria Amália Rodrigues, sua grande amiga. Por aqui passam as vozes de Fernando Farinha, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, de Rogério Paulo, do próprio Filipe Pinto e de um mini-recital de Amália com oito interpretações suas, desde o clássico “Estranha Forma de Vida” até “Maria Lisboa”. O registo capta o ambiente de festa e amizade que marcou a homenagem e é um documento único para se compreender como era o fado então, em Lisboa.

 

PROVAR -  A Casa de Chá da Boa Nova foi construída entre 1958 e 1963 em Leça da Palmeira, sobre os rochedos, a dois metros do mar. O local foi escolhido por Fernando Távora, que havia ganho o concurso de arquitectura e o projecto foi de Siza Vieira, no início da sua carreira de arquitecto. Depois de anos ao abandono, o chef Rui Paula, que fez fama no DOP, do Douro, recuperou este espaço e inaugurou-o no Verão de 2014. Aqui beneficia da proximidade da lota de Matosinhos e faz uma aposta no peixe e no marisco. Há três menus degustação - o Mar e Terra, o Atlântico e o Boa Nova (mais pequeno) e além disso há três propostas fixas na lista - o arroz caldoso de peixe e lavagante da nossa costa, cataplana de peixe e marisco, e robalo ao sal, todos para duas pessoas e ao preço de 80 euros. Como não sou muito fã de menus degustação, optei pelo arroz caldoso de lavagante e peixe e não nos arrependemos. Simplesmente perfeito. Claro que enquanto não chega o arroz há pequenas entradas, ofertas do chef e um couvert delicado, tudo a fazer as vezes de uma mini degustação. O local é magnífico, a cozinha é superior, a qualidade dos ingredientes é excepcional e o serviço é exemplar. O vinho escolhido para acompanhar foi um Soalheiro que se portou muito bem. Fecha ao Domingo todo o dia e segunda ao almoço.  Fica em Leça da Palmeira, na Avenida da Liberdade, junto ao farol, e tem o telefone 229 940 066.


DIXIT - “Não há liberdade de expressão sem expressão da liberdade”  - Carlos Magno, Presidente da ERC, no Facebook, fotografado ao lado de um cartaz do Correio da Manhã.

 

GOSTO - O Museu Nacional de Arte Antiga lançou uma campanha para obter através de doações os 600 mil euros necessários para que “A Adoração dos Magos”, de Domingos Sequeira, não seja vendida para o estrangeiro e fique naquele museu.

 

NÃO GOSTO - A pedido de Sócrates, através dos seus advogados, a juíza Florbela Moreira Lança proibiu o Correio da Manhã e as outras publicações da Cofina de publicarem informações sobre a investigação da Operação Marquês.

 

BACK TO BASICS - “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Tudo o resto é publicidade” - George Orwell.

 

 

 

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publicado às 12:30

GOLPE - Em futebol, chama-se, à manobra de Costa, querer ganhar o jogo na secretaria. Trata-se de um género de actividade que não fica bem a quem é desportista. É boa para batoteiros e anda ao mesmo nível de quem compra árbitros. O futebol, que há muito deixou de ser um desporto e passou a ser um mero palco de negociatas, vive disso - logo a começar nos clubes, passando por quem facilita o apito nos jogos, e também pelos agentes e pelas direcções dos organismos que, em vez de o regularem, apenas o manobram. É este espírito de golpaça que foi introduzido na política portuguesa. Quem achava que já tinha visto tudo, pode desenganar-se. Nos tempos de Sampaio a coisa fazia-se manobrando o árbitro do regime, como se viu quando esperou que o PS estivesse a postos, para apenas depois convocar eleições e levar Sócrates ao altar, com os danos colaterais que se conhecem. Agradeçam pois a esse santo milagreiro. Agora faz-se mesmo, mas na secretaria. Os campeões de secretaria correm pouco quando o jogo é a sério, claudicam, e vivem de expedientes. Não é um golpe de Estado, mas é um golpe. O golpe do Costa. O futuro não é risonho.

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SEMANADA - As queixas de violência no namoro superam as do casamento; este ano registam-se, por hora,  três queixas de violência doméstica; a PJ deteve 190 suspeitos de violarem crianças num ano;  a GNR já recebe queixas através do messenger do facebook; o filme “Regresso ao Futuro II” fez 30 anos; a primeira bébé proveta, Louise Brown, já tem 37 anos; o número de escolas públicas caíu para metade desde 2000 e só no ano passado foram encerradas 535; o Ministério da Educação deve 6 milhões de euros a alunos do Ensino Superior relativos a 2400 bolsas de mérito; os salários de magistrados e políticos foram os que mais subiram desde 2011; médicos, enfermeiros, conservadores e notários foram os que mais perderam; 2015 é o melhor ano de vendas da Porsche em Portugal; o número de falsos recibos verdes aumentou 200%; em Setembro foi ultrapassada pela primeira vez a marca dos 20 mil milhões de euros investidos em certificados de aforro e tesouro; a Câmara de Lisboa não teve ofertas para a primeira tentativa de venda dos terrenos da Feira Popular, que deixou de funcionar há 12 anos; Paulo Portas ofereceu o seu lugar no Governo a António Costa; Marcelo Rebelo de Sousa desafiou Ferreira Fernandes a escrever um novo folhetim sobre eleições, desta vez sobre as próximas Presidenciais; Mário Soares afirmou que a situação do país “é uma confusão efetiva que tem que ser resolvida”; José Sócrates inicia um road-show este sábado em Vila Velha de Rodão com uma conferência sobre justiça e política.

 

ARCO DA VELHA -  Fabricar uma moeda de um cêntimo custa 1,65 cêntimos e  produzir uma de dois cêntimos custa 1,94 cêntimos - o Banco de Portugal não pensa deixar de as fazer, ao contrário de sete países europeus.

 

FOLHEAR - Gosto confessadamente de policiais. Olho para as histórias que eles contam com especial interesse. Encaro-os como um desafio, uma espécie de jogo de adivinhas. Fernando Sobral, que escreve diariamente neste jornal, é um dos autores portugueses que nos últimos anos se tem dedicado ao tema. Tem a particularidade de colocar o seu herói e as suas histórias nas memórias de um Portugal que já não existe. Damasceno Alves, o herói que desenha nas suas palavras, já passou por Macau e, na nova história, agora publicada, “As Jóias de Goa”, vive os derradeiros tempos da presença portuguesa na Índia. É um livro fascinante sobre essa terra que se fez mito, sobre o que foi parte da nossa presença. Fernando Sobral coloca os personagens dos seus livros a reflectirem sobre o momento em que a acção decorre - e essas reflexões parecem muitas vezes estranhamento actuais. Não vou contar o fim, mas recomendo que o leiam todo, com o mesmo prazer que ele me deu. Edição Parsifal

 

Outras leituras - “Vamos Ao Que Interessa” é uma recolha de crónicas escritas ao longo do tempo, entre 2008 e 2015, por João Pereira Coutinho para a Folha de S. Paulo - com observação certeira, humor fino e uma perspectiva que a distância entre o lugar da publicação e o lugar da acção estimula. João Pereira Coutinho é um bom cronista dos tempos que vivemos e se o mundo fôr justo a História far-se-à um dia recordando aquilo que escreveu. Edição D.Quixote.

 

VER - Os smartphones tornaram o modo fotográfico de ver uma coisa natural no dia a dia. De certa maneira, perdoem-me os puristas, o iPhone 6 está para as máquinas fotográficas como as primeiras Leicas de 35 mm estiveram para os aparelhos fotográficos pesadões da época. Registar o que se vê - e mostrar como todos os olhares sobre uma mesma coisa podem ser tão diferentes - é hoje muito acessível. Na realidade há um enorme e crescente número de pessoas que anda com uma máquina fotográfica no bolso, e que cada vez mais a vai usando em situações onde antes não lhes passaria pela cabeça fotografar. Há uns anos o New York Times produziu uma edição inteira apenas com fotografias feitas com iPhones. O sucesso do Instagram é a prova da total democratização da imagem fotográfica, a um ponto que nem Susan Sontag imaginou quando escreveu o seu “Ensaio Sobre Fotografia” em 1977. Alexandra Calapez, que passou uma vida a ensinar  ciências e biologia, tem, por isso, um olhar quase microscópico sobre o mundo que a rodeia, uma visão de observador de experiências e de descobridora de acasos da natureza. Há uns meses decidiu começar a ver com o seu iPhone e uma selecção das fotografias que tem feito, com o título “ping_pang_pong” está até 31 de Dezembro na Galeria do Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada. É muito interessante poder perceber assim o que as pessoas vêem em seu redor.

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OUVIR - A capa deste disco pode enganar - alguém pode pensar que se trata de um best of de árias célebres. Mas não, trata-se de uma recolha cuidada de canções, originalmente para voz e piano, e aqui interpretadas com versão orquestral. Rolando Villazón escolheu um repertório pouco conhecido mas importante do bel canto,  e optou pela orquestra do Maggio Musicale Fiorentino, dirigida por Marco Armiliato Há canções de Vincenzo Bellini, da fase inciial da carreira de Giuseppe Verdi e outras, mais interessantes, de Gaetano Donizetti e, sobretudo de Gidachinno Rossini. O destaque vai para o dueto final, “Tirana por deux voix (les Amants de Seville)”, em que Rolando Villazón faz um dueto arrebatador com Cecilia Bartoli.  CD Deutsche Grammophon, disponível em Portugal.

 

PROVAR - Já lá vai o tempo dos chop suey como petisco único nos restaurantes chineses. Agora as coisas evoluíram felizmente e a oferta começa a ser maior. Na Rua D. João V, às Amoreiras, abriu recentemente um novo Yum Cha Garden, continuador do estabelecimento do mesmo nome que há uns tempos existe em Oeiras. A casa ganhou fama pelos seus dim sum e pela confecção de pratos pouco vistos por cá, como a sopa de porco no forno. Numa recente visita fiquei bem impressionado com uns dim sum de gambas e, mais ainda, com uns raviolis de tubarão, perfeitos no tempero.. Aqui pratica-se a cozinha ao vapor e os sabores resultam mais puros. Uma vieiras salteadas acompanhadas de aipo ao vapor são bem um exemplo disso mesmo e foram muito apreciadas. Há uma selecção suficiente de vinhos portugueses e cerveja e coca cola chinesas. A terminar veio um bolo de chocolate em bola, recheado de gelado de chá verde, que foi um final perfeito.  Mesas amplas, serviço impecável, preço honesto. Yum Cha Garden, Rua D. João V nº31, tel. 211 350 006, aberto todos os dias.

 

DIXIT - “Ontem à noite não resisti ligar a TV nos vários canais, à hora em que normalmente eu comentaria. E pensei, de mim para mim, que grande momento de comentador estou a perder” - Marcelo Rebelo de Sousa, no Festival Internacional de Literatura, de Óbidos.

 

GOSTO - Da ideia de colocar peças gigantes da cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro nas ruas das Caldas da Rainha.

 

NÃO GOSTO - Os portugueses são os europeus que mais utilizam o telemóvel enquanto conduzem  - revela um estudo da Organização Mundial de Saúde

 

BACK TO BASICS - “Os factos são sonoros. O que importa são os silêncios por trás deles” - Clarice Lispector

 

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publicado às 12:51

ESTAMOS TODOS NUM TÚNEL ESCURO

por falcao, em 16.10.15

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 TÍTULOS: “Vem aí a frente popular?” - Manuel Villaverde Cabral no Observador, 19 de Setembro;  “Namoro entre PS, PCP e Bloco deixa Coligação assustada” - i, sexta-feira ; “Santana Lopes quer que o Presidente da República trave já António Costa” - DN, Sábado; “Acordo à esquerda divide PS de Costa” - Correio da Manhã, Domingo; “PS e BE negoceiam hoje Governo apoiado pela esquerda” - Público, segunda-feira; “Forças à Esquerda do PS não dão garantias de estabilidade” - Carlos Silva, Secretário Geral da UGT,  “Diário Económico”, segunda-feira); “Costa tenta convencer Cavaco a aceitar Governo de Esquerda” - i, terça-feira; “Eleitores do PS não votaram para um governo com PCP e Bloco” - Durão Barroso, Diário Económico, terça-feira; “Coligação envia mais de 20 propostas ao PS e ainda confia num acordo” - Público,  terça-feira; Propostas de Passos a Costa custam €1309 milhões em quatro anos. Coligação disposta a aceitar todas as condições de Costa - Expresso Diário,  terça-feira; “Costa assusta investidores” - Negócios,  terça-feira;  “Esquerda Unida - PS tenta acalmar UE e investidores” - Observador,  quarta-feira; “Ora aí está ela, a esquerda unida” - Manuel Villaverde Cabral, Observador, terça-feira; “Sem acordo à esquerda ou à direita, PS deixa passar governo de coligação” - Público , quarta-feira; “Costa prepara Europa para governo de esquerda” - Diário de Notícias, quarta-feira; “Impasse agrava tensão política - Costa classificou de insuficiente a proposta de Passos e Portas” - Negócios,  quarta-feira; “Passos bate com a porta a Costa” - Correio da Manhã, quinta-feira.

 

SEMANADA -  O mercado dos livros escolares movimenta entre 120 e 200 milhões de euros por ano; as alheiras de Mirandela movimentam 30 milhões de euros por ano, só no concelho de Mirandela; Portugal é o país da Europa que menos investe nos idosos, só 0,1% do PIB; só 23% das pessoas com mais de 65 anos utilizam a internet; um relatório da OCDE mostra que o país perdeu qualidade de vida entre 2009 e 2015; os hospitais fazem duas vezes mais urgências do que primeiras consultas; trinta pessoas foram infectadas nos últimos dois meses por uma bactéria , no Hospital de Vila Nova de Gaia, oito acabaram por morrer e há 13 ainda internados; mais de 110 mil pessoas emigraram em 2014; em Portugal as pequenas e médias empresas registaram mais crescimento em 2014 do que as grandes empresas; 51 mil portugueses têm património superior a 900.000 euros; Maria de Belém apresentou a sua candidatura com uma imagem gráfica copiada da campanha de Obama; “Podem contar comigo para tudo no PS” - disse Francisco Assis em entrevista à  RTP3; um terço das empresas municipais ainda tem prejuízo e há 17 que têm de fechar as porta devido à sua situação financeira; a receita do IMI subiu o dobro do que estava previsto; a Câmara Municipal de Lisboa pretende criar uma taxa de protecção civil; mais de um quinto das câmaras municipais empola receitas para gastar mais.

 

ARCO DA VELHA - O MRPP quer suspender Garcia Pereira sob a acusação de “incompetência e anticomunismo primário”.

 

FOLHEAR - A”Monocle” leva oito anos de vida e está agora a entrar na fase de amadurecimento do seu projecto. Desde quase o início tornou-se claro que Tyler Brilé, o fundador da revista, queria criar uma comunidade, baseada em alguns valores, como a qualidade de vida, a cuidada recuperação das cidades, o comércio tradicional, a produção artesanal, bons transportes públicos e o empreendedorismo numa combinação de criatividade com tradição. Com uma fórmula editorial baseada na revelação de descobertas à comunidade de leitores, na elaboração de listas exemplares em diversas áreas (de cidades a aeroportos, passando por hotéis) e numa selecção cuidada de locais a visitares em diversos países, a “Monocle” afirmou-se. Combinando artigos longos e reportagens com notas breves e conselhos, a revista cria o desejo de conhecer locais de que fala.  O número de Outubro é a edição anual dedicada a bons exemplos de comércio e Lisboa lá figura com o renascimento da Rua do Poço dos Negros, de que provavelmente muitos lisboetas ainda nem se aperceberam. Ao mesmo tempo que partilha os seus segredos na edição impressa, a Monocle tem uma radio em streaming - Monocle 24 - e no seu site há uma área de filmes com bastantes mini-documentários sobre diversos temas, a maioria com uma qualidade de edição exemplar - que sugere o embrião de uma estação de televisão dedicada à mesma comunidade. Além de lojas Monocle em diversos países, em Londres abriu agora um conceito que promete exportar e que combina um café sofisticado com um escaparate das melhores revistas que se editam pelo mundo, o Kioskafé (31 Norfolk Place). Por último, há pouco tempo, iniciou a newsletter diária  “Monocle Minute” que proporciona uma selecção de temas fora do mainstream noticioso, mas com assuntos muito interessantes - e que é um exemplo de capacidade editorial no digital. Tudo isto cria um ecosistema “Monocle”, que permite à comunidade ter diversos pontos de contacto e manter a fidelidade à marca.

 

VER - Hoje proponho-vos uma visita a um site absolutamente espantoso pelo trabalho de recolha e organização de duas colecções fotográficas  incontornáveis na história da fotografia e na documentação de períodos cruciais dos Estados Unidos da América. Sugiro que busquem e que visitem Photogrammar, uma plataforma digital que agrupa 170.000 fotografias feitas entre 1935 e 1945 para a United States Farm Security Administration e para o Office of War Information, agora depositadas na Library Of Congress. Se o primeiro foi um projecto exemplar que visava documentar o que era a vida no interior dos Estados Unidos, nas zonas rurais, durante a época da Grande Depressão, o segundo recolhia o trabalho dos grandes fotojornalistas e de militares que registaram as imagens da II Grande Guerra. Para a Farm Security Administration trabalharam nomes incontornáveis da fotografia, que deixaram a sua marca em revistas como a Life. O site tem uma organização absolutamente extraordinária e explorar todas as suas potencialistas e informação é verdadeiramente um prazer para quem gosta de fotografia documental. Aqui fica uma fotografia de Dorothea Lange, no Novo México, em 1935.

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 Outras sugestões - “Afinidades Electivas, Julião Sarmento Coleccionador”, na Fundação EDP e na Fundação Carmona e Costa. No Atelier Museu Julio Pomar, “Desenhar - Julio Pomar e Rui Chafes” (Rua do Vale 7). Na Miguel Justino Contemporary Art - “Les Voyeurs”, de Mário Ritta, Rua Rodrigues Sampaio 31, 1º Esq.

 

OUVIR - Há muito tempo que um disco não me dava tanto gôzo como “Music Complete”, dos New Order, o seu primeiro álbum de originais desde há dez anos, que agora anda em repeat no carro, em casa, no iPhone. É o primeiro sem o baixista Peter Hook, que fez muito do som do grupo, aqui bem substituído por Tom Chapman. Na produção há algumas incursões de Tom Rowlands, dos Chemical Brothers, e Bernard Sumner , a alma dos New Order, recuperou o teclista Gillian Gilbert para refazer o som da banda, o que fez com sucesso. É impressionante como ao fim de 30 anos de actividade os New Order conseguem continuar a fazer alguma da mais entusiasmante música de dança, com palavras do mais puro pop - “I want a nice car / A girlfriend who’s as pretty as a star” -  isto conjugado com ritmos que fazem dançar e com surpresas que vão da presença de Iggy Pop num tema de spoken word (“Stray Dog”) a Elly Jackson, das La Roux, em três faixas, entre as quais a  irresistível “Tutti Frutti”. Mas o grande momento do disco é “Plastic”, uma faixa de quase sete minutos que é um manual perfeito de música para pistas de dança. A faixa inicial, “Restless”, e a final, “Superheated” (esta com uma participação de Brandon Flowers dos The Killers), são material do melhor que Sumner tem feito. Um disco incontornável, que eu vou consumindo no Spotify. A capa, claro, é de Peter Saville.

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PROVAR -  Estamos em plena época de dois frutos do Outono de que gosto particularmente: marmelos e romãs. Para além da tradicional marmelada, a geleia de marmelo com nozes e o marmelo aos quartos, cozido ou assado, enaltecem as potencialidades deste fruto. Mas o petisco de que mais gosto é de um queijo bem curado, duro, Serpa de preferência, acompanhado com marmelada fresca feita há poucos dias - como por exemplo a que se vende na loja Afinidades, na Quinta do Anjo, em Palmela. Se este petisco for acompanhado por um Moscatel Roxo da Casa Horácio Simões, que se encontra na mesma loja, então alcança-se facilmente um estado de grande satisfação. Quanto às romãs, que ainda por cima provêem de uma árvore lindíssima e têm propriedades anti-oxidantes, experimentem misturá-las com uma mousse de chocolate de facto caseira, espessa e escura. O que sobrar das romãs, se sobrar alguma coisa, vai muito bem com o iogurte do pequeno almoço. (Afinidades, Rua João de Deus nº10, Quinta do Anjo, Palmela).

 

DIXIT - O sector da Cultura representa cerca de 1,9% do PIB português e 3,4% do PIB espanhol - Belén Rodrigo, na revista Actualidad - Economia Iberica

 

GOSTO -  De Rui Rio ter desistido de se candidatar à Presidência da República.

 

NÃO GOSTO - Da transformação da política num jogo de poker fechado.

 

BACK TO BASICS - A democracia é a arte e a ciência de governar o circo a partir da jaula dos macacos - H. L. Mencken

 

 





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publicado às 13:30

Onde nos está a ler? Em casa, no escritório, na rua? Em que dispositivo? A probabilidade de estar a ler estas linhas num tablet ou smartphone é grande e o número de pessoas que usam dispositivos móveis não pára de crescer. Este facto só por si provoca mudanças estrturais nas formas de comunicação, da informação à publicidade. A mudança de hábitos e de comportamentos é mais rápida que nunca.

O mais recente relatório da Anacom, relativo ao segundo trimestre de 2015, indica que em Portugal  62,2% dos telefones móveis já são smartphones, o que significa cerca de 5 milhões de smartphones (no mesmo período do ano passado a percentagem era de 46,4% do total). Ainda segundo o mesmo relatório, 51,8% dos acessos domésticos à internet são feitos a partir de dispositivos móveis (smartphones ou tablets). Por outro lado o acesso à internet de banda larga via dispositivos móveis aumentou 30,5% face ao segundo trimestre de 2014 – ou seja, há 5,2 milhões de utilizadores de banda larga móvel. Finalmente no final do segundo trimestre de 2015 a fibra óptica significava já 20,8% do total das subscrições de cabo, um crescimento de 51% em relação ao início de 2014. Estes números espelham bem como estas transformações atingem o mercado português.

Segundo a eMarketer, no próximo ano, a nível global, o investimento em publicidade em dispositivos móveis vai ultrapassar o investimento em publicidade feita em computadores tradicionais. Todas estas transformações levam a uma conclusão: o mobile não é apenas mais um canal, é uma forma de distribuição e utilização de comunicação completamente diferente. Conseguir estabelecer a comunicação com as pessoas certas para determinado produto passa a ser mais fácil. O crescimento da utilização de dispositivos móveis proporciona a captação de mais dados, mais fiáveis e mais utilizáveis.

Ao empresas de media – desde as que distribuem informação às redes sociais – apuram cada vez mais os dados que obtêm dos seus utilizadores. Para as marcas isto proporciona uma maneira completamente diferente de contactar os seus consumidores. Com a sofisticação na utilização dos dados já não é só a quantidade de contactos que se procura, é sobretudo a sua qualidade. Está a passar o tempo em que a medida fundamentar era o número de clicks. A quantidade está a ser substituída pela qualidade e o futuro é de quem conseguir utilizar os dados por forma a estabelecer uma relação comercial directa entre o consumidor e as marcas. Nesta panorama a integração de dados entre  publishers, agências e as marcas é fundamental para alcançar objectivos concretos. Este é o novo desafio e a nova fronteira da comunicação publicitária. Os pontos de contacto entre marcas e consumidores deixaram de ser uma hipótese abstracta e já são em muitos casos certezas efectivas. E, á medida que cada vez maior número de pessoas está on line permanentemente, mais isso é uma verdade.

 (Publicado na Buzzmedia de 13 de Outubro 2015)

 

 

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publicado às 11:34

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PROPAGANDA _ Quando se regulamentaram em Portugal as campanhas eleitorais, há quarenta anos, houve a preocupação de tentar garantir, com base na realidade da paisagem mediática da época, um acesso semelhante de oportunidades para as várias forças concorrentes. Proibíu-se a publicidade comercial e estimulava-se a participação da militância nas campanhas. Havia apenas um canal de televisão e a generalidade da comunicação social estava nas mãos do Estado. Os tempos de antena eram momentos de propaganda disputados e os debates entre todas as forças eram imperativos indiscutíveis. Hoje tudo é diferente - os tempos de antena são quase ignorados e deixaram de ter importância; a militância, salvo casos raros, desapareceu da afixação de cartazes e de acções de campanha; e os debates redundaram no desastre que agora se viu. A legislação eleitoral não se adaptou à evolução dos tempos, desde logo nas obrigações impostas aos orgãos de comunicação social uma vez praticamente desaparecido o Estado do sector, menos se adaptou ao surgimento do universo digital. Qualquer partido pode ter um site, um blog, um canal de televisão próprio on line e presença nas redes sociais por um custo inferior ao de uma série de tempos de antena há 40 anos. Um estudo publicado durante a recente campanha estimava em 8,8 milhões de euros o valor que todos os partidos iriam gastar no decurso das respectivas campanhas eleitorais, desde material de propaganda a comícios, passando por consultores, por estudos de opinião e outdoors. A noção de que as campanhas estão proibidas de ter custos de publicidade tornou-se uma mentira consentida, desde logo nos outdoors, mas também online, com a gestão de redes sociais ou estratégias de utilização de dados. Nas campanhas continua tudo como no início do último quarto do século passado. Ou seja, também aqui, o sistema político vive numa mentira.

 

SEMANADA -  Apesar de existirem cem mil novos eleitores as abstenções voltaram a subir; a coligação PàF venceu as eleições depois de ter estado no Governo quatro anos a praticar uma política de austeridade; o PS não conseguiu nem sequer a maioria relativa, muito menos a absoluta que António Costa pretendia; António Costa perdeu no concelho de Lisboa, onde foi Presidente da Câmara vários anos e de cuja governação se gaba; o Bloco de Esquerda passou a ser a terceira força política mais votada; o Presidente da República mostrou que tem uma enorme falta de jeito para procurar consensos; no PS já começaram os sinais de conspiração interna; António Costa  é contra a partilha de soluções governativas entre as principais forças políticas, “a menos que haja invasão de marcianos” - mas na Europa há Governos de coligação com três ou mais partidos em 13 países que não consta terem sido invadidos por extra-terrestres; o PCP anunciou que irá apresentar uma proposta de rejeição do Programa do Governo da coligação; António Costa na campanha havia dito que votaria contra o Orçamento proposto pelo Governo se a coligação ganhasse; o PCP declarou que viabilizaria um Governo PS; o Livre não teve condições para avançar; as exibições de Joana Amaral Dias não tiveram efeito eleitoral; segundo o Programa de Estabilidade, aprovado este ano, o próximo Governo, seja ele qual fôr, terá de incluir no Orçamento de Estado medidas de austeridade de pelo menos 700 milhões de euros.

 

ARCO DA VELHA - Com a quantidade de cães e gatos que andam pelo Facebook a eleição de um deputado do Pessoas-Animais-Natureza acaba por não ser uma surpresa.

 

VER - Se forem a Madrid não deixem de ver a magnífica exposição de fotografias de Josef Kouldelka, um checoslovaco que fugiu para Paris depois da invasão de Praga pela URSS em 1968 - amplamente documentada na exposição. Em Paris, Koudelka aderiu à agência Magnum e dedicou-se a temas como as migrações ciganas. A exposição (na imagem) está até 29 de Novembro na Fundación Mapfre, mesmo ao pé do Museu Reina Sofia, em Madrid, e traça a carreira de Koudelka, desde os seus tempos a fotografar teatro até às paisagens abrangentes que hoje em dia o inspiram. Ao ver esta mostra pensei como Portugal ainda está fora do roteiro destas grandes exposições internacionais de fotografia. Para além do World Press Photo, das exposições de Sebastião Salgado e de uma ou outra ocasional, o que de melhor se mostra por esse mundo fora passa-nos ao lado - um lugar que no futuro a Fundação EDP bem podia ocupar.

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Outras sugestões - Na Galeria Quadrado Azul, de Lisboa, até 24 de Dezembro, “Make Do”, fotografias de Paulo Nozolino realizadas entre 1974 e 2013, uma selecção que rompe com as mostras mais recentes do artista - Rua Reinaldo Ferreira 20, em Alvalade; Na Casa da América Latina, Avenida 24 de Julho 118 B, Luisa Ferreira apresenta “Quatro Dias e meio. Increíble” - fotografias de uma viagem à Cidade do México.

 

FOLHEAR - A Vanity Fair de Outubro é a edição anual dedicada à lista das personalidades que, na opinião da revista, constituem o “New Establishment”. O líder da lista deste ano é Mark Zuckerberg, que obviamente é a figura da capa da revista e é a personalidade mais jovem que alguma vez liderou a lista. Elon Musk, que era o nº1 do ano passado, está agora na sexta posição e o fundador da Uber, Travis Kalanick ocupa o segundo posto, logo seguido no terceiro lugar por Jeff Bezos da Amazon. O artigo que antecede a lista, “Unicorns And Rain Clouds”, de Nick Bilton, que escreve regularmente  sobre tecnologia para o New York Times, vale a revista só por si, estabelecendo comparações entre esta época de rupturas e saltos digitais com a revolução industrial do século XIX e analisando o que foi a bolha de 1999 e suas eventuais parecenças com a situação actual. Outro artigo que vale a pena ler é sobre o investimento de dois mil milhões de dolares do Facebook na realidade aumentada, numa empresa chamada Oculus Rift, cujo produto, um aparelho que nos permite experimentar viver outras realidades, Zuckerberg aposta que  vai ser o próximo responsável por uma nova transformação na forma como as pessoas se relacionam e comunicam entre si. Por isso comprou a Oculus Rift para ser integrada no ecosistema que o Facebook está a criar. Uma história incontornável.

 

OUVIR - A improvisação está quase sempre no ponto de partida dos discos de Rodrigo Amado - e já vai em 15. Em “This Is Our Language”, o seu novo CD, Amado rodeia-se de músicos notáveis - o saxofonista Joe McPhee, o baixista Kent Kessler e o baterista Chris Cossano. McPhee, que aqui também toca trompete nalguns momentos, além dos diálogos que o seu sax alto proporciona com o sax tenor de Amado, é, aos 75 anos, uma das grandes figuras do jazz de vanguarda. “This is Our Language”, o nome deste CD, parece remeter para “This Is Our Music”, de Ornette Coleman em 1961 - tem o selo da editora Polaca Not Two, foi gravado em estúdio, mas surge na continuidade do concerto realizado pelo quarteto no CCB, em Dezembro de 2012. Rodrigo Amado, que além de músico é também um fotógrafo com obra assinalável, está numa fase particularmente criativa e este disco é uma espécie de manifesto das ideias musicais que professa - a improvisação, o jazz de vanguarda, a tradição de nomes como Coleman ou Albert Ayler, que aqui se faz sentir. Entre as cinco faixas do disco escolho a primeira, “The Primal Word”, a faixa título “This Is Our Language” e a última, “Human Behavior”. São, digo eu, as que mais representam o espírito em que o álbum parece ter sido criado.

 

PROVAR - Ultimamente os novos restaurantes de hamburguers parecem saídos de uma experiência de química nascida na imaginação delirante do professor Pardal. Felizmente no Ground Burger, bem perto do Corte Inglés e da entrada do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, a tradição ainda é o que era. A lista inclui nova hamburguers, que vão do mais simples, só com carne, pickles, cebola, ketchup e mostarda, até ao Chili (obviamente picante) e o Philly, que leva queijo filadelfia. Da lista faz parte uma opção vegetariana e outra para crianças, de tamanho reduzido. Há ainda uma opção Hamburguer do Mês que, essa sim, inclui algumas habilidades. Toda a carne utilizada é de Black Angus, o pão do hamburguer é muito bom,  e os preços vão de 7.50€ até 10.50€, com os acompanhamentos à parte - batatas bem fritas em alho e alecrim, anéis de cebola temperados ou salada. Para beber há uma variedade de milk shakes e cervejas de várias proveniências, incluindo algumas artesanais portuguesas. No caso optei por uma norte-americana Samuel Adams Boston Lager, à pressão, que foi muito bem com o Ground Burguer, receita tradicional que é o emblema da casa. Atenção que, se gosta de carne mal passada, o melhor é mesmo sublinhar o tema - a opção médio-mal não chega. Nas sobremesas há gelados, o café é bom e o serviço é muito acima da média. Fica já dito que neste momento é a minha hamburgueria preferida. A sala é luminosa, confortável e simpática. Avenida António Augusto de Aguiar 148A, telef. 213 717 171.

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DIXIT - “A cada vez menor dimensão do Estado está a retirar ao PS o seu eleitorado natural e a austeridade está a cindir a sociedade entre os que velam pelos seus interesses materiais e os que se radicalizam porque se sentem excluídos e precários” - Fernando Sobral, no Pulo do Gato, aqui no Negócios.

 

GOSTO -  Há mais gente a andar de comboio - nos primeiros oito meses do ano a CP transportou 73,5 milhões de passageiros, mais 2,8% que em igual período do ano passado.

 

NÃO GOSTO - O Benfica oferece prendas aos árbitros no final de cada jogo, incluindo vales para jantares para cada membro da equipa de arbitragem e acompanhante; o Conselho de Arbitragem sabia de tudo e nada disse.

 

BACK TO BASICS - Uma das razões pelas quais as pessoas se afastam da política é porque a verdade é muito raramente o objectivo dos políticos, cuja preocupação é só um bom resultado eleitoral e o poder - Cai Thomas.

 

 

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publicado às 12:32

VOTO OU NÃO VOTO? - VOTO!

por falcao, em 02.10.15

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VOTO - Portugal é um país dado a deixar obras por acabar - das capelas imperfeitas até reformas políticas. Neste Domingo o que está em questão é concluir um percurso ou mudar de rumo - embora não se saiba bem em que direcção. Não encaro isto, para citar um amigo meu, como uma tragédia optimista. Não estou satisfeito com todos os passos do caminho feito, mas não me apetece voltar a uma estrada esburacada, que é aquilo que António Costa me aponta, inspirado talvez pelo estado em que deixou as ruas de Lisboa. Durante meses encarei abster-me - mas decidi que, apesar da desconfiança que tenho na maioria dos políticos e no sistema partidário, não quero contribuir para deixar mais uma obra a meio. Para mim a abstenção é um voto em Costa e não o quero dar. Também eu gostava que os partidos da coligaçãp PàF (que raio de nome) fossem sensíveis aos problemas sociais que uma política de contenção da despesa do Estado provoca. Também teria apreciado que fossem menos seguidistas em relação aos falsificadores de motores. Mas prefiro dar o meu voto a quem já sei ao que vai, do que a alguém que tem o ziguezague como linha política e cuja obra passada não me inspira confiança para o futuro.

 

SEMANADA - A delegação permanente do FMI em Lisboa encerrou esta semana, ao fim de quatro anos; a receita do IMI subiu o dobro do que estava previsto; o partido PAN (Pessoas- Animais-Natureza) defendeu a criação do Estatuto Jurídico do Animal; António Costa prometeu um Ministério da Cultura num almoço com  200 artistas;  Catarina Martins defendeu o voto aos 16 anos; Mário Soares apelou ao voto no PS; Gonçalo da Câmara Pereira, líder do PPM, foi à sede da Antral, garantir o seu apoio aos taxistas na luta contra a Uber; António Costa convidou Maria de Belém para uma arruada no Chiado; “já estou velho para ser ministro” - disse o líder do PDR, Marinho e Pinto; Francisco Van Zeller, ex presidente da CIP, afirmou que uma aliança entre o PS e o PSD é a única solução; Rui Tavares, do Livre, apelou a uma união com o PS, BE e PCP; António Costa respondeu que “está sózinho contra a direita unida”; António Costa disse que, se não vencer as eleições, vota contra o Orçamento de Estado que fôr apresentado pelo novo Governo; Passos Coelho disse que, se perder as eleições, não votará contra o Orçamento de Estado que fôr apresentado pelo novo Governo; “isto é tudo muito bonito, mas as sondagens não votam” - afirmou Passos Coelho; Rui Tavares disse que o Livre é “a única novidade na política portuguesa”; há 23 partidos no boletim de voto destas eleições, o maior número de sempre.

 

ARCO DA VELHA - No meio de umas obras inacabadas da Epal, numa rua de Alvalade, bem perto da Avenida da Igreja, nasceu um tomateiro que já está a dar os primeiros frutos.

 

FOLHEAR - Estamos numa época em que o aumento da penetração do digital coincide com o renascer da edição de revistas em papel, tornadas num produto raro, muito elaborado do ponto de vista editorial, de design e de impressão. Todos os meses descubro publicações que se dedicam a temáticas inesperadas com abordagens editoriais surpreendentes. A Kinfolk é uma revista que se publica desde 2011 nos Estados Unidos, quatro vezes por ano, e que se apresenta como dedicada ao “slow lifestyle”, tendo como alvo jovens criativos e jovens profissionais que procuram sugestões para simplificarem as suas vidas, desenvolverem comunidades e passarem mais tempo com família e amigos. É assim que ela se apresenta no site (www.kinfolk.com) e também no Facebook. Atualmente a Kinfolk, além da edição original norte-americana, tem edições autónomas no Japão, China, Coreia e Rússia. Com correspondentes por todo o mundo, a revista, nas suas várias edições, organiza dezenas de eventos que servem para congregar e desenvolver a sua comunidade de leitores. A edição mais recente, que tem por tema de capa a Família, é um exemplo de criatividade editorial: explora temas como a persistência de actividades criativas em famílias que há muito dão atenção a esta área, sugerindo até a existência de um gene criativo; noutro ponto percorre a importância das recordações e da memória, com base em escritos ou imagens. A isto acrescem o relato de um dia na vida de alguém e uma divertida zona de leituras recomendadas chamada “A Minha Mesa de Cabeceira”. Por falar em mesas um dos artigos engraçados desta edição é sobre as múltiplas utilidades que uma mesa pode ter, além das mais óbvias, que são comer ou trabalhar. Com 160 páginas impressas em bom papel mate, a Kinfolk custa 18 dólares na edição original e chega a Portugal a 22 euros - encontrei-a numa Bertrand.

 

OUVIR - Keith Richards, dos Rolling Stones, 71 anos bem vividos, não editava um disco a solo desde 1992. “Crosseyed Heart”, agora publicado, é uma viagem às suas origens musicais, baseada sobretudo nos blues que o têm inspirado. É um daqueles discos em que se sente que o autor teve um enorme gôzo e fez o que quis, tocou o que lhe apeteceu, como lhe apeteceu. Tem temas acústicos a evocarem o grande bluesman Robert Johnson (como a faixa título “Crosseyed Heart”) e outros onde a  guitarra de Richards se destaca de formas diferentes (“Heartstopper”, “Amnesia” ou “Trouble”), todos  a mostrarem a eficácia com que ele a toca. Há mais momentos incontornáveis - a evocação de Gregory Isaacs em “Love Overdue” ou dos Weavers de “Goodnight Irene”, em ambos os casos com Richards a mostrar como fazer uma versão é conseguir ser fiel, mas fazendo algo diferente. Finalmente, num piscar de olho geracional, Richards e Norah Jones fazem um dueto discreto e sedutor em “Illusion”. Ao lado de Keith Richards, em vez dos outros Stones, estão Steve Jordan, Ivan Neville e Waddy Wachtel. Fica feita a prova de que Richards vive para além da fama que ganhou com os Stones, demonstrada a vivacidade da sua guitarra, e reconhecida a sua devoção aos Blues. CD ouvido no Spotify.

 

VER- A obra de Paulo Brighenti vive da explosão de cores e da maneira como as manchas cromáticas criam formas e desenham ambientes. Brighenti (na imagem junto a duas das obras desta mostra) é um dos artistas plásticos mais interessantes da sua geração e tem vindo a fazer um percurso consistente, evolutivo, mas com pontos de ruptura que mostram a sua busca pela exploração de novos caminhos. “Família”, a exposição que esta semana abriu na Galeria Baginsky, evidencia isso mesmo através da alteração da escala que agora explora, da introdução de formas inesperadas e de uma abordagem diferente da utilização das cores, que tem sido uma das facetas marcantes do seu trabalho. A exposição fica na Baginski até 7 de Novembro (Rua Capitão Leitão 51-53).

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Outra sugestão: “Os artistas do KWY na colecção Manuel de Brito”, uma incursão pelas obras de Lourdes de Castro, René Bertholo, João Vieira, José Escada, Costa Pinheiro e Gonçalo Duarte, o colectivo que editou em Paris doze números da revista KWY e que juntava ainda os nomes de Christo e de Jan Voss. Mas nessa revista foram igualmente divulgadas obras de outros artistas, também representados nesta exposição, como Vieira da Silva, Arpad Szenes, Jorge Martins ou Mimmo Rotella, entre outros. No Palácio Anjos, em Algés até 24 de Março.

 

PROVAR - Chama-se Tabernáculo, foi criado e é dirigido por Hernâni Miguel, um histórico da noite lisboeta. Fazedor de tertúlias, foi ele quem pôs de pé o histórico Tagus, no Bairro Alto, durante uns anos ponto de encontro de uma geração de músicos, jornalistas, artistas. Era o sítio onde sempre se encontrava alguém conhecido e o Hernâni tem a arte de conseguir atrair pessoas, juntá-las e tornar os seus espaços como que uma sala de convívio de bons amigos.

Depois de voltas várias, a última das quais na LX Factory, apresenta agora este Tabernáculo, na Rua de S.Paulo, mesmo ao lado do elevador da Bica. A casa propõe petiscos e copos, está aberta do meio dia às duas da manhã - portanto pode-se ir lá desde o almoço à ceia. Tábuas de queijo e de enchidos (estes assados em lenha de azinho), tapas feitas a partir das já afamadas conservas José (eu acho as de cavala uma especialidade), e daqui a algum tempo petiscos africanos para ir descobrindo outros sabores. A ideia é mesmo petiscar, com a companhia de bons vinhos - a casa estabeleceu um protocolo com a Bacalhoa, que tem lá várias propostas, desde o Serras de Azeitão até ao espumante Loridos. Claro que há outros copos - desde o Gin à cerveja, mas para picar um queijo ou enchido o vinho vem a calhar. O espaço é dentro de uma construção tradicional em abóbodas e arcos e, numa zona lateral, está instalada uma Adega Bacalhoa, a evocar uma antiga taberna, com tonéis à vista. E logo à entrada, do lado direito, está uma das grandes atracções da casa - uma máquina de pinball clássica, da série “Star Wars”. Só por isso já vale a pena lá ir. Rua de S. Paulo 218.

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DIXIT - Estou descontente com o presente mas receio o futuro - Ângela Monteiro, cidadã de 30 anos, indecisa sobre o sentido do seu voto.

 

GOSTO - Da ideia do Museu Nacional de Arte Antiga de expôr reproduções exactas de algumas das suas obras mais emblemáticas nas ruas do Chiado, Principe Real e bairro Alto.

 

NÃO GOSTO - Um quinto dos idosos portugueses está em risco de pobreza

 

BACK TO BASICS - “A melhor competência para um profeta é ter boa memória” - George Saville

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