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O ESTADO DAS TVs - Até agora, este ano, oito dos dez programas de televisão mais vistos foram emitidos pela RTP1 e têm em comum o facto de serem transmissões de jogos de futebol, quer da seleção nacional, quer de equipas portuguesas em provas internacionais. Os outros dois programas deste top-ten televisivo foram da TVI: um deles é também a transmissão de um desafio de futebol, no caso um jogo de preparação da seleção nacional, e o outro é “Pesadelo na Cozinha”. A SIC tem até agora apenas um programa no Top 15, a novela “Amor Maior”, na 14ª posição. Na média anual a RTP1 tem 12,3% de share, a SIC regista 16,4% e a TVI lidera com 20,4% . A RTP2, pelo seu lado, regista uma média de 1,5%. No cabo o líder é o CMTV com uma média de share este ano de 2,2%, seguido da SIC Notícias com 2% e a TVI24 com 1,5%. Mas estes dados devem também ser interpretados de um outro ponto de vista: como está a evolução do comportamento dos espectadores de televisão? No global, este ano em Portugal, cada espectador está a ver cerca de menos 25 minutos de televisão por dia do que acontecia no ano passado. E se os canais generalistas são os mais atingidos (RTP, SIC e TVI), a verdade é que também os canais de cabo não crescem ao ritmo da perda dos generalistas - o que está a aumentar é o consumo de outras formas de visionamento, nomeadamente as emissões na internet, em streaming, como a Netflix e outros - sobretudo o YouTube que em Portugal tem 4,8 milhões de utilizadores regulares e que algumas estimativas indicam ser a principal forma de visionamento de vídeos utilizado pelo segmento entre os 15 e os 24 anos. Como se vê pelos números do início desta nota são as transmissões em directo, nomeadamente as desportivas, que conseguem captar maior audiência. O resto, que pode ser visto em diferido em qualquer momento, vai gradualmente passando para segundo plano. É esta a realidade: a forma de ver TV está a mudar mais depressa do que se pensava vir a acontecer.
SEMANADA - Portugal lidera os rankings europeus de área ardida e é dos países que menos gasta no combate aos incêndios, metade da média da zona euro; segundo uma contabilização feita pelas autarquias nos recentes incêndios arderam 1400 casas e 510 fábricas, 1034 veículos e 1755 construções de diversa natureza; um milhão de bicas de resinas de pinheiros foram destruídas nos fogos deste ano, um número que representa 20% da área resinada em Portugal, e há 200 postos de trabalho em risco; os assaltos a caixas multibanco triplicaram nos seis primeiros meses do ano, em comparação com igual período do ano passado; o aeródromo municipal de Viseu registou no ano passado 9119 movimentos de aviões, em comparação com os 800 movimentos registados no aeroporto de Beja nos últimos seis anos; no ano passado registaram-se em Portugal, por dia, 61 divórcios e 89 casamentos; desde o início do ano os portugueses gastaram 97 milhões de euros por dia em compras com cartões multibanco; um estudo do Instituto Português de Administração e Marketing indica que Cristiano Ronaldo é o jogador mais valioso do mundo e também a marca mais valiosa - a marca Ronaldo cresceu quase 50% em relação ao ano anterior e já vale 102 milhões de euros; na campanha para as directas do PSD Rui Rio rejeitou a proposta do seu adversário, Pedro Santana Lopes, para que se realizem debates a dois em todas as distritais do partido; o Supremo Tribunal de Justiça reduziu as penas de prisão aplicadas a um casal que escravizou uma rapariga romena, durante mais de quatro anos, depois de a Relação as ter agravado.
ARCO DA VELHA - Um recente acórdão da Relação do Porto desculpa a violência doméstica em caso de adultério e os juízes escreveram preto no branco que “se vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher”.
FOLHEAR - Cem anos passados sobre a revolução de Outubro já se consegue olhar de forma fria para tudo o que se passou. “Revolução de Outubro – Cronologia, Utopia e Crime”, de Manuel S. Fonseca, é uma cronologia dos factos políticos ou sociais reveladores do que se passou nomeadamente durante os meses que vão de Fevereiro a Outubro de 1917. O livro acompanha a revolução no dia a dia, do enforcamento do irmão de Lenine à morte do dirigente da revolução e entrada do seu corpo no mausoléo. Esta não é uma cronologia indiferente ou neutra: o autor arriscou ir buscar ao «lixo da História», para onde Trotski os quis lançar, o pensamento e os esforços dos revolucionários que queriam «toda a democracia» e recorda que Outubro pôs fim ao pluralismo da esquerda e à democracia participativa que a Revolução de Fevereiro criara na Rússia. Como pôde um partido minoritário e extremista tomar o poder no maior país do mundo? de acordo com Manuel S. Fonseca, sem a I Grande Guerra, não teria havido revolução, sem Lenine, a Revolução não teria sido em Outubro, sem o Terror Vermelho, o povo teria apeado os bolcheviques do poder. E sublinha: “Talvez a revolução tenha sido, afinal, uma contra-revolução, com tudo o que as contra revoluções trazem: ditadura, prisão, tortura, fome e morte”. A cronologia é acompanhada de extensa documentação fotográfica, o livro tem um surpreendente grafismo de Ilídio Vasco e ajuda, cem anos depois, a compreender aquele tempo e como foi possível em nome de um ideal que parecia nobre, criar o monstro - a tomada de poder, escreve-se nas conclusões, vem instilada pelo virus totalitário . Edição Guerra & Paz.
VER - Os espelhos são objetos muito interessantes devido à sua capacidade de nos transportar a outras dimensões, permitindo-nos ver o que parecemos ser - selfies antes de existirem smartphones. Ao longo da História, o artistas recorreram aos espelhos com diferentes propósitos, ora para revelar ora para disfarçar aspetos das cenas que representam. “Do Outro Lado do Espelho”, título que remete intencionalmente para o mundo de Alice Liddell, a heroína de Lewis Carroll, é uma nova exposição no Museu Gulbenkian, constituída por 69 obras e está dividida em cinco núcleos temáticos, precedidos por três figuras introdutórias: uma escultura que funciona como convite à visita, uma pintura que introduz o tema da mostra e um espelho-objeto. Com curadoria de Maria Rosa Figueiredo, é uma exposição temática, que tem o espelho como foco principal e que pretende demonstrar a sua presença na arte europeia, sobretudo na pintura, mas também em obras com outros suportes, como escultura, arte do livro, fotografia e cinema, com obras de Eduardo Luiz, Cecília Costa, Noé Sendas (o autor da imagem aqui reproduzida) , Paula Rego, Richard Hamilton e Daniel Blaufuks, entre outros. Se fôr à Gulbenkian aproveite para descobrir “Ana Hatherly e o Barroco”, com curadoria Paulo Pires do Vale e que permite entender como a investigação e experimentação de Ana Hatherly revalorizou o período histórico do Barroco. Destaque ainda para a exposição que assinala os 30 anos da Galeria Ratton (Rua da Academia das Ciências 2), com um mural colectivo, em azulejo, o suporte que é o foco de trabalho da Galeria fundada por Ana Viegas. Este mural evoca a Carta de Lisboa, uma iniciativa cívica do Fórum Cidadania e que gerou uma obra que contou com a participação de Lourdes Castro, Manuel Vieira, Pedro Proença, Jorge Martins, Andreas Stocklein e Sofia Areal, entre outros.
OUVIR - Para assinalar o centenário do nascimento de Ella Fitzgerald foi lançado um disco que é o perfeito exemplo do que a manipulação tecnológica permite fazer. Com base em gravações de Ella Fitzgerald feitas entre 1950 e 1961, a London Symphony Orchestra adicionou novas orquestrações que substituíram os arranjos originais onde na maior parte dos casos predominava o piano. Além da orquestra, a voz de Ella Fitzgerald, remasterizada digitalmente, ganhou novo acompanhante num dos temas, com Gregory Porter. As gravações originais, feitas em mono, deram um suporte precioso para esta manipulação, polémica, mas que em muitos momentos faz destacar a voz da grande senhora. O repertório escolhido percorre vários temas de Cole Porter, como “Misty," "Bewitched," "These Foolish Things (Remind Me Of You) e " "I Get A Kick Out of You”, assim como duetos com Louis Armstrong em "Let's Call The Whole Thing Off" e "They Can't Take Away From Me”. A última faixa, “With A Song In My Heart”, é um magnífico exemplo da extraordinária forma vocal de Ella na época das gravações originais, ao lado do pianista Elli Larkin. Ella Fitzgerald, with the London Symphony Orchestra - Someone To Watch Over Me, CD já disponível em Portugal.
PROVAR - Os doces e compotas portugueses têm melhorado muito nos últimos anos e cito aqui apenas o exemplo da produção da Quinta da Prisca. No entanto há ainda uma coisa que falta - um bom doce de laranja amarga, algo melhor que o da Casa de Mateus, que é, mesmo assim, o mais sofrível. O que é preciso é que alguém consiga igualar a qualidade dos doces feitos desde 1938 na Escócia pela empresa familiar Mackays - sobretudo a Dundee orange marmalade. As laranjas vêm da região de Sevilha e os potes de cobre, aquecidos a vapor, são feitos por artesãos locais. Como começou este doce de laranja de Sevilha no meio da Escócia ? No meio de uma tempestade um navio espanhol abrigou-se no porto de Dundee no século XVIII e o carregamento de laranjas de Sevilha foi comprado por um comerciante local que descobriu que as laranjas eram amargas. A mulher resolveu fervê-las com açúcar e assim nasceu o doce de laranja de Dundee. A mesma empresa produz também a Mackays vintage dundee marmalade, mais espessa, com casca em corte grosso, boa consiste para barrar torradas. À venda nos bons supermercados e na magnífica loja Ayur, na avenida Visconde Valmor 34, onde existem quase todas as variedades produzidas pela Mackays ( também vale a pena provar a de gengibre com especiarias).
DIXIT - “Convém que as escolhas de um primeiro-ministro não coincidam com as fotografias do livro de curso da sua classe de Direito de 1982 sempre que é preciso remodelar”- João Miguel Tavares.
GOSTO - Ricardo Araújo Pereira vai fazer vários espectáculos pelo país e doar a receita às famílias das vítimas dos incêndios.
NÃO GOSTO - De um sistema judicial que permite que juízes citem passagens bíblicas para justificar o injustificável.
BACK TO BASICS - Devemos estudar o passado se quisermos definir o futuro - Confúcio
(Publicado no Jornal de Negócios de dia 28 de Outubro)
OS INCENDIÁRIOS DA HISTÓRIA - É uma terrível coincidência que dias depois de o Governo tentar fazer esquecer e subalternizar o relatório sobre o incêndio de Pedrógão Grande uma nova catástrofe tenha colocado ainda mais a nu o que então tinha corrido mal, e que agora se repetiu. Os spin doctors que na semana passada andaram a tentar colocar o relatório debaixo de resmas de assuntos saíram-se agora com uma teoria de conspiração terrorista que atribui à direita a autoria dos incêndios, como estratégia para enfraquecer o Governo da esquerda. Da Roma antiga à ascensão nazi na Alemanha a História está cheia de manobras destas e sabe-se o que elas provocaram. A conspiração que existiu foi a que mudou em Abril a maioria da estrutura de comando da Protecção Civil, trocando quadros experientes por boys inexperientes, da direcção nacional aos comandantes distritais, como o relatório que se queria esquecer diz claramente; a conspiração que existiu foi a de quem, contra as previsões metereológicas e conselhos de especialistas, desmobilizou a 1 de Outubro o dispositivo de combate a incêndios retirando operacionais e meios pesados, reduzindo praticamente a metade a capacidade antes existente. Nesta matéria Centeno e Costa têm responsabilidades - o primeiro porque com as sua austeridade camuflada apertou os ministérios e forçou poupanças perigosas e o segundo porque não resistiu ao apelo de umas nomeações de favor que uma governante incapaz executou com mais desvelo do que a sua missão principal, que é a de proteger os cidadãos. Os erros do passado, de várias décadas, contam a nivel estratégico (florestas, ordenamento, etc) mas os erros tácticos e conjunturais contam muito - e este ano foram múltiplos, com o desgraçado resultado que se conhece. Há o nível do ordenamento florestal, há o nível do combate aos incêndios e há o nível da proteção das vidas humanas. O Estado falhou em todos os níveis. O único terrorismo que aqui vislumbro é o terrorismo de Estado. Não podemos mudar o passado, mas podemos melhorar o futuro.
SEMANADA - Este ano já morreram mais pessoas em incêndios florestais que no conjunto dos últimos 15 anos; no orçamento de Estado de 2017, em vigor, o governo fez um corte de 12% nas verbas para meios de prevenção e combate a fogos florestais, em relação ao que estava no Orçamento de 2016; a Rede Nacional dos 236 Postos de Vigia à floresta foi desactivada a 1 de Outubro por fim do contrato a prazo dos elementos que os integravam; na mesma data o Governo reduziu para metade os meios de combate a incêndios, apesar das previsões metereológicas desfavoráveis; os gastos de gabinetes governamentais estimados no orçamento para 2018 estão acima dos verificados nos governos de Sócrates, que eram superiores aos verificados no governo de Passos Coelho; as novas despesas do Estado somam quase 500 milhões de euros em 2018; o corte no défice de 1% é todo feito pela via da receita, ou seja, mais impostos, taxas e taxinhas; o orçamento prevê um aumento de 2,6% nas receitas com taxas e multas, que atingirão 3 mil milhões de euros; aumento do orçamento do Ministério do Ambiente: 75,8%; aumento do orçamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros: 10,9%; aumento do orçamento do Ministério das Finanças: 18,7%; aumento do orçamento do Ministério do Planeamento: 20,1%; aumento do orçamento do Ministério da Cultura: 11,3%; aumento do orçamento do Ministério da Administração Interna: 5,9% aumento do orçamento o Ministério da Saúde: 2,4%; diminuição do orçamento do Ministério da Educação: 2,9%.
ARCO DA VELHA - Segundo o Tribunal de Contas a Administração central do Sistema de Saúde falseou tempos de espera a consultas e cirurgias nos hospitais e entre 2014 e 2016 mais de 27 mil doentes ficaram em lista de espera por uma cirurgia, dos quais 2600 morreram antes de serem operados.
FOLHEAR - Em Portugal, como em muitos países com História e tradições, há variações idiomáticas regionais, que vão da pronúncia até à existência de palavras e expressões que só se usam localmente - é o que acontece por exemplo em Trás-Os-Montes onde uma capilota é uma sova, um farsolento é um vaidoso, uma novilheira é uma pessoa que tem sempre novidades ou unguento pode querer dizer dinheiro. Por isso mesmo Cidália Martins, José Pires e Mário Sacramento compilaram o “Dicionário de Palavras Soltas do Povo Transmontano”. Com mais de 10 200 palavras e expressões típicas de Trás-os-Montes, desde o vocabulário em vias de extinção, passando pelo calão, pela gíria, até às palavras e expressões castiças reinventadas pela nova gente transmontana, este dicionário surge como um valioso instrumento para dar a conhecer o vasto património da língua portuguesa cuja grande riqueza reside na sua diversidade. No prefácio, o Professor Adriano Moreira classifica este dicionário como “uma obra prática, leve e lúdica” e recorda que “ a língua é uma essencial expressão da identidade dos povos”, sublinhando que “o nosso idioma global também vive e renasce no singular, no que é específico de determinadas localidades, regiões, aldeias”. Edição Guerra & Paz.
VER - Na Culturgest estão duas exposições notáveis, ambas com curadoria de Delfim Sardo, ambas exemplos da diversidade criativa norte-americana do final da década de 60 e década de 70 do século passado. Começo por “Splitting, cutting, writing, drawing, eating...Gordon Matta Clark”, que mostra o percurso de um dos mais marcantes artistas norte-americanos da sua geração - morreu em 1978 com 35 anos. Arquitecto de formação, Matta-Clark fez desenho, escultura, interviu em edifícios devolutos desconstruindo a sua estrutura e fez performance em espaços públicos - de que é bom exemplo o restaurante Food, um ponto de encontro de artistas, aqui recordado num filme de Matta-Clark e de Robert Frank (o fotógrafo da obra The Americans). A outra exposição, “Time Capsule”, é dedicada à revista “Aspen”, um projecto fascinante criado em 1965 e que durou até 1971, publicando dez números, na época disponíveis apenas por assinatura. A publicação foi concebida como uma caixa dentro da qual vinham diversos materiais, uns impressos, outros gravados, como discos, e até filme em bobine. Cada número tinha um editor e designer diferente e a Aspen tornou-se num espelho de novas tendências. A exposição mostra todos os números da revista a partir da colecção de António Neto Alves, que demorou cerca de uma dezena de anos a conseguir obter todas as edições. Para além dos exemplares da Aspen, a exposição contextualiza cada número com o auxílio de diverso material complementar. É sobretudo empolgante pensar como a “Aspen” foi criada a partir de um suporte tradicional em papel, que em diversas ocasiões juntou registos de som e de imagem, quase de forma premonitória em relação ao que hoje é possível fazer em publicações de suporte digital e distribuição na internet. Imperdível, até 7 de janeiro.
OUVIR - Miles Davis começou a gravar para a etiqueta Prestige em 1951 e em 1955, depois do êxito obtido no Festival de Newport, foi para estúdio com o seu quinteto e gravou, em três extensas sessões, realizadas no final de 1955 e em 1956, uma série de discos hoje considerados o ponto de viragem decisivo da sua música. “The Legendary Prestige Quintet Sessions” é uma caixa de quatro CD’s, originalmente editada em 2006, agora reeditada e disponível no mercado nacional. O disco 1 recolhe gravações editadas no LP “The New Miles Davis Quintet”, que incluía John Coltrane no saxofone, Red Garland no piano, Paul Chambers no baixo e Philly Joe Jones na bateria, além de Miles no trompete. O disco 2 recolhe temas gravados nos LP’s “Relaxin’ With The Miles Davis Quintet” e “Steamin’ With The Miles Davis Quartet”. O disco 3 recolhe gravações dos LP’s “Miles Davis and the Modern Jazz Giants”, “Workin’ with the Miles Davis Quintet” e “Cookin’ With The Miles Davis Quintet”. O disco 4 recolhe gravações feitas em programas de rádio e televisão, que aqui tiveram a sua primeira edição em disco e também alguns solos de Davis registados durante as sessões de estúdio. As gravações foram remasterizadas a partir das fitas originais e a caixa inclui um livro de 52 páginas com um texto de Bob Blumenthal que permite enquadrar a forma como tudo se passou. Disponível na FNAC e El Corte Ingles.
PROVAR - A chef Luísa Fernandes ganhou fama em Nova Iorque, para onde foi aos 49 anos, depois de ter sido paraquedista e enfermeira: começou como pasteleira num restaurante português, o Alfama, e , depois de ter estado no Galitos, Park Blue e Nomad, terminou como Chef num dos mais prestigiados restaurantes nova-iorquinos, o Robert. Há menos de um ano regressou a Portugal e há poucos meses abriu junto à Avenida da Liberdade o seu próprio restaurante, “Peixe na Avenida”. Focado no tema do mar tem uma decoração sóbria e confortável. Ao almoço há uma proposta de menu executivo por 14 euros (entrada, um prato à escolha entre três propostas, sobremesa, bebida e café). À noite há uma carta com uma boa diversidade de propostas, que contempla incursões em, ceviche, sushi e sashimi, todos com um toque português. Numa recente visita a mesa provou atum braseado com escabeche de uvas e cebola roxa, ceviche de atum rabilho dos açores, sushi de atum com tempura de batata doce, pargo selvagem com batata vitelote e peixinhos da horta, bacalhau asiático com couve bok choi e arroz de bambu selvagem e ainda um bacalhau mais português, escalfado em azeite com esmagada de batata e nabiças. O destaque vai para o ceviche, o atum braseado e para o bacalhau asiático. A sobremesa foi uma tarte tartin de maçã servida com um surpreendente gelado de violeta. O vinho da casa é Quinta da Pacheca e revelou-se uma boa companhia. O Peixe na Avenida fica ao fundo da rua Conceição da Glória, no número 2, na esquina com a Avenida da Liberdade. Encerra à segunda, sábado e domingo aberto ao jantar. Telefone 309765939
DIXIT - “Como se estão a criar muitos compromissos futuros assentes numa economia de redistribuição, e não numa economia de investimento, temo que no futuro fiquemos na maré vazia e sem calções, como já sucedeu” - João Duque, professor do ISEG, sobre o Orçamento de Estado
GOSTO - Da frontalidade da comunicação ao país de Marcelo Rebelo de Sousa na noite de terça-feira
NÃO GOSTO - Do cinismo da comunicação ao país de António Costa na noite de segunda-feira
BACK TO BASICS - «O Estado é o mais frio de todos os monstros. Ele mente friamente. Da sua boca sai esta mentira: “Eu, o Estado, sou o povo.”» - Nietzsche.
TIC-TAC - O relógio da política, que estava parado há uns tempos, voltou a andar, as autárquicas deram mesmo um abanão ao estado das coisas. O PSD tem uma oportunidade de voltar a fazer oposição e o PCP já começou a mostrar que reactivou a política de rua - está visto que vamos ter mais greves nos próximos tempos. Cada um destes dois partidos procura recuperar a sua identidade, perdida no caso do PSD por uma incompreensão do que tinha mudado no país e, no do PCP, pelos travões que lhe foram impostos pela geringonça. No PSD a luta interna vai ser dura entre a ala de Rio, apoiado pela previsível velha guarda do partido e Pedro Santana Lopes, que quer uma renovação de pessoas e de ideias. Qualquer dos dois não está no Parlamento nem nos habituais poisos do regime - o que coloca em vantagem Santana Lopes, mais experiente a fazer comunicação fora do círculo institucional. Para além das pessoas o que está em causa tem a ver com o funcionamento dos partidos e do sistema político: quem quer dar mais voz aos cidadãos? Quem vai conseguir envolver e cativar simpatizantes, apoiantes, independentes, fazendo o partido crescer para além do seu aparelho? No fim do dia quem quer mesmo afirmar a diferença? Já se percebeu que de um lado está um candidato que prefere não aceitar perguntas de jornalistas, como Rio fez na apresentação da sua candidatura e, do outro, alguém que aprecia uma boa polémica e gosta de correr riscos, como Santana Lopes. Entre a pressão do PCP e o reviver do PSD António Costa vai ter um fim de legislatura mais agitado que esperava. Imaginou, talvez, que poderia ensaiar uns passos de dança com Rui Rio, pode ser que em vez disso lhe reste continuar a dançar o tango com Catarina Martins.
SEMANADA - O investimento público previsto no Orçamento de Estado de 2018 será inferior ao do último ano do governo de Passos Coelho e equivale a menos de 2% do PIB, que é o valor mais baixo da Europa; em 2016 o Estado concedeu cerca de 2500 milhões de euros em benefícios fiscais a entidades sujeitas a IRC; cem mil famílias não vão ter descida no IRS; nos últimos dois meses e meio verificaram se 29 assaltos à bomba a caixas multibanco; desde 2015 já ocorreram 215 insolvências de farmácias; a marca Elefante Branco, registada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, está à venda por um valor base de cinco mil euros; em Portugal realizaram-se 850 transplantes de coração em 30 anos, e o país está no 12º lugar europeu neste tipo de cirurgias; há 1672 obesos à espera de cirurgia adequada, mais 10% que no ano passado; a entidade reguladora da saúde recebeu 49 mil queixas nos primeiros oito meses do ano; em Portugal a penetração das redes sociais aumentou quase três vezes e meia entre 2008 e 2017, passando de 17.1% para 59.1%, segundo a Marktest; um milhão e 807 mil os portugueses costumam jogar online, segundo os resultados do estudo Bareme Internet 2017; o número de alunos cresce há quatro anos seguidos nas universidades privadas que este ano registaram 20 600 novas entradas; temos 140 reclusos por cada 100 mil habitantes e a idade média dos detidos é de 39,7 anos; a nova lei de estrangeiros já legalizou cadastrados violentos em Portugal.
ARCO DA VELHA- A concessionária dos cacilheiros, Soflusa, reagiu aos protesto dos utentes sobre os enormes atrasos devido à greve que afecta os seus barcos, pedindo paciência aos passageiros que se deslocam para o trabalho e sugerindo que evitem as horas de ponta.
FOLHEAR - O futebol não é coisa que me excite - não acho grande graça ao assunto. Mas fico sempre fascinado pelo entusiasmo que suscita, pela paixão que se sente, e pelas conversas infindáveis que proporciona. O que se passa nalguns canais de televisão do cabo é sintomático - há uns rapazes que analisam a bola como se estivessem a analisar um tratado filosófico, outros que se insultam como se estivessem ébrios numa taberna e outros ainda que vibram como se estivessem num Indiana Jones. Reconheço que o futebol é bom motivo de conversas - mas há há muito que recomendei ao meu barbeiro que não me falasse de futebol e se um taxista tenta começar num relato sobre o Jesus ou o Vitória desato a falar da uber e lá me vou safando. Mas sei que o futebol é uma paixão - que vem de miúdo quando se joga na rua, numa praceta, em qualquer lugar. “Houve um tempo em que o futebol era um prazer barato que se jogava ao domingo. Não era difícil que alguém se apaixonasse por aquele jogo de regras simples, com artistas que fintavam os adversários e marcavam golos” - esta descrição está em “Futebol, o estádio global”, uma nova edição dos Ensaios da Fundação Francisco Manuel Dos Santos, escrita por Fernando Sobral (declaração de interesse: meu amigo e companheiro de muitas páginas). Fernando Sobral fala da evolução do jogo, com o saber de um conhecedor e a distância fleumática de um atento observador que o caracteriza - e que lhe permite falar das relações entre futebol, marcas, economia, mídia, poder e política, sempre com uma frase de fundo: “para os adeptos o futebol é quase tudo”. Até eu fiquei mais interessado pelo futebol depois de ler este livro. “O futebol não tem fronteiras, acaba com elas”, como diz Fernando Sobral.
OUVIR - Alfredo Rodrigo Duarte, Alfredo Marceneiro para toda a vida, nasceu em 1891. Marceneiro de profissão, tornou-se fadista por vocação e assim ficou conhecido. Tive a felicidade de o ouvir cantar e até, eu miúdo ainda, de o ouvir a falar à volta de uma mesa. Era um homem fascinante, uma voz impressionante e, sobretudo, um sentir especial que transmitia a cantar o seu fado. Até hoje nunca tinha percebido as semelhanças que existem, de facto, entre Camané e Marceneiro - tão distantes no tempo um do outro. Mas ao fazer um disco de homenagem a Alfredo Marceneiro, Camané expôs essa semelhança. E o maior ponto dessa semelhança é na alma, no tal sentir do que se canta. Logo na faixa de entrada, “Cabaré”, Camané canta ao que vem - não é a um despique, é a uma homenagem feita com a voz que faz ouvir o coração. Sou dos que considera Camané o grande fadista português surgido na segunda metade do século XX - para mim não há outro como ele na intensidade, na capacidade de interpretação, na comunicação que estabelece - na emoção que transmite - será isto o Fado? Ouvir estas versões de “Olhos Fatais”, “Ironia”, “Empate Dois a Dois”, “Despedida”, “Lembro-me de Ti” e, sobretudo “O Remorso” é uma experiência extraordinária. Simples mas intenso, criativo mas respeitador, inesperado mas tradicional, Camané fez desta homenagem a Marceneiro o grande disco de Fado dos últimos anos. Destaque ainda para a produção exemplar de José Mário Branco, para a guitarra portuguesa de José Manuel Neto, a viola de Carlos Manuel Proença e o extraordinário trabalho de baixo de Carlos Bica. “Camané Canta Marceneiro”, CD Warner, disponível numa edição especial com CD e DVD ou apenas CD.
VER - Lu Nan, fotógrafo chinês e correspondente da agência fotográfica Magnum mostra no Museu Berardo uma longa marcha, a preto e branco: "Trilogia - Fotografias (1989-2004)" inaugurou esta semana (na imagem) e é uma mostra parcial de um trabalho que Lu Nan realizou ao longo de 15 anos por toda a China. Dividida em três partes a exposição mostra a realidade dos hospitais psiquiátricos da China, segue depois a estrada da fé católica e termina com o dia a dia dos camponeses tibetanos. O curador desta exposição, João Miguel Barros, advogado português apaixonado pela fotografia (e pelos fotógrafos chineses em particular) escreveu que o inferno, o purgatório e o paraíso da "Divina Comédia" de Dante Alighieri não andam muito longe daqui."Lu Nan, Trilogia - Fotografias (1989-2004)" fica no Museu Coleção Berardo, CCB, em Lisboa, até 14 de janeiro, onde podem também ser comprados os três livros que compõem esta Trilogia: The Forgotten People: The Condition of China’s Psychiatric Patients; On The Road: The Catholic Faith in China e Four Seasons: Everyday Life of Tibetan Peasants. Passando para outra sugestão, ainda na fotografia, até 29 de Dezembro pode ser vista na Casa da América Latina uma exposição do trabalho de Daniel Mordzinski que retratou dezenas de escritores ao longo da sua vida. Para mudar de registo o MAAT propõe uma exposição sonora - uma instalação áudio de Bill Fontana, “Shadow Surroundings”, baseada em gravações feitas no ambiente da ponte 25 de Abril.
PROVAR - Nesta altura do ano um fim de semana alargado no Douro é uma coisa verdadeiramente única. Há o Douro, as vinhas de Outono que estão a mudar de côr, as quintas muito bem arranjadas, o acolhimento sempre simpático e descontraído em qualquer lugar. O norte, nessa matéria, é outro campeonato. Um pequeno exemplo: em Tonda, uma freguesia de Tondela, íamos à procura de um restaurante que nos tinham aconselhado, mas, por engano tínhamos antes entrado num pequeno café-restaurante a perguntar se era ali o local que procurávamos - que não, mas sorridentes disseram que este, simples, era melhor. Fugindo da recomendação fomos para o que o acaso nos tinha dado e encontrámos um espaço alegre e familiar onde nos serviram uma vitelinha de Lafões digna de nota - tudo isto se passou n’O Samarras, Rua de Santo Amaro, Tonda. Mas o melhor dos dias estava para vir com a localização, em cima do rio Douro, da Quinta da Ermida, em Baião. Além do alojamento e dos fins de tarde à conversa em torno de um bom verde branco produzido na quinta, os jantares eram de cozinha antiga portuguesa - merece destaque a bôla servida como petisco de entrada, uns belos rissóis de carne , além de um frango do campo com batatas e arroz a trazer memórias de infância. Ali perto, também, ficou na memória A Casa do Almocreve, em Portela do Gôve, que proporcionou um anho extraordinário de tempero e boa confecção. E mal ficaria se não evocasse aqui a prova de vinhos, tão bem explicada, na Quinta de Covela, em S. Tomé de Covelas. Destaque para o Rosé, para o Branco Escolha, e para a descoberta de um branco da casta local avesso, além dos tintos da Quinta das Tecedeiras. Se a tudo isto somarmos uma noite de lua cheia reflectida no Douro ficam com uma boa ideia do que é um belo fim de semana.
DIXIT - “Neste momento os partidos têm todo o poder e os cidadãos nenhum” - Marina Costa Lobo
GOSTO - Segundo um estudo da ACEPI, mais de 91% da população portuguesa vai estar a utilizar a internet até 2025 e 59% farão compras online.
NÃO GOSTO - O consumo de antidepressivos em Portugal duplicou nos últimos quatro anos.
BACK TO BASICS - “Uma boa oportunidade é falhada pela maior parte das pessoas porque aparece vestida de fato macaco e é confundida com trabalho” - Thomas Edison.
(Publicado no Jornal de Negócios, Weekend, de 13 de Outubro de 2017)
(esta imagem é um pormenor da obra "Interdito" da artista plástica Marilá Dardot)
AGORA? - Não tenho a certeza se a avaria política detectada no Domingo passado se resolve com uma simples reparação de motor, recauchutagem de pneu ou mudança de mecânico e condutor. O que aconteceu nestas autárquicas foi o sinal da crise que percorre o sistema político e partidário desenhado em 1974, entretanto desactualizado mas nunca adequadamente ajustado. A avaria maior foi detectada no lado direito do espectro partidário, com o PSD, mas teve também sinais fortes do lado esquerdo, com o PCP. A minha convicção é que este foi o sinal de um problema estrutural irreversível se se mantiver o quadro actual. Soluções antigas dificilmente resolvem problemas novos - como apresentar propostas diferentes de acordo com as questões contemporâneas, de adequar o discurso às novas formas de comunicação, conseguir atrair os eleitores mais jovens. Duvido que formas de organização antigas possam ajudar a solucionar o problema. Se quer sobreviver e ser relevante o PSD necessita urgentemente de criar um novo enquadramento, de analisar como se distanciou do eleitorado, qual a razão que o leva a ser incapaz de mobilizar vontades, cativar independentes e criar propostas fora dos aparelhos partidários. Precisa sobretudo de uma clara definição ideológica e de um posicionamento político que seja mobilizador. Veja-se o que aconteceu em Lisboa: Assunção Cristas conseguiu falar para fora do seu partido, o PSD ficou a falar para dentro (na realidade nem para dentro conseguiu falar) e deixou muitos dos seus eleitores tradicionais fugir. O PSD tem o desafio de voltar a conseguir inserir-se na sociedade, a quem virou costas nos últimos anos. Importa mais saber o que se diz para fora de forma coerente e consistente do que entrar no jogo das habilidades tácticas conjunturais e exercícios de conspirações palacianas. O CDS deu um exemplo de mudança. Será o PSD capaz de fazer o mesmo?
SEMANADA - Em Lisboa Fernando Medina perdeu 3 vereadores e a maioria absoluta; no Porto Rui Moreira obteve maioria absoluta; o PCP perdeu dez câmaras, entre as quais Almada, Barreiro e Beja; a análise dos fluxos de eleitores mostra que os votos das câmaras perdidas pela CDU foram para o PS; a CDU (PCP e PEV) ficou pela primeira vez abaixo do meio milhão de votos em todo o território; nestas autárquicas houve 17 movimentos independentes que ganharam câmaras, contra 13 em 2013; Tino de Rans obteve 6,22% de votos em Penafiel; em 2013 o PAN teve 16 mil votos, Domingo passado chegou praticamente aos 56 mil; 47 câmaras mudaram de côr nestas autárquicas - 16 passaram do PSD para o PS, 12 passaram do PS para o PSD, 9 passaram da CDU para o PS e 2 passaram do PSD para independentes; o PSD, sozinho ou em coligação, nunca tinha obtido tão poucas presidências de câmara desde o início das autárquicas, em 1976; o PS ficou com 159 câmaras, o PSD vai liderar 98; há mais de 40 anos que o PSD não tinha tão poucos votos; Passos Coelho anunciou que não se recandidatará à liderança do PSD; segundo a Marktest, a freguesia de Lamosa (concelho de Sernancelhe, distrito de Viseu) foi a mais participativa neste acto eleitoral pois 90.15% dos 203 inscritos apresentaram-se nas urnas; pelo contrário, a freguesia de Parada do Monte e Cubalhão foi a que registou maior abstenção, tendo votado apenas 29.89% dos 977 inscritos nesta freguesia.
ARCO DA VELHA - O candidato do PCTP/MRPP à Câmara da Moita, Leonel Coelho, prometia uma ruptura com o passado apesar de ter 82 anos - teve 667 votos, mais sete do que há quatro anos.
FOLHEAR - A colecção Livros Amarelos, da editora Guerra & Paz, permite fazer uma leitura paralela de textos de dois autores que por alguma razão têm uma ligação entre si. O novo volume reúne, sob a orientação de Jerónimo Pizarro, a “Saudação a Walt Whitman” de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa e o “Canto A Mim Mesmo” de Walt Whitman. Pizarro escreveu para esta edição curtas biografias de Fernando Pessoa e de Walt Whitman e ainda um ensaio, “Negação e Saudação”, que permite perceber o porquê de juntar os dois textos. Nele Jerónimo Pizarro recorda que o crítico literário norte-americano Harold Bloom escreveu que Fernando Pessoa foi considerado o maior herdeiro português de Whitman e é sugerido que o heterónimo Álvaro de Campos pode ter nascido desse fascínio que Pessoa tinha pela poesia de Walt Whitman e que ”toda a sua produção de 1914-e 1916, e não só, torna-se mais compreensível se a aproximarmos de Whitman”. Os dois poemas que esta edição reúne reforçam a comunhão poética entre os dois autores, e, como Jerónimo Pizarro diz, “vem precisamente convidar-nos a uma leitura dupla, permitindo neste caso revisitar Whitman para reler Pessoa”.
VER - Prossegue o ciclo “British Bar”, uma ideia de Pedro Cabrita Reis que encontra nas três montras do estabelecimento do Cais de Sodré o seu ponto de exposição - peças de artistas plásticos que encaixam nas dimensões das três estreitas montras verticais, obras escolhidas pelo próprio Cabrita Reis - que está sempre presente no animado fim de tarde de apresentação de cada um destes projectos, que depois durante um mês ali estão expostos. Desde esta segunda-feira ali estão peças de Maria José Oliveira (“Macaco Miguel”, na imagem) e dois trabalhos de artistas mais novos - uma peça sem título de João Ferro Martins na montra da esquerda e outra da Fernão Cruz, “Apologizing studio#1”, na montra da direita. Trago mais duas sugestões e ambas partilham de uma mesma nota prévia: apresentadas em galerias privadas, são obras de inegável valor que parecem destinadas apenas a serem compradas por instituições, que as possam albergar nos seus acervos e esporadicamente mostrar. Começo pelo trabalho de Ana Jotta, que está na galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18). Intitulado “fala-só”, trata-se de um trabalho de grandes dimensões, em que o suporte é um rolo de tela que ao ser desenrolado vai mostrando movimentos de figuras humanas traçadas em esboço, que podem ser lidos como momentos da evolução da espécie, evocando quase um storyboard cinematográfico através do desenho afirmativo e forte de Ana Jotta. A outra exposição, que manifestamente só vive de todas as peças e ambientes em conjunto, é da brasileira Marilá Dardot, está na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80) e é uma instalação que evoca a censura sobre a criação literária, a partir de uma lista de 900 livros censurados, proibidos ou apreendidos entre 1933 e 1974 em que uma representação tridimensional do objecto livro convive com a justificação dos censores para as suas proibições.
OUVIR - O trio clássico de jazz - contrabaixo. bateria e piano - é uma das minhas formações preferidas. Para a coisa funcionar é preciso que os intervenientes sejam grandes músicos e, sobretudo, que consigam dialogar entre si e conjugar as suas experiências e vivências musicais. Depois de 30 anos a tocar com Keith Jarrett, com quem gravou duas dezenas de discos no Standards Trio (que incluía o baterista Jack DeJohnette), Gary Peacock decidiu em 2014 criar o seu próprio trio e escolheu o pianista Marc Copland e o baterista Joey Baron. O seu primeiro disco, dessa altura, foi “Now This” e agora saíu novo álbum, “Tangents”. Gary Peacock, agora com 82 anos, tem uma carreira de mais de seis décadas e nos anos 60 tocou com nomes da vanguarda dessa época, como Albert Ayler e Paul Bley. Depois dos anos com Jarrett, Gary Peacock retoma nesta sua nova formação as influências das diversas fases da sua carreira e sente-se que as suas experiências com Ayler deixaram marca que perdurou ao longo de todos estes anos. O novo disco, “Tangents”, tem onze temas: cinco deles são do próprio Gary Peacock, dois de Baron, um de Copland, um outro uma improvisação assinada pelos três músicos e duas versões, ambas fantásticas - “Spartacus” de Alex North e “Blue In Greens” de Miles Davis e Bill Evans. O tema improvisado, “Open Forest”, é um dos momentos altos do disco, assim como a faixa título, “Tangents”, “December Greenwings”, a envolvente faixa de abertura “Contact” ou a energia que passa em “Tempei Tempo”. Este CD é um perfeito exemplo de um trabalho em que os músicos deixam espaço uns para os outros, com longos solos, permitindo que os temas se desenvolvam de forma natural - a experiência de todos os envolvidos subtilmente deixa a música ir para onde ela quer. CD "Tangents", Gary Peacock Trio, edição ECM, na FNAC.
PROVAR - Há já muito tempo que João Portugal Ramos se dedicou a vinhos fora do Alentejo que lhe deu fama. Primeiro, em 2004, chegou à região do Tejo, com o Quinta do Vimioso, depois, em 2007, foi o Douro, com o Duorom e uma parceria com José Maria Soares Franco; no entretanto tinha começado a trabalhar as vinhas da Quinta da Foz do Arouce, na Lousã; e, mais recentemente, entrou no mundo dos vinhos verdes, da região de Monção e Melgaço. É nestes vinhos verdes que me vou focar. O primeiro Alvarinho acompanhado por João Portugal Ramos foi de 2012 e no ano seguinte saíu um Loureiro. Agora, a sua equipa, que inclui a enóloga Antonina Barbosa, apresentou duas novas propostas. A primeira é um Alvarinho Espumante Reserva Bruto Natural, de 2014, o primeiro espumante da sub-região apresentado como um Bruto Natural. Tem bolha fina e persistente e um longo final, marcado pela mineralidade do Alvarinho. A outra novidade é o Alvarinho Reserva 2015 que mantém a mineralidade, pontuado por um toque de madeira e notas frutadas, com um longo final - um vinho branco surpreendente. Aproveitem estes dias quentes, convidativos para um fim de tarde na companhia de qualquer destes vinhos.
DIXIT - “Não gostei da vitória esmagadora de Fernando Medina. Os lisboetas, como eu, sabem que não merecia. “Alindar” a cidade não é o que se pede ao Presidente da CML – e sentindo que todos os dias mais lisboetas são literalmente expulsos da cidade para os subúrbios, e que a cidade vive um caos que resulta das (erradas) prioridades da Câmara, esperava uma vitória ligeira, que lhe reconhecesse algum talento mas o obrigasse a ouvir quem vive na capital.” - Pedro Rolo Duarte
GOSTO - O MAAT teve mais de meio milhão de visitantes no primeiro ano de existência, que se completou esta semana.
NÃO GOSTO - A dívida pública ultrapassou os 250 mil milhões de euros.
BACK TO BASICS - “Um fanático é alguém que não muda de opinião, nem muda de assunto” - Winston Churchill.
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