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DESRESPEITO - O ar que Medina respira vem-lhe soprado pela falta de oposição que tem na Câmara Municipal de Lisboa e pelo desrespeito que mostra para com os habitantes da cidade. Com o PSD desaparecido em parte incerta praticamente desde o início do mandato, se não fosse João Gonçalves Pereira do PP, as tropelias de Salgado & Medina passariam quase incólumes entre os vereadores. Ambos vocacionaram a cidade para ser um albergue em vez de ser vivida pelos seus, As medidas de fundo que tomam são da esfera da maquilhagem e da cirurgia plástica aplicada ao alcatrão. Sistematicamente ignoram o bem estar e os interesses de quem vive no centro da cidade e mostram-se mais preocupados em beneficiar os que vêm de fora, seja por um fim de semana ou todos os dias. Se a oposição, para se mostrar, está à espera que as flores dos canteiros plantados à pressa desabrochem na primavera e iludam os incautos, a coisa não vai correr bem.  A Lisboa de Medina é artificial, asséptica, sem vida nem calor, um lindo jardim para ser passeio de visitantes ocasionais e um inferno para quem cá vive. Quererá Medina que a cidade fique ainda mais desertificada e perca ainda mais habitantes? O destino de uma cidade como Lisboa não pode ser traçado por quem não se preocupa em a deixar viver e gosta mais de compôr cenários do que em resolver problemas.

 

SEMANADA -  O número de turistas chineses a visitar Portugal tem aumentado, registando-se no início deste ano um acréscimo de 44% face ao mesmo período do ano passado; a média das compras efectuadas por cada turista chinês é de 600 euros; em Outubro, 36% das páginas dos sites auditados pela Marktest foram acedidas através de equipamentos móveis e 64% através de PC’s; a dívida dos quatro maiores grupos de mídia portugueses ascende a 470 milhões de euros; a receita das câmaras municipais com taxas e impostos em 2015 alcançou o valor mais alto da última década; Cascais é o município onde os impostos e taxas têm maior peso na receita; a zona do Chiado subiu no ranking das zonas mais caras do Mundo e está agora na 34ª posição de uma lista liderada pela 5ª Avenida, de Nova Iorque; as famílias portugueses viram o prazo de pagamento do subsídio parental aumentar em média para dois meses; a dívida pública portuguesa bateu um novo recorde: em Setembro escalou para 133,1% do PIB, o valor mais alto de sempre; em termos de percentagem do PIB a dívida portuguesa é a quinta mais alta do mundo; António Costa diz que o PS devolveu o país à normalidade no meio de um mundo de incertezas; Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que Portugal soube reencontrar a estabilidade e construir confiança e defendeu a necessidade de um projecto nacional de médio e longo prazo; depois de ver a capa do Expresso on line na madrugada de sábado António Costa fez publicar um twitter a desmentir a manchete do jornal sobre o salário mínimo.

 

ARCO DA VELHA - O PS propôs que os membros de executivos municipais e os presidentes de juntas de freguesia façam parte da lista dos titulares de cargos políticos que não serão punidos caso o dinheiro público seja mal gasto e, para colocar a cereja em cima do bolo, António Costa prometeu mais meios e mais poderes aos autarcas.

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FOLHEAR - O início da década de 80, em Lisboa, foi marcado por uma geração que se tornou adulta depois do 25 de Abril de 1974, que viveu os anos da brasa, que terminou os seus estudos e começou a trabalhar. Esta geração já não tinha tido a experiência da guerra, mas vivera no fim da adolescência o que se chamava de revolução. Fora moldada no desafio às regras e entrou de peito feito numa sociedade que já se abrira e estava a desenvolver-se, com a Europa no horizonte mas livre das suas baias que hoje nos condicionam. A confluência de uma geração com um tempo específico e uma oportunidade gerou uma explosão de criatividade na música, nas artes plásticas, no cinema, na imprensa, na rádio, em toda a comunicação, e, claro, também na economia. Para quem a viveu por dentro a década de oitenta foi a mais espectacular de Lisboa - tudo era possível e muita coisa se fez. Revisitar essa década é um exercício ainda difícil porque vai chocar com as memórias próprias de cada um, por enquanto muito vivas. Joana Stichini Vilela e Pedro Fernandes tinham já feito dois livros, dedicados às décadas de 60 e 70 e agora arriscaram a década de 80. O trabalho de pesquisa continua a ser minucioso, a recolha de depoimentos, factos e imagens permanece exemplar, mas nalgum ponto perdeu-se o distanciamento e sente-se por vezes o condicionamento das influências de quem quer moldar a história, mais do que nos livros anteriores. Com esta ressalva “LX 80 - Lisboa entra numa nova era” é um testemunho de um tempo em que o Chiado ardeu, as Amoreiras nasceram e a cidade começou a ser intensamente vivida pelos seus habitantes - o que hoje é cada vez mais difícil. LX 80 - Edição D. Quixote/Leya.

 

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VER - Pedro Chorão nasceu em 1945, estudou biologia em Inglaterra e começou a interessar-se pela pintura já depois de fazer 20 anos. Nos anos 70 estudou na Escola Superior de Belas Artes e as suas primeiras exposições datam dessa altura. Pela primeira vez é possível descobrir o conjunto da sua obra, graças a duas exposições sob o título genérico “O Que Diz A Pintura, obra entre 1971 e 2016”. No Torreão Nascente  da Cordoaria Nacional está um conjunto de obras a que deu o título de “Corpo a Corpo” e na Fundação Carmona e Costa está outro conjunto de obras sob a designação “A Torto E A Direito”. As duas exposições são complementares e permitem apreciar facetas diferentes da actividade do artista. No vasto espaço da Cordoaria é possível apreciar de forma clara a evolução desde os tempos de estudante de Belas Artes até obras já deste ano e no conjunto permito-me destacar um grupo de trabalhos de 1987, ali titulado “um ensaio fotográfico”, todo ele focado no Alentejo, que Chorão diz ser a região que mais lhe interessa em Portugal “pela simplicidade plástica, tanto na forma como na cor” (na imagem). Na Fundação Carmona e Costa o destaque vai para o trabalho de colagens, marcante numa fase da carreira de Pedro Chorão, e que evidencia como no panorama nacional ele estava à frente do seu tempo. A exposição da Cordoaria é imperdível e fica até 19 de Fevereiro e a da Fundação até 7 de Janeiro.

Outras sugestões: na Galeria Fonseca Macedo, em Ponta Delgada,  Backstage Of An Island, de Miguel Palma. Teresa Gonçalves Lobo mostra no seu atelier do Funchal e em Lisboa, na Galeria das Salgadeiras, “Entre Nós”, uma exposição de desenho, instalação e fotografia a partir da obra de Herberto Hélder. Para terminar a Galeria Vera Cortês mudou de sítio e da 24 de Julho passou para Alvalade,  Rua João Saraiva 16, 1º. A exposição inaugural do novo espaço é “Attempting Exhaustion” de Daniel Blaufuks, até 14 de Janeiro.

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OUVIR - O meu disco da semana é “Legacy”, uma colectânea de David Bowie que em dois CD’s,por ordem cronológica, reúne quatro dezenas de canções que revisitam os melhores momentos da sua carreira discográfica - de “Space Oddity a “Ashes To Ashes”, passando por versões de temas que tiveram convidados tão especiais como os Queen (“Under Pressure”), Pat Metheny (“This Is Not America”), Mick Jagger (“Dancing In The Street”) ou Pet Shop Boys (“Hello Spaceboy”). Destaque igualmente para uma nova mistura de “Life ,On Mars” ou o muitas vezes mal ignorado “Drive-In Saturday”.

Na senda de redescobrir velhos discos, trago a notícia de uma reedição de “The Last Waltz”, um duplo CD que registou o concerto de despedida de The Band, a 25 de Novembro de 1976, em São Francisco, portanto há 40 anos. Entre os convidados estavam Dylan, Clapton, Neil Young, Van Morrison e Joni Mitchell, entre outros. É curioso estas duas edições - a de Bowie e a The Band serem agora lançadas ao mesmo tempo. Trazem-nos de volta a outros tempos, mas servem também para mostrar como há sempre quem faça música que nunca envelhece e que fica uma referência.

 

PROVAR -  Já se sabe que a Mealhada é a zona por excelência do leitão à moda da Bairrada, mas muitas vezes pensa-se que é tudo igual e, na verdade, não é. Seguindo uma recomendação amiga experimentei há pouco “O Rei dos Leitões”, um restaurante amplo que existe desde 1947 mas que há poucos anos foi alvo de remodelações profundas, que o tornaram mais confortável. Se as obras foram de feição a mudar o que dantes existia, na cozinha manteve-se a boa tradição e uma excelente qualidade, que se estende muito para além do leitão e dá cartas em pratos tradicionais como a chanfana ou noutros mais inesperados na região, como excelentes pratos de peixe e de marisco - de bacalhau a Nero dos Açores. Mas o leitão foi o que lá me levou e, pelo que provei, levará mais vezes. Perfeito, temperado como deve ser, assado no ponto, acompanhado de excelentes e frescas batatas fritas e salada bem apresentada. No couvert a manteiga proposta é a Marinhas, uma produção artesanal e de superior qualidade. de Esposende. A rematar um pastel de Tentúgal que foi boa companhia para o café. A lista de vinhos mostra uma garrafeira soberba, para todos os gostos e bolsas, com o Dão bem representado e os frisantes locais bem escolhidos - se quiser algo mais a carta de champagnes e espumantes é também assinalável. Nota final para o conforto das mesas e cadeiras, para a excelente insonorização que permite uma refeição tranquila mesmo com o restaurante cheio e para o serviço atencioso, eficaz e conhecedor. O "Rei dos Leitões" fica no nº17 da Avenida da Restauração, na Mealhada, tem um amplo parque de estacionamento próprio e o telefone é o 231 202 093. Encerra às quartas-feiras.

 

DIXIT -  “Fair Play? Isso para mim não existe, é tudo treta” - Jorge Jesus, treinador do Sporting.

 

GOSTO - Pedro Borges, da Midas Filmes, ganhou com o seu Cinema Ideal o prémio de melhor empreendedor da Associação Europa Cinemas. Esta semana tive o prazer de ir lá ver o magnífico “Ela”, de Paul Verhoeven, com Isabelle Huppert.

 

NÃO GOSTO -  Dos ataques anti semitas verificados em Portugal contra figuras públicas que visitaram Israel.

 

BACK TO BASICS - “Hegel tinha toda a razão quando disse que na História aprendemos que o Homem nunca aprende nada com a História” - George Bernard Shaw

 

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publicado às 13:30

EUROPA: UTOPIA & CONFORMISMO

por falcao, em 18.11.16

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EUROPA - Quando olho para a política portuguesa e para a relação dos seus vários actores com a Europa e o Mundo fico a pensar que tudo se resume a isto: um dos lados gosta de alimentar utopias e é um pouco avesso às realidades, enquanto o outro se apresenta sistematicamente conformista e sobrevaloriza exigências externas. O problema não é de agora - desde a adesão à União Europeia criou-se o mito do aluno exemplar, sempre obediente. Foi assim que enquanto outros países, como a Espanha, foram protelando ou mesmo evitando acabar com o proteccionismo a actividades económicas nacionais, Portugal foi rápido a cumprir ordens, com manifesto prejuízo para a agricultura, a pesca e a indústria. Sabe-se hoje que a França, especialista em proteger a sua agricultura e indústria, violou sistematicamente os compromissos que assumiu, com a complacência de outros estados. Na realidade o que existe é uma Europa a duas velocidades, o que criou em cada um dos Estados membros níveis diferentes de obediência a Bruxelas. O poder da burocracia comunitária é sempre rápido a querer mais dos cumpridores e tolerante para com os prevaricadores. Quando as coisas funcionam assim o resultado não pode ser bom. Está à vista de todos a fraqueza da Europa nos dias que correm.                         

 

SEMANADA - Este ano o emprego precário na administração pública aumentou 9,6%; a economia portuguesa cresceu 1,6% no terceiro trimestre deste ano e o turismo teve um peso relevante nesse crescimento; a concessão de crédito ao consumo voltou a aumentar em setembro, atingindo 514 milhões de euros, o valor mensal mais elevado desde 2013; um estudo recente revela que metade dos portugueses consideram a corrupção um dos maiores problemas do país; o fisco deu ordens para acelerar a cobrança de impostos em falta; devido aos impostos a gasolina portuguesa é a sexta mais cara da Europa; os depósitos acima dos 100 mil euros caíram 3400 milhões de euros nos últimos 12 meses; o custo dos cartões multibanco disparou 30% num ano; está prevista a abertura de mais trinta hotéis em Portugal durante 2017; as autoridades policiais portuguesas registam 26 queixas por dia de burlas na internet; as burlas informáticas quadriplicaram nos últimos cinco anos; há 150 mil pessoas com deficiência auditiva profunda que têm dificuldades no acesso a serviços públicos; segundo a marktest 76,8% dos lares portugueses subscrevem serviços em pacote de telefone, internet e televisão.

 

ARCO DA VELHA - Uma exposição sobre o quotidiano de Lisboa no século XVI, “A Cidade Global”, prevista para o Museu Nacional de Arte Antiga, foi inesperadamente adiada para o próximo ano e coleccionadores que iam emprestar obras dizem que a explicação que lhes foi dada sobre o adiamento é a falta de dinheiro para pagar o transporte e seguros das peças.

 

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FOLHEAR - As primeiras 53 páginas da revista que tenho nas mãos são dedicadas a uma reportagem sobre a vida dos ciganos no Alentejo.  A revista chama-se “Berlin Quarterly” e tem por subtítulo “ European Review Of Culture”. Este é a sua quinta edição. “Berlin Quarterly” é mais  um dos exemplos da nova imprensa de nicho que aposta na preservação do papel como meio privilegiado para a publicação de reportagens e ensaios. “Across Those Hills” é o título da reportagem sobre os ciganos alentejanos, com texto de Tiago Carrasco e fotografia de  Daniel Costa Neves, que têm aqui um espaço editorial que em Portugal dificilmente obteriam. A revista é feita a partir de colaborações de diversas nacionalidades e que retratam realidades bem diversas dentro do espaço europeu . seja lá isso o que fôr. Inclui reportagens, ensaios escritos e fotográficos, poesia e ficção - como por exemplo a proposta de Matilde Campilho, intitulada “Jockey”. Os textos são publicados em inglês e no idioma original. Com um total de 250 páginas, cada autor tem espaço para publicar como entende. Este é um conceito muito curioso, podem saber mais em berlinquarterly.com . Um dos artigos mais interessantes é uma entrevista com Trevor Panglen na qual ele explica como as máquinas estão actualmente a captar imagens que outras máquinas vão ler e interpretar, removendo o ser humano da intermediação da observação da realidade.

 

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VER - No fim de semana passado rumei a S. João da Madeira para a Oliva Creative Factory, um espaço que ocupa as antigas instalações industriais da Oliva - que no pós guerra do século XX fabricou de máquinas de costura a banheiras, no tempo em que havia indústria e se compravam produtos portugueses. Ali, por obra do município local, nasceu um espaço que acolhe diversas artes e algum comércio da área do design e do artesanato contemporâneo. A Oliva Creative Factory tem vários espaços e acolheu, por exemplo, a colecção de Treger/Saint Silvestre, um casal de franceses que escolheram o local para depositarem o seu acervo, com  núcleos de arte bruta, artes marginais e arte contemporânea e ainda núcleos de vocação etnográfica, num conjunto de dimensão importante a nível internacional.  Mas o que ali me levou foi uma instalação de José Barrias, um artista plástico português que vive em Milão há décadas, e que deu um novo sentido à antiga sala dos fornos, induzindo na arquitectura industrial arruinada a componente majestática de uma catedral imaginada, usando as cores como símbolos, num exercício de transfiguração do espaço e do tempo. Rumando mais a norte, ao Porto,  fui ver o que Pedro Calapez levou à Galeria Fernando Santos, um dos espaços de referência da Rua Miguel Bombarda. Calapez apresenta obras novas (na imagem), sob o título genérico “Configurações”, introduzindo peças que exploram várias dimensões e perspectivas, com planos diferenciados,  e que, pontualmente, revelam a reintrodução do desenho na sua pintura com algumas técnicas novas em relação à sua produção mais recente. Não certamente por acaso as derradeiras  salas da Galeria são dedicadas a desenhos seus de grandes dimensões, imponentes e marcantes. É impossível não pensar que, até na forma como a exposição está montada, Calapez evoca o triunfo do desenho nesta sua nova exposição que ficará patente na Rua Miguel Bombarda 526 até 7 de Janeiro.

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OUVIR - Deixei de gostar dos Pinkfloyd em 1973, quando foi publicado “Dark Side Of The Moon”. Já não tinha gostado muito de “Atom Heart Mother” e decididamente os meus preferidos são os discos gravados entre 1967 e 1972. Em vésperas de se assinalarem 50 anos sobre o primeiro disco do grupo, “The Piper At The Gates Of Dawn”, foi editada uma belíssima colectânea intitulada “Pink Floyd, The Early Years, 1967 - 1972, Cre/ation”. “Arnold Layne” e “See Emily Play” são as duas primeiras canções deste duplo CD, e são os dois primeiros singles da banda. “Ummagumma”, de 1969, é o álbum de que eu gosto mais - e ainda conservo a edição original em vinyl e uma posterior em CD. A presente colectânea tem 27 temas que representam na realidade a quase totalidade dos momentos altos dos Pink Floyd na fase inicial da sua carreira. Inclui gravações originais, mas também registos ao vivo (como uma aceitável versão de “Atom Heart Mother” gravada em 1970 em Montreux) e até remixes contemporâneas. “Obscured By Clouds”, de 1972, foi o último álbum da banda que verdadeiramente apreciei. Em 1970 compuseram alguns temas para “Zabriskie Point”, de Michaelangelo Antonioni, e aqui eles surgem em remisturas. Depois da desilusão que tive com “Dark Side Of The Moon” deixei praticamente de os ouvir e centrei-me, quando necessário, em “Ummagumma”. Quem quiser ouvir ainda mais tem disponível, em vez deste duplo CD, uma caixa de 27 discos, com o mesmo nome, que recolhe toda a carreira da banda nos cinco anos entre 1967 e 1972. Distribuído em Portugal pela Warner.

 

PROVAR - No lugar onde dantes existia uma oficina que recuperava automóveis antigos está desde Setembro um dos restaurantes mais vibrantes do Porto. Chama-se, claro está, “Oficina” e é uma iniciativa do galerista Fernando Santos que, na mesma rua e um pouco mais acima, tem a sua Galeria. O Oficina desenvolve-se em dois pisos, com o superior a acolher frequentemente a mesa do Chef, mas também as tertúlias que Fernando Santos promove  e que darão direito a um livro que pretende ter edição anual. O próprio restaurante tem o prazer de mostrar arte, logo a começar por uma instalação de luz que Pedro Cabrita Reis criou para a empena do prédio que dá para o terraço que ladeia o piso superior. Há um cuidado assinalável na decoração, desde as mesas ao conforto das cadeiras e às peças de arte que irão rodando em sintonia com o acervo da Galeria. O responsável pela cozinha é o chef Marco Gomes, um transmontano que criou e fez nome no Foz Velha, um bom intérprete de versões de pratos inspirados na gastronomia tradicional portuguesa. Numa recente visita destacou-se a vitela mendinha, os medalhões de  lombo maturado, a açorda de perdiz, o polvo grelhado com arroz do mesmo e um robalo ao vapor sobre risotto de lima e hortelã. O couvert inclui uma bola transmontana miniatura que é por si só um programa e a carta de sobremesas é tentadora. Desde há dias o restaurante abre ao almoço com uma proposta de menu executivo e ao jantar é mesmo melhor reservar. A garrafeira tem boa escolha, o serviço precisa de rodar mais, mas a experiência é muito positiva. Oficina, Rua Miguel Bombarda 273, Porto, telefone 220 165 807 ou reservas@oficinaporto.com

 

DIXIT -  “Gosto dos números, mas fico preocupado porque vejo que são sustentados no turismo e isso é um risco” - João Duque, sobre o crescimento da economia portuguesa.

 

GOSTO - Do trabalho que Marco Martins fez com o texto de Jean Genet, “As Criadas”, no D. Maria II. Boas interpretações de Luísa Cruz, Beatriz Batarda e, sobretudo, Sara Carinhas. Até 18 de Dezembro

 

NÃO GOSTO -  Das demoras da justiça nos casos em que o Fisco abusa dos cidadãos e da forma como o abuso de poder do Estado é protegido - e nenhum dos partidos do arco da governação se preocupa com o assunto.

 

BACK TO BASICS - “O desporto não constrói o carácter das pessoas; apenas o revela” - Heywood Broun

 

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publicado às 13:45

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O NOVO MUNDO - Durante meses muita gente andou a tapar o sol com a peneira, a ver se as eleições americanas se safavam com um mal menor, uma espécie de bloco central entre os directórios dos partidos Democrata e Republicano, que apenas ofereciam mais do mesmo. Hillary, cujo prazo de validade na política americana, de acordo com os parâmetros de Washington já estava expirado, era a sua proposta comum. Acontece que ela foi percepcionada como uma candidata do sistema, das manhosices políticas instituídas, sem trazer nada de novo. Atrás dela estavam os democratas, mas também a elite republicana que se incomodava com o estilo de Trump. Ora estes bem pensantes são, como se viu, de uma arrogância insuportável aos olhos de uma parte importante da América. Já muito foi dito sobre o olhar distorcido e a imagem tendenciosa que os mídia passaram sobre as eleições e os candidatos. No fundo o resultado destas eleições americanas reafirmou que a característica mais importante de um político é a de ser autêntico, de sentir e acreditar no seu projecto de tal maneira que consiga transmitir essa energia aos seus apoiantes independentemente de tradições, elites e de manobras partidárias e de comunicação. Os derradeiros spots de publicidade dos dois candidatos antes do dia das eleições mostram uma Clinton conformista e um Donald confiante e desafiador. Ao longo dos 600 dias de campanha Trump perdeu apoiantes de peso na direcção dos Republicanos, mudou várias vezes a sua equipa operacional, ignorou conselhos do aparelho e foi em frente baseado no seu núcleo duro. E, assim,  acabou por dar aos Republicanos uma vitória inesperada em toda a linha - para além da sua presidência, também no Senado e na Câmara dos Representantes. Li algures, num blog americano,  uma frase que me ficou na memória destes dias: “já passámos por derrocadas económicas e guerras devastadoras - mas hoje em dia as pessoas levam nos seus bolsos aparelhos que são supercomputadores e que ajudam a mudar o que nos rodeia todos os dias e a influenciar quotidianamente as nossas vidas, e isso é algo de novo e que tem um impacto enorme na maneira como o mundo funciona”. A Web Summit, que aí está, no fundo, é sobre isto. E é neste novo mundo que tudo se passará.

 

SEMANADA -  O Ministério da Cultura vai nomear mais três vigilantes para o Museu Nacional de Arte Antiga onde há dias um visitante derrubou e partiu uma escultura do século XVII, do Arcanjo Miguel ; a estação do metropolitano de Arroios fechou devido ao elevado tráfego para a web summit: soube-se esta semana que o IPO do Porto despediu uma farmacêutica que estava em período experimental quando se apercebeu que estava grávida; o consumo actual de leite em Portugal é o mais baixo desde há 32 anos; no último ano emigraram 101 203 portugueses, 32301 dos quais com destino ao Reino Unido; um estudo da Universidade de Aveiro indica que 70% das farmácias dão prejuízo; estão á venda na internet licenças de taxis com valores que vão dos 100 aos 200 mil euros;o crédito à habitação voltou aos níveis de 2010; uma sondagem publicada esta semana para o Negócios e o Correio da Manhã indica que Rui Rio pode obter melhores resultados que Passos Coelho em todos os cenários de confronto com António Costa; o número de professores que se aposentaram este ano é o mais baixo desde 2004; o peso da economia paralela aumentou nos últimos dois anos e já ultrapassa os 25% do PIB.

 

ARCO DA VELHA - Em todo o mundo são tiradas cerca de 93 milhões de selfies por dia.

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FOLHEAR - Nesta semana em que meio mundo pensa como vai ser a América de Trump, proponho uma escritora norte-americana, politicamente incorrecta e vocacionada para contar episódios picantes com sentido de humor. Chama-se Therese ONeill (writerthereseoneill.com) e escreveu um delicioso livro sobre os bons costumes intitulado “Indecoroso - O Guia da Dama Vitoriana Para o Sexo, Casamento e Conduta”. Se o começar a ler desprevenido poderá pensar que é um texto escrito no século XIX nos tempos da rainha Vitória. A escritora vive no Oregon, um dos estados onde Hillary venceu, embora por reduzida margem. Therese ONeill escreve textos de humor e artigos sobre História para diversas publicações e este é o seu primeiro livro, publicado em Portugal em simultâneo com a edição norte-americana pela Guerra & Paz. Os títulos dos capítulos são todo um episódio: “Baldes para evacuação intestinal”, “A Arte traiçoeira de tomar banho”, “Fazer a corte”, “A noite de núpcias”, “Ser uma boa esposa”, “Orgasmos medicinais e outras ficções” e o “Vício secreto”, para citar só alguns. Ilustrado com desenhos que evocam a época vitoriana,  este “indecoroso” é uma lufada de ar fresco nos ventos que vêm da América.

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VER - Nos últimos 14 anos o fotógrafo português Rui Calçada Bastos viveu em Berlim e fez dessa cidade o centro das suas expedições pela Europa. Foi registando imagens, observações aparentemente banais, mas que exprimem as suas memórias e a sua visão pessoal dos locais por onde andou, efectuadas em Berlim, mas também em Lisboa, Budapeste, Paris, Estocolmo e Riga, cidades com que o autor confessa ter particulares motivos de afeição. Intitulada “Walking Distance” (na imagem) esta é a mais interessante mostra da nova série de exposições que ficou patente no MAAT, neste caso a partir desta semana e até 16 de Janeiro. Há também uma exposição que assinala os 50 anos de actividade de Eduardo Batarda, intitulada “Misquoteros - A Selection of T Shirts”, um pretexto para um jogo de palavras  que formam 646 frases espalhadas em 30 pinturas. A série completa-se com“Liquid Skin”, uma instalação montada a partir de excertos de filmes de Joaquim Sapinho e Apichtapong Weerasethakul.

Outras sugestões -  “Os Meus Álbuns de Família Um a Um” - que agrupa pela primeira vez os 36 álbuns que  Lourdes Castro fez, na Culturgest, até 8 de Janeiro. No Atelier Museu Julio Pomar o novo convidado é Julião Sarmento. Esta série de convidados cujas obras dialogam com as de Pomar foi iniciada por Rui Chafes e terá, a seguir, Pedro Cabrita Reis - Rua do Vale, até 29 de Janeiro.

Passando para o Porto destaque para a grande exposição de Amadeo Souza Cardoso no Museu Nacional Soares dos Reis que vem em Janeiro para Lisboa para o Museu do Chiado. E, por fim, também no Porto, na Galeria Fernando dos Santos, “Configurações” - pinturas recentes de Pedro Calapez, que inaugura este sábado e fica até 7 de Janeiro, na Rua Miguel Bombarda 526.

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OUVIR - Paolo Conte é um compositor e músico italiano que navega pelo jazz com influências de valsas, milongas e do charleston. O seu álbum mais recente, “Amazing Game - Instrumental Music” tem 23 temas feitos desde os anos 90 até agora, inicialmente destinados a bandas sonoras de peças de teatro, filmes, alguns trabalhos experimentais. A improvisação joga também um importante papel em algumas das faixas onde Paolo Conte comanda os seus músicos com o piano mas deixando-os soltos em momentos  de virtuosismo instrumental e evidente cumplicidade. A música de Paolo Conte é feita de uma hábil combinação de melodias e de ritmos, frequentemente evocando memórias de outras sonoridades. Conte nasceu em 1937, estudou direito, foi advogado e tornou-se conhecido como músico a partir da segunda metade dos anos 60 graças a versões de composições suas tornadas populares por nomes como Adriano Celentano que tornou “Azzuro” num êxito. Além de compositor e  músico, o trabalho e o talento de Paolo Conte em áreas como a poesia e a pintura têm sido distinguidos e é conhecida a sua proximidade a nomes como Hugo Pratt, com quem trabalhou em diversos projectos. O seu primeiro disco a solo data de 1974 e desde então editou 16  álbuns de originais e outros tantos de gravações ao vivo e compilações. Este “Amazing Game” é um exemplo da sua versatilidade musical e é um belíssimo guia para descobrir a sua obra em diversas fases. Edição Decca/ Universal, distribuída em Portugal.

 

PROVAR - Gosto de ovos verdes, mas há muito que não provava uns tão bons como as de uma pequena petisqueira situada em Campo de Ourique, chamada Chiringuito - Tapas Bar. O menu está cheio de boas ideias, inclui propostas bem tradicionais como peixinhos de horta, migas de tomate, tábuas de queijos e enchidos, uma variedade de ovos - desde mexidos com espargos ou farinheira, até ovos rotos , tortilha de batata e cebola e os tais ovos verdes que constituiram uma boa entrada. Depois veio rim frito com esparregado e bacalhau dourado à Brás, ambos muito satisfatórios. Fiquei com curiosidade pela coroa de tamboril e gambas e pela empada de perdiz e as costeletas de borrego panadas. O serviço é familiar e atento, um dos vinhos a copo é o Chaminé, que foi o escolhido. Ao longo da semana há propostas de pratos para cada dia, desde feijoada à transmontana até ensopado de borrego ou pataniscas. Ao Domingo há buffet de cozido e à segunda fecha para descanso.  Rua Correia Teles 31 B, telefone 211 314 432.

 

DIXIT -  “O que sei é que pessoas como eu, e provavelmente a maioria dos leitores do New York Times, de facto não perceberam o país em que vivem” - Paul Krugman, sobre a vitória de Trump.

 

GOSTO - Da plataforma GPS (Global Portuguese Scientists) que visa juntar os talentos portugueses espalhados pelo mundo em diversos centros de investigação e que até aqui não tinham qualquer ligação entre si

 

NÃO GOSTO - Da forma como a RTP se prestou a ser manobrada por um fugitivo procurado pelas autoridades, servindo-lhe de escudo e acedendo às suas exigências - coisa pouco consentânea com a noção de serviço público.

 

BACK TO BASICS - Qualquer americano que se disponha a candidatar-se a Presidente devia automaticamente, e por definição, ser impedido de o fazer - Gore Vidal

 

 

 

 

 

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publicado às 14:00

O MAL MENOR?

por falcao, em 08.11.16

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O enredo do filme é fantástico: envolve polícias, políticos, milionários, actores, desportistas, cantores e jornalistas. A cena final está ainda por decidir e o desfecho cria enorme expectativa. De um lado uma mulher que anda na política desde meados dos anos 80 e que nessa área já fez de tudo um pouco - até Primeira Dama; do outro um homem de negócios que fez fortuna na construção, foi produtor e participante em programas de televisão e reality shows e organizador de concursos de misses. Ela suscita paixões no seu partido e na sociedade; ele provoca cisões no seu partido e ódio de muitos. É o enredo perfeito.

Voltemos à realidade: neste fim de semana Donald Trump criticou Hillary Clinton por esta ter o apoio de Jay Z, argumentando que o rapper utiliza linguagem imprópria nas suas canções. Vinda de quem vem - de um homem que usa por sistema uma linguagem excessiva - a acusação parece uma anedota, mas não é. Aconteceu mesmo e foi a reacção mais saliente de Donald Trump ao apoio que Hillary Clinton tem recebido de músicos, actores, escritores e que nos últimos dias se intensificou. Mesmo publicações que não costumam tomar posição em eleições, desta vez apareceram a apelar ao voto em Hillary Clinton - como a “Variety”, uma revista dedicada exclusivamente ao mundo do espectáculo e que nos seus 111 anos de vida nunca tinha tomado uma posição eleitoral. Também a Bíblia da moda, a revista Vogue, dirigida pela temida Anne Wintour, apelou ao voto em Hillary. Hollywood, a Quinta Avenida e Silicon Valley não só manifestaram opinião como doaram milhões de dólares para a campanha de Clinton. E até a circunspecta “The Economist” declarou apoio à candidata democrata.  A edição desta semana da revista “New York” tem um grande plano, a preto e branco, da cara de Trump, com uma barra encarnada por cima, onde aparece apenas uma palavra: Loser.

Mas será que todos estes apoios serão suficientes? Outra revista, “The New Yorker” fazia notar que um dos problemas maiores com que Hillary Clinton se defronta, sobretudo entre os eleitores mais novos, é o facto de ela representar o poder instituído. Hillary está na política desde meados dos anos 80, primeiro ao lado do seu marido, e , depois, desde o início deste século, por conta própria. Obama afirmou que esta longa carreira política, em muitas funções e situações, a tornava na candidata mais preparada de sempre. O problema, para muitos eleitores, é que ela surge como a representante da velha política , da intriga palaciana de Washington, e no seu passado, nessa sua longa carreira política, existem muitas posições controversas. Na realidade o seu passado é uma faca de dois gumes. Uma sondagem recente indica que um terço do segmento demográfico dos millennials ( que vai dos 18 aos 39 anos) irá votar num dos outros candidatos que não Clinton ou Trump - nomeadamente em Jill Stein, que concorre pelo Green Party. Uma outra sondagem, no mesmo segmento demográfico, indica que cerca de 70 por cento dos millennials rejeitam Trump. Na verdade tudo está ainda por decidir e a sucessão de posições e declarações oficiais do FBI, inéditas durante uma campanha eleitoral, veio ainda baralhar mais o estado das coisas. A campanha eleitoral dura há quase 600 dias e, como salientava a revista “Time”, citando uma eleitora, transformou-se num referendo entre o que as mulheres podem alcançar e aquilo que os homens querem esconder que fizeram. Para muitos dos eleitores que amanhã vão decidir sobre o futuro próximo do mundo, trata-se de escolher o mal menor. E o mal menor é sempre fraca política.

(Publicado na edição de 8 de Novembro do Negócios)

 

 

 

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ELEIÇÕES - Daqui a pouco tempo realizam-se as presidenciais norte-americanas e cresce o debate sobre o peso da abstenção nos resultados eleitorais. Recentemente, em Portugal, essa questão colocou-se nas eleições regionais dos Açores, com a abstenção a rondar os 60%. E com o início do novo ciclo eleitoral, no próximo ano, com as autárquicas, crescem as dúvidas sobre a dimensão da abstenção, os seus efeitos e o que pode significar em termos de regime. Não resisto a citar um excerto de um texto de Manuel Villaverde Cabral, publicado esta semana no “Observador” e que retrata exactamente o que se passa. Com a devida vénia, aqui vai: “Nos Estados Unidos como em Portugal e, crescentemente, na maior parte dos países que têm a liberdade de votar, na enorme crise da representação política que reina entre nós, são os abstencionistas que fazem, por defeito, os resultados eleitorais. Assim como o actual presidente português, com a sua badalada vitória, acabou por ter os votos de menos de um quarto dos eleitores inscritos, o abstencionismo também é muito alto nos Estados Unidos, embora a comparência às eleições presidenciais («turn out»), seja mesmo assim, superior à nossa. O que não deixa de ser inquietante é que os destinos da humanidade estejam, sem exagero, nas mãos dos abstencionistas, tal como o estão os destinos dos portugueses, mas a verdade é que assim é!”. Este é o estado a que políticos e seus partidos conduziram a participação cívica: tudo se resume a pagar com impostos o desgoverno que praticam. A certa altura as pessoas cansam-se. Porque será que os eleitores são uma espécie em vias de exteinção e a quem interessa o seu extermínio?

 

SEMANADA - Os portugueses compraram em média nove mil telemóveis por dia no primeiro semestre deste ano - em 2010 a média era de 17 mil aparelhos por dia; 80% dos aparelhos vendidos este ano foram smartphones; os call centers  empregam cerca de cem mil trabalhadores; o consumo de cerveja caíu 25% nos últimos dez anos em Portugal; as praxes académicas já provocaram nove queixas, em seis estabelecimentos de ensino diferentes, nos dois primeiros meses do novo ano lectivo; um estudo da Marktest indica que o concelho do país com melhor indíce de qualidade de vida é Castelo de Vide; 40% das medidas previstas no Simplex foram executadas nos primeiros seis meses do programa; há 930 mil portugueses sem médico de família; a Educação teve mais dinheiro no Orçamento de 2012 do aquele que está previsto no orçamento de 2017; o turismo criou este ano 45 mil postos de trabalho; 25% dos mortos na estrada são vítimas de atropelamento e Portugal regista mais de cinco mil acidentes com peões por ano; Trump passou a liderar sondagens no Dia das Bruxas; os célebres novos lugares de estacionamento que a Câmara Municipal de Lisboa vai criar para moradores da cidade serão afinal pagos e terão um custo mensal de 30 euros;  foi revelado que a França fez um acordo secreto com a Comissão Europeia para não cumprir as metas do défice.

 

ARCO DA VELHA - Uma utilizadora de um autocarro no Porto, que numa travagem brusca foi projectada contra uma das portas do veículo, recebeu uma carta da empresa transportadora STCP a exigir o pagamento de 870 euros por danos causados ao veículo

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FOLHEAR - Como será daqui a uns anos organizar uma colectânea de escritos trocados entre duas personalidades? Será uma empreitada digital no correio electrónico? Existirão livros com as mensagens trocadas no whatsapp, no messenger do facebook ou no hangouts do gmail? O livro que aqui vos trago hoje não é nada disso: é uma recolha da correspondência escrita e trocada entre Jorge de Sena e Eugénio de Andrade durante 30 anos, entre 1949 e 1978. São cartas e postais, tudo transportado a troco de selos de correio. A organização deste livro, editado pela Guerra & Paz, coube a José da Cruz Santos, com o apoio de Mécia de Sena, de Isabel de Sena e de Jorge Fazenda Lourenço, um editor que trabalhou com os dois poetas que se correspondiam evidenciando uma profunda amizade. Manuel S. Fonseca, que dirige a editora, faz notar que “por estas cartas e postais passa Portugal”. E pormenoriza: ”As grandes batalhas literárias, os conflitos estéticos, o rumor pesado da Academia contra o qual Eugénio e Sena se batem, mas também a vida política, a falta de liberdade, a explosão dela no 25 de Abril, as esperanças e as frustrações que se lhe seguiram, que Eugénio, primeiro denuncia: “… a esquerda revolucionária já está a ser aproximada pelos bem pensantes do país, incluindo os comunistas, da mais sinistra reacção” e a que logo Sena responde “… revolução, que cada vez me parece mais um conluio de continuistas e de arranjistas, com alguns revolucionários parvos pelo meio, e muitos demagogos a agarrar os tachos com muita pressa…” de tudo isto há testemunho, vibrante, nestas cartas.”

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VER - Esta semana, apenas sugestões fotográficas. Começo pela colecção de retratos que o pintor, artista gráfico e fotógrafo Fernando Lemos fez de amigos seus - escritores, artistas, ensaístas e actores - entre 1949 e 1952. Fernando Lemos foi uma figura destacada entre os surrealistas portugueses e cerca de seis dezenas de retratos fotográficos são agora expostos no Museu Berardo, no CCB. Intitulada “Fernando Lemos: Para um Retrato Coletivo de Portugal, no fim dos Anos 40”, a mostra pode ser vista até 31 de Dezembro. Como sublinha o comissário da exposição, Pedro Lapa, mais do que retratos de pessoas, procura mostrar o retrato de uma geração - “são retratos da solidão colectiva”. Ali se podem ver os retrato de Sophia de Mello Breyner Andresen, Adolfo Casais Monteiro, Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva, Jacinto Ramos, António Dacosta, Jorge de Sena e Mécia de Sena, Cardoso Pires, Mário Cesariny, Glicínia Quartin, Manuela Seixas e um magnífico auto-retrato do próprio Fernando Lemos, que aqui se reproduz. Fernando Lemos, hoje com 90 anos, vive no Brasil desde 1953. Outra exposição a reter é “Reverso, o Mesmo e o Outro”, onde Mariano Piçarra juntou 34 fotografias inspiradas no pensamento do filósofo José Marinho - é aliás a segunda vez que o faz - a primeira foi em 1999 com “Grave” - na Biblioteca Nacional até 21 de Janeiro. No Espaço Novo Banco, Praça Marquês de Pombal 3, pode visitar selecções do acervo da excelente Coleção de Fotografia Contemporânea que foi criada pelo BES e que depois passou para o Novo Banco. Por último Valter Vinagre apresenta “Da Natureza das Coisas” a partir deste sábado e até 18 de Dezembro, na Travessa da Ermida, em Belém.

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OUVIR - Um dos mais importantes catálogos do jazz mundial, da editora Blue Note, relançou agora alguns dos seus álbuns históricos, gravados na década de 50 e 60, com um conjunto de caixas, cada uma incluindo cinco álbuns originais de um artista - o nome da colecção é “Blue Note - 5 Original Albuns”. Na caixa do saxofonista Dexter Gordon destaque para os álbuns “Doin’ Allright” e “Dexter Calling”, ambos gravados apenas em três dias, em Maio de 1961, com músicos como Freddie Hubbard, Horace Parlan e Paul Chambers, entre outros. Na caixa do saxofonista e compositor Wayne Shorter destaque para o seu primeiro disco registado para a Blue Note (ao todo gravou 11 para a etiqueta entre 1964 e 1970)  - falo de “Night Dreamer”, gravado em 1964 no estúdio de Rudy Van Gelder com Lee Morgan, McCoy Tyner, Reggie Workman e Elvin Jones. Destaque ainda para as caixas dedicadas ao guitarrista Kenny Burrell, ao saxofonista Joe Henderson e ao pianista e teclista Herbie Hancock, nomeadamente para os álbuns “Inventions & Dimensions” e “Speak Like a Child”. A terminar a caixa dedicada ao baterista Art Blakey e aos seus Jazz Messengers, nomeadamente para o disco “A Night In Tunisia”, que contou com a participação de Wayne Shorter. Trata-se uma uma invulgar colecção de gravações que juntam alguns dos mais destacados músicos e compositores de jazz dessa época, numa fase especialmente criativa. Os álbuns de toda a colecção reproduzem em formato CD as capas e conteúdo dos LP’s originais. Colecção disponível em Portugal, distribuída pela Universal Music.

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PROVAR -  Desta vez não venho falar de um restaurante, mas de uma invulgar colecção de selos postais - trata-se de uma emissão filatélica dos CTT sobre as indústrias conserveiras portuguesas. Esta emissão tem a particularidade de a série sobre conserveiras ser apresentada dentro de uma lata de conservas especialmente serigrafada e preparada para o efeito. A fábrica “Conservas Ramirez”, fundada em 1853 e que é a mais antiga instalação industrial conserveira em funcionamento em todo o mundo, foi a parceira dos CTT  nesta colecção que inclui seis selos com uma tiragem de 125.000 exemplares. Biqueirão, sardinha, cavala, atum, lula e enguia são as espécies incluídas na série, cujo design esteve a cargo de Fernando Pendão. Eu, que sou fã de conservas, fiquei deliciado com a ideia. E já agora nem compreendo porque é que em bons restaurantes portugueses não são apresentadas com maior frequência conservas como entrada ou base de um prato - como acontece com tanta frequência noutros países, a começar por Espanha.

 

DIXIT -  “Estão a pôr ciclovias no meio das passadeiras e não devia ser permitido” - José Miguel Trigoso, Presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa

 

GOSTO -  A Menos é Mais Arquitectos Associados e João Mendes Ribeiro estão na shortlist do prémio internacional do Royal Institute Of British Architects graças ao seu projecto do Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas, nos Açores.

 

NÃO GOSTO -  Da política de afastamentos e nomeações de compadrio que o Ministério da Cultura está a levar a cabo e que já ditou a saída de Miguel Leal Coelho da administração do CCB, e da coordenação do seu Centro de Espectáculos, que ergueu ao longo de duas décadas.

 

BACK TO BASICS - A tradição deve funcionar como guia, nunca pode ser encarada como uma limitação - W. Somerset Maugham

 

 

 

 

 

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