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TUTTI FRUTTI? REALIDADE OU PROPAGANDA?

por falcao, em 29.06.18

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INVESTIGAÇÕES - Quando olho para a pompa e circunstância das investigações judiciais, muito bem publicitadas, envolvendo extensos meios humanos e usando pomposos e imaginativos nomes, ocorre-me se tudo isto não será uma manobra de ilusão criadas pelas autoridades judiciais para mostrarem que, ao contrário do que se vê, fazem alguma coisa. Acho muito bem que se investiguem as actividades dos políticos e sobretudo a dos autarcas, nomeadamente dos que tomam decisões sobre o urbanismo nas maiores cidades do país e não apenas sobre os que decidem compras de serviços e adjudicações. A confiança das pessoas nos políticos está quase no grau zero e se existem suspeitas seja do que fôr é bom que se investigue. Mas desejo que essas investigações levem a algum lado e não a um beco sem saída, como tem acontecido tantas vezes nos últimos anos. Uma investigação ou descobre um crime e o prova, ou não o consegue fazer e apenas destrói ainda mais a pouca confiança que existe. Esta semana foram mais de 70 buscas a sedes partidárias, escritórios de advogados e serviços autárquicos, com o correspondente alarido. Não sei quem dá os nomes às operações mas deve ser um belo criativo - “Tutti Frutti” é um nome excelente, mas resta saber se vai servir para vender a ideia de que o mal está em todo o lado ou para servir de sobremesa a alguém que queira fazer de conta que se investiga. Nestes últimos anos ganhei uma certeza: se confio pouco nos políticos, confio ainda menos nas investigações da justiça. E nas suas intenções.

 

SEMANADA - Em 2017 ficaram por fazer mais de 233 mil consultas de oftalmologia; o tempo médio de espera por uma consulta de oftalmologia no Serviço Nacional de Saúde é de 180 dias e há hospitais onde a espera é superior a dois anos; enquanto os aeroportos nacionais movimentaram mais 11,9% de passageiros no primeiro trimestre deste ano, face a igual período do ano anterior, os portos marítimos movimentaram menos 9,8% de mercadorias; nos primeiros três meses do ano o aeroporto de Lisboa movimentou 22 aviões por hora; a dívida pública portuguesa será a 11ª maior do mundo no final do ano e vai continuar  acima dos 120% do PIB; a economia portuguesa teve o quarto pior crescimento do PIB por habitante em idade de trabalhar entre 1998 e 2017; os cinco partidos da Assembleia da República representam hoje menos 850 mil portugueses do que representavam em 1995; sem contar com a Tutti Frutti, nesta legislatura o Ministério Público já fez 19 deputados arguidos quer no caso das viagens oferecidas quer devido a investigações sobre autarquias; mais de metade da população do Algarve tem excesso de peso; Portugal é um dos países da Europa onde se consome mais álcool per capita, sobretudo a partir da meia idade; o padre José Tolentino de Mendonça foi nomeado responsável pelo arquivo e biblioteca do Vaticano.

 

ARCO DA VELHA - O líder do Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP), Arnaldo de Matos, apelou segunda-feira, na sua conta no Twitter, à luta armada “contra a exploração capitalista”.

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FOLHEAR - Esta é a altura do ano em que a revista Monole publica a sua edição dedicada à lista das 25 cidades que considera melhores para viver. Este ano a lista das cidades é acompanhada por uma lista das dez pessoas (“dez heróis”, diz a revista) que mudam a vida nas urbes onde vivem. Comecemos pelas cidades - a avaliação é feita a partir de 60 métricas, que vão desde a extensão de ciclovias existentes, até à quantidade de lixo reciclada, passando pelo preço de um bom copo de vinho ou o custo da habitação. As cidades, diz a Monocle desde a sua fundação, são o futuro do mundo - em 2030 as áreas urbanas acolherão 60 por cento da população mundial. Portanto a classificação tem em conta aquilo que as cidades oferecem já actualmente e também o planeamento que está a ser feito para preparar o futuro. Munique foi a vencedora este ano  - pelas áreas verdes, pelo número de equipamentos culturais e estabelecimentos de ensino, pelo desenvolvimento de infraestruturas e a facilidade de ligações internacionais. Em segundo lugar aparece Tokyo, já a beneficiar do que tem sido feito para alojar os Jogos Olímpicos de 2020. E em terceiro lugar vem Viena. Nos lugares seguintes, por ordem, estão Zurique, Copenhaga, Berlim, Madrid, Hamburgo, Melbourne e, em décimo, Helsínquia. Lisboa aparece na 12ª posição. Já agora Amsterdão surge na 16ª, Barcelona na 19ª, Paris na 20ª. É nos heróis urbanos que Lisboa aparece melhor classificada com Pedro Borges, proprietário e programador do Cinema Ideal, distribuidor e produtor de filmes, na 4ªa posição. A revista elogia o papel desempenhado pelo Cinema Ideal, recuperado em 2014, sublinhando que uma sala dedicada à exibição de filmes de qualidade é uma componente essencial de qualquer cidade cosmopolita. E Vihls (Alexandre Farto) é outro português em destaque nesta edição, num artigo sobre Street Art.

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VER - Na quarta-feira à noite gostava de ter estado em Porto Brandão, na margem sul, quase frente ao MAAT, para ver o novo farol de Lisboa a acender-se. É um farol especial, uma escultura de alumínio e neon, num pontão antigo do porto, há muito desocupado (na imagem). Esteve para se chamar mesmo Farol, mas o nome que ficou foi Central Tejo, porque fica frente ao emblemático edifício industrial da antiga fábrica de electricidade, hoje em dia pertença da EDP.  Este farol foi imaginado e construído por Pedro Cabrita Reis, e as suas luzes acenderam no mesmo dia em que inaugurou a exposição da sua colecção, “Germinal”, agora apresentada pela primeira vez em Lisboa e que ficou a pertencer à Fundação EDP. A inauguração foi no mesmo dia em que o artista português foi tema em destaque no New York Times exactamente por essa colecção que construíu, focada em talentos emergentes surgidos ao longo de três décadas, obras que agora podem ser vistas precisamente na Central Tejo até 31 de Dezembro. Ao mesmo tempo, no MAAT, inaugurou a exposição “Pan African Unity Mural”, da Ângela Ferreira, uma poderosa afirmação de arte política focada na luta contra o colonialismo e o apartheid - até 8 de Outubro no Project Room do MAAT. Finalmente, num registo completamente diferente, destaque para a exposição de Teresa Pavão na galeria Appleton Square, uma revisitação das memórias de Alvalade enquanto bairro industrial no meio da Lisboa dos anos 60. No caso o pretexto é uma fábrica de passamanarias que funcionou onde hoje é a Appleton, fábrica que Teresa Pavão frequentava à procura de matéria-prima para os seus trabalhos. Aqui estão teares com fios de seda, vários materiais e produtos dessa época, manipulados e expostos pela artista numa encenação em que evoca a fábrica e mostra o que tem feito com os seus materiais. Na Appleton Square, Rua Acácio Paiva 27, até 11 de Julho.

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OUVIR - O pianista sueco Bobo Stenson ganhou fama ao lado do saxofonista Jan Garbarek ou do trompetista Tomasz Stanko. Bobo desde há uns anos utiliza a fórmula clássica do trio de jazz - piano, bateria, baixo. Actualmente Stenson é acompanhado no baixo por Anders Jormin e Jon Falt na bateria. “Contra La Indecisión”, o seu novo trabalho, agora editado pela ECM, e que surge seis anos depois de “Cantando”, o álbum anterior. O disco começa com “Canción Contra La Indecision”, uma bela composição do cubano Silvio Rodriguez na qual Bobo Stenson mostra a sua forma elegante e envolvente de tocar piano, subtilmente pontuado pela bateria e o baixo. O novo disco inclui ainda  um original de Stenson e cinco de Anders Jormin, além de brilhantes interpretações de composições de Eric Satie, Bela Bartok e Frederic Monpou. Destaque para a “Elegie” de Satie ou a “Cancion Y Danza VI” de Mompou e ainda para o tum tradicional do folclore eslovaco, “Wedding Songs From Poniky”, recuperado por Bartok. Dos originais, destaque para “Stilla”, “Three Shades Of A House” ou o trabalho colectivo de “Kalimba Impressions”. Este “Contra la Indecision” é um daqueles discos exemplares para mostrar como o encanto de um trio de jazz reside na simplicidade. Um dos grandes discos deste ano, Bobo Stenson Trio, Contra La Indecisión, edição ECM, no Spotify.

 

PROVAR - Por estes dias ofereceram-me a primeira edição de um livro interessantíssimo, “O Vinho - Propriedades e aplicações, resumo de comunicações e pareceres aprovados nos últimos congressos médicos”. Datado de 1936, foi escrito por Samuel Maia, médico, jornalista e escritor que viveu ao longo da primeira metade do século passado. “O vinho é bom, no bom momento, em boa conta” - escreve o autor logo no início da obra para mais adiante sublinhar: “Em resumo, fixemos que o vinho é uma bebida útil, agradável e inofensiva que deu as suas provas através dos tempos - os médicos devem recomendar o seu uso, conhecer as intolerâncias e combater o abuso”. Dito isto, e seguindo as recomendações do Dr. Samuel Maia lancei-me a provar os primeiros vinhos biológicos certificados da Quinta do Monte D’Oiro - o Lybra 2017, rosé e branco. O Branco é um blend de Viognier, Arinto e Marsanne, muito fresco e cítrico e o Rosé é integralmente feito a partir da casta Syrah, estruturado, muito fresco e seco, a merecer apreciação muito positiva. Para completar o ramalhete, destaco o Lybra tinto da colheita de 2015, também integralmente Syrah. Todos estes Lybra vêm assinados pela enóloga da Quinta do Monte d’Oiro, Graça Gonçalves. O Dr. Samuel Maia havia de ter gostado destes vinhos.

DIXIT - “Portugal não é bem os Estados Unidos da América” - Marcelo Rebelo de Sousa, respondendo a Trump, quando este lhe perguntou se Cristiano Ronaldo se candidataria a Presidente da República.

 

GOSTO - Em pouco mais de dois minutos Marcelo Rebelo de Sousa explicou a Donald Trump a história das relações entre Portugal e os Estados Unidos. Uma lição.

 

NÃO GOSTO - As queixas por maus tratos contra mulheres apresentadas em 2017 atingiram uma média de 14 por dia.

 

BACK TO BASICS - Não se pode confiar numa pessoa que não confia em ninguém - Jerome Blattner

 

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LIXO -  Nos últimos anos Fernando Medina gastou milhões a fazer o que entende serem alindamentos da cidadã de Lisboa: remodelou passeios, alterou o traçado de ruas e avenidas (geralmente para piorar a vida dos lisboetas), ajardinou a eito de tal forma que aos primeiros calores as plantas murcham e secam. Tinha dinheiro e fez o que quis: obras na fachada para receber as visitas, esquecendo-se dos que cá vivem. Fruto do trabalho de muitos anos e de muitos executivos camarários, e fruto também das circunstâncias, Lisboa entrou na moda e tornou-se um destino turístico procuradíssimo. O aeroporto rebenta pelas costuras, as politiquices autárquicas e de relação com o poder central levaram a que se perdesse a  oportunidade, há uma dezena de anos, de avançar para uma solução de futuro que a esta hora já estaria construída em Alcochete. Os trânsito habituou-se a ser caótico face à inexistência de transportes públicos eficazes. Mas o pior, o mais revoltante, é a forma como a autarquia encara a limpeza da cidade. Tudo está um nojo e sobretudo no centro, por sinal na zona mais visitada pelos turistas, a lixeira é completa. No Chiado e no Cais de Sodré o espectáculo ao longo de praticamente todo o dia é deplorável. Claro que a culpa reside também nos cidadãos descuidados, nos restaurantes que deitam lixo fora de qualquer maneira, nas sobras de comida que deslizam para fora de sacos de plástico mal fechados, de falta de recipientes apropriados de recolha com capacidade para o aumento do lixo produzido no centro da cidade, para os horários de limpeza inconstantes, para o desleixo geral. Desde a falta de campanhas de sensibilização, à ausência de fiscalização de prevaricadores e à incapacidade dos serviços de limpeza camarários, as causas da porcaria em muitas ruas são variadas. Mas nada limpa a ideia de que se gastaram milhões em retoques e se continua a deixar a limpeza ao abandono. D.Medina, o maquilhador, borrou a pintura.

 

SEMANADA -Lula da Silva comenta o Mundial de Futebol para uma estação de televisão brasileira a partir da cela de prisão onde está detido; o Banco Comercial Português decidiu não emprestar mais dinheiro a clubes de futebol; Portugal tem o pior desempenho em termos de mobilidade educacional entre pais e filhos dos quinze países analisados pela OCDE, apesar de ter uma despesa em educação, em % do PIB, superior à média dos países analisados; no ano passado cada família foi em média 127 vezes às compras em supermercados com um gasto médio de 224 euros por mês; entre 2014 e 2017 a despesa anual de cada português com medicamentos foi de aproximadamente 200 euros; Portugal recusou 64% dos pedidos de asilo que lhe foram apresentados em 2017; a CMVM recebeu, em 2017, mais 24% de reclamações comparativamente com o ano anterior, 51% das reclamações recebidas foram referentes a obrigações e 27% a ações; o inquérito a obras ilegais em terrenos camarários na construção das novas torres das Picoas ficou a meio e duas direcções gerais da autarquia lisboeta recusaram-se a terminá-lo; a lei da paridade aumenta de 33,3% para 40% a percentagem mínima de cada um dos sexos nas listas eleitorais e a Comissão Nacional de Eleições avisa que esta alteração pode prejudicar a apresentação de candidaturas pela "eventual ausência ou diminuta adesão" por parte de um dos géneros; o Bloco de Esquerda anunciou que quer integrar o Governo a partir de 2019.

 

ARCO DA VELHA - Em plena crise provocada pela greve e protestos dos professores o Ministro da Educação preferiu ir à Rússia ver o Mundial do que estar no debate quinzenal do parlamento.

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FOLHEAR - Trabalhei um pouco mais de dois anos literalmente lado a lado com o Pedro Rolo Duarte no Se7e. Dividíamos a direcção, partilhávamos uma sala onde todos os dias fabricávamos ideias para fazer ressuscitar o jornal e agitar as águas, que era uma coisa que nos entretinha bastante. Foram dois anos de intensas e produtivas discussões, de muita criatividade e de várias crises - e sempre nos apoiámos mutuamente dos ataques que íamos recebendo daqueles que eram criticados nas páginas do jornal - músicos, responsáveis de editoras, actores, realizadores, enfim o universo do Se7e. Estávamos no final da segunda metade dos anos 80, uma época em que tudo parecia ser possível. No rasgar da nova década cada um seguiu o seu caminho e para trás ficaram as boas memórias dos nossos tempos em conjunto. Ao longo dos anos mantivemos com prazer encontros regulares onde íamos falando do que fazíamos e dos projectos que tínhamos. O Pedro aparecia sempre com uma ideia nova, mesmo quando profissionalmente os tempos lhe foram adversos, no início da crise da imprensa. Mas estava sempre a pensar, sempre a ter ideias - para imprensa, para rádio, para televisão, para digital. Era multimedia mesmo antes de o termo se vulgarizar. Quando soube que estava doente continuou a ter ideias, boas ideias, ideas de vida. O livro que escreveu nos seus últimos meses não é um livro sobre o fim, é um livro sobre tudo aquilo que o preenchia. Não é um livro de memórias, é um livro de ideias, de ensinamentos, de reflexões construtivas, sobre os seus amigos, sobre aquilo de que ele mais gostava e que fez até ao último dia: comunicar. “Não Respire - Tudo começou cedo demais (e quando dei por isso já era tarde)”, o seu livro de vida,  é a melhor coisa que ele nos podia ter deixado.

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VER - Que lugar melhor para ver Pop Art que um centro comercial? Na oitava edição de “A Arte Chegou ao Colombo” apresentam-se alguns dos trabalhos mais marcantes  do norte-americano Roy Lichtenstein como Crying Girl (na imagem), Whaam! e As I Opened Fire. Esta exposição, dedicada a um dos nomes maiores da Pop Art e apresenta uma seleção das obras de Roy Lichtenstein, um dos criadores deste movimento artístico, que transformou imagens da cultura popular e de massas provenientes da publicidade, da banda desenhada e do quotidiano. Até setembro no Centro Colombo. Outros destaques: dois artistas que estavam com as suas carreiras arredadas das vistas públicas há vários anos fizeram quase ao mesmo tempo exposições marcantes: na Sociedade Nacional de Belas Artes  a Fundação Carmona e Costa apresenta “Clareira”, que mostra esculturas de Manuel Rosa (cujo nome nos últimos anos foi mais conhecido pelo seu trabalho na Assírio & Alvim e na Documenta), esculturas feitas entre 1984 e 2018. Até 21 de Julho; o segundo regresso é de Patrícia Garrido, que expõe na Galeria Miguel Nabinho pinturas, desenho e escultura até 31 de Julho. No Museu da Batalha inaugurou a exposição “Gentes da Batalha”, fotografias de António Barreto.

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OUVIR - Este não é um disco fácil mas é um disco entusiasmante. Desde os primeiros segundos há uma presença dominante do saxofone, ao duelo com tuba e percussões, por vezes umas vozes. Aqui o dominante é o saxofone de Shabaka Hutchings, compositor de todas as nove faixas deste disco dos Sons Of Kemet, que ele criou e dirige. “Your Queen Is A Reptile”, um título carregado de sentido político, que exprime o sentimento da comunidade oriunda de África e das Caraíbas e que já cresceu em Londres com um olhar crítico sobre a sociedade britânica. Os heróis musicais de Hutchings são claramente John Coltrane e Pharaoh Sanders e não deixa de ser curioso que este seu disco seja editado pela renascida Impulse, uma etiqueta decisiva na afirmação do jazz nos anos 60 e 70 do século passado e que lançou aqueles músicos. Os nove temas têm no título o nome de outras tantas mulheres que tiveram um lugar proeminente na herança da cultura negra no Reino Unido. Mas considerações políticas à parte, musicalmente este é um disco arrebatador como poucos hoje em dia, com um sentido de ritmo e uma capacidade de improvisção e combinação das sonoridades dos diversos instrumentos que actualmente é muito rao encontrar. Sons Of Kemet, “Your Queen Is A Reptile”, CD Impulse, dirstribuído por Universal Music.

 

PROVAR - É milagre conseguir encontrar quase no epicentro da zona mais turística de Lisboa um restaurante fiel à cozinha portuguesa, com preços acessíveis e boa qualidade, que não se tenha deslumbrado com a invasão nem cedido à tentação de viver para os estrangeiros, de costas voltadas para os portugueses. Mas tal lugar existe, no Cais do Sodré e chama-se Solar do Kadete. Já lá jantei várias vezes, ao longo dos anos e nunca me desiludi - já lá comi boas sardinhas, posta de garoupa fresca, grelhada no ponto, devidamente acompanhada de feijão verde, ovas grelhadas como manda a tradição e da última vez deixei-me tentar, em boa hora, por um coelho desossado, grelhado. A grelha, onde peixe e carne são preparados, é a carvão e bem manobrada. Com sorte apanha-se cabeça de garoupa para os apreciadores e o bacalhau é de primeira. O serviço é acolhedor, eficaz, o patrão pertence à confraria do Moscatel de Setúbal e orgulha-se da variedade de colheitas dessa espécie que tem em casa e que serve devidamente paramentado quando é o caso. Tem esplanada que nas noites de verão é particularmente agradável. Cais do Sodré 2, telefone 213 427 255.

 

DIXIT - “A bola não queima” - Marcelo Rebelo de Sousa comentando o Portugal-Marrocos

 

GOSTO - A empresa portuguesa Critical Software foi escolhida pela BMW para desenvolver soluções de Inteligência Artificial para os carros que marcaraão o futuro da marca alemã.

 

NÃO GOSTO - Da destruição do Sporting que tem sido levada a cabo pelo que sobra da direcção de Bruno de Carvalho, num caso impressionante de abuso de poder e desfasamento da realidade.

 

BACK TO BASICS - A ilusão é o primeiro de todos os prazeres - Oscar Wilde

 

 

 

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publicado às 13:15

SOBRE O ILUSIONISMO NA POLÍTICA

por falcao, em 15.06.18

 

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O MÁGICO - Talvez na sequência de ter chamado o ilusionista Luís de Matos para ajudar na propaganda governamental, António Costa parece querer passar de hábil negociador a mágico ilusionista. É que Costa sabe que vai precisar de muitos golpes de magia para conseguir passar a prova do próximo Orçamento de Estado. A vantagem é que agora tem dois palcos. Num deles pode dançar com o Bloco perante o olhar crítico do PCP; e no outro palco pode ensaiar uma rábula com Rui Rio, que já se ofereceu várias vezes para o papel, sempre pronto a dar uma ajuda. A grande questão é saber o que lhe será mais interessante a médio prazo: manter o motor da geringonça a funcionar, embora com solavancos, ou dar uma facadinha na relação e provocar uma crise de ciúmes, passeando de braço dado pelo Rio. Resta um cenário ainda mais surrealista - acordos com o Bloco de um lado e com o PSD de outro, deixando de lado o PCP e o PP. Já houve casos assim noutros países europeus e Costa gosta de levar as suas experiências ao limite. A negociação e a conspiração são o oxigénio que o alimenta. No recente congresso do PS todos assistimos à forma como permitiu aos jovens turcos avançar, deixando-os tornarem-se alvos fáceis. António Costa tem prazer em imaginar cenários difíceis, estômago para alianças complicadas e habilidade para sair de becos sem saída. Vamos ver o que conseguirá agora com a ajuda da magia.



SEMANADA - A maioria dos financiamentos bancários às empresas tem valor abaixo dos 25 mil euros; o preço dos combustíveis está a subir desde 2004 apesar das variações de preço da matéria prima; o CDS vai apresentar no Parlamento uma proposta para eliminar a sobretaxa sobre os combustíveis criada em 2016 pelo actual Governo ; o imposto sobre gasóleo subiu 56% desde a liberalização; segundo dados da Comissão Europeia, na primeira semana de junho o litro do gasóleo custava em média 1,38 euros nos postos portugueses e 1,24 euros/litro nos espanhóis; 28% é a quebra estimada de empregados nas regiões de fronteira portuguesas entre 2015 e 2050, contra 13% nas suas vizinhas espanholas; em 2017 o investimento imobiliário em Portugal atingiu os 22 mil milhões de euros; nos cinco primeiros meses deste ano o número de espectadores de cinema reduziu 17,5% ; já há 23 sindicatos de professores e o mais recente é dirigido por um bloquista  cuja primeira proposta foi fazer greve aos exames; segundo a OCDE Portugal está fora dos melhores exemplos de formação e avaliação de professores; os portugueses gastaram 24,4 milhões de euros no ano passado em produtos destinados a fazer emagrecer; o sector público português demora 86 dias a pagar e é o segundo pior entre 29 países europeus; Portugal não utilizou 75% dos apoios comunitários destinados a fornecer fruta e vegetais as crianças nas refeições escolares; 32% dos portugueses já fizeram pelo menos uma vez compras online e

25% fizeram-no nos últimos 12 meses; só 133 das 1125 casas destruídas pelos incêndios do ano passado já foram reconstruídas; Marcelo Rebelo de Sousa afirmou preferir a “paciência dos acordos à volúpia das rupturas, mesmo que tentadoras”.

 

ARCO DA VELHA - O  presidente da Entidade de Contas e Financiamentos Políticos alertou para o risco de prescrição de muitos processos sobre contas dos partidos e das campanhas eleitorais porque o Estado não dá meios suficientes para desempenhar a sua missão.

 

FOLHEAR - “A Rosa do Adro” é um dos romances portugueses mais populares no final do século XIX e início do século XX. A primeira edição data de 1870 Teve dezenas de edições, várias adaptações para teatro e duas versões em filme - uma de 1919, ainda no tempo do cinema mudo, realizada por Georges Pallu e outra, de 1938, com realização de Chianca de Garcia e com Maria Lalande, Costinha e Tomás de Macedo no elenco. A história é a de uma costureira, pobre, de seu nome Rosa, que vive com a avó numa aldeia minhota e se enamora por Fernando, um filho de ricos lavradores e finalista de Medicina, a estudar no Porto, mas muito ligado à sua aldeia. António, um jovem camponês, modesto, ama Rosa, que não corresponde e que está cada vez mais envolvida com Fernando, um amor contrariado pelos pais do rapaz e criticado na aldeia. Depois de muitas peripécias Fernando e Rosa casam mas a felicidade dura pouco e ambos morrem - ela de tuberculose, ele na sequência de maleitas contraídas numa emboscada armada por António. A história não acaba aqui - mas o melhor é descobrirem o livro, agora reeditado pela Guerra & Paz. O autor de “A Rosa do Adro” é Manuel Maria Rodrigues, que começou como tipógrafo no Comércio do Porto, onde depois trabalhou como jornalista na segunda metade do século XIX. Foi um dos fundadores  da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto e escreveu vários outros romances. Ignorado pela crítica. que menosprezava a sua obra, ele retratou a sociedade da sua época, dos amores e desamores entre gente modesta e outra mais abastada. Vergílio Ferreira considerava intrigante como um livro ignorado por todas as histórias da literatura portuguesa “perdure para o interesse de sucessivas gerações”.

 

VER - Como pode uma fotografia de casamento surpreender? Encontra a resposta na quase clandestina e mal divulgada Galeria de Exposições da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (Rua dos Fanqueiros 170 ou Rua da Madalena 149) onde está uma exposição de fotografias de António Leitão Marques intitulada  “Jardim de Namorados - A Arte de Casar em Moçambique”. Como a galeria sublinha, “os casamentos populares em Moçambique são um ritual surpreendente e para poderem realizar esta cerimónia, muitos casais esperam anos até conseguir juntar os meios necessários para tal. Por vezes, o casamento ocorre numa fase tardia da vida fazendo-se os noivos acompanhar dos filhos ou mesmo dos netos. Mas, seja qual for a idade, a cerimónia realiza-se sempre com grande solenidade, sendo um acontecimento de grande importância para a família e para os convidados em que a fotografia, em jardins públicos ou na praia continua a ser um testemunho fundamental do evento. Outra sugestão a propósito de casamentos - na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (Jardim das Amoreiras) “O Outro Casal”, uma exposição baseada no trabalho de Helena Almeida e Artur Rosa que segue uma metodologia especial - “o processo quase sempre se inicia pelo desenho: Helena Almeida desenha primeiro as posições, os movimentos em que o seu corpo será registado e depois, em sessões a dois, faz-se fotografar pelo seu marido Artur Rosa. Mas por vezes Artur Rosa também entra na imagem. Esta exposição centra-se precisamente nesses registos em que os dois aparecem, tanto em fotografia como em vídeo.”

 

OUVIR -  Começo por avisar que “Live In Europe”, de Melody Gardot, apesar da sua capa, que aqui se reproduz, e da fama (e proveito) de algum jazz vocal, não é nenhum enfado delico-doce morninho e sem rasgo. Antes pelo contrário, é o fruto do trabalho de uma grande vocalista, especialmente talentosa e versátil, e dos músicos que escolheu para a acompanhar.  Melody Gardot navega nas águas do jazz, dos blues, do gospel e da soul e entre as suas confessadas influências estão nomes como Janis Joplin, Miles Davis ou Caetano Veloso. Melody Gardot Live In Europe recolhe num duplo CD 17 canções gravadas entre 2012 e 2016 numa série de concertos. Na realidade o álbum é o resultado da selecção de cerca de 300 gravações efectuadas em diversas ocasiões numa dezena de cidades europeias, entre as quais Lisboa. A selecção foi feita pela própria Melody Gardot e o único tema que não é da sua autoria é o clássico “Over The Rainbow”, aqui alvo de uma completa transformação para uma versão inspirada no samba, Os arranjos são bem diferentes das versões de estúdio, na maioria musicalmente inesperados e dignos de nota, sobretudo em temas como “The Rain”, “March For Mingus”, “Baby I’m A Fool” e “My One And Only Thrill”. Duplo CD Decca, distribuído por Universal Music.

 

PROVAR - O Bella Ciao é uma cantina familiar, que oferece comida caseira italiana, tradicional, com massas Cecco de boa qualidade e no ponto certo de cozedura. Até há poucos meses estava na Rua do Crucifixo e tinha uma sala bem mais pequena que nas novas instalações, ali perto, na Rua de S. Julião. O novo local é amplo, bem iluminado, mas mantém o aspecto tradicional e despretensioso que era a boa imagem de marca da casa. O vinho da casa, nomeadamente o tinto, é de boa estirpe, os preços são acessíveis. Nas entradas destaque para uma tábua de queijo pecorino de ovelha, pão e salame. O chefe Marcello manda frequentemente para a mesa um pratinho com atum temperado e uns farrapos de salada. Outra entrada apreciada é a tradicional vitella tonato - fatias finas, com um molho à base de maionese, alcaparras, atum, anchovas e salsa. Acompanhado por uma salada pode resolver uma refeição. Nas massas destaque para os penne primavera, para o linguine com salmão fumado ou os bucatini alla matriciana, tudo receitas tradicionais bem executadas. O meu prato favorito é  orechetti com brócolos, anchovas, alho e queijo grana padrano. Muito apreciados também são o risotto de cogumelos e os papardelle com funghi porcini frescos e autênticos. Nas sobremesas o tiramisú é afamado e para os viciados avisa-se que mousse é de Nutella. O serviço , a cargo do incansável Pina, é muito simpático. Restaurante Bella Ciao, Rua de S. Julião 24-26, telefone 308 803 844.

 

DIXIT - “Aprende-se muito sobre uma pessoa quando se partilha uma refeição com ela” - Anthony Bourdain.

 

GOSTO - A venda de sacos de plástico caíu 94% em três anos de taxa.

 

NÃO GOSTO - A espera média por uma primeira consulta da especialidade é superior a um ano em 20 hospitais públicos.

 

BACK TO BASICS - Seduzir é a forma de ouvir um sim, sem sequer formular uma pergunta - Albert Camus

 

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publicado às 13:15

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FLECHAS & ARQUEIROS - Sente-se no ar um ligeiro odor de fim de festa. António Costa, agora escudado na possibilidade de tomar o pequeno almoço com Rui Rio com maior frequência, começou a dar negas aos seus parceiros da geringonça. O Primeiro Ministro guia o Governo como se estivesse numa pista de ensaios de automóveis a testar os travões. Imagino-o a sorrir quando recebeu a notícia de que Rui Rio tinha retirado as setas do logotipo do PSD, pensando, com os seus botões, que já passou o perigo de uma batalha com arco e flecha lançada pelo líder da oposição. Como se viu nesta semana, com o porta voz do PCP para o ensino a clamar por auxílio de outros sectores profissionais na luta dos professores contra o Governo, a discussão sobre o próximo Orçamento de Estado para 2019 promete episódios picantes. Há uma clara marca partidária no sector escolhido para radicalizar a luta contra o Governo. O PCP decidiu voltar a posicionar-se, farto de estar nas trincheiras atrás do Bloco de Esquerda. O problema é que a pessoa que escolheu para dar cabo da vida aos alunos neste fim de ano escolar é alguém que há muito tempo não dá aulas. Chamar-lhe professor é um problema de expressão. Face à ocorrência, até agora, o Governo tem mostrado vontade de se distanciar do senhor Nogueira. Estamos politicamente na fase da dança e contra-dança. Com o Ministro da Educação a nadar em seco. 

 

SEMANADA - Há 541 anestesistas a menos nos hospitais públicos; um terço dos anestesistas formados nos últimos três anos optou por não ficar no Serviço Nacional de Saúde; há regiões, como o Algarve, que oferecem o dobro das remunerações normais para conseguirem atrair médicos; pelo segundo ano consecutivo 700 médicos não têm vaga para fazer a especialidade; no último ano e meio a administração pública contratou 13 652 pessoas e as autarquias foram responsáveis por cerca de metade do novo emprego público criado; em 2017 cada português foi responsável por criar 1,32 quilogramas de lixo por dia -  desde 2011 que não se produzia tanto lixo; segundo a União Europeia Portugal é dos países onde a população total mais vai encolher e terá a taxa de crescimento potencial mais débil da Europa; um estudo divulgado esta semana indica que quase metade dos alunos do 2º ano não consegue saltar à corda e 40% deles não conseguem dar uma cambalhota para a frente; as ajudas do Estado aos bancos nos últimos dez anos custaram o equivalente a 23 pontes Vasco da Gama; o preço das casas subiu 20% mais rápido que o rendimento das famílias; a taxa de empregabilidade dos alunos formados na rede de escolas de hotelaria e turismo subiu para 90%; o Museu da Presidência da República foi assaltado pela segunda vez; o ex~líder da Juventude Leonina foi detido; o Estádio da Luz e o Benfica foram alvo de mais uma busca da Polícia Judiciária.

 

ARCO DA VELHA - O programa Simplex apresentou no Porto o primeiro funcionário público que é um robô humanóide, chamado Lola, e contratou o mágico Luis de Matos para fazer videos sobre as novas funcionalidades. António Costa, presente na apresentação do mágico, afirmou que não trazia vacas voadoras.

Dicionario Enciclopedico de palavras Cruzadas_CAPA

FOLHEAR - Os dicionários definem cruzadismo como o gosto pela actividade de fazer ou construir palavras cruzadas. É um passatempo que muitas pessoas é a razão para escolherem o seu jornal em papel e comprarem-no regularmente. Fazer palavras cruzadas é um desafio, um vício que puxa pelos conhecimentos de vocabulário e de raciocínio. Mário Bernardo de Matos é um dos grandes especialistas portugueses nesta área e entre 1999 e 2005 foi colaborador do Jornal da Região, onde publicou problemas de palavras cruzadas de autor para todas as regiões onde o jornal foi distribuído. Em 1998 lançou o Dicionário do Cruzadismo, a primeira obra do género a ser publicada em Portugal. Agora, pela mão da editora  Guerra & Paz lançou o “Dicionário Enciclopédico de Palavras Cruzadas”, que reúne mais de 17500 entradas ao longo de cerca de 400 páginas. Para além do seu conteúdo enciclopédico e rico em sinomínia a edição oferece a possibilidade de uma busca prática: ao contrário dos dicionários tradicionais esta obra parte de uma definição para chegar a uma palavra, e não de uma palavra para chegar a uma edição.

 

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VER - É raro ver um filme português que conjugue uma qualidade técnica irrepreensível (na fotografia, no som, na montagem) com um desempenho de actores excepcional, com um elenco internacional, uma história e uma narrativa escorreita Cabaret Maxime, o novo filme de Bruno de Almeida, é um exemplo disso mesmo. Bruno de Almeida, que estudou cinema em Nova Iorque, por lá viveu e trabalhou vários anos, trouxe uma forma diferente de pensar um filme, desde o processo de produção à construção do argumento e dos diálogos. O filme é rodado em Lisboa, no Cais do Sodré, integralmente falado em inglês e a história passa-se em local não especificado. O antigo Cabaret Maxime, na Praça da Alegria, que inspirou o filme, foi gerido no final da sua existência por Manuel João Vieira (músico, artista plástico), e ele próprio é o responsável não só pela banda sonora do filme como pelas numerosas intervenções musicais que surgem ao longo da narrativa. O tema do filme é a transformação que ocorre nas cidades quando a gentrificação começa a deslocar do seu habitat os negócios tradicionais - no caso é o negócio do entretenimento. O Cabaret Maxime é habitado como um circo, por artistas que vivem como uma família. Michael Imperioli (que fez fama em os Sopranos) desempenha o papel principal e é o dono do local. Destaque para as interpretações de Ana Padrão (o seu melhor papel em cinema até agora), John Ventimiglia, Nick Sandow e Drena De Niro. No fim os bons vencem os maus, coisa que por vezes acontece nos filmes e mais raramente na realidade.

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OUVIR - José Mário Branco é conhecido por ser um dos mais importantes nomes da canção de intervenção, antes e depois de 25 de Abril de 1974. Além de autor de canções inesquecíveis e de ser um grande intérprete, José Mário Branco é também um músico excepcional e um dos melhores produtores e arranjadores da música popular portuguesa. Os seus trabalhos com José Afonso e Camané, para citar só os mais conhecidos, são provas disso. Mas a sua actividade inclui bandas sonoras de filmes e a  recuperação de temas populares e tradicionais, além de colaborações com grupos de teatro, quer como actor, quer como compositor. “Inéditos 1967-1999” é um CD duplo que inclui 26 temas seleccionados pelo próprio José Mário Branco, em vários casos restaurados a partir das bobines originais, incluindo temas que nunca foram editados em disco, singles raros e maquetes nunca antes divulgadas. Entre os temas raros destacam-se as seis “Cantigas de Amigo” editadas em EP antes ainda do álbum “Mudam-se Os Tempos Mudam-se As Vontades”, o notável tema inédito “Quantas sabedes amar, amigo (Mar de Vigo)”, que abre a colectânea, o quarteto instrumental em 3 andamentos “Fantaisie Languedocienne”, de 1987, que agora foi gravado pela primeira vez em estúdio, os cinco temas escritos para a banda sonora do filme Agosto” de Jorge Silva Melo e o arrebatador bolero “Alma Herida”, escrito para o filme “A Raiz do Coração”, de Paulo Rocha, e que encerra o segundo CD. Este segundo CD tem aliás vários motivos de interesse musical, com José Mário Branco a inspirar-se em temas de Eddy Mitchell, Adriano Celentano, Helmut Zacharias , os Conchas e The Shadows. Outros pontos saltos são a colaboração com João Loio na marcha “São João do Porto”, e temas incontornáveis como “Ronda do Soldadinho”, “Cantar da Viúva de Emigrante”, “Fuga do Mar” (baseado num poema de Alexandre O’Neil), “Remendos e Côdeas” (segundo Bertolt Brecht). Edição Warner já à venda.

 

PROVAR - Soão é o nome dado a um vento que sopra do oriente. É também o nome da  taberna asiática que pela mão do chef Luís Cardoso junta pratos oriundos da Índia, Vietname, Coreia, Taiwan, China, Tailândia e Japão. Fica no edifício do antigo cinema Alvalade, junto à praça de Santo António. No piso de entrada há meia dúzia de mesas e o balcão onde se pode ver a cozinha em acção; em baixo há o bar e quatro compartimentos reservados que podem levar entre seis a doze pessoas. A carta proporciona uma escolha ampla, que vai de diversas entradas como chamuças de cabra, algumas sopas orientais, dim sums, sushi e sashimis, além de propostas próprias do chef. A decoração é simples e confortável, o serviço é completamente informal mas funciona. A lista de vinhos é suficiente, há cervejas orientais, diversos chás, e até cocktails de whisky japonês com chás especiais. Nas comidas provou-se um dim sum de champagne, lavagante e gambas, na sopa esteve bem o Tom Yum, uma sopa temperada com erva princípe, lima kaffir, chili, cogumelos e camarão (ou frango). A rematar veio um caril de peixe com leite de côco, manjericão, pimentos, lima kaffir e arroz thai, que estava acima da média. A sobremesa foi um refrescante gelado de lemongrass, gengibre e manjericão. O Soão é propriedade do mesmo grupo que nasceu com o Sea Me e depois cresceu para o Prego da Peixaria e Barracuda. A experiência foi boa, é sítio para voltar. Avenida de Roma 100, telefone 210 554 499.

 

DIXIT - “Não há dinheiro” - António Costa, no Parlamento, sobre as reivindicações dos professores.

 

GOSTO -  O Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa colocou online os arquivos dos 50 anos de carreira de José Mário Branco.

 

NÃO GOSTO - 45% dos alunos do ensino secundário não foram capazes de situar Portugal no mapa da Europa.

 

BACK TO BASICS - Nunca ensino os meus alunos, apenas procuro que eles tenham condições para aprender - Albert Einstein

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O PODER - Um espectro assolou o Congresso do PS  - José Sócrates. Todas as intervenções sobre a necessidade de mudar o funcionamento do partido e, sobretudo, sobre o combate à corrupção ou sobre a reforma do sistema político, tinham-no como pano de fundo. Sem ter estado presente, José Sócrates esteve na primeira linha da preocupação dos socialistas. Houve dois temas centrais do Congresso: como ganhar as próximas legislativas e a sucessão de António Costa. Os problemas do país, a perda de competitividade, a degradação do PIB em termos comparativos europeus, a situação na saúde e na justiça, tudo isso passou ao lado. O que interessou aos congressistas é como conquistar mais uns lugares nas eleições e quem pode suceder a Costa quando este daqui a uns anos sair. O Bartoon, de Luis Afonso resumiu a situação: “Segundo um congressista do PS, quando Sócrates era Primeiro-Ministro, no partido eram todos socráticos. Hoje são todos costistas” - e do outro lado, detrás do balcão, sai a réplica:”O PS é um partido de tendência, tendem sempre a apoiar o líder no poder”. Costa passeou triunfalmente entre os seus, entre os apoiantes do Parlamento e entre os candidatos a apoiantes. A sua batalha é conquistar nova maioria, de preferência sem necessidade de alianças.  Mas, no PS, o que já está na ordem do dia é quem lhe pode suceder. Isto diz tudo sobre os partidos do arco do poder - já no PSD, no recente congresso, foi a mesma coisa. A estratégia para o país interessa pouco. O que conta é a estratégia para o poder.

 

SEMANADA - Entre Janeiro e Março, em 6700 casos de emergência,  o INEM não conseguiu enviar um médico para assistir pessoas em estado muito grave; apesar de existirem médicos especialistas em falta no Serviço Nacional de Saúde, os processos de reconhecimento de habilitações de médicos com diplomas de fora da União Europeia estão parados há meses; Portugal caíu para o 21º lugar na União Europeia quanto ao PIB per capita; segundo Bruxelas países como a Lituânia,  a Eslováquia e a Estónia poderão ultrapassar Portugal em 2018, que ficará mesmo em pior situação do que estava em 1999; no indíce de PIB per capita em paridades de poder de compra Portugal já foi ultrapassado por metade dos países do alargamento da UE; o preço da viagem de comboio em Alfa Pendular entre o Porto e Lisboa, em classe turística, praticamente duplicou entre 1999 e o ano passado; António Costa admitiu não ser possível limpar este ano todos os terrenos florestais; um inspector da Judiciária revelou em tribunal, perante o espanto do juiz, que a ligação de Manuel Vicente ao caso Fizz tinha sido feito com base numa pesquisa do Google sem provas adicionais; o movimento nos portos portugueses decresceu 11% no primeiro trimestre deste ano; 53% do preço do gasóleo destina-se a impostos;  o número de lojas das marcas de grande distribuição duplicou em oito anos, entre 2009 e 2017.

 

ARCO DA VELHA - O Governo criou um grupo de trabalho, que funcionará nos próximos três anos,  para apoiar e acompanhar a actividade das cabras sapadoras, que devem comer arbustos em zonas florestais, como prevenção dos incêndios.

 

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FOLHEAR - Volta e  meia sabe bem voltar a folhear uma “Monocle”. Onze anos depois de ter sido criada já raramente surpreende, mas consegue acompanhar o ar do tempo sem ser demasiado previsível e os temas de capa trazem quase sempre reflexões interessantes. A vida nas cidades é desde o início uma preocupação do seu fundador, Tyler Brulé, e esta edição de Junho dedica bastante espaço a formas de transporte com incidência nas vidas de quem vive nas grandes urbes. Que exemplos podem ser estudados - e eventualmente seguidos - por esse mundo fora no que toca a transportes públicos, sustentabilidade ou coexistência entre o transporte privado e o colectivo? Esta edição dedica-se a assuntos como o aeroporto ideal, a campanha eleitoral em São Francisco (que promete ser quente) ou a forma como o brexit está a ser acompanhado em termos informativos fora do Reino Unido.  Referências a Portugal há uma - Paraíso Escondido, um turismo rural perto da costa vicentina. Mas numa edição recente do jornal The Spring Weekly, editado também pela Monocle, havia dois interessantes destaques - um sobre o trabalho do Instituto Diplomático do nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros e outro sobre os vinhos da Quinta do Vallado.

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VER - Muitas pessoas descobriram Michael Biberstein quando viram o céu que ele imaginou, pouco tempo antes de morrer, para o tecto da Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, e que foi mostrado há cerca de dois anos. É uma obra impressionante, de fé e esperança, que na altura impressionou muita gente e que continua permanentemente a chamar a atenção de quem visita o local. Mas a maioria daqueles que o descobriram no tecto desta igreja desconhecem a obra do autor. Quem tiver curiosidade tem uma oportunidade única de ver essa obra agora, numa grande retrospectiva, na Culturgest, no edifício sede da CGD ao Campo Pequeno. Escapa ao meu entendimento como é que a instituição, que montou esta retrospectiva e nela investiu, não a associou publicamente à obra em Santa Isabel, procurando atrair quem se emocionou com a força do fresco que lá está. Aliás, depois de ver a retrospectiva, percebe-se melhor o percurso de Biberstein e como ele chegou ao céu que deixou na Igreja. A coisa é particularmente penosa quando, como constatei sábado passado, a exposição estava quase deserta, sem público. O tema devia preocupar as instituições mas vejo-as, ano após ano, a queixarem-se da falta de público sem nada fazerem para o conquistarem. “Michael Biberstein:X, uma retrospectiva” (na imagem) estará na Culturgest até 9 de Setembro - não percam a oportunidade de conhecer a obra deste artista suíço-americano que viveu mais de 30 anos em Portugal. Outra sugestão: a 14ª edição - e penúltima - das temporárias nas montras do British Bar apresenta trabalhos de Pedro Cabral Santo, de Tânia Simões e de Cristina Ataíde.

 

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OUVIR - Otis Redding gravou “(Sittin’ On) The Dock Of The Bay” em Dezembro de 1967, aos 26 anos. Poucos dias depois morreu num desastre de avião. Foi preciso quase um ano para que a canção se tornasse um êxito mundial e que “Dock Of The Bay” fosse o primeiro disco póstumo a alcançar o lugar cimeiro no top britânico. Tudo isto se passou há cinco décadas. Rezam as crónicas que Otis Redding tinha ficado impressionado com o álbum “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band” dos Beatles e que tinha decidido criar uma sonoridade semelhante. A canção que se tornou num êxito foi composta em parceria com Steve Cropper, mas o resultado não agradou à editora Stax que queria uma sonoridade mais tradicional dentro da linha R&B. Otis achava, com razão, que a canção tinha tudo para ser um êxito e resolveu deixar uma marca no final, assobiando os últimos acordes. Nas sessões de “Dock Of The Bay” foram gravadas 12 canções, a maior parte delas editadas aos longo dos meses e anos seguintes como singles. São essas doze canções que surgem reunidas em “Dock Of The Bay Sessions”, uma colecção de canções essencial para todos os que gostam de soul music e um testemunho do enorme talento de Otis Redding. A ùnica canção que não tem a assinatura de Redding é o tradicional “Amen”, que encerra o disco. Aqui estão outros temas que venceram os tempos e tiveram muitas versões, como “Love Man”, “Hard To Handle” ou “I’ve Got Dreams to Remember”. Nestas sessões participaram nomes como Booker T. Jones ou Isaac Hayes, além de Steve Cropper na guitarra e Donald Dunn no baixo. CD Volt Records, distribuído em Portugal pela Warner.

 

PROVAR - Há uns restaurantes modernos em que os empregados de mesa têm um ar filosofal e passam o tempo a olhar para o horizonte, indiferentes ao acenar de clientes ou ao facto de estes precisarem de atenção regular ao longo da refeição. Este espírito é um bocadinho aborrecido quando falta alguma coisa, ou se pretende esclarecer uma dúvida. A consistência e regularidade da qualidade da comida confeccionada e o bom serviço são os dois atributos principais que procuro num restaurante. É mesmo a única coisa que me pode motivar a sair de casa para ir comer fora. Não chega proclamar que  é uma novidade: pode existir muita decoração, muito laboratório, muita química e muito conceito, mas se a matéria prima não fôr de qualidade, se a confecção não fôr adequada e se a refeição fôr um sofrimento de falta de atenção, não há nada a fazer. Outra coisa penosa é um restaurante vazio, permanentemente vazio e que não faz nada para contrariar isso - procurando ver qual a razão de falta de clientela. Entre os novos restaurantes encontrei recentemente vários casos assim. Felizmente calhou que nestes dias mais recentes revisitei dois locais habituais, clássicos lisboetas, de origem bem diferente, que se mantêm referências de qualidade e bom serviço: o Casa Nostra no Bairro Alto e o Salsa & Coentros em Alvalade. Ambos são exemplos de bom funcionamento, de uma relação qualidade-preço muito boa e de inovações pontuais nas cartas respectivas sem dar cabo dos seus clássicos. Há anos foram eles próprios  novidade nesta cidade. Sobreviveram bem e tornaram-se referência - é o que acontece a quem inova a sério.

 

DIXIT - “Com o seu currículo recente, é difícil imaginar um PS capaz de corrigir as causas de corrupção e de barrar os caminhos que a ela conduzem” - António Barreto.

 

GOSTO - Do resultado da votação sobre a eutanásia na Assembleia da República.

 

NÃO GOSTO - Da forma como, na maioria dos casos, decorreu o debate sobre a eutanásia.

 

BACK TO BASICS - "Eu me pergunto: se eu olhar a escuridão com uma lente, verei mais que a escuridão? A lente não devassa a escuridão, apenas a revela ainda mais." - Clarice Lispector



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