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O ESTADO FALHOU - Esta é a frase que sintetiza o ano que passou. Por mais que António Costa insista em clamar que só tem êxitos, a realidade mostra o contrário sobre o funcionamento do Estado: falhas nos comboios e em outros transportes, na protecção civil, na coordenação de serviços públicos, nos hospitais, em escolas, na justiça, na segurança, no Parlamento, nos disparates dos novos ministros da saúde e da cultura, nos numerosos casos de cativações que impedem serviços aos cidadãos que os pagaram nos impostos, impostos desviados para folhas salariais em vez de serem aplicados a garantir meios para que mortes sejam evitadas. António Costa vai entrar em 2019 em plena campanha eleitoral para as duas eleições (europeias e legislativas) do próximo ano sem querer ouvir falar de Tancos e de Borba - dois exemplos do que vai muito mal no Estado a todos os níveis. O líder do PS encontrou uma caixa cheia de guloseimas quando chegou a S. Bento. Tem vindo a dar cabo delas e a deixar apenas os seus invólucros espalhados por onde passa. Da sua governação pode dizer-se que gastou onde não devia e poupou onde não podia.
SEMANADA - Em 2016 Portugal ocupava o 14º lugar europeu no PIB per capita, passou a 15º lugar em 2017 e a 16º em 2018; o Banco de Portugal reviu em baixa a previsão do crescimento do PIB este ano; no mês de Outubro os bancos concederam 640 milhões em empréstimos ao consumo; mais de metade do crédito ao consumo já é contratado diretamente nas lojas onde se fazem as compras; Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que no caso das operações de busca ao helicóptero do INEM “o Estado falhou”; Nuno Sá, deputado do PS, apagou a página do Facebook onde existiam videos e fotografias da sua campanha eleitoral em Famalicão, no dia 12 de Junho de 2017, a mesma data em que foi dado como presente no Parlamento; este ano já se registaram 173 greves na função pública; o turismo já representa 7,5% da economia e em 2019 deverão abrir 69 novos hotéis em Portugal; Lisboa duplicou a taxa turística para dois euros por noite, mesmo para residentes da cidade que precisem de pernoitar num hotel da capital; o diretor de material circulante da CP foi exonerado depois de ter discordado de uma decisão da administração da empresa que , na sua opinião, podia pôr em causa a segurança dos passageiros; o Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público acusou o poder político de querer impedir o combate à corrupção.
SÓ PARA RECORDAR - Este ano Pacheco Pereira esteve do lado de Rui Rio na eleição para líder do PSD e do lado da Presidente do Conselho de Administração de Serralves no caso da interferência na exposição de Robert Mapplethorpe.
LER AS BARRAGENS - Em 2006 a EDP deu início ao projecto Arte e Arquitectura nas Barragens, um iniciativa que até agora envolveu o trabalho de José Rodrigues, Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto Moura, Graça Morais, João Louro, José Pedro Croft, Pedro Calapez, Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes e Vihls. “Sobre A Paisagem - Arte nas Barragens Portuguesas” é o livro-álbum agora publicado pela editora AMAG e pela EDP e que recolhe o trabalho fotográfico que André Cepeda foi fazendo sobre a relação entre as barragens, as obras dos artistas e a paisagem. No texto de introdução António Mexia sublinha a importância da intervenção artística nas barragens num país “onde os projectos de arte pública são escassos” e sublinha que “as regiões envolvidas ficam dotadas de um conjunto de artistas conceituados, visitáveis por todos” - no caso nas barragens da Venda Nova, Caniçada, Picote II, Bemposta, Baixo Sabor, Foz Tua e Alqueva. Aurora Carapinha aborda a necessidade da paisagem num texto acompanhado por fotografias de Duarte Belo. Isabel Lucas escreve sobre “A Paisagem É O Grande Acontecimento” onde, pelo meio de conversas com os vários artistas que realizaram obras nas barragens aborda questões como o que distingue a criação para o que é arte pública e para as galerias e como pode uma obra de arte viver numa dimensão tão grande como é a de uma barragem. Já perto do final surge um ensaio de Francesco Careri sobre a obra de Robert Smithson, um artista norte-americano que foi pioneiro na criação de ligações entre a arte e a paisagem e um texto contextualizador dos coordenadores da obra, Nuno Crespo e Luísa Salvador. O livro termina com um portfolio de André Cepeda onde ele próprio faz a interpretação das obras e da sua localização, para além da simples evocação documental.
O ESTADO DA ARTE - Colocar uma instituição no mapa demora tempo, colocá-la à beira do precipício é coisa rápida: este é o retrato do que aconteceu a Serralves este ano. De Museu de referência pela originalidade das propostas apresentadas foi capturado pelo síndrome de treinador de bancada que percorreu a Administração da Fundação e que a levou a querer mandar e interferir na programação artística. João Ribas, Director Artístico, foi ultrapassado pela Presidente do Conselho de Administração, Ana Pinho. O Director Artístico saíu, e como na cultura o crime compensa cada vez mais, Ana Pinho foi reconduzida atendendo aos serviços prestados na destruição da reputação de Serralves. Este foi talvez o caso mais mediático do ano na área das exposições. No pólo oposto, pelo bom trabalho desenvolvido, destaca-se a actividade da Gulbenkian, nomeadamente a forma como a sua Directora, Penelope Curtis, tem vindo a trabalhar a colecção da instituição, explorando-a e cruzando-a de forma imaginativa - como sucedeu com a exposição “Pós-Pop - Fora do Lugar Comum” (na imagem) e, mais recentemente, “Arte e Arquitectura entre Lisboa e Bagdade” que relembra a exposição levada ao Iraque em 1966 e que incluía nomes como Nuno de Siqueira, Artur Bual, Luís Demée, João Vieira Ângelo de Sousa, José Escada, René Bertholo e Júlio Pomar, entre outros, naquele que foi o núcleo inicial da Colecção desenvolvida pela Fundação Gulbenkian. Finalmente, no MAAT, destaque para apresentação, no Porto primeiro e em Lisboa depois, da colecção Cabrita Reis - “Germinal - O Núcleo Cabrita Reis na Colecção de Arte Fundação EDP”, que pode ainda ser vista até dia 31.
TEMPOS MODERNOS - Há uns anos os discos gravados ao vivo eram editados um tempo depois das digressões em que tinham sido gravados. Este ano Springsteen deu o sinal da mudança, na realidade um sinal dos tempos: o seu “Springsteen On Broadway” foi lançado na mesma semana em que a temporada na Broadway terminou e praticamente em simultâneo no Spotify e na Netflix - na Netflix foi disponibilizado cinco horas depois de terminada a derradeira actuação na Broadway. O resultado é um registo de cerca de duas horas e meia com 35 das suas mais conhecidas canções. Mas não é só um registo de canções - todas em versão acústica, Springsteen sozinho no palco com a sua guitarra e às vezes ao piano, intercalando entre as canções a história da sua vida - desde as primeiras memórias, às lições de guitarra, passando pela cidade onde cresceu (My Hometown), o dia-a-dia familiar, os músicos com quem tocou, as suas primeiras actuações e, claro, o momento em que se tornou um nome incontornável da música popular e do rock há quatro décadas. “I am here to provide a proof of life” - diz ele logo no início das actuações que fez durante 236 dias, ao longo do último ano, até ao sábado passado, no pequeno teatro Walter Kerr, da Broadway com uma lotação de apenas 960 lugares, permanentemente esgotados. Graças à Netflix é possível ver além do que se ouve no Spotify - um concerto íntimo, uma actuação forte e emotiva. Toda a actuação estava escrita como um argumento, que Springsteen repetiu noite após noite e se isto pode parecer o caminho para a rotina, desenganem-se: não só na interpretação das canções, mas também na forma como contou a sua vida, the Boss mostrou uma capacidade de ligação com o público como acontece nas peças de teatro da Broadway que se repetem noite após noite, na mesma encenação. Os grandes actores vencem a rotina. Além de músico, Springsteen provou ser um actor a representar o seu próprio papel, com uma enorme simplicidade mas também convicção: “That’s how good I am” - dizia ele todas as noites. Esta forma de fazer e registar a música é o acontecimento editorial do ano.
INTRAGÁVEIS - Na restauração lisboeta há uma espécie de triângulo das Bermudas onde desaparece o bom senso e a arte da culinária. As pontas do triângulo são o Princípe Real, o Largo da Misericórdia e o Largo de Camões. Aqui se concentram os restaurantes surgidos da caça ao turista - pouco cuidado na cozinha, serviço displicente, desprezo pelos clientes nacionais e preços abusivos para a qualidade geral final. Basta passear nesta zona e noutra sua concorrente, na Baixa, na Rua Augusta e suas perpendiculares, para perceber que se perdeu a arte do petisco e cresceu a arte do engano. A maioria destes novos restaurantes importa-se mais com a comunicação do que com a qualidade e o serviço. Muitas das boas tascas que existiam nestas zonas foram sendo substituídas por manjedouras repetitivas e, nos casos em que o nome do local não mudou, tudo o resto foi modificado. Hoje em dia trabalha-se mais para o conceito e o cenário do que para a substância - muitos dos novos restaurantes surgidos nos últimos meses mostram isso e mesmo algumas das boas referências na restauração moderna lisboeta que fez uma época dão sinais de quebra de qualidade. Eu por mim dedico-me sobretudo a procurar boas descobertas em cozinhas étnicas que vão surgindo e em localizar e guardar quem pratica a boa arte da cozinha portuguesa. A propósito recomendo que sigam o blogue “O Homem Que Comia Tudo”, de Ricardo Dias Felner, onde se dão sugestões de confiança nestas áreas.
DIXIT - “O Natal, para mim, começa por ser um cuidado com os outros” - Gisela João, fadista.
BOLSA DE VALORES - Em 2018 várias novas galerias de artes plásticas destacaram-se e a Balcony (Rua Coronel Bento Roma 12 A) foi uma delas. Aqui está uma obra de Tiago Alexandre, Spread #16, que integrou a sua exposição ”Words Don’t Come Easy” e que está à venda por 3.750 euros (IVA não incluido). A técnica é barra de óleo sobre papel e mede 220 x 150 cm.
BACK TO BASICS - “Para o Pai Natal conseguir sempre saber onde estás, se te portas bem ou mal, se estás acordado ou a dormir, deve ser de certeza dos serviços de informação” - David Letterman
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