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PULHICE - Quase metade dos portugueses abstém-se nas eleições e a percentagem é maior ainda entre os que têm menos de 35 anos. Isto quer dizer que praticamente metade da população - 43,07% nas mais recentes legislativas - não quis eleger deputados, não confia nos políticos e nos partidos onde se organizaram. E que fazem os partidos, os deputados eleitos por metade da população e os seus dirigentes? Em vez de procurarem conquistar a confiança e mostrarem-se como exemplo de probidade, revelam-se um exemplo de dissimulação e aldrabice. O que se passou com o processo da nova Lei de Financiamento dos Partidos é a demonstração clara da pouca vergonha instalada na Assembleia da República. O funcionamento do regime  não é barato - e o que está aqui em causa não é o custo financeiro da democracia e do funcionamento do sistema, o que está em causa é a ética política e sobretudo a maioria dos partidos não querer fazer de todos nós parvos. Na Assembleia da República PS, PSD, PCP, Verdes e Bloco de Esquerda organizaram-se numa conspiração de silêncio, reunindo à porta fechada, sem divulgação de agenda, escondidos dos jornalistas acreditados no Parlamento, sem sequer redigirem actas do que se passava nas reuniões. A coisa é de tal modo que agora não se sabe quem propôs o quê nas alterações verificadas ao financiamento dos partidos. Quando chegou a hora da votação apenas o CDS e o PAN votaram contra a conspiração. A frente única da aldrabice aprovou a lei. Até o líder da Comissão de Transparência da Assembleia da República não foi informado do que se passava, tão pouco o presidente da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, muito menos o Presidente da República. Fixem o nome dos actuais líderes parlamentares dos partidos - eles são os primeiros responsáveis por este golpe do baú. Haverá melhor retrato da degeneração do sistema político do que este?

 

SEMANADA - A Câmara Municipal de Lisboa, através da EGEAC, comprou 30 mil cartolas vermelhas e pretas por 57 mil euros para oferecer aos espectadores da passagem do ano no Terreiro do Paço; as festas de fim de ano em Lisboa vão custar 650 mil euros, igualmente suportados pela EGEAC, que vive essencialmente das receitas geradas pelos visitantes do Castelo de S. Jorge; a esquadra de Arroios, em Lisboa, foi encerrada entre 22 de Dezembro e 2 de Janeiro por falta de agentes - indica um aviso afixado na porta das instalações; Bragança e Beja são os dois distritos que captaram maior números de imigrantes estrangeiros entre 2008 e 2016; os estudantes estrangeiros no Instituto Politécnico de Bragança têm um impacto anual de 12,3 milhões de euros na economia local; o investimento estrangeiro em Portugal no primeiro semestre de 2017 foi de 119 mil milhões de euros; o número de alunos do ensino superior a estudarem para serem professores  é o mais baixo dos últimos 20 anos; em novembro 44% das páginas dos sites auditados pela Marktest foram acedidas através de equipamentos móveis; segundo o estudo Os Portugueses e as Redes Sociais, também da Marktest,  39% dos utilizadores de redes sociais leem comentários de consumidores sobre produtos/serviços antes de comprar; familiares de Miguel Frasquilho, ex-secretário de Estado do Tesouro e Finanças e ex deputado do PSD, terão recebido transferências de uma conta na Suíça, detida pela Espírito Santo Enterprises.

 

ARCO DA VELHA - Apesar de viver em Lisboa com o ministro Vieira da Silva, desde 2009, a deputada Sónia Fertuzinhos continua a receber, todos os meses, do Parlamento, mais de mil euros de subsídio de deslocação para Guimarães.

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FOLHEAR - Desde 2015 a revista “Monocle” edita em dezembro uma publicação intitulada “Forecast”, que pretende apontar as principais tendências para o ano seguinte. Na edição deste ano recomenda-se a leitura de um ensaio de David Milliband, ex-responsável pela política externa do Reino Unido, onde defende que a globalização é perseguida à esquerda por ser inimiga da igualdade e  perseguida à direita por ser terreno da contestação à ordem estabelecida. Um dos fenómenos da crise actual da globalização, segundo Milliband, vem do facto de a economia e a política, que durante muito tempo se entenderam, estarem agora em divergência de forma acentuada. É uma visão interessante da crise mundial. A revista aborda ainda a importância de ter nas cidades locais confortáveis para pessoas de idade, com comércio de rua e zonas que incentivem que os residentes mais velhos façam parte da comunidade e participem nela - aqui está um bom lembrete para os responsáveis por Lisboa, que preferem atirar os mais velhos para fora da cidade e das zonas onde sempre viveram. Já agora, a ler a Forecast descobriu que a nova exportação suíça são camarões, que começaram a ser produzidos em grande quantidade no país para serem exportados para toda a Europa. Para rematar uma visão imperdível sobre aquilo que faz da Holanda um país especial: “se não fossemos criativos, estávamos condenados a viver abaixo do nível do mar e a ficarmos afogados” - diz um dos entrevistados.

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VER -  Finalmente consegui ir à Bienal de Coimbra, que encerra já no último dia do ano depois de ter inaugurado a 11 de Novembro. Trata-se da segunda edição desta segunda Bienal de Arte Contemporânea, esta dedicada ao tema “Curar e Reparar”. A iniciativa representa um assinalável esforço da cidade e da região Centro para estabelecer uma mostra internacional de tendências, em muitos casos com obras feitas expressamente para os locais onde são exibidas - e várias delas claramente efémeras como a própria Bienal. O espaço magnífico do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova é aquele onde melhor foi conseguida a materialização do conceito fundador deste ano e onde estão claramente as mais conseguidas obras inéditas e também as apresentações de obras de criadores estrangeiros aqui mostradas pela primeira vez em Portugal. O efeito conseguido neste antigo Mosteiro, que na maior parte do século XX albergou um quartel e é hoje ainda propriedade militar, abandonada e decadente,é verdadeiramernte impressionante. Destaco os trabalhos de Fernanda Fragateiro, Francis Alys, James Lee Byars, Julião Sarmento e William Kentridge, que aliás proporciona um final telúrico do percurso do Mosteiro.Depois disso é muito difícil encontrar paralelos com as exposições apresentadas nos outros seis locais da Bienal - algumas pretensiosas e vazias, outras falhadas, outras ainda desnecessariamente a procurarem justificativos ideológicos que sustentem uma prestação plástica medíocre. A curadoria foi de Delfim Sardo com Luiza Teixeira de Freitas.

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OUVIR - A primeira metade da década de 60 foi a época de ouro da aproximação do saxofonista Stan Getz à música brasileira. São os anos Bossa Nova, durante os quais ele lançou cinco álbuns agora reunidos numa caixa, pela prestigiada editora Verve, para quem estas preciosidades foram gravadas. E quais são esses álbuns? Comecemos por “Big Band Bossa Nova”, com arranjos de Gary MacFarland, onde se destacam interpretações instrumentais de temas como Melancolico, Chega de Saudade, e Samba de Uma Nota Só.  Em 1962 Getz junta-se ao guitarrista Charlie Byrd e edita “Jazz Samba”, onde se destacam temas como Desafinado, O Pato e Baía. Pouco tempo depois surge “Jazz Samba Encore”, já com participações de Luiz Bonfa e Maria Toledo que cantam Só Danço Samba, Insensatez ou Saudade Vem Correndo. Depois  Stan Getz e o guitarrista Laurindo Almeida na guitarra fazem um disco pouco conhecido que explora novos caminhos no cruzamento entre o saxofonone e a guitarra. E por fim, a jóia da coroa desta colecção surge quando Stan Getz se junta a João Gilberto, com a participação de Antonio Carlos Jobim, no LP “The Girl From Ipanema”, onde além do tema título se destacam  Desafinado, Corcovado, O Grande Amor e Vivo Sonhando. Para além desta caixa de CD’s “Stan Getz - Bossa Nova Years”, a Verve lançou também   “The Divine Miss Dinah Washington”  e  “Classic Lady Day”, de Billie Holiday, ambas igualmente reproduzindo cinco LP´s originais.


PROVAR - O panorama gastronómico em Lisboa andou morno este ano e a coisa resume-se assim: alguns bons restaurantes, na comida, serviço e ambiente, degradaram-se em relação aos seus clientes habituais e esmeram-se em relação aos visitantes estrangeiros.  A falta de mão de obra qualificada começa a fazer-se sentir nos estabelecimentos de maior prestígio, onde a rotação de colaboradores é cada vez mais visível. Sobretudo nos restaurantes localizados nas zonas mais turísticas o cliente nacional é tratado pelos empregados de mesa da mesma forma que os taxistas tratam um cidadão português à chegada ao  aeroporto. Claro que há excepções, mas elas são reduzidas e pouco frequentes entre os chamados chefs da moda, uma raça que começa a ser uma praga e a quem é permitido o que não se tolera a um empregado de balcão de uma tasca de bairro. No fundo tudo isto radica numa certeza, que é a galinha de ovos de oiro dos novos grupos empresariais da restauração: os clientes portugueses são uns chatos que aparecem eventualmente várias vezes ao ano se se sentirem bem tratados e os estrangeiros muito raramente repetem a visita; os primeiros não gastam muito e torcem o nariz aos preços dos vinhos e de fantasias culinárias, os segundos não se queixam dos preços e sorriem pasmados. A variedade fast food dos novos chefs é a mais recente praga - depois de anos a fazerem menus degustação muitas vezes insuportáveis, dedicam-se agora a uma variedade de comida rápida feita com menos regras e preceitos que os existentes em qualquer McDonald’s. Depois das estrelas Michelin o batalhão dos chefs de aviário entrou no campeonato dos food corners, como o que agora abriu no El Corte Inglés de Lisboa, Resta a consolação de bons restaurantes por enquanto ainda fora de zonas turísticas e das tascas dedicadas à cozinha popular.

 

DIXIT - “Sou uma lobista social; se eu quisesse estar na política já estaria” - Paula Brito e Costa

 

GOSTO - Da forma como Marcelo Rebelo de Sousa mostrou ao longo do ano como se pode estar de forma diferente no mais alto cargo político do país, a dar exemplos ao resto dos políticos.

 

NÃO GOSTO - Vários jogadores da equipa de futebol do Rio Ave estão a ser investigados por suspeita de viciação de resultados, levando a sua equipa a perder.

 

BACK TO BASICS - “O género humano não pode suportar muita realidade” - T. S.  Eliott

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publicado às 13:30

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MUDANÇA - Os millennials estão agora a fazer 27 anos. A maioria já terá terminado os seus estudos, a maioria já começou a vida profissional. É uma geração completamente diferente das anteriores - desde logo porque cresceu num mundo já digital. Os seus hábitos e percepções são completamente diferentes daqueles que, por exemplo, nasceram em finais dos anos 60. Os millennials já passaram por crises económicas globais, por acontecimentos terríveis como o 11 de Setembro, cresceram a ouvir falar da Al-Qaeda e do daesh e a ver aquilo de que os fanáticos são capazes; viajam mais que os seus antecessores, muitos aproveitaram programas como o Erasmus; cedo descobriram que já não há empregos para a vida e, aparentemente, muitos nem os querem; são críticos em relação aos sistemas políticos vigentes, olham com desconfiança para os políticos e partidos tradicionais; a maneira como recebem informação não tem a ver com o que se passava antes - a maioria não vê televisão da forma tradicional, preferindo escolher em cada altura o que querem ver e não o que os canais lhes estão a oferecer, ouvem música em streaming, mais do que rádio e lêem notícias em ecrã mais do que papel. Acreditam menos no que lhes dizem. Daqui a dez - quinze anos vão ser eles a estar à frente das escolas, dos hospitais, das autarquias e dos governos. Em 2030, quando estiverem a entrar nos “quarentas”, o mundo será deles, e têm menos medo de provocar mudanças que os seus antecessores: habituaram-se desde muito cedo a mudar de rotinas todos os dias, a aceitar novos hábitos, a experimentar novas descobertas.

 

SEMANADA - A Taxa de Protecção Civil que Medina inventou na Câmara Municipal de Lisboa foi declarada inconstitucional e a autarquia vai ter que devolver os 58 milhões que abusivamente tirou aos munícipes; andar de bicicleta eléctrica em Lisboa é mais caro que em Paris - deve ser por causa das sete colinas; o Tribunal de Contas voltou a afirmar que a actuação da máquina fiscal nos processos de penhora atropela os direitos dos contribuintes e uma recomendação feita há seis anos continua sem ser cumprida; o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras deu visto a estrangeiro, um cidadão paquistanês,  proibido de entrar na União Europeia; as vendas de carros eléctricos em Portugal mais que duplicaram em 2017; o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, um projecto de Luis Pedro Silva,  foi distinguido com o galardão de «Edifício do Ano 2017» pelo website «ArchDaily» e estabeleceu novo recorde este ano ao receber 100 cruzeiros e quase 100 mil passageiros ; a exportação de bicicletas fabricadas em Portugal aumentou 58% nos últimos quatro anos; Portugal está no Top 3 de dadores de orgãos e em sexto lugar em número de transplantes realizados; um em cada oito portugueses em idade activa trabalha na Função Pública; em 2016 a emigração atingiu o valor mais baixo dos últimos cinco anos e Reino Unido, França e Suiça continuam a ser os destinos preferidos dos portugueses; a antiga ministra da educação no governo de José Sócrates,  Maria de Lurdes Rodrigues, foi avaliada com “Inadequado” como professora do ISCTE.

 

ARCO DA VELHA - Apesar de o excesso de peso e obesidade atingir cerca de 30% das crianças, as escolas estão a oferecer menos actividades físicas aos alunos; 60% das crianças portuguesas passa cerca de uma hora por dia em jogos electrónicos, no computador ou em consolas.

 

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FOLHEAR - Francisco Lopes Ribeiro foi autor, encenador, realizador e actor. Distinguiu-se em todas estas actividades e tornou-se conhecido com o nome Ribeirinho. A dupla criativa que fez com o seu irmão, António Lopes Ribeiro, foi responsável por alguns dos maiores êxitos do cinema português. Mas Ribeirinho era também um homem de teatro, um descobridor de talentos que ajudou ao lançamento de nomes como Ruy de Carvalho, Canto e Castro ou Francisco Nicholson. No palco tem a sua carreira ligada ao Teatro da Trindade, onde participou em numerosas produções, nas suas várias vertentes profissionais, incluindo na encenação da estreia de “À Espera de Godot”, de Samuel Beckett. Por iniciativa do Inatel, que gere o Teatro da Trindade, foi agora editada uma biografia de Ribeirinho, “O Instinto do Teatro”, onde se percorrem  as diversas fases da sua carreira, desde o teatro de revista à companhia do Teatro do Povo - uma criação de António Ferro no Secretariado da Propaganda Nacional e, mais tarde, o Teatro Nacional Popular, que estava residente no Teatro da Trindade. Da autoria de Ana Sofia Patrão, esta biografia de Ribeirinho mostra o percurso de Ribeirinho através dos géneros em que teve presença mais assídua e dos projectos mais relevantes que desenvolveu, mostrando também a sua relação com as instituições, o poder político, a sociedade. Profusamente ilustrada com muitas imagens e documentação da época, “O Instinto do Teatro” é uma edição da Guerra & Paz.

 

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VER - Há muito tempo que não via um filme tão perturbante e que me fizesse tanto pensar como “O Quadrado”; e há muito tempo que não via, também, um filme onde me divertisse tanto como neste. Trata-se de uma sátira aos equívocos que podem nascer de uma visão bizarra e disfuncional da arte contemporânea. O filme está centrado num Museu de Arte Contemporânea que remove uma estátua clássica para colocar uma instalação moderna, quadrangular, que pretende representar um espaço de utopia onde o respeito mútuo e a responsabilidade individual devem coexistir. O curador do museu, um profissional de sucesso, é assaltado num páteo, ele próprio quadrado, e esse assalto, onde fica sem carteira, telemóvel e botões de punho, desencadeia uma sucessão de acontecimentos para recuperar os objectos furtados que mostra as tensões entre segmentos da sociedade, as contradições entre o que se diz e o que se faz, evidencia preconceitos racistas e acaba por desencadear uma tragédia. A espiral em que o curador do museu se envolve por questões relacionadas com o roubo acaba por influenciar o seu trabalho, nomeadamente o seu julgamento nas acções de comunicação propostas para divulgar a instação do quadrado - uma estratégia baseada nas redes sociais, chocante e polémica, evidenciando uma vez mais as profundas clivagens e preconceitos que coexistem numa sociedade moderna. Entre o seu conflito pessoal e o conflito gerado pela provocação encenada na comunicação, e que o leva a ter que se demitir, há a criação de um clima de tensão permanente, cruzado com diálogos quase surreais e que, mais tarde, culminam num momento crucial que é a montra do paradoxo criado em algumas instituições: os mecenas do museu, num jantar de gala, são surpreendidos por uma performance que pretende mostrar o evolucionismo - até ao ponto em que, na evolução do macaco, o homem perde o controlo de si próprio e do meio em que está inserido, chocando quem aceita de forma passiva o que lhe dão. No fundo é este o tema do filme.

 

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OUVIR - João Braga começou cedo a cantar Fado, mas a sua vida vai muito para além disso. Foi um dos elementos da equipa fundadora do I Festival de Jazz de Cascais em 1971 e foi também fundador e director da revista Musicalíssimo. E, claro, é fadista - na minha opinião dos nossos melhores. Cantou Marceneiro, Pessoa, Amália, Manuel Alegre. Foi dos que se empenharam em estimular uma geração de novos intérpretes, como Maria Ana Bobone, Ana Sofia Varela, Mafalda Arnauth, Nuno Guerreiro, Cristina Branco, Ana Moura e Mariza no início das suas carreiras, dando-lhes palco a seu lado. Partilhou conhecimento e fama, não quis ser endeusado como outros nem se põe em bicos de pés em filmes manhosos. Vem isto a propósito de um novo disco, “Outrora, Agora”, que agrupa uma série de gravações originais de 1980, que ainda não tinham sido editadas, e outras gravadas há poucos meses. As cinco gravações  de 1980 interpretam todas fados escritos por João Ferreira Rosa, e neles João Braga é acompanhado por Fontes Rocha, António Luiz Gomes e Joel Pina, entre outros. As novas gravações, sete fados, incluem originais de nomes como José Afonso (Maria), Manuel Alegre (Palavras Não Eram Ditas, Rua dos Correeiros e Senhora Não Vás Ao Rio), do próprio João Braga, de Tiago Torres da Silva e Maria Manuel Cid. Estas novas gravações tiveram guitarras de Pedro de Castro e Luis Guerreiro. O contraste entre as duas épocas - 1980 e este ano - separadas por três décadas e meia, é muito interessante, quer a nível do conceito dos arranjos, quer da própria voz de João Braga. Nas gravações novas destaco Maria e Senhora Não Vás ao Rio, nas antigas Fado Triste, Triste Fado e Naufrágio de Nós Dois.  

 

PROVAR - Antes de ter ido aos Açores já eu era fã dos seus produtos - nomeadamente do incontornável queijo. Mas quando lá cheguei descobri um mundo novo e inesperado - desde a  carne saborosíssima, à variedade e inovação das conservas, passando por manteigas excepcionais como A Rainha do Pico, e, surpresa, vinhos de uma qualidade inesperada. Nos últimos anos têm aberto diversas lojas dedicadas aos produtos do arquipélago e bem recentemente descobri uma com uma oferta de produtos acima do que é habitual. É a Companhia dos Açores e fica na Avenida Defensores de Chaves 59. Ali estão disponíveis uma série de produtos da empresa Quinta dos Açores, desde carnes frescas e congeladas até iogurtes e gelados da mesma marca. Claro que a oferta de queijos é grande, mas também a dos célebres enchidos dos Açores que são utilizados no cozido das Furnas. A loja propõe ainda cervejas, licores, aguardentes e sobretudo vários vinhos brancos da ilha do Pico - que tem vinhas vinhas desde o século XV. Hoje em dia o destaque vai para o Verdelho e o Terrantez, ambos produzidos por António Maçanita na Azores Wine Company, e o Frei Gigante e o Espalamaca da Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico. Mas além disto há biscoitos, compotas e geleias feitas com frutas da região, e, como não podia deixar de ser, várias variedades de chá. Nas conservas destaque para as lapas ao natural da Azor Concha e para as variedades temperadas (nomeadamente a de caril) do atum Santa Catarina. Resta dizer que quem quiser um prenda diferente pode ali ainda encontrar cabazes de Natal feitos ao gosto de cada um.

 

DIXIT - “Se cobrar foi fácil, devolver também tem de ser” - Diogo Moura, a propósito da Taxa Municipal de Protecção Civil aplicada em Lisboa.

 

GOSTO - O serviço de streaming musical Spotify passou a disponibilizar este mês o catálogo de jazz da prestigiada editora ECM, assim como a discografia integral de Neil Young.

 

NÃO GOSTO - A GNR detectou este ano oito mil condutores recém encartados com nível de álcool acima da lei.

 

BACK TO BASICS -  Os perus não votam a favor do Natal.

 

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SOBRE O PÂNTANO E A PEÇONHA

por falcao, em 15.12.17

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PÂNTANO  - Esta semana soube-se que o PS decidiu excluir José Sócrates das comemorações do décimo aniversário da aprovação do Tratado de Lisboa. Há dez anos essa cimeira acabou com o ex-Primeiro Ministro a dar uma palmada nas costas de Durão Barroso, então Presidente da Comissão Europeia, e a dizer-lhe ”porreiro, pá” uma vez assinado o acordo, que aliás se veio a revelar essencialmente inútil. Mas há que reconhecer que o excluído está muito bem representado nestas comemorações: Vieira da Silva, um dos homens que participava nos almoços intímos de Sócrates, e Santos Silva, seu terrorista verbal de serviço, lá estarão na bancada do Governo, mostrando como o pantanal socrático perdura, em cargos de destaque, no PS de António Costa e que, como por estes dias se viu, continua com duvidosos métodos. A propósito do caso Raríssimas estes dois nomes socráticos deram que falar: Vieira da Silva por se ter prestado a dar o nome para a instituição agora investigada, aceitando ser vice presidente da Assembleia Geral da Raríssimas e jurando agora não saber o que lá se passava - certamente da mesma forma como nunca percebeu o que Sócrates ía fazendo; e Santos Silva, retomando os seus melhores tempos de aprendiz de rotweiller, a classificar como “razões pessoais” aquilo que levou o secretário de estado da saúde, Manuel Delgado, a sair do governo: as razões pessoais, tirando incidentes laterais, são os 63 mil euros e viagens recebidos enquanto consultor da instituição, para a qual foi convidado pela presidente agora investigada. Paula Brito Costa, convidou-o por, nas suas próprias palavras citadas pela imprensa, ele ser um homem do PS bem colocado na área da saúde. O que esta semana mostrou, em relação ao PS, é que ou Costa acaba com a peçonha ou a peçonha acaba com ele.

 

SEMANADA - A despesa das famílias portuguesas em cultura afundou mais de 21% em cinco anos; na última década o ensino público perdeu 127 mil alunos; o número de alunos do pré escolar tem vindo a diminuir nos últimos quatro anos em termos percentuais face à população dos quatro e cinco anos de idade; os bancos emprestaram mais de 3,4 mil milhões de euros para crédito ao consumo nos primeiros dez meses do ano, o maior valor desde há uma década; os novos créditos à habitação concedidos em Outubro significam um aumento de 54,8% face ao mesmo período do ano passado; a produção industrial aumentou em outubro na zona euro e União Europeia face ao mês homólogo, mas recuou na comparação com setembro, tendo Portugal registado a segunda maior quebra mensal; a dívida dos hospitais públicos a fornecedores já atingiu 1090 milhões de euros; metade dos jovens médicos admite emigrar depois de ter obtido a especialidade em Portugal; a legionella foi responsável pela morte de 40 pessoas em Portugal nos últimos quatro anos; Rui Rio declarou-se indisponível para fazer debates com Santana Lopes nas três televisões generalistas;  a tv por cabo já chega a 92% das famílias portuguesas; ocorreu esta semana a sexta remodelação governamental;  em dois anos Costa já teve 14 baixas no Governo desde que a Frente de Esquerda chegou ao poder; em Seia um homem tentou vender a um GNR a fotocópia de uma cautela da Lotaria de Natal como se fosse verdadeira.

 

ARCO DA VELHA - O Ministro Vieira da Silva mandou agora auditar as contas da Raríssimas, exactamente as mesmas que ele próprio aprovou numa Assembleia Geral da instituição antes de ir para o Governo. E o ex-tesoureiro da Raríssimas revelou que o ministro da Segurança Social não lhe respondeu a denúncias que lhe enviou em setembro.

 

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FOLHEAR - Todos os anos a editora Guerra & Paz tem lançado por esta altura edições especiais, os chamados “beaux livres”, como o editor Manuel S. Fonseca gosta de se lhes referir. Estas obras constituem a colecção “Três Sinais”,  onde se combina um lado artesanal com um design gráfico contemporâneo. “O Físico Prodigioso”, que dá corpo à edição deste ano, é um texto de Jorge de Sena, publicado pela primeira vez em 1966 na colectânea de contos do escritor intitulada “Novas Andanças do Demónio”. “O Físico Prodigioso” pode ser, como o próprio Jorge de Sena explicava, um médico ou mágico medieval, imaginado  pelo escritor quando vivia no Brasil em 1964, como símbolo da liberdade e do amor. Eugénio Melo e Castro, que incluíu o texto em “Antologia do Conto Fantástico Português”, de 1974, considerava “O Físico Prodigioso” como “um modelo superlativo do conto fantástico” . Nas notas introdutórias que escreveu em 1977 para uma nova edição, Jorge de Sena faz notar que “O Físico Prodigioso” não é uma escrita clássica, antes preferindo “o experimentalismo narrativo, jogando com o espaço, o tempo, a repetição variada do texto”. A nova edição inclui um conjunto de 21 ilustrações inéditas feitas propositadamente para esta obra por Mariana Viana, uma capa articulada, dourada, e acabamento com faces do miolo pintadas à mão. O grafismo é de Ilídio Viana, foram feitos 1500 exemplares numerados. O editor refere que esta foi “a forma que a Guerra e Paz encontrou para , num tempo de mudança de paradigma do livro, reforçar a singularidade de uma obra de conteúdo audacioso e perturbador”.  Se está à procura de uma prenda de Natal que não se desvaneça no tempo, esta é uma boa ideia.

 

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VER - Pode uma só obra justificar uma exposição? A resposta é sim e remete para “Eco”, o trabalho de Rui Sanches, apresentado no Projecto Travessa da Ermida (Travessa do Mata Pinto 21) até 31 de Dezembro. A partir de um texto de Ovídio, o artista revisita o significado do que pode ser o eco e sugere uma sua tradução espacial (na imagem). Mudando completamente de registo, vale a pena ir nestes próximos dias - até Domingo 17 -  ver a peça “Nathan, O Sábio” ao  Teatro Municipal Joaquim Benite, em  Almada - um texto de Gotthold Ephraim Lessing, que aborda a relação entre religiões, mais precisamente a tolerância numa cidade, simbolicamente Jerusalém, onde muçulmanos, judeus e cristãos se cruzam. A peça, numa tradução de Yvette Centeno, é apresentada pela primeira vez em Portugal, com encenação de Rodrigo Francisco, cenários de Pedro Calapez e  figurinos de António Lagarto, um conjunto coerente, particularmente bem pensado para a peça, cuja acção decorre no século XII mas que, com a envolvente cenográfica criada, ganha uma dimensão de intemporalidade - ou, mais precisamente de uma actualidade particularmente relevante. Outras sugestões: a partir deste fim de semana as obras de José Pedro Croft que representaram Portugal na Bienal de Veneza, vão estar expostas no espaço da Real Vinícola em Matosinhos; “Na Penumbra” é o título do conjunto de fotografias de Augusto Brázio patentes na Galeria das Salgadeiras, Rua da Atalaia 12, no Bairro Alto; e finalmente a ExperimentaDesign, pela mão da sua fundadora Guta Moura Guedes, inaugurou um espaço próprio, a Lisbon Gallery, inteiramente dedicado à arquitectura e ao design, com peças de Amanda Levete, Fernando Brízio, Jasper Morrison, Michael Anastassiades e Miguel Vieira Baptista, entre outros.

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OUVIR - Entre 1966 e 1968 Amália Rodrigues fez várias sessões de gravação com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery. Dessas sessões saíram alguns discos, entre os quais um registo de referência da carreira da fadista, o LP “Vou Dar de Beber à Dor”. Agora, pela primeira vez, são disponibilizadas numa única edição discográfica todas as sessões gravadas nesse período de tempo. Numa nova edição feita a partir de um cuidado trabalho de pesquisa nos arquivos da Valentim de Carvalho reúnem-se três CD’s com 81 registos de quase outros tantos temas, nas diversas versões que foram sendo registadas em estúdio. O primeiro disco reproduz o original LP “Fados 67”, o álbum da Amália que incluía maior número de fados tradicionais. No segundo disco estão outros fados tradicionais e algum repertório internacional que então Amália costumava cantar nas suas digressões, sobretudo em França. Finalmente o terceiro disco tem várias versões inéditas de gravações conhecidas. ensaios de estúdio e outros registos, hoje raros, que foram originalmente editados em EP’s. Não só a qualidade e variedade do repertório é assinalável, como aqui se encontram as primeiras gravações de Amália em captação estereofónica. Além disso, durante o período de tempo em que estas gravações foram feitas, a voz de Amália estava num período excepcional - há mesmo quem diga que foi o seu melhor momento. Destaque ainda para os textos de enquadramento de Frederico Santiago (o responsável pelo trabalho de pesquisa nos arquivos da Valentim de Carvalho) e para um notável ensaio de Nuno Vieira de Almeida, “Amália - Algumas razões para a amar”. “Fados 67”, triplo CD, edição Valentim de Carvalho.


PROVAR - Construído nos anos 90 do século passado na Doca do Bom Sucesso, em Belém, o restaurante “Vela Latina” impôs-se ao longo dos anos como uma referência da restauração lisboeta. Era um local clássico, com boa comida  e uma garrafeira com vinhos muito acima da média. O restaurante tinha um bar, quando se subiam as escadas, antes de entrar na sala principal, e em baixo tinha uma sala privada para um grupo pequeno, que continua a existir.  A meio deste ano sofreu obras profundas e o bar passou a ser uma sala dedicada ao cruzamento das cozinhas do Japão e do Peru. O restaurante antigo foi todo redecorado, mas a lista mantém-se com bons clássicos que fizeram a fama da casa, como os filetes de pescada com arroz de berbigão e salsa, os rolinhos de linguados com gambas, ou os fígados de aves em tarte de maçã. Nesta primeira visita as atenções foram para o antigo bar, agora Nikkei, o espaço de fusão entre oriente e América Latina, que foi roubar o seu nome ao índice da Bolsa de Tóquio. A boa influência peruana faz-se notar nas sugestões de ceviche que contrastam- e completam bem - as variedades de sushi. Em qualquer caso a qualidade do peixe é impecável, assim como o seu corte, tal como o preparo do arroz, o ponto decisivo para aferir a honestidade do sushi. A lista de vinhos do Nikkei tem propostas diversificadas, muito pensada em função da comida que serve, sobretudo nos brancos. Nas sobremesas aparecem surpresas como churros, servidos com molho de chocolate derretido. O ambiente é simpático, o serviço é atencioso. Um dia destes regresso à sala grande para ver como se comportam os clássicos… Nikkei, Doca do Bom Sucesso, telefone 213 017 118.

 

DIXIT - “O que é o presidente do Eurogrupo? É um presidente de porra nenhuma” - António Lobo Xavier, na “Quadratura do Círculo”

 

GOSTO - “Fátima” de João Canijo foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Roterdão, na Holanda, a realizar em janeiro do próximo ano.

 

NÃO GOSTO - Em outubro as importações cresceram duas vezes mais que as exportações.

 

BACK TO BASICS -  “Insanidade é continuar a fazer a mesma coisa e esperar obter resultados diferentes” - Albert Einstein.

 

 





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MUDANÇAS - Na vida muito pouca coisa é a preto e branco e cada vez há menos certezas e mais dúvidas e questões. O ritmo das alterações nos padrões de comportamento e de consumo evoluiu à  velocidade com que a tecnologia avançou. Vamos com 17 anos deste século. Quem nasceu em 2000 viveu sempre numa sociedade digital. Quem nasceu em 2000 já vai poder votar nas próximas legislativas com base numa lei que nessa altura fará 45 anos. Como mudou o mundo e o país nestes 45 anos? Que hábitos têm agora os cidadãos com 18 anos, comparados com aqueles que nasceram em 1956 e tinham 18 anos em 1974? As diferenças são enormes. Para além de terem crescido em sociedades radicalmente diferentes, as suas experiências pouco têm em comum. Em 1974 era pouco frequente ir estudar para o estrangeiro e a participação numa guerra era um espectro que pesava nos adolescentes; agora o programa Erasmus e outros semelhantes proporcionam a um número enorme de jovens o conhecimento de outras culturas e outros hábitos. Viajar tornou-se quase uma banalidade. Ninguém espera pelos telejornais ou os noticiários da rádio para saber notícias e a imprensa parece uma extravagância. Temos um país diferente e os jovens que começam a sua vida profissional têm objectivos diferentes. Sabem que não terão um emprego para toda a vida, têm uma mobilidade maior e muitos um futuro mais sombrio. O principal problema de quem fôr Governo é garantir que a geração que vai votar daqui a pouco não se desilude com o sistema e com o país. E para isso vamos todos ter que mudar muito, a começar pelos políticos.

 

SEMANADA - As casas de apostas online registaram 258 mil novos jogadores desde o início do ano; as vendas de carros aumentaram 8,4% até Novembro, em comparação com o mesmo período do ano passado; nos primeiros onze meses do ano registaram-se 118 mil acidentes rodoviários que provocaram mais 53 mortos e 2000 feridos que no ano passado; os prejuízos causados pelos incêndios na região centro provocaram prejuízos da ordem dos mil milhões de euros; uma avaliação internacional indica que os alunos do 4º ano em Portugal registam piores resultados na leitura e compreensão da escrita e Portugal ocupa agora o 30º lugar de uma lista de 50, tendo piorado relativamente há cinco anos atrás; o Centro de reabilitação do Alcoitão fechou 32 camas por falta de médicos; um quarto dos hospitais públicos ultrapassa o limite de partos por cesariana fixados pelo governo; o ex Ministro da Cultura socialista Manuel Maria Carrilho afirmou em tribunal ser ele a vítima de violência doméstica praticada pela sua ex mulher Bárbara Guimarães; os juízes do Tribunal da Relação do Porto Joaquim Neto de Moura e Maria Luísa Arantes vão ser alvo de processo disciplinar devido ao acórdão que desvaloriza a violência doméstica; as vendas de chocolate em Portugal vão ultrapassar os 200 milhões de euros este ano, devendo ficar cerca de 5% acima de 2016.

 

ARCO DA  VELHA - A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou, por unanimidade, uma verba de um milhão de euros por ano destinada a pagar a assessores e secretariado dos diversos partidos, numa assembleia que não tem deputados a tempo inteiro e onde havia deputados que eram assessores deles próprios para assim receberem uma remuneração.

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FOLHEAR - Uma nova colecção de livros dedicada à fotografia é sempre uma boa notícia. Por iniciativa da Imprensa Nacional, e sob orientação de Cláudio Garrudo, nasceu agora a série Ph. , dedicada à fotografia portuguesa contemporânea. A ideia é editar dois volumes por ano, que têm um preço de 19 euros, acessível para um livro de fotografia com a qualidade de impressão que este tem. O primeiro volume é dedicado à obra de Jorge Molder, um dos nomes mais importantes da fotografia portuguesa, que já foi artista convidado da Bienal de São Paulo em 1994 e representou Portugal na Bienal de Veneza de 1999. Cláudio Garrudo, coordenador da colecção Ph., esteve durante meses a trabalhar com Jorge Molder, escolhendo um conjunto de imagens, algumas nunca expostas ou reproduzidas. Molder fez a sua primeira exposição em 1977 - o seu percurso fotográfico tem pois quatro décadas - e como Bragança de Miranda escreveu no ensaio que está incluído na edição “usou o seu corpo como matéria porque era o que tinha mais à mão” . O livro, de 132 páginas, é uma excelente introdução à obra de Jorge Molder, permitindo ter uma noção da sua evolução ao longo dos anos, num percurso feito com o que se poderia dizer um olhar sensato que lhe permitiu construir imagens que depois fixou em fotografia. A esse nível o seu trabalho sempre me fez lembrar Ralph Eugene Meatyard e algumas fases da obra de Duane Michals, mas é inegável que Molder manteve uma coerência na abordagem do seu “eu” que este livro bem demonstra. Esta nova iniciativa editorial da Imprensa Nacional vem proporcionar o conhecimento mais disseminado de uma obra que tem vivido sobretudo em exposições e em colecções privadas e públicas. Citando Henri Cartier-Bresson numa entrevista de 1952, “a fotografia deve ser feita, e reproduzida, para as massas e não para coleccionadores - parte da vitalidade e da força da fotografia vem de poder ser infinitamente reproduzida.”

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VER - Luiz Carvalho é um dos mais importantes repórteres fotográficos portugueses, com uma obra persistente de registo da evolução de Portugal ao longo das últimas cinco décadas e,  mais recentemente, da divulgação da fotografia através do programa de televisão que ele produz e realiza  na RTP3, o “Fotobox”. Luiz Carvalho tem exposto relativamente pouco - há oito anos que não mostrava o seu trabalho e agora apresenta “O Resto É Paisagem!”,  na Pequena Galeria, até 22 de Dezembro. A mostra integra um conjunto de 27 fotografias que o autor seleccionou, privilegiando imagens mais antigas porque, afirma, é “em relação a essas que sente maior afecto e é com elas que se sente mais à vontade quando se trata de mostrar uma parte, forçosamente pequena, de todo o seu trabalho”. São imagens a preto e branco, uma opção que, como sublinha, voltou a fazer parte hoje em dia do seu meio ambiente. A imagem escolhida para ilustrar esta nota é uma evocação daquilo que Luiz Carvalho sente em relação ao seu próprio trabalho: um fotógrafo a olhar o infinito. Sobre esta mostra afirma Luiz Carvalho: “Não fazia uma exposição individual há 8 anos porque é para mim um exercício difícil chamar amigos e seguidores, a incomodarem-se para irem ver umas fotos penduradas numa parede, que podem não interessar a ninguém  - é arriscado e pode ser muito constrangedor para mim. Foi o projecto bonito e empenhado da Pequena Galeria que me convenceu a expor de novo, e a amizade de longa data pela Cristina Homem de Melo.” O Resto É Paisagem, de Luiz Carvalho, está n’a Pequena Galeria - de quarta a sábado entre as 18 e as 20, na Avenida 24 de Julho 4C.

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OUVIR - No final do século passado Pedro Tenreiro e Rui Miguel Abreu mergulharam nos arquivos da  Valentim de Carvalho, foram ao baú da pop dos anos 60 e 70 e saíram-se com dois CD’s sob o título “Portugal DeLuxe”, 1 e 2, que incluíam registos raros de nomes como Thilo’s Combo, Carlos Mendes, Quinteto Académico, Duo Ouro Negro, Natércia Barreto, Bossa Jazz 3, Conjunto Académico de João Paulo, entre outros. Assim se mostravam os ecos portugueses do rock’n’roll, da surf music, da soul e dos rhythm & blues e também de algum jazz vocal. Agora Pedro Tenreiro mergulhou de novo nesses arquivou e recuperou toda a série - além de se reeditarem os dois primeiros CD’s desta colecção, há muito fora de mercado, foi adicionado um terceiro volume, intitulado “Modernidade Longíqua”, que tem preciosidades como “Hit The Road, Jack”, pelos Strollers sob o comando do jazzman José Duarte, uma deliciosa versão de “Sunny” pelo Conjunto Sousa Pinto (onde o saxofonista era o falecido dirigente socialista José Lello) e ainda raridades como “Volkswagen Blue” por José Cid, “Teach Me Tiger” por Mafalda Sofia,  “The More I See You” por Thilo’s Combo, “I Feel Good” pelo Quinteto Académico ou “Try A Little Tenderness “ por Vickie com o Conjunto Académico João Paulo, além do histórico “Ababilah” do Quarteto1111. Este novo volume “Portugal DeLuxe”, tem  belíssimos textos de enquadramento de João Carlos Callixto e é uma verdadeira jóia.


PROVAR - Muitas vezes o afã de descobrir novos restaurantes dificulta que se visitem bons exemplos de cozinha popular e tradicional  que ainda existem em Lisboa. Recentemente um amigo levou-me à  Imperial de Campo de Ourique, fundada em 1947, também conhecida por  A Tasca do João, desde que João Gomes ali chegou, em 1956. Com o Senhor João na sala e a sua Dona Adelaide no comando da cozinha a casa tornou-se uma referência em termos tradição culinária portuguesa. O casal é originário de Ponte da Barca e a gastronomia da região ali deixou as suas marcas - a começar pelo Bacalhau à Minhota, que é dos melhores que se podem provar em Lisboa. Outro prato que ali faz deslocar clientela fiel é a chanfana, servida às sextas e sábados.  A Costeleta de Novilho, generosa, é também afamada pelo tamanho e qualidade do corte. Nesta altura do ano as favinhas com todos são primorosas e abundantes de molho - a requererem um dos babetes bem coloridos que a casa disponibiliza aos seus clientes. A sala de entrada tem a cozinha e um longo balcão, ladeado por algumas mesas e a sala interior é ampla e confortável. O avental do Senhor João Gomes tem uma frase que bem podia ser o lema da casa: “Isto é um espectáculo!”. O vinho da casa é da região do Cartaxo e revela-se honesto. Os preços são populares, como a essência da cozinha de Dona Adelaide e o serviço do Senhor João. A morada é  Rua Correia Teles 67  e o telefone é  213 886 096.

 

DIXIT - “O PS falhou redondamente, não foi capaz de analisar o perfil e a informação objectiva de quem foi seu Secretário-Geral e candidato à direcção do Governo” - Viriato Soromenho Marques sobre Sócrates e a Operação Marquês.

 

GOSTO - Teresa Gonçalves Lobo expõe em Londres, na Galeria Waterhouse & Dodd, os seus desenhos feitos para o poema “inquieto/unstill”, de Robert Vas Dias.

 

NÃO GOSTO - 70% dos menores delinquentes têm menos de 14 anos.

 

BACK TO BASICS - “Quando escorregamos a andar recuperamos depressa, quando temos uma escorregadela  a falar por vezes nunca recuperamos” - Benjamin Franklin.

 

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